Padrões de dados, terminologias e sistemas de classificação para o cuidado em
saúde e enfermagem
INTRODUÇÃO
A informação é o elemento central para o processo de decisão e um requisito
fundamental para a gestão e prestação qualificadas da atenção à saúde. O acesso
à informação é reconhecido como aspecto fundamental para o planejamento, o
funcionamento, a supervisão e o controle dos programas assistenciais da saúde
(1). Nesta perspectiva, acredita-se que os profissionais de saúde destacam-se
entre os que mais necessitam e utilizam a informação para o desenvolvimento de
suas atividades (2).
A informação é essencial para o gerenciamento e o cuidado de Enfermagem,
requerendo interpretação e integração de complexas informações clínicas, que
subsidiam o enfermeiro na tomada de decisão, especialmente, no tocante à
resolução e minimização dos problemas de saúde. O grande desafio é determinar
que informação o enfermeiro necessita para gerenciar qualitativamente os
cuidados de Enfermagem, uma vez que o volume de informações sobre os pacientes
cresce de forma acelerada e o registro manual torna-se cada vez mais ineficaz
por não garantir o armazenamento e gerenciamento dessas informações(3).
Frente a essa realidade exposta, os Sistemas de Informação e a Informática são
os mais novos recursos disponíveis que podem aprimorar, organizar e fortalecer
o cuidado de Enfermagem, fornecendo em tempo real todo e qualquer dado que o
enfermeiro necessita para o desenvolvimento de suas ações. O grau de
crescimento e desenvolvimento da Informática e dos Sistemas de Informação
proporciona diversas possibilidades de utilização na área da saúde e da
Enfermagem, tais como: concepção de novas ferramentas de apoio; administração
dos serviços de Enfermagem e dos recursos facilitadores do cuidado em saúde;
gerenciamento de padrões de dados/informações sobre o paciente para a prestação
do cuidado e; união dos recursos de pesquisa e aplicações educacionais à
prática de Enfermagem(1,4-8).
Torna-se relevante destacar que atualmente existem muitos padrões de dados para
o cuidado na área de informação em saúde sendo especificados pela comunidade
internacional de expertos em Saúde e Ciência da Informação e que, tais padrões,
colaboram para a troca, gerenciamento e integração de informações eletrônicas
de saúde(9,10). Entende-se por padrão o preconizado pela International
Organization for Standardization (ISO), ou seja, um padrão é um documento
aprovado por um organismo reconhecido que provê, pelo uso comum e repetitivo,
regras, diretrizes ou características de produtos, processos ou serviços cuja
obediência não é obrigatória(12).
Os padrões da ISO e de outras grandes entidades internacionais são derivados de
acordos e consensos voluntários entre delegações nacionais e outras partes
interessadas, como fornecedores, usuários, entidades de regulação governamental
e consumidores. Por consenso, acordam-se especificações e critérios que devem
ser consistentemente aplicados na produção ou na provisão dos serviços em
questão(11,12). Os padrões internacionais garantem um modelo de referência e
uma linguagem tecnológica comum para o fornecimento e consumo de produtos e
serviços, o que facilita a transferência de tecnologia e o acesso à informação
(10,12,13).
A utilização de padrões para o registro eletrônico é essencial para a
recuperação e análise da informação, mas para que os profissionais da saúde
realizem a documentação, um vocabulário que padronize os termos clínicos da
prática assistencial diária deve ser adotado. A padronização destes termos
clínicos deve atender critérios como validade, especificidade, recuperação dos
dados e facilidade de comunicação e ainda, possuir fácil entendimento,
codificação e ser intuitivo aos profissionais(14,15).
Diante destas considerações, surgiu a seguinte questão: "quais os principais
padrões de dados, terminologias e sistemas de classificação utilizados
mundialmente na área da saúde e, em especial, na enfermagem, que permitem aos
profissionais obter acesso, recuperação e análise das informações sobre os
pacientes?".
Este questionamento motivou a busca de conhecimentos nas publicações
científicas e justificam o presente estudo, pois se entende que apreender e
proporcionar visibilidade a esta temática, haja vista seu aspecto inovador e
transformador, contribui para o gerenciamento e a qualidade do cuidado de
enfermagem e, consequentemente, para a segurança do paciente.
