Avanços e desafios da enfermagem na produção científica sobre psoríase
INTRODUÇÃO
Na atual era de avanços científicos extraordinariamente progressivos, há uma
necessidade de ampliação da informação aproximando e consolidando saberes,
rompendo avanços e gerando novos conhecimentos. No que diz respeito à
enfermagem como profissão, a produção do conhecimento científico tem mostrado
um esforço em conjunto procurando desenvolver uma enfermagem na qual o cuidado
de qualidade deva assumir a primazia do nosso pensar e do nosso fazer. Essa
essência se percebe na crescente busca da produção do saber que emerge de um
legado e impulsiona para novos patamares da pesquisa, fazendo a diferença em
nossa geração.
A evidência de expressiva produção e divulgação do saber da enfermagem, firmada
na intercessão de variadas instâncias interdisciplinaridade, e na pluralidade
do conhecimento científico, tem alavancado grandes conquistas na profissão,
sobrepujando muitos paradigmas e desafios.
Nesse sentido, a produção de novos conhecimentos na enfermagem é primordial,
pois "sem esquecer o passado, viveremos e construiremos o presente na
perspectiva da superação dos desafios que se apresentarão em nosso futuro"(1).
Da mesma forma, o reconhecimento de uma profissão em âmbito nacional e
internacional e assim como sua visibilidade no cenário científico se faz na
medida em que esta produza ciência e, mais do que isto, divulgue o que produz,
sendo isto evidenciado pelo volume da produção publicada em periódicos
científicos da área específica ou das áreas afins(2).
Preliminarmente, convém destacar que a Psoríase é uma doença dermatológica,
inflamatória da pele, não contagiosa e crônica, que atinge de 1 a 3% da
população mundial e se manifesta em pessoas de todas as idades e de ambos os
sexos, atingindo igualmente homens e mulheres, sendo mais frequente na raça
branca. A doença pode se manifestar logo após o nascimento ou tardiamente no
idoso, entretanto é mais comum ter seu início entre a 2ª e a 4ª décadas de vida
(3).
Apesar de possuir causa ainda desconhecida, fenômenos emocionais são
frequentemente relacionados com o seu surgimento ou agravamento. Entre eles
estão o estresse e o uso de certos medicamentos, as mudanças climáticas e
algumas doenças como diabetes; que atuam como fatores desencadeantes de uma
predisposição genética para a doença. Além disso, cerca de 30% das pessoas que
possuem Psoríase apresentam histórico de familiares também acometidos por ela
(4-5).
A doença caracteriza-se principalmente pelo aparecimento de lesões róseas ou
avermelhadas, recobertas de escamas secas e esbranquiçadas que se alternam em
períodos agudos com fases de piora e de melhora. As principais regiões afetadas
são os joelhos, cotovelos, couro cabeludo, palmas das mãos e sola dos pés e, em
razão de suas características, pode ser confundida com outras doenças, tais
como micose, alergia e câncer de pele. Em alguns casos, pode apresentar-se
sistemicamente e assim se espalhar por todo corpo(4).
Por ser de curso crônico, não possuindo cura, a meta de seu tratamento
constitui em retardar a velocidade de reprodução das células epidérmicas, que
se encontra mais rápida que o normal nestes casos, buscando solucionar as
lesões psoríticas e controlar o ciclo natural da doença. Assim, o tratamento a
ser empregado dependerá do grau de suas manifestações e do comprometimento que
estas ocasionam(6-7).
A enfermagem sendo componente essencial da equipe de saúde que presta
assistência a esse paciente deve focalizar seu cuidado em como ele lhe dá com
sua enfermidade e qual o seu real impacto, já que esta doença está diretamente
ligada à questão da aparência das lesões e, portanto, da auto-imagem; do risco
de infecções já que a pele encontra-se com sua integridade prejudicada e com o
déficit de conhecimento sobre a doença e seu tratamento, podendo levar a
quadros de depressão e dificuldades de interação social.
