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BrBRCVHe0034-71672003000500022

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variedadeBr
Country of publicationBR
colégioLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0034-7167
ano2003
Issue0005
Article number00022

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Refletindo sobre o desafio da formação do profissional de saúde Refletindo sobre o desafio da formação do profissional de saúde

Reflecting on the challenge to train health professionals

Reflexión sobre el desafío de la formación del profesional de la salud

Maria Alves BarbosaI; Virgínia Visconde BrasilII; Ana Luiza Lima SousaIII; Estelamaris Tronco MonegoIV IProfessor Titular e Diretora da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiãs - UFG II Professor Adjunto e Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem da UFG IIIProfessor Adjunto e Pró-reitora de Extensão e Cultura da UFG IVProfessor Assistente da Faculdade de Nutrição da UFG. E-mail do autor: malves@ih.com.br

1 Introdução Pensar a formação do profissional de saúde nos remete a uma análise crítica da trajetória e das correlações históricas entre o modelo de desenvolvimento adotado, as demandas sociais e as pressões do mercado sobre os profissionais que são formados pela academia.

Na área da saúde isso pode ser claramente identificado ao se comparar a prática profissional percebida na assistência e normatizada pelas políticas públicas da área e o modelo de formação presente hegemonicamente.

O distanciamento entre o saber e o saber torna-se mais evidente no momento em que a instituição formadora apresenta à sociedade o profissional que passou alguns anos em seus bancos, e que pretensamente teria findado seu papel.

Este profissional recebe uma formação e participa de um modelo de construção do conhecimento instituído, que vai se descobrir anacrônico em relação à prática de assistência existente além dos muros da academia.

A globalização, a transversalidade na formação e a educação profissional são temas que devem estar na agenda diária das instituições formadoras, do seu quadro docente e permear as políticas públicas na formação e na saúde.

Uma reflexão sobre esse assunto permite salíentar aspectos relevantes para a formação profissional, objetivando contribuir com as díscussões que emergem das propostas legais que desafiam as instituições formadoras a redirecionar e questionar os marcos referenciais e conceituais de seus currículos, enquanto espaços de construção e circulação de saberes, que possibilitem a transversalidade do conhecimento.

2 Globalização A globalização situa-se como elemento determinante deste processo, como uma tentativa irreversível de diminuir a distância entre pessoas e culturas. É aparente a construção de um novo modelo na forma de viver dos cidadãos em todo o mundo, porém suas implicações, a cada dia, entranham outras ações e acontecimentos na sociedade.

A raiz da fragmentação que se processa na educação, como de resto na sociedade, está nos modelos de Ford e Taylor, que evidenciaram a divisão do trabalho como facilitador do controle e dominação de trabalhadores, que executavam as mesmas tarefas com pequenas variações(1). Na seqüência histórica surge mais tarde o modelo da qualidade com f1exibilização dos mercados, da produção e do trabalho, trazendo a competitividade, a exigência do trabalho em equipe e a autonomia relativa do trabalhador e também apontando para uma fragmentação entre o pensar e o fazer.

E isso é mais evidente quando se olha para as práticas profissionais e para as novas exigências do mercado, criando a cada dia demandas diferentes. O profissional recebe uma formação que não se compatibiliza com o que ele encontra no mercado de trabalho. Esta nova realidade, que propõe aos cidadãos um mundo globalizado, vem operando várias mudanças nas relações sociais. Porém, do ponto de vista educativo a mais evidente é a impossibilidade de explicar a realidade e seu dinamismo a partir dos conceitos e práticas até então disseminados na escola.

Nesta perspectiva, a escola enquanto instituição formadora perdeu seu foco, uma vez que o paradigma do ensino tradicional, mecanicista não conta de apresentar alternativas de saber e fazer capazes de enfrentar esta realidade.

