Câncer de mama: fatores de risco e detecção precoce
INTRODUÇÃO
O perfil da morbi-mortalidade brasileira vem sofrendo uma mudança intensa,
passando de doenças infecto-parasitárias a crônico-degenerativas, como o câncer
(1), tendo como principais causas as mudanças nos hábitos de vida e no perfil
epidemiológico da população(2).
O câncer de mama representa a principal causa de morte por câncer em mulheres
brasileiras, e em nível mundial cede o lugar apenas para o câncer de pulmão(3),
representando um grande problema de saúde pública em todo o mundo(2).
O Brasil tem acompanhado as altas taxas de incidência e mortalidade de câncer
de mama dos países desenvolvidos, porém as medidas necessárias à prevenção, ao
diagnóstico e ao controle da doença não têm sofrido o mesmo crescimento(4). Foi
estimado, para o ano de 2010, aproximadamente 49.240 novos casos de câncer de
mama, com risco de 49 casos a cada 100 mil mulheres, e uma sobrevida mundial de
61% após cinco anos(5).
O câncer de mama é raro antes dos 35 anos, crescendo rápida e progressivamente
com a idade(6), sendo descoberto, principalmente, entre 40 e 60 anos(4). Há
referência de que a doença vem atingindo um maior número de mulheres jovens(7).
É um dos tipos de câncer mais temidos pelas mulheres, devido à sua alta
frequência e efeitos psicológicos(6), tais como: alterações da sexualidade e da
imagem corporal, medo de recidivas, ansiedade, dor e baixa autoestima(3).
Os principais sinais e sintomas de câncer de mama são nódulo na mama e/ou
axila, dor mamária e alterações da pele que recobre a mama, como abaulamentos
ou retrações com aspecto semelhante à casca de laranja(6). Os cânceres de mama
localizam-se, principalmente, no quadrante superior externo, e em geral, as
lesões são indolores, fixas e com bordas irregulares, acompanhadas de
alterações da pele quando em estádio avançado(8).
Os principais fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de mama
relacionam-se com idade avançada, características reprodutivas, história
familiar e pessoal, hábitos de vida e influências ambientais. As
características reprodutivas de risco se dão porque a doença é estrogênio-
dependente(3), e compreendem a menarca precoce (aos 11 anos ou menos), a
menopausa tardia (aos 55 anos ou mais), a primeira gestação após os 30 anos e a
nuliparidade(6). A influência da amamentação, do uso de contraceptivos e da
terapia de reposição hormonal (TRH) após a menopausa ainda são controversas(6).
A história familiar e pessoal inclui as seguintes situações: um ou mais
parentes de primeiro grau com câncer de mama antes dos 50 anos, um ou mais
parentes de primeiro grau com câncer de mama bilateral ou câncer ovariano em
qualquer idade, parente com câncer de mama masculina, câncer de mama e/ou
doença mamária benigna prévios(4,6). Os hábitos de vida relacionados são a
obesidade, pelo aumento do nível de estrogênio produzido no tecido adiposo,
principalmente no climatério(9); uso regular de álcool acima de 60 gramas por
dia, pois o acetaldeído, primeiro metabólito do álcool, é carcinogênico,
mutagênico, estimulador da produção de estrogênio e imunodepressor(3); e a
influência do tabagismo ainda é controversa(8). A principal influência
ambiental é a exposição prévia às radiações ionizantes, sendo diretamente
proporcional à dosagem da radiação e inversamente proporcional à idade da
mulher na época da exposição(4).
Programas de prevenção primária evitam o aparecimento de doenças, mas não são
utilizados em relação ao câncer de mama devido às suas características
biológicas e recursos tecnológicos disponíveis(4). O controle dessa doença se
dá através da detecção precoce, na qual a lesão se restringe ao parênquima
mamário, com um tamanho de no máximo três centímetros, permitindo o uso de
recursos terapêuticos menos mutiladores e maior possibilidade de cura(10). Os
meios mais eficazes para a detecção precoce de câncer de mama são o exame
clínico de mamas (ECM) e a mamografia(6), pois o autoexame de mamas (AEM)
detecta a doença geralmente em estádio avançado, sendo responsável por cerca de
80% das descobertas de cânceres de mama(4).
