Significados e atitudes de pacientes de cirurgia cardíaca: influência de
variáveis sociodemográficas
PESQUISA
Significados e atitudes de pacientes de cirurgia cardíaca: influência de
variáveis sociodemográficas
Meanings and attitudes of patients who undergo cardiac surgery: influence of
sociodemographic variables
Significados y actitudes del enfermo delante la cirugía cardiaca: influencia de
las variables sociodemográficas
Alba Franzão MirandaI*; Maria Cecília Bueno Jayme GallaniII; Sebastião
AraújoIII
IEnfermeira da Unidade de Terapia Intensiva do HC-UNICAMP. Mestre em Enfermagem
Fundamental pela Escola de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
Doutoranda em Cirurgia pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências
Médicas da UNICAMP
IIEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente da Escola de Enfermagem da
Faculdade de Ciências Médicas - UNICAMP
IIIMédico. Doutor. Professor Assistente da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
1. INTRODUÇÃO
As variáveis psicossociais, significados e atitudes, pesquisadas através das
crenças dos sujeitos, aparecem em vários estudos recentes relacionadas a uma
ampla variedade de conceitos, patologias e populações(1-9). Em recente estudo
de revisão bibliográfica que empregou as palavras-chave: crenças, atitude,
recuperação, sobrevivência, resultados ou melhora, para a busca na base de
dados MEDLINE, foram identificados 15 artigos que relataram uma associação
entre expectativas positivas dos pacientes e melhores resultados evolutivos de
saúde(10). As investigações recentes, entretanto, não fazem referência aos
significados e atitudes dos pacientes em relação à cirurgia cardíaca, uma
situação freqüentemente associada a sentimentos de ansiedade, incertezas e
medo, cuja influência na evolução clínica do paciente não foi ainda
suficientemente explorada.
Certas variáveis sociodemográficas, como a idade(11,12) e gênero(13), vêm sendo
estudadas quanto à sua influência na evolução das afecções cardíacas.
Na literatura, são encontrados estudos que relatam a associação entre a
evolução de afecções cardíacas e variáveis socio-demográficas(11,12,14) e
psicossociais(15-17)(sobremaneira na investigação da depressão(18,19) e
ansiedade(20)). No entanto, também pouco se sabe a respeito da relação entre as
variáveis sociodemográficas e as variáveis psicossociais, como significados e
atitudes dos pacientes que realizarão cirurgia cardíaca.
Considerando a importância epidemiológica e social das cirurgias cardíacas e a
evidência de associação entre variáveis psicossociais bem como
sociodemográficas, e a evolução clínica de pacientes com as mais variadas
afecções, este estudo teve como objetivo verificar a influência das variáveis
sociodemográficas sobre os significados e atitudes dos pacientes em relação à
cirurgia cardíaca no período que antecede o procedimento cirúrgico.
2. MÉTODO
Entre novembro de 2000 e novembro de 2001 foram entrevistados 125 pacientes em
pré-operatório de cirurgia cardíaca de ambos os sexos, idade igual ou superior
a 21 anos, que consentiram participar do estudo e encontravam internados em
Enfermaria de Cardiologia de Hospital Universitário no interior do Estado de
São Paulo. Foram utilizados dois instrumentos compostos por escalas
psicométricas: SPCC (Significados dos Pacientes frente à Cirurgia Cardíaca) e
CVSCC (Crenças, Valores e Sentimentos sobre a Cirurgia Cardíaca), construídos
especialmente para este fim e validados em estudo anterior(21,22).
Originalmente o instrumento SPCC foi constituído por 13 conceitos relacionados
diretamente ou indiretamente à cirurgia cardíaca (Cirurgia Cardíaca, Hospital,
UTI, Saúde, Família, Morte, Vida, Medo, Médico, Dor, Enfermeira, Doença e
Esperança) sendo aplicadas a cada conceito nove escalas de diferencial
semântico, com intervalos que variaram de 1 a 5 pontos entre os pares de
adjetivos bipolares opostos, sendo o valor 1 atribuído ao pólo negativo e o
valor 5 ao positivo. Os 13 conceitos foram avaliados através do seguinte
conjunto de adjetivos bipolares: agradável/desagradável; alegre/triste;
necessário/desnecessário; útil/inútil; bom/ruim; bonito/feio; simples/
complicado; construtor/destruidor; seguro/perigoso. A análise fatorial dos
instrumentos SPCC gerou três fatores: Fator A (significados positivos); Fator B
(significados negativos); Fator C (significados ambíguos).
O instrumento CVSCC, por sua vez, foi inicialmente constituído por 25 crenças
referentes à cirurgia cardíaca às quais o paciente deveria responder numa
escala tipo Likert de cinco pontos, variando desde discordo totalmente a
concordo totalmente. Após a análise fatorial, formaram-se seis fatores
denominados como: Fator 1 (sentimentos negativos sobre a cirurgia cardíaca);
Fator 2 ( crenças sobre os ganhos decorrentes da cirurgia cardíaca); Fator 3
(confiança nos profissionais e na cirurgia cardíaca); Fator 4 (esperança/fé no
sucesso da cirurgia cardíaca); Fator 5( certeza da necessidade da cirurgia
cardíaca); Fator 6 ( incerteza quanto aos resultados da cirurgia cardíaca).
Para análise das crenças foram considerados os escores padroni-zados em cada
uma das dimensões dos instrumentos, padronização esta pressuposta pela própria
análise fatorial.
As variáveis sociodemográficas analisadas foram idade, sexo, cor, número de
filhos, renda mensal, grau de escolaridade, co-habitação e a experiência de ter
ou não vivenciado algum evento marcante no último ano.
A idade, em anos, foi registrada em número absoluto; o sexo foi categorizado
como feminino e masculino; a cor em branca, negra, parda e amarela; o número de
filhos, como variável contínua. O grau de escolaridade foi tratado como
variável contínua com levantamento do número de anos de estudo e
posteriormente, classificado em três categorias: analfabetos, 1º. grau (entre
um a oito anos de estudo) ou escolaridade maior que o 1º. grau (mais que oito
anos de estudo). A renda mensal foi anotada em valor bruto e depois
transformada em número de salários mínimos; o estado de co-habitação foi
categorizado como: morar sozinho, com o cônjuge ou familiares; a variável
vivência de evento marcante foi coletada através de questão fechada,
categorizada como sim ou não.
Os dados coletados, após codificação, foram planilhados no programa Excel for
Windows/ 98 e então foi utilizado o software SAS - System for Windows, para as
seguintes análises: coeficiente de correlação de Pearson, para verificar a
correlação entre os escores das dimensões dos instrumentos SPCC e CVSCC e as
variáveis sociodemográficas; teste de Mann-Whitney, para comparar os escores
das dimensões entre categorias de variáveis sociodemográficas; e o teste de
Kruskal-Wallis, para verificar a associação entre os escores das dimensões e as
categorias das variáveis sociodemográficas. O nível de significância adotado
foi de 5%.
Quanto aos aspectos éticos, este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas
(parecer CEP número 180/2000). O consentimento livre e esclarecido foi obtido
por meio da assinatura de cada um dos participantes da pesquisa no documento
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
4. RESULTADOS
Os 125 pacientes apresentaram idade média de 55,17(± 13,04) anos e escolaridade
que variou entre zero a 20 anos de estudo com média de 4,26 (± 3,97) anos. As
demais características sócio-demográficas dos pacientes encontram-se no Quadro
1.
Na análise da correlação entre as dimensões dos instrumentos SPCC e CVSCC e as
variáveis sociodemográficas, observou-se correlação positiva entre o Fator 5 do
instrumento CVSCC e as variáveis idade e renda mensal, bem como entre o Fator 4
e o número de filhos. Assim, foi evidenciado que quanto maior a idade e a renda
mensal, mais positivas foram as crenças relativas à certeza da necessidade da
cirurgia cardíaca, e, quanto maior o número de filhos, mais positivas as
crenças relativas à esperança /fé no sucesso da cirurgia cardíaca (Tabela_1).
Na comparação dos escores dos instrumentos SPCC e CVSCC entre os sexos,
observou-se diferença somente na pontuação do Fator1 do instrumento CVSCC, de
maneira que as mulheres apresentaram sentimentos mais desfavoráveis com relação
à cirurgia cardíaca do que os homens.