O salto qualitativo está na relação que se no processo de aprendizado. "Os procedimentos incorporados ao conhecimento que são valorizados na prática da sala de aula determinam e são determinados pelo tipo de educação pretendida (2)", fazendo com que conteúdos percam sua história no afã dos professores de se tornarem menos complexos e mais técnicos. É a racionalidade do pensamento positivista se sobrepondo à realidade, com a preponderância absoluta da análise do que é acessível aos sentidos.

A superação deste modelo está nas metodologias de ensino que privilegiam o real, a partir de onde os significados são construídos e transformados coletivamente. Neste caminho a evidência está no modelo da Pedagogia Baseada em Problemas (PBL), que busca uma aproximação do conhecimento científico com o cotidiano.

3 Interdisciplinaridade e transversalidade A globalização do currículo aproxima-se da interdisciplinaridade, uma vez que o saber e o fazer integrados permitem uma leitura mais reflexiva e crítica da realidade, pela possibilidade de conexão da produção e transformação do conhecimento!l). Esta possibilidade traz a mudança do foco do sujeito docente para o discente, com este "construindo e exercitando sua autonomia ... ", re- significando e articulando seu conhecimento a partir de uma `eitura própria e dialogada com os colegas, e ao mesmo tempo mediada pelo professor(2).

As instituições formadoras dos profissionais que adentram ao mercado também estão vivendo este momento de reformulação e de mudanças. Os profissionais continuam sendo formados dentro de um modelo vertical, fragmentado e compartimentado e saem para este mundo globalizado, onde o emprego formal está desaparecendo e as exigências apontam para um profissional com formação plural e que, sempre, saiba trabalhar de modo transversal, em todas as direções.

A transversalidade é a representação do conjunto de valores, atitudes e comportamentos mais importantes que precisam ser ensinados. É símbolo de inovação, de abertura da escola à sociedade, sendo inclusive, às vezes, utilizada como paradigma da atual reforma educativa(3).

Sua ênfase está nos aspectos sociais da prática educativa, onde o ideal lugar ao possível e onde conhecimentos, habilidades e atitudes do aluno são mesclados por meio do fio condutor que liga uma disciplina às outras e todas ao cotidiano vivenciado, objeto da ação profissional.

Dessa forma abre-se a possibilidade da renovação pedagógica, trazendo à luz da discussão as insuficiências do sistema de ensino em vigor. Porém, está sujeita a vários equívocos quando reduzida a normas, unidades didáticas isoladas, relacionada a eventos temáticos ou ainda a um conjunto de temas que não mantêm relação entre si.

Ora, a transversalidade deve necessariamente remeter à globalização do currículo, seja nas suas dimeFlsões ético­morais, no planejamento sistêmico e na possibilidade histórica de fazer frente à fragmentação do saber(4).

Romper com a compartimentalização do saber, impregnar-se da vida cotidiana sem renunciar aos requisitos teóricos, contextualizar as relações interpessoais, potencializando valores, conceitos, procedimentos e atitudes são os pressupostos que ancoram a transversalidade como fio estruturador e condutor da aprendizagem.

No processo pedagógico de formação profissional, a ponte entre a formação teórico-cientifica realizada intramuros e a realidade do meio, do mercado, é fundamental. O impacto de transição da vida acadêmica para a atividade profissional poderia ser diminuído por meio de experiências de trabalho integrado, crítico, participante e transversal entre as diversas áreas do saber, desde o momento da formação de cada profissão. Uma experiência banhada de realidade, em situação concreta, daquilo que será exigido na vida profissional(5). Ou seja, trabalhar de modo transversal e interdisciplinar, reintegrando conhecimentos.

A interdisciplinaridade e a transversalidade são abordagens cujas diferenças "ainda não estão definitivamente estabelecidas [ ... ] é certo que para ambas é possível utilizar a perspectiva metadisciplinar, com o uma ferramenta [ ... ] a partir da qual se possa organizar o currículo escolar"(2). Esta perspectiva abre possibilidades de rompimento com a fragmentação do saber e a construção de uma nova perspectiva de ensino, calcado na modificação da relação professor e aluno, saber e fazer, real e conceitual.