A partir do contexto abordado, este estudo de revisão integrativa objetivou
identificar nas publicações de periódicos nacionais e internacionais indexadas
nas bases de dados os principais padrões de dados, terminologias e sistemas de
classificação utilizados no cuidado em saúde e na Enfermagem.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de revisão integrativa de estudos científicos publicados
no período entre 2005 a 2011. As etapas da revisão integrativa da literatura
proposta neste estudo estão alicerçadas em uma estrutura de trabalho definida
por um protocolo previamente elaborado, as quais foram adotadas visando manter
o rigor científico, a saber: 1) seleção da pergunta de pesquisa; 2) definição
dos critérios de inclusão de estudos e seleção da amostra; 3) representação dos
estudos selecionados em formato de tabelas, considerando todas as
características em comum; 4) análise crítica dos achados, identificando
diferenças e conflitos; 5) interpretação dos resultados; e, 6) reportar de
forma clara a evidência encontrada. Estas etapas constituíram um protocolo a
ser seguido(16).
A estratégia/sintaxe de busca para identificação e seleção dos estudos foi
através do levantamento bibliográfico de publicações indexadas nas seguintes
bases de dados: Medical Literature and Retrivial Sistem on Line (MEDLINE),
Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL) e Scientific
Electronic Library Online (SCIELO). As bases de dados MEDLINE e CINAHL foram
acessadas através dos links disponibilizados pela Biblioteca Universitária da
Universidade Federal de Santa Catarina (BU/UFSC) no endereço eletrônico <http:/
/www.bu.ufsc.br/>. A base de dado SCIELO foi acessada através do portal da
Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), disponível no site <http://www.bireme.br/
php/index.php>.
A pesquisa nas bases de dados foi realizada em Janeiro de 2012 e os estudos
encontrados em mais de uma base de dados foram considerados somente uma vez. Os
critérios adotados para seleção dos artigos foram: todas as categorias de
artigo (original, revisão de literatura, reflexão, atualização, relato de
experiência, entre outros); artigos com resumos e textos completos disponíveis
com acesso gratuito para análise; disponibilizados nos idiomas português,
inglês ou espanhol; publicados entre os anos de 2005 a 2011 e; artigos que
continham em seus títulos e/ou resumos e/ou palavras-chave os seguintes
descritores: Sistemas de Informação, Informática em Enfermagem, Informática
Médica, Sistemas Computadorizados de Registros Médicos, Terminologia e
Nomenclatura Sistematizada de Medicina e suas respectivas traduções em inglês e
espanhol. O recurso utilizado na pesquisa foi a opção "termo exato" durante a
realização das buscas.
Para a realização do presente estudo, as pesquisadoras optaram por não incluir
na busca nas bases de dados terminologias e/ou sistemas de classificação
específicos da área da enfermagem, tais como, CIPE, NANDA, NIC, NOC, OMAHA,
entre outros, associados aos descritores pesquisados. Esta opção se baseou no
questionamento inicial de identificar as principais terminologias e sistemas de
classificação utilizados na atualidade pela Enfermagem, possibilitando, assim,
que outros padrões de dados para acesso à informação, organização, registro e
recuperação das mesmas fossem identificados nos estudos selecionados e
analisados.
Os critérios de exclusão adotados foram: estudos que apresentaram os
descritores pesquisados somente no corpo do texto, ou seja, estudos que não
continham em seus títulos, resumos e/ou palavras-chaves os descritores
pesquisados e; publicações que não apresentavam o resumo disponível para
leitura preliminar. Dos 104 artigos obtidos, selecionou-se 91 estudos para
análise após aplicação dos critérios de exclusão.
Do material obtido, procedeu-se à leitura minuciosa de cada resumo e,
posteriormente do artigo na íntegra, destacando aqueles que responderam ao
objetivo proposto por este estudo a fim de organizar e tabular os dados. A
seguir, foram extraídos os padrões de dados, as terminologias e os sistemas de
classificação em saúde e Enfermagem abordadas em cada artigo. Os mesmos foram
comparados e agrupados por similaridade de conteúdo, sob a forma de categorias
empíricas, sendo construídas duas categorias para análise, assim especificadas:
"padrões de dados para o cuidado em saúde e enfermagem" e "terminologias e
sistemas de classificação em Enfermagem".
RESULTADOS
Na base de dados SCIELO foram analisados dez artigos (11%), na CINAHL vinte e
três estudos (25%) e na MEDLINE cinquenta e oito publicações (64%), sendo 71%
(65) dos artigos publicados em periódicos estrangeiros e 36% (26) publicados em
periódicos nacionais. Vale ressaltar que durante a busca realizada na base de
dados CINAHL, o item "excluir estudos da MEDLINE" foi selecionado visando a não
duplicidade de estudos disponíveis nas duas bases.
Padrões de dados para o cuidado em saúde e Enfermagem
A partir desta revisão, observou-se que os descritores Sistemas de Informação,
Informática em Enfermagem, Informática Médica, Sistemas Computadorizados de
Registros Médicos, Terminologia e Nomenclatura Sistematizada de Medicina
contemplam estudos que destacam os principais padrões de dados utilizados como
sistemas de informação apoiados pela tecnologia da informática como ferramentas
de suporte para o cuidado em saúde e Enfermagem.
Um dos padrões de dados que se destaca na área da saúde é a Systematized
Nomenclature of Medicine Clinical Terms - SNOMED CT - (Nomenclatura
Sistematizada da Medicina). Esta nomenclatura começou a ser elaborada a partir
de 1965, no Colégio Americano de Patologistas, sendo denominada, nesta época,
Pathology-Specific Nomenclature - SNOP. A primeira versão da SNOMED foi lançada
em 1974 e, desde então, as versões foram atualizadas e publicadas, entre elas:
SNOMED versão 3.5 em 1998; SNOMED RT em 2000. Em 2002 o SNOMED, tornou-se
SNOMED CT (Systematized Nomenclature of Medicine Clinical Terms), resultado da
união do SNOMED RT com o Clinical Terms versão 3 da National Health Service
(NHS) do Reino Unido(17-20).
O desenvolvimento da SNOMED CT envolveu um grande número de profissionais e de
organizações de saúde. Aproximadamente cinquenta médicos, enfermeiros,
farmacêuticos, profissionais da ciência da computação, entre outros, estão
diretamente envolvidos com a modelagem dos dados desta terminologia. Foram
formados grupos especializados por áreas da saúde para desenvolver cada
terminologia específica com o objetivo de fornecer um domínio específico para
cada área de atuação (exemplo: enfermagem; farmácia, medicina), visando
garantir a qualidade deste padrão de dados para o cuidado em saúde(21).
A SNOMED CT é uma padronização do vocabulário médico, uma terminologia clínica,
sistematizada, hierarquizada, composta de conceitos, descrições e correlações e
considerada fundamental para reunir informação clínica no cuidado ao paciente,
para recuperar informação no manejo da doença ou para pesquisa, assim como,
para conduzir a análise de resultados. Trata-se de uma nomenclatura multiaxial
criada para indexar o conjunto de registros médicos; inclui sinais e sintomas,
diagnósticos e procedimentos(17-21), abrangendo a maior parte das necessidades
de documentação/registro de saúde(22). Este padrão de dados permite a
integração completa de todas as informações médicas, em um registro médico
eletrônico dentro de uma estrutura única de dados. Ou seja, seu objetivo é
representar de forma precisa as informações no escopo da área da saúde e
facilitar a estruturação e a interoperabilidade entre os sistemas de
informação, permitindo a codificação, o armazenamento, a troca e a agregação
dos dados clínicos(17-20).
Um estudo de revisão de literatura, realizado em 2008, investigou nas
publicações científicas indexadas na base de dados MEDLINE/PubMed como a SNOMED
tem sido estudada e aplicada na prática clínica. Este estudo incluiu artigos
publicados entre os anos de 1966 a 2006, totalizando 250 trabalhos. Os
resultados apontaram que o número de publicações está aumentando anualmente,
bem como, o número de domínios/áreas que utilizam este padrão, demonstrando sua
aplicação clínica para além da patologia. Entretanto, apesar da longa
existência, da evolução contínua e do aumento do número de publicações
referentes à SNOMED, a pesquisa realizada considerou que poucos estudos estão
disponíveis para utilização na prática clínica, uma vez que a maioria está
direcionada para a comprovação do valor deste padrão de dados para a teoria
(23).
