Escala do controle da ação para o diagnóstico de desempenho em estudantes de
Enfermagem
INTRODUÇÃO
O artigo trata da aplicação da Escala do Controle da Ação (HAKEMP 90) em
estudantes de enfermagem com o propósito de verificar a pertinência da Teoria
do Controle da Ação (TCA)(1-2) para a identificação precoce do risco para
desempenho insatisfatório no planejamento dos cuidados de enfermagem
preventivos para úlceras por pressão (UP).
A úlcera por pressão é definida como uma lesão na pele e/ou tecido subjacente,
geralmente localizada em proeminências ósseas e que tem como causas a pressão,
o cisalhamento ou a fricção(3). Apesar de ser uma lesão evitável, apresenta
alta incidência tanto em pacientes que recebem cuidados no domicilio como
aqueles internados em instituições hospitalares(4) e configura-se uma questão
desafiadora para a equipe multiprofissional de saúde.
O sofrimento decorrente deste agravo para os clientes hospitalizados e seus
familiares é imenso no que se refere ao aumento da permanência hospital, às
limitações nas atividades diárias e no bem-estar em geral. Ainda mais, as
múltiplas modalidades terapêuticas indicadas são impactantes para os custos
hospitalares(5-6). Assim sendo, a etiologia da úlcera por pressão e as medidas
preventivas devem ser discutidas enfaticamente na formação do enfermeiro,
reafirmando-se a sua importância ao longo do exercício profissional.
A sistematização dos cuidados de enfermagem para a prevenção das UP requer dos
estudantes habilidades e competências essenciais para a avaliação dos fatores
de risco, das alterações fisiopatológicas e psicossociais que emergem da
clientela. A rapidez e o silêncio com que se instalam as lesões demandam um
exame minucioso e atento do cliente para a prevenção das complicações. Tanto o
diagnóstico quanto o prognóstico das alterações da pele pressupõem o uso da
atenção seletiva e do pensamento crítico na avaliação continua da clientela.
Entretanto, observa-se que há um distanciamento da atenção do estudante de
enfermagem durante a avaliação da pele, principalmente quando se trata da pele
íntegra em situação de risco. Consequentemente, sobrevêm as lacunas no
diagnóstico e a prescrição fragmentada para a prevenção das lesões. A situação
em si, revela aspectos interferentes e a existência destes, em maior ou menor
grau, afeta a concentração e impede ou dificulta o curso das ações durante a
atividade em tela. Em suma, a descrição clara e objetiva dos achados no exame
físico, o diagnóstico de enfermagem, o planejamento e a avaliação continua do
cliente são ações que demandam a sensibilidade, a concentração e a atenção, e
também o uso coerente dos princípios fundamentais e dos instrumentos básicos de
enfermagem.
Assim, é imprescindível que o estudante de enfermagem aprenda a planejar os
cuidados preventivos para UP o mais conscientemente possível. Essa consciência
permite ao mesmo tempo, a avaliação das necessidades individuais, a prescrição
dos cuidados de acordo com as evidências constatadas e a reflexão sobre as
próprias ações para aprimorá-las.
Para lidar com tais questões torna-se necessário agregar novas possibilidades
ao processo educativo. A aproximação entre a TCA e a enfermagem é uma
iniciativa inovadora que propicia uma reflexão critica sobre o desempenho do
estudante visando à ampliação de recursos para a promoção de um olhar mais
crítico sobre a aprendizagem individual e significativa e consequentemente, a
sistematização da assistência mais efetiva.
TEORIA DO CONTROLE DA AÇÃO
A TCA explica como os estilos pessoais de controle da ação - orientação para a
ação e estado interferem na regulação das ações humanas. É um constructo que
trata das diferenças individuais e da capacidade para regular as emoções,
cognições, comportamentos e estratégias autoreguladoras a fim de concluir as
ações planejadas. O componente-chave da teoria é a intenção, ou seja, um
propósito que orienta o sujeito para o alcance das suas metas. Ressalta-se
ainda na TCA, o papel mediador do controle volitivo entre a intenção inicial e
a ação concreta, perpassando por elementos que situam o modo de agir do sujeito
no momento presente e no planejamento para as ações futuras(7).
