Percepção dos receptores sanguíneos quanto ao processo transfusional
INTRODUÇÃO
Hemotransfusão é a administração de diversos produtos sanguíneos por via
endovenosa, configurando-se em uma tecnologia de extrema importância na
terapêutica moderna. É um procedimento complexo e, por esta razão, requer
conhecimento específico por parte dos profissionais envolvidos no processo,
haja vista, a necessidade de cuidados especializados na administração e na
identificação de complicações agudas ou tardias(1).
Por ser a equipe de enfermagem a responsável pela administração e controle do
processo transfusional, cabe a ela observar o paciente antes da transfusão,
avaliar seu estado durante e acompanhá-lo ao término desta, prevenindo
possíveis complicações ou reações transfusionais(2). Neste contexto, a equipe
de enfermagem é de grande importância, bem como a qualidade dos controles e
registros, de maneira que se torna imprescindível amplos conhecimentos para
identificação de possíveis anormalidades ao longo de todo o processo.
Profissionais sem domínio de conhecimentos em hemoterapia ou habilidade técnica
podem favorecer a ocorrência de erros minimizando a segurança transfusional(3).
Neste contexto, as transformações nas práticas de hemoterapia trouxeram consigo
novos deveres e obrigações relacionadas à bioética acarretando mudanças tanto
na qualidade da assistência prestada, quanto na percepção dos pacientes. Há
novas e melhores terapias, há mais informações sobre elas, porém, o medo e a
angústia relacionados ao processo permanecem presentes em muitos casos,
principalmente, quando se observa a realidade dos receptores(4).
Procedimentos médicos tais como as cirurgias cardíacas e os transplantes
acabaram por aumentar consideravelmente a demanda por transfusões sanguíneas
(5). No Brasil, não há dados disponíveis sobre a demanda por sangue, porém
estimativas indicam cerca de três milhões e seiscentas mil transfusões todos os
anos(6). Os estudos sobre as percepções dos receptores ainda são incipientes,
embora exista número significativo de pesquisas sobre o processo de doação em
si e a percepção dos doadores.
Os receptores de transfusão sanguínea são passíveis de dúvidas, incertezas e
inseguranças, que possivelmente podem interferir no processo transfusional.
Explorar situações e questionamentos que contemplem os sentimentos dos
receptores torna-se atividade significativa, na medida em que pode servir para
a elaboração de estratégias que minimizem os riscos ou desconfortos que essa
prática pode vir a gerar.
A realização deste estudo foi impulsionada pelo cotidiano de trabalho em
unidade de hemoterapia e a observação da lacuna existente no que se refere à
assistência aos pacientes receptores de hemotransfusão, além da contribuição da
enfermagem na terapia com hemoderivados. Desta forma, o objetivo geral deste
estudo foi conhecer a percepção dos receptores sanguíneos quanto ao processo
transfusional.
MÉTODO
Pesquisa qualitativa, exploratória descritiva, realizada em uma clínica privada
de um município da região sul do Brasil, na qual há um serviço especializado em
Hemoterapia que atende pacientes pós-cirurgia cardíaca, dentre outros. Os
participantes deste estudo foram 11 sujeitos (quatro mulheres e sete homens),
receptores de hemocomponentes, em processo transfusional para reabilitação pós-
cirurgia cardíaca. Todos os receptores de sangue participaram deste estudo
mediante aceite e assinatura prévia do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, respeitando os aspectos abordados na resolução 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde. Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética e Pesquisa
da Universidade do Vale do Itajaí, sob o protocolo 503/09b.
Foram incluídos no estudo pacientes maiores de idade e em condições clínicas
satisfatórias para participar da entrevista. Foram excluídos os sujeitos que se
encontrassem ausentes da clínica no momento da coleta de dados, por conta da
realização de exames ou outros procedimentos. A coleta de dados ocorreu no
período de dezembro de 2011.
A técnica utilizada para coleta de dados foi a entrevista, com média de duração
de 30 minutos. Utilizou-se um questionário contendo questões abertas
relacionadas ao processo transfusional que intencionaram aprofundar as questões
relativas à percepção dos sujeitos sobre o momento, significado atribuído ao
sangue e ao processo e sentimentos relacionados. Na análise dos dados, foi
utilizada a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), em que se procura o
pensar expresso de forma discursiