Proposta pedagógica do PROFAE na perspectiva dos enfermeiros instrutores
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Proposta pedagógica do PROFAE na perspectiva dos enfermeiros instrutores
PROFAE teaching proposal in the perspective of tutor nurses
Proposta de enseñanza del PROFAE según los enfermeros instructores
Vilma Ribeiro da SilvaI*; Maria da Graça da SilvaI; Lidiane Batista Oliveira
dos SantosII
IEnfermeira. Mestre, Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul
IIAcadêmica da 4ª série do curso de graduação em Enfermagem da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul
Endereço
1. INTRODUÇÃO
A preocupação com a constituição de sua força de trabalho tem sido um
comportamento constantemente expresso pela Associação Brasileira de Enfermagem
(ABEn), cujos resultados de estudos realizados nessa direção, foram
apresentados na década de 50 (Levantamento de recursos e necessidades 1956-
1958)(1), e na década de 80 (O exercício da enfermagem nas instituições de
saúde do Brasil 1982/1983)(2).
Ambos os documentos, além de registrarem importante avanço no desenvolvimento
da profissão, evidenciam sua estreita relação com o desenvolvimento das
políticas econômicas e sociais do país em geral e em particular às tendências
relacionadas aos setores da educação e saúde.
Pode-se se observar ao longo deste período que as políticas de formação de
pessoal em saúde, bem como, a criação de empregos foram determinadas por
demandas oriundas de pressões sociais, que não as relacionadas às necessidades
médico-assistenciais da população (COFEN,1985)(2).
Mesmo considerando esses desvios o nível de escolarização do pessoal de
enfermagem registrou significativa evolução no período compreendido entre os
dois estudos. Em que pese as conseqüências desse fato, o movimento daí
resultante registra a seguinte composição do quadro de enfermagem no Brasil.
Há ainda que se registrar nos referidos estudos, a percepção de que a elevação
do nível de preparo do pessoal de enfermagem parece não ter causado resultado
significativo na melhoria da qualidade da atenção em enfermagem. Atribuindo-se
ao fato alguns condicionantes, entre eles, a qualidade dos modelos educacionais
relativos à educação geral e especifica em saúde. Aspecto este que retomaremos
a seguir.
Em consonância com o que recomenda o último documento, as políticas de recursos
humanos em seus aspectos de capacitação a partir de então, parecem ter se
guiado pelo resultados apresentados no mesmo e talvez por isso, terem sido
implementadas de forma mais direcionada e com maior vigor.
A publicação deste estudo sobre o exercício da enfermagem nas instituições de
saúde do Brasil no início dos anos 80, parece prenunciar a década que se
caracterizou por uma explosão de movimentos sociais em prol da construção de um
sistema democrático, cuja dimensão e profundidade das transformações em direção
ao estabelecimento de relações mais humanas e justas constitui, certamente,
investimento de mais algumas gerações(3).
Essa conjuntura, segundo Pires(4), propiciou a emergência de uma série de
modelos alternativos de organização dos serviços de saúde que culminou com o
surgimento da proposta do Sistema Único de Saúde (SUS). Fato que se deu em
decorrência de intensa mobilização social, onde ressurgiram os movimentos dos
trabalhadores respaldados por uma estrutura sindical renovada, incluídos aqui
os trabalhadores em saúde.
Ao lançarmos um olhar retrospectivo sobre as décadas de 70 e 80 observamos a
enfermagem inserida em uma situação contextual favorável à reflexão, em que o
enfermeiro se descobre na enfermagem e na equipe de saúde perpassado por
conflitos de toda ordem, que se agudiza nos anos 80 e que produz uma
mobilização nunca antes registrada no interior da categoria, que teve como
resultado, no espaço de uma década, a revisão/atualização de alguns de seus
instrumentos norteadores, como a Lei do Exercício Profissional, o Código de
Ética dos profissionais de enfermagem, bem como do currículo mínimo para a
graduação de enfermeiros e ainda a mudança de paradigma observada e registrada
por Germano(5), no interior da mais antiga e representativa entidade de classe
da enfermagem, Associação Brasileira de Enfermagem(3).
