Constraste iodado em tomografia computadorizada: prevenção de reações adversas
REVISÃO
Constraste iodado em tomografia computadorizada: prevenção de reações adversas
Iodine contrast in computed tomography: preventing adverse reactions
Contraste yodado en tomografía computadorizada: prevención de reacciones
adversas
Beatriz Cavalcanti JuchemI; Clarice Maria Dall´AgnolII;Ana Maria Müller
MagalhãesIII
IEnfermeira da Unidade de Radiologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre
(HCPA). Mestranda junto ao Programa de Pós-Graduação da EEnf-UFRGS
IIEnfermeira. Doutora em Enfermagem pela EEUSP. Professora Adjunta da EEnf-
UFRGS, na Graduação e no Programa de Pós-Graduação. E-mail do autor:
clarice@adufrgs.ufrgs.br
IIIMestre em Educação pela PUCRS. Professora Assistente da EEnf-UFRGS.
Enfermeira Chefe do Serviço de Enfermagem Cirúrgica do Hospital de Clínicas de
Porto Alegre (HCPA)
1 Introdução
O crescente desenvolvimento tecnológico tem contribuído de forma decisiva para
o auxílio ao diagnóstico de doenças. Neste compasso, a área de imagenologia
logra especial status no campo de elucidação e confirmação de diagnósticos
clínicos, na medida em que aumenta a precisão das imagens obtidas. Inseridos em
tal contexto, a Enfermagem e os demais profissionais de saúde têm buscado
qualificação para atender os pacientes que se submetem a exames cada vez mais
complexos. No entanto, a literatura especializada ainda não disponibiliza
resultados de pesquisas que permitam afirmar sobre a efetiva incidência de
reações adversas ao contraste iodado, em serviços radiológicos, no Brasil. Por
conseguinte, a presente abordagem surge da preocupação cogitada a partir de
achados na literatura estrangeira e da experiência profissional das próprias
autoras deste trabalho, mediante observações aleatórias. A freqüência das
reações adversas não é intuito da presente abordagem, já sinalizando que merece
um estudo à parte. Mas, independentemente de índices, considera-se um fenômeno
de relevância inusitada, uma vez que pode ser ameaçador à vida do paciente.
Tomando como pano de fundo a preocupação para com este agravo, houve uma
mobilização em averiguá-lo com estudos mais pormenorizados. Então, deparou-se
com uma carência muito grande de publicações brasileiras na área de enfermagem
em radiologia, cuja lacuna tem instigado uma das autoras que está direcionando
seu projeto de pesquisa com vistas a desenvolver esta linha temática, mediante
coleta de dados em um serviço radiológico de um hospital de ensino de Porto
Alegre, RS.
Neste artigo, protagonizando subseqüentes eixos de abordagens, reúnem-se
informações com o objetivo de instrumentalizar a equipe de enfermagem e demais
profissionais que atuam em radiologia e setores afins para a tomada de decisões
que perpassam o cuidado/assistência, prevenindo ou minimizando a freqüência de
eventos adversos relacionados ao uso de contraste iodado em tomografia
computadorizada. Esta sistematização, portanto, deriva da experiência
profissional das autoras, porém, com ancoragem em publicações científicas a que
se teve acesso, aproximando o foco de atenção para a Enfermagem.
A revisão de literatura compreendeu três etapas. Primeiramente, compilou-se a
coletânea do acervo pessoal das autoras na qual se pautam para nortear as
condutas cotidianas no locus de trabalho. A seguir, percorreu-se o Banco de
Dados da Bireme _ LILACS, não tendo se limitado aos descritores diretos e
específicos. A busca foi ampliada mediante investigação com palavras-chave
análogas, por aproximação, ou, ainda, por suposta equivalência de área temática
lato sensu. Constatou-se que a literatura internacional disponível é originária
de publicações, principalmente, norte-americanas e européias, e, maciçamente,
na Medicina, enquanto área do conhecimento. A escassez de publicações sobre o
tema, na Enfermagem, ainda mais se faz notar na literatura nacional, fato
evidenciado na terceira etapa, de refinamento da busca bibliográfica. O
procedimento consistiu em verificar o conteúdo de todos os números, nos últimos
dez anos, de periódicos de vanguarda, em se tratando de publicações brasileiras
de Enfermagem, a partir da listagem de indexação emitida pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em 2003. Neste
rastreamento intensivo, nenhuma publicação versando sobre o tema foi
localizada.
