Bebês pré-termo: aleitamento materno e evolução ponderal
INTRODUÇÃO
A avaliação nutricional da criança compreende, além do exame físico e anamnese,
o acompanhamento de medidas antropométricas, bioquímicas e da composição
corpórea. Por ser de simples obtenção e facilmente reproduzível, o peso é a
medida mais utilizada na avaliação da situação nutricional e está intimamente
relacionado ao crescimento da criança. Para garantir o crescimento e
desenvolvimento adequados do lactente, a recomendação vigente é manter o
aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida(1).
O Aleitamento Materno (AM) é a forma mais natural e segura de alimentar a
criança no início da vida, em razão dos di-versos componentes imunológicos
presentes no leite materno (LM), tornando esta prática essencial para alcançar
crescimento e desenvolvimento infantis adequados, além de promover benefícios
para a saúde física e psíquica da mãe e do bebê(2).
Sabe-se que lactentes alimentados com leite materno e com fórmulas diferem
quanto ao crescimento físico e ao desenvolvimento cognitivo, emocional e social
(2). Ademais, a lactante de pré-termo possui em seu leite concentração maior de
proteína, sódio, cálcio, lipídios e particularidades anti-infecciosas(3).
Nesse sentido, e considerando os fatores existentes no leite humano e a técnica
de amamentação, ratifica-se a afirmação de que a prática do AM proporciona à
criança inúmeros benefícios, dentre os quais crescimento infantil adequado,
proteção contra infecções, melhor desenvolvimento da musculatura da cavidade
bucal, com efeitos positivos inclusive na inteligência; e ainda, diminuição do
risco de alergias, hipertensão arterial, colesterol alto e diabetes mellitus,
reduzindo a chance de obesidade, entre outros(4).
Especificamente para os bebês pré-termo, o AM pode trazer ainda mais algumas
vantagens, pois as propriedades nutritivas e imunológicas do leite humano
favorecem a maturação gastrintestinal, o fortalecimento do vínculo mãe-filho,
aumento no desempenho neuropsicomotor, proteção antioxidante, menor incidência
de infecções, menor tempo de hospitalização e menor incidência de reinternações
(4).
Nesta perspectiva e, considerando que o crescimento está diretamente
relacionado à terapia nutricional instituída, o objetivo deste estudo foi
identificar fatores associados à prática de AM, ao ganho ponderal e ao estado
nutricional (score Z) de bebês prematuros aos 15 e 45 dias após a alta
hospitalar, e aos três e seis meses de vida, assim como verificar se há
correlação entre as características maternas e neonatais e a prática do
aleitamento materno com o ganho ponderal e o estado nutricional (score Z)
destes bebês.
MÉTODO
Estudo analítico, realizado com bebês prematuros nascidos em Maringá-PR, no
período de 01 de maio a 31 de outubro de 2008. Trata-se de um recorte de estudo
matricial do tipo coorte realizado com todos os recém-nascidos incluídos no
Programa de Vigilância do Bebê de Risco (PVBR) do município no período em
questão.
O PVBR existe no município desde 2000, e tem como propósito acompanhar bebês
que apresentam fatores diversos considerados de risco, tais como: baixo peso ao
nascer (peso < 2500g), pontuação Apgar menor ou igual a sete no 5º minuto de
vida, prematuridade (idade gestacional inferior a 37 semanas), idade materna
menor que 18 anos, presença de anomalias, e outros critérios que incluem, por
exemplo, ser filho de mãe HIV positivo, a condição socioeconômica familiar
precária e/ou uso de drogas de abuso pela mãe.
A equipe de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do município
visita todos os hospitais diariamente para o preenchimento/recolhimento das
fichas de nascidos vivos. Quando identificado o nascimento de uma criança com
um ou mais critérios considerados de risco, ela é incluída no PVBR, ainda
durante a internação hospitalar. A ficha de inclusão no programa é preenchida
em duas vias, sendo uma arquivada no Setor de Vigilância e a outra encaminhada
para a unidade básica de saúde (UBS) de referência, conforme o endereço da
família, de modo que o crescimento e desenvolvimento das crianças possam ser
avaliados mensalmente durante o primeiro ano de vida.
