Grupo de acompanhamento de portadores de Esquizofrenia em uso de Clozapina e de
seus familiares: percepção dos participantes
PESQUISA
Grupo de acompanhamento de portadores de Esquizofrenia em uso de Clozapina e de
seus familiares: percepção dos participantes
Follow-up group for Schizophrenic patients using Clozapine and their relatives:
the participants' perception
Grupo de seguimiento de portadores de Esquizofrenía con uso de Clozapina y de
sús familiares: percepción de los participantes
Ana Maria Sertori DurãoI; Maria Conceição Bernardo de Mello e SouzaII; Adriana
Inocenti MiassoIII
IEnfermeira do Hospital das clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão preto
- USP. Mestre em Enfermagem Psiquiátrica. Professora do Centro Universitário
Barão de Mauá
IIEnfermeira. Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e
Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP
IIIEnfermeira. Professora Assistente do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica
e Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP
Endereço
1. INTRODUÇÃO
A esquizofrenia é uma doença mental que se caracteriza por desorganização de
diversos processos mentais, constitui uma das desordens psiquiátricas mais
desafiadoras e complexas que afligem a humanidade levando o indivíduo a
apresentar vários sintomas(1). É um problema grave e, que, segundo as
estatísticas, atinge 1% da população sem distinção de sexo, raça ou classe
social(2).
Atualmente, os sintomas que podem ser observados na esquizofrenia vêm sendo
agrupados em: positivos (delírios, alucinações, desorganização do pensamento),
negativos (diminuição da vontade e da afetividade, o empobrecimento do
pensamento e o isolamento social), cognitivos (dificuldade na atenção,
concentração, compreensão e abstração) eafetivos (a depressão, a desesperança,
e as idéias de tristeza, ruína e, inclusive, autodestrutivas)(3).
Para que receba o diagnóstico de esquizofrenia, é necessário que o indivíduo
apresente os sintomas característicos desta patologia de modo contínuo, por um
tempo mínimo de 6 meses. Deve, ainda, estar funcionando abaixo do seu nível
mais alto alcançado anteriormente(4).
Constitui uma doença crônica que necessita de acompanhamento por tempo
indeterminado, com objetivo de identificar os aspectos evolutivos da doença e a
prevenção de recaída pois, quanto menos recaídas menor será seu comprometimento
(3).
Na década de 50, a utilização de drogas antipsicóticas constituiu um passo
inicial para a desinstitucionalização e o cuidado dentro da própria comunidade.
Comprovadamente o tratamento medicamentoso melhora os sintomas psicóticos,
diminui a suscetibilidade da recorrência, mantém a estabilidade clínica e,
possivelmente, previne a deteriorização em longo prazo.
A clozapina é um antipsicótico atípico que está sendo usado para o tratamento
da esquizofrenia desde a década de 70. O seu perfil terapêutico foi sendo
confirmado gradativamente através de diversos estudos. Na Finlândia em 1975
foram observados dezesseis casos de agranulocitose entre pacientes tratados com
clozapina dos quais oito foram fatais. Em decorrência disso, o medicamento
passou a ser prescrito sob critérios rigorosos, fazendo-se acompanhamento dos
pacientes com monitorização hematológica freqüente(5).
As vantagens terapêuticas em relação aos neurolépticos convencionais são
caracterizadas por amplo espectro de atividade antipsicótica, rapidez de início
de ação e ausência relativa de reações extrapiramidais. Pacientes
esquizofrênicos resistentes apresentam melhora tanto nos sintomas positivos
como nos sintomas negativos(6). A clozapina começou a ser testada em estudos
abertos a partir de 1970 e foi lançada comercialmente em agosto de 1992(7).
A agranulocitose é o mais grave efeito adverso da clozapina, observado em 1 a
2% dos casos. A diminuição dos leucócitos totais, granulócitos e neutrófilos é
geralmente gradual sendo obrigatório interromper-se o tratamento com a
clozapina se eles atingirem níveis inferiores a 3000/mm3 e 1500 mm3,
respectivamente. Entretanto, há casos em que a redução é abrupta, justificando-
se, portanto, a monitorização semanal, pelos menos no período de risco máximo
(5).
Desse modo, para que a medicação possa ser utilizada com segurança, a equipe de
saúde, familiares e pacientes devem estar atentos quanto aos resultados dos
exames hematológicos, e quaisquer sinais ou sintomas de infecção.