2 Radiologia e tomografia computadorizada
A Unidade de Radiologia é o setor do hospital onde, via de regra, realizam-se
os exames por imagem, que são de suma importância como recurso diagnóstico na
prática clínica. No momento contemporâneo, são amplamente utilizados vários
métodos de diagnóstico por imagem: radiologia, tomografia computadorizada,
ressonância magnética, cintilografia e ultrassonografia, entre outros.
A Unidade de Tomografia Computadorizada (TC) desempenha papel importante no
desenvolvimento das atividades assistenciais do hospital, na medida em que
confirma ou complementa os achados diagnósticos. Um princípio básico de
funcionamento da TC é a utilização de feixes muito finos de raios X, em que se
agrega recursos avançados da tecnologia de computação, de forma a proporcionar
a obtenção de imagens mais detalhadas, aprimorando sobremaneira a visualização
de segmentos corporais. Este aparato tem contribuído não só para a evolução da
Medicina, mas também vem exigindo da equipe interdisciplinar atuante em
radiologia que desenvolva e aperfeiçoe conhecimentos específicos, a fim de
prestar atendimento especializado e de excelência à clientela que busca este
recurso(1).
A TC é um procedimento indolor, no qual o paciente deve permanecer deitado e
imóvel durante alguns minutos em uma cama hidráulica e ajustável, enquanto o
aparelho tomográfico realiza os registros da área a ser examinada(2). Os riscos
do exame são inerentes à irradiação e à administração de contraste iodado,
sendo esta última muitas vezes requerida para melhor visualizar as estruturas
corporais que estão sendo estudadas. Na seqüência, apresenta-se as propriedades
deste meio radiopaco, bem como seus efeitos adversos, fundamentando a
importância das ações preventivas às quais se confere ênfase neste trabalho.
3 Contraste iodado e reações adversas
O meio de contraste iodado é geralmente administrado por via oral previamente
ao procedimento e/ou por via endovenosa durante o exame. Esta substância
consegue dar maior definição às imagens tomográficas, melhorando a qualidade da
informação morfológica fornecida pela tomografia(3).
O contraste iodado pode ser classificado, quanto a sua capacidade de
dissociação, em iônico ou não iônico. O contraste iodado iônico é aquele que,
quando em solução, dissocia-se em partículas com carga negativa e positiva,
enquanto os não iônicos não liberam partículas com carga elétrica. A quantidade
de partículas em relação ao volume de solução determina a osmolalidade do
contraste. Portanto, o contraste iodado iônico tem maior osmolalidade do que o
não iônico. Outras propriedades do contraste dizem respeito à sua densidade e
viscosidade. Quanto maior a densidade e a viscosidade, maior será a resistência
ao fluxo do contraste, o que torna menor a velocidade de injeção e dificulta
sua diluição na corrente sangüínea. É importante assinalar que todas estas
propriedades vinculam-se à eficácia e à segurança dos meios de contraste iodado
(3-5).
O agente de contraste ideal deveria melhorar a qualidade das imagens sem
produzir qualquer tipo de reação adversa (RA), mas até o presente momento ainda
não se dispõe desta substância. Reações adversas aos meios de contraste (MC)
podem ocorrer após uma única ou após múltiplas administrações. É bastante usual
classificá-las quanto ao seu mecanismo etiológico, grau de severidade e tempo
decorrido após a administração do contraste, conforme descreve-se a seguir:
3.1 Quanto ao mecanismo etiológico:
Reações anafilactóides ou idiossincráticas
Assemelham-se às reações alérgicas ou reações de hipersensibilidade a uma
substância em particular e não dependem da concentração de iodo, das
propriedades químicas do contraste, e do fluxo ou volume de solução injetada.
