Consumo e custo de recursos materiais em unidades pediátricas de terapia
intensiva e semi-intensiva
INTRODUÇÃO
A crise política e econômica mundial dos últimos anos também repercutiu no
Brasil e tornou a gestão de serviços de saúde um desafio ainda maior. Os
avanços da tecnologia e de insumos na indústria farmacêutica e de materiais e
de equipamentos geraram aumento dos gastos, insuficiência de recursos e
dificuldades de controle. Os enfermeiros têm se destacado nas ações gerenciais
de unidades de saúde e uma de suas preocupações tem sido a administração
racional de recursos materiais, articulando-se com vários segmentos da
sociedade, com vistas a alcançar melhor qualidade de atendimento e maior
produtividade para as empresas de assistência em saúde(1).
O desafio na gestão de custos em saúde é adotar medidas racionalizadoras, para
equilibrar a qualidade dos serviços prestados com as limitações orçamentárias,
que são frequentes(1-4). Então, além do quadro de pessoal, que abrange
majoritariamente profissionais de enfermagem, os medicamentos e materiais são
os recursos que mais elevam os custos hospitalares, com consumo estimado entre
15 a 45% do orçamento de tais organizações(2).
O gerenciamento de custos na assistência em saúde é um processo administrativo
de tomada de decisão, na busca de eficiente racionalização na alocação de
recursos disponíveis, respeitando tanto as necessidades da clientela quanto as
finalidades institucionais (1). A equipe de enfermagem é a maior usuária de
recursos materiais na assistência em saúde e a atuação gerencial do enfermeiro
na contenção de gastos envolve várias medidas, entre outras: estilo de
liderança, processo de comunicação que é estabelecido com os funcionários,
satisfação no trabalho, adequação do espaço físico, dos recursos matérias e do
dimensionamento de pessoal(1,3,5).
Na gestão de custos em saúde, é recomendado a aplicação de métodos sistêmicos,
como o método ABC, que preconiza o agrupamento dos itens consumidos em classes,
segundo faixa de participação no orçamento. A Classe A representa cerca de 20%
dos itens que correspondem a quase 50% do custo; a Classe C representa 50% do
total de itens e aproximadamente 20% do custo; e os 30% de itens restantes
pertencem à Classe B (1,3). A classificação ABC facilita o gerenciamento dos
estoques nas organizações, sendo também perfeitamente aplicável na gestão de
materiais e insumos usados em instituições de saúde, permitindo evidenciar os
materiais prioritários(3).
As Unidades de Terapia Intensiva Pediátricas estão entre as principais
consumidoras do orçamento hospitalar, em decorrência de suas peculiaridades
assistenciais, das tecnologias, materiais e equipamentos que utilizam para
promover uma assistência qualificada para alcance de melhores resultados na
atenção a crianças em estado crítico(6).
Diante das considerações estabelecidas, osobjetivos desta pesquisa foram:
caracterizar unidades pediátricas semi-intensivas e intensivas de um hospital
de ensino e verificar o consumo e os custos de materiais utilizados na
assistência a pacientes internados nessas unidades.
MÉTODOS
Delineamento
Trata-se de um estudo descritivo - exploratório, com coleta de dados realizada
em unidades pediátricas de Terapia Intensiva (UTI) e semi-intensiva (USI) de um
hospital de ensino de capacidade extra, situado no interior do Estado de São
Paulo. Essa instituição presta assistência hospitalar e ambulatorial em várias
especialidades da área da saúde, com média de 2.500 internações mensais e 2.000
cirurgias/mês de pequeno, médio e grande porte.
Antecedendo a coleta de dados, o projeto deste estudo foi autorizado na
instituição hospitalar e depois aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa em
seres humanos (Parecer CEP nº 151/2009). O Sistema de Tecnologia da Informação
(STI) do hospital disponibilizou dados para caracterizar as unidades
pediátricas pesquisadas (perfil demográfico e clínico dos pacientes) e sobre o
consumo de matérias usados na assistência de enfermagem e médica. Já o Centro
de Educação Permanente (CEP) forneceu dados sobre a composição quali-
quantitativa da equipe de enfermagem.
Vale esclarecer que nessa instituição os custos estão organizados por centro de
custos e forma-se um centro de custo para cada UTI e USI juntas. O consumo de
materiais foi analisado segundo as variáveis: descrição do produto, quantidade
consumida, valor total na moeda (Real) e porcentagem (%) que cada item
representou sobre o custo anual, com essa variável calculada a partir do gasto
total anual com materiais de cada unidade.
