Utilização de experiências musicais como terapia para sintomas de náusea e
vômito em quimioterapia
INTRODUÇÃO
A incidência do câncer vem crescendo a cada dia no Brasil e no mundo, e estima-
se que, em 2020, o número de casos anuais seja da ordem de 15 milhões(1).
A quimioterapia (QT) constitui uma das modalidades de maior opção para o
tratamento do câncer. De acordo com sua finalidade, a QT pode ser classificada
em: curativa, que objetiva a erradicação de evidências das células cancerosas;
paliativa, que visa minimizar sintomas decorrentes da proliferação tumoral
aumentando a sobrevida. Pode ainda ser classificada de acordo com o período do
tratamento em que é realizada, podendo ser adjuvante, ou seja, realizada depois
de um tratamento principal, como por exemplo, a cirurgia e; neoadjuvante,
quando é realizada previamente ao tratamento principal(1-2).
As principais toxicidades da quimioterapia são: mielodepressão, náuseas e
vômitos, alopecia, toxicidade renal, cardiotoxicidade, toxicidade pulmonar,
neurotoxicidade, lesão gonadal e esterilidade, de acordo com a droga ou a dose
(3-4).
Entre os pacientes em tratamento quimioterápico, as náuseas e os vômitos estão
entre os efeitos colaterais mais temidos, pois desencadeiam grande desconforto,
além de prejudicarem a condição nutricional, o equilíbrio hidroeletrolítico e a
qualidade de vida do indivíduo. Muitas vezes, esses efeitos tornam-se fonte de
intensa ansiedade e estresse e, não raro, contribuem para o abandono do
tratamento(3,5-7).
A náusea pode ser definida como uma sensação subjetiva de incômodo gástrico,
período anterior ao ato de vomitar, compreende vários outros sinais autônomos
característicos como: salivação, palidez, dilatação pupilar, bradicardia ou
taquicardia, variações da pressão arterial, ventilação profunda, rápida e
irregular. O vômito é conceituado como a expulsão do conteúdo gástrico através
da boca, geralmente é precedido por náusea e frequentemente associado com ânsia
(contrações repetitivas da parede abdominal sem expulsão de conteúdo gástrico)
(3,6).
Visto o impacto negativo que as náuseas e os vômitos podem trazer aos pacientes
oncológicos em QT, pretendeu-se com esse estudo aplicar as experiências
musicais para avaliação dos efeitos terapêuticos desse método nos sintomas de
náuseas e vômitos associados à quimioterapia antineoplásica, e identificar as
mudanças ocasionadas nos parâmetros vitais (frequência cardíaca, respiratória e
pressão arterial antes e após a intervenção musical terapêutica) desse grupo de
pacientes.
A música como uma estratégia de cuidado
A música é um elemento que faz parte das diferentes sociedades, desde as mais
antigas às atuais. Cada uma destas sociedades utiliza a música de diversas
maneiras dando a ela funções específicas. Os escritos relacionados à
civilização egípcia nos mostram que a música era utilizada como recurso
terapêutico(8).
Efeitos fisiológicos e psicológicos com a utilização da música são descritos no
decorrer dos séculos. Durante a Idade Média, artistas menestréis tocavam para
as pessoas doentes para acelerar o processo de cura. No século XVIII, Browne
afirmou que o canto implica no sistema respiratório, aumenta a pressão na
expiração, exercita o pulmão para os asmáticos e é prejudicial para qualquer
pessoa acometida de inflamações pulmonares(9).
Já no século XIX, Dogiel publicou os efeitos fisiológicos gerados pela música
de forma determinante; concluindo que a música altera a pressão sanguínea, os
batimentos cardíacos, o sistema respiratório e o circulatório, através das
alterações dos elementos musicais: altura, intensidade e timbre. Tarchanoff
divulgou também em 1894 que as melodias alteram a força muscular do homem(9).
O controle integral da náusea e vômitos pode variar para cada indivíduo, uma
vez que outros fatores podem induzir ou potencializar esses efeitos colaterais,
como: fatores psicológicos, comportamentais, idade, gênero, índice de massa
corpórea (IMC) elevado, quadros de ansiedade e experiência prévia com QT
implicando, assim, na necessidade de ações individualizadas e adaptadas para
cada pessoa(8).