Além disso, é da competência do enfermeiro qualificar sua equipe de enfermagem
para uma assistência integral eficaz ao cliente acometido pela doença,
inclusive no aspecto psicoemocional, e na maneira de lidar, evitando possíveis
constrangimento frente ao paciente.
Assim, o objeto deste estudo é a produção científica sobre Psoríase elaborada
pela enfermagem, tendo como objetivos analisar a produção científica de
enfermagem sobre psoríase, em uma base de dados virtual, examinando-se
abordagens e contribuições para o cuidado de enfermagem.
MÉTODOS
Diante do proposto, o estudo do tipo bibliográfico tendo sido realizado uma
revisão de literatura através de bases virtuais de dados. E, por compreender
uma grande amplitude de publicações e temáticas nas diversas áreas da saúde, a
base de dados utilizada para o desenvolvimento deste método foi Medline. Convém
informar que não foi encontrada qualquer produção nas bases virtuais Scientific
Eletronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS) e demais no âmbito da Biblioteca Virtual em Saúde,
utilizando-se, em português e inglês, o termo Psoríase associado à enfermagem.
Isso veio a reforçar a importância desse estudo.
Para se obter uma relação entre as publicações específicas da enfermagem com o
tema principal, foram utilizados como descritores "Psoríase/Psoriasis" e
"Enfermagem/Nursing" em português e inglês. Foram encontrados 53 artigos
publicados no período entre os anos de 1997 a 2008, entretanto foram incluídos
neste estudo apenas 21 destes. Os critérios de exclusão considerados foram:
publicação em outra língua além de português e inglês e a não disponibilidade
do texto online.
A análise foi realizada através do agrupamento dos artigos por quatro áreas
temáticas equivalentes, construídas pelos autores e observadas por sua
frequência de aparição.
A publicação científica de enfermagem acerca de Psoríase foi analisada e os
artigos foram agrupados quanto ao enfoque apresentado, tendo sido construídas
categorias quanto à fisiopatologia e investigação de diagnóstico diferencial,
tratamentos desenvolvidos atualmente, os reflexos psicológicos gerados no
paciente portador de psoríase e os cuidados gerais de enfermagem. Essas áreas
temáticas foram estudadas separadamente e analisadas quanto à sua devida
contribuição para o cuidado de enfermagem a pacientes portadores de Psoríase.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como resultado obteve-se a avaliação dos 21 artigos dentre os quais 19%
referiu-se à fisiopatologia e o diagnóstico diferencial, 48% sobre o
tratamento, 28% sobre os aspectos psicológicos, e 42% sobre os cuidados de
enfermagem.
Acreditamos que essas categorias são de fundamental importância para o
atendimento de enfermagem a estes pacientes, pois possibilitam a discussão de
novos achados diagnósticos e de novas terapias, propiciando avanços a partir
dos conhecimentos já adquiridos.
Assim, se segue à discussão específica de cada categoria considerando os
artigos incluídos no estudo. Muitos trazem mais de uma perspectiva e são
referenciados em mais de uma categoria.
Enfermagem e o enfoque na fisiopatologia e diagnóstico diferencial da Psoríase
Dos artigos analisados 19% (n=4) aborda sobre a fisiopatologia da Psoríase,
conforme é apresentado na Tabela_1.
Por apresentar diversas formas de apresentação, a Psoríase é classificada de
acordo com a área atingida e sua gravidade em: severa, moderada e leve. A
Academia Americana de Dermatologia classifica-a como severa quando esta afeta
10% da extensão corporal, como moderada quando de 3 a 10% do corpo afetado e
leve quando até 2% apresenta lesões.
De forma geral podemos considerar todas as suas formas como severas, pois todas
elas geram modificações na qualidade de vida dos pacientes, afetando-
o psicologicamente, mesmo que seus sintomas afetem uma pequena área do corpo,
como as palmas das mãos que equivalem a cerca de 1% da superfície do corpo(8).
Normalmente, as células da pele se reproduzem e proliferam em aproximadamente
28 dias. Durante esse processo as células migram para a camada basal da
epiderme. Na Psoríase o ciclo das células é acelerado, podendo ser reduzido a
quatro dias. Essa diminuição no tempo prejudica a maturação apropriada das
células e produzem falhas em sua queratinização. Consequentemente há um acúmulo
de queratina na camada córnea, resultando nas características apresentadas pela
Psoríase(9).
Não se sabe a causa exata da Psoríase, entretanto, fatores ambientais e
genéticos são considerados fatores-causa. Um estudo anterior constatou em uma
grande amostra populacional, que sua incidência é alta em pacientes que possuem
parentes próximos, de primeiro e segundo graus, que também a possuem(9). Em um
outro estudo, desenvolvido entre irmãos gêmeos fraternos e idênticos, a
incidência de psoríase também se mostrou elevada(12).
Evidências crescentes sugerem a poligenia como componente para Psoríase. Genes
múltiplos interagem com outros e com o ambiente ocasionando formas variadas de
Psoríase(12). Esses dados reforçam a suposição de que a predisposição genética
interfere significantemente para o desenvolvimento da Psoríase, entretanto
novos estudos precisam ser desenvolvidos.
Fatores ambientais são igualmente complexos. O agravamento por fatores
ambientais inclui: trauma, infecção, hormônios, luz do sol, medicamentos /
drogas, álcool, fumo e estresse(13).
O diagnóstico diferencial para Psoríase é feito através da análise clínica e
comparação das lesões, mas alguns exames complementares também podem ajudar na
exclusão de diagnósticos semelhantes.
Dos artigos encontrados 14% (n=3) aborda o tema de diagnósticos diferenciais,
conforme apresentados na Tabela_2.
Pacientes propensos a artrite tem seu diagnóstico definido pela clínica
sugestiva de inflamação (dor, limitação de movimento), mas não possuem
diagnóstico específico de artrite reumática. Para a perspectiva clínica, o
desenvolvimento da terapia baseia-se em sugestões dos aspectos clínicos,
abrindo uma "janela de oportunidades" de hipóteses para intervenção terapêutica
(10).
Bielan(14) descreve lesões de Psoríase nas mãos e pés realizando o diagnóstico
diferencial utilizando um caso clínico, analisando o aspecto das lesões,
levantando e comparando as hipóteses entre Tinea pedis; Psoríase com placas
escurecidas de Tinea; Psoríase isoladamente e Psoríase associada ao Sarcoma de
Kaposi(14).
Segundo o mesmo, a Tinea Pedis pode sempre ser considerada em caso de
descamação e para sua confirmação pode-se realizar o exame de KOH (hidróxido de
potássio), onde as raspagens da pele são dissolvidas e depois examinadas ao
microscópio, possibilitando resultado imediato. A confirmação do diagnóstico de
Psoríase neste caso se deu através do histórico do paciente e pela apresentação
de placas similares nos cotovelos, aberturas entre a pele e as unhas, além
disso, as placas de tinea são superficiais, não atingem camadas da derme,
portanto pacientes com Psoríase em mãos e pés dificilmente desenvolveriam Tinea
Pedis. Quanto à suspeita de Sarcoma de Kaposi, foi realizada biópsia do local
da lesão, confirmando este diagnóstico juntamente com as lesões psoríticas. Ele
ainda justifica-se pela não localização anatômica preferencial do sarcoma,
podendo surgir em qualquer local da pele e até nas membranas mucosas orais,
genitais ou oculares(12).
Bielan(14) descreve lesões nas nádegas e realiza a discussão entre o
diagnóstico diferencial, analisando o aspecto das mesmas, levantando as
hipóteses de Psoríase, Líquen Simples Crônico, Eczema Numular e Tinea Corporis.
