Visita na UTI: um encontro entre desconhecidos
PESQUISA
Visita na UTI: um encontro entre desconhecidos
Visitation in the ICU: a meeting of the unknown
Visita en la UTI: un encuentro de desconocidos
Sônia Regina de Oliveira e Silva de SouzaI; Sandra Regina Ferreira ChavesII;
Cláudia Aparecida da SilvaIII
IEnfermeira, Mestre pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto - UNIRIO,
Professora-Assistente do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da
Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro -UERJ, Rio
de Janeiro, RJ. Chefe da UTI do Hospital Universitário Pedro Ernesto - HUPE.
sonia.enf@bol.com.br
IIEnfermeira assistencial da UTI do Hospital Universitário Pedro Ernesto -
HUPE, Rio de Janeiro, RJ. Especialista em terapia intensiva. hsth@oi.com.br_
IIIEnfermeira assistencial da UTI do Hospital Universitário Pedro Ernesto -
HUPE e da UTI do Hospital Quinta D'or, Rio de Janeiro, RJ. Especialista em
terapia intensiva. enfclaudiasilva@yohoo.com.br
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1. INTRODUÇÃO
A trajetória profissional no cuidado dos pacientes em estado crítico e de seus
visitantes na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), possibilitou a reflexão sobre
o cotidiano da equipe de enfermagem nos cuidados dispensados aos visitantes.
Percebe-se que a visita é uma extensão do paciente e cuidar dele também requer
cuidar das pessoas queridas. De várias formas os visitantes sofrem muito das
mesmas crises que os pacientes hospitalizados na UTI, freqüentemente mostram-se
ansiosos, temerosos e sentem-se muito desamparados em suas capacidades de
intervir e ajudar ao paciente(1).
Os visitantes sofrem porque se separam do paciente, pela ansiedade em relação a
doença e pelo que possa acontecer em virtude da pouca informação e contato
(horário de visita limitado e pouca disponibilidade de conversar com a equipe
que presta o atendimento).
Entende-se como visitante, a unidade social proximamente conectada ao paciente,
através do amor, podendo ter ou não laços legais ou de consangüinidade(2).
Acredita-se que o enfermo seja um segmento dos visitantes e que estes são de
vital importância para a recuperação da pessoa hospitalizada na UTI. Tais
visitantes precisam ser cuidados pela equipe de enfermagem para melhor
administrar a hospitalização do ente querido que se encontra na UTI.
Entretanto, a equipe de enfermagem ainda tem grande dificuldade para reconhecer
esta unidade social como cliente, e acabam por evitar um contato mais próximo,
por considerar que o único cliente seja o paciente hospitalizado, ou mesmo pela
própria incapacidade de lidar com os sentimentos de outras pessoas(3).
Diante da hospitalização de um ente querido na UTI, os visitantes geralmente
adoecem junto ao paciente, provocando uma desestruturação em níveis bio-psico-
social - espiritual, inicialmente marcado por um nível de ansiedade causado,
principalmente pelo risco de perda, desconhecimento do que está acontecendo e
pelas várias fases de espera (espera pelo horário de visita, por um
diagnóstico, por uma solução, por informação e ainda por uma palavra de
esperança)(4).
A equipe de enfermagem deveria estar sempre atenta, para prestar cuidado também
aos visitantes na UTI; essas observações e reflexões conduziram a elaboração
dos seguintes objetivos: descrever as concepções dos visitantes acerca do
cuidado prestado pela enfermagem a eles, identificar as necessidades sentidas
pelos visitantes diante da hospitalização do ente querido na UTI e analisar as
concepções dos visitantes acerca do cuidado dispensado a eles pela equipe de
enfermagem e suas necessidades.
Este trabalho visa a revisão do pressuposto de que a UTI é um local impróprio
para a permanência de visitantes, "frio, hostil, traumatizante". Este mito
precisa ser superado, abrindo-se as portas da unidade intensivista para que os
visitantes possam participar, a seu modo, do tratamento do paciente que se
encontra em estado crítico e em processo de recuperação, e que também recebam o
cuidado de acordo com suas necessidades.
A equipe de enfermagem poderá refletir sobre os problemas vivenciados em sua
prática cotidiana no sentido de se sensibilizar a fim de prestar um cuidado
ético, estético e humano aos visitantes, minimizando suas dores, seu estresse,
desesperos e angústias.
