A alteridade nas relações de enfermagem
PESQUISA
A alteridade nas relações de enfermagem
The representation of the "others" in the nursing relations
La representación de los "otros" en las relaciones de enfermería
Ana Cláudia Giesbrecth PugginaI; Maria Júlia Paes da SilvaII
IEnfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação de Enfermagem, Área de
Concentração - Saúde do Adulto de do Idoso, da Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo. claudiapuggina@hotmail.com
IIEnfermeira. Professora Titular do Departamento de Enfermagem Médico-cirúrgica
da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. juliaps@usp.br
1.INTRODUÇÃO
Em nenhum momento da história humana, a ciência e a técnica colocaram tantos
desafios à ética como hoje. Enfrentamos uma decadência do comportamento humano.
As relações pessoais estão perdendo a densidade ética e as estruturas sociais
tornando-se, cada vez mais, francamente a-éticas(1). A desumanização das
relações entre os profissionais de saúde e os pacientes tem sido uma das
principais causas apontadas para o aumento de denúncias e processos de promoção
de responsabilidade jurídica contra os profissionais de saúde. As reclamações
não se restringem às "faltas" técnicas, mas relacionam-se também com o
descumprimento do dever de solidariedade, com agressão ao direito de liberdade,
de locomoção, de segurança, de informação, de emissão do livre consentimento e
de privacidade(2).
Não nascemos éticos, mas nos tornamos éticos através do nosso desenvolvimento.
Isso quer dizer que passamos dos direitos humanos a uma ética das relações que,
não sendo inata, deve ser apreendida por todos os indivíduos que desejam se
relacionar. "Sem acesso ao outro, que é diferente do eu, seria impossível
pensarmos em ética das relações, pois esta pressupõe um mínimo de identificação
com ele, além da consciência de que este outro é um ser racional com o próprio
eu"(3).
O verdadeiro sentimento ético pressupõe uma elaboração do eu, o que só poderá
ocorrer no aprendizado com a própria experiência da vida, e implica também na
renúncia ao narcisismo. Verifica-se, então, a passagem de um egoísmo exclusivo
para a possibilidade do aparecimento do altruísmo e da gratidão. Ou seja,
através do descentramento narcísico torna-se possível o acesso à alteridade(3).
Na psicanálise, Freud usou o mito de Narciso como modelo para referir-se a um
aspecto do ser que se caracteriza por um estado no qual o indivíduo vive
inteiramente voltado para si e impossibilitado de estabelecer verdadeiras
ligações afetivas. Considerando o desfecho do mito como modelo, no qual Narciso
morre na contemplação apaixonada de sua imagem refletida na água, pode-se dizer
que a consciência faz com que o Narciso dentro de cada um morra, ou então,
sofra uma transformação. Não há possibilidade de crescimento e de enfrentamento
da realidade sem que morra o Narciso dentro de cada um. Morrer o Narciso dentro
de si é crescer, mantendo a auto-estima necessária para a vida, sem perder-se
numa estéril auto-admiração. Incluir o outro no campo relacional implica uma
verdadeira revolução interior e uma completa transformação nos modos de
convivência, tanto com as necessidades pessoais quanto com as solicitações
alheias(4).
Lévinas(5) desenvolve uma reflexão sobre a tentativa de sair da condição do
haver impessoal. Para isso, é necessário ao eu depor-se, e a única alternativa
que resta é "ser para o outro", e com uma relação social des-inter-essada. "Ser
para o outro" significa a responsabilidade ética por ele, que permite ao eu
superar o rumor anônimo e insignificativo do ser.
Alteridade é isso, a representação do outro dentro de nós e a capacidade de
conviver com o outro diferente, de se proporcionar um olhar interior a partir
das diferenças. Significa que eu reconheço "o outro" também como sujeito de
iguais direitos. É exatamente essa constatação das diferenças que gera a
alteridade.
"Qualquer relacionamento que não é recíproco, é explorador" (José
Ângelo Gaiarsa)1
A escolha profissional
Qualquer coisa que possa atingir a auto-estima reduz a oportunidade de
estabelecer um bom contato. Preservar e intensificar a auto-estima é uma
maneira de chegarmos mais fortes até o outro(6).
Enfrentamos, na Enfermagem, há muito tempo a comparação com o curso de
Medicina. Muitos jovens ingressam na faculdade sem saber fazer essa distinção
entre o cuidar e o curar. A Enfermagem, sem dúvida, é uma profissão belíssima,
mas o status adquirido com a profissão vem de luta e de competência e não
apenas com "um título". Na prática vemos muitos enfermeiros insatisfeitos com a
escolha que fizeram e quando isso acontece é tão visível... A auto-estima
interfere diretamente nas relações com o outro.
"Ame o que você faz e se sentirá bem". (Provérbio popular)
A percepção
"Percebemos com mais facilidade o que é agradável e tem interesse ou
significado especial para nós. Igualmente, vemos e ouvimos apenas aquilo que
mais nos convém!"(7)
A preocupação em observar os sintomas objetivos, olhar mecanicamente para
anotar, permeiam o cotidiano das nossas relações interpessoais. Chegou o
momento em que o registro no papel passou a ter mais importância do que a
escuta, o carinho, o afeto. O não importar-se com o outro é um modo deficiente
de "ser com o outro" muito comum, e o que é pior, ousamos pensar que o paciente
está "conformado". Na verdade, o que se mostra é que ele tem acesso mínimo no
Serviço Público de Saúde e quando tem essa "chance", por vezes permanece calado
por medo, receio de perder aquela escassa oportunidade. O corpo deles fala o
que a boca amedrontada cala e percebê-los é decifrar essa linguagem(8).
"A conduta humana se parece muito com o desenho. A perspectiva se
altera quando o olho muda de posição. Não depende do objeto e sim de
quem está olhando." (Vincent Van Gogh)
O sentir
O auto-conhecimento influencia as relações. Só tendo consciência dos seus
próprios sentimentos a pessoa conseguirá ter consciência dos sentimentos
alheios. E mais do que isso, através do auto-conhecimento o profissional
conseguirá lidar de maneira mais franca com os próprios sentimentos e com os do
paciente. Sentimentos negativos (raiva, medo, tristeza etc) podem existir na
relação enfermeira-paciente? Podem, por que não se é uma relação estabelecida
entre duas pessoas com defeitos e virtudes como outras quaisquer? O que
acontece, muitas vezes, é que o enfermeiro não aceita ter esse tipo de
sentimentos e, não os aceitando, torna-se difícil lidar com eles ou
simplesmente aceitar os próprios limites.
Ajo como se não sentisse o que sinto ou sentisse o que não sinto?
A linguagem
O Outro se revela outro em seu rosto, mas manifesta ser infinitamente Outro
pela sua palavra. A linguagem se torna um lugar de reencontro, com o estranho e
desconhecido do Outro(5). Tudo começa em perceber o silêncio, o espaço mudo
entre uma palavra e outra, entre um olhar e uma ação. O silêncio é oportunidade
para que algo inédito possa se instalar. Nele acreditamos encontrar uma
oportunidade para que o encontro entre profissional e paciente aconteça(9).
...Pafraseio o Alberto Caeiro: `Não é o bastante ter ouvidos para se ouvir o
que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma'. Daí a
dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um
palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.
Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e
precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito
melhor... Certo estava Lichtenberg citado por Murilo Mendes: `Há quem não ouça
até que cortem as orelhas.' Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais
constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais
bonitos...(10).
A relação com o outro consiste certamente em querer compreendê-lo, mas a
relação de alteridade excede essa compreensão. Significa que outrem não é,
primeiramente, objeto de compreensão e, depois, interlocutor(11).
A linguagem que usamos com os outros e os tipos de relações interpessoais que
desenvolvemos mostram diretamente o quanto temos de alteridade dentro de nós. O
enfermeiro é um educador inato, tanto em relação à equipe quanto em relação aos
pacientes, mas o que vemos, muitas vezes, na sua assistência são monólogos
impessoais e anônimos. Precisamos exercitar a nossa capacidade de ouvir...
"Para muita gente, falar é uma questão de hábito" (Virginia Satir)(6)
A família
A hospitalização pode acarretar um desequilíbrio na estrutura familiar e esta
exerce um papel importante na recuperação do paciente. As necessidades dos
familiares, muitas vezes não supridas pela equipe hospitalar, julgadas com
maior grau de importância por eles próprios, foram: sentir que o pessoal do
hospital se interessa pelo paciente; estar seguro de que o melhor tratamento
possível está sendo dado; sentir que há esperança de melhora; saber que
tratamento médico está sendo dado e ter perguntas respondidas com franqueza
(12).
O Enfermeiro está em uma posição singular para identificar essas necessidades,
de maneira a implementar uma assistência com qualidade, entendendo-se que a
assistência ao paciente deve estender-se, também, ao familiar do paciente(12).
A representação do outro como alter vai além de vê-lo como um indivíduo capaz
de chorar, sorrir e ter suas próprias vontades, é preciso também compreendê-lo
em seu contexto histórico, familiar e cultural.
A família sempre faz parte do tratamento.
Enfim, num momento em que a Enfermagem e a saúde, em geral, se envolvem cada
vez mais no desenvolvimento de conhecimentos científicos e técnicos, discussões
sobre "alteridade" e "humanização hospitalar" tornam-se extremamente
necessárias. Mezzomo et al(13) afirmam que infelizmente, no caminho, perdemos
algo de vital valor: o olhar o ser humano como "gente". "Gente como a Gente",
necessitando de cuidados médicos, mas ainda mais de atenção e amor. Muitos de
nossos pacientes poderão encontrar alívio em suas doenças através de pequenos
gestos de carinho. Alma atendida, e o paciente estará muito mais engajado no
tratamento, aceitando melhor o tempo de hospitalização, as dores do tratamento
e, até mesmo, a morte(14).
Segundo Sadala(15), na Enfermagem as repercussões da utilização do critério da
alteridade fazem-se sentir diretamente na prática da assistência,
particularmente no que se refere à questão da autonomia momento no qual, enfim,
se reconhece que o paciente é dono do seu próprio corpo, e sujeito do seu
cuidado.
2. OBJETIVO
Identificar a representação do "outro" (paciente e familiar) nas relações de
Enfermagem e compreender como se dão essas relações.
3. MÉTODO
3.1 Tipo de estudo
Estudo de natureza exploratório descritiva, de campo, com abordagem
qualitativa. Os discursos foram analisados considerando todas as respostas de
um sujeito, como um todo indivisível, para não se perderem dados relevantes em
um estudo que se dispõe a estudar as relações; como, por exemplo, a contradição
no discurso.
3.2 Local do estudo
Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.
3.3 População
Foi escolhida aleatoriamente e constituída por enfermeiros que atendiam aos
seguintes critérios de inclusão: atuar em unidades hospitalares e prestar
cuidados diretos; estar presente no local e momento da coleta de dados; aceitar
participar da entrevista, independente do hospital onde atuam.
3.4 Procedimentos na coleta de dados
Primeiramente o projeto foi aprovado pela Comissão de Ética e Pesquisa da
EEUSP. Todos os sujeitos preencheram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. A coleta dos dados foi através de um plano de entrevista realizado
oralmente, e permitiram aos sujeitos responder verbalmente as questões. O
entrevistador fez uso de um gravador para uma posterior transcrição dos dados.
As questões foram:
1- O que levou você a escolher a profissão de Enfermagem?
2- O que você vê e sente quando olha para um paciente?
3- Algum paciente ou familiar do paciente já provocou algum sentimento negativo
(raiva, mágoa, frustração etc) em você?
4- Em uma conversa direta (profissional-paciente) de 10 minutos, quanto tempo,
em média, os pacientes costumam falar?
5- Na sua opinião, qual é a importância da família na recuperação do paciente
hospitalizado?
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS
Depoimento 1: JN, 23 anos, 5 meses de atuação, UTI
1-Tive uma experiência forte de cuidado da minha vó e foi aí que me
interessei pela profissão.
2- Depende do paciente (Rs). Se é um paciente que está muito grave e
que é jovem, muitas vezes eu acabo sentindo pena, não é nem
compaixão, é pena. Me imagino na situação dele e chego a ficar
angustiada. Se é um paciente que está bem, está fazendo um
acompanhamento só de rotina e você vê que tem uma melhora, aí é um
outro olhar, você olha com olhar de vida, de perspectiva.
3- Já. O paciente que você está sempre fazendo as coisas e ele não
percebe, já me despertou mágoa, já fiquei chateada com isso, de não
ter sido valorizada. E uma vez que fui agredida pelo paciente
(mudança do tom de voz / rs) na hora eu fiquei super chateada, mas
pensei, não é para mim, ele está desorientado. Ela estava mesmo, mas
na hora a primeira reação que tive foi de mágoa, de achar que aquilo
era para mim, mas passou, foi só um minuto (rs).
4- De 10 minutos acho que o paciente fala muito pouco, ele tenta até
falar mais, mas o profissional sempre o corta no meio porque ele tem
um interesse que é diferente do paciente e tem que cumprir aquele
interesse. Acho que o paciente consegue falar 4 minutos, no máximo.
5- Acho que é muito importante, principalmente se você vê que a
família tem um envolvimento positivo, ocupa um papel importante na
vida do paciente, e que ele a reconheça como importante no cuidado.
Tem alguns familiares que o próprio paciente nega a participação no
cuidado porque sabe que aquela pessoa representa uma coisa negativa.
Então, acho que se a família tem um envolvimento, é bem aceita pelo
paciente, acho que ela tem um papel fundamental na recuperação dele.
Neste discurso a vontade de fazer enfermagem surgiu de uma experiência de
cuidado, experiência esta que se identifica plenamente com os objetivos da
profissão.
Em relação aos sentimentos que surgem no cuidado direto ao paciente, a
entrevistada mostrou "se permitir" ter sentimentos diferentes, tanto de amor
quanto de mágoa. Sentimentos inerentes à natureza humana, pois o ser humano é
duplamente articulado. Temos uma grande dificuldade em aceitar a agressividade
e a destrutividade que todos nós possuímos e somos capazes de projetar no mundo
e nas outras pessoas. Não podemos negar nossa "punção de morte" e a única forma
de controlá-la é através da conscientização e aceitação dessa nossa ambigüidade
(16). E esse sentimento negativo foi provocado principalmente pela falta de
valorização por parte do paciente em relação aos cuidados prestados. O
reconhecimento representa uma forma de motivação e, quando ausente, pode causar
frustração no profissional e influenciar diretamente na sua maneira de cuidar.
Em relação à comunicação, foi referido que o paciente fala muito pouco e isso
se deve, no discurso, à existência de interesses diferentes tanto dos pacientes
quanto dos profissionais. Este relato trás consigo uma certa incoerência, pois
os interesses dos pacientes e dos profissionais teoricamente não devem ser
diferentes. Pelo contrário, quando congruentes facilitam a comunicação, a
recuperação do paciente e o alcance dos objetivos(7). Com interesses
divergentes é muito difícil chegar a um resultado comum e satisfatório para
ambas as partes. Aparece claramente nesse discurso a necessidade angustiante do
profissional de cumprir "tarefas", consolidando o modelo funcional de
assistência ainda tão presente.
A importância da família na recuperação do paciente foi relatada como
determinada pelo próprio paciente. Importante quando a família ocupa um papel
positivo na vida do paciente e, não importante quando o próprio paciente nega
sua participação(12).
Neste discurso, de um modo geral, observa-se uma focalização do cuidado no
paciente. Discurso esse que muito destoa da realidade e pode ser devido ao
pouco tempo de atuação da enfermeira, a forte idealização que recém-formados
trazem da universidade ou a inexperiência da entrevistadora em explorar o
discurso.
Como afirmam Vila e Rossi(17), embora as unidades de terapia intensiva sejam um
local ideal para o atendimento a pacientes agudos graves recuperáveis, também
parecem oferecer um dos ambientes mais agressivos, tensos e traumatizantes do
hospital. Apesar do grande esforço que os enfermeiros possam estar realizando
no sentido de humanizar o cuidado em UTI, esta é uma tarefa difícil, pois
demanda atitudes às vezes individuais contra todo um sistema tecnológico
dominante.
Depoimento 2: DVC, 26 anos, 2 anos de atuação, UTI.
1-Uma tia influenciou na escolha da minha profissão. Enquanto ela
ficava trabalhando no hospital eu ficava passeando nas unidades com
os técnicos e auxiliares de enfermagem acompanhando-os a cuidar dos
pacientes. Primeiro tentei fazer Medicina, não consegui, e tentei
Enfermagem. Tem algumas coisas na minha profissão que eu adoro e tem
outras que eu já vejo com outros olhos. "Aí que droga, que ser
enfermeira tem que passar por isso, ou tem que fazer isso". Mas o que
eu faço é procurar algumas áreas ou algumas especialidades que
amenizam o que eu acho ruim da profissão.
2- Penso um pouco mais na parte prática. Como qualquer outra pessoa,
tem pacientes que eu gosto de cuidar e tem aqueles que eu não gosto
de cuidar.
3- Lógico que já. Uma coisa muito freqüente é quando o paciente está
melhorando e fala assim: "Nossa esse hospital é muito bom, a equipe
médica é maravilhosa, que bom que meu pai está melhorando". E a
enfermagem? Os familiares não entendem muito o que acontece com os
pacientes. A gente faz o cuidado com tanto gosto, com tanto desejo de
fazer bem feito, que acabamos esperando muito reconhecimento, e por
isso que a gente se frustra. Então, os sentimentos negativos que a
família provoca é quando não me reconhece, quando me criticam, quando
vêem algum defeito. E, às vezes, eles tem razão, e aí a gente procura
reconhecer, mas é sempre ruim ouvir crítica.
4- Eu sempre falei mais que os pacientes. E quando os pacientes
falam, falam de tudo, do céu, da terra, do mundo e a gente tem que
ficar puxando, delimitando. Ou tem aqueles que são monossilábicos,
você tem que ficar explorando. Mas em média eles falam bem pouco, eu
falo uns 8 e eles falam uns 2.
5- A família é muito importante enquanto apoio emocional para o
paciente fazendo ele se sentir mais próximo de casa ou se sentir
querido, se a família desejar que ele volte para casa logo. Mas a
família acaba, pelo menos em ambiente crítico, atrapalhando um pouco.
Já trabalhei em semi-intensiva que a família ficava o tempo todo do
lado do paciente, e tem coisas que não são prioridades no momento,
para mim enfermeira, e que são prioridades para a pessoa enquanto
família. Então fica um desgaste muito grande. Acho que o que a gente
quer, na verdade, é que a gente tome conta desse processo e pronto,
eu sei o que importante para o doente, você me dá licença, mas não é
assim, a gente tem que deixar eles participarem porque eu acho que a
família é muito importante para eles mesmos, a gente é que tem que
aprender a lidar.
Neste discurso a escolha em cursar Enfermagem também surge de uma experiência
de cuidado, mas esta escolha não foi a inicial, a primeira opção era cursar
Medicina. Isso é muito comum na Enfermagem e pode influenciar, sim, no cuidado.
Essa vontade não suprida pode representar uma "ferida narcísica" e determinar
comportamentos e atitudes, tanto na assistência de Enfermagem, como na relação
com os familiares e outros membros da equipe.
O outro diferente é ameaçador. O que pode levar a uma alienação do sujeito, em
se relacionar apenas com a parcela da realidade que dá prazer, levando ao
egocentrismo(16). No discurso, isso aparece claramente no momento em que a
entrevistada diz procurar "algumas áreas ou algumas especialidades que amenizam
o que é ruim na profissão". Relacionar-se apenas com o exterior que dá prazer é
uma atitude típica de uma personalidade narcísica capaz de direcionar o sujeito
apenas para um exterior alienante e não transcendente.
"A nossa relação com a exterioridade é só para ultrapassá-la, dominá-
la e não para interagir de uma maneira construtiva"(16)
Segundo Colli apud Mattéi(18)os fundamentos da civilização consistem em
reconhecer o que está fora de nós, o que é diferente de nós. O que se chama
religião, natureza, sociedade, cultura. O sinal de decadência é a
interiorização, o fato de tudo relacionar a nós: filosofia e ciência moderna.
Em relação ao que se vê quando olha-se para o paciente, a entrevistada parece
negligenciar a representação do outro. Quando o enfermeiro toma como prioridade
a parte funcional e técnica da assistência, ele acaba negando a existência de
um sujeito por trás disso tudo e dando abertura para possíveis iatrogenias,
principalmente as psicológicas e emocionais(3).
Ao transformar a relação eu/outro em eu/objeto, o enfermeiro "coisifica" o
paciente para que ele torne-se mais facilmente manipulado, essa é a mais
freqüente "barbárie" na área saúde(16). Horkheimer e Adorno apud Mattéi
(18)iluminam a condição maior da barbárie de nosso tempo, que consiste na
retirada do sujeito para sua interioridade. Não é uma violência externa
invadindo a interioridade das pessoas, mas sim o contrário, essa violência vem
de dentro e reflete uma interioridade narcísica, vazia, onde só há a
representação do próprio ego(16). A falta de alteridade no cuidado de
enfermagem pode deixar marcas profundas em quem vive a experiência de ser
"paciente".
A experiência de estar internado em uma Unidade de Terapia Intensiva e em
estado de coma, como afirmam Silva, Schlicknann, Faria(19), é um processo
complexo que pode deixar profundas marcas em quem vivenciou. Muitas dessas
marcas não estão somente ligadas ao coma em si, mas às experiências de ser
"des/cuidado" durante esse processo, levando muitos doentes não só a
necessitarem de se recuperar da doença, mas do fato de terem se tornado
"pacientes". Isto porque, apesar dos avanços teóricos acerca do cuidado, a
prática ainda se dá quase que exclusivamente, com base em ações profissionais
despersonalizadas, na qual o ser se torna a doença, o objeto passivo da
investigação e do tratamento.
No discurso, a frase "tem pacientes que eu gosto de cuidar e tem aqueles que eu
não gosto de cuidar" demonstra uma certa conscientização que, inevitavelmente,
nós vamos ter empatia por alguns pacientes e por outros não. E isso é
conseqüência de experiências anteriores que tivemos. Teremos mais simpatia por
pacientes que nos "lembrem" coisas positivas do nosso passado e vice-versa.
"Quanto menos eu conheço a minha irracionalidade, mas esse irracional
domina a minha razão(16)."
Em relação aos sentimentos negativos provocados pelo paciente ou familiares,
aparece novamente a questão do reconhecimento e o motivo dado é que "os
familiares não entendem muito o que acontece com os pacientes" e fazem muitas
cobranças e críticas.
O enfermeiro de unidade de terapia intensiva, muitas vezes, talvez devido a
gravidade de seus pacientes, se esquece de prestar assistência a família do
paciente, na qual a simples informação pode ser importante. Os pacientes e seus
familiares estão à mercê de estranhos cujas funções e papéis desconhecem, de
máquinas, de aparelhos de testes e de rotinas totalmente desconectadas de seus
hábitos(17). É muito natural que tenham receios Talvez o enfermeiro, por estar
tão preocupado com o reconhecimento, permaneça sempre na defensiva, projetando
toda a fragilidade que existe em si no mundo ao seu redor.