O procedimento empregado para realizar a classificação ABC iniciou-se com a
construção de uma planilha no programa Microsoft Excel 2003®, selecionando-se
os dez materiais mais consumidos e os de maior custo utilizados no período de
coleta dos dados, em cada centro de custo, sendo posteriormente classificados
segundo a curva ABC.
Análise dos Dados
Seguiu-se as etapas descritas por Paterno(7)na elaboração da curva e definição
dos itens ABC: 1. Calculou-se os valores globais de consumo para cada item de
compra no período considerado. O valor global foi resultado da multiplicação do
custo unitário do produto pelo número de unidades consumidas ao longo do
período; 2. Os valores dos artigos foram colocados em ordem decrescente; 3.
Calculou-se o valor acumulado despendido somando-se os valores globais de cada
item, anotando os valores após a adição de cada parcela, até se obter o valor
total consumido; 4. Calculou-se o valor percentual de gasto de cada item
dividindo-se o seu gasto pelo total de recursos gastos; 5. Conforme realizado
no item 3, efetuou-se o cálculo de percentagens acumuladas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caracterização das unidades e perfil dos pacientes
No hospital campo deste estudo a organização dos leitos para atendimento de
crianças que exigiam assistência mais complexa, seguia cuidados progressivos,
com base na legislação profissional vigente, possibilitando a adequação entre a
capacidade instalada e a condição clínica da criança(8). De acordo com a
necessidade de cuidados, as unidades de atendimento eram classificadas em
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou Unidade Semi ' intensiva (USI).
Eram disponibilizados 44 leitos de terapia intensiva (UTI) e semi-intensiva
(USI), distribuídos da seguinte forma: 20 leitos para área Neonatal, 10 leitos
pediátricos e 14 leitos para área cardiológica. Em estudo realizado em 85 UTIs
pediátricas e/ou neonatais do município de São Paulo, encontrou-se uma média de
18,75 leitos de UTI neonatal, 14,3 leitos de UTI pediátrica e 8,5 leitos
destinados a crianças de UTI especializada(9).
A caracterização das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e Semi-intensiva (USI)
pediátricas incluídas nesta pesquisa e o perfil das crianças atendidas nestas
unidades encontra-se descrita no Quadro_1, destacando-se nos resultados
obtidos, no período de um ano de coleta dos dados:
A capacidade instalada era de
44 leitos, com atendimento prestado a crianças desde o período neonatal
até a adolescência, correspondendo a 14 leitos cardiológicos, 20 leitos
na área neonatal e 10 leitos pediátricos gerais;
[/img/revistas/reben/v65n6/checkmark.jpg] O dimensionamento da equipe de
enfermagem por leito foi de 0,2 enfermeiros e 1,8 técnicos de enfermagem
na unidade cardiológica e igual número - 0,3 enfermeiros e 2,0 técnicos
de enfermagem nas unidades neonatal e pediátrica. O total de enfermeiros
atuantes nas três UTIs e USIs do hospital estudado era 13.
O dimensionamento de pessoal, na definição da proporção entre categoria
profissionais de enfermagem e número de leitos, na composição da equipe para
atuação em UTIs, tem sido tema de debates no âmbito do Ministério da Saúde -
MS, do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), das sociedades médicas e de
enfermagem. A Resolução n.º 203/2004 do COFEN(13) trata do dimensionamento de
pessoal e recomenda a distribuição percentual para cuidados semi-intensivos em
42% a 46% e intensivos de 52% a 56% de enfermeiros e o restante de técnicos de
enfermagem. Nos achados desse estudo é difícil estabelecer comparações nestas
categorias profissionais, uma vez que o quadro de pessoal de enfermagem é único
para as UTI semi-intensivas e intensivas.
Tendo por referência normas preconizadas pelo COFEN, evidenciou-se que nas três
unidades de atenção complexa a crianças, o quantitativo de enfermeiros era bem
reduzido correspondendo a 3(10,7%) ' na UTI e USI cardiológicas, 6(12,8%) na
UTI e USI neonatal e 4(15,4%) na pediátrica.