Objetivando-se mudar a dinâmica do cuidado dispensado aos visitantes na UTI,
traça-se, então como problema deste estudo: o que os visitantes de pacientes
hospitalizados na UTI acham do cuidado dispensado a eles pela equipe de
enfermagem? Desta forma, torna-se oportuno o surgimento do objeto de estudo, o
qual ficou centrado na concepção dos visitantes acerca do cuidado dispensado a
eles pela equipe de enfermagem e suas necessidades.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Teoria de Jean Watson
Durante muito tempo no decorrer da trajetória de desenvolvimento da UTI, os
visitantes não eram vistos nem valorizados pela Enfermagem. Atualmente estas
pessoas estão se tornando sujeitos da assistência pelos profissionais, que se
encontram unidos para humanização aos pacientes, visitantes e o ambiente da
UTI.
Portanto, este cuidado não pode ser fragmentado, centrado na patologia e
aparatos tecnológicos, mas visto como um momento de interação com a equipe de
enfermagem, a fim de se estabelecer uma relação de ajuda e confiança com os
visitantes.
Sobre estes aspectos faz-se justo eleger a teoria de Jean Watson(5), que
oferece concepções para fundamentar a assistência aos visitantes através de um
cuidado humano transpessoal.
Watson(5) acredita que o foco principal para a enfermagem está nos fatores de
cuidado que se derivam de uma perspectiva humanística, combinada com uma base
de conhecimentos científicos.
Os pacientes e visitantes necessitam de uma atenção integrada que promova a
assistência humana, a saúde e a qualidade de vida.
O cuidar é a essência da Enfermagem e conota sensibilidade entre a enfermeira e
a pessoa; o profissional co-compartilha com a pessoa. Isto pode ser
efetivamente demonstrado e praticado somente de maneira interpessoal, num
processo intersubjetivo(5).
A relação transpessoal do cuidado é a base da filosofia/ teoria de Watson(5),
que implica em preocupação com o mundo inteiro e subjetivo da pessoa, indo
muito além do ego e da relação que ocorre em um determinado momento; a relação
transpessoal alcança conexões profundas com o espírito e com o universo mais
amplo, facilitando e potencializando o processo de reconstituição.
Watson(5) elabora o cuidado de enfermagem sobre 10 fatores cuidativos, que
formam a estrutura para sua teoria:
1. A formação de um sistema de valores humanístico - altruísticos.
2. Promoção da fé - esperança.
3. Cultivo da sensibilidade para si mesmo e para os outros.
4. Desenvolvimento de uma relação de ajuda - confiança na relação humana do
cuidado
5. Promoção e a aceitação da expressão de sentimentos positivos e negativos.
6. A utilização do processo de cuidado criativo nas resoluções dos problemas.
7. O desenvolvimento de ensino e cuidado transpessoal.
8. Provisão de um ambiente de apoio integral
9. Assistência voltada para a gratificação das necessidades humanas
10. A permissão de forças existentes - fenomenológicas - espirituais.
Neste sistema de valores humanísticos ela considera o ser humano como um ser
único, indivisível, autônomo e com liberdade de escolha(5).
3. METODOLOGIA
A especificidade da temática levou a optar por um estudo descritivo com
abordagem qualitativa, no qual priorizou-se os discursos dos entrevistados.
Para produção dos dados foram entrevistados visitantes de 12 pacientes
hospitalizados na UTI de um hospital universitário do Rio de Janeiro, durante
os meses de março a maio de 2004, após a aprovação do comitê de ética da
instituição.
Adotou-se como estratégia para a coleta dos dados entrevista semi-estruturada.
Ao abordar os visitantes, apresentou-se o objetivo da pesquisa e após os
esclarecimentos, certificou-se o interesse em participar do estudo. Então
solicitou-se a autorização mediante o termo de consentimento livre e
esclarecido, atendendo as exigências éticas, conforme resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde(6).
Após a transcrição na integra dos depoimentos, utilizamos como método a análise
de conteúdo e como técnica a análise temática, a qual "consiste em descobrir os
núcleos de sentido que compõem a comunicação e cuja presença ou freqüência de
aparição podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido"(7).