Dessas realizações nos interessa sobretudo, discutir os reflexos da Lei do
Exercício Profissional nº 7498/86 que estabelece a profissionalização de todo o
pessoal de enfermagem (atendente de enfermagem). Em função desse evento, a
partir de 1987, quando da regulamentação da LEP, a enfermagem se vê engajada em
um projeto de âmbito nacional, cujo objetivo era o cumprimento do exposto em
lei.
O projeto Larga Escala, de acordo com os escritos de Paiva(6), foi
institucionalizado em vários Estados brasileiros através dos Centros
Formadores. Esse projeto, amparado na legislação que definiu para a área de
enfermagem as habilitações profissionalizantes, que permitia a adoção de
modalidade de ensino mais flexíveis tanto do ponto de vista pedagógico como
administrativo, visava à profissionalização e a qualificação dos atendentes de
enfermagem, bem como, ampliação da cobertura através da descentralização dos
cursos. No entanto o que se sabe é que essas medidas, mesmo estando em
funcionamento o projeto Larga Escala até 1996, não foram suficientes para
atender a demanda de profissionalização do atendente.
Por essas e outras questões de deficiência da Educação Profissional no Brasil,
estamos nós hoje, às voltas com o Projeto de Profissiona-lização dos
Trabalhadores da Área de Enfermagem PROFAE(7). Este projeto está sendo
desenvolvido pelo Ministério da Saúde e está estruturado em dois componentes,
que expressam duas linhas de atuação: Primeiro: tem como objetivo promover a
qualificação profissional de nível médio para 225.000 trabalhadores, tanto para
o setor público quanto o privado de saúde, e que estão exercendo suas funções
sem a devida qualificação profissional; segundo, a formação pedagógica para
docentes de Educação Profissional de Nível Técnico na Área de Enfermagem, com
vistas a atender às mudanças políticas, conceituais, legais e práticas imbutida
na Reforma Educacional para a Educação Profissional.
Para alcançar o proposto será mobilizado um contingente de aproxi-madamente
12.000 enfermeiros, que atuaram como professores nos cursos promovidos em todo
o País, bem como, será promovida a sua formação pedagógica para a docência em
educação profissional, legalmente exigida. Para a formação pedagógica destes
professores foi escolhida a modalidade de ensino à distancia, com o curso de
Formação Pedagógica em Educação Profissional na Área de Saúde: Enfermagem, com
um total de 660 horas, onde serão preservadas momentos presenciais e outros
aspectos utilizados no ensino formal, sendo estas promovidas por tutores. Estes
tutores, majoritariamente mestres e doutores, professores das Universidades
Federais, deverão prestar o apoio pedagógico necessário para que os alunos
desenvolvam as competências esperadas.
A formação pedagógica proposta para os professores concebe a educação, assim
como a saúde, como práticas que integram o sistema social, no conjunto das
demais práticas da nossa sociedade. Esta concepção de educação propõe uma
abordagem reflexiva e crítica dos conteúdos, a partir da realidade, do contexto
em que as práticas de educação e saúde se desenvolvem.
Nesse sentido esta proposta é inovadora, pois afasta-se da concepção
positivista da ciência que historicamente subsidiou a nossa formação, marcada
pela rigidez e fragmentação dos conteúdos e por um modelo instrutivista de
educação. O qual fora apontado pelas autoras do estudo divulgado em 1980 como
condicionantes do modelo de ensino, que não favoreciam a ação transformadora
compatível com a ascensão do grau de escolaridade da enfermagem e os resultados
observados na atenção de enfermagem.
Uma segunda inovação embutida na proposta de formação de enfermeiros, é a
educação à distância, uma nova tecnologia educacional que se propõe responder
aos desafios do processo de formação profissional.