A orientação para a ação caracteriza-se pela tomada de decisão consciente, pelo
uso de estratégias autoreguladoras coerentes com a atividade em si e pelo
perfil emocional adaptado às situações de insucesso. A presença destes
elementos permite a retomada mais efetiva do curso da ação. Nesse caso, as
competências acadêmicas situam-se em um nível mais elevado com o predomínio do
interesse intrínseco pelo objeto da aprendizagem. O estudante com uma forte
orientação para a ação é um sujeito ativo no processo educativo e a criticidade
na auto-avaliação possibilita mais claramente o planejamento das ações futuras
orientadas para fins específicos. Neste tipo de orientação, o professor é o
mediador da aprendizagem. Em síntese, os indivíduos orientados para a ação
iniciam as ações de forma eficaz para alcançar as metas e permanecem mais
concentrados até a conclusão da atividade(8).
Por outro lado, a orientação para o estado demonstra a tendência para o
declínio da persistência diante do insucesso acadêmico. O estudante mantém - se
estático, as distrações desviam facilmente a atenção da atividade e a retomada
do processo decisório é mais lenta. Outra característica marcante é a
superficialidade na busca por informações, ou seja, na maioria dos casos ocorre
a coleta dos dados mais simples e aparentes. O uso das estratégias
autoreguladoras é predominantemente desorganizado.
Nesse sentido, a importância da atenção seletiva, a concentração, o
conhecimento sobre o próprio modo de agir para alcançar os objetivos e o uso do
conhecimento prévio são componentes que justificam o estudo da ação, pela
capacidade de facilitar ou não a sua consecução(9).
A lógica da TCA permite afirmar que o estudante ativo, concentrado e atento
reúne, entre outras de igual valor, características essenciais para aprender e
aqui, foram aplicados tais princípios para o planejamento dos cuidados
preventivos para UP realizados por estudantes de enfermagem no ambiente
hospitalar.
Considerando a contextualização apresentada emergiu a seguinte questão
norteadora: a aplicação da Teoria do Controle da Ação permite identificar os
estudantes com alto e baixo risco para o desempenho insatisfatório no
planejamento dos cuidados de enfermagem para a prevenção das UP? Para orientar
o estudo, foi estabelecido o objetivo de verificar a pertinência da Teoria do
Controle da Ação na identificação precoce de estudantes de enfermagem com alto-
risco para desempenho insatisfatório no planejamento dos cuidados fundamentais
para a prevenção das UP.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo quantitativo desenvolvido no âmbito de um Hospital
Universitário Federal no Rio de Janeiro. Participaram do estudo 46 estudantes,
sendo 45 do sexo feminino e 01 do sexo masculino, cuja faixa etária variou
entre 18 e 25 anos. Como critérios de inclusão, os estudantes deveriam estar
matriculados no quinto período da Graduação em Enfermagem e desenvolvendo
atividades curriculares no cenário hospitalar. Não houve exclusão de nenhum
participante.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o Protocolo nº 097/
06 atendendo a Resolução 196/96. A coleta de dados se iniciou após leitura e
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A participação
voluntária e o anonimato foram preservados em todas as etapas do estudo.
Para a coleta de dados foram utilizados o Instrumento de Avaliação Discente
(IAD), elaborado pelos autores do estudo, e o Questionário HAKEMP 90, derivado
da TCA, e traduzido para a língua portuguesa. O IAD foi estruturado na forma de
Escala Likert, com 18 enunciados que descreviam atitudes desejadas e
características essenciais para a avaliação do estudante na tarefa especifica,
durante o período letivo. A Escala do Controle da Ação foi aplicada após o
término das atividades acadêmicas e da divulgação das notas obtidas pelos
estudantes, de modo a assegurar-lhes que o preenchimento da Escala não iria
interferir na avaliação final. Para a análise estatística foram utilizados os
critérios de sensibilidade e especificadade para testes diagnósticos.
RESULTADOS
Instrumento de avaliação discente
O objetivo desta etapa foi classificar os estudantes em dois grupos, alto e
baixo risco para desempenho insatisfatório. O IAD reuniu um conjunto de dezoito
itens que descreviam habilidades e competências, as ações mais simples e mais
gerais para o cuidado de enfermagem, os instrumentos básicos para cuidar e a as
etapas da sistematização visando à prevenção das UP. Os enunciados foram
avaliados por seis especialistas a fim de identificar, discutir e avaliar as
dificuldades de compreensão conceitual e a adequação às características e
atitudes essenciais ao estudante de enfermagem ao prevenir UP, citadas
anteriormente.