O AEM não tem efeito adverso e possibilita a participação da mulher no controle
de sua saúde, devendo ser realizado mensalmente, entre o sétimo e o décimo dia
após a menstruação, nos quais as mamas encontram-se indolores, menores e menos
consistentes(4). Nos casos de climatério, histerectomia e amamentação, quando
não há menstruação, deve-se realizar o exame mensalmente, sempre no mesmo dia,
escolhido arbitrariamente(4). As desvantagens do AEM são o maior número de
biópsias de lesões benignas, falsa sensação de segurança nos exames falso-
negativos e impacto psicológico nos falso-positivos(4).
O ECM faz parte do atendimento integral à mulher, devendo ser inserido no exame
físico e ginecológico de todas as mulheres, independente da faixa etária,
servindo de subsídio para exames complementares(10). A mamografia é um exame
radiológico, de alto custo, dos tecidos moles das mamas, mais usado em mulheres
com 35 anos ou mais, que permite a identificação de alterações não perceptíveis
ao ECM, não substituindo o mesmo(4). A ultrassonografia é o exame de escolha
para mulheres com menos de 35 anos de idade, sendo também utilizado para mamas
densas, nódulos palpáveis com/sem mamografia negativa, processos inflamatórios
e grávidas com sintomas mamários(4).
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) preconiza a realização do ECM anualmente,
a partir dos 40 anos de idade; da mamografia, com intervalo máximo de dois
anos, após os 50 anos; da combinação dos dois exames anualmente, a partir dos
35 anos, para os grupos com risco elevado; e a garantia de acesso ao
diagnóstico, tratamento e seguimento para todas as mulheres com alteração nos
exames realizados(10).
As opções terapêuticas mais utilizadas para o tratamento locorregional do
câncer de mama são a cirurgia e a radioterapia, enquanto que para o sistêmico
são a quimioterapia, a hormonioterapia e a imunoterapia(10).
Devido à grande ocorrência de pacientes com câncer de mama, em tratamento
quimioterápico na Enfermaria de Ginecologia e Obstetrícia, do Hospital de
Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (EGO/HC/UFTM),
questionamos quais fatores de risco estariam relacionados a tal quadro,
identificando o conhecimento e a realização do autoexame de mama, exame clínico
de mamas e mamografia por estas mulheres, relacionando-os com a idade e a
escolaridade, a fim de propor ações de orientação quanto aos riscos e detecção
precoce do câncer de mama para proporcionar tratamentos menos mutiladores e
melhor sobrevida.
O presente estudo teve como objetivos identificar os fatores de risco, segundo
o INCA, para câncer de mama entre mulheres em tratamento quimioterápico na EGO/
HC/UFTM, identificar o conhecimento e a realização do autoexame de mama, exame
clínico de mamas e mamografia por este grupo de mulheres, e verificar a relação
entre o conhecimento e a realização do autoexame de mama, exame clínico de
mamas e mamografia com a idade e a escolaridade destas mulheres.
METODOLOGIA
Trata-se de estudo prospectivo, transversal, exploratório e descritivo. A
população de estudo compreendeu pacientes atendidas na EGO/HC/UFTM, para
tratamento quimioterápico contra câncer de mama. A coleta de dados iniciou-se
após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição, Protocolo nº
992/07, no período de outubro de 2007 a julho de 2008. Após a obtenção do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, os dados foram coletados por meio de
entrevista com as mulheres, pelas próprias pesquisadoras. A coleta foi
realizada durante o tratamento mencionado. O instrumento de coleta de dados foi
constituído de informações relativas à: identificação (iniciais, registro
hospitalar e escolaridade), fatores de risco (idade, antecedentes menstruais,
obstétricos, pessoais e familiares, e hábitos de vida), conhecimento e
utilização do AEM, ECM e mamografia.
A verificação da relação entre conhecimento e realização das estratégias
mencionadas, idade e escolaridade foi desenvolvida mediante a comparação
simples das informações com base em frequências estatísticas. Não foi possível
a aplicação de testes estatísticos em função da pequena casuística. Foram
entrevistadas todas as pacientes submetidas ao referido tratamento, no período
do estudo, acima de 18 anos e que concordaram em participar. A compilação dos
dados foi realizada no Microsoft Excel. As variáveis quantitativas foram
submetidas às medidas descritivas: média, desvio padrão, moda, mediana e
amplitude. Para as variáveis qualitativas foram obtidas distribuições de
frequência. Os dados foram discutidos com a literatura específica da área.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A população do estudo compreendeu 18 pacientes, não havendo recusa à
entrevista. Com relação ao perfil sócio-demográfico, a maioria, dez pacientes
(55,55%) era procedente de Uberaba/MG e 11 pacientes (61,11%), possuíam pelo
menos o ensino fundamental incompleto, sendo um perfil diferenciado em relação
às pacientes usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS), característico de
portadoras de câncer de mama, ou seja, com nível socioeconômico mais elevado.