O bebê prematuro cuja família aceitou participar do estudo matricial foi
avaliado até os doze meses de vida, por meio de seis VD realizadas aos 15 e aos
45 dias de vida, e aos três, seis, nove e 12 meses de vida. Os bebês que, após
o nascimento, permaneceram internados por mais de 30 dias (prematuridade
extrema e/ou com muito baixo peso ao nascer), as primeiras VD foram realizadas
levando em consideração a data da alta hospitalar, visto ser comum essas
crianças permanecerem hospitalizadas por longo período.
Durante as VD foram realizadas entrevistas com a mãe, utilizando-se um
questionário do tipo misto contendo perguntas referentes à família, mãe e
criança. Além disso, foi realizado o exame físico, mensuração do comprimento
com régua antropométrica horizontal, e verificação do peso em balança digital
elétrica, com precisão de cinco gramas. Para garantir que a antropometria dos
bebês e os dados fossem coletados nos períodos estipulados para avaliação (15 e
45 dias, três, seis, nove e 12 meses), as VD foram programadas para serem
realizadas com intervalo máximo de três dias antes ou três dias depois, tendo
como referência a data do nascimento da criança.
Especificamente para o presente estudo, foram utilizados os dados referentes às
quatro primeiras VD, considerando os dados de caracterização das mães e dos
bebês, as informações sobre a prática do AM e a evolução ponderal das crianças.
Foram excluídas da avaliação as crianças cujas fichas não apresentavam alguma
dessas informações.
A evolução ponderal foi analisada calculando-se o ganho de peso diário num
determinado período de tempo, o que neste estudo compreendeu os intervalos
entre o nascimento e a VD realizada aos quinze dias após a alta, e os
intervalos entre uma VD e outra sucessiva. Para a análise do estado
nutricional, procedeu-se a correção da idade das crianças em decorrência da
prematuridade, considerando o peso com 40 semanas, correspondente à data
prevista do nascimento. Devido a não totalidade de bebês com idade corrigida
superior a 40 semanas no período correspondente e até 45 dias após a alta
hospitalar, a avaliação do estado nutricional se deu a partir da terceira
visita, período no qual todas as crianças já apresentavam idade corrigida maior
que 40 semanas. Utilizaram-se então os índices de peso para a idade expressos
em desvios-padrão (escore z) da curva de referência apresentada pela WHO, as
quais consideram crianças com o peso adequado aquelas com escore Z ≥ - 2, e
desnutridas ou com baixo peso, as crianças com escore Z < -2(6).
Foram avaliadas as variáveis: a) Maternas (idade, escolaridade, situação
conjugal e atividade); b) Neonatais (sexo, peso ao nascer, idade gestacional ao
nascer e tipo de parto); c) Pós-natais (a prática ou não de aleitamento
materno, o ganho de peso diário aos 15 e aos 45 dias após a alta hospitalar, e
aos três e seis meses de vida, e o estado nutricional aos três e seis meses).
Os dados coletados e os resultados obtidos sobre o ganho ponderal diário e o
estado nutricional foram categorizados e digitados em banco de dados no
programa Microsoft Excel 2007. Para análise descritiva, utilizou-se frequência
simples e proporções. Para verificar associação estatística entre variáveis
maternas e neonatais e a prática ou não do aleitamento materno e o estado
nutricional das crianças, foi aplicado o teste de hipótese Gamma, cujos níveis
de significância foram considerados valor de p<0,05 com intervalo de confiança
95%.
Para verificar a presença de correlação entre as variáveis maternas e neonatais
e a prática do aleitamento materno com ganho ponderal diário, foi aplicado o
teste de correlação ETA, o qual é apropriado para avaliar o grau de
relacionamento entre duas variáveis, uma dependente medida numa escala de
intervalo (g/dia) e outra independente com um número limitado de categorias. Os
resultados do teste ETA podem variar entre - 1,00 e 1,00, passando pelo 0,00.