Os estudos analisados apontaram que a SNOMED CT é um padrão de dados abrangente
e multilíngue, pois se trata de uma terminologia clínica cientificamente
validada, que permite capturar, compartilhar e agregar, de forma consistente,
os dados de saúde nas diversas especialidades clínicas e nos vários locais de
atendimento à saúde. Ressalta-se que seus principais benefícios se referem à
possibilidade de maior acesso à informação das condições clínicas do paciente,
onde e quando for necessário, bem como, a recuperação e transmissão dos dados
em formato eletrônico e o compartilhamento de tais informações entre os
profissionais de saúde(24,25). Prevê-se que SNOMED CT será a terminologia geral
para os registros eletrônicos de saúde substituindo os sistemas de
classificação existentes, como a Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde - 10ª revisão (CID-10)(25).
Em 2006, a SNOMED e o International Council of Nurses (ICN) anunciaram uma
parceria para promover a integração da Classificação Internacional para as
Práticas de Enfermagem (CIPE®) ao SNOMED CT. Esta parceria possibilitará às
instituições de saúde onde o SNOMED CT é utilizado, o mapeamento dos conceitos
da CIPE® através deste padrão de dados para o cuidado(26).
O Health Level Seven International (HL7) é outro padrão de dados identificado
nos estudos analisados. Fundada em 1987, o HL7 é uma organização sem fins
lucrativos acreditada pela American National Standards Institute (ANSI) que se
dedica a definir, construir e fornecer padrões de interoperabilidade para a
troca, gerenciamento, compartilhamento, integração e recuperação de dados
clínicos e informações administrativas sobre serviços de saúde prestados aos
pacientes(27). Ou seja, o HL7 cria padrões que aperfeiçoam e reduzem a
ambiguidade das informações e que melhoram o atendimento e a transferência de
conhecimento entre os profissionais de saúde, agências governamentais e não
governamentais e pacientes(27-31).
Outro padrão de dados encontrado nas publicações é o Logical Observation
Identifiers Names and Codes (LOINC®). Trata-se de um esforço de voluntários do
Regenstrief Institute, entidade sem fins lucrativos de investigação médica
associada à Universidade de Indiana/EUA, internacionalmente respeitada. O
LOINC® foi iniciado em 1994 por este instituto e desenvolvido pela comissão
LOINC® como uma resposta à necessidade da circulação eletrônica dos dados
clínicos laboratoriais. Este padrão de dados para o cuidado tem como objetivo
facilitar o intercâmbio e a partilha de resultados clínicos para o atendimento
médico clínico, os resultados da gestão e da investigação, fornecendo um
conjunto universal de códigos e nomes para identificar outras observações
clínicas e laboratoriais. O banco de dados do LOINC® contém as habituais
categorias laboratoriais, tais como: química, hematologia, sorologia,
microbiologia (incluindo parasitologia e virologia), toxicologia, categorias de
drogas, contagem de células, antibióticos, etc. A parte clínica do LOINC®
inclui dados para registro dos sinais vitais, hemodinâmica, admissão/alta,
eletrocardiograma, ultrassonografia obstétrica, ressonância cardíaca,
procedimentos gastroendocópicos, ventilação pulmonar, escalas de pontuação
clínica (exemplo: Escala de Coma de Gasglow) e outras observações clínicas(32-
34).
A Fundação openEHR, sem fins lucrativos, foi criada com o propósito de definir
padrões abertos para o desenvolvimento de sistemas de informação em saúde, com
foco no Registro Eletrônico do Paciente (Electronic Health Record - EHR ). O
desafio principal aqui proposto é que os sistemas de informação em saúde
representem a semântica do setor. Tecnicamente, o openEHR é a criação de
especificações, de software livre e de ferramentas para tal plataforma e, no
contexto clínico, envolve a criação dos modelos clínicos de alta qualidade
associado às terminologias da área da saúde(35-39).
No Brasil, o Padrão Troca de Informação em Saúde Suplementar - TISS, da Agência
Nacional de Saúde Suplementar/Brasil (ANS), define o padrão para a troca de
informação sobre o atendimento prestado aos beneficiários, entre operadoras de
plano privado e prestadores. O objetivo do padrão TISS é atingir a
compatibilidade e interoperabilidade funcional e semântica entre os diversos
sistemas independentes para fins de avaliação da assistência à saúde (caráter
clínico, epidemiológico ou administrativo) e seus resultados, orientando o
planejamento do setor. O padrão TISS se divide em 4 categorias: conteúdo e
estrutura, representação de conceitos em saúde, comunicação, e segurança e
privacidade(36,40).