Os quimioterápicos são classificados em quatro níveis de intensidade
emetogênica, de acordo com a frequência dos episódios de vômito. As
consideradas nível 4 são altamente emetogênicas, onde a incidência de vômitos é
superior a 90%. Nas consideradas de nível 3, a incidência de êmese varia de 30
a 90%, e nas de nível 2, aquelas com baixa incidência de êmese, em torno de
30%. Consideradas como nível 1 estão aquelas que causam muito baixa incidência
de êmese (menos que 10%)(3,6).
A análise de alguns estudos evidencia a associação dos saberes e práticas de
utilização da música para a saúde com práticas médicas associadas às
experiências musicais, trazendo efeitos fisiológicos que envolvem mudanças no
metabolismo, liberação de adrenalina, regulação de frequência respiratória,
variações na pressão arterial sanguínea, redução da fadiga, do tônus muscular e
aumento do limiar dos estímulos sensoriais, melhorando a atenção e a
concentração. Este método pode ser usado como um recurso terapêutico
complementar no manejo e no controle dos sintomas, inclusive advindos do
tratamento oncológico(10-12). Sendo assim, questiona-se: as experiências
musicais podem aliviar os sintomas de náuseas e vômitos associados à
quimioterapia antineoplásica?
A musicoterapia é o campo da medicina que estuda o complexo som-ser humano-som,
para utilizar o movimento, o som e a música com o objetivo de abrir canais de
comunicação no ser humano, para produzir efeitos terapêuticos. A música e/ou
seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) são utilizados, em geral, por
um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, que objetiva
desenvolver potenciais ou restabelecer funções do indivíduo para que ele possa
alcançar uma melhor qualidade de vida(11).
No contexto da Enfermagem, a música tem sido utilizada como recurso
complementar no cuidado ao ser humano, em todas as idades, objetivando
restaurar o equilíbrio e o bem estar possível, além de favorecer a comunicação
e, muitas vezes, a ampliação da consciência individual no processo saúde/doença
(9,11).
A musicoterapia não se vale apenas da utilização da música, mas, sim, das
experiências musicais do indivíduo, ou seja, não é somente a música (elemento
externo ao indivíduo) que atua na terapia, mas toda forma de interação entre
essa pessoa e a experiência que tem com a música, incluindo a interação entre
pessoas, processos, produtos e contextos. Na música, existem diferentes tipos
de experiências e cada um desses tipos tem seus potencias específicos e suas
aplicações terapêuticas(11-12).
A partir desses pressupostos lançou-se a hipótese de que as experiências
musicais são capazes de minimizar náuseas e vômitos apresentados por pacientes
submetidos à quimioterapia antineoplásica.
O presente estudo teve como objetivo aplicar as experiências musicais para
avaliação dos efeitos terapêuticos em náuseas e vômitos associados à
quimioterapia antineoplásica, e identificar se ocorrem alterações nos
parâmetros vitais dos pacientes que participam dessas experiências.
MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo, transversal, nível II, que utilizou os
recursos da abordagem quantitativa. O estudo foi realizado em um ambulatório de
quimioterapia de um hospital geral, particular, de grande porte, localizado no
município de São Paulo. Com base em amostragem de conveniência, adotou-se como
critério de seleção, pacientes oncológicos admitidos no referido ambulatório de
quimioterapia que fizeram uso de quimioterápicos com moderado ou alto potencial
emetogênico, no período de julho a dezembro de 2010, e que concordaram em
participar da pesquisa preenchendo e assinando o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). Treze pacientes participaram do estudo.
Os critérios para inclusão na pesquisa foram pacientes com idade superior a 18
anos que estavam sendo submetidos à quimioterapia antineoplásica com as
seguintes drogas consideradas de alto ou moderado potencial emetogênico:
carmustine, cisplatina, ciclofosfamida (com dose menor ou maior que 1500mg/m2,
via oral e em dias consecutivos), dacarbazina, mecloretamina, carboplatina,
epirrubicina (dose inferior que 90mg/m2), idarrubicina, ifosfamida,
irinotecano, citarabina (dose maior 1000mg/m2), dactinomicina, mitoxantrona
(dose superior 12mg/m2), daunorrubicina, oxaliplatina, doxorrubicina e
procarbazina (via oral)(3,5) e conscientes, sendo verificado o nível de
consciência mediante a aplicação da Escala de Coma Glasgow, com escore igual a
15.