Quanto mais próximo de 0,00 menor é a evidência de correlação entre as
variáveis estudadas e os valores próximos a 1,00 ou - 1,00 sugerem alto grau de
relacionamento, sendo que o sinal indica se a correlação é positiva ou
negativa.
Cabe salientar que foram considerados como prematuros, os bebês nascidos com
idade gestacional inferior a 37 semanas, e como tendo baixo peso ao nascer,
aqueles com peso de nascimento menor que 2.500g(6). Além disso, em cada momento
estudado, foram consideradas duas categorias de aleitamento materno:
Aleitamento Materno Exclusivo (AME) nos casos de crianças que recebem apenas
leite humano de forma direta (direto da mama) ou por ordenha, excetuando gotas,
xaropes, suplementos minerais e outros medicamentos; e AM nos casos em que as
crianças recebem o leite materno independentemente de receberem outros leites
ou alimentos(1).
O estudo foi desenvolvido em consonância com as diretrizes disciplinadas pela
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e seu projeto foi aprovado pelo
Comitê Permanente de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Universidade
Estadual de Maringá (Parecer nº 451/2008). Participaram do estudo somente os
bebês cujas mães assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido,
autorizando a utilização das informações para fins de pesquisa.
RESULTADOS
No período de primeiro de maio a 31 de outubro de 2008, foram incluídos no PVBR
384 recém-nascidos e destes, 116 eram prematuros. Entretanto, devido a dados
incompletos nos registros e desistência de algumas mães/famílias ao longo do
desenvolvimento da pesquisa matricial, a amostra final para este estudo
constituiu-se de 42 binômios (36,2% do total).
A idade materna variou entre 17 e 40 anos, com média de 27, sendo que 14,3%
eram adolescentes, ou seja, com idade menor ou igual a 19 anos. A maioria das
mulheres tinha companheiro (90,5%), trabalhava fora (61,9%) e apresentava tempo
de estudo maior ou igual a oito anos (95,2%). O parto cesáreo foi o mais
frequente, representando 71,4% dos nascimentos. Quanto aos bebês, a maioria era
do sexo masculino (54,8%) e apresentava baixo peso ao nascer (61,9%). O peso de
nascimento variou entre 1255g e 3440g, com média de 2393g, e a menor idade
gestacional no nascimento foi de 30 semanas, sendo que 78,6% tinham entre 34 e
36 semanas. Todos apresentaram Apgar maior ou igual a sete no quinto minuto.
A prevalência do aleitamento materno (AM) e aleitamento materno exclusivo (AME)
entre os bebês pré-termo estudados está descrita na Tabela_1.
Tabela 1 Prevalência do aleitamento materno em bebês pré-termo aos 15 e 45 dias
após a alta hospitalar, e aos três e seis meses de vida, no período 2008 –
2009. Maringá - PR
AME AM Não AM TOTAL
n % n % n % N %
15 dias 30 71,5 08 19,0 04 9,5 42 100,0
45 dias 19 45,2 15 35,7 08 19,1 42 100,0
3 meses 16 38,1 12 28,6 14 33,3 42 100,0
6 meses 15 35,7 02 4,8 25 59,5 42 100,0
Notas:
AME = Aleitamento materno exclusivo;
AM = aleitamento materno;
Não AM = não recebem leite humano.
Pode-se perceber que a prática de AM estava presente em 90,5% (38) dos bebês
aos 15 dias após alta hospitalar, em 81,0% (34) aos 45 dias, em 66,7% (28) aos
três meses e em 40,5% (17) aos seis meses de vida.
Vale salientar que o tipo de AM considerado em cada um dos períodos estudados
foi aquele referido pela mãe durante as entrevistas e observado nas VD de
acompanhamento dos bebês durante o estudo matricial, sendo considerada a ordem
evolutiva AME, AM e não AM.