Um grande `fetiche' da civilização é acreditar que a violência está fora e nós
não temos nada a ver com ela. É um engano, pois ela vem de uma manifestação
nossa como seres humanos, é uma projeção do que está dentro(16).
"Tudo o que está no consciente já esteve no inconsciente um dia"
(Sigmond Freud)(20)
No seu discurso aparece claramente a relação família-profissional como um
desgaste muito grande e a uma vontade explícita de controlar a situação e
"coisificar" o paciente: "o que a gente quer na verdade é que a gente tome
conta desse processo e pronto, eu sei o que é importante para o
doente".Novamente a entrevistada, depois desse relato tão excludente e
onipotente, tenta se redimir da importância da presença da família; "a gente
tem que deixar eles participarem, a gente que tem que aprender a lidar com
eles".É clara a contradição no discurso e a ambigüidade de sentimentos em
relação a família do paciente. Por mais que a enfermeira afirme a importância
da presença da família aparecem no discurso contradições que revelam conflitos,
desgastes e até negligências.
Depoimento 3: OV, 45 anos, 15 anos de atuação (começou como auxiliar de
enfermagem e há 3 anos é enfermeira), Recuperação pós-anestésica.
1-Não tinha muito escolha, precisava trabalhar, tinha me formado em
Magistério e não tinham vagas; então, a única oportunidade que tive
foi a Enfermagem. Acabei gostando e estou até hoje.
2- Ele é um ser que está precisando da minha ajuda. Eu estou do outro
lado, ele está necessitando, ninguém pede para ficar doente. Trato
como uma pessoa da minha família, como se fosse meu filho. Porque
pode ser idoso, velhinho, adulto, mulher, homem, não tem assim
diferença.
3- Não, de raiva, mágoa, discussão nada dessas coisas. Nunca tive
nenhum desses sentimento não, nenhum problema, graças à Deus até hoje
não.
4- Procuro deixar às vezes o paciente falar mais, eu ouço mais e eu
falo pouco. Ele fala uns 7 minutos e eu falo 3. Deixo ele desabafar
quanto queira. Quando eu preciso orientar? Aí falo, explico tudo,
pergunto se entendeu, se ele não entendeu falo de novo; então, aí
acho que eu falo meio a meio, porque eu falo e espero ele falar... eu
acabo falando mais Uns 8.
5- A família é tudo, é o máximo, para o doente principalmente. Porque
ele está acostumado com a família dele e vem para a gente num mundo
novo, muito diferente. Muitas vezes a família não quer participar,
tem esse lado né?! Mas a família é muito importante para ele porque:
sabe todos os hábitos dele, horário de tudo, é uma vivência com a
família que não tem com a gente. Então, o que a família pode ajudar
e, às vezes, com a orientação da gente, eles até entendem esse lado e
acabam aceitando melhor.
Neste discurso, apesar da escolha pela profissão ter sido por necessidade e
fácil acesso, já que a enfermeira ingressou nesta área como auxiliar de
enfermagem, o discurso tende para uma assistência de enfermagem que respeita o
paciente e seus familiares.
No entanto, a resposta dada em relação à comunicação enfermeira-paciente pode
conter uma certa contradição. Em uma unidade de recuperação anestésica, além do
paciente estar muito confuso e desorientado devido o procedimento anestésico,
há uma alta rotatividade de pacientes e dificilmente a enfermeira deixará "ele
desabafar o quanto queira". Em uma primeira resposta à pergunta, a entrevistada
afirma que procura deixar opaciente falar mais. Porém, quando lhe foi colocada
a situação de orientação, uma prática muito realizada pelos Enfermeiros, essa
resposta se modificou bastante: "eu acabo falando mais".
Paegle(21), em um trabalho que teve como objetivo descrever e analisar a
comunicação não-verbal em grupo enfermeira-pacientes, concluiu que o ritual de
orientação exercido fortemente na prática da Enfermagem mostrou-se claramente
ineficaz, havendo, por parte dos membros do grupo, um silêncio de respeito.
Novamente, portanto, voltamos à questão da representação do outro. Para que uma
orientação enfermeira-paciente tenha bons resultados e alcance seus objetivos,
primeiramente, a enfermeira precisa ter uma certa percepção de si, para passar
as informações de forma clara, e em segundo lugar uma percepção do outro.
Em uma comunicação direta, tanto o paciente quanto a enfermeira emitem sinais
não-verbais que demonstram o envolvimento e a intenção na conversa. Como, por
exemplo, a postura corporal. Quando ambas as pessoas envolvidas no diálogo
estão interessadas, os seus corpos ficam voltados um para o outro e não
lateralizados(7). Quantas vezes presenciamos enfermeiras dando orientações
enquanto escrevem ou regulam o gotejamento do soro fisiológico, sem minimamente
olhar para o paciente?