Estas reações não são reações anafiláticas verdadeiras porque podem ocorrer em
pacientes que nunca estiveram expostos ao meio de contraste previamente. Os
sintomas incluem urticária, prurido, tosse, angioedema, coriza nasal, náusea,
vômito, hipotensão com taquicardia, broncoespasmo e edema laríngeo, podendo
evoluir para choque e insuficiência respiratória severa(4-7). Um estudo nos
Estados Unidos(8), mostrou que 92% das reações adversas ocorridas enquadravam-
se como reações anafilactóides.
Reações não-idiossincráticas
São também chamadas de reações quimiotóxicas, uma vez que resultam das
propriedades do contraste como hiperosmolalidade, quimiotoxicidade e carga
elétrica, sendo passível de se estabelecer associações com a dose administrada,
a concentração de iodo presente na solução e a velocidade de inoculação da
substância. O mecanismo de ação vincula-se a alguns fenômenos: quantidade de
cátions liberada pelo contraste, expansão aguda do volume plasmático,
vasodilatação generalizada por efeito na musculatura lisa e lesão do endotélio
vascular. Entre as manifestações clínicas evidenciam-se sensação de calor,
gosto metálico na boca, reações vaso-vagais (sudorese, palidez cutânea, náusea,
vômito e hipotensão com bradicardia), tontura, convulsão, reações
cardiovasculares como arritmias e depressão miocárdica, hipervolemia,
insuficiência renal, dor e desconforto no local da injeção que pode evoluir
para flebite e ainda extravasamento de contraste(3,4,7).
Na literatura consultada(9,10), consta a definição de extravasamento como sendo
a administração inadvertida de droga vesicante nos tecidos circundantes, ao
invés da via vascular pretendida. Drogas vesicantes são aquelas capazes de
causar dano tecidual quando injetadas nas estruturas adjacentes ao vaso
sangüíneo. São exemplos de drogas vesicantes: agentes quimioterápicos, certas
soluções de eletrólitos como cálcio e potássio, vasopressores e meios de
contraste radiológicos. Outros autores(11,12) destacam que a injeção
extravascular de agente contrastante ocorre com uma freqüência de 0,04 a 1,3%.
A maioria destes eventos envolve pequenos volumes de contraste (menos de 10 ml)
que requerem apenas cuidados de suporte e evoluem sem complicações.
Extravasamentos de maiores volumes (10 a 50 ml ou mais) podem provocar
ulcerações graves de pele e necrose tecidual, com prejuízo funcional do membro
afetado.
Reações combinadas, ou seja, reações complexas relacionadas aos efeitos
quimiotóxicos do contraste concomitantes a reações anafilactóides também podem
ocorrer. Além disso, alguns sintomas como eritema, pápulas, prurido, náuseas e
vômitos, citados como característicos das reações idiossincráticas, também
podem ser provocados pelos efeitos quimiotóxicos do contraste(4), o que torna
difícil determinar a etiologia destes sintomas.
3.2 Quanto ao grau de severidade:
Assim sendo, as reações adversas classificam-se, quanto ao grau de severidade,
em leves, moderadas ou graves(4,7,8,12,13).
Leves
São aquelas reações autolimitadas, que cedem espontaneamente e não requerem
terapêutica medicamentosa, sendo necessário apenas observação. Podem
manifestar-se como prurido, urticária leve, náuseas, vômitos, tontura,
exantema.
Moderadas
Exigem tratamento farmacológico e observação cuidadosa no serviço de
radiologia, mas não requerem hospitalização. São caracterizadas por vômitos
persistentes, urticária difusa, cefaléia, edema facial e de laringe,
broncoespasmo ou dispnéia, taquicardia ou equbradicardia, hipo ou hipertensão
transitória.
Graves
Requerem suporte terapêutico de emergência e o paciente é hospitalizado para
acompanhamento. Os sintomas de reações graves incluem arritmias com repercussão
clínica, hipotensão, broncoespasmo severo, convulsão, edema pulmonar, síncope,
fibrilação atrial ou ventricular e parada cárdio-respiratória.
