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BrBRCVHe0034-71672011000600011

BrBRCVHe0034-71672011000600011

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0034-7167
ano2011
Issue0006
Article number00011

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Protocolo de cuidados de enfermagem no ambiente aeroespacial a pacientes traumatizados: cuidados antes do voo

INTRODUÇÃO O número de pacientes vítimas de trauma excede os outros tipos de intercorrências clínicas. Em vítimas de trauma, os cuidados pré-hospitalares podem fazer a diferença entre a vida e a morte, entre uma sequela temporária, grave ou permanente ou ainda entre uma vida produtiva e uma destituída de bem- estar(1).

Para uma assistência pré-hospitalar eficiente, é primordial que os profissionais de saúde sejam bem treinados para a rápida identificação das condições do paciente, tenham habilidade no atendimento de vias aéreas, do provável choque e em procedimentos de imobilização. A equipe pré-hospitalar deve assegurar que o paciente seja transportado para um hospital adequado. Às vezes, não esse hospital pode estar a quilômetros de distância, como um centro de trauma pode ser mais distante ainda(1). Nesse caso, o uso do helicóptero torna-se um importante recurso para manter a vida das vítimas de trauma.

A preocupação com a assistência a essa clientela deu origem ao Prehospital Trauma Life Support - PHTLS(1). O PHTLS visa a aperfeiçoar a avaliação e o tratamento das vítimas de trauma, e tem princípios básicos, como o atendimento aos pacientes segundo a sequência do ABCDE: A (Airway) - atendimento das vias aéreas e controle de coluna cervical; B (Breathing) - respiração; C (Circulation) - circulação; D (Disability) - incapacidade; e E (Expose) - exposição da vítima e proteção do ambiente. Essas letras indicam a prioridade do atendimento e direcionam o profissional de saúde para que não esqueça e/ou cometa erros na assistência ao paciente, contribuindo para um cuidado mais seguro(1). Porém, esse protocolo é específico do ambiente pré-hospitalar e não discute as especificidades da assistência ao paciente aerorremovido.

Os procedimentos de enfermagem, quando acontecem dentro de um helicóptero, encontram situações adversas em relação aos procedimentos realizados num ambiente hospitalar, como: espaço reduzido dentro da aeronave; altitudes que variam de 500 a 5.000 pés (1 equivale a 0,33cm) em relação ao solo; condições climáticas instáveis e ruídos constantes. Além disso, no ambiente aeroespacial temos os chamados estresses de voo para o usuário aerorremovido: vibração, ruídos, aerodilatação (expansão gasosa nas cavidades corporais devido à queda da pressão atmosférica), alterações de temperatura e umidade. À medida que a altitude aumenta, esses fatores estão mais presentes no interior da aeronave, provocando desconforto ,tanto no paciente quanto na equipe a bordo (2).

O transporte por helicóptero requer uma preparação prévia do paciente, que deverá estar o mais estabilizado possível, pois, dentro da aeronave, devido à limitação do espaço físico interno, a mobilidade do enfermeiro pode ser limitada. A estabilização, como em qualquer atendimento de emergência, deve ser primeiramente dirigida para a via respiratória, depois para a situação hemodinâmica e, por fim, ao estado neurológico(3).

O transporte aéreo do paciente criticamente enfermo somente terá sucesso se for realizada uma criteriosa avaliação da situação, o que incluí o acesso terrestre da aeronave e a estabilização do paciente antes do voo. A equipe deve ser adequadamente preparada para o correto manuseio de todo o material necessário ao atendimento durante o voo. O sistema de comunicação pessoal precisa estar perfeito e, naturalmente, a tripulação de voo deve possuir as qualificações exigidas para operar a aeronave e realizar um transporte seguro para todos(4).

Dessa forma, para contribuir para o preenchimento da lacuna gerada pelo fato de, até o momento, não se ter um protocolo para atendimento a pacientes que serão removidos em helicópteros, justifica-se o desenvolvimento desta pesquisa convergente assistencial, que teve como objetivo o de apresentar um protocolo de cuidados de enfermagem na pré-remoção aeroespacial de pacientes adultos vítimas de trauma.