A capacidade de captar essas comunicações sutis se apóia em competências
básicas, essencialmente a autopercepção e o autocontrole. Sem a capacidade de
captar nossos próprios sentimentos, ou impedir que eles se apossem de nós,
ficamos irremediavelmente desconectados dos estados de ânimo das outras
pessoas. Sofrer de surdez emocional conduz á falta de jeito social, seja por
interpretar sentimentos erroneamente, seja por meio de uma rudeza ou
indiferença mecânica, fora de sintonia. Uma das formas que pode assumir essa
falta de empatia consiste em reagir às pessoas como se fossem estereótipos, em
vez de indivíduos singulares, que é o que de fato são(22).
Depoimento 4: KL, 25 anos, recém-formada, Ambulatório de Oncologia.
1- Na minha cidade tinha Odonto e Enfermagem. Sempre quis ver o ser
humano além da boca. Queria fazer faculdade porque queria fazer
pesquisa. Eu nunca procurei a Enfermagem porque eu queria atender as
pessoas, esse nunca foi o objetivo principal. Sempre gostei da
Oncologia e eu queria de início fazer Medicina porque falaram para
mim que quem fazia pesquisa e estudava na área de oncologia eram os
médicos. Se meu desejo fosse ser um profissional para atender o
paciente eu não estaria satisfeita com a Enfermagem, principalmente
pela falta de respeito que o profissional de Enfermagem tem. A gente
estuda tanto e as pessoas não reconhecem. As pessoas desconhecem
completamente a profissão. Somos desrespeitados, ignorados. O que me
estraga a satisfação é o contato com o profissional médico. Quando
você entra em contato também com os outros profissionais, é como eles
te ignorassem, acham que você está ali para cumprir o que eles
mandam.
2- Minha primeira curiosidade é saber o que ele tem. Eu quero
entender, ver se eu sei o que ele tem (rs), ver se eu conheço o que
ele tem (rs). Eu não gosto de pensar que ele tem família, porque aí
eu fico muito triste...
3- Não. Eu sempre olho para o paciente e eu falo o seguinte: se eu
estivesse no lugar dele, eu seria tão chato quanto ou mais chata. Eu
estou em casa e fico doente, eu quero que a minha mãe faça tudo para
mim, que ela limpe, que ela varra, que ela traga comida; acho que
todo filho é assim. Assim, é muito bom ter ao lado da gente um
profissional que faça as coisas pela gente sem você precisar ficar
pedindo, ele percebe o que você precisa.
4- Acho que ele deve falar uns 5 minutos, ou seja, quase meio a meio.
Mesmo eu gostando muito de falar, porque eu tenho curiosidade de
saber se ele está entendendo, principalmente o paciente com câncer.
Por exemplo, se ele vai para a casa com a sonda e fica se alimentando
por ela vários dias, eu tenho que fazer toda a orientação para ele.
Orientar, falar, falar, falar... os 10 minutos porque ele vai embora.
5- É completa. Eu acho que quando a família está ali o paciente se
sente seguro. Muitas vezes a família constrange numa UTI, começa a
chorar você se sente constrangido com aquilo, porque para você é
muito tranqüilo estar vivendo aquela situação, incomoda
Nesse discurso a ambigüidade de sentimentos e as contradições aparecem
claramente em todo o decorrer da fala do entrevistado. Na primeira questão, em
relação à escolha da profissão, o entrevistado diz não ter escolhido
odontologia porque sempre quis ver o ser humano além da boca. No entanto, na
escolha pela Enfermagem, o objetivo principal nunca foi atender as pessoas, mas
sim a pesquisa. Uma grande contradição O que pesquisará um enfermeiro que não
tem como intenção atender pessoas? Que tipo de professor será? É uma escolha
extremamente narcísica onde este procura a satisfação apenas do seu ego.
"Uma vez que não podemos ver claro, devemos ver mais claramente
nossas obscuridades." (Sigmund Freud)(20)
Continuando o discurso aparece a primeira frustração. A enfermeira tem um forte
sentimento de desvalorização de si e da profissão. Quando você entra em contato
com os outros profissionais é como se eles te ignorassem.Apesar da intensa
preocupação com o conhecimento, como uma maneira de tentar suprir uma
"vacuidade" (eu quero fazer pesquisa), ela não consegue se sentir menos
desrespeitada e humilhada.Talvez isso ocorra porque ela própria desconheça e
"negue" os objetivos da profissão.