O Ministério da Saúde(14) preconiza para UTIs um enfermeiro assistencial para
cada dez leitos e de um técnico de enfermagem para cada dois leitos por turno
de trabalho. Neste estudo constatou-se que a proporção de técnicos de
enfermagem nas três unidades estudadas estava de acordo com o recomendado, com
25 técnicos de enfermagem para 14 leitos de UTI e USI neonatal; 41 técnicos de
enfermagem para 20 leitos de UTI e USI cardiológica e 22 técnicos de enfermagem
para 10leitos de UTI e USI pediátrica. Isto evidencia que na instituição em
estudo o investimento em pessoas está direcionado para o nível operacional.
Vale lembrar que uma adequada quantificação de profissionais de enfermagem deve
considerar não só a proporção com número de leitos, mas especialmente a carga
de trabalho associada ao processo de cuidar nessas unidades. A participação do
enfermeiro nos procedimentos de alta complexidade e na coordenação do cuidado é
de fundamental importância para a excelência no cuidado e cumprimento da
legislação profissional em vigor(15).
[/img/revistas/reben/v65n6/checkmark.jpg] Mais de 50% das internações
foram de crianças do sexo masculino (61,7% nas unidades cardiológicas,
54% na neonatal e 57,6% na pediátrica geral);
[/img/revistas/reben/v65n6/checkmark.jpg] A maior parte das crianças
tinha problemas clínicos, cor-respondendo a 78% na área cardiológica,
91,6% na área neonatal e 79,1% na área pediátrica geral;
[/img/revistas/reben/v65n6/checkmark.jpg] A mortalidade foi de
aproximadamente 15% nas três unidades de UTI (15,3% na cardiológica,
15,8% na neonatal e 14,8% na pediátrica). Nas unidades semi-intensivas a
taxa de mortalidade variou de 10,5% na pediátrica, de 5,6% na
cardiológica e 1,8% na neonatal;
[/img/revistas/reben/v65n6/checkmark.jpg] A taxa de ocupação nas unidades
de terapia intensiva foi superior a 80% nas UTIs neonatal (87%) e
pediátrica (83%) e de 42% na UTI cardiológica. Já a taxa de ocupação nas
USI foi total nas unidades neonatal e pediátrica e de 99% na
cardiológica;
[/img/revistas/reben/v65n6/checkmark.jpg] Os pacientes pediátricos do SUS
ocuparam mais de 70% dos 44 leitos de UTIs e USIs estudados;
[/img/revistas/reben/v65n6/checkmark.jpg] Os principais diagnósticos das
crianças internadas nas UTIs e USIs deste estudo foram CIV (13%) na
unidade cardiológica; prematuridade (42,4%) na área neonatal e distrofia
muscular (11,1%) na área pediátrica geral.
O perfil clínico dos pacientes nas unidades investigadas foi semelhante ao
verificado em outras pesquisas, como segue: em estudo realizado em unidade
cardiológica, a comunicação interventricular (CIV) foi o diagnóstico mais
frequente entre as cardiopatias (41,8%)(10); na UTI Neonatal do Instituto da
Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo, os diagnósticos mais comuns foram: doença da membrana hialina
(34,4%), comum no pré-termo, desconforto respiratório não classificado (21,9%),
risco infeccioso (18%) e malformação digestiva (14%)(11); em UTI pediátrica de
cinco hospitais de Porto Alegre predominaram os problemas respiratórios (32,7%)
(12).
Análise do consumo de materiais nas unidades investigadas
Baseando-se na análise de classificação ABC, verifica-se na Tabela_1 que, como
esperado, os materiais mais consumidos foram os de classe C, estocados em
almoxarifado e farmácia satélite. A maior parte dos materiais foi de copos
descartáveis; seringas e agulhas (nas unidades neonatal 341.128-50,9%, na UTI e
USI cardiológica 230.001-34,3% e nas unidades pediátricas 98.725-14,7%). As
unidades de maior complexidade assistencial apresentaram um alto consumo destes
materiais. Embora o consumo tenha sido semelhante àquele das unidades
pediátricas (84,75%/50,3%); o custo foi significativamente menor. Na UTI e USI
cardiológica, o consumo foi 77,5% e o custo representou 16,7%; na UTI neonatal
foi 73,8%, com um custo de 19,3%.
Entende-se a utilização dos materiais de classe C, como seringas e agulhas,
pois são exigidos na administração de medicamentos a crianças, em diferentes
horários, a cada dia. Em pediatria e neonatologia é freqüente a diluição ou
rediluição de medicamentos devido a sua alta concentração, bem como potenciais
efeitos locais e sistêmicos de certos medicamentos, podendo causar flebites,
arritmias cardíacas, hipotensão e anafilaxia(16).