Neste caso, a clínica apresentada era similar ao caso de Psoríase, entretanto
era pouco provável que se confirmasse porque as lesões psoríticas inserem-se em
um sítio por muitos anos e este não apresentava outras lesões em locais
clássicos, como cotovelo, joelhos. No Líquen Simples Crônico ocorre constante
prurido causado pela lesão, levando ao espessamento local progressivo da pele,
o que pode levar muitos pacientes a piorar as lesões; sendo esta a resposta
para o caso clínico apresentado neste caso. No Eczema Numular, as lesões
ocorrem mais comumente nas extremidades do corpo e também apresentam prurido
intenso, por isso a suspeita. E quanto a Tinea Corporis, causada por fungos
dermatófitos, também ocorre prurido intenso e placas, mas estas são
eritematosas e aumentadas nas bordas, com o centro mais claro(15).
Enfermagem e o tratamento da Psoríase
O tratamento da Psoríase pode ser dividido em tópico, sistêmico e fototerápico.
De forma geral, o tratamento tópico é utilizado em casos leves a moderados, o
fototerápico para casos onde a doença apresenta-se de moderada a grave e o
sistêmico apenas para as formas graves. Entretanto, nada impede que se adotem
dois desses tipos de tratamentos para o manejo de um único caso.
A escolha do tratamento deve ser avaliada a cada caso, considerando a ação que
irá desempenhar sobre a qualidade de vida desse paciente e sobre a apresentação
das lesões(25).
Dos artigos analisados, 48% (n=10) deles (Tabela_3) retrata alguma forma de
tratamento para a Psoríase, que será discutida adiante.
Anteriormente a eleição da medicação, deve-se analisar os fatores precipitantes
e/ou agravantes da doença para aquele indivíduo observando seu estilo de vida,
pois como visto, em muitas ocasiões é neste fator que se nota o início da mesma
(3). Além disso, o paciente e a família devem ser orientados quanto esta
terapia, já que muitas vezes pode ser esteticamente desagradável e trazer
grandes modificações nos hábitos de vida(4-5).
A terapia farmacológica varia em três formas: a tópica, que incluí loções,
pomadas, pastas, cremes e xampus que são formados por agentes que diminuem a
hiperatividade da epiderme não interferindo em outros tecidos; a intralesional,
apresentada na forma de injeções que podem ser aplicadas diretamente nas placas
psoríticas visíveis ou isoladas, resistentes a outras terapias, evitando-se que
as partes não afetadas sejam atingidas pela medicação; e a sistêmica utilizada
para formas graves da doença(4).
Alguns destaques sobre o Tratamento Tópico
Esta forma de tratamento é a mais utilizada nos casos de Psoríase, pois mesmo
em casos mais graves sua adoção certamente será exigida em alguma fase. O
tratamento tópico pode exigir muito do paciente, gerando certos incômodos e
modificações nos hábitos de vida. Elevado nível de frustração e insatisfação
foi encontrado em pacientes que utilizam esse método terapêutico, o que exige
do profissional de saúde grande apoio e observação quanto à adesão ao
tratamento(9).
Os emolientes são utilizados em grande escala e possuem a função de ajudar na
barreira lipídica da epiderme, prejudicada com a doença. São usados para lavar,
hidratar e como manutenção da terapia, proporcionando uma melhora da textura da
pele, redução da sua descamação, ofertando maior conforto e preparando a
epiderme para terapias mais ativas, pois diminuem a perda de água para o meio
extra dérmico. Entre outros efeitos menos explicados dos emolientes, estão a
ação anti-inflamatória, antimitótica e anti-pruriginosa(16).
Os análogos de vitamina D são anti-proliferativos e promovem a diferenciação da
queratina, sendo vantajosos agentes no tratamento de casos leves e moderados de
Psoríase. Em geral, são bem tolerados pelos pacientes, mas podem causar
irritação leve. Na presença de um algum tipo de doença severa seu uso deve ser
desconsiderado, pois em altas doses há um grande risco de hipercalemia e
hipercalciúria. O Calcitriol e o Tacalcitol são menos irritantes do que o
Calcipotriol, e podem ser utilizados na face e nas articulações(16).