O ganho de peso diário dos bebês encontra-se descrito na Tabela_2.
Tabela 2 Média do ganho ponderal diário entre bebês pré-termo conforme o tipo
de aleitamento materno aos 15 e 45 dias após a alta hospitalar e aos três e
seis meses de vida, no período 2008 – 2009. Maringá - PR
AME AM Não AM
Ganho ponderal aos 15 dias (g/dia) 18,16 (n = 30) 13,37 (n=08) 21,17 (n = 04)
Ganho ponderal aos 45 dias (g/dia) 39,17 (n = 19) 36,59 (n = 15) 31,14 (n = 08)
Ganho ponderal aos três meses (g/ 43,03 (n = 16) 39,49 (n = 12) 30,20 (n = 14)
dia)
Ganho ponderal aos seis meses (g/ 17,03 (n = 15) 18,58 (n=02) 20,62 (n = 25)
dia)
Notas:
AME = Aleitamento materno exclusivo;
AM = aleitamento materno;
Não AM = não recebem leite humano.
Quanto ao estado nutricional das crianças, tanto no período da terceira como da
quarta VD, correspondente aos três e aos seis meses de vida, 92,9% apresentou
escore z dentro da faixa de normalidade (≥ -2), sendo que não foram encontradas
associações estatísticas entre as variáveis estudadas e o estado nutricional.
Ao aplicar o teste estatístico GAMMA verificou-se que a prática do AM aos três
meses estava associada tanto ao peso de nascimento (p=0,01/-0,623) quanto à
idade gestacional de nascimento (p= 0,01/-0,583), demonstrando que quanto menor
o peso e/ou menor a idade gestacional, maior a ocorrência de amamentação.
Embora a maioria dos bebês que estavam sendo amamentados aos 15 dias após a
alta fossem crianças nascidas com baixo peso (65,7%), não foi encontrada
associação entre o peso ao nascer e o AM neste período. Em contrapartida, no
sexto mês de vida houve uma queda de 64% na taxa de AM entre os bebês baixo
peso, de modo que 34,6% estavam sendo amamentados. Já nos bebês com peso de
nascimento adequado, essa queda apresentou-se reduzida (38,4%), com 50% desses
bebês mantidos em AM.
A taxa de AME apresentou valores consideráveis nos quatro períodos estudados,
porém o AME não apresentou associação estatística com nenhumas das variáveis
estudadas.
O teste ETA demonstrou correlação positiva à idade gestacional de nascimento e
ao ganho ponderal aos 45 dias (0,548), três meses (0,302) e seis meses (0,438),
sendo estas correlações caracterizadas como forte, leve e moderada
respectivamente, sugerindo que o nascimento mais próximo do termo está
relacionado com a melhor evolução do ganho de peso diário. O peso ao nascer
também apresentou correlação estatística leve com o ganho de peso aos 45 dias
(0,383), três meses (0,389) e seis meses (0,313), demonstrando que quanto maior
o peso ao nascer, maior é o ganho ponderal nesses períodos.
A idade materna demonstrou relacionar-se forte e positivamente com o ganho
ponderal nos quatro períodos estudados (15 dias: 0,629; 45 dias: 0,791; três
meses: 0,579 e seis meses: 0,602), denotando que quanto maior a idade materna,
melhor é o processo de ganho ponderal do bebê. Entretanto, quando a idade
materna foi categorizada em mães adultas e mães adolescentes, não foi
encontrada correlação entre as variáveis.
A prática do AM aos 15 dias apresentou correlação leve e positiva com o ganho
ponderal aos seis meses (0,333). Esta foi a única correlação encontrada entre a
amamentação e o ganho ponderal.