MÉTODO Este é um estudo de abordagem qualitativa que utilizou como método a Pesquisa Convergente Assistencial (PCA), cuja característica principal é manter, durante todo o seu processo, uma estreita relação com a situação da prática assistencial, pois possui a intenção de encontrar soluções para problemas, realizar mudanças e/ou introduzir inovações na assistência(6).

A PCA inclui cinco fases: i) concepção (introdução, justificativa, questão de pesquisa, objetivo, revisão de literatura e referencial); ii) instrumentação (escolha do espaço físico, dos participantes e métodos); iii) perscrutação (estratégias ou instrumentos para obtenção dos dados); iv) análise e interpretação (essa fase permeia todo o processo de desenvolvimento da pesquisa e culmina no item seguinte); v) apresentação do protocolo de cuidados de enfermagem na pré-remoção aeroespacial(6).

O estudo foi realizado na base da Divisão de Operações Aéreas (DOA) do Departamento de Polícia Rodoviária Federal (DPRF), localizada na cidade de São José-SC. Trata-se de uma parceria criada através de um acordo entre o Ministério da Justiça via DPRF e Ministério da Saúde via Secretaria do Estado da Saúde/Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) do estado de Santa Catarina (SC), em dezembro de 2005. O serviço conta com hangar e um helicóptero, modelo Bell 407, configurado com todos os materiais e equipamentos de suporte avançado de vida, tripulado por um comandante/piloto, um operador de equipamentos especiais, um enfermeiro e um médico.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC (Processo 453/2009) e teve o consentimento formal das instituições participantes para a coleta de dados. Os participantes foram informados previamente sobre o objetivo do estudo, assim como acerca das técnicas de coleta adotadas. Todos os oito enfermeiros do DOA concordaram em participar e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A coleta de dados foi realizada nos meses de abril a junho de 2010 e ocorreu em duas etapas. A primeira constou de entrevista semiestruturada e individual, com os oito enfermeiros, que responderam a seguinte questão norteadora: "Quais cuidados de enfermagem são necessários para apresentar um protocolo assistencial específico para a pré-remoção aeroespacial de pacientes adultos vítimas de trauma?". Com o consentimento prévio dos participantes, todas as entrevistas foram gravadas e, em seguida, transcritas.

Os dados das entrevistas foram analisados de acordo com o conteúdo do ABCDE do PHTLS, observando-se os cuidados de enfermagem específicos ao período que antecede o voo de helicóptero.

As entrevistas foram realizadas com o intuito de adquirir informações de cada enfermeiro, a partir da experiência individual adquirida durante o serviço, sobre quais cuidados de enfermagem devem constar no protocolo de cuidados e qual a prioridade dos cuidados e/ou se o profissional tem ou teve alguma dificuldade no atendimento a alguma vítima.

A segunda etapa constou de três encontros em grupo, os quais ocorreram em local, dia e hora combinados com os participantes e tiveram, em média, duração de três horas. As discussões em grupo tiveram a finalidade de socializar as informações obtidas nas entrevistas e, a partir disso, em conjunto com os enfermeiros participantes, desenvolver o protocolo de cuidados fundamentado no conteúdo do PHTLS.

No primeiro encontro foi apresentada e entregue a cada um dos participantes uma folha impressa, com a análise das entrevistas e, assim, discutiu-se o protocolo do ABCDE do PHTLS. Esse momento permitiu aos enfermeiros expressarem suas ideias e opiniões, olharem a situação e identificarem carências ou problemas e discrepâncias, como por exemplo, facilidades ou dificuldades na assistência antes do voo. Continuando os trabalhos, foi iniciada a elaboração dos cuidados de enfermagem, na qual se construiu uma sequência de atendimento ou de cuidados de enfermagem no ambiente aeroespacial baseada nos dados das entrevistas e no PHTLS. Todos os participantes anotavam o que estava sendo produzido na folha entregue no início do encontro.

Nos trinta minutos finais desse encontro, foram divididos entre os enfermeiros, por afinidade, os conteúdos do protocolo: i) orientações de segurança para o voo de helicóptero no embarque e desembarque; ii) avaliação da cena; iii) avaliação primária (A - atendimento das vias aéreas e controle da coluna cervical, B - respiração, C - circulação, D - incapacidade, E - exposição e ambiente); iv) avaliação secundária (princípios, exame das fases e outros cuidados). Cada participante teve a tarefa de, na reunião seguinte, trazer a justificativa científica relacionada a cada cuidado de enfermagem referente à etapa ou fase do atendimento que ficou sob sua responsabilidade.

O segundo encontro iniciou com a entrega da relação dos cuidados de enfermagem produzidos na reunião anterior e, em seguida, foi realizada a leitura dos mesmos. Assim, deu-se continuidade à elaboração de mais cuidados, de justificativas e foi aberto um espaço para solucionar dúvidas, fazer ajustes e incluir novos cuidados, com suas respectivas justificativas científicas. Nesse momento, o protocolo começou a ganhar forma.

Por fim, no terceiro e último encontro, os participantes trouxeram as justificativas e a análise de viabilização de cada um dos cuidados de enfermagem que estava a seu encargo, concluindo o protocolo. Primeiramente foi realizada uma leitura em conjunto de todo o protocolo de cuidados. Na medida em que os cuidados e as justificativas eram lidos, ajustes finais iam sendo realizados, bem como a melhora da escrita e da forma. Além disso, foi analisada a viabilidade de cada cuidado e sua justificativa devido aos condicionamentos e limitações que a realidade administrativa do serviço no momento impõe.

O PROTOCOLO DE CUIDADOS DE ENFERMAGEM ANTES DO VOO Esse protocolo contempla os cuidados de enfermagem que devem ser realizados ao paciente adulto vítima de trauma no período que antecede o voo. O material contém as principais orientações de segurança no voo de helicópteros e garante, por meio da avaliação de cena, um ambiente mais seguro para a equipe e os pacientes durante o atendimento. O paciente deve ser examinado de maneira que as funções vitais sejam rapidamente analisadas e estabilizadas. Também as condições de risco de morte devem ser identificadas por meio da avaliação sistemática de vias aéreas, ventilação, circulação, incapacidade (estado neurológico) e exposição. Vale ressaltar que, apesar de apresentados em uma sequência linear, os procedimentos podem ser realizados simultaneamente pela equipe.

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CONCLUSÃO O método utilizado nesta investigação propiciou aos enfermeiros a oportunidade de repensar a prática do cuidado. O protocolo apresentado possibilitará aos enfermeiros sistematizar a assistência, orientando as ações necessárias para o cuidado. Além disso, poderá servir para dar visibilidade ao papel do enfermeiro de bordo no trato ao paciente traumatizado.

O modo como foi estruturado o protocolo deverá facilitar o seu uso pelo enfermeiro em cada plantão, devido a sua praticidade em determinar a conduta a ser seguida com segurança.

A transferência dos resultados não é a de generalizações e sim de socialização.

Todavia, nada impede que esse protocolo possa ser transferido para outros cenários/contextos semelhantes. Lembrando que esse instrumento de cuidados de enfermagem aplica-se apenas para pacientes com trauma e para o atendimento que antecede o voo diurno, pois o helicóptero desse serviço não realiza voos noturnos que, por sua vez, exigem uma tecnologia diferenciada. Além disso, uma limitação desse estudo é não contemplar os importantes cuidados que precisam ser aplicados durante e após o transporte aéreo.

Espera-se também que a experiência vivenciada nesse estudo pelos enfermeiros de bordo sirva como estímulo para a realização de novas pesquisas no sentido de modificar, aprimorar e de instrumentalizar a enfermagem aeroespacial, não a pacientes traumatizados, mas aqueles com outros agravos de saúde.


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