3.3 Quanto ao tempo decorrido após a administração do contraste:
Agudas ou imediatas
Ocorrem no período em que o paciente está em observação no serviço de
radiologia e têm início durante a injeção ou nos primeiros 20 minutos após a
administração do agente contrastante. Estudos apontam que 70 a 95% das reações
adversas ocorrem durante este período(4). As reações idiossincráticas aparecem
tipicamente neste período e reações graves caracterizadas por broncoespasmo
agudo, hipotensão intensa e urticária severa, podem ocorrer dentro de minutos
após a administração de 1 ml de contraste(6,7).
Tardias
Ocorrem após o paciente deixar o serviço de radiologia, geralmente de 30 a 60
minutos após a administração do contraste. As manifestações incluem sintomas
gripais, febre, calafrios, náuseas, vômitos, dor abdominal, fadiga e congestão.
Outras intercorrências suscetíveis de manifestação consistem em flebite,
trombose venosa, parotidite e sialoadenite por iodo ou até arritmias e
insuficiência cardíaca(4,6,7). Cefaléia, urticária limitada e prurido também
são apontados em um estudo(14) como os sintomas mais comuns, sendo que as
reações tardias de pele têm uma freqüência de 2 a 3% e aparecem depois de três
horas a três dias, desaparecendo em um a sete dias.
4 Incidência de reações adversas: resultados de alguns estudos internacionais
A freqüência com que as reações adversas ocorrem foi acompanhada em diversos
estudos internacionais, cujos resultados descrevem-se a seguir, identificando
as respectivas referências. Mas, desde logo, antecipa-se que, nessa consulta,
defrontou-se com variações, no que tange a índices, porém verificou-se que há
convergência de achados apontando para o contraste iodado não iônico como sendo
mais seguro do que o agente iônico. Isto se dá em razão de apresentar
osmolalidade mais baixa, bem como pela ausência de partículas com carga
elétrica quando em solução, aspectos que concorrem para que haja uma melhor
tolerância pelo paciente.
A incidência das reações depende de vários fatores, tais como o tipo e volume
de contraste administrado, o tipo de estudo a ser realizado e as condições
clínicas do paciente(3).
O Colégio Brasileiro de Radiologia - CBR(4)apresenta informações bastante
relevantes: uma delas diz respeito a uma pesquisa realizada no Japão em 1990
que apontou a ocorrência de algum tipo de reação adversa em 5 a 12% dos
pacientes que recebem contraste iodado iônico hiperosmolar e em 3,1% dos que
recebem contraste iodado não iônico. A grande maioria destes eventos consiste
em reações adversas de baixo risco. Reações graves são mais raras, ocorrendo em
0,22% e 0,04% dos pacientes que utilizam contraste iodado iônico e não iônico
respectivamente. Outro destaque do CBR converge para estudos retrospectivos que
encontraram uma taxa de mortalidade entre 1:15.000 e 1:150.000 entre pacientes
que receberam contraste iodado iônico. Reações fatais também ocorrem com o uso
de agentes não iônicos, mesmo em pacientes que já receberam o contraste
previamente sem quaisquer sintomas de reação adversa. Nos Estados Unidos,
Cochran(8) demonstrou uma taxa de reação adversa que variou entre 0,6 e 8%
quando usado agente iônico e 0,2 a 0,7% quando utilizado o meio de contraste
não iônico. Também, nos Estados Unidos, Leder(15) apontou uma freqüência de
4,5% para contraste iônico e 0,3% para não iônico.
De acordo com os dados que essas pesquisas evidenciaram, o agente iodado não
iônico tem se mostrado mais seguro, o que justificaria o seu uso universal.
Porém, o seu custo é duas a quatro vezes maior do que o contraste iônico, o que
torna seu uso indiscriminado bastante oneroso. Por isso, uma alternativa
relativamente segura é o uso do MC iodado não iônico somente para casos que
representem maior risco para o desenvolvimento de reações adversas, ou seja,
para pacientes que apresentem condições clínicas ou fatores de risco que
aumentem a probabilidade destas ocorrências.
