A prevenção e o controle de infecções: um estudo de caso com enfermeiras
PESQUISA
A prevenção e o controle de infecções: um estudo de caso com enfermeiras
The prevention and control of hospital infection: a case study with nurses
La prevención y el control de infecciones hospitalarias: un estudio de caso con
enfermeras
Rosane Teresinha FontanaI; Liana LautertII
IEnfermeira. Professora do Curso de Enfermagem da Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI - Campus Santo Ângelo - RS.
rfontana@urisan.tche.br
IIEnfermeira. Doutora em Psicologia Social. Professora da Escola de Enfermagem
da UFRGS
1. INTRODUÇÃO
Com a evolução da tecnologia, antimicrobianos foram sendo aperfeiçoados,
técnicas modernas de assistência foram sendo desenvolvidas e o tratamento das
doenças assumiu alta complexidade. Por outro lado, a invasão das bactérias
multirresistentes, a inserção de novas formas vivas de microrganismos e a luta
contra a resistência bacteriana surgiram nesse contexto, fragilizando o
ambiente do cuidado humano e desafiando as ações do cotidiano dos trabalhadores
em saúde, no que se refere à prevenção das infecções hospitalares.
Segundo a Portaria número 2616, de 12 de maio de 1998, do Ministério da Saúde,
Infecção Hospitalar é "aquela adquirida após a admissão do paciente e que se
manifeste durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada com
a internação ou procedimentos hospitalares"(1). Conforme estudos do CDC, as IH
prolongam a permanência de um paciente no hospital em pelo menos quatro dias e
geram custos adicionais de U$ 1.800,00, em média(2).
De acordo com a minha experiência de aproximadamente seis anos como Enfermeira
da CCIH, em hospital de médio e pequeno porte do interior do estado e em
constante contato com outras enfermeiras que trabalham nos hospitais da região,
sinto que faltam informações e atualização básica sobre métodos e técnicas de
prevenção de infecção cruzada, vigilância epidemiológica, sistema de
notificação, ou outros, dificultados pelas mais diversas causas como a falta de
tempo advinda do acúmulo de funções, falta de apoio administrativo ou falta de
treinamento específico, por exemplo.
Ora, sendo a enfermeira a profissional que supervisiona a equipe de enfermagem
e seus procedimentos, invasivos ou não, e sendo também, segundo a legislação
oficial(3) a responsável por cuidados de enfermagem de maior complexidade
técnica; procedimentos esses de risco para a incidência das infecções
hospitalares, pode-se dizer que essa profissional é de grande importância para
a identificação e notificação dos casos de infecção hospitalar. Cabe ressaltar
que é essa a profissional que acompanha diretamente a evolução clínica do
paciente durante as 24 horas do dia.
Instiga então saber quais as condições de trabalho das enfermeiras da 12ª CRS e
como atuam na prevenção das infecções hospitalares. Assim sendo o objetivo
geral deste estudo é conhecer a estrutura físico-administrativa dos hospitais
da região da 12ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) e sua interface com a
atuação das enfermeiras na prevenção e controle das infecções hospitalares.
2. PERCURSO METODOLÓGICO
O presente estudo é do tipo descritivo, usando-se como suporte teórico
metodológico o Estudo de Caso, segundo a abordagem proposta por Stake(4).
Estudo de caso é "el estudio de la particularidad y de la complejidad de un
caso singular, para llegar a comprender su actividad en circunstancias
importantes"(4).
A pesquisa foi realizada nos hospitais que compõem a região da 12ª
Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) do Rio Grande do Sul - BR, a qual tem
sede administrativa no município de Santo Ângelo. Por meio do senso realizado
por esta coordenadoria, no ano de 2000, essa região abrange 13 municípios com
hospitais e 12 municípios sem hospitais, dos quais foram investigados 12. No
total a região dispõe de 17 hospitais do tipo geral e de 910 leitos para
atender à demanda de 199.856 habitantes. Hospital geral é aquele destinado à
prestação de atendimento nas especialidades básicas, por especialistas e/ou
outras especialidades médicas. Pode dispor de Serviço de Urgência/emergência.
Deve dispor também de Serviço de Apoio Diagnóstico e Terapia (SADT). Podendo
ter ou não Sistema de Procedimentos de Alto Custo (SIPAC)(5).