Ressalta-se que o instrumento oferecia quatro opções em que se poderia
assinalar a avaliação do desempenho do estudante na situação em estudo,
considerando-o muito insatisfatório(MI), insatisfatório(I), satisfatório(S) ou
plenamente satisfatório(PS). Os índices de desempenho individual (IAD) foram
calculados ao efetuar-se a multiplicação do número de ocorrências registradas
em cada enunciado pelo valor normativo do instrumento (MI = 1, I = 2, S = 3 e
PS = 4).
A título de exemplo, o índice de desempenho do estudante EE33(O, 62) foi
calculado efetuando-se a divisão da pontuação total obtida (45) pela máxima
possível (72). Após o cálculo dos índices de desempenho, a mediana foi a medida
aplicada para o corte dos escores individuais. Considerou-se como grupo de
baixo risco ou de desempenho satisfatório (G1) os estudantes com mediana igual
ou superior a 0,70 e como grupo alto risco ou desempenho insatisfatório (G2) a
mediana inferior a este valor (Quadro1).
![](/img/revistas/reben/v66n6/20q01.jpg)
Questionário HAKEMP 90
O Questionário HAKEMP 90 apresenta 36 itens distribuídos em três subsescalas,
com duas alternativas de resposta, uma indicando a orientação para a ação (OA)
e outra a orientação para o estado (OE), e encontra-se disponível nas versões
em inglês, espanhol e alemão(10-12). As subescalas investigam três dimensões em
particular que se relacionam com o alcance das metas: a orientação para ação/
estado após a situação de fracasso (OAF), orientação ação/estado no
planejamento e decisão para a ação (OAP) e orientação ação/estado na atividade
bem-sucedida (foco na atividade e na motivação intrínseca- OAA). Para o estudo
optou-se pela tradução, retradução e adaptação transcultural da versão em
espanhol e a equivalência para o português(13-14).
A qualificação do conjunto de respostas de cada estudante foi obtida com a soma
dos pontos, contida no intervalo entre zero e 12(12). Na subescala OAF
considera-se que a pontuação contida entre zero e 4 indica orientação para a
ação e entre 5 e 12 para o estado. Na subescala OAP a pontuação entre zero e 5
corresponde à orientação para o estado(OE) e 6 e 12 para a ação. Nas normas
para a escala OAA o valor contido entre 0 e 9 indica orientação para o estado e
entre 10 e 12 para a ação.
Os índices calculados no IAD e a classificação do estudante para ação (OA) ou
estado (OE) em cada subescala foram comparados e analisados segundo os
critérios de sensibilidade e especificidade. O Quadro_1 apresenta os resultados
obtidos a partir da aplicação dos instrumentos, identifica o grupo de risco
composto por 22 estudantes e os respectivos índices compreendidos entre 0,53 e
0,69.
Sensibilidade(S) e especificidade (E)
Visando à comprovação do objeto do estudo, utilizou-se o calculo da
sensibilidade e da especificidade para comparar os grupos de baixo risco (G1) e
alto risco (G2) com a orientação para a ação (OA) e estado (OE). A
sensibilidade é a proporção de resultados verdadeiros positivos e expressa a
probabilidade de um teste ser positivo, ou seja, é a medida da capacidade do
método de decisão de predizer a condição que se deseja detectar. Um teste
sensível é escolhido quando não se pode correr o risco de elaborar diagnósticos
equivocados, a exemplo de uma condição perigosa ou uma doença grave. Ressalta-
se que quanto mais sensível for o teste maior será o valor preditivo negativo,
ou seja, a quase garantia de que a condição investigada está ausente.
A especificidade expressa a proporção de verdadeiros negativos, ou seja, a
capacidade do método para indicar a ausência de uma certa condição. Os testes
específicos são recomendados para confirmar um diagnóstico e raramente
indicarão o resultado positivo na ausência da doença. Portanto, o teste
diagnóstico que demonstra especificidade elevada indica poucos resultados
falso-positivos. Quanto mais específico for um teste, melhor será o seu valor
preditivo positivo(15-16).
Para a análise inicial, os escores das três subescalas foram calculados
separadamente, devido à correlação que guardam com os comportamentos distintos
pela TCA. Os valores a partir de 0,80 determinaram a validade interna do teste,
considerando que o valor obtido com a sensibilidade respondeu a questão prática
do número de casos positivos(17).