A tutoria no PROFAE nos apresenta como uma oportunidade de envolvimento com uma
proposta diferenciada de ensino, que aliás, constitui, para muitos de nós
docentes um desafio a ser alcançado, tanto no diz que respeito a abordagem
didático- pedagógica quanto a tecnologia de ensino à distância. Assim, o
objetivo deste estudo é investigar, em momentos diferentes (início e fim) da
atividade, o conhecimento, as expectativas e críticas dos enfermeiros
participantes, quanto aos recursos utilizados no processo formativo.
2. ORIENTAÇÃO METODOLÓGICA
Na construção teórica que fundamenta o presente estudo, discutimos o papel que
a ABEn tem desempenhado no desenvolvimento da profissão no país, e como tal,
também é responsável pelo projeto que ora propõe a preparação pedagógica para
os enfermeiros, o que com certeza constitui estratégia para atenuar as
dificuldades, investir na preparação do enfermeiro, motivando-os ao
envolvimento com a função de ensinar de forma mais estimulante e responsável.
Postas estas questões, que em certa medida acreditamos serem estratégias
adequadas, intencionamos verificar o alcance de um curso Formação Pedagógica em
Educação Profissional na Área da Saúde: Enfermagem, que se utiliza da recente e
inovadora tecnologia de ensino, denominada "educação à distância".
Assim a população estudada constituiu-se de enfermeiros vinculados ao referido
curso e para a coleta de dados nos utilizamos de um formulário com questões
abertas, que foram tratadas à luz do referencial metodológico de natureza
qualitativa, onde tentamos nos aproximar do significado que os entrevistados
atribuíam a alguns aspectos relacionados com o ato de ensinar. Dados estes que,
conforme o previsto no projeto, foram colhidos em dois momentos presenciais
distintos.
Um primeiro instrumento aplicado inicialmente, ou seja, na aula inaugural em
março/2002, onde foram computados e tabulados 124 formulários, caracterizando o
perfil profissional dos ingressantes no curso e investigando o conhecimento
prévio expresso pelos enfermeiros a cerca dos conteúdos que seriam trabalhados
durante o curso e os motivos/razões que as (os) haviam levado ao desempenho da
função de ensinar. Um segundo instrumento, cujas questões constituem o núcleo
do que de fato pretendemos explorar, ou seja, o quê os alunos apreenderam com
os conteúdos trabalhados no decorrer do curso e qual a opinião dos mesmos a
cerca do ensino à distância, cuja aplicação coincidiu com o encerramento do
curso e ocorreu em abril/2003, onde foram computados e tabulados 16
formulários. Em que pese , a diferença numérica entre os dados do início e fim
dos trabalhados, o que nos encorajou a analisá-los, foi a crença na qualidade
dos depoimentos contidos nos mesmos.
Em consonância com os preceitos éticos que orientam a pesquisa foram aplicados
aos participantes do estudo a carta de informação e o termo de consentimento
livre e esclarecido, devidamente aprovados pela Comissão de Ética em Pesquisa,
vinculada à Comissão de Ética da Pró- Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Os dados oriundos das questões que se vinculam ao objeto de estudo foram
trabalhados, sob a ótica de procedimentos qualitativos, ditos, fenomenológicos,
que analisou e interpretou profundamente os depoimentos pela descrição do
percebido pelos sujeitos do estudo, e de acordo com critérios de rigor, que
previa o ordenamento do percebido e dos significados atribuídos, promoveu-se
então, o agrupamento dos descritos em torno das questões norteadoras(8).
Desta forma cada depoimento foi submetido ao seguinte procedimento: transcrição
do discurso na linguagem do sujeito, após interpretação e análise desse
discurso conseguiu-se elaborar as unidades de significado e por fim se chegou
as asserções articuladas no discurso, que são as que se segue:
· Explicitando a sua relação com a função de ensino.