DISCUSSÃO
As taxas de AM e AME encontradas neste estudo apresentaram valores expressivos
quando comparadas à prevalência de AM no conjunto das capitais brasileiras e no
Distrito Federal, nas quais se constatou que, no ano de 2008 a duração mediana
do AME foi de 54,1 dias (1,8 meses) e a duração mediana do AM foi de 341,6 dias
(11,2 meses)(7). Destaca-se ainda que a população do estudo atual constituiu-se
de bebês prematuros, contexto este específico e no qual o processo de
amamentação configura-se como um desafio, já que estes bebês apresentam
imaturidade fisiológica e neurológica, que predispõe os mesmos a permanecerem
em estado de alerta por períodos muito curtos, em função da hipotonia muscular
e hiper-reatividade aos estímulos do meio ambiente(8), fatores estes que
interferem na iniciação e no estabelecimento da amamentação.
A falta de contato precoce entre mãe-filho e a ausência da amamentação na sala
de parto inibem o pico da produção láctea materna, quadro que pode ainda ser
agravado pela longa permanência do bebê na UTIN(4), e, mesmo que a mãe siga as
orientações recebidas da equipe no sentido da manutenção da lactação, muitas
vezes esta não consegue evitar a diminuição da produção do leite(9). Dessa
maneira, bebês nascidos prematuros, além de tratamento e cuidados especiais,
necessitam de maior incentivo e apoio à prática do AM, para que uma melhor
qualidade de assistência e de vida seja assegurada(9).
Embora as taxas de AM e AME tenham se mostrado elevadas entre os bebês
estudados, entre aqueles que nasceram com baixo peso, ainda que sem a
comprovação de uma associação estatística, a queda da prevalência do AM entre
os 15 dias após a alta e os seis meses de vida foi maior entre os bebês de
baixo peso, quando comparados com os nascidos com peso adequado. Dessa forma, a
atenção voltada à promoção e ao estabelecimento do AM nessa população especial
deve estender-se para além do período de hospitalização e do pós-alta imediato,
voltando-se para as dificuldades do binômio durante sua adaptação à rotina
domiciliar, bem como no enfrentamento das possíveis intercorrências que possam
surgir neste período(10).
No presente estudo, verificou-se que a prática do AM estava associada tanto ao
peso de nascimento quanto à idade gestacional, demonstrando que quanto menor o
peso e/ou menor a idade gestacional, maior a ocorrência de amamentação. Isso é
um fator positivo, visto já ter sido identificado que bebês prematuros e
nascidos com baixo peso que recebem leite materno, permanecem menos tempo
internados, e têm menor perda de peso do que aqueles que são alimentados por
fórmula láctea(4).
Resultados semelhantes foram encontrados em pesquisa que identificou associação
estatística entre peso ao nascer, idade gestacional e duração do internamento
do prematuro com a duração de AME(11). Outro estudo, por sua vez, identificou
correlação negativa entre peso ao nascer, idade gestacional e desmame parcial,
sendo que quanto menor o peso e a idade gestacional, mais tardia foi a
introdução da mamadeira(12).
Identificou-se que os bebês nos primeiros quinze dias não atingiram o ganho
ponderal de 25 a 30g esperados por dia no primeiro trimestre(13). Cabe
salientar que a necessidade calórica para o recém-nascido pré-termo é de 120-
130Kcal/kg/dia, para um ganho ponderal esperado de 15g/dia, tendo o colostro um
valor calórico estimado de 58 calorias/100mL(3).
Contudo, ao final do primeiro trimestre, os bebês atingiram média de ganho
ponderal de 43,03g/dia entre os com AME, 39,49g/dia nos com AM e de 30,20g/dia
entre aqueles não AM, ultrapassando o peso diário esperado. Em relação ao
segundo trimestre, esperava-se que os bebês tivessem um ganho ponderal de 20 a
25g/dia, porém somente os bebês que não receberam o leite materno atingiram o
ganho de 20,62g/dia; os demais atingiram a medida de 17,03g/dia (AME) e 18,58g/
dia (AM).