Os fatores de risco que constam de forma bastante freqüente na literatura
consistem em: história prévia de reação adversa ao meio de contraste, exceto
sensação de calor e episódio isolado de náusea ou vômito, história de múltiplas
alergias ou asma, mieloma múltiplo, doença renal, diabetes, doença
cardiovascular, incluindo arritmias, cardiopatia isquêmica e hipotensão
pulmonar, discrasias sangüíneas, feocromocitoma, doença autoimune,
hipertireoidismo e ansiedade(3,4,6,7,12,15). Há situações que igualmente
requerem atenção, como o caso de crianças com menos de 1 ano e de pacientes com
mais de 60 ou 70 anos. Além disso, pacientes acentuadamente debilitados,
desidratados, com risco de aspiração, ou com dificuldades na comunicação também
demandam o uso de agentes não iônicos. Outra indicação do meio não iônico
apropria-se nos casos de uso de algumas drogas tais como metformina,
betabloqueadores e medicações nefrotóxicas. Não há comprovação de risco para o
bebê quando se administra o contraste em mulheres que estão amamentando, sendo
restritivo para mulheres gestantes.
É importante alertar para o fato de que 60% dos pacientes que apresentaram
pápulas em exames anteriores apresentarão o sintoma se expostos novamente.
Embora a RA não seja recorrente em todos os pacientes sensíveis, estes, ainda,
têm maior risco do que os outros e merecem atenção especial. Pessoas com asma
têm 1,2 a 2,5 vezes mais risco e sofrem reações severas entre 5 e 9 vezes mais
do que a população em geral(7). E, pacientes com doença renal antes da
administração do contraste são 5 a 10 vezes mais propensos a desenvolver
insuficiência renal induzida pelo contraste do que os pacientes sem fatores de
risco(6).
É preciso ter em mente, ainda, que as reações adversas podem ocorrer em
pacientes que não apresentam nenhum fator de risco e estão sendo expostos ao
meio de contraste pela primeira vez ou repetidamente. É muito mais arriscado
usarcontraste iônico em indivíduos que não têm fator de risco do que
usarcontraste não iônico em pacientes alérgicos, cardiopatas, com idade
avançada, desidratados ou com história de reação prévia ao agente contrastante
(4).
5 Medidas preventivas
Na área de diagnósticos por imagem, a Enfermagem atua em conjunto com a equipe
multidisciplinar, realizando atividades como orientação e preparo do paciente
para o procedimento; conferência e manutenção do material necessário para a
execução e sucesso do exame; armazenamento, preparo e administração de
contrastes; bem como acompanhamento do paciente antes, durante e após a
realização do exame, entre outras.
A qualificação e o preparo técnico dos profissionais são imprescindíveis para
identificação precoce de fatores de riscos e sinais de reações de adversas,
sendo decisivos na prevenção de danos aos pacientes. O conhecimento da
tecnologia, dos meios de contraste e seus efeitos, bem como a competência para
agir em situações de emergência são fundamentais para o sucesso na realização
de exames por imagem.
Embora as reações adversas sejam, em muitos casos, inevitáveis ou
imprevisíveis, algumas medidas específicas podem impedir / reduzir a sua
ocorrência ou sua gravidade; portanto, recomenda-se atenção aos seguintes
aspectos:
- Escolha do tipo de contraste:Apesar do contraste iodado não iônico ser mais
seguro, convém que o serviço de radiologia adote uma política de uso seletivo
do contraste não iônico para os casos de risco. Ainda que a decisão do tipo de
contraste a ser utilizado não seja atribuição da Enfermagem, cabe a ela
fornecer ao tomografista elementos que possam contribuir na sua tomada de
decisão.