· Expondo conhecimento sobre os fundamentos teóricos da educação
· Expressando expectativas a cerca do ensino a distância
· Percebendo transformação na sua prática pedagógica.
Essas asserções foram resultados da análise dos dois momentos do estudo, sendo
que a primeira asserção aparece apenas no primeiro momento, até porque nesta
fase interessava investigar aqueles aspectos. O mesmo aconteceu com a última
asserção, a qual somente aparece no segundo momento, porque não se justificava
averiguar transformação da prática pedagógica no momento inicial, sendo ambas
apresentadas em separado. As duas outras asserções, ou seja a segunda e a
terceira, foram investigadas nos dois momentos do estudo, e por isso, serão
discutidas em seqüência e em seguida analisadas as diferenças de respostas
obtidas entre os dois momentos, com o intuito de explicitar o crescimento
percebido pelos atores do estudo.
Para efeito de discussão dos resultados, as asserções foram subdivididas em
categorias, das quais apresentamos as mais significantes, ou seja que
apareceram com maior freqüência.
3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Antes de apresentarmos a discussão sobre as questões norteadoras do presente
estudo, cumpre-nos apresentar com base no perfil traçado inicialmente, as
principais características dos participantes, entre elas gênero, escola em que
se graduou, especialização que cursou e escola de formação técnica a qual
estava vinculado ao final do curso. Como de costume na enfermagem, dos 124
pesquisados inicialmente 80,64 % são do sexo feminino e 17,74% do sexo
masculino. Quanto a escola de origem, para facilitar a apresentação vinculamos
as escolas às grandes regiões do país e foi possível observar a região Centro
Oeste com 47,58%; região Sudeste com 30,64%; região Sul com 19,35% e região
Nordeste com 2,41% dos participantes. Os dados nos mostram que as escolas da
região caminham em direção ao atendimento à formação de profissionais
enfermeiros para o Estado. Quanto ao quesito especialização 58,12% dos
participantes referiram não ter cursado especialização e 58 % dos participantes
do estudo referiram ter cursado especialização e entre estes predominou as
áreas da saúde pública e hospitalar. Quanto ao vínculo com as escolas, tanto no
início como ao final da coleta dos dados, tivemos a predominância de
enfermeiros contratados pelo SENAC (77,4 % na primeira fase e 75% na segunda
fase).
Explicitando a sua relação com a função de ensino
A função de ensinar não está posta para o enfermeiro apenas nos preceitos
éticos e legais da profissão, mas estão inseridas no seu fazer cotidiano.
Entendemos como, Boery(9) que "educar, não é uma tarefa simples e exige de quem
se propõe a realizá-la, um preparo adequado no que diz respeito ao tema, sua
relação com o mundo e a forma pedagógica de desenvolvê-lo". Ancorados nessa
compreensão e ainda considerando todas as recentes e profundas mudanças porque
passou a legislação que regulamenta a formação em todos os níveis de
escolaridade na sociedade brasileira, e que apontam possibilidades de
incorporação de práticas pedagógicas inovadoras, é que resolvemos investigar as
razões que motivavam os enfermeiros candidatos ao curso Formação Pedagógica em
Educação Profissional na Área da Saúde: Enfermagem a se envolverem/
candidatarem-se à função de ensinar.
Considerando a dimensão do referido projeto, participaram do estudo enfermeiros
de todos os municípios do Estado de Mato Grosso do Sul, uns mais, outros menos,
sensibilizados pela mudança na legislação e o que se pode observar nas
respostas emitidas, é que predominam manifestações que expressam a necessidade
de atualizar conhe-cimentos.
Não ficou explícita a natureza do preparo que os participantes do estudo
buscavam ingressando na função de ensinar, mas aqui podemos inferir, que é
necessidade de preparo de ordem geral, uma vez que a região é desprovida de
oportunidades de qualificação (pós-graduação) para atender a demanda, então os
profissionais vêem no envolvimento com a função de ensinar uma possibilidade de
manter-se atualizado.
"Maneiras de como construir o saber nos alunos, saindo dessa prática
expositiva..." (form. 33)
"Como poderemos ensinar a outros da melhor forma possível..." (form.
47)
Ainda com referência aos comentários correspondentes às razões que mobilizam os
enfermeiros para exercerem a função de ensinar, as respostas emitidas em
seqüência, pela freqüência com que apareceram nas falas, podemos citar, as
categorias: "Expressando compromisso com a formação de profissionais de
enfermagem e com a profissão" e "Manifestando satisfação com o ato de ensinar",
como ingredientes importantes, primeiro pela expressão de compromisso com a
profissão, segundo, porque o sentimento de satisfação com o ato de ensinar já
está colocado, mesmo considerando, que o preparo pedagógico para função de
ensinar, é negligenciado ao nível da graduação e "que em função dessa
negligência os enfermeiros evitam desempenhar tal função e, na contingência de
assumi-la, fazem-na com insegurança"(9).
"Expressando compromisso com a formação de profissionais de enfermagem e com a
profissão"
"A vontade de poder qualificar as pessoas..." (form. 02)
'....para que possa contribuir para uma melhor formação dos
auxiliares e técnicos da área de enfermagem." (form. 08)
"...promover um melhor desenvolvimento do ensino, tanto na
assistência como na formação de profissionais do nível médio."(form.
16)
"Manifestando satisfação com o ato de ensinar"
"O prazer de ensinar....assim como o prazer e o interesse de
aprender" .(form. 01)
"Gosto da prática do ensino.." (form. 03)
"Em primeiro lugar porque sempre gostei de ensinar..."(form. 04)
Fatos esses que nos leva a inferir que o envolvimento do enfermeiro com o
educar é intrínseco ao seu fazer cotidiano de forma muito acentuada o que o
encoraja a se envolver com tal função, como mecanismo/estratégia de preparação,
mais por uma necessidade sentida do que propriamente por incentivos
institucionais nos serviços e ou financeiros, porque ao que se sabe a
remuneração hora/aula nas escolas para formação de nível médio não constitui
atrativo.
"Expondo conhecimento sobre os fundamentos teóricos da educação"
(1º momento)
Boery(9) concluiu em seu estudo, que na formação do enfermeiro, o preparo para
o ensino é negligenciado em relação ao preparo técnico- científico e acrescenta
como agravante o fato, de que durante o processo de formação do enfermeiro há
uma predominância da abordagem tradicional de ensino o que consequentemente,
resulta na falta do pensamento reflexivo, que os leva a encontrar severas
dificuldades quando se encontram na situação de "professor". Essa abordagem,
segundo Mandú(10), tem como base as idéias liberais, doutrina que justifica o
sistema capitalista nacional, na qual a relação da educação/sociedade é
conservadora. Em que a primeira não é vista como meio de superação da estrutura
social , mas ao contrário, é vista como um instrumento para a manutenção desta
estrutura. Nessa proposta o professor se posiciona como o detentor do saber,
com a preocupação de conseguir transmitir muito conteúdo, já que o aluno nesta
abordagem, é tido como o receptor passivo de informações, limitando-se a
escutar o conteúdo já pronto e sua avaliação será diretamente proporcional à
exatidão com que vai reproduzi-lo(9). As convicções expressas pelos estudiosos,
encontram ressonância nos achados de nosso estudo, quando os enfermeiros
afirmam que sabem que existe uma fundamentação teórica da educação, mas
declaram, desconhecer esses fundamentos como podemos constatar nos seguintes
depoimentos:
"Sim, compreendo que o ato de ensinar de alguma forma está
fundamentado a uma teoria..." (form. 01)
"Sim, são métodos e estratégias pedagógicas utilizadas no ensino."