Também, é comum o ajuste da dosagem, pois a indústria farmacêutica não
disponibiliza a maioria das drogas de uso parenteral em formulação e
apresentação à faixa etária pediátrica. As seringas de 3 e 5ml são muito
utilizadas nas unidades investigadas, por permitir uma graduação mais precisa
das doses. Algumas drogas são preparadas nestas seringas e posteriormente
transferidas para seringas de 10 ou 20 ml para serem utilizadas em bombas de
infusão do tipo "seringa". Vale esclarecer que o uso da bomba de infusão já
está incorporado no processo de cuidar nas unidades de UTI e USI no hospital
estudado, pois cerca de 98% das crianças recebiam medicação intravenosa em
bomba de infusão, de forma contínua ou intermitente.
O preparo e a administração de medicamentos constituem processos que integram o
sistema de medicação, sendo atividade rotineira e de responsabilidade da equipe
de enfermagem para o cumprimento terapêutico (17). Salienta-se que nas unidades
estudadas, o número de profissionais de enfermagem atuantes era superior ao
preconizado pela legislação(8) . Também era adequado o quantitativo de
equipamento disponível para infusão contínua e controlada de fluidos ' "bombas
de infusão" do tipo volumétrica e de seringa para uso na Terapia Intravenosa
(TIV) e nutricional. A nutrição parenteral é um procedimento essencial nessas
UTIs e em especial muito utilizado na área neonatal, devido ao perfil do recém-
nascido(18), requerendo qualidade dos cateteres empregados, precisão na
infusão, treinamento e capacitação dos profissionais que assegurem eficiência
na utilização dessa terapia nutricional(19).
Na UTI e USI Neonatal, tendo por base o protocolo de uso de Cateter Venoso
Central de Inserção Periférica (PICC), todas as medicações são administradas em
seringas de 10 ml. As agulhas 40x12 e 25x08 são utilizadas no preparo e
diluição de medicamentos e na transferência de soluções de uma seringa para
outra.
Os materiais pertencentes à Classe A, para a análise dos custos, segundo a
classificação ABC são apresentados na Tabela_2. Os insumos listados
representaram um impacto de 40%, 45% e 76,1% nos orçamentos das UTI e USI
Cardiológica, Neonatal e Pediátrica, representando respectivamente 24,2%, 15% e
72,1% do total dos materiais utilizados. Ficaram em destaque nos dados obtidos:
o alto o custo com TIV, 9,7% na UTI e USI Cardiológica, 14,45 na Pediátrica e
19% na Neonatal; utilização tecnológica nos diferentes tipos de cateteres
intravenosos periféricos e centrais (curta e longa permanência) de acordo com o
perfil assistencial e terapêutico da clientela assistida em cada unidade;
identificou-se que o lançamento do cateter duplo lúmen 13cm e o pediátrico na
UTI neonatal constituiu-se em erro de digitação, uma vez que esse dispositivo
não é utilizado nessa unidade e sim nas UTI pediátricas e cardiológica.
A punção intravenosa periférica é um dos procedimentos invasivos mais
realizados durante a hospitalização de pacientes, mesmo na área neonatal e
pediátrica, para administração de fármacos e componentes sanguíneos e
nutricionais(20). A passagem do dispositivo PICC, anteriormente, restringia-se
a UTI e USI Neonatal e especificamente a neonatos prematuros extremos e de
muito baixo peso. Durante este estudo, apenas alguns enfermeiros eram
qualificados e podiam realizar este procedimento; por direito assegurado pela
Resolução COFEN 258/2001(21).
O dispositivo PICC, classificado como material de alto custo (classificação A),
tinha acentuado controle administrativo no hospital estudado, justificando-se a
restrição de seu uso pelo impacto na conta hospitalar. Atualmente, esse
procedimento é realizado nas demais unidades investigadas por propiciar
qualidade e segurança assistencial à criança crítica, após domínio e
incorporação dessa tecnologia pelos enfermeiros atuantes nas unidades
pediátricas estudadas.
Com o advento de novas terapêuticas aliadas à tecnologia, tem havido demanda
crescente de novos materiais com altos custos. Conseqüentemente, é importante
que os enfermeiros que atuam em unidades especializadas, analisem a necessidade
de incorporação destes novos dispositivos. Para tanto devem buscar adquirir
conhecimentos sobre a disponibilidade desses produtos no mercado e suas
características específicas, principalmente no que diz respeito à efetividade e
segurança, além do custo para a definição programática de atendimento(1,20).