Foram convidadas para participar desta pesquisa todas as enfermeiras que
trabalham nos hospitais da região da 12ª CRS e que corresponderam aos seguintes
critérios: a) ser enfermeira pertencente ao quadro funcional das instituições
hospitalares da região da 12ª CRS, exercendo atividade assistencial e ou
administrativa; b) ser integrante ou não da Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar (CCIH) e c) aceitar participar da pesquisa. Participaram desta
pesquisa 28 enfermeiras, que serão identificadas por números, a fim de
garantir-se o anonimato.
Optou-se por realizar a coleta dos dados desta investigação através da
observação da área física dos hospitais, da análise de documentos de Inspeção
da Vigilância Sanitária dos Serviços Hospitalares da 12ª CRS e de entrevistas
com enfermeiras que trabalham nestes hospitais. O foco da análise documental
centrou-se na busca de elementos que permitissem uma descrição suscinta do
contexto dos hospitais que compõe a 12ª CRS, a fim de conhecer as condições em
que estas desenvolvem as ações de controle e prevenção de IH. A observação foi
utilizada para descrever o contexto referente à organização geral da área
física dos hospitais, bem como para verificar as ações que norteiam o controle
e prevenção de IH, através de visitas do pesquisador aos hospitais. Para
realizar a observação, elaborou-se um formulário estruturado.
A entrevista desenvolveu-se a partir de questões norteadoras que foram chamadas
de temas do estudo. Assim, os seguintes temas nortearam esta pesquisa: formação
profissional da enfermeira para atuar na prevenção e controle das infecções
hospitalares, apoio administrativo da instituição para desenvolver o trabalho
de prevenção e controle das infecções hospitalares, ações básicas de prevenção
e controle de IH e atitude pessoal da enfermeira na valorização, prevenção e
controle das infecções hospitalares.
Na análise dos dados, inicialmente foi descrito o contexto dos hospitais que se
encontram na região da 12ª Coordenadoria Regional, no que se refere a sua
estrutura física e estruturação das ações de prevenção e controle de IH. Para
tanto foram usados os materiais coletados através da observação e análise
documental. As instituições hospitalares foram agrupadas segundo suas
semelhanças. Em um segundo momento, foram analisadas as entrevistas das
enfermeiras. Para isso utilizou-se, inicialmente, uma análise descritiva para
apresentação dos dados de identificação do grupo das enfermeiras. A seguir,
utilizou-se a análise de conteúdo onde os materiais foram submetidos a pré-
análise realizada através da leitura flutuante, determinada a regra de
exaustividade e representatividade. Em seguida, foi explorado o material para
agrupamento segundo os temas de estudo, os quais foram denominados categorias
(6). A categorização foi realizada seguindo a estrutura dos temas abordados na
entrevista; portanto, utilizou-se categorias pré-estabelecidas.
Após esse procedimento foi realizada a integração entre os dados da observação,
da análise documental e das entrevistas, a fim de possibilitar conhecer a
estrutura físico-administrativa dos hospitais da região da 12ª Coordenadoria
Regional de Saúde (CRS) e sua interface com a atuação das enfermeiras na
prevenção e controle das infecções hospitalares. Com base na Resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde(7), elaborou-se o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, que foi fornecido a todos os enfermeiros. Somente participaram do
estudo as enfermeiras que assinaram o documento, consentindo em participar da
pesquisa, e o Termo de Responsabilidade pelo uso de dados. Este foi encaminhado
para a coordenação da 12ª CRS, juntamente com a solicitação de autorização do
cordenador para pesquisa de dados em documentos dessa Coordenadoria onde foram
coletados dados de registros das instituições estudadas, as quais permitiram a
descrição do contexto onde as enfermeiras atuam. Para os administradores dos
hospitais foi solicitada autorização para entrevistar as enfermeiras e para
realizar a observação da instituição.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Caracterização dos Hospitais existentes na área de abrangência da 12ª CRS
Mediante observação realizada em visita a todos os hospitais da 12ª
Coordenadoria Regional de saúde e através dos documentos de avaliação do setor
de vigilância sanitária desta Coordenadoria, reuniram-se dados valiosos que
permitiram uma análise geral da situação física das instituições hospitalares
desta região e que possibilitaram uma visão das condições de estrutura física
das instituições em que as enfermeiras desta regional exercem suas atividades
de enfermagem.
Trinta e cinco enfermeiras trabalham nas instituições hospitalares, com algumas
especificidades, tais como: em cinco instituições não há enfermeira em nenhum
turno de atendimento e não há CCIH implantada; em quatro instituições há uma
enfermeira, mas também não há CCIH implantada; em duas instituições há duas
enfermeiras e não há CCIH implantada.