Para análise da variável cor, procedeu-se ao agrupamento das quatro categorias
originais em duas: branco+amarelo (B+A) e pardo +negro (P+N). Verificou-se
diferenças entre os grupos (B+A) X (P+N) somente em relação à dimensão
significados positivos (Fator A) , que tratam dos significados positivos dos
conceitos relacionados à cirurgia cardíaca, sendo que o grupo (B+A) apresentou
significados mais positivos do que o grupo (P+N).
Na pesquisa da associação entre os escores dos instrumentos SPCC e CVSCC e os
níveis de escolaridade, evidenciou-se que à categoria analfabetos esteve
associada com crenças mais negativas quanto à certeza da necessidade da
cirurgia cardíaca.
Quando à escolaridade, que foi analisada também como variável contínua,
observou-se correlação negativa entre os anos de estudo e a dimensão Fator 3 do
instrumento CVSCC, bem como correlação positiva entre escolaridade e o Fator 5
do mesmo instrumento, ou seja, quanto maior a escolaridade menor a confiança
nos profissionais e na cirurgia cardíaca. Por outro lado, quanto maior a
escolaridade, maior a certeza da necessidade da cirurgia cardíaca (Tabela_2).
Na comparação dos escores das nove dimensões dos instrumentos SPCC e CVSCC,
entre os sujeitos que relataram ter vivenciado eventos marcantes no último ano
e os que negaram tal experiência, observou-se uma tendência de diferença
significativa apenas nos escores do Fator 2 da CVSCC, (Sim x Não; p-valor=
0,0586, Mann-Whitney), isto é, quem teve evento marcante apresentou menos
crenças positivas em relação aos ganhos e benefícios da cirurgia cardíaca.
Quanto à variável com quem mora, subdividida em sozinho (1), com cônjuge (2) e
com familiares (3), quando correlacionada com os fatores, observou-se
correlação significativa com os fatores 1 e 2 do instrumento CVSCC. Pode-se
dizer assim que, quem mora sozinho é diferente de quem mora com familiares e
diferente de quem mora com o cônjuge. Assim, quem mora sozinho tem menos
sentimentos negativos do que quem mora com algum familiar; por outro lado,
apresenta menos crenças positivas do que quem mora com a família e do que quem
mora com o cônjuge. Dessa maneira, verificou-se que quem mora sozinho tem menos
medo ou menos apreensão do que quem mora com a família. No entanto, quem mora
com os familiares ou com o cônjuge acredita mais nos ganhos e benefícios
decorrentes da cirurgia cardíaca.
Na tabela_3 são apresentadas as análises descritivas do teste de Kruskal Wallis
somente para as dimensões Fator 1 e Fator 2 do instrumento CVSCC, cujas
associações com a variável co-habitação foram estatisticamente significativas.
5. DISCUSSÃO
No presente estudo, todas as variáveis sociodemográficas apresentadas mostraram
relação/ associação com pelo menos uma das dimensões dos instrumentos SPCC e
CVSCC.
Destaca-se, entretanto, que tais correlações, embora tenham sido significativas
estatisticamente, devem ser consideradas correlações de pequena magnitude, uma
vez que em ciências sociais, correlações por volta de 0,30 têm sido
consideradas satisfatórias, correlações entre 0,30 e 0,50 de magnitude
moderada, e aquelas que excedem 0,50, de forte magnitude(23).Correlações com
valores menores que 0,30 devem ser considerados como de fraca magnitude. No
entanto, associações biológicas importantes, têm coeficiente de correlação
entre 0,1 e 0,3(24).
Foi observado que quanto maior a idade, mais forte as crenças de que a cirurgia
era necessária.
No estudo que avaliou os sintomas depressivos e a sobrevivência de pacientes
com insuficiência coronariana(18), foi constatado que a idade é uma variável
demográfica que apresentou interação com as emoções negativas. Observou-se que
houve diferença entre os escores das emoções negativas nos sujeitos com mais de
50 anos (RR=1,29) e os mais jovens (RR=1,70). Assim, os pacientes mais jovens
relataram mais sintomas depressivos, e estes parecem ter maior impacto na sua
condição de melhora, sendo então sugerido pelos autores que a ocorrência de
eventos coronarianos pode ser mais significativa para aquelas pessoas em que o
evento é inesperado, nas quais provavelmente, resulte em maiores mudanças no
estilo de vida(18).