Prosseguindo neste raciocínio, podemos afirmar que ambas se contrapõem ao conhecimento Iivresco e acabado que se distancia da realidade e suas contradições. E, mesmo sendo complementares na prática pedagógica, cabe à interdisciplinaridade o questionamento da segmentação dos campos do conhecimento que leva a uma visão compartimentada do saber, onde a escola e o ensino nos seus diferentes níveis historicamente se apóiam. a transversalidade traz a possibilidade de estabelecer uma relação entre o aprendizado dos conhecimentos teoricamente sistematizados e as questões da vida real. O profissional em formação precisa sentir-se comprometido com seu meio, pois realiza sua formação nesse meio, a partir dele e para ele.

O compromisso social é construído na medida que o educando exercita seu potencial criador e alia o pensar e o fazer em um processo dialético, crítico (5).

4 Educação profissional A discussão dessas questões não é nova. Elas têm sido colocadas no borbulhar de reflexões de três movimentos sociais ocorridos nos anos 80 e 90, que orientaram a atual mudança no ensino de graduação do país. Foram eles o movimento sanitário (na saúde), o Movimento Participação com o projeto político- pedagógico de enfermagem (na enfermagem) e a mudança das diretrizes e bases da educação nacional (na educação)(6).

Em 2001 o Conselho Nacional de Educação instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação, definindo os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação dos profissionais brasileiros, para a organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos de cada curso (7).

Essas diretrizes estimulam as Instituições de Ensino Superior a superar as práticas vigentes derivadas da rigidez dos currículos mínimos, com carga horária elevada e excesso de disciplinas com pré-requisitos, e também a superar os cursos estruturados mais na visão profissional corporativa que nas perspectivas de atentarem para o contexto científico­histórico do conhecimento e atendimento às demandas existentes da sociedade(8).

As diretrizes estimulam também uma mudança de foco, a partir de uma reflexão e construção coletiva nas instituições formadoras, direcionando o olhar para uma nova forma de construção do saber e do fazer.

São propostas referências para a formação profissional, sustentadas no atual sistema de saúde do país que é presidido pelos princípios da universalidade, eqüidade e equanimidade, indicando a necessidade de formar enfermeiros que " [... ] contribuam, de forma efetiva, para implantação e/ou aprimoramento de uma proposta de atenção à saúde mais justa, mais igualitária e de melhor qualidade" (9).

É necessário que os profissionais se comprometam com o estudo e o investimento de estratégias na busca de soluções para os problemas da sociedade, responsabilizando­se por transformações em seu ambiente de trabalho.

O desenvolvimento de competências para o trabalho em enfermagem seja ele qual for, constitui-se num desafio para as escolas, pois se busca enfermeiros capazes de ver a realidade, fazer o diagnóstico da situação, distinguir prioridades e intervir com competência(10).

Independente da avaliação que se faça da Resolução no. 3 CNE/CES(7), é necessário lembrar que as alterações da grade curricular, apesar de reiteradas como ineficazes, ainda são uma prática constante em vários lugares do país e ainda que as instituições adotem no papel as diretrizes curriculares, é necessário o envolvimento e o entrosamento do grupo de formadores, para que haja coerência e adequação entre o que se propõe, o que se faz e a forma como é feito, tendo claro as razões do que se faz e para que se faz. Do contrário estaremos apenas maquiando com nova roupagem algo pronto e estabelecido, pela conveniência da manutenção do velho ao invés da incômoda insegurança dos caminhos a que levarão o novo.

5 Considerações finais Enfim, a proposta interdisciplinar aponta para uma tentativa de globalização, e a transversalidade aponta para o reconhecimento de que é possível transitar pela multiplicidade das áreas do conhecimento, estabelecendo inúmeras conexões, que ensinem o profissional a pensar o conhecimento como forma de estar no páreo da concorrência do mercado de trabalho.


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