Ante tal perspectiva de análise, a comunicação efetiva entre médicos e
enfermeiros é vital para a excelência na indicação do dispositivo intravenoso
mais apropriado. No processo de cuidar em enfermagem grande parte das
atividades se destina a pacientes recebendo algum tipo de terapia intravenosa.
Em muitos países, o enfermeiro é responsável pela seleção, inserção e remoção
dos cateteres venosos centrais e periféricos, bem como a avaliação, manutenção
e orientações ao paciente e à família(20).
Os tipos e custos dos equipos utilizados na Terapia Intravenosa (TIV) são
vários. Neste estudo, o equipo de soro simples representou alto gasto somente
nas UTI e USI pediátricas, onde havia menor complexidade assistencial e
terapêutica. O equipo de bomba de infusão (enteral, parenteral e foto equipo),
mostrou-se entre os itens de maior custo nas UTI e USI cardiológica (2.932-
7,9%), neonatal (5.648-9,8%) e pediátrica (1.940-18,6%). Pode-se interpretar
que esse resultado é decorrente de decisão de uso de tecnologia que utiliza
equipos específicos do fabricante da bomba de infusão.
O perfil assistencial e terapêutico da clientela atendida necessita de
equipamentos mais precisos, pois podem exigir administração de decímetros de
mililitros de solução a cada hora; uma vez que essas crianças têm o sistema
cardiovascular menos desenvolvido causando dificuldade em adaptar-se a mudança
rápida e ou grande quantidade de volume, podendo apresentar quadros de
hipervolemia caso o volume administrado na TIV não seja cuidadosamente
monitorado(20).
Os recém-nascidos são os mais vulneráveis a apresentar desequilíbrio de
glicemia (hipo e hiperglicemia) nos primeiros dias de vida, justificando o alto
consumo (16.568/6,8%) das tiras para medir glicemia na UTI e USI Neonatal. Após
análise do impacto nos custos desse produto, houve revisão da rotina do teste
glicêmico, sendo incorporado ao protocolo de manuseio mínimo do recém-nascido.
Antes era aferido sistematicamente três vezes/dia e passou a ser realizado uma
vez/ dia, juntamente com a coleta de exames. Percebe-se que a diminuição da
frequência de venopunção, evita a manipulação excessiva dos pacientes e gastos
desnecessários. Em estudo em UTI neonatal verificou-se que as respostas
fisiológicas e comportamentais do recém nascido durante o manuseio e propôs
protocolo de manuseio mínimo(22).
Analisando as Tabelas_1 e 2 observa-se que os dez materiais de maior consumo
(Tabela_1), não tiveram participação significativa nos orçamentos das unidades
quanto os dez de maior custo (Tabela_2) ' diferença média de 25,6%. Isso
ocorreu porque os materiais mais utilizados no período possuíam baixo custo.
Análise do custo mensal de materiais nas unidades investigadas
Nota-se na Figura_1 que houve predominância de gastos nas UTI e USI Neonatal
durante o período estudado, com gastos de R$ 189,6 mil (média R$ 15,8 mil); a
UTI e USI Cardiológica acumularam um gasto de R$ 106,6 mil (média R$ 8,9 mil),
e as UTI e USI Pediátrica de R$ 30 mil (média R$ 2,5 mil). Um dos fatores que
explica tais achados diz respeito ao maior número de leitos e clientes
assistidos - 6.613, ou seja, o dobro das demais unidades, como apresentado na
caracterização das unidades estudadas (Quadro1).
[/img/revistas/reben/v65n6/a13fig01.jpg]
Na Figura_2 pode-se verificar que a média dos gastos mensais com materiais foi
de (R$ 0,92 ± 0,26) mil/leito mês - UTI e USI Cardiológica, (R$ 0,83 ± 0,27)
mil/leito mês na Neonatal e (R$ 0,26 ± 0,06) mil/leito mês - Pediátrica. Esses
achados evidenciam que mesmo com menor taxa de ocupação, a UTI cardiológica
apresentou o maior gasto com material, por ser de mais alta complexidade.