Também podemos destacar que, ao trabalhar em equipe, cada um dos participantes
constroem seu papel em relação ao outro. Da mesma maneira que ela "mutila" o
paciente, vendo nele apenas o que lhe é interessante; minha primeira
curiosidade é saber o que ele tem, se eu sei o que ele tem - não gosto de
pensar que ele tem família; ela também pode projetar nos outros membros da
equipe toda a sua frustração profissional e pessoal, modificando as relações
negativamente.
"Aprender a conviver em grupo é um grande desafio." (Maria Júlia Paes
da Silva)(7)
McDougall apud Freud(20) enumera cinco `condições principais' para a formação
de um grupo. Haver certo grau de continuidade de existência do grupo; cada
membro deve formar alguma idéia definida da natureza, composição, funções e
capacidades do grupo, de maneira que a partir disso, possa desenvolver uma
relação emocional com o grupo como um todo; o grupo deve ser colocado em
interação (talvez sob a forma de rivalidade) com outros grupos semelhantes, mas
que dele difiram em muitos aspectos; possuir tradições, costumes e hábitos; ter
estrutura definida, expressa na especialização e diferenciação das funções de
seus constituintes.
Ao entrarmos num grupo, a ambivalência de sentimentos existente deve se
desfazer, pois não é possível manter um grupo com a presença de ódio(16). O
ódio e a punção de morte que existem em todos os indivíduos não podem ser
descarregados dentro do grupo, pois se isso acontecer o grupo se diluirá.
Então, todo esse ódio deve ser descarregado fora do grupo, para as pessoas que
são "diferentes", no sentido de não pertencerem ao grupo. Chamamos isso de
narcisismo das pequenas diferenças(16).
Todo esse sentimento negativo do entrevistado, portanto, muito aparente no
decorrer de todo o discurso, em relação aos outros membros da equipe de saúde,
dificulta a formação de um grupo de trabalho no qual ele possa estar inserido.
A formação de um grupo de trabalho em uma unidade terapêutica, seja ela qual
for, possibilita a delimitação clara e precisa das tarefas que serão
desempenhadas, diminui as angustias e temores dos participantes, bem como,
possibilita a continuidade da assistência.
Com relação à comunicação com o paciente, a enfermeira, em princípio, afirma
que a comunicação ocorre meio a meio, ou seja, orador e receptor falam mais ou
menos a mesma quantidade, mesmo gostando muito de falar. No entanto, se
contradiz logo em seguida quando diz que tem que fazer toda a orientação para
ele. Orientar, falar, falar, falar os 10 minutos porque ele vai embora.Nesta
frase está implícita um ego enorme e extremamente narcísico.
Sobre a participação da família na recuperação do paciente, o discurso começa
com afirmações como quando a família está ali o paciente se sente seguro e
termina de uma maneira totalmente diferente. A família começa a chorar, você se
sente constrangido com aquilo, porque para você é muito tranqüilo estar vivendo
aquela situação. Os sentimentos do outro além de não ter importância,
incomodam Apesar de os profissionais terem consciência da necessidade do
cuidado humano, o cuidado técnico impera Não devemos permitir que o progresso
nos afaste do doente. A ciência e a tecnologia não obedecem a critérios morais.
Utilizemos tudo que a técnica tem de bom, para nossos pacientes. Sejamos
técnicos com sabedoria. Desse modo ganharemos amizade e respeito. Precisamos
reconhecer que nenhuma máquina é capaz de substituir o diálogo enfermeiro-
paciente. Ele é a base da confiança e do respeito a se formar entre os dois
(6,7,13,14).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho possibilitou a observação do contexto real da alteridade
nas relações de Enfermagem, nas quais é clara a dicotomia existente entre a
teoria e a prática.
A dura realidade nos mostra que os enfermeiros estão, em sua grande maioria,
insatisfeitos com o seu trabalho e com o reconhecimento da profissão; tem
dificuldade de se comunicar com o paciente sem deixar de demostrar autoridade;
e reconhecem a importância da família, porém ainda não conseguem lidar com ela.
Apesar do cuidado humanizado ser conceituado como respeito, amor, carinho,
mantendo o diálogo, a privacidade, dando atenção à família, e representar uma
das diretrizes da assistência de Enfermagem, este parece ainda estar muito
distante de se tornar uma realidade unânime. Em geral, o enfermeiro ouve pouco,
fala muito e não presta a atenção adequada nos pacientes em que se propõe
cuidar.
"CUIDAR É quando você se aproxima de mim, mesmo sabendo que você não
pode satisfazer meu desejo mais profundo, isto é, minha cura. quando
vejo que você é capaz de sorrir e sentir-se feliz no desempenho de
seu trabalho. quando você se aproxima de mim sem ares de
profissionalismo, mas como pessoa humana que todos nós somos."
O'Connor(23)