Embora o uso de psicofármacos seja indispensável ao controle dos sintomas
psicóticos da esquizofrenia, sabe-se que a utilização de estratégias que
combinam medicação e tratamento psicossocial aumenta a possibilidade de
recuperação e pode otimizar os resultados. Várias são as possibilidades de
intervenções psicossociais, dentre elas destacam-se as psicoterapias cujos
objetivos podem ser alcançados através de intervenções grupais, individuais e/
ou com familiares(8).
Tendo em vista estes aspectos a equipe de saúde da unidade de psiquiatria do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, criou o
GRUMA (Grupo De Medicações Atípicas). Este funciona desde 1999 no 3º andar
(unidade "C") do referido hospital. Surgiu da necessidade de formalizar o
atendimento ao grupo de pacientes em uso de clozapina e aos seus familiares.
São pacientes com indicação para o GRUMA aqueles com diagnóstico de
esquizofrenia que obtiveram melhor controle de sua doença com o uso dos
antipsicóticos atípicos (clozapina, olanzapina, quetiapina, risperidona).
Constituem objetivos deste grupo: reavaliação psiquiátrica periódica com
solicitação de hemograma e outros exames; controle dos processos de aquisição
gratuita de novos antipsicóticos (medicações de alto custo) e reintegração
social através da troca de informações, envolvimento familiar no tratamento e
estimulo à participação em atividades comunitárias.
A reunião dos grupos são realizadas às segundas-feiras, das 14 às 15 horas, com
os pacientes e seus familiares. A equipe responsável pelo atendimento do grupo
é composta por uma enfermeira, uma assistente social, uma aprimoranda do
serviço social, um médico assistente e um médico residente.
Consideramos de extrema importância dirigir o olhar ao portador de
esquizofrenia e familiar a fim de absorver suas inquietações, satisfações e
críticas em relação à terapêutica oferecida. Acreditamos que um trabalho dessa
natureza poderá contribuir para discussões com a equipe de saúde envolvida no
tratamento, buscando um aprimoramento na assistência prestada aos mesmos.
2. OBJETIVO
Descrever a visão de portadores de esquizofrenia em uso de clozapina e de seus
familiares sobre o acompanhamento que realizam no Grupo de Medicações Atípicas
(GRUMA).
3. METODOLOGIA
3.1. Delineamento do estudo
Trata-se de uma pesquisa de avaliação. Estudos desse tipo têm o propósito
detectar o quanto um procedimento está funcionando(9). É do tipo descritivo
exploratório, que busca identificar como o portador de esquizofrenia e seu
familiar percebem o acompanhamento em grupo. Para o desenvolvimento da
investigação optamos por trabalhar com dados qualitativos.
3.2. Sujeitos do estudo
A população foi constituída por todos os portadores de esquizofrenia que
utilizam clozapina e participam do Grupo de Medicações Atípicas (GRUMA) e um
familiar de cada paciente, que os acompanham com maior freqüência ao grupo.
3.3. Coleta de dados
Os dados foram coletados após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética de
Pesquisa em Seres Humanos da instituição hospitalar em estudo(10).
Para coleta de dados utilizou-se a técnica de entrevista guiada por um roteiro
semi-estruturado. As entrevistas foram realizadas no mês de abril de 2003 no
"Posto C" localizado no 3º andar do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, local onde acontecem
os grupos. As entrevistas foram gravadas e, posteriormente, transcritas na
íntegra pelos próprios pesquisadores. Foi solicitado o consentimento informado
aos participantes do estudo.
3.4. Análise dos dados
Após a transcrição das entrevistas foi realizada uma primeira leitura para
adquirir uma visão geral do conteúdo obtido. Posteriormente, foi realizada
análise qualitativa dos dados utilizando-se, como embasamento, os passos
propostos por Minayo(11).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 11 pacientes entrevistados, oito eram do sexo masculino e três do sexo
feminino. A maioria destes, dez, era solteiro. A idade variou de 23 a 46 anos.
A mãe foi o membro da família que mais acompanhou o paciente aos grupos e
participou das entrevistas.
Através das entrevistas, foi possível observar que tanto os pacientes como os
familiares expressaram satisfação com o tratamento em grupo oferecido, o que
pode ser observado através dos temas que emergiram de seus depoimentos.