Para a coleta dos dados foram utilizados dois instrumentos: o primeiro,
elaborado pelas autoras da pesquisa, composto por questões sobre os dados
sociodemográficos, a pontuação da Escala de Coma Glasgow, a doença oncológica e
as associadas, o protocolo quimioterápico, os antieméticos em uso, os hábitos
sociais (consumo de álcool e/ou tabaco), e a verificação de parâmetros vitais -
pressão arterial (PA), frequência cardíaca (FC) e frequência respiratória (FR),
feita antes e após as sessões de musicoterapia. O outro instrumento utilizado
foi um formulário elaborado pela Multinational Association of Supportive Care
in Cancer (MASCC) adaptado pelas autoras para atender aos objetivos da pesquisa
(Anexo A).
O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Israelita Albert Einstein sob o protocolo número10/1385. Previamente à coleta,
foi realizada uma solicitação formal de autorização para a coleta dos dados à
responsável pelo ambulatório de quimioterapia.
Também, seguindo protocolo formal para testagem da pesquisa, foi realizado
contato com a enfermeira do campo de estudo para verificar quais pacientes
atendiam aos critérios de inclusão e agendamento para realização das sessões de
musicoterapia.
A seguir, os pacientes oncológicos selecionados, foram orientados quanto aos
objetivos do estudo e entregue o TCLE. Posteriormente, para aqueles que
manifestaram o desejo de participar da pesquisa, foram verificados os sinais
vitais e aplicados os instrumentos de coleta.
Para a intervenção musical terapêutica foram trabalhados os elementos
fundamentais da música (melodia, harmonia e ritmo) e sua relação com a natureza
humana dos pacientes (vida fisiológica, vida mental/emocional, vida mental/
cognitiva e social).
Os aportes teóricos que fundamentaram a pesquisa buscaram referências
terapêuticas em Edgard Willems(13) e da musicoterapia de Benenzon(8) e Bruscia
(11).
Ao término de cada sessão, foi realizada novamente a aferição dos sinais
vitais, bem como entregue ao entrevistado o instrumento da MASCC. O
participante foi orientado quanto ao preenchimento do mesmo e a trazê-lo no
segundo dia de quimioterapia preenchido.
Para a comparação dos efeitos das experiências musicais nas náuseas e vômitos
associados à quimioterapia antes e após as sessões foi utilizado o teste de
Wilcoxon que consiste em um teste não paramétrico, equivalente ao T student, e
foi utilizado para comparar a diferença entre os escores de náuseas antes e
após as duas experiências musicais. O teste de Wilcoxon compreende um teste
usado quando os dados não atendem às suposições básicas do teste T student.
RESULTADOS
Caracterização da amostra
Foram coletados dados de 13 pacientes, sendo que oito fizeram duas sessões de
musicoterapia e cinco apenas uma, pois, no decorrer da pesquisa, alguns
pacientes foram internados por motivos outros que não náusea e vômito.
A maior parte da população foi composta por pacientes do sexo feminino (61%),
com idade entre 40 a 60 anos (60%), casados (77%) e com câncer de mama (31%).
No Quadro_1 visualizam-se os quimioterápicos utilizados em cada paciente e as
medicações coadjuvantes para controle de náusea e vômito. Houve uma combinação
de drogas de alto nível emetogênico, moderado e baixo.