Também são disponíveis fármacos que associam a vitamina D com cortiosteróides,
e podem ser úteis no tratamento de casos resistentes, entretanto, devem ser
usados com precaução devido à probabilidade de recaída da doença ou originar
agravamento para psoríase pustular. Apesar de eficaz, o uso do Alcatrão no
tratamento da psoríase está sendo desencorajado devido ao seu odor e coloração
residual. Contudo, ele continua disponível como cremes, pomadas, emulsões e
xampus(9).
Os corticosteróides tópicos também são utilizados com suas devidas precauções,
já que seu uso inadequado pode precipitar casos rebotes de psoríase,
desestabilizando a doença e induzindo à forma pustulosa. Por isso, seu uso é
limitado por áreas como face, couro cabeludo e articulações, e restrita a
formulações mais suaves. Sua exceção está nos casos onde a lesão psorítica
encontra-se na forma palmar-plantar, onde potentes corticosteróides tópicos
podem ser usados(9).
Acerca do Tratamento Fototerápico
Na falha da reposta do tratamento tópico, busca-se a adoção do tratamento
secundário que pode ser a fototerapia ou fotoquimioterapia(5). A fototerapia é
a irradiação de raios UVB enquanto a fotoquimioterapia utiliza a associação da
irradiação UVA em conjunto a uma droga fotoativa(9). Apesar de serem de fácil
manejo, oferecem a desvantagem de ser realizada de duas a três vezes na semana,
obrigando o paciente a comparecer ao atendimento hospitalar. Além disso, em
longo prazo essa prática oferece o risco de malignidade cutânea(7).
A balneo-fototerapia, na qual o paciente era exposto a luz solar logo após
tomar um banho em água rica em magnésio durante quatro a seis semanas, foi
sofrendo modificações. Atualmente, uma máquina específica é responsável pela
saturação de sais na água que varia de 5% a 15%, de acordo com a apresentação
da doença e depois do contato com essa solução a pele é exposta a radiação
ultravioleta B. Os efeitos adversos são: queimaduras, hiperpigmentação,
prurido, vesículas, queimadura da córnea se os olhos estiverem desprotegidos ou
fotosensibilidade(21).
Enfoques do Tratamento Sistêmico
Anteriormente, a adoção desta forma de terapia muitos pacientes que falhavam em
seus esquemas tópicos eram admitidos repetitivamente nos hospitais, com formas
mais extensas e graves da doença, como a psoríase postulosa generalizada,
eritrodermia e artropatia psorítica. Apesar da melhora atingida nesses casos, o
tratamento sistêmico adotado por longo prazo pode originar diversos efeitos
secundários tóxicos sendo, portanto, apenas utilizado através de uma conduta de
supervisão que garanta suporte ao paciente e reposta rápida a qualquer
intercorrência.
Melton(17) relata que em caso grave de Psoríase, onde não havia nenhum tipo de
recurso adequado, foi tratado com terapia analgésica através de morfina, o uso
de banhos de emersão, terapia de conservação de calor através de cobertores, a
aplicação de agentes hidratantes e o desbridamento das placas psoríticas, e
atingiram um resultado bastante significativo mostrando que em muitos casos
mesmo graves, a adoção de terapias mais simples pode ser suficiente.
A eleição da droga ou da combinação de drogas a ser empregada dependerá da
ocorrência de doenças pré-existentes (co-morbidades), dos tratamentos
anteriores e do estilo de vida(9). Geralmente incluem-se no tratamento
sistêmico (via oral) os retinóides ou imunossupressores, tendo como possíveis
efeitos colaterais, a supressão da medula óssea e insuficiência renal(18).