4.1 A oportunidade para conversar e ouvir sobre a doença e situações
vivenciadas no cotidiano
O grupo é visto pelo paciente e familiar como oportunidade para conversar sobre
a doença e problemas do cotidiano, receber e compartilhar com outros membros do
grupo sugestões, conselhos e orientações sobre seus problemas.
... venho no grupo, falo o que passou durante a semana, o mês... como
que foi... cada um fala seus problemas, é bom! Faz acompanhamento
médico, e quando a gente tem alguma coisa e quando a gente tem alguma
dúvida, quando tem que falar um problema da gente, então é bom!(p.2).
... conversar com Dr, como que vai as coisas as doenças, os
problemas, as coisas de casa, que tá passando, a APAE, a cabeça...
(p.3).
O grupo melhorou muito ela. Eu acho que ela tem escutado as palavra
das pessoas que falam as coisas.... Ajuda muito né?(f.3).
Ela melhorou porque desde que ela saiu daqui... Ela fazendo parte do
grupo né? Então ajuda muito né? Ela ouve um falá, ouve outro falá,
então ela fala "mãe fulano tá pior que eu não ta? Tá pior não ta? E o
outro será que tá melhor?" Ela vai tirando a conclusão dela. Aí ela
vai discutindo comigo falando o que ela acha , o que ela não acha, de
cada um ela tem uma opinião. Da C. ela tem uma, do E. tem outra, E.
tem outra... (f.10).
Pacientes e familiares expressam e valorizam a oportunidade de conversar tendo
em vista que, previamente, apresentavam grande dificuldade em fazê-lo.
Experimentam um sentimento de pertencimento, acolhimento, amizade e conforto no
grupo. Sentem-se aceitos e entendidos por outros membros do grupo.
O grupo é bom pra mim... é bom de está aqui conversando, de ir
embora, calma! Ajuda a conversar para ver como que tá...(p.3).
... grupo é bom para a gente conversar... a pessoa distrai fala o que
esta sentindo e ouve os outros também...(p.5).
"... acho que melhorou bastante sabe, a gente vai escutando o que os
outros fala da gente, a gente pensa que tem gente para ajudar a
gente, para dar uma força pra anima a gente o astral. Acho bom o
grupo aqui eles gosta de mim, eles é legal quanto eu como..... gostam
de mim. Eu não sou mais uma pessoa agressiva...(p.10).
... principalmente quando expressa-se alguma coisa em benefício
deles, né? Mas o I.nunca fala nada, fica quieto, mas ele guarda tudo
aqui na cabeça...(f.5).
As conversa, o grupo, as pessoas... Eu sinto que ele conheceu mais
uma família. É ele gosta! Eu sinto assim no olhar dele que ele
conhece as pessoas... que ele tem amor por vocês, entendeu?(f.6).
Em conversa, né? Como que diz... um fala uma coisa, outro fala
outra... Cê vê que aqui no grupo ele nunca fica perguntando se tá
terminando? Que hora que vai acabá? Ele gosta do grupo....(f.9).
Através do grupo o homem pode desenvolver habilidades nas suas relações
pessoais, realizar tarefas, aprender e mudar seu comportamento, divertir-se,
oferecer e receber ajuda(12). No interior dos grupos, é comum o desenvolvimento
de um clima de solidariedade, companheirismo, trocas de experiências comuns.
Esse movimento próprio, pode oferecer aos seus membros, uma situação de
conforto e segurança, o que facilita a unidade do grupo(13).
4.2 A importância na melhora do relacionamento com pessoas com as quais
convivem
Podemos identificar, através das falas de pacientes e familiares, que após o
acompanhamento em grupo, houve uma melhora significativa no relacionamento do
paciente com as pessoas com as quais convive em seu cotidiano, expressa através
de relatos de diminuição de ansiedade e agressividade bem como, aumento da
tolerância e força vontade.
... o grupo ajuda a relacionar com as pessoas, conviver melhor,
mostrar seus sentimentos, e mais algumas coisas....sinto alegre, bem
disposto porque aqui eu vou expor meus problemas(p.4).
... mudou convivência depois que eu vim aqui. Aprendi sê assim... a
tolerar mais as coisas, de eu querer fazer tudo as pressas ou
então... eu sei que melhorou bastante(p.11).