Quadro 1 Distribuição dos quimioterápicos, antieméticos e medicações adjuvantes
para náusea e vômito por paciente participante do estudo. São Paulo-SP, 2010
Paciente Quimioterápico Antieméticos e medicações adjuvantes para náusea/
vômito
Doxorrubicina - Dexametasona - 8 mg
200 mg/m2
1 Cisplatina - 40 Granisentrona - 1 mg
mg/m2
Etoposideo - 100 Lorazepam - 0.5 mg
mg/m2
Mitoxantrone via
oral - 0.5 mg
Doxorrubicina - Aprepitante - 125 mg
97 mg/m2
Ciclofosfamida - Ondasetrona - 16 mg
972 mg/ m2
2 Dexametasona - 12 mg
Aprepitante - 125 mg
Ondasetrona - 16 mg
Dexametasona - 12 mg
3 Irinotecano- 85 Dexametasona - 8 mg
mg
Carboplatina- 490 Ondasetrona - 8 mg
mg
Carboplatina - Aprepitante - 125 mg
720 mg/m2
4 Dexametasona- 20 mg
Granisentrona - 1 mg
Lorazepam- 0.5 mg
5 Gencitabina - Ondasetrona- 4 mg
1780 mg
Dexametasona- 4 mg
6 Cisplatina - 2 Dexametasona- 20 mg
mg/m2
+ Radioterapia
associada todos Palonosentrona - 0.25 mg
os dias
Epirrubicina -170 Aprepitante- 125 mg
mg
7 Ciclofosfamida - Dexametasona - 1mg
865 mg
Granisentrona - 1mg
8 Cisplatina - 78 Granisentrona - 1 mg
mg
Dexametasona - 15 mg
9 Doxorrubicina - Ondasetrona - 4 mg
57,5 mg
Dacarbazina - 860 Dexametasona - 10 mg
mg
Cisplatina - 30 Granisentrona - 1 mg
mg/m2
10 Dexametasona - 20 mg
Lorazepam - 0,5 mg
Ciclofosfamida - Dexametasona - 12 mg
965 mg
11 Doxorrubicina - Granisentrona - 1 mg
95 mg
Aprepitante - 125 mg
12 Ciclofosfamida - Dexametasona - 20 mg
600 mg
Metrotexate - 40 Palonosentrona - 0,25 mg
mg/m2
Carboplatina - Granisentrona - 1 mg
167 mg
13 Paclitaxel - 158 Dexametasona - 10 mg
mg
Gencitabina -
1580 mg
Fonte: elaboração das autoras.
Os pacientes nº 2, 3, 4, 6, 7 e 11 utilizaram quimioterápicos de moderado risco
emetogênico, representando a maioria (46%) da amostra. Dois pacientes (nº 12 e
13) receberam quimioterápicos com moderado e baixo risco emetogênico
concomitantemente, representando 15% amostra. Outros dois pacientes (nº 8 e 10)
receberam quimioterápicos com alto potencial emetogênico (15%). Um paciente (nº
9) recebeu uma combinação de drogas de alto e moderado nível emetogênico.
Todos os pacientes estavam fazendo uso de, pelo menos, uma droga quimioterápica
de alto ou moderado potencial emetogênico, com exceção do paciente nº 5 que
estava em tratamento com gencitabina, droga classificada de baixo potencial
emetogênico. No entanto, esse paciente foi incluído, pois apresentava queixa de
êmese constante e foi indicado pela nutricionista do ambulatório para a sessão
de musicoterapia.
Os pacientes fizeram uso de antieméticos antes da infusão do quimioterápico,
conforme os guidelines propostos internacionalmente pela National Comprehensive
Cancer Network (NCCN) e pela American Society of Clinical Oncology (ASCO),
inclusive o fármaco aprepitante, medicação inibidora de neuroquinina (NK1),
preconizada para protocolos quimioterápicos de moderado e alto potencial
emetogênico.
Com relação aos sinais vitais, não houve alterações significativas na pressão
arterial da maioria dos pacientes. Contudo, houve redução da frequência
cardíaca em 77% da amostra (pacientes nº 1, 2, 4, 5, 6, 8, 10, 11, 12, 13); e
redução da frequência respiratória na maioria dos pacientes, com exceção do
paciente nº 7, após as sessões de musicoterapia.
Visualiza-se na Tabela_1 que não houve significância estatística na variação
dos sinais vitais antes e após as sessões de musicoterapia, utilizando-se o
teste T de Student, onde o p foi sempre maior que 0,05.
Tabela 1 Correlação entre as médias de sinais vitais antes e após as sessões de
musicoterapia. São Paulo-SP, 2010
Variável N Média Desvio padrãoValor p < 0,05
PAs1 antes da primeira experiência 21 118,10 14,36 NS
musical
PAs após a primeira experiência musical21 118,57 13,15 NS
PAd2 antes da primeira experiência 21 73,81 6,69 NS
musical
PAd após a primeira experiência musical21 74,29 7,46 NS
FC3 antes da segunda experiência musical21 80,81 12,44 NS
FC após a segunda experiência musical 21 78,24 10,82 NS
FR4 antes da segunda experiência musical21 18,286 1,488 NS
FR após a segunda experiência musical 21 18,095 1,338 NS
Fonte: Dados do estudo.
1PAs= pressão arterial sistólica;
2PAd= pressão arterial diastólica;
3FC= frequência cardíaca;
4FR= frequência respiratória;
NS = não significativo
Observa-se na Tabela_2 que houve redução significativa de náuseas antes e após
as sessões de musicoterapia. Antes e após a primeira sessão houve significância
no Teste de Wilcoxon de 0,001, e antes e após a segunda experiência musical, a
significância foi de 0,005.