Na Enfermagem, o Nursing Minimun Data Set - NMDS (Conjunto de Dados Mínimos de
Enfermagem) representa a primeira tentativa de padronizar os dados essenciais e
uniformes para a prática de Enfermagem. O NMDS é derivado do conceito do
Uniform Minimum Health Data Set - UMHDS (Conjunto de Dados Mínimos Uniformes em
Saúde) estabelecido em 1983 pelo Health Information Policy Council (Conselho de
Políticas de Informação em Saúde) do U.S. Department of Health and Human
Services (Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos)(1,41-
43).
Este padrão de dados é conceituado como um conjunto mínimo de elementos de
informação, com definições e categorias uniformes específicos da Enfermagem,
que satisfaz as necessidades de informação dos usuários de dados múltiplos no
sistema de atenção da saúde(42). O NMDS apresenta como: a) permitir a
comparação das atividades de Enfermagem nos distintos cenários de cuidado,
populações clínicas, zonas geográficas e tempos; b) descrever o cuidado de
Enfermagem dos pacientes e seus familiares em uma variedade de ambientes, tanto
institucionais como não institucionais; c) demonstrar ou projetar as tendências
observadas na prestação do cuidado de Enfermagem e os recursos de Enfermagem
designados aos pacientes conforme seus problemas de saúde e os diagnósticos de
Enfermagem; d) incentivar as investigações (pesquisas) de Enfermagem utilizando
os vínculos com os dados detalhados existentes nos sistemas de Enfermagem e
outros sistemas de informação sanitária e; e) proporcionar dados sobre o
cuidado de Enfermagem para facilitar e influenciar sobre a adoção de decisões
em relação às políticas clínicas, administrativas e sanitárias(1,41).
O NMDS compreende dezesseis elementos divididos em três categorias amplas e
integrados, assim especificados: a) quatro elementos de cuidado de Enfermagem:
diagnóstico, intervenção, resultados, e intensidade do cuidado de Enfermagem b)
cinco elementos demográficos correspondentes aos pacientes: identificação
pessoal, data de nascimento, sexo, raça e etnia, residência e; c) sete
elementos do serviço: número da agência do serviço de saúde, número de registro
único de saúde do paciente, número de registro único do profissional de
Enfermagem que prestou o cuidado, data da admissão, data de alta, dados de
encaminhamento do paciente, dados sobre o tipo de pagamento pelo serviço
prestado(1,41-45).
Destaca-se que, todas as outras terminologias/sistemas de classificação de
Enfermagem desenvolvidas mundialmente são derivadas do NMDS. Neste sentido,
considera-se que a acessibilidade aos dados do NMDS é fundamental para a
construção do conhecimento na prática de Enfermagem, para mensuração da
contribuição da Enfermagem no sistema de cuidado em saúde, bem como para o
fornecimento de condições que determinem os custos desta contribuição para o
paciente e a sociedade(46).
Terminologias e sistemas de classificação em Enfermagem
A Enfermagem moderna teve sua origem a partir dos ensinamentos e das
preocupações de Florence Nightingale com o estabelecimento de normas para a
organização do cuidado. Nesse período ela já considerava que os enfermeiros
deveriam documentar todos os cuidados ministrados. Observa-se com este
ensinamento que, ao longo da construção da sua história, a Enfermagem tem
buscado uma uniformização para registro/documentação dos métodos assistenciais
praticados(1).
A partir de 1960, o desenvolvimento de dois sistemas de classificação mudou o
enfoque no ensino e na prática da enfermagem. A primeira classificação,
denominada "21 problemas de Abdellah", descreveu os objetivos terapêuticos da
enfermagem enfocando, principalmente, as necessidades dos pacientes
(terapêutica das necessidades) e os problemas de enfermagem (terapêutica de
problemas). Em 1966, a segunda classificação, "14 necessidades humanas básicas
de Henderson", descreveu os cuidados necessários para qualquer paciente,
independente do diagnóstico e/ou terapêutica instituídos. Ambos os sistemas de
classificação contribuíram para estimular os enfermeiros a identificar os
problemas terapêuticos do pacientes e, posteriormente, os diagnósticos de
enfermagem e, por isso, são considerados precursores da sistematização do
conhecimento de enfermagem por meio das taxonomias(47,48).