Verificou-se que existem hospitais com características distintas, motivo pelo
qual optou-se por classificá-los em duas categorias, aqui denominadas de Grupo
1 e Grupo 2 a fim de tornar compreensível as anotações e a organização do
estudo.
Tendo em vista a classificação adotada neste estudo, no Grupo 1 estão os
hospitais que atendem, em maior parte, à legislação, ou seja, possuem área
física e pessoal destinado à prevenção e controle das infecções hospitalares,
de acordo com o que determina a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. No
Grupo 2 estão os hospitais que, tanto em relação ao pessoal quanto à área
física estão atendendo em parte a legislação ou que, embora possuindo
enfermeira que poderia integrar uma comissão para esse fim, não tem CCIH
implantada.
Como o objetivo deste estudo era o de conhecer as condições de trabalho das
enfermeiras que atuam nos hospitais que compõem a 12ª CRS e a prática de ações
de prevenção e controle das IH, priorizou-se apenas os hospitais em que há
enfermeiras trabalhando, quer seja na parte assistencial, ou administrativa,
quer seja em ambas, fazendo parte ou não das CCIH, com exclusividade ou não.
Portanto os hospitais que não possuem enfermeiras não fizeram parte deste
estudo.
Os hospitais do Grupo 2, em número de oito, apresentam condições precárias de
atendimento ao público e à legislação. Possuem de 30 a 50 leitos em média, com
uma ou duas enfermeiras para supervisionar todo o hospital. Dentre outras, são
observações destes hospitais: os Centros Cirúrgico e Obstétrico apresentam boas
condições de higiene, porém o fluxo de barreira microbiológica é inadequado, na
grande maioria. Aproximadamente 80% das instituições têm autoclave. Observa-se
área física imprópria em todas os Centros de Material e Esterilização, e em
aproximadamente 80% dos hospitais essa unidade se restringe a uma sala pequena
com uma estufa ou autoclave, na qual são limpos e empacotados os materiais,
sendo ambos atendidos pelo mesmo funcionário da unidade de internação o qual,
conforme a necessidade, se desloca até o local de esterilização de materiais
para desempenhar essa função. As lavanderias dos hospitais não são adequadas em
aproximadamente 70%. Há hospitais que guardam a roupa limpa em ambiente
impróprio, tais como sala de reuniões ou de lanche dos funcionários.Quanto às
cozinhas, constatou-se que são atendidas por cozinheiras, sem a supervisão de
nutricionistas, em 90% destes e que copa e cozinha são ambientes únicos. Em
aproximadamente 90% dos hospitais, as sobras são doadas aos funcionários,
observações estas que contrariam as recomendações da ANVISA(7).
Quanto ás área de apoio, a maioria não possui área para procedimentos e
serviços e expurgo exclusivo. Os resíduos hospitalares são separados e
recolhidos por uma empresa prestadora de serviços em sete hospitais deste
grupo, com exceção de um hospital em que os resíduos hospitalares são queimados
em fornos construídos para esse procedimento. O recolhimento é feito em carros
abertos em 90% das instituições. Aproximadamente 90% dos hospitais não realizam
acompanhamento microbiológico para o controle da água.
Quanto à CCIH, implantadas ou não, algumas considerações merecem atenção. Seis
hospitais possuem apenas uma enfermeira, que acumula funções de toda ordem. A
exceção é feita por dois, que possuem duas enfermeiras, porém desempenhando
funções diversas, sendo que, em um deles, uma enfermeira está sendo treinada e
preparando rotinas e documentações para que possa dedicar parte de seu turno de
trabalho à prática das ações exclusivas ao Programa de Controle de Infecção
Hospitalar (PCIH). No outro hospital, embora com duas enfermeiras não há CCIH,
pois o que existe são alguns documentos que sugeriam tentativas de implantação
desta comissão em anos anteriores. Nos seis hospitais em que há somente uma
enfermeira, apenas dois possuem CCIH implantadas, com alguns registros, porém
com deficiência de manutenção das mesmas e não atendendo à maioria da
regulamentação preconizada pela ANVISA(1).