Nos últimos anos, um novo grupo de agentes sistêmicos tem sido criado para o
uso na psoríase, devido ao conhecimento de que a doença tem sua origem no
funcionamento inadequado do sistema imunológico, principalmente no que diz
respeito à ativação de linfócitos T(19). Essas drogas são conhecidas como
biológicas, pois são formulados através de derivados de fontes de estruturas
humanas, animais e/ou de plantas, mas seu uso deve ser controlado, pois geram
alto custo para os sistemas de saúde e possuem alto potencial de efeitos
colaterais graves(9).
Três diferentes tipos de terapias biológicas vêm sendo estudados para doenças
dermatológicas: os anticorpos monoclonais, as proteínas recombinantes humanas,
e a fusão de proteínas. Os anticorpos monoclonais são produzidos através de
engenharia recombinante buscando vincular-se com a célula-alvo em questão. Já a
criação de proteínas recombinantes humanas se dá através de cópias de proteínas
humanas normais que devem determinar alguma resposta fisiológica; entretanto,
nenhuma ainda foi comprovadamente eficaz. A fusão de proteínas constitui no
aglutinamento de duas proteínas com uma toxina que resultará em morte celular,
elas devem ser infundidas a um receptor humano específico que permitirá que sua
ação seja direcionada a um determinado componente celular. Como exemplo,
podemos destacar o Etanercept, utilizado no tratamento da artrite psorítica
(19).
Young(19) apresenta ainda a ação do Efalizumab (Raptiva™), um modelador das
células T que controla sua ativação e migração para a epiderme, através de
administração intravenosa e subcutânea. Em um estudo, pacientes que o tomaram
durante 12 semanas apresentaram melhoras em sua qualidade de vida quando
comparados ao grupo placebo.
O Alefacept (Amevive®, Biogen, Cambridge, MA), uma proteína recombinante por
infusão que diminui a circulação de células T de memória, utilizada no
tratamento da psoríase moderada e grave. Em um estudo feito com 229 pacientes
que receberam este medicamento via intravascular em bolus ou placebo durante 12
semanas, mostrou que 24% das pessoas do grupo medicado com Alecept obteve o
desaparecimento completo ou parcial de suas lesões, enquanto apenas 5% do grupo
placebo demonstrou alguma melhora. Este medicamento é geralmente bem tolerado e
as reações adversas encontradas foi injúria, cefaléia, faringite, rinite, e
prurido(20).
No tratamento para artropatia psorítica (PsA) o único tratamento aprovado é o
Etanercept, um inibidor de TNF, os outros tratamentos indicados para esses
casos são os mesmos utilizados para outras doenças imunológicas. Este deve ser
administrado por via sub-cutânea, duas vezes por semana. Pacientes em uso de
Etanercept podem receber vacinas concomitantemente, mas devem evitar vacinas
com antígenos vivos. Outros medicamentos como o Infliximab, Methrotrexat, o
Sulfasalazine e Cyclosporine já foram utilizados para o tratamento de PsA, mas
ainda estão em estudos(11).
Enfermagem enfocando os aspectos psicológicos da doença
Dos artigos encontrados 28% (n=6) abordam os aspectos psicológicos do paciente
e seu impacto na qualidade de vida (Tabela_4).
A Psoríase é uma doença com profundas consequências psicos-sociais, pois
apresenta o fato de ser visível superficialmente. Há significante morbidez
entre pessoas com esta doença, com grande porcentagem de privação de atividades
normais e sociais.
Indivíduos com psoríase apresentam estresse e dificuldades em seu local de
trabalho, relacionamento interpessoal, emprego e no uso de transporte e áreas
de lazer públicas. Essas dificuldades diminuem a interação social, facilitando
o isolamento e a depressão. A profunda morbidez, disfunção física e
psicossocial causada por esta doença, podem ser comparadas a experiências
similares de pacientes com câncer, artrite, hipertensão, doenças do coração,
diabetes e depressão(9, 22).