A subescala OAF permite identificar a orientação para ação ou estado dos
estudantes diante do fracasso acadêmico e a execução eficiente ou não de uma
nova tarefa após a experiência. A Tabela_1 se refere aos resultados da análise
desta subescala. Evidencia-se a sensibilidade de 0,69 para a proporção de
resultados verdadeiros positivos, a discreta diferença entre os valores obtidos
para sensibilidade e especificidade (0,056) e a variação semelhante tanto para
o valor preditivo positivo(VPRP) quanto para o negativo(VPRN).
[/img/revistas/reben/v66n6/20t01.jpg]
A subescala OAP possibilita investigar a orientação para a ação ou estado
diante do planejamento, da decisão para a ação e da coerência entre a intenção
e a realização de fato. A Tabela_2 demonstra a capacidade de medida para a
predição da condição de risco a partir dos índices de S=0,70 e VPP= 0,68. Esses
resultados indicaram que OAP mostrou-se sensível para o diagnóstico dos
estudantes em risco para o desempenho insatisfatório relacionado ao
planejamento das ações de enfermagem preventivas para UP.
[/img/revistas/reben/v66n6/20t02.jpg]
A subescala OAA pode ser concebida como um indicador do envolvimento e da
motivação intrínseca do estudante na atividade, considerando como foco o
alcance da meta. Na Tabela_3 destaca-se o valor da especificidade (E= 0,72) o
que evidencia o baixo risco nos estudantes orientados para ação. A
especificidade expressa a capacidade de o teste apontar a ausência da condição
em estudo.
[/img/revistas/reben/v66n6/20t03.jpg]
A partir dos resultados encontrados procedeu-se à leitura combinada das
subescalas com o objetivo de selecionar o par mais sensível para os indicadores
comportamentais investigados. A etapa deu visibilidade aos valores mais
relevantes segundo a validade interna e as recomendações do autor(18).
Na Tabela_4, a combinação entre as subescalas OAF e OAP mostrou-se sensível (S=
0,81; VPN=0,86) para a detecção do risco de desempenho relacionado à ação em
situações de insucesso, no planejamento e na tomada de decisão. Analisadas em
conjunto, as subescalas OAP e OAA apontaram elevada especificidade (E= 0,90)
para detectar a ausência de risco para o planejamento e a motivação intrínseca
na atividade. As subescalas OAA e OAF apresentaram sensibilidade elevada
(S=0,84) para o diagnóstico dos estudantes em risco para desempenho
insatisfatório relacionado ao envolvimento motivacional intrínseco e ao
insucesso acadêmico no presente e as repercussões sobre eventos situações
futuras.
[/img/revistas/reben/v66n6/20t04.jpg]
Na combinação das escalas OAF e OAP o grupo de baixo risco (G1) totalizou
dezoito estudantes entre os quais treze foram classificados segundo a
orientação para a ação (72,2%) e cinco para o estado (27,8%). A análise também
demonstrou que onze estudantes compõem o grupo de risco e destes, nove atendem
as características da orientação para o estado(81,8%) e apenas dois são
orientados para a ação (18,2%).
A organização dos dados para a determinação da sensibilidade e da
especificidade das subescalas OAF e OAP possibilitou a delimitação do grupo de
estudantes de alto risco para o desempenho insatisfatório na implementação dos
cuidados de enfermagem para a prevenção das UP. As subescalas OAF e OAP tratam
da orientação dos estudantes segundo o modo de agir diante do fracasso e no
planejamento da ação, respectivamente.
DISCUSSÃO
Com base nos resultados verificou-se que o aumento da sensibilidade e
especificidade deu-se com a combinação das escalas. No entanto, a escolha da
melhor combinação levou em conta algumas considerações descritas a seguir.
É importante salientar que a subescala OAF se refere à orientação para a ação
ou estado subsequente ao fracasso e a sua análise oportunizou a predição do
déficit de desempenho nesta condição. Neste caso, significa dizer que os
estudantes orientados para o estado apresentaram menor controle sobre as
próprias reações frente ao fracasso recente, retratado no estudo pela avaliação
insatisfatória na tarefa proposta. Cabe ressaltar que tal comportamento poderia
interferir sobremaneira no planejamento e na execução das ações futuras, como a
reavaliação dos fatores de risco ou prescrição de medidas preventivas,
acarretando prejuízos para a continuidade da assistência.