Em relação ao tratamento quimioterápico realizado, 15 dessas mulheres (83,33%)
seguiam o protocolo de tratamento de Epirrubicina e Ciclofosfamida (EC), que
consiste no protocolo de primeira escolha para o tratamento de câncer de mama.
Durante o período de estudo, cinco pacientes (27,77%) precisaram retornar ao
tratamento seguindo outros protocolos, sendo eles o Paclitaxel e o CMF
(Ciclofosfamida, Metotrexato e 5-Fluoruacil). Não houve óbito durante o estudo.
A grande maioria das pacientes, 14 (77,77%) descobriu o câncer de mama através
do AEM, demonstrando a importância de sua realização, não só para o
conhecimento do próprio corpo, mas também para a detecção precoce de
alterações, como o câncer.
A média de idade foi de 49,66 anos, variando de 30 a 66 (desvio padrão de
11,42, de 38,24 a 61,08), sendo que a grande maioria, 15 pacientes (83,33%),
possuía 40 anos ou mais, assim como a maioria das mulheres matriculadas no
Hospital do INCA III para tratamento de câncer de mama em 2001, corroborando a
informação de idade avançada como um fator de risco para a doença(11). Apesar
do câncer de mama ser infrequente em mulheres jovens, ocorrendo antes dos 40
anos de idade em 6,5% dos casos(12), no presente estudo foi encontrado em
pacientes de 30, 32 e 38 anos, correspondendo a 16,66% dos casos.
A menarca ocorreu em média aos 12,5 anos, variando de dez a 17 (desvio padrão
de 1,72, de 10,78 a 14,22), sendo que a menarca precoce ocorreu em apenas seis
(33,33%) dos casos, refutando a maior probabilidade de desenvolvimento de
câncer de mama em mulheres que tiveram a menarca aos 11 anos ou menos.
Do total de pacientes, dez (55,55%) ainda não tinham apresentado menopausa.
Dentre as que já haviam apresentado, a média de idade de início foi de 51,12
anos, variando de 48 a 54 (desvio padrão de 2,03, de 49,09 a 53,15), não
ocorrendo menopausa tardia em nenhum dos casos, também discordando da
literatura. Como a média de idade das mulheres foi de 49,66 anos, dez (55,55%)
ainda não tinham 50 anos durante o estudo, não se podendo concluir com qual
idade elas entrariam no climatério.
Todas as pacientes tiveram pelo menos uma gestação, sendo que a idade da
primeira gestação foi em média aos 23,88 anos, variando de 16 a 34 anos (desvio
padrão de 4,86, de 19,02 a 28,74), sendo que para dez pacientes (55,55%) com 23
anos ou mais. O número de filhos foi de 3,16 em média, variando de um a 12
filhos (desvio padrão de 2,72, de 0,44 a 5,88), sendo que dez pacientes
(55,55%) tinham no máximo dois filhos. A literatura aponta como fatores de
risco a nuliparidade e gestação após os 30 anos de idade(4).
A amamentação, considerada como fator protetor quando praticada no mínimo por
seis meses, foi relatada por 12 das pacientes (66,66%), com uma média de 10,5
meses, variando de seis a 48 (desvio padrão de 12,35, de -1,85 a 22,85), sendo
que sete delas (38,88%) amamentaram no máximo um ano, porém esse fator protetor
ainda não está bem esclarecido na literatura.
O uso de contraceptivos orais esteve presente no relato de dez (55,55%) das
pacientes, variando de um mês a 16 anos de uso, sendo que sete pacientes
(38,88%) fizeram o uso por no máximo dez anos. A terapia de reposição hormonal
foi utilizada por apenas uma paciente, pelo período de um ano e meio. Esses
fatores de risco também ainda não foram muito bem estabelecidos, como mostra o
estudo com mulheres do Rio Grande do Sul no qual não foi encontrada relação
entre o uso de contraceptivos orais e o câncer de mama, evidenciando-se um
maior risco no subgrupo de mulheres usuárias por mais de cinco anos e idade
superior a 45 anos, mas sem significância estatística(13). Conforme revisão
bibliográfica realizada, o uso de TRH não está recomendado para mulheres
sobreviventes ao câncer de mama e, para aquelas que nunca tiveram a doença o
seu uso deve ser analisado como risco/beneficio, devendo ser utilizado em
baixas doses e por curto período de tempo, sendo reconsiderada em intervalos
regulares(14).