Pretendeu-se assim, chegar a interpretação dos resultados à luz da teoria de
Jean Watson(5).
4. APRESENTANDO E DISCUTINDO OS DADOS
Dos depoimentos dos visitantes emergiram três grandes categorias:
4.1 Compreendendo a Experiência dos Visitantes Diante do Impacto da UTI.
A comparação e análise minuciosa dos dados possibilitaram descrever a
experiência dos visitantes, diante do impacto de vir a UTI visitar o ente
querido.
Em alguns discursos dessas pessoas evidenciou-se desespero, angústia e
fragilidade no momento de comparecer a visita. A esse respeito parecem muito
expressivas as seguintes falas:
"Uma coisa muito chata, muito angustiante, ver minha mãe nesta
situação que ela está. Vir ver minha mãe no UTI é realmente uma coisa
muito ruim...". (Dep 7)
"Para mim tá sendo uma barra muito pesada, que a gente não está
acostumado, cada dia que eu venho é uma aflição, chego lá em baixo,
já subo com o coração apertado, então chego aqui me dá um alivio
quando vejo meu filho ali, que ele tá ali graças a Deus aí eu já
começo a respirar melhor..." (Dep 1)
Na experiência diária em UTI observa-se que o mal-estar e a tristeza dos
visitantes são maiores que os sentimentos do próprio paciente e muitas vezes
acreditam que o ente querido está sofrendo mais do que ocorre de fato. O que os
olhos dos visitantes vêem nem sempre corresponde ao que o paciente está
sentindo.
A partir do momento em que a equipe de enfermagem identifica e reconhece tais
fragilidades dos visitantes na UTI, ela inicia o cuidado humano.
O cuidado humano pode ser efetivamente demonstrado e praticado somente de
maneira interpessoal. O processo de intersubjetividade humana ajuda a manter
vivo o senso comum das pessoas e ensina a equipe de enfermagem a ser mais
sensível com os visitantes(5).
Outro enfoque derivado dos depoimentos dos visitantes para compor esta unidade
de significado foi a desestruturação e mudança no cotidiano de vida. Estes
aspectos são bastante claros nos seguintes discursos:
"Para mim eu quase não consigo falar, está sendo horrível! dá um
aperto no peito aquela aflição, à noite não consigo dormir direito,
não consigo comer, eu só tenho ele aí já viu a falta que ele faz....
Quando eu vi aquele monte de aparelhos nele, me deu uma falta de ar,
parecia que eu ia morrer na hora, mas também não queria chorar ali,
fiquei só abafada. Quando eu cheguei em casa foi que eu desabafei..."
(Dep 1)
"Estou sem saber o que fazer. Sinto muito medo de acontecer alguma
coisa com ele, mas estou com muita fé em Deus."(Dep 2)
A doença e a hospitalização de um ente querido na UTI constitui um
desequilíbrio nos vínculos afetivos do paciente. A esse respeito Knobel(8)
ressalta que a situação de crise vivida pelos visitantes dos pacientes
hospitalizados na UTI, podem ser observadas no cotidiano de vida. Assim, essas
pessoas necessitam ser cuidadas pela equipe de enfermagem para melhor
administrarem esse momento.
Watson(5), no seu fator quatro de cuidado denominado, "desenvolver uma relação
de ajuda confiança", envolve uma necessidade de crença mútua da equipe de
enfermagem para com os visitantes, direcionados para o cuidado humano, como é
sem dúvida, a "essência da Enfermagem".
O medo da morte também aparece claramente. A esse respeito os visitantes
revelaram seus temores segundo os discursos abaixo.
"... eu não gostaria que minha mãe estivesse nesta situação, não me
sinto bem numa UTI, porque eu sei que uma pessoa que está na UTI está
em estado grave mesmo, é um estado crítico que pode vir a morrer a
qualquer momento...".(Dep 5)
"É triste vir ao CTI, a gente nunca quer vir, espera nunca ter
ninguém no CTI... mas um dia chega, quando é necessário então. Para a
gente tá sendo muito difícil, estamos muito preocupados com ele,
estamos com medo dele morrer..." (Dep 4)
Os depoimentos revelam que os visitantes sentem-se intimidados e temerosos com
a possibilidade de perder seu ente querido. Na imaginação deles, a UTI está
associada a morte e não ao resgate da vida.