(form. 38)
"Não." (maioria dos formulários, para manifestar que não sabe quais
teorias fundamentam o processo educativo)
(2º momento)
Após a realização do curso, vejamos como se expressam os participantes em
relação as mesmas questões aplicadas no início, antes porém, é necessário
enfatizar que ao contrário do percebido no primeiro momento, agora, a maioria
afirma compreender o processo de ensino - aprendizagem fundamentado em uma
teoria:
"...ficando agora, muito mais compreensível, pois tais teorias
embasam as ações do dia a dia do processo de ensino-aprendizagem"
(form. 01)
"Sim. As tendências pedagógicas e as teorias permitem o delineamento
do ensino... " (form. 08)
"Sim, hoje consigo entender a trajetória por onde a educação passou,
os avanços, os aspectos positivos de cada teoria. " (form. 09)
"Ficou mais claro para mim o processo ensino- aprendizagem. Isso não
quer dizer que ficou mais fácil... " (form. 16)
No entanto, ainda existem aqueles que se expressam nos seguintes termos:
"Mais ou menos, ...tive dificuldades de voltar a aprender. "(form.
02)
"Não considero conhecer na íntegra, mas uma boa parte das teorias
específicas sim." (form. 07)
Em que pese, todos os fatores que possam influenciar na confiabilidade dos
resultados aqui apresentados, como a proporção de dados obtidos no início e fim
dos trabalhos, é grandiosamente satisfatório ver as expressões de conhecimento
e confiança no que sabem, implícitas nos depoimentos da segunda etapa.
"Expressando expectativas a cerca do ensino a distância"
Quando falamos de educação à distância, estamos falando, "de um processo
educacional em que a maior parte da comunicação é mediada por recursos
tecnológicos que possibilitam superar a distância física"(11). Esse processo
tem atraído inúmeras críticas, oriundas dos mais variados segmentos da
sociedade, e que, segundo os estudiosos do assuntos, podem ser agrupados em
dois aspectos, a fobia e o fetiche, ambos não se fundam nos critérios de
eficácia pedagógica e originam-se, o primeiro caso, pelo fato de ser mediado
por um aparato tecnológico que propõe inovar uma instituição secular: a escola.
E, no segundo caso, o fetiche, causado exatamente por se apoiar nesse inovador
aparato tecnológico, contagia àqueles que acreditam que o novo é sempre bom, e
ainda, que a quantidade do aparato determina a qualidade do ensino(11). As
crenças que subsidiaram a investigação desta questão não se fundaram em nenhum
dos aspectos anteriormente citados, mas no reconhecimento das deficiências do
processo educacional, em todos os níveis e categorias profissionais no Brasil,
em que a educação à distância se coloca como uma ferramenta estratégica. Com
base nesta compreensão, estamos nos propondo a explorar, ambos os recursos,
naquilo que de melhor poderemos usufruir destes, na direção de potencializar o
seu uso na enfermagem. Assim, apresentamos agora as expressões das falas dos
participantes do estudo, sobre o que pensam da ensino à distância.
(1º momento)
"Que me proporcione um entendimento maior com relação ao ensinar..."
(form. 02)
"Possibilidade de conhecimento de forma inovadora e motivadora."
(form. 03)
"Adquirir experiência na área pedagógica, principalmente teórica."
(form. 05)
"Adquirir novos conhecimentos, atualização constante, melhoria do
trabalho e do profissional." (form. 06)
"... conhecimento pedagógico e metodologia do processo de ensino."
(form. 10)
"Minha expectativa é grande... É minha primeira experiência nesta
sistemática, mas estou acreditando ser positiva..." (form. 24)
Concomitantemente, a expectativa explícita nos discursos acima, surgem
sentimentos conflitantes, considerando o volume de conhecimentos a serem
trabalhados, tanto pedagógicos como tecnológicos, declarados nos seguintes
discursos:
"Ansiedade..." (form. 07)
"...tenho ansiedade em começar os estudos, pois para mim é novidade,
pois nunca participei antes." (form. 14)
"...dúvidas..." (form. 48)
"Na realidade, no momento ainda estou perdida em relação ao curso..."