Pesquisa realizada em Taiwan, que monitorou por sete dias a oferta de leite e o
peso de 14 bebês com idade gestacional de 27 a 36 semanas, sendo quatro de
muito baixo peso e quatro de extremo baixo peso (peso corporal de 680 a 3050g),
evidenciou que todos receberam AM e tiveram ganho de peso ponderal adequado. A
média da Kcal do leite oferecido foi de 0,67Kcal/mL e o início da nutrição
enteral em todos os RN ocorreu no 15º dia de vida(14).
A prática maior do AM em crianças nascidas com baixo peso e menor idade
gestacional pode estar relacionada ao fato da mãe receber maior apoio à
amamentação, visto que o bebê é submetido a longos períodos de internação e
durante o estabelecimento do aleitamento, o binômio contar com o apoio
constante dos membros da equipe de saúde que atuam como facilitadores deste
processo(15). Um exemplo disso é o método Canguru. Em estudo realizado com
bebês pré-termo que permaneceram internados na Enfermaria Canguru, encontrou-se
alto índice de AME após a alta hospitalar(4), considerando que este método é
uma ótima estratégia de estímulo à prática da amamentação e que a assistência
recebida pela mulher durante o processo de parto, nascimento e internação
conjunta influencia positivamente a amamentação(16).
Por outro lado, a utilização de fórmulas supõe, de certa forma, a predisposição
materna ao desmame precoce, já que a utilização deste tipo de alimentação na
hospitalização faz com que as mães se sintam mais confortáveis para o desmame,
fato que as leva a deixar de oferecer ao filho o seu próprio leite e, por
conseguinte todas as propriedades benéficas do leite materno(17).
A correlação entre o maior ganho ponderal e a maior idade materna esteve
presente nos quatro momentos estudados, embora não tenha sido encontrada
associação entre a idade materna e a prática do AM. Outros estudos, no entanto,
têm identificado que a prevalência de AME é maior nas mulheres mais velhas
(9,18).
Esses dados sugerem que, quanto maior a idade materna, maior será a ocorrência
de amamentação, e consequentemente, maior o ganho ponderal, principalmente no
início da vida do bebê (9,19). Tais achados podem ser justificados devido a uma
maior capacidade de compreensão e maturidade das mulheres adultas em relação à
importância da prática do AM, e ao maior comprometimento advindo dessa
compreensão. Além disso, a experiência prévia de AM pode ser um fator
colaborador para a prática atual de alimentação do filho(20).
Além da idade, a presença de um companheiro, relatada pela maior parte das mães
deste estudo, embora não tenha apresentado correlação com significância
estatística, pode ser considerado ponto positivo para a prática do AM, visto
que estudo realizado com lactentes de até dois anos em Campinas mostrou que as
mulheres sem companheiro têm risco 17% maior de amamentar seus filhos por menos
tempo(21).
Neste estudo, a proporção de mães com escolaridade maior ou igual a oito anos
abrangeu quase a totalidade da amostra, o que pode ter influenciado os
resultados obtidos com relação à prática de AM e ao ganho ponderal observados.
Tais achados corroboram os resultados de outros estudos que concluíram que
mulheres com escolaridade mais elevada apresentam maiores frequências de AME
(9,22), enquanto que a baixa escolaridade e a atividade fora do lar estão
associadas à introdução precoce de alimentos(23), interferindo no crescimento
saudável e adequado da criança.
Para além da influência das características maternas na manutenção e
estabelecimento do AM, estudo que abordou as experiências vivenciadas pelas
mães de prematuros constatou que a dificuldade de manter a produção láctea
durante a hospitalização do bebê na UTIN pode colocar em risco o
estabelecimento do AM nestes bebês(24). Verificou ainda que, de acordo com as
mães, mesmo quando elas seguem as orientações recebidas dos profissionais de
saúde, não conseguem evitar a diminuição da produção láctea e apontam a
ausência da sucção do recém-nascido ao peito como a principal razão para isto
ocorrer, embora reconheçam a influência do contexto geral, caracterizado pelas
condições físicas do filho e também a seu próprio estado físico mental(24).