... eu acho que melhorou o relacionamento dela com as pessoas. De
primeiro ela não conversava com ninguém, ela era ruim, não tinha
assim assunto né? Eu acho que ela vê os outros falá sobre a doença e
tal... ela se empolga né? Então gosta de vê, de ouvi das pessoa,
comenta, acho que melhorou bastante... (f.10).
Eu acho que é no falá, porque às vezes em casa a gente até escuta mas
está falando com a mãe, tá falando com a irmã, e sempre foi assim ,
ela tem só a gente para conversar. Aqui no grupo não, ela está
lidando com pessoas diferentes.... Eu acho que no grupo ela conversa
com gente diferente do meio dela. Eu acho que isso faz muito bem pra
ela. Ela fala muito daqui...(f.11).
4.3 A percepção da melhora em relação a segurança e auto-estima
O grupo permite que seus membros interajam entre si, dando suporte uns aos
outros, e trocando experiências. Assim, propicia a conquista de maior autonomia
e independência, aumentando a capacidade de gerenciar a própria vida,
melhorando também a auto-estima.
Ajuda bastante.... criar ânimo, coragem para viver a vida, assim...
ajuda na auto-estima... Falando, cada um fala do seus problemas...
Isso ajuda a mente devagarzinho (p.7).
O fato de saber que não estão sozinhos, que têm uma equipe a qual podem
recorrer quando necessitam, proporciona a família e pacientes sentimento de
segurança, conforme pode ser observado nos depoimentos a seguir.
... a gente sente mais segurança... a gente fica meio insegura
sozinha... a gente não sabe nada, qualquer coisa tem que telefoná
perguntar. Acho que esse grupo não pode nunca acabar né(f.8).
... no aspecto de segurança, eu estou mais seguro de mim... bom
ajudou a curar a minha esquizofrenia(p.8).
4.4 A oportunidade de troca de experiências entre os integrantes
No grupo, pacientes e familiares reconhecem que não são os únicos a terem
problemas, percebem que outros membros do grupo possuem problemas iguais, ou
maiores que os seus. Percebem que não estão sozinhos com seus sentimentos e
problemas, conforme pode ser evidenciado nos seguintes relatos de pacientes e
familiares:
É, ajuda por causa que não é só a gente que é desse jeito, porque se
fosse só a gente que era desse jeito, eu falava nossa! O que eu tô
fazendo nesse mundo, tô atrapalhando. Aqui a gente aprende a convivê
com o outro, que toma mais remédio que a gente, que sofre mais as
vezes. Eu descobri tanto, tanto, que agora eu falo mãe, não sofri
nada mais, as coisas que passou, passou. Foi bom, nada como um dia
atrás do outro(p.11).
... acho que é esse encontro... de cada um falar uma pouco de si.
Porque ele achava que só ele era assim... ele sempre se punha naquele
papel de vitima... Então ele vindo aqui, ele vê que não é só ele, e
que não é por causa desse problema que ele tem que ele não pode ter
uma vida normal.... Então eu acho que ele ouvindo um pouco de cada um
ele vê que não é só ele, e que a doença não pode atrapalhar ele...
(f.5).
... vejo assim por mim... O fato dele ver outros jovens, assim como
ele, com o mesmo problema e que estão trabalhando ou que já tem uma
vida social, assim tipo o M. o Á. Vê eles contando né? E falam as
dificuldades também. Então ele vê que não é só ele, que todo mundo
está neste grupo, com o mesmo objetivo.... Então ele vê que tem
vários tipos de pacientes e ele faz parte disso...(f.7).
... o grupo contribuiu bastante. A gente conversa, contribuiu em
tudo... é bom! Eu acho bom ter o grupo. Ele revê os amigos, né? Senti
que tem outras pessoas igual a ele. É bom né? Ajuda em tudo... Vocês
estão vendo como ele está sempre. Vocês estão a par de tudo...(f.8).
Quando participam de um grupo, os pacientes têm a oportunidade de compartilhar
sua história e seus problemas com os outros, descarregar, assim, afetos
carregados de emoção(8).
Ouvir sobre os problemas dos outros e não se sentir como o único a ter
problemas, propicia o sentimento de universalidade. Pode-se intensificar esse
sentimento, enfatizando as semelhanças existentes entre as experiências. Quando
empatizam com os outros, os membros do grupo podem oferecer apoio, suporte,
compreensão, conselhos e encorajamento. A união de todos os integrantes do
grupo em um principal objetivo comum é favorecida pela possibilidade de
interagir de modo positivo no grupo(8).
Depoimentos vindos dos próprios pacientes geralmente são mais bem-vindos ou
melhor aceitos do que os provenientes dos terapeutas. Constitui, também, uma
forma de adquirirem maior conhecimento a respeito da doença, transmitida
através de experiência e não apenas como informação(8).
4.5 A ajuda terapêutica para os familiares que convivem com a esquizofrenia
As intervenções psicossociais com familiares de indivíduos com esquizofrenia,
desenvolveram-se a partir de estudos que mostraram que a presença de um membro
com esquizofrenia na família, está relacionada à sobrecarga em diversos
aspectos da vida da família e seus membros, como os relacionamentos, lazer,
saúde física e mental entre outros(14).
O grupo ajuda seus integrantes a reconhecerem as dificuldades que a família
passa a ter com a presença de um membro com grave incapacitação mental. Permite
um trabalho colaborativo entre familiares e profissionais, compartilhando, por
exemplo, informações sobre a doença ou discutindo conjuntamente os objetivos e
tarefas durante o tratamento.
Sabe, a gente em casa não tem com quem conversá muito, né? Então se
abre.... a gente desabafa né?. A gente tem com quem falar(f.3).
"... conversando assim, observando né? A gente aprende muita coisa
também no grupo...(f.4).
... a partir do momento que você tem ajuda isso é muito bom. Você
vêm, conta as coisas que acontece, isso é bom demais, assim todas as
famílias tivessem um apoio assim né? Que não é fácil a doença não...
(f.4).
... quando eu venho aqui eu aprendo muito tanto... e ensino à vezes
pros meus familiar, falo que é.... então eu já acho que vindo aqui já
ta ficando bom pra mim(f.6).
Eu aprendo assim... cada paciente ou cada família... Eu vou pensando
assim, que o meu problema é bem pequeno. Então eu melhorei
bastante... Eu acho que o grupo me ajuda bastante. O dia que eu venho
aqui de manhã eu fico o tempo todo conversando com a dona C., com as
outras, nós fica tudo junto, dona H. Então é uma família pra mim. O
E. fica junto também, eu fico muito contente, tô muito contente...
(f.6).
A família, através da participação no grupo, consegue entender que não é
responsável ou culpada pela ocorrência da doença do paciente. O relato abaixo
evidencia esse fato.
... o grupo ajuda bastante a família. A gente quando começou a
freqüentar o grupo , a gente sempre se culpava muito a respeito das
coisas, a gente fez isso de errado por isso que ela é assim. A minha
mãe principalmente. Minha mãe tinha muita culpa, que diz que
trabalhou na gravidez dela... Eu acho que minha mãe mudou, minha mãe
hoje fala "eu sei que eu não sou culpada, que isso pode desenvolver
na pessoa né?" Acho que o grupo ensinou a gente que não é bem assim,
a gente não é culpada, pela pessoa da família ser assim... lógico que
gostaria que fosse diferente né? Que tivesse uma vida boa , mas, a
gente faz de tudo para a pessoa se sentir o melhor possível...(f.11).
A possibilidade de aprendizagem interpessoal, a descoberta de que pode haver
solução para seus problemas, ou, ainda, de que cada integrante pode receber
ajuda e de fato melhorar traz à tona mais um fator terapêutico, o da instilação
de esperança.
A gente agradece por tudo que vocês faz pela gente e por todas as
famílias, porque para a família é muito difícil, mas a gente tendo um
apoio assim a gente vai tendo esperança(f.4).
... o grupo foi uma das melhores coisas que criaram até hoje no HC.
Gostaria que os novos alunos e médicos participassem também, porque
os males da sociedade começa muito na família e a família é
influenciada pelo próprio meio da sociedade...(f.2).
Até prá nós que está acompanhando eu acho que a gente se sente bem
entendeu? E vê que isto está tendo resultado também né? Porquê, você
se esforça ele se esforça, está sendo bom. E pro nosso ambiente
familiar, também foi bom, ele fazer esta terapia familiar, com a
gente acompanhando tudo. Ele melhorou muito, assim com os outros
irmãos em casa(f.5).
Eu gosto de vim também, apesar que ás vezes aperta um pouquinho né?
mas faço por donde eu não faltar .Mas eu gosto de vim para ver como
tá toda mundo....(f.10).