Com relação à história familiar, 17 pacientes (94,44%) não possuíam parente de
primeiro grau com câncer de mama, sendo que a única resposta sim correspondia a
uma irmã com câncer de mama antes dos 50 anos de idade. Nenhuma paciente
possuía parente de primeiro grau com câncer de mama bilateral, câncer ovariano
ou com câncer de mama masculina. A história familiar como fator de risco para o
câncer de mama é o mais aceito para a comunidade científica, pois dados na
literatura confirmam que o risco aumenta de duas a três vezes quando a mulher
possui mãe ou irmã com câncer de mama, sendo que se for ambas o risco aumenta
mais, principalmente se foi diagnosticado em idade precoce(4).
Cinco pacientes (27,77%) apresentaram lesões benignas prévias e uma teve câncer
de mama prévio, sendo que conforme a literatura o risco aumenta em cinco vezes
para recidiva de câncer de mama(4). As pacientes não souberam especificar as
lesões benignas prévias, não podendo ser comparado com a literatura.
Sobre o hábito alimentar, dez pacientes (55,55%) referiram manter dieta rica em
gordura animal e rica em fibras - 12 pacientes (66,66%). Cinco pacientes
(27,77%) possuíam índice de massa corporal normal; cinco apresentavam sobrepeso
(27,77%); quatro, obesidade em grau I (22,22%); e quatro obesidade em grau II
(22,22%). Conforme a literatura, a gordura animal é fator de risco para
desenvolvimento de câncer de mama, principalmente quando consumidos na infância
e adolescência, enquanto que a dieta rica em fibras constitui-se um fator de
proteção(4). Em estudo realizado em João Pessoa/PB, observou-se que o consumo
de carne vermelha e frituras pode aumentar o risco para o desenvolvimento de
câncer de mama, enquanto que a ingestão de frutas, feijão e leite podem atuar
como protetores(15).
Em nenhum caso houve relato de exposição prévia e contínua a radiações
ionizantes, um fator de risco apontado pelo INCA.
Metade das pacientes referiu hábito de tabagismo em algum momento de sua vida,
com uma média de uso de 10,62 cigarros por dia, variando de dois a 20 (desvio
padrão de 7,68, de 2,95 a 18,3), numa média de uso de 13,66 anos, variando de
dois a 36 meses (desvio padrão de 10,10, de 3,56 a 23,76), sendo que uma
paciente não sabia informar a quantidade utilizada por dia. Apenas uma paciente
referiu etilismo, com ingestão de dez copos de cerveja por dia durante dez
anos. O tabaco é apontado como fator de risco para o desenvolvimento de câncer
em geral, principalmente de pulmão e colo de útero, não sendo diretamente
relacionado ao câncer de mama. O etilismo, para o grupo em estudo, não se
mostrou como fator de risco predominante entre as mulheres, mas supõe-se que
veio a contribuir como um fator a mais para desenvolvimento de câncer de mama
na mulher em questão.
Ao serem abordadas sobre o conhecimento e a prática do AEM, todas as pacientes
referiram já ter ouvido falar e a grande maioria, 16 pacientes (88,88%) o
praticava. Em outro estudo, com pacientes consultadas no Programa de Mastologia
do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Goiás, 75% conheciam o AEM e
a maioria (51%) o praticava(16).
Dentre as 16 mulheres que realizavam o AEM, a maioria (87,50%) iniciou essa
prática após os 35 anos de idade, da mesma forma que em estudo realizado no
Ambulatório de Especialidades da Faculdade de Medicina de Jundiaí e de Unidades
Básicas de Saúde, em que a maioria das mulheres que não realizavam o autoexame
de mama possuíam menos de 35 anos de idade(17). A grande maioria, 12 pacientes
(75%), realizava-o em qualquer época do mês, e pelo menos uma vez por mês 14
pacientes (87,50%), enquanto que dados do mesmo estudo referem que 39,82% das
mulheres realizavam o AEM pelo menos uma vez por mês(17). Em estudo realizado
na cidade de Pelotas/RS, demonstrou-se que 80,4% das mulheres realizavam o AEM
pelo menos uma vez por mês. Esse conflito de dados pode estar associado ao
diferente nível socioeconômico existentes entre as cidades de Jundiaí e
Pelotas, em que Pelotas apresenta um nível de escolaridade maior que Jundiaí
(7). Em nosso estudo, observa-se que apesar de a maioria das mulheres não
conhecerem a periodicidade correta do AEM, a maioria o praticava pelo menos uma
vez por mês.