No Grupo de hospitais denominados como Grupo 1, em número de quatro, dois
possuem em média 180 leitos, e dois, 40 a 50 leitos. Estes atendem aos
requisitos da legislação, a qual regula o PCIH com mais propriedade. Os
requisitos referidos dizem respeito à área física e ao pessoal capacitado para
trabalhar nas ações de prevenção e controle de infecções. Dentre outras
observações, nestes hospitais, as condições de higiene e limpeza são
excelentes, embora o Centro de Material e de Esterilização apresentem
inadequada área física em relação a barreira microbiológica. As unidades de
internação, cozinha e demais dependências do hospital encontram-se em boas
condições de higiene e conservação em todos os hospitais deste grupo.
O Centro Cirúrgico e o Centro Obstétrico de somente dois hospitais deste grupo
possuem arquitetura adequada à sua demanda, com amplas salas, revestidas por
pisos e paredes impermeabilizados e laváveis. As condições de higiene e limpeza
são adequadas e o Centro de Material e Esterilização (CME) está bem posicionado
e com fluxo adequado. Os materiais e equipamentos dessas unidades apresentam
conservação razoável. Possuem salas de procedimentos, expurgo e outras salas
necessárias ao atendimento de um hospital desse porte. Na lavanderia de um dos
hospitais há separação entre área suja e limpa, paredes e pisos laváveis e
impermeáveis, com condições de limpeza regulares. A roupa é transportada em
carrinhos fechados, de material lavável. Em cada unidade há uma rouparia ou um
local com armários fechados para a guarda da roupa limpa.Os resíduos são
separados e encaminhados ao destino por uma empresa terceirizada que incinera o
material. Em somente um dos hospitais, o controle bacteriológico é documentado
e realizado a cada seis meses.
Mesmo não tendo uma enfermeira com dedicação exclusiva às ações do PCIH, os
hospitais do Grupo 1 estão entre os que mais atendem às recomendações da
ANVISA, embora apresentem algumas inadequações.
3.2 O Preparo das Enfermeiras que trabalham nos Hospitais da Região da 12ª CRS
para desenvolverem ações de prevenção e Controle de IH
Das 35 enfermeiras que atuam nos 17 hospitais da região de abrangência da 12ª
Coordenadoria de Saúde vinte e oito foram entrevistadas. Estas profissionais
desempenham atividades assistenciais e administrativas, têm idade entre 20 e 60
anos.É importante salientar que desesseis enfermeiras (57,1%) não possuem curso
de pós-graduação.
São quase duas décadas de oficialização dos PCIH. No entanto, apesar de 92,8%
das enfermeiras serem graduadas há menos de 20 anos, constata-se, através da
fala das respondentes, que nos currículos acadêmicos não havia muita ênfase
sobre ações específicas de Controle de Infecção Hospitalar. Vinte e sete
enfermeiras (96,4%) não tiveram nos seus currículos uma disciplina específica
sobre a temática durante a sua graduação, sendo o assunto diluído em outras
disciplinas. Assim refere uma enfermeira, que é graduada há 15 anos, quando
solicitada à responder sobre a ênfase dada ao tema durante a graduação:
"pouca (ênfase). E o período da minha formação foi uma época em que
estava no auge o assunto, surgindo o controle de infecção hospitalar
[...]"(23).
Mesmo tendo realizado o curso de graduação em épocas diferentes, a maioria das
enfermeiras afirmou que o tema infecções hospitalares ainda é pouco abordado.
Apenas cinco (17,8%) das respondentes referiram que foi dada muita ênfase
durante a graduação sobre a temática.
Uma disciplina específica, que prepare o enfermeiro a trabalhar nas ações do
PCIH, é válida à medida que, perante à legislação é obrigatória a participação
do enfermeiro nas Comissões de Controle de Infecção Hospitalar. No entanto,
esta idéia não é compartilhada por todos os profissionais que atuam nesta área,
requerendo, ainda, discussões sobre isso. Independente de oferecer uma
disciplina específica, estes conhecimentos devem permear todo o currículo
acadêmico.
Na formação profissional do enfermeiro, segundo entrevistados em uma pesquisa
que investigava a formação do enfermeiro para trabalhar em ações de prevenção e
controle de infecções, os conteúdos e cargas horárias destinadas a este tema
não são suficientes para capacitar os enfermeiros a tais atividades, o que vale
também para os cursos de extensão e pós-graduação(8). Embora com formação
deficiente nessa área as enfermeiras empenham-se em ampliar seus conhecimentos,
embora onze enfermeiras (39,2%) referem não receber auxílio para cursos.