- Levantamento dos fatores de risco: É importante que a equipe que atua no
setor esteja familiarizada com os fatores de risco desencadeantes de RA e
verifique, junto ao paciente e/ou familiares, bem como no sistema de registros
a existência destas condições, contribuindo para a escolha mais segura do tipo
de contraste a ser usado no exame.
- Averiguação acerca das drogas utilizadas pelo paciente: É possível que beta-
bloqueadores mascarem a ocorrência de arritmias cardíacas, evitando seu pronto
atendimento. Drogas como a metformina interagem com o contraste, havendo risco
de desencadear insuficiência renal; portanto, recomenda-se interromper seu uso
antes do exame e só retomá-lo quando a função renal for avaliada pelo médico
responsável e considerada normal. Convém que outras drogas nefrotóxicas como
aminoglicosídeos sejam descontinuadas sempre que possível(3,6,7,12).
- Medicação profilática: Em pacientes de risco, a administração de pré-
medicação como corticosteróides, anti-histamínicos ou cimetidina também é
medida preventiva usada nos serviços que dispõem de protocolo para sua
utilização(4,7,12). É preciso atentar para o fato de que pacientes que não têm
fatores de risco não são beneficiados pelo uso deste esquema profilático(3).
- Avaliação do estado geral do paciente: Alguns quadros clínicos, em que o
paciente apresenta agitação ou confusão mental, prejudicam a realização do
exame. Nestas condições, além de não colaborar no posicionamento sugerido, é
difícil mantê-lo imóvel quando a situação, assim, requer. Este fato influencia
na obtenção de resultados, especialmente no que tange à qualidade da imagem e,
muitas vezes, culmina na necessidade de interromper o exame. Além disso, estas
condições comprometem a habilidade de comunicação do paciente, dificultando
também a precoce identificação de reações adversas. Uma medida de segurança
consiste em atentar para estas intercorrências e solicitar avaliação médica com
vistas à sedação do paciente/cliente, acompanhamento da equipe assistente ou
considerar a realização do estudo em outro momento.
- Preparo quanto à hidratação e jejum: É importante manter a hidratação nas 12
horas que antecedem o exame e 2 a 24 horas após o mesmo para evitar a ação
nefrotóxica do contraste. Ressalva-se que a via de administração depende do
contexto/situação em que se realiza o exame. Promover o controle hídrico do
paciente internado após o exame para acompanhamento de sua função renal é uma
medida de precaução(4,6,7,12). Quanto ao jejum, prévio ao exame, o consenso é o
de evitar ou diminuir a ocorrência de vômitos, diminuindo também o desconforto
e o risco de aspiração.
- Atenção ao aspecto emocional:O medo do desconhecido, o instrumental técnico e
o próprio ambiente, além de fatores estritamente pessoais, concorrem para
elevar o nível de ansiedade. Esta situação, gerando desconforto, torna o
paciente mais vulnerável e, conseqüentemente, menos colaborativo e, assim,
possivelmente até o exame deixe de alcançar o patamar de eficácia desejada. Por
isso, é fundamental que a equipe multidisciplinar esteja atenta e disponha da
devida instrumentalização para acolher, fornecer esclarecimentos e tranqüilizar
o paciente/cliente, reconhecendo as peculiaridades que cada caso exige. A
relação entre preparo emocional e diminuição dos níveis de ansiedade estão
descritos na literatura(1,3).
- Intervalo entre um exame e outro:São necessárias pelo menos 48 horas(6) entre
os exames contrastados para promover adequada recuperação da função renal,
sendo recomendado um intervalo de 5 dias entre uma injeção de contraste iodado
e outra(7).
- Temperatura da substância de contraste: Aquecer o contraste à temperatura
corporal reduz sua viscosidade, aumenta sua solubilidade e torna o contraste
mais bem tolerado pelo paciente(1,5,7).
- Dose da substância de contraste: Quanto menor o volume de contraste
necessário para o exame, menor será o risco de reações dose-dependentes. O
tomografista determina o volume a ser injetado, considera o tipo de estudo que
se pretende e as condições do paciente. Exames com foco no fígado, pâncreas e
angiotomografias exigem injeção de grandes volumes de contraste, de maneira
contínua e uniforme, com alto fluxo (3 a 5 ml/seg)(11). A necessidade de
grandes doses justifica o uso de agente não iônico(5). O conhecimento do peso
exato do paciente é uma medida que contribui para determinar a quantidade ideal
de contraste.