A partir de 1970, o desenvolvimento e o uso de terminologias ou sistemas de
classificação na Enfermagem foram difundidos como forma de descrever a prática
de Enfermagem, bem como, determinaram qual a contribuição da profissão para a
prevenção, o alívio, a resolução dos problemas de saúde e quais os resultados
que os enfermeiros se propunham a alcançar(47).
As terminologias são conjuntos predefinidos e acordados de termos, mediante os
quais se descrevem os conceitos importantes de Enfermagem de maneira uniforme
com respeito aos diagnósticos, intervenções e resultados de Enfermagem. A
principal finalidade, portanto, de uma terminologia estruturada e acordada
entre os enfermeiros é demonstrar o valor da Enfermagem e sua contribuição na
atenção à saúde. Com a utilização de uma terminologia unificada é possível
codificar, armazenar e recuperar a informação em um formato que possa ser útil
aos objetivos da profissão e da saúde da população(49,50).
Os sistemas de classificação, ou taxonomias, são conceituados como
conhecimentos estruturados de uma disciplina ou subdisciplina organizados em
grupos ou classes baseados em similaridades(48,51), ou seja, trata-se do
arranjo sistemático de entidades de características comuns tais como:
propriedades, morfologia, assunto, tema, entre outros(52).
As terminologias e os sistemas de classificação/taxonomias são fundamentais
para documentar o Processo de Enfermagem (PE) e proporcionar o conjunto de
dados mínimos de Enfermagem, ou seja, elas formam um conjunto de dados básicos
essenciais agrupados para cumprir uma finalidade determinada(1).
Há, sem dúvida, uma tendência mundial para que os enfermeiros desenvolvam um
modelo integral de terminologia de referência para a Enfermagem, ou seja, um
modelo cujo domínio conceitual é otimizado pelo gerenciamento da terminologia.
Este modelo de terminologia de referência para a Enfermagem reflete a intenção
de se mover em direção a uma terminologia mais compreensiva para o cuidado em
saúde(50).
Nesta perspectiva, a ISO, em 2003, por meio do Grupo de Interesse da Associação
de Informática em Enfermagem da Associação de Informática Médica Internacional
(IMIANISIG) e do International Council of Nurses - ICN (Conselho Internacional
de Enfermagem), elaborou o Modelo de Terminologia de Referência para a
Enfermagem, denominado ISO 18104(14,52). Este padrão visa acomodar as várias
terminologias e classificações mais utilizadas na atualidade pelos enfermeiros
para a documentação/registro de dados dos pacientes e facilitar o mapeamento
dos termos de Enfermagem com outros padrões/terminologias de saúde (ex:
SNOMED), promovendo, assim, a integração necessária dos sistemas de informação.
Observa-se que a criação das terminologias de Enfermagem foi motivada pela
necessidade de se obter um registro compatível com a necessidade de
processamento computacional, fornecendo uma linguagem que descrevesse a
estrutura dos conceitos dos diagnósticos e das ações/intervenções de Enfermagem
(14,47,53).
Diversas terminologias padronizadas foram desenvolvidas para atender às
necessidades de documentação/registro e análise de Enfermagem nas fases de
diagnóstico, intervenções e resultados do PE, proporcionando riqueza nas
possibilidades de representação dos fenômenos de Enfermagem e domínios da
prática(54).
Algumas terminologias e sistemas de classificação da Enfermagem tiveram como
ponto de partida o trabalho desenvolvido pela North American Nursing Diagnoses
Association - NANDA - em 1970 e foram desenvolvidas para ser utilizadas em uma
ou mais etapas do Processo de Enfermagem(1,47,54). Ou seja, os estudos
analisados apontaram que as terminologias e os sistemas de classificação podem
contemplar somente os diagnósticos e/ou intervenções e/ou avaliação/resultados
de enfermagem. Diante destas considerações, o Quadro_1 apresenta uma síntese
das principais terminologias e sistemas de classificação adotados nas
respectivas fases do PE que foram explicitados nos artigos analisados.
Observa-se que, os pesquisadores em todo mundo tem estudado e desenvolvido
esquemas de classificação, taxonomias e vocabulários de Enfermagem, resultando
em um número cada vez maior de terminologias(49). No Brasil, o que se visualiza
é uma estrutura ainda pouco relacionada de dados mínimos de Enfermagem,
taxonomias diagnósticas, classificações de dados, informações e estruturas, bem
como, de nomenclaturas para o desenvolvimento da prática de Enfermagem, sem
padrões de cuidado definidos que levem a uma terminologia de Enfermagem
Brasileira, a despeito de iniciativas isoladas(47,55,56).