Considerando que atualmente se prima pela valorização da informação, do
conhecimento e dos programas de qualidade, as instituições de saúde deveriam
proporcionar a atualização dos seus profissionais. Por outro lado, a enfermeira
tem obrigação de atualizar-se, conforme preconiza o Código de Ètica dos
profissionais de enfermagem(3). "A mudança de comportamento, tão necessária no
contexto da IH, não ocorre como um passe de mágica. É necessária fundamentação
prática e teórica [ ...]"(9).
No contexto estudado, isso se traduz por meio de estímulo, sensibilização dos
administradores hospitalares e enfermeiros e a oferta de programas que os
capacitem para o desempenho de ações de prevenção de IH.
3.3 As CCIH dos Hospitais da Região da 12ª CRS
Sabe-se da importância que uma CCIH adquire em uma instituição hospitalar já
que é uma comissão que atua diretamente com o paciente, com os serviços de
apoio, com a educação continuada da equipe e, principalmente, com a
normalização de procedimentos e condutas e com a vigilância epidemiológica
contínua.
Vale mencionar, que dos hospitais que tem CCIH implantada,em número de cinco,
46,4% não fazem coleta de dados sistematizada, segundo relato das enfermeiras.
Elas declararam, que, se esse procedimento é feito, não têm conhecimento sobre
tal atividade. Informações difundidas a respeito de medidas preventivas levam à
qualidade da ação da CCIH. Essa divulgação deve obedecer a uma metodologia de
planejamento, avaliação e execução em consonância com os objetivos da CCIH,
pois assim haverá uma conscientização os profissionais para o problema da IH
(9).
Vinte enfermeiras (71,4%) referiram existir manual de rotinas de enfermagem,
escritas na instituição, no qual se incluem atividades de prevenção e controle
de infecções. Esses dados refletem um quadro animador, já que 71,4% das
enfermeiras da região trabalham sob a luz de manuais de rotinas, evidenciando
uma preocupação em sistematizar as ações do PCIH. No entanto, cabe analisar a
qualidade das informações contidas nesses manuais, uma vez que observa-se nos
mesmos práticas desatualizadas de prevenção e controle de infecções.
Doze enfermeiras (42,8%) referiram conhecer uma sistemática de padronização de
antimicrobianos na instituição, já dezesseis (57,1%) afirmaram que não há
nenhum sistema de controle desses medicamentos na instituição em que trabalha.
Várias pesquisas apontam as conseqüências negativas da prescrição desnecessária
de antimicrobianos e a necessidade de seu controle; refere que a qualidade de
sua prescrição deve ser avaliada levando-se em conta que ela deve ser feita
apenas contra infecções suscetíveis; que a antibióticoprofilaxia deve
restringir-se aos casos indicados na literatura especializada; que a prescrição
generalizada prejudica o paciente, seleciona cepas resistentes e aumenta os
custos da hospitalização(10).
Observou-se, de acordo com a fala das enfermeiras e mediante as visitas de
observação, que há deficiências na sistematização das ações de prevenção e
controle de infecções hospitalares por ausência de informação atualizada, de
normalização e/ou comissões que possam avaliar as mesmas no cotidiano da
assistência hospitalar.
3.4 As Dificuldades para realizar ações de Prevenção e Controle de IH
Uma grande parte das enfermeiras reconhece a importância da enfermeira na
prevenção das infecções hospitalares, porque a consideram um elo entre a equipe
e o paciente.
[...] a enfermeira é a pessoa chave na equipe, é o vetor da coisa.
Informações chegam até o enfermeiro e ele leva até a CCIH e há uma
troca de medidas, soluções. O enfermeiro é o cabeça, ele que leva
informações da CCIH e até a CCIH que, às vezes, nem sabe delas. Ele é
o cabeça, como ele atende diretamente o paciente, não deixa escapar
nada. Ele faz a ligação(4).
As enfermeiras são os profissionais que mantêm contato mais contínuo e até mais
íntimo com o cliente do que qualquer outro profissional, o que aumenta sua
responsabilidade e evidencia a importância da prática assistencial de
enfermagem dentro da medicina preventiva(11).
A Educação Continuada foi outra justificativa citada por muitas enfermeiras
quando se relaciona esse tema à importância da enfermeira.
Eu acho que a enfermeira tem uma importância fundamental, porque é
ela que administra a unidade, repassa informações aos funcionários.
Eles estão a toda hora perguntando se tal procedimento usa luva, o
que tem que ter cuidado para paciente com hepatite ou leptospirose,
por exemplo. Na educação continuada dos funcionários, no conhecimento
dos funcionários(ela é importante)(24).