Os resultados obtidos a partir da análise da subescala OAA possibilitaram uma
aproximação maior com o envolvimento motivacional dos participantes do estudo
na tarefa proposta. Os estudantes podem ser movidos por fatores motivacionais
intrínsecos ou extrínsecos, como a auto-satisfação em adquirir conhecimento ou
proporcionar benefícios para a clientela, a obtenção de notas, recompensas ou a
aprovação dos pais e professores. Na orientação para a ação os estudantes têm
objetivos claros e identificáveis quanto ao aprendizado motivado
intrinsecamente e se tornam mais ativos na busca por estratégias de
aprendizagem mais ajustadas às suas dificuldades. Por outro lado, na orientação
para o estado evidencia-se a diminuição da motivação pela atividade no ambiente
hospitalar, seja por falta de adaptação, pelo uso menor de estratégias de
gestão do ambiente ou pela preferencia por cenários extra-hospitalares.
Tais dados ofereceram subsídios para identificar os estudantes mais vulneráveis
aos interferentes ambientais do hospital, a partir da correlação feita entre a
motivação intrínseca e o alcance dos objetivos da atividade em tela. O
reconhecimento da relação entre motivação e intenções pessoais é um indicador
importante para a manutenção da concentração no curso da ação, da persistência
diante de situações adversas como o fracasso acadêmico e também para a
conclusão da tarefa.
A subescala OAP investiga a orientação para a ação ou estado no planejamento e
na decisão, ou seja, a coerência entre a intenção de fazer e a realização de
fato. O julgamento clínico e pensamento crítico são elementos que permitem a
analise da situação do cliente e oferecem subsídios para diagnóstico,
tratamento e prognóstico. A pele íntegra exposta aos riscos, as causas,
características e consequências da lesão quando instalada, o estado de saúde do
cliente e a resposta terapêutica devem ser exaustivamente investigadas pelo
estudante, acessando a capacidade crítico-reflexiva da situação e as bases de
conhecimento. No que se refere à prevenção e ao tratamento das úlceras, a
indecisão sobre a conduta ou a tomada de decisões precipitadas acarretam um
plano de cuidados inadequado para o cliente. Ressalta-se que a elaboração
imprecisa ou incompleta dos diagnósticos de enfermagem compromete a
sistematização do cuidado de enfermagem e colabora para o agravamento da lesão.
Diante do exposto, foi definida a combinação mais pertinente para o evento em
estudo. Houve destaque para os índices obtidos nas combinações entre as
subescalas OAF/OAA (S=0,84) e OAF/OAP (S=0,81). Verificou-se no conjunto dos
dados de OAF/OAP que a sensibilidade (0,81) expressou as ocorrências positivas
identificadas em ambos os grupos. A avaliação se complementou com a
apresentação do valor preditivo negativo (0,86), uma vez que. quanto mais
sensível for o teste, maior será o valor preditivo negativo, ou seja, a quase
garantia de que a condição investigada está ausente. Portanto, a aplicação das
subescalas possibilitou o diagnóstico de estudantes em situação de risco para
desempenho insatisfatório no estudo. Tal afirmativa é relevante para a
identificação futura dos indicadores comportamentais entre os estudantes
orientados para o estado no contexto da aprendizagem.
Nessa perspectiva, ressalta-se que o planejamento do cuidado de enfermagem
implica em pensar e fazer. Tal dicotomia, potencializada por distrações
intrínsecas ou extrínsecas, possibilita uma série de atitudes hesitantes ou
permeadas pela preocupação, que interferem na ação concreta. Salienta-se que o
êxito do cuidado de enfermagem na prevenção das úlceras por pressão pressupõe o
uso de recursos que operam como guias de ação. O emprego da Sistematização da
Assistência de Enfermagem (SAE) implica em etapas que se iniciam com o primeiro
contato entre o enfermeiro e o cliente e se seguem até o alcance dos objetivos
do mesmo(19).
No caso dos estudantes analisados, a combinação entre OAF e OAP, oferece uma
interpretação valiosa para o contexto assistencial, uma vez que tal
conhecimento possa ser útil para compreensão do modo de agir em domínios
específicos e as medidas preventivas são planejadas em coerência a priorização
do atendimento individual às necessidades básicas do cliente. Nesse sentido,
recomenda-se o uso desta combinação nas situações em que planejamento das ações
tem maior peso.
Considerou-se que o modo de agir do estudante diante do fracasso acadêmico e o
planejamento das ações expresso nos resultados das subescalas OAF e OAP são
dimensões fundamentais para a aprendizagem do planejamento dos cuidados de
enfermagem tanto em situações gerais quanto em situações específicas. O
planejamento de uma tarefa de aprendizagem implica em pensar antecipadamente
sobre as metas e os meios para alcançá-la. O controle da própria aprendizagem
permite a detecção dos erros e desvios cometidos e essa reflexão conduz a
avaliação e a modificação de um plano estratégico estabelecido. Refletir
conscientemente sobre a aprendizagem ajudará a exercer maior controle sobre o
modo de aprender e a compreender as lacunas dos processos e produtos cognitivos
(20).
A escolha da combinação entre OAF e OAP permitiu a recomendação do questionário
HAKEMP 90 como recurso diagnóstico. A sua aplicação possibilitou a aproximação
com elementos essenciais que devem ser enfaticamente abordados durante o
processo de formação do enfermeiro, considerando o preparo para uma práxis
qualitativa, integral, reflexiva e consciente.
Os dados apresentados evidenciaram que a atenção e a concentração interferiram
no planejamento do cuidado de enfermagem, principalmente no que se refere à
organização do pensamento, a priorização das ações e a tomada de decisão. De
acordo com a análise, a sistematização do cuidado se constituiu como uma tarefa
difícil para os estudantes orientados para o estado, fato corroborado pelos
prejuízos na identificação dos fatores de risco, na elaboração dos diagnósticos
de enfermagem, na prescrição e no registro dos cuidados preventivos para UP.
Contudo, os estudantes orientados para a ação demonstraram-se mais ativos no
processo de aprendizagem e apresentaram um plano de cuidados mais coerente com
as etapas da sistematização da assistência.
Nessa perspectiva, para atender as demandas dos estudantes, foram utilizadas
estratégias de intervenção norteadas para a identificação dos fatores que
interferiram no desempenho. Para a abordagem individual das dificuldades e
orientação adequada do grupo em tela, considerou-se a autoavaliação dos
estudantes e o investimento na construção da aprendizagem ativa.
CONCLUSÃO
O delineamento do estudo contribuiu para a significação de conceitos seminais
que alicerçam a aprendizagem do cuidado de enfermagem à luz dos pressupostos
teóricos do controle da ação.
O diálogo com a enfermagem, em particular com a enfermagem fundamental, e o
modo como a TCA se insere nessa área a coloca em uma condição adequada para
promover a interseção entre a orientação ação-estado e o cuidado de enfermagem.
O comportamento intencional que o estudante apresenta ao envolver-se com o
cuidado prestado ao cliente hospitalar podem ser analisados sob a ótica do
controle da ação. Essa discussão é imprescindível e abre mais um espaço para a
reflexão sobre processos tipicamente humanos no campo do saber, da prática
social de enfermagem e da condição de cuidar.
A compreensão dos elementos essenciais que caracterizam a aprendizagem
possibilita a construção do processo de cuidar com competência e humanidade e,
sobretudo mais qualitativo para o cliente. Cabe aqui enfatizar que o estudo
contribuiu para a discussão sobre a relevância dos cuidados fundamentais de
enfermagem prestados ao cliente no ambiente hospitalar, principalmente no
momento da inserção e da adaptação do estudante em um cenário tão repleto de
elementos capazes de causar distrações.
No âmbito do estudo, o uso da TCA oferece uma alternativa bastante
significativa para a investigação das características individuais dos
estudantes e dos vários fatores que interferem na implementação do cuidado.
Neste contexto, percebe-se que prepará-los para o reconhecimento das condições
que afetam a aprendizagem é essencial para a concretização das ações
necessárias para o planejamento dos cuidados de enfermagem de modo mais
coerente tanto para as ações mais simples quanto para as ações mais elaboradas.
Por outro lado, também possibilita que o professor conheça o papel das
intenções e das distrações internas ou externas no desempenho do estudante.
Assim sendo, o controle da ação torna-se uma ferramenta útil na medida em que a
compreensão da orientação do estudante propicia subsídios para a elaboração de
um plano de intervenções docentes fundamentado nos problemas apresentados por
um grupo especifico.