[/img/revistas/reben/v65n6/a13fig02.jpg]
Nota-se também que houve significativa variação do gasto mensal dessas unidades
no período de coleta dos dados, havendo proximidade entre os gastos médios
mensais das unidades Cardiológica e Neonatal, sendo esses superiores em até
seis vezes ao gasto médio das UTI e USI Pediátrica. Também, o gasto total/mês e
gasto/leito/mês, bem como, os tipos e custos de materiais utilizados
evidenciaram a menor complexidade assistencial na UTI pediátrica quando
comparados ao da UTI cardiológica.
O gerenciamento adequado de materiais, desde a fase do planejamento até o
consumo pelos clientes, visa manter o equilíbrio entre os recursos disponíveis
e a qualidade da assistência prestada. Para isso, pode-se utilizar como
ferramenta a implementação de um sistema de custeio, permitindo uma análise
diferenciada dos dados.
Por fim, vale aprofundar a discussão quanto à utilização da classificação da
curva ABC na análise dos dados deste estudo.
Classificação da curva ABC
O método ABC se revelou como um importante instrumento para utilização no
gerenciamento dos estoques nas organizações, sendo também perfeitamente
aplicável na gestão de materiais e insumos médicos(2). Vale esclarecer,
inicialmente, que os itens de materiais da Classe B não foram abordados no
presente estudo.
Aplicando-se a classificação ABC aos dados analisados, a Classe A se compôs
pelos dez materiais de maior custo (Tabela_2) das UTI e USI Cardiológica e
Neonatal, que corresponderam a 24,2 e 15% dos itens consumidos, e a 40% e 47%
do orçamento dessas unidades, respectivamente. Os materiais hospitalares
incluídos na Classe A são importantes, por representarem um grande
investimento, exigindo assim um controle minucioso e frequente e tem como
objetivo a redução dos prazos de abastecimento, dos estoques de reserva, o
estabelecimento de controles de utilização e a busca de melhores preços(2-3).
A equipe de enfermagem tem papel fundamental no uso eficiente dos recursos
materiais em instituições de saúde, desenvolvendo um olhar crítico sobre o
processo de trabalho por meio da conscientização. Estudo realizado em hospital
universitário constatou -se que os materiais pertencentes à Classe A , 67
(31,1%) eram materiais assistenciais, 80% utilizados pela equipe de enfermagem
(3). Já em pesquisa em UTI neonatal, demonstrou gastos por uso indevido/
irracional de materiais num total de R$ 7.208,95, representando impacto no
orçamento hospitalar(23).
Pela Tabela_1 verifica-se que, na Classe C, enquadraram-se os oito materiais
mais consumidos nas UTI e USI cardiológica, neonatal e pediátrica,
correspondendo a 72,5%, 65,9% e 79,2% dos itens consumidos e a 14,4%, 10,7% e
45,8% do orçamento dessas unidades, respectivamente. Com os itens da Classe C
pode-se trabalhar com maiores prazos de abastecimento, aumentar os estoques de
reserva e os controles podem ser mais flexíveis(2). No hospital campo desta
pesquisa os materiais da Classe C estavam disponíveis nas unidades estudadas em
sub-estoques, dificultando seu controle no aspecto quantitativo e prazo de
validade, especialmente, uma vez que eram solicitados para a unidade e não para
cada paciente.
É essencial conhecer os custos dos serviços de saúde, já que possibilita a
identificação das unidades que necessitam reduzí-los, controlar os gastos e
eliminar os desperdícios(1). Na área da saúde é preciso manter o foco no
aumento da qualidade dos cuidados e, ao mesmo tempo, propor e implementar
sistemas de gerenciamento de custos, visando a contenção de gastos(3-5). Para a
criação, implementação e controle desse sistema de gestão envolve a
participação da área administrativa e dos gerentes das diferentes unidades que
compõem uma organização hospitalar, de forma que cada integrante contribua com
seu conhecimento específico(3).
CONCLUSÃO
Os achados desta investigação permitiram concluir que a classificação ABC
propicia parâmetros para a gestão de custos em unidades pediátricas de terapia
intensiva e semi-intensivas, no que se refere à maximização dos recursos
materiais e redução dos desperdícios. Portanto, para delinear o consumo e
gastos de materiais de unidades complexas de atendimento em saúde, o enfermeiro
tem muito a contribuir, desde que conheça o perfil da sua clientela, o tipo
assistencial e a abordagem terapêutica necessária. Este delineamento pode
auxiliar o enfermeiro em UTI e USI pediátricas no planejamento, controle e
avaliação na gestão de recursos materiais.