O impacto da doença na vida do paciente pode ser avaliada minuciosamente no
aspecto biopsicossocial, estruturada no Health-related Quality of Life (HrQL)
que possui quatro domínios: ocupacional, emocional, estado psicológico e
interação social, e sensações físicas(22).
Reconhecendo as experiências humanas múltiplas e complexas e suas
individualidades consideramos os quarto níveis: (a) o físico natural, dimensão
material (o físico incorporado a existência, sua interpretação de mundo); (b) o
social e cultural, dimensões públicas (atividades desenvolvidas socialmente,
com outras pessoas, entre contradições, precisando pertencer a algum grupo e
lidar com a possibilidade de isolamento, atitudes e valores sobre raça,
cultura, classe social, regras sociais, gênero); (c) o particular, e dimensões
psicológicas (a consciências das pessoas, seu nível humano de experiências,
tensão entre integridade e desintegração); (d) e o espiritual, interpretações e
a dimensão ideológica, sobre si mesmo (a existência humana e espiritual, senso
de valores, ideologias, olhar sobre a vida, morte e existência)(23).
Em recentes pesquisas pela National Psoriasis Foundation em 2002, 84% de 27.000
indivíduos pesquisados diagnosticados com psoríase apresentaram um impacto de
moderado a significativo no desenvolvimento de suas atividades; 75%
apresentaram insônia ou não conseguiam dormir o suficiente; 69% sentiam que a
doença interferia em suas atividades sociais e 25% estavam insatisfeitos com o
tratamento(25).
Diante da variada e complexa repercussão da doença na vida do cliente, há
necessidade de um empenho coletivo multiprofissional. Aliás, os processos de
produção de saúde constituem um trabalho coletivo e cooperativo, entre
sujeitos, que se faz numa rede de relações que exige interação e diálogo
permanentes e importa cuidar dessa rede de relações, especialmente, no cuidado
de enfermagem(26). Esse trabalho em conjunto reforçará, com certeza, os
benefícios ao cliente com Psoríase pois, o cuidado a essa clientela deve
enfaticamente envolver o empenho e intervenção multidisciplinar com vistas à
uma abordagem holística de qualidade.
Cuidados de enfermagem
Dos 21 artigos encontrados, 43% (n=9) enfoca os cuidados de enfermagem ao
cliente com psoríase, sendo descritas na Tabela 6, as principais abordagens de
condutas enfatizadas nas publicações (Tabela_5).
Os cuidados de enfermagem com a Psoríase abordados nos artigos estão voltados
principalmente: a) na orientação ao paciente, estimulando-o e orientando-
o quanto à melhoria da qualidade de vida através de apoio, aconselhamento,
educação e satisfação de suas necessidades médicas e emocionais, procurando
envolver o paciente e seu cuidado nos cuidados diários, tendo como retorno o
tratamento precoce e adequado, orientando-o sobre a importância de não "coçar"
as lesões; b) qualificação dos profissionais de enfermagem para o tratamento
eficaz da Psoríase; c) nos cuidados práticos de enfermagem, como manter as
unhas do paciente cortadas, prevenindo o surgimento de novas lesões, hidratar
diariamente a pele do paciente, manter o equilíbrio térmico, hídrico e
eletrolítico; e, d) avaliação do profissional através de observação diária,
entrevista, reflexão crítica de documentos e formulários, facilitando a
prestação de cuidados e trazendo benefícios sociais para estes pacientes,
avaliar o conhecimento do cliente (doença, tratamento e auto-cuidado) e avaliar
as influências da psoríase na vida do cliente.