Dessa maneira, a relação entre o avançar da idade e a crença sobre a
necessidade da cirurgia talvez possa ser explicada pela influência que a
experiência de vida exerce sobre a maneira do sujeito interpretar os novos
acontecimentos em sua vida, talvez com maior maturidade e tranqüilidade do que
os sujeitos mais jovens.
No que se refere à renda mensal, o achado de correlação (embora de fraca
magnitude) entre esta variável e a certeza da necessidade da cirurgia, de certa
forma reflete os achados na literatura. Alguns autores destacaram a baixa renda
mensal como um fator associado à existência de crenças mais negativas sobre a
má condição clínica(25), bem como a uma pior evolução médica de pacientes
portadores de diversas afecções(26,27) e também uma baixa qualidade de vida
(28).
No presente estudo, é possível que a renda mensal mais elevada reflita um
acesso mais facilitado aos meios de informação adequados, auxiliando a formação
de juízos mais favoráveis à situação sob análise.
Em relação à variável grau de escolaridade, esta mostrou-se associada à certeza
da necessidade da cirurgia cardíaca. Assim, essa certeza é menor nos
analfabetos. A explicação para este achado pode residir no fato das pessoas
analfabetas não terem acesso às informações escritas, limitando o conhecimento,
o que as deixaria mais vulneráveis a informações contraditórias e levaria à
construção de crenças desfavoráveis. Em uma outra análise, o grau de
escolaridade mostrou-se associado, também com pequena magnitude, de maneira
negativa com as crenças favoráveis à cirurgia cardíaca. Assim, quanto maior a
escolaridade menor, a confiança nos profissionais e na cirurgia cardíaca. Por
outro lado, quanto maior a escolaridade, maior a certeza da necessidade da
cirurgia cardíaca. Explicam-se estes resultados, levando em consideração que as
pessoas mais esclarecidas avaliam os profissionais e a própria cirurgia com
critérios mais rigorosos. No entanto, esses mesmos sujeitos percebem com mais
clareza a necessidade da cirurgia, o que pode ser atribuído ao fato dessas
pessoas terem acesso a outros meios de informações, o que permite confrontarem
as informações recebidas.
O número de filhos mostrou correlação positiva com a esperança/ fé no sucesso
da cirurgia cardíaca. A partir deste achado, pode-se conjecturar que indivíduos
que têm filhos sintam-se com mais responsabilidades, o que os levaria a
acreditarem, a desejarem, a terem esperança no sucesso da cirurgia, pois este
permitiria que continuassem a cuidar dos seus filhos. A desesperança e as
emoções negativas são preditores independentes para a sobrevivência dos
pacientes com doenças coronárias(18). Assim, se a desesperança pode causar a
morte dos pacientes, é possível supor que, ao contrário, a esperança pode
auxiliar na recuperação dos pacientes.
Foi observado que os sujeitos de cor parda e negra apresentaram escores mais
baixos na dimensão dos significados positivos que os sujeitos de cor branca e
amarela. Em estudo realizado para verificar as recentes tendências e
disparidades relacionadas às doenças cardiovasculares nos Estados Unidos,
evidenciou-se que há um declínio na mortalidade no decorrer dos anos. Porém,
essa redução na taxa de mortalidade está relacionada com a raça / etnia,
"status" socioeconômico e geografia. Foi evidenciado, no entanto, um declínio
mais lento, nos sujeitos da raça negra(29). Historicamente os sujeitos de cor
parda ou negra, em nossa cultura, pertencem a níveis socioeconômico e
educacionais mais baixos.