Os membros familiares e entes queridos, além de ajudarem o paciente,
normalmente também necessitam de apoio, pois, freqüente-mente sua saúde mental
é ameaçada(15).
A família de indivíduos com esquizofrenia tem que se adaptar e lidar com o
parente doente no dia-a-dia, desenvolvendo estratégias para cada situação
diferente. Não existe um padrão de conduta a ser adotado e nem um modo "normal"
de reagir. Cada família desenvolve, individualmente, maneiras de funcionar com
a doença e cada indivíduo da família se adaptará diferentemente. A tarefa de
cuidar e viver com alguém com esquizofrenia não é fácil e pode ser muito
desgastante. Necessitam fazer contato com pessoas que também estejam passando
por situações semelhantes. Este contato reduz o isolamento, possibilita troca
de experiências e, conseqüentemente, proporciona maior apoio e conforto(16).
Os grupos de apoio podem ser muito úteis para a melhora do paciente quando a
família se insere em algum deles. Entretanto, menos que 10% das famílias de
pacientes com esquizofrenia recebem apoio e educação, mesmo sendo mostrado por
muitos estudos os benefícios de tais programas para ambos, paciente e
familiares pela estatística de 7% da redução dos sintomas negativos, menor
depressão e melhor funcionamento mental(15).
Os aspectos positivos do acompanhamento em grupo de pacientes esquizofrênicos,
mencionados pela autora acima(15), também podem ser constatados neste estudo,
uma vez que o mesmo revelou melhora significativa nos sintomas negativos da
doença, evidenciada pela melhora no relacionamento do paciente com pessoas com
as quais convive, aumento da tolerância e força de vontade do mesmo, bem como,
na participação em atividades de convívio social, de trabalho e de estudo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que existem possibilidades diversas para atender o portador de
esquizofrenia e seu familiar. Muitos pacientes esquizofrênicos que realizam,
além do tratamento medicamentoso, alguma forma de terapia psicossocial,
obtiveram êxito, principalmente quando envolvidos com outras famílias que
compartilham dificuldades semelhantes(15).
O interesse em tratamentos psicossociais tem duas razões: primeiro, do
reconhecimento de que agentes farmacológicos têm um impacto limitado na
recuperação do funcionamento social; e segundo, que a redução do período de
internação levou pacientes em remissão parcial a serem tratados na comunidade e
seus familiares tornaram-se as principais pessoas envolvidas no cuidado destes
pacientes(17).
Diante de tais aspectos mostra-se evidente a necessidade da equipe de saúde
voltar-se não apenas para o paciente mas, também, para o contexto social e
familiar no qual o mesmo se insere. Deve-se compre-ender a família como
extensão do paciente.
Foi possível verificar que o grupo em questão possibilitou que pacientes e
familiares fossem orientados a reconhecer os sintomas, ou as situações
estressantes que podem servir de disparadores para um surto esquizofrênico,
ajudando-os a reconhecer também, quando os pacientes submetidos às drogas
(medicamentos), manifestam os sinais prévios de efeitos colaterais concernentes
ao tratamento. É muito importante que tanto o paciente quanto o familiar saibam
reconhecer os sintomas de recaídas e indicativos de alterações sanguíneas, pois
a intervenção precoce da equipe de saúde pode impedir a recaída bem como
controlar o quadro clínico do paciente.
Observamos, que quando os familiares de portadores de esquizofrenia recebem
atendimento, sentem-se acolhidos, respeitados e valorizados porque seus
conhecimentos e experiências foram reconhecidos.
Essa melhora no nível de recuperação contribui de modo significativo para
adesão aos tratamentos e mudança qualitativa nos tratamentos em si.
Simultaneamente, o rompimento da solidão e do isolamento social em que a
maioria dos pacientes se encontrava antes de freqüentar os grupos, recompondo
um círculo de amizades e de convívio social, permite a concretização de um
primeiro nível de ressocialização que a muitos conduz, em seguida, ao reinício
de tentativas de reintegração social plena, evidenciadas pela busca do retorno
aos estudos ou atividades profissionais(18).
Faz-se necessário um novo olhar para o portador de transtorno mental e para
seus familiares no sentido de buscar atitudes terapêuticas que atuem na
produção de vida, em um novo sentido para a existência, nas diferentes formas
de convivência e de sociabilidade. Acreditamos que o rompimento de valores
padronizados possa possibilitar novas formas criativas e espontâneas de viver
em sociedade.