Tabela 2 Comparação entre as médias de náuseas antes e após as experiências
musicais pelo Teste de Wilcoxon. São Paulo-SP, 2010
Variável n Média Desvio padrãoValor p <
0,05
Náuseas antes da primeira experiência 13 1,923 1,441
musical
Náuseas após a primeira experiência 13 0,000000 0,000000
musical
Wilcoxon Test 0,001
Náuseas antes da segunda experiência 09 4,78 3,63
musical
Náuseas após a segunda experiência 09 0,556 1,333
musical
Wilcoxon Test 0,005
Fonte: Dados do estudo.
DISCUSSÃO
O presente estudo teve como objetivo aplicar as experiências musicais para
avaliação dos efeitos terapêuticos em náuseas e vômitos associados à
quimioterapia antineoplásica e identificar alterações nos parâmetros vitais.
Todos os pacientes na presente pesquisa utilizavam antieméticos de primeira
geração como antagonistas de 5HT3 (ondasentrona, granisentrona, entre outros),
e de segunda geração (palonosentrona e antagonistas de NK1 - aprepitante) que
permitem um ótimo controle de náusea e vômito causados pela quimioterapia(2).
No entanto, o número de pacientes que apresentavam náuseas ou vômitos na
primeira experiência musical sugere que, somente a terapia farmacológica, não
controla totalmente os sintomas em 100% dos casos de pacientes submetidos à
quimioterapia de alto ou moderado potencial emetogênico.
Em grande ensaio clínico randomizado, cerca de 50% dos doentes em tratamento
com quimioterapia de elevado risco emético tiveram vômitos, e 58%
experienciaram náuseas, apesar de submetidos à terapia antiemética(14).
Neste estudo, foi possível observar que não houve alterações estatisticamente
significativas com relação aos parâmetros vitais. Em um estudo sobre os efeitos
terapêuticos da música após cirurgia cardíaca em 79 crianças, em uma Unidade de
Terapia Intensiva, foi verificado uma contribuição importante da música no
controle da dor, da ansiedade e na redução dos sinais vitais, principalmente na
frequência cardíaca e respiratória(15).
Já com relação ao escore de náusea e vômito houve redução estatisticamente
significativa, assim como em outro estudo que utilizou também técnica não
farmacológica para controle desses sintomas, evidenciando que apenas a
abordagem farmacológica não é suficiente para o controle total dos mesmos em
pacientes submetidos à quimioterapia de alto e moderado potencial emético(16),
confirmando a hipótese dos autores de que tais efeitos poderiam ser reduzidos
com as experiências musicais. Pesquisa realizada nos Estados Unidos da América
afirmou que a música reduziu significativamente a incidência de náuseas e
vômitos induzida por quimioterapia, e que pode ser usada como um abordagem de
apoio no processo de quimioterapia para o paciente(17).
Em uma reflexão teórica sobre a importância das intervenções não farmacológicas
direcionadas a procedimentos de enfermagem para pacientes com câncer, discute-
se e enfatiza-se a musicoterapia como recurso relevante na área de enfermagem
(18). Assim, torna-se necessária a inserção de programas de educação permanente
em serviço de saúde com treinamento para o uso de terapias complementares, a
fim de aumentar o interesse e a sensibilidade das equipes de profissionais que
trabalham nessa área(19-20), especialmente em setores de oncologia.
Destarte, os estudos supracitados reforçam e corroboram os achados da presente
pesquisa, que mostrou que o uso de técnica não farmacológica é uma alternativa
para o controle de náuseas e vômitos. O presente estudo, dentro das limitações
da amostra, demonstrou que a musicoterapia foi uma importante ferramenta para
minimizar a náusea e vômito associados à quimioterapia antineoplásica, visto
que houve uma diferença estatística significativa (p<0,005) na percepção dos
participantes da pesquisa depois das experiências musicais.
Pode-se verificar que a musicoterapia vem sendo utilizada para diferentes tipos
de população e com diferentes objetivos, como redução de ansiedade e dor. No
entanto, houve dificuldade na obtenção de estudos sobre a utilização desta
terapia em pacientes oncológicos com náusea e vômito.