(form. 44)
"No momento ainda muito confusa." (form. 53)
Como vimos, no primeiro momento as expressões de expectativas em relação ao
ensino à distância abrange uma grande variedade de discursos. Entretanto, no
segundo momento do estudo, podemos categorizar as expressões em quatro grupos:
aquelas que são favoráveis a essa sistemática de ensino, aquelas que são
favoráveis, mas propõe que hajam mais momentos presenciais, maior disposição de
bibliografia on-line, bem como, aqueles que expressam acreditar que teriam
melhor aproveitamento se o curso fosse oferecido na modalidade presencial e
aqueles que são desfavoráveis ao ensino à distância atribuindo a falta de
momentos presenciais: Vejamos as falas:
(2º momento)
"Aquelas que são favoráveis a essa sistemática de ensino"
"No decorrer do curso percebe-se que a educação à distância ajuda a
desenvolver uma certa autonomia, auto- cobrança e organização..."
"...é antes de tudo uma oportunidade para aperfeiçoamento dos
professores do interior. " (form.3)
"...é um ensino de qualidade e compromissado com os alunos que buscam
o título, fornecendo com isso respeito e credibilidade ao curso. "
(form. 7)
"...muito bom, apesar das dificuldades encontradas. É desafiador,
pois nos leva a "aprender a aprender", construirmos nosso
conhecimento, que é o quê desejamos dos nossos alunos."(form. 9)
"Ótimo, este é o único modo de fazer especialização para mim, devido
a carga de atividades..."(form. 13)
"Boa, possibilita ao profissional uma habilitação gradativa e
participativa, vivenciando a prática, pois não retira o aluno da sua
prática."(form. 14)
"Aqueles que avaliaram favoravelmente, mas enfatizando a necessidade de
adicionar/implementar outros fatores":
"É uma modalidade acessível, compatível com as necessidades do mundo
atual, porém momentos presenciais são fundamentais para interação e
despertar mais consciente." ( form. 40)
"...necessitei de alguns momentos presenciais nos diversos módulos."
(form.5)
'Seria uma idéia fazer mais encontros ou seminários, para ter mais
contato direto. Mesmo com estas dificuldades o curso está bom."
(form. 16)
"Achei ótimo na medida em que contempla a necessidade do aluno x
tempo x deslocamento. Entretanto, acho que falta maior
disponibilidade de referências on- line.."(form. 8)
"Aqueles que expressaram acreditar que teriam melhor aproveitamento se o curso
fosse oferecido na modalidade presencial"
"Sinceramente, neste momento não havia possibilidade de cursar
estudos presenciais e fui beneficiado, mas acho que o aproveitamento
não seria o mesmo."(form. 15)
"Aqueles que avaliaram desfavoravelmente a modalidade de ensino à distância":
"Nova experiência, a qual eu não gostaria de reviver novamente."
(form.12)
"... acredito que deveríamos sentar mais com os tutores para nortear
melhor e trocar mais experiências..."(form. 11)
"Percebendo transformação na sua prática pedagógica"
O curso trazia, entre seus objetivos, a discussão de propostas consistentes que
traduzissem necessidades da prática social do enfermeiro - docente considerando
historicamente as características das práticas em Educação e Saúde e os
conflitos presentes na nossa sociedade. Pretendia-se desenvolver
"...competências pedagógicas e técnicas que permitissem a análise, de forma
crítica, tanto das práticas assistenciais a que se submetem os usuários dos
serviços de saúde, como das práticas educacionais tradicionais e conservadoras
de formação"(12).
Como dito anteriormente, os dados apresentados aqui correspondem 'aqueles
coletados no segundo momento, em que os participantes responderam a seguinte
solicitação: Após a realização do curso, em que aspectos você percebe que
transformou a sua prática? Considere: concepção pedagógica, visão de homem e
relação professor/ aluno.