Na Enfermagem brasileira, os vocabulários mais conhecidos e utilizados na
prática profissional são os diagnósticos NANDA, a Classificação das
Intervenções de Enfermagem (NIC), a Classificação dos Resultados de Enfermagem
(NOC) e a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®)
versão 1.0. Tais vocabulários possibilitam o registro de Enfermagem conforme as
etapas do Processo de Enfermagem e propiciam o mesmo significado para os
profissionais de diferentes regiões(14).
Estas classificações são importantes para o desenvolvimento da Enfermagem, pois
são ferramentas para comparar o conhecimento globalmente. Além disso, se o
vocabulário utilizado na prática se fizer de forma estruturada, padronizada e
classificada, facilitará tanto o entendimento por parte dos profissionais
quando o monitoramento da qualidade do cuidado de Enfermagem prestado aos
pacientes, podendo, ainda, ajudar na produção de estudos científicos(57).
Objetivando atender os anseios dos enfermeiros de todo o mundo referente à
universalização da linguagem do sistema de classificação das práticas de
Enfermagem, o Congresso do International Council of Nursing (ICN) realizado em
Seul, em 1989, aprovou uma proposta para desenvolver um sistema de
Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem - CIPE®. Este projeto
se justificava pela falta de um sistema e de uma linguagem específica e
unificada da profissão; pela necessidade da Enfermagem em contar com dados
confiáveis na formulação das políticas de saúde, na contenção de custos, na
informatização dos serviços de saúde e; pelo propósito de controlar seu próprio
trabalho(47,58-62).
Como outros sistemas de classificação, a CIPE® se propõe a manter seu conteúdo
sempre atualizado; assegurar que seja compatível com o atual estado da Ciência
da Enfermagem, da Ciência da Informática, das classificações e com outras
iniciativas para o cuidado em saúde e; coordenar a disseminação, utilização e
promoção e desenvolvimento no âmbito internacional(62).
Diante deste contexto, constata-se que o foco atual na área assistencial é a
proposta de informatização do prontuário do paciente, integrando todas as
informações referentes ao mesmo. Para isso, os enfermeiros devem garantir que
os dados de Enfermagem estejam presentes em tais prontuários para que sejam
analisados, demonstrando assim a contribuição desse profissional na área da
saúde(55).
A partir dos padrões de dados apresentados, considera-se que é fundamental
padronizar e identificar o conjunto mínimo de dados de Enfermagem para que seja
fornecida informação suficiente e necessária para o cuidado em saúde. Na
Enfermagem, os dados coletados durante a realização do Processo de Enfermagem
podem e devem ser padronizados, facilitando as ações e a tomada de decisão dos
enfermeiros, a realização de pesquisas e ainda atender à produção de informação
para fins de avaliação de qualidade e de resultados do cuidado de saúde
prestado aos pacientes(43).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos descritores pesquisados nas bases de dados SCIELO, CINAHL E
MEDLINE foi possível identificar nos estudos analisados os principais padrões
de dados, terminologias e sistemas de classificação utilizados na área da saúde
e, nomeadamente, na Enfermagem.
Os estudos apontaram que, tanto na enfermagem internacional quanto na
enfermagem brasileira, NANDA, NIC, NOC e CIPE®, se destacaram como as
terminologias/classificações mais utilizadas atualmente pelos enfermeiros. Os
estudos analisados ainda evidenciaram que a partir dos diversos padrões de
dados, terminologias e sistemas de classificação para o cuidado em saúde e
Enfermagem existentes, considera-se importante que a Enfermagem se aproprie dos
mesmos visando aprimorar e assegurar a qualidade e a segurança do cuidado.
Observa-se ainda que, um dos principais desafios que a Enfermagem enfrenta nos
dias atuais, é a adoção de um sistema de classificação padronizado na sua
prática de cuidado aliada à utilização dos recursos tecnológicos
disponibilizados pela informática/sistemas de informação. Esta aliança favorece
a documentação/registro do Processo de Enfermagem, a comunicação entre os
pares, o processo de tomada de decisão do enfermeiro, promove o cuidado eficaz,
qualificado e seguro e, consequentemente, contribui para o avanço da ciência da
Enfermagem por meio do desenvolvimento, atualização e disseminação de novas
experiências e conhecimentos.