Ressalta-se que, para se obter uma intervenção musical eficiente, foi
considerado neste estudo, aspectos importantes de acordo com os aportes
teóricos(8,11,13) como a preferência musical, o tempo de intervenção, os
atributos e natureza da música, o desejo do indivíduo em participar de
atividades envolvendo música, a idade e os efeitos fisiológicos desencadeados
pela música.
Diversos autores orientam sobre a estratégia de se considerar a preferência
musical do paciente para a eficácia da terapia(8,11-12,15-17), pois o êxito do
tratamento complementar depende do prazer despertado pela música, fazendo com
que o cérebro da pessoa privilegie sensações prazerosas em detrimento dos
efeitos do tratamento quimioterápico.
Em relação à natureza e aos atributos da música, como o ritmo, a harmonia, a
melodia e o volume, esses precisam ser levados em consideração de acordo com os
efeitos que se almeja alcançar com a intervenção musical(11,16-17). Músicas com
ritmo e melodia mais calmas e com tons mais graves são as mais indicadas quando
se deseja proporcionar sensações de tranquilidade, pois estes componentes podem
reduzir a agitação, a ansiedade e promover relaxamento e prazer(8,12).
Segundo Lee e colaboradores, os profissionais acreditam nos efeitos benéficos
da musicoterapia(18). Esse talvez seja o primeiro passo no sentido de aplicação
dessa terapia, dentre outras possíveis, nas diferentes áreas(18) de saúde.
Acredita-se que muitos profissionais da saúde não utilizam essa forma de
terapia, provavelmente, por não se sentirem preparados para tal.
Destarte, deve-se frisar que a intervenção musical traz benefícios tanto
fisiológicos quanto psicológicos para pessoas em qualquer faixa etária(8,11,17)
e pode-se constituir em um recurso eficaz para qualificar o cuidado ao paciente
oncológico, além de ser uma intervenção de baixo custo, não farmacológica e não
invasiva.
O enfermeiro pode ser um facilitador do processo do uso da musicoterapia,
expandindo sua atuação através da implantação da intervenção musical nos
serviços de saúde, participando não só como executor do projeto, mas também da
avaliação de sua eficácia. Assim, possibilitará a amenização do sofrimento de
pacientes, especialmente os oncológicos em tratamento quimioterápico. Mas, para
isso, o profissional precisará buscar conhecimentos específicos para saber como
atuar, avaliar e orientar os pacientes e demais membros da equipe de saúde
sobre os benefícios dessa terapia complementar.
CONCLUSÃO
Embora a música tenha influenciado minimamente nas modificações dos parâmetros
vitais, houve redução estatisticamente significativa de náuseas e vômitos antes
e após as experiências musicais. Assim, apesar de não permitir generalizações,
em razão do número de pacientes estudados, pode-se concluir que a utilização da
música diminuiu e proporcionou alívio nas náuseas e vômitos dos participantes.
Ressalta-se que o estudo apresenta como limitação o reduzido tamanho amostral,
decorrente de ter sido realizado em uma única unidade ambulatorial com os
pacientes submetidos a quimioterapia antineoplásica em uso de drogas
consideradas de alto ou moderado potencial emetogênico, apesar de estar de
acordo com os critérios estipulados no método. Contudo, essa limitação serve
como orientação para estudos futuros mais aprofundados que ratifiquem os
resultados positivos e estimulem a continuidade desse tipo de avaliação com
grupos maiores de pacientes e em diferentes espaços hospitalares para uma
possível confirmação desses resultados preliminares.
Os dados apresentados sinalizam para a utilização da musicoterapia como
abordagem terapêutica adjuvante no tratamento quimioterápico para portadores de
câncer, pois contribui para a redução de náusea e vômito e, consequentemente,
para a melhoria da qualidade de vida do indivíduo em uso de drogas
antineoplásicas.
Pretende-se que os resultados deste estudo incentivem o uso de terapias
complementares na prática da Enfermagem. Entretanto, é necessário que o
profissional esteja motivado, seja qualificado e treinado para realizar as
intervenções com segurança, de acordo com os princípios éticos, respeitando as
preferências do ser humano e apropriando-se do domínio da terapia a ser
utilizada.
ANEXO A- FORMULÁRIO ADAPTADO DE INSTRUMENTO ANTIEMÉTICO MASCC (MULTINATIONAL
ASSOCIATION ON SUPORTIVE CARE IN CANCER)