A condição de co-habitação mostrou que os sujeitos que moram sozinhos têm menos
sentimentos negativos e menos crenças positivas do que quem mora com a família
ou com o cônjuge. Assim, as pessoas sozinhas, talvez tenham menos medo da
cirurgia por terem menos coisas a "perder", isto é, elas as percebem
independentes, e isso as deixaria mais "tranqüilas" com relação aos resultados
das experiências a serem vivenciadas. No entanto, as pessoas que moram com
algum familiar têm mais suporte para enfrentar a cirurgia com mais esperança e
fé. Num estudo realizado para verificar o efeito da ansiedade na mortalidade e
qualidade de vida 12 meses após o infarto do miocárdio, observou-se que a
qualidade de vida esteve positivamente associada ao fato de ser do sexo
masculino, ter um companheiro, não viver sozinho e estar empregado(19).
No presente estudo, as mulheres apresentaram sentimentos mais desfavoráveis com
relação à cirurgia cardíaca. Estudos prévios têm demonstrado que o sexo
feminino é um fator de risco para mortalidade após a cirurgia cardíaca, porém
em nosso estudo esse achado não foi confirmado, pois de um total de 12 óbitos
50% foram do sexo feminino (6/12). Deve-se considerar que o número de sujeitos
deste estudo foi pequeno quando comparado com os estudos onde o sexo feminino
foi evidenciado como fator de risco para mortalidade(11,30-34).
Os sujeitos que viveram eventos marcantes no último ano apresentaram menos
crenças positivas em relação aos ganhos e benefícios decorrentes da cirurgia
cardíaca. Esses achados eram esperados, pois vivenciar situações estressantes
pode contribuir para um descrédito dos pacientes com relação a outros eventos
ou situações também vistas como estressantes. Situações como as cirurgias
cardíacas, consideradas estressantes aos olhos desses sujeitos, parecem não
reverter em ganhos e nem trazer benefícios para suas vidas. Num estudo
conduzido para pesquisar as diferenças entre homens e mulheres numa lista de
espera para revascularização do miocárdio, evidenciou-se que as mulheres
sofriam mais freqüentemente de dificuldades de pegar no sono, dificuldade para
acordar, repetidos despertares e insônia; por outro lado, os homens sofriam
mais freqüentemente de agitação, inabilidade para agir e de irritabilidade(13).
Pode-se notar que o tempo de espera e a situação de ter que passar pela
cirurgia, para algumas pessoas, por si só, já é estressante, como se pode
perceber, pois tanto homens como mulheres apresentavam sintomas relacionados ao
estresse.
6. CONCLUSÕES
Os resultados deste estudo demonstram que houve associação entre certas
variáveis sociodemográficas e a realização de cirurgia cardíaca, assim
explicitadas:
-quanto mais jovem, quanto maior a renda mensal e quanto maior a escolaridade,
maior a certeza da necessidade da cirurgia cardíaca;
-por outro lado, quanto maior a escolaridade, menor a confiança nos
profissionais e na cirurgia cardíaca;
-quanto maior o número de filhos, maior as crenças no sucesso da cirurgia
cardíaca;
-os sujeitos que moram sozinhos apresentam menos sentimentos negativos, mas
também têm menos crenças positivas relativas ao procedimento cirúrgico;
-a cor parda e negra mostrou menos significados positivos em relação à cirurgia
cardíaca;
-as mulheres mostraram sentimentos mais negativos em relação à cirurgia
cardíaca;
-os sujeitos que vivenciaram eventos marcantes no último ano apresentaram menos
crenças positivas em relação aos ganhos e benefícios decorrentes da cirurgia
cardíaca.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste estudo apontam para a necessidade de intervenções
educacionais específicas para: sujeitos mais jovens, de menor nível sócio-
econômico, quem mora só, quem tem menor número de filhos, sujeitos da raça
negra e do sexo feminino e aqueles que vivenciaram algum evento marcante
recente. Tais intervenções devem ser baseadas nos fatores que contribuem para a
formação de crenças menos positivas em relação à cirurgia cardíaca, neste
subgrupo de sujeitos. Portanto, ainda são necessários estudos futuros que
permitam a identificação de tais fatores.
Espera-se que, com a implementação de intervenções educativas, ocorra uma
transformação dessas crenças em direção a uma maior favorabilidade e
significados mais positivos em relação à cirurgia, e que isto possa auxiliar na
melhor evolução do paciente no pós-operatório.