- Velocidade da inoculação endovenosa do contraste: Alguns sintomas como
náuseas e vômitos são mais freqüentes quando o contraste é administrado com
maior velocidade, apesar de alguns estudos sugerirem que a velocidade de
infusão não afeta a freqüência destas ocorrências(7). Injeções mais lentas de
contraste diminuem a incidência de cefaléia e a sensação de gosto metálico na
boca(6). Fluxos de 3 ml/seg ou mais aumentam a probabilidade do paciente
experimentar maior sensação de calor(16).
- Observação do paciente durante e após o exame: A maioria das reações ocorre
até 20 minutos após a administração do contraste; por isso, a observação
criteriosa do paciente pela equipe de enfermagem durante este período é
importante para identificar a ocorrência de alguma reação e proceder ao
atendimento o mais prontamente possível(1,7).
- Recursos humanos e materiais adequados: Toda a equipe deve estar treinada e
apta para o reconhecimento e pronto atendimento das reações adversas e o setor
deve estar devidamente equipado para seu atendimento(1,4,7).
- Registros: O registro em prontuário da evolução do paciente durante o
procedimento, incluindo tipo de exame, tipo de contraste administrado e
ocorrência ou não de eventos adversos auxilia significativamente na tomada de
decisão em exames futuros.
- Orientação do paciente/cliente e Consentimento Informado: Além de orientações
protocolares, pertinentes à tomografia contrastada, é importante informar ao
paciente/cliente sobre as possíveis reações adversas. Na iminência de riscos
com a realização do exame, deve haver um consentimento expresso do paciente e/
ou responsável para submeter-se a esta modalidade diagnóstica.
5 Considerações Finais
A Enfermagem desempenha papel importante na prevenção da ocorrência de reações
adversas pelo uso de contraste iodado, na medida em que participa de todas as
ações anteriormente descritas. Entretanto, tomadas de decisões quanto ao tipo e
à dose de contraste necessários para o exame são da alçada da equipe médica
que, por sua vez, condiciona-se à viabilidade econômica da instituição. É
preciso ter critérios de escolha que se pautem em bases científicas e que se
insiram na política institucional, proporcionando um trabalho interdisciplinar
uníssono com os objetivos do Serviço de Saúde e com o bem estar dos pacientes/
clientes. Neste sentido, estudos que associam a freqüência destas reações, e os
custos implicados são de crucial importância para subsidiar tomadas de decisões
compatíveis com a disponibilidade financeira dos serviços de saúde, mas,
principalmente, que atenda às reais necessidades do cliente/paciente.
A carência de estudos nacionais sobre o assunto, em si mesma, é um fato
mobilizador para que se prossiga com novos eixos de abordagens, a partir do que
se consolidou na presente iniciativa. Diversas questões de estudos sugerem
premência de investigação. Entre elas, cogita-se quanto à freqüência/ocorrência
de eventos adversos, na realidade brasileira, considerando o perfil da
clientela, bem como a dinâmica e os recursos característicos da atividade
laboral, em tal contexto. Neste sentido, considera-se que a aferição da
freqüência do evento adverso é ação complementar à sua prevenção, pois a
análise dos dados estatísticos e epidemiológicos constitui-se em importante
subsídio para verificar objetivamente a eficácia das medidas realizadas para
prevení-las. Mas, se esta é uma das possibilidades de futuros encaminhamentos
com recursos oriundos da trajetória de investigação quantitativa, também leva-
se em conta que estudos de outra natureza, como os da vertente qualitativa,
ofereçam importantes contribuições para que se possa de forma mais abrangente
apreender o(s) fenômeno(s) que transitam na prática de exames contrastados,
seja do ponto de vista da assistência/cuidado ou do processo de trabalho que os
efetivam.