O fator cinco de cuidado de Watson(5) sinaliza que a expressão de sentimentos
tanto positivos quanto negativos deveria ser facilitada no processo de cuidar,
porque tal expressão melhoraria o nível de comunicação entre pessoas. Os
sentimentos alteram os pensamentos e o comportamento. Assim precisam ser
considerados e permitidos em um relacionamento de cuidado aos visitantes, mesmo
quando esses são negativos.
4.2 Desvelando o Cuidado Dispensado aos Visitantes
Desta categoria foram criadas três subcategorias para facilitar a apresentação
e discussão dos dados.
4.2.1. A Valorização da Recepção e Interação na Forma de Cuidar
Esta subcategoria diz respeito a recepção e interação dos visitantes para com a
equipe de enfermagem.
Fora observada opiniões positiva quanto a recepção oferecida pelos enfermeiros
às pessoas que vão até a UTI visitar seu ente querido, conforme os discursos:
"Muito boa a recepção, pessoal agradável, quando tenho dúvidas vem
sempre uma resposta boa, tem sempre alguém para ajudar...". (Dep 4)
"Recebem muito bem a gente. Desde a primeira vez em que entramos no
CTI, nos trataram muito bem, graças a Deus não temos problemas..."
(Dep 3).
De acordo com esses depoimentos, percebe-se que a opinião dos visitantes, sendo
positivas a respeito da recepção pela equipe de enfermagem, promove o
envolvimento dos dois grupos atuantes no processo de cuidar, os profissionais e
as pessoas ligadas aos pacientes.
Embora a equipe de enfermagem preste uma assistência mais voltada para o lado
técnico, ela mostra-se sensível ao compreender a fragilidade dos visitantes na
situação em que se encontram, desamparados sendo, portanto, uma atitude
louvável recebê-los bem na UTI.
Quando inclui-se cuidado e amor na profissão, descobre-se que a enfermagem é
mais do que apenas um trabalho e sim uma ocupação de dar e receber, de crescer
e aprender por toda a vida(5).
Nos discursos abaixo, os visitantes desvelaram interação da equipe de
enfermagem no que tange a forma de cuidar dos visitantes.
"... eles estão dando bastante atenção, sempre estão vindo na gente,
vendo se a gente está bem. Estão atendendo a gente na medida do
possível, pois, todos trabalham muito, não têm tempo de dar muita
atenção, mas sempre que eu estava lá ia uma enfermeira falar
comigo..." (Dep 6)
"... Eu tô gostando muito do tratamento, não tenho o que falar, as
enfermeiras, pelo menos, as que estão participando, que estão falando
comigo estão sendo bem educadas estou bem informada para minhas
dúvidas..." (Dep 8)
Tais discursos são elucidativos quanto a valorização atribuída à interação com
a equipe de enfermagem na UTI. Tal processo é imprescindível para aqueles que
fazem visitas, durante esta experiência.
O terceiro fator de cuidado de Watson(5) fala do cultivo da sensibilidade para
si e para com os outros. Esse item explora a necessidade da equipe de
enfermagem em começar a sentir a emoção como ela se apresenta, pois é somente
através do desenvolvimento dos próprios sentimentos que se pode sensivelmente
interagir com o outro.
4.2.2. Pouca Comunicação Presente na Forma de Cuidar
Esta subcategoria diz respeito à comunicação dos visitantes com a equipe de
enfermagem
No que tange a este processo os visitantes expressaram desejo de aumento da
comunicação, conforme os depoimentos:
"... tem algumas enfermeiras que falam um pouco mais do paciente para
a gente, tem umas que às vezes não querem falar determinadas coisas
que perguntamos, porque preferem que o medico fale..." (Dep 5)
"... eu acho que as pessoas poderiam conversar mais com a gente né,
para a gente ficar sabendo mais do estado do nosso paciente, do que
ele está precisando..." (Dep 9)
Os discursos dos visitantes apontam uma dissonância entre as expectativas deles
e as prioridades da equipe de enfermagem, e deixam transparecer o desejo de que
se aumente a comunicação entre eles.