A atitude dos médicos e enfermeiros em relação aos seus pacientes influencia no
bem-estar destes e o aumento da auto-estima está relacionado diretamente à
recuperação psicológica(23). Portanto, o cuidado de enfermagem vai além da
competência técnica, mas sim um cuidado livre de preconceito, focalizado no ser
humano, tendo a visão do ser na sua totalidade (física, emocional, social e
espiritual). Enfermeiras desempenham um papel importante com os os pacientes de
Psoríase na melhoria de sua qualidade de vida através de apoio, aconselhamento,
educação e satisfação de suas necessidades médicas e emocionais(8).
Na verdade, no que se refere a problemas que de modo geral se assemelham nas
questões que interferem na imagem corporal, o enfermeiro como profissional de
saúde comprometido com saúde e bem-estar de sua clientela, deve buscar as novas
conquistas, novas descobertas, que ao serem incorporadas ao cotidiano dos
serviços de saúde, trazem benefícios às pessoas. Prevenir doenças, promover a
cura, restituir saúde e bem-estar, entre outros, tornamse mais possíveis
através das informações que as pesquisas disponibilizam no mundo inteiro(31).
Esse resgate da produção científica da enfermagem acerca dos conhecimentos
voltados para o cuidar do cliente com psoríase nos reacende o compromisso com a
necessidade de busca de novas perspectivas e vertentes do cuidar rumo a avanços
acerca da temática, ampliando para uma visão social que insere essa clientela.
Nesse sentido, convém destacar um dos objetivos da produção e disseminação de
conhecimentos é o avançar na direção de modos de fazer ciência em enfermagem.
Faz-se necessário examinarmos o caminho percorrido, evidenciando os limites e
potencialidades de cada ação.
Frente à essa perspectiva, cabe reforçar que o conhecimento deve estimular a
cooperação, ser produzido em interação e interconexão com as necessidades
sociais, visando, no que se refere à saúde, promover um viver saudável para
todos(32).
CONCLUSÃO
A Psoríase continua sendo uma doença de causas indefinidas que gera em seus
portadores modificações estéticas e psicossociais, ocasionando alterações na
qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares.
Com a análise desta revisão, constatou-se que a maioria dos artigos ainda se
preocupa em retratar sobre as formas terapêuticas da Psoríase, seguindo pelos
aspectos psicológicos, a fisiopatologia e os diagnósticos diferenciais, e por
último discutir sobre cuidados específicos de enfermagem; mesmo que estes
estudos tenham sido escritos por profissionais enfermeiros.
A multiforme manifestação de intercorrências ligadas à doença traz a
necessidade de um empenho multiprofissional, que exige uma dinâmica de
continuidade nas interfaces do cuidado.
Não se deve deixar de destacar a importância de cada assunto abordado e a
evidente necessidade de novos estudos em todas essas áreas, já que são
essenciais para o desenvolvimento de uma melhor assistência a este paciente e
por se tratarem ainda de estudos pouco conclusivos, que ainda não marcam uma
real definição para o aparecimento da doença, ou uma terapia que garanta
eficácia e poucas reações e ainda um manejo definido.
É preciso considerar que a produção nacional de enfermagem sobre o assunto é
expressivamente escassa, pois grande parte dos estudos é de origem americana.
Isto nos faz refletir que mesmo diante desta patologia em seu cotidiano
profissional, a enfermagem brasileira ainda não está plenamente engajada no
desenvolvimento de discussões sobre este cuidado.
Sendo a enfermagem profissão responsável pelo cuidado integral a este paciente,
constitui-se grande desafio uma expressiva ampliação do conhecimento científico
a ser aplicado à prática junto ao cliente acometido de psoríase através de
novas pesquisas que abordem um plano de cuidados mais claros e específicos,
possibilitando a melhora da qualidade do serviço a esses pacientes.
O resgate de todo esse saber científico produzido pela enfermagem reforça a
perspectiva de um evidente desafio a ser conquistado que é maximização da
produção e divulgação do saber da enfermagem acerca desta temática, o que, com
certeza propiciará avanços mais expressivos ao conhecimento visando enfim os
benefícios de uma intervenção mais holística e de maior qualidade.