Onze pacientes (68,75%) realizavam o AEM abrangendo toda a mama, porém apenas
duas (12,50%) abrangiam também as regiões axilar e supra clavicular, sendo
essas as principais áreas de identificação de linfonodos metastáticos. Nove
pacientes (56,25%) observavam as mamas em repouso no espelho, porém apenas
cinco (31,25%) as observavam com a movimentação dos braços, fazendo com que a
qualidade do AEM fosse perdida, pois não conseguiriam observar abaulamentos ou
retrações ao movimento dos membros superiores. Nenhuma paciente realizava todas
as etapas do AEM corretamente. No momento da entrevista foram feitas
orientações em relação à prática correta do AEM e sua importância, pois cabe ao
profissional de saúde realizar orientações sobre a promoção de saúde e a
prevenção de doenças. As pacientes que não realizavam o AEM possuíam 30 e 49
anos. Dentre as que o realizavam, sete pacientes (43,75%) faziam pelo menos
três etapas corretas, sendo a maioria, nove pacientes (56,25%) com 44 anos ou
menos. Dentre as que realizavam a maior parte do AEM de forma errada, cinco
pacientes (55,55%) tinham 60 anos ou mais. Isso demonstra que, apesar das
mulheres terem iniciado a prática de AEM com 35 anos ou mais, a maioria que o
praticava corretamente estava nas faixas etárias menores.
A literatura aponta ainda para a necessidade de se responder às demandas da
velhice, o que impõe para este segmento populacional uma assistência específica
e integral(18). O significado do autoexame de mamas para mulheres em tratamento
contra câncer de mama mostrou-se ser sinônimo de prevenção e cuidado com a
própria saúde(19).
Uma das pacientes que não realizava o AEM não tinha o ensino fundamental
completo e outra não era alfabetizada. Dentre as que praticavam pelo menos três
etapas do AEM corretamente, quatro pacientes (57,14%) tinham pelo menos o
ensino fundamental completo e, dentre as que praticavam a maior parte errada,
seis pacientes (66,66%) tinham apenas o ensino fundamental incompleto. Esses
dados sugerem que quanto maior o nível de escolaridade maior é a prática
correta do AEM.
Em relação ao ECM, 15 pacientes (83,33%) já tinham ouvido falar a respeito e 14
(77,77%) o realizavam. Dentre as 14 pacientes que se submetiam ao ECM, oito
(57,14%) o realizavam antes dos 35 anos de idade e 11 o realizavam pelo menos
uma vez por ano (78,57%), sendo encontradas alterações anteriores em três
(21,42%) dos casos. Em estudo realizado com mulheres trabalhadoras de
indústrias têxteis de Botucatu/SP, 85% se submetia ao ECM pelo menos uma vez
por ano(20).
Todas as pacientes que nunca tinham ouvido falar no ECM e/ou não o praticavam
possuíam 60 anos ou mais. Esse fato faz supor que as mulheres com idade
avançada tenham vergonha em se submeter ao ECM realizado por um profissional de
saúde.
Dentre as que não se submetiam ao ECM conforme a periodicidade preconizada pelo
Ministério da Saúde, de uma vez por ano, as idades foram de 30, 38 e 65 anos.
Todas as pacientes que nunca tinham ouvido falar no ECM e/ou não o praticavam
possuíam escolaridade de, no máximo, ensino fundamental incompleto,
demonstrando a influência da maior escolaridade na realização do ECM.
Em relação à mamografia, 17 das pacientes (94,44%) já tinham ouvido falar e
nove (50%) já haviam realizado o exame, sendo que, das que não haviam
realizado, seis (66,66%) possuíam 40 anos ou mais e já deveriam ter realizado a
mamografia pelo menos uma vez, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde.
Dentre as nove pacientes que já haviam realizado a mamografia, oito (88,88%)
realizaram após os 35 anos de idade e pelo menos uma vez por ano (66,66%). Em
três (33,33%) dos casos haviam sido encontradas alterações na mamografia.
A maioria, seis das pacientes (66%), que não realizava mamografia tinha menos
de 50 anos e a mesma porcentagem corresponde àquelas que não realizavam
mamografia e tinham no máximo ensino fundamental incompleto, também
demonstrando a influência da escolaridade nas práticas de saúde.