Não é suficiente deixar os visitantes entrarem na UTI; é preciso trabalhá-los
para potencializar o trabalho da enfermagem, é necessário questioná-los em suas
dúvidas, além de observar as emoções e comportamento(9).
4.2.3. Valorização dos Procedimentos Interferindo no Cuidado
Nesta subcategoria abordou-se a questão do horário de visita na UTI.
Algumas falas dos visitantes apontaram insatisfação quanto a este ponto,
apresentados nos discursos citados abaixo:
"... eu acho que o horário de visita tinha de ser mais prolongado um
pouco, pois sempre atrasa... aí vem alguém lá de dentro e
fala,"aguarde só um pouquinho", pois, está em procedimento. Assim que
acabar vamos deixar vocês entrarem..." (Dep 11)
"Eu acho que o horário de visita está bom, só deveria começar sempre
no horário certo, às vezes a gente fica esperando tanto tempo ali na
porta, é muito ruim, a gente fica ansioso mas preocupado com que está
acontecendo aqui dentro...". (Dep 6)
Esses depoimentos dos visitantes demonstram o quanto deve se repensar a prática
de enfermagem bem como os procedimentos usuais adotados na UTI em relação ao
horário de visita, e também ao próprio cuidado dispensado aos visitantes e a
permanência dos mesmos junto ao paciente.
O modelo biotecnológico e seus princípios básicos são tão enraizados no dia a
dia da equipe de enfermagem que, para cuidar dos visitantes exige uma mudança
que vai além do cuidado técnico, ou seja, transcende a um cuidado sensível.
Este procedimento não deve ser realizado apenas para reparar danos físicos, mas
requer envolvimento pessoal, social, moral e espiritual da equipe de enfermagem
consigo mesmo e com os visitantes numa dimensão transpessoal(5).
4.3. Visitantes Expressando suas Necessidades
Entre as necessidades expressas pelos visitantes, destaca-se o desejo de que a
equipe intensivista forneça informações. Essas necessidades foram expostas por
eles da seguinte forma:
"Quero ter notícias boas é o que espero: notícias boas. Eu sei da
situação dele né, às vezes eu acho que estou me enganando, mas aí no
outro dia eu venho, sinto que ele vai sair desta..." (Dep 1)
"Neste momento eu gostaria de estar sendo bem informada do estado
dele, e que as informações sejam honestas".(Dep 12)
Acredita-se que, submetida a circunstância de ter um ente querido na UTI, seja
natural que os visitantes, dentre outros sentimentos, tenham elevada ansiedade
por informação.
A equipe de enfermagem deve buscar um cuidado mais atencioso para comunicar-se
com os visitantes na UTI. Watson(5) ressalta a dimensão da estética do cuidado
humano transpessoal, que vai além do tempo, do espaço e da história de vida,
culminando numa união espiritual entre o ser que cuida e o que é cuidado.
Outra necessidade expressa pelos visitantes aponta em busca de bem estar do
paciente. Assim se expressaram:
"Só a melhora dela mesmo, não tem como, é só melhora dela para a
gente se sentir melhor, mais tranqüila..." (Dep 6)
"...eu ver ele bem né, chegar aqui ver ele acordado, ver ele falando
comigo eu acho que seria a melhor coisa deste mundo. Eu acho que
todos que tem um filho nesta situação uma das melhores coisas seria
isso; ver ele melhorando para sair logo daqui..." (Dep 1)
Tais colocação feitas pelos visitantes demonstram a necessidade de que o
paciente fique bem, para sair da UTI. Neste contexto destaca-se novamente o
fator três do cuidar de Watson(5), "ter sensibilidade consigo mesmo e com os
outros".A sensibilidade e a interação, conforme menciona a autora, são capazes
de levar a equipe de enfermagem a perceber nos visitantes aquilo que os olhos
não vêem, que as mãos não apalpam, mas que o coração é capaz de sentir. É a
capacidade de experimentar sentimentos de ternura, de compaixão e sentir
emoções. É no desenvolvimento dos próprios sentimentos que a equipe de
enfermagem pode realmente, de modo sensível cuidar dos visitantes.