Com as respostas foi possível organizar duas categorias: aqueles que
compreendem que transformaram a sua prática pedagógica nas três dimensões
sugeridas e aqueles que foram um pouco além, estabelecendo relação concepção
pedagógica e relacionamento professor/aluno. Vejamos os depoimentos:
"Na concepção pedagógica é a da problematização que considero mais
viável, pois ensina o aluno a "aprender a aprender", ensina a pensar
e formar um cidadão crítico. A relação professor/aluno deve ser de
troca de informações vivenciadas, o aluno deve participar ativamente
das aulas." (form. 3)
"Aprendi a valorizar o conhecimento prévio do aluno e a ajudar o
aluno a construir. Valorizar as pequenas dinâmicas, exercícios, tudo
que permita a construção do conhecimento pelo aluno, com apoio do
professor. (aprender a aprender). (form. 4)
"Acredito que em todos os aspectos houve a incorporação dos conteúdos
e a conseqüente mudança na prática. Tenho buscado cada vez mais a
problematização e o ensino voltado para construção individual e
coletiva." (form. 8)
"Em todos os aspectos, principalmente na parte pedagógica...."
(form.15)
"Houve uma melhora no sentido de que permitiu uma melhor compreensão
em todos os aspectos do ensino, inclusive dos comportamentos
desenvolvidos e para identificar precocemente possíveis entraves da
relação professor/aluno que possam prejudicar o processo de ensino,
processo este também melhor compreendido dentro da concepção
pedagógica, que vem traçar os caminhos a serem seguidos."(form. 1)
"...voltei a "aprender a aprender", motivada a aprender e buscar
atualização, principalmente para poder ensinar, sair do
tradicional..."; "...sou otimista em acreditar na construção possível
do cidadão crítico, reflexivo, flexível, atuante." "...aproveitando e
valorizando conhecimento prévio do aluno, na construção do
conhecimento em sala de aula..." (form. 2)
"Dentro da concepção pedagógica, o curso abriu pensamentos, construiu
saberes e direcionou as idéias..." "...a partir do momento que
melhoramos os conhecimentos e construímos saberes, muitos conceitos
pré- estabelecidos e pré- julgados se dissipam e começamos a ver as
coisas sob um novo paradigma..." "A relação professor- aluno
melhorou..." (form. 9)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreendemos que a forma de ensinar e o papel do professor têm evoluído com a
história do mundo, levando cada vez mais os alunos a serem agentes ativos na
sua formação, firmando tendências e consolidando inovações(13).
Portanto, ser professor é ter domínio do conteúdo da área de sua atuação e
capacidade técnica, mas, além disso, é ter consciência de sua responsabilidade
no saber viver, conviver e ser. É "exercer, numa perspectiva de totalidade
pessoal, as mediações possíveis da relação do aluno com o mundo, visando
facilitar sua percepção, apreensão, domínio e, portanto, capacidade
transformadora da realidade. Mas é também exercer, na mesma perspectiva de
totalidade, uma relação interpessoal visando apoiar o aluno na construção de
sua personalidade, facilitando-lhe o processo de lidar com suas possibilidades
e limitações, com sua necessidade e condicionantes"(14).
Buscamos "...uma pedagogia fundada na Ética, no respeito 'a dignidade e 'a
própria autonomia do educando"(15), salientando que o professor não pode abrir
mão da competência técnico- cientifica, mas também compreender sua prática
docente enquanto dimensão social da formação humana, pois "formar 'e muito mais
do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas"(16).
Acreditamos que a essência da formação pedagógica foi assimilada pelos alunos
do curso de Formação Pedagógica em Educação Profissional na Área da Saúde:
Enfermagem e a importância de capacitar homens e mulheres com saberes
instrumentais jamais desvinculados da reflexão crítica sobre a prática. Mesmo a
distância, como educação que é, o curso "....foi desenvolvido comprometido com
a qualidade técnica e ética de um processo plenamente humano e, portanto,
necessariamente com referência no social"(14).