CONCLUSÕES
A partir das respostas obtidas e dos resultados do presente estudo, observamos
que alguns fatores de risco e proteção foram confirmados e outros refutados, o
que pode ter sido ocasionado pela pequena população do estudo.
As pacientes em tratamento quimioterápico para câncer de mama na EGO/HC/UFTM
possuem um perfil diferenciado em relação à maioria dos pacientes usuários do
SUS, pois são principalmente da cidade de Uberaba e possuem pelo menos ensino
fundamental incompleto, característico de pacientes com câncer de mama,
enquanto observa-se que pacientes com câncer de colo uterino são de um nível
socioeconômico inferior.
Em relação aos fatores de risco e de proteção apontados pelo INCA, observou-se
no grupo em estudo uma concordância da ocorrência com idade avançada, uso de
contraceptivo oral, presença de lesões benignas prévias, obesidade e dieta rica
em gordura. Outros fatores não estiveram presentes entre a maioria das
mulheres, como menarca precoce, menopausa tardia, nuliparidade, primeira
gestação após os 30 anos de idade, amamentação, dieta rica em fibra, uso de
TRH, história familiar de neoplasia, tabagismo, etilismo e exposição a
radiações ionizantes.
O AEM mostrou-se como de conhecimento de todas as mulheres e de prática entre a
maioria, porém nenhuma delas realizava todas suas etapas corretamente,
demonstrando que há uma necessidade de maior informação à população feminina,
passo a passo, sobre a realização do mesmo, de forma clara e concisa. A maioria
das mulheres iniciava sua prática com 35 anos ou mais, sugerindo que nessa fase
da vida elas passam a se preocupar mais com o seu corpo e a terem mais medo do
aparecimento de doenças crônicas, como o câncer. A prática correta do AEM
esteve presente entre as mulheres mais jovens. Apesar das mulheres mais velhas
praticarem mais o AEM, essas também o realizavam de forma errônea.
O ECM foi apontado como prática frequente entre a maioria das mulheres
estudadas, nos intervalos recomendados, estando mais prevalente entre as mais
jovens, provavelmente pela vergonha das mulheres com idade mais avançada em
submeter-se a esse exame.
De acordo com o Ministério da Saúde, as mulheres com 40 anos ou mais devem
realizar a mamografia de dois em dois anos, contudo a maioria das mulheres
participantes deste estudo, nessa idade nunca o havia feito. Isso pode se dever
ao elevado custo do exame e das extensas filas de agendamento para realizá-lo
pelo SUS.
Houve uma relação entre conhecimento do AEM, ECM e mamografia com a
escolaridade, de tal forma que quanto maior a escolaridade maior seu
conhecimento e sua prática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante experiência em estágio extracurricular de dois anos em sessões de
quimioterapia contra câncer ginecológico na EGO/HC/UFTM, foi possível perceber
a importância da atuação do enfermeiro direcionada a essas mulheres. A maioria
traz consigo muitas crenças sobre a doença, o tratamento quimioterápico e
cuidados a serem tomados. É importante respeitar a cultura das pacientes, e ao
mesmo tempo fazer orientações adequadas sobre a patologia, o tratamento, os
efeitos colaterais, alimentação e as condutas em emergências. É necessário
estabelecer um contato harmônico com essas pacientes, a fim de tornar o
processo de tratamento o mais humanizado possível, para que se sintam seguras e
acolhidas.
A maioria dessas pacientes referiu ter descoberto o câncer de mama através do
AEM, porém nenhuma o realizava de forma totalmente correta. Podemos supor que
os meios de comunicação, principalmente a televisão estejam informando sobre a
importância da realização do AEM, contudo não explicando todas as suas etapas.
É preciso estar atento ao fato de que as propagandas são direcionadas a um
público de um nível de escolaridade mais alta já que não são totalmente claras
e objetivas.
Durante as entrevistas realizadas, mais de ¼ das mulheres relataram que já
haviam descoberto alterações na mama seja por AEM, ECM ou mamografia, porém o
profissional de saúde não valorizou tal queixa ou achado clínico. É necessário
que o profissional de saúde esteja realmente envolvido no processo de saúde-
doença do paciente, realizando um atendimento integral e levando em
consideração as queixas da pessoa. Acreditamos que dessa forma, o atendimento
se torne mais humano e resolutivo.