Deve-se ter consciência de que os processos educativos para a prevenção e
controle da IH devem ser abordados de forma libertadora sem submissão aos
profissionais de controle de infecção. Simplesmente repassar informações e
normas a serem seguidas são modelos insuficientes(12).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inquietude de investigar sobre essa realidade surgiu do fato de que todas as
enfermeiras, de uma forma ou de outra, devem desempenhar ações de prevenção e
controle de IH, considerando que o CIH parte da assistência direta ao paciente
e é um dever dos profissionais. Por ser a enfermeira uma gerenciadora do
cuidado e, embora tenha assessoria da CCIH, é ela que constitui o elo principal
entre a equipe e o paciente. Portanto, muito mais do que assepsia e antissepsia
inerentes ao cotidiano na Ciência da Enfermagem, a enfermeira deve envolver-se
com atividades mais amplas referentes a essa temática, o que não se evidencia
na prática das profissionais da região de abrangência da 12ª Coordenadoria
Regional de Saúde do Rio Grande do Sul. Segundo os dados levantados neste
estudo, percebe-se que existem alguns obstáculos e resistências que comprometem
a prevenção e o controle das infecções hospitalares nessa região. Em alguns
depoimentos as enfermeiras relataram que, como não há CCIH, não existem rotinas
escritas quanto ao controle de infecções hospitalares, o que deixa dúvidas
sobre a sistemática de trabalho dessas enfermeiras no seu cotidiano.
Por outro lado, observou-se que as CCIH estão, em alguns casos, ausentando-se
de suas funções à medida que se omitem ou não se posicionam adequadamente
frente às situações concretas e legais. Entretanto é válido dizer que muitas
destas dificuldades são decorrentes da falta de apoio administrativo em
promover mudanças e outorgar autonomia às comissões. Cabe ressaltar que se
concorda com as respondentes, quanto ao fato de que algumas atividades são
inerentes à CCIH, pois essas comissões promovem a prevenção articulada com
todos os setores.
Embora com uma atenção não muito dinâmica em alguns hospitais, observou-se que
são as enfermeiras que mais se envolvem com a prevenção de infecções
hospitalares e que nos pequenos hospitais dos municípios menores da região não
há normalização dessas atividades. Em algumas enfermeiras observou-se motivação
e interesse em transformar essa realidade, porém em outras percebeu-se
desmotivação e falta de comprometimento com essas ações. O descaso a essa
temática, por parte dos administradores, ainda é grande, especialmente nos
municípios pequenos. A prioridade ainda está centrada na assistência curativa e
a interrelação envolvendo prevenção, qualidade e segurança ainda não está
totalmente vinculada à prática da equipe multiprofissional. Embora a incidência
de casos seja pequena ou "inexistente" nesses hospitais pequenos, muitas vezes,
por deficiência na vigilância epidemiológica, a discussão sobre esses casos, a
atualização conjunta, a padronização de antimicrobianos, a educação em serviço
e a análise do cotidiano hospitalar, entre outras, são ações imprescindíveis
para a melhoria das condições de trabalho dos próprios profissionais.
A educação em saúde é um item em que precisa ser pontuado. Acredito que assim
como em outras áreas do conhecimento, a transformação de conceitos e atitudes
passa pela educação. Educar para aprender deve passar a ser o objetivo para que
ocorram mudanças de comportamento e de atitudes a fim de despertar os
profissionais para a problemática das infecções hospitalares e sua importância
para a qualidade da assistência. Educação não é sinônimo de aprendizagem, mas
que se trata-se de uma via que possibilita a transformação, quando se consegue
sensibilizar e envolver o outro(12).
Profissionais que trabalham na área da saúde devem assumir um compromisso com a
sociedade de respeito aos princípios bioéticos, em especial a beneficência e
justiça. Estudar indicadores epidemiológicos, avaliar condutas, intervir,
sistematizar ações de prevenção de infecções permite antecipar danos assim como
oferecer uma assistência igualitária e justa àquele que está sob cuidados. A
sociedade não pode pagar o preço da negligência, da má administração, do
descaso e da falta de competência técnica. A legislação é clara quando obriga
hospitais a manterem CCIH. É preciso que todos os profissionais da saúde
apoderem-se da filosofia da prevenção na sua prática cotidiana. Neste contexto,
certamente estará se iniciando um novo modelo de cuidado, que transpassa para
além do humanismo, da ética e do respeito à cidadania em todas as esferas de
atendimento.