Nas entrelinhas dos depoimentos identificou-se outra necessidade manifestada
pelos visitantes que o paciente seja bem tratado, conforme os depoimentos
apontam:
"Atenção, compreensão de vocês e o carinho que vocês tem com ela, o
cuidado; ela tá sempre bem limpa, isso para mim é um alívio. Aqui o
trabalho de vocês é muito bonito e é para continuar assim como muito
amor e carinho, pois é isso que os pacientes precisam e os visitantes
também". (Dep 11)
"Se vocês puderem cuidar sempre muito bem da minha mãe o que puderem
fazer para ela... o possível e o impossível para salvar a vida dela,
com certeza eu vou agradecer muito a vocês, eu vou pedir muito a Deus
para vocês ...". (Dep 5)
Observa-se nestes depoimentos dos visitantes a preocupação e a necessidade de
ter uma garantia de que seu ente querido está sendo bem tratado na UTI.
Muitas vezes ao entrarem na unidade intensivista os visitantes se deparam com o
paciente usando drenos, tubos, vários equipamentos com os quais a equipe da UTI
está acostumada, porém para os que estão visitando nesta unidade pode ser
assustador(10).
Os vários aspectos devem ser clareados para estas pessoas, pois desde o
aparecimento da doença até o estabelecimento do diagnóstico, ocorrem crises e
desajustes nos visitantes e estes precisam sentir-se apoiados e seguros,
esclarecidos em suas dúvidas e ainda na certeza de que o paciente está sendo
bem tratado neste ambiente que soa tão hostil(2).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegar ao final desta trajetória gerou motivação de refletir sobre o cuidado
dispensado aos visitantes dos pacientes hospitalizados na UTI por parte da
equipe de enfermagem e suas necessidades, o que reforça a importância de
incluir, verdadeiramente essas pessoas como clientes da equipe intensivista.
Neste estudo encontrou-se três grandes categorias: A experiência dos visitantes
diante do impacto da UTI, o qual possibilitou descrever a experiências dessas
pessoas; o cuidado dispensado aos visitantes, no qual tratou-se a recepção e
interação, comunicação e o horário de visita; as necessidades dos visitantes, o
que fez revelar suas mais sinceras necessidades.
Com relação ao impacto dos visitantes ao virem a UTI visitar a pessoa ali
hospitalizada, a angústia, o desespero e o medo da morte devem ser considerados
pela equipe de enfermagem, buscando assim, uma aproximação com estas pessoas
como parte do modelo de cuidar humano.
No que diz respeito ao cuidado pela equipe de enfermagem, àqueles que vão
visitar o ente querido na UTI fora emergida a valorização da recepção e
interação na forma de cuidar, apontou-se o desejo de aumentar a comunicação e
ainda plena consciência da valorização dos procedimentos interferindo no
cuidado.
Diante dos dados, os que são relacionados às necessidades dos visitantes, a
ênfase recaiu em aspectos que envolvem o fornecimento de informação, o desejo
que o paciente fique bem e seja bem tratado.
O estudo evidenciou que a equipe de enfermagem vem cada vez mais reconhecendo
os visitantes como clientes de cuidado, porém, o cuidado dispensado a eles
apresenta-se ambíguo na medida em que o valor dominante é uma assistência
fragmentada e técnica, por isso é preciso introduzir a humanização neste
cuidado.
Tornar a assistência humano em enfermagem leva a pensar em Watson(5), quando se
preocupa com a humanização no sentido de encontrar um equilíbrio entre a
tecnologia da saúde e o cuidado mais sensível, solidário, ético e estético.
Diante destes fatos recomenda-se à equipe de enfermagem da UTI privilegiar
novos modelos de cuidar centrados não só na doença e aparatos tecnológicos, mas
também nos visitantes como unidade de assistência. É importante ainda valorizar
cada vez mais a humanização da assistência aos visitantes e a adoção de um
eficaz sistema de comunicação, bem como incentivar a criação de espaços, como
sala de espera com melhor acomodação para que sejam promovidos encontros
rotineiros entre a equipe de enfermagem e os visitantes, e ainda repensar a
necessidade de evitar procedimentos no horário da visita. Sugere-se ainda a
organização de grupos de reflexão com a equipe de enfermagem a fim de discutir
a importância de privilegiar os visitantes como parte do cuidado, subsidiando-
os para prestarem um cuidado mais humanizado aos visitantes.