Reforçando estes achados, estudo de revisão sobre os fatores associados à
manutenção do aleitamento materno de recém-nascidos pré-termo, destacou como
fatores dificultadores a prematuridade, a fragilidade do RN e a dificuldade de
sucção no peito materno, as sequelas neonatais; o tempo de internação e de
separação da mãe e filho. Por outro lado, dentre os fatores que facilitaram a
manutenção da AM destacou a realização da ordenha mamária manual ou elétrica, o
desenvolvimento do vínculo entre a mãe e o bebê, apoio dos profissionais de
saúde e dos pais para o AM e o início do AM durante a internação na UTIN(22).
No presente estudo, a correlação observada entre o maior ganho ponderal e o
nascimento mais próximo do termo, assim como em relação ao maior peso ao
nascer, podem estar relacionadas com o fato dos bebês apresentarem melhores
condições de crescimento desde o ambiente intra-útero, com maior maturidade
fisiológica e reservas energéticas para o enfrentamento dos primeiros dias de
vida. No entanto, é importante lembrar que a correlação encontrada foi leve, e
ainda se contrapõe a achados de outro estudo realizado com 3172 crianças
nascidas a termo, que demonstrou que o peso de nascimento tem relação negativa
com o ganho de peso nos primeiros seis meses(25).
A correlação entre a prática do AM aos 15 dias após a alta hospitalar e o maior
ganho ponderal aos seis meses de vida corrobora as conclusões de outro estudo
em que foi identificado que lactentes amamentados com leite materno crescem
mais rapidamente no começo da vida, quando comparados aos lactentes alimentados
com fórmulas lácteas(19). Tais crianças (com predomínio do AM) apresentam
melhores velocidades de crescimento nos primeiros meses, porém a velocidade de
crescimento a partir do sétimo mês de vida torna-se maior entre as crianças
alimentadas apenas com fórmulas(19). O fato de ter sido incluído no referido
estudo tanto bebês prematuros quanto a termo impede uma comparação mais linear
entre os resultados.
Ainda no que tange ao ganho ponderal, um estudo alemão realizado com lactentes
aos nove meses de vida constatou que crianças que não foram amamentadas ou o
foram por me-nos de quatro meses, apresentaram desde o nascimento, score z de
peso para comprimento menor do que aquelas crianças que receberam leite materno
por seis meses ou mais(26).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não obstante o fato de haver limitações ao estabelecimento do AM na população
de prematuros, fica cada vez mais evidenciada a sua viabilidade e importância,
dados os benefícios imensuráveis no âmbito biológico e psicossocial tanto para
a criança, quanto para a mãe e a família.
São poucos os estudos que contemplem a temática do aleitamento materno no
contexto específico dos bebês prematuros. Seus benefícios com relação às
propriedades imunológicas e nutritivas já estão mais do que comprovados na
literatura médica; entretanto, ainda não se sabe ao certo o quanto essa prática
é capaz de favorecer o processo de crescimento e de ganho ponderal dessas
crianças.
Conhecer quais os fatores que favorecem a prática da amamentação, assim como
aqueles que interferem neste processo, é imprescindível para o planejamento de
ações voltadas a tal clientela, de modo a propiciar que os benefícios desta
prática possam ser usufruídos plenamente pelo binômio, pela família e pela
comunidade. Ser enfermeiro abrange não só atender as demandas de seus clientes,
mas também prever possíveis necessidades e dificuldades, e dessa maneira, bus-
car estratégias que permitam contorná-las de forma efetiva, com apoio,
orientação e escuta compreensiva.
É importante salientar que, embora este estudo tenha encontrado resultados
importantes, o pequeno número amostral constitui uma limitação, pois
impossibilitou testes estatísticos mais aprofundados, o que aponta a
necessidade de realização de novas pesquisas com o intuito de identificar
outros fatores relacionados com a prática do aleitamento materno entre pré-
termos e suas repercussões sobre o crescimento, em especial, sobre o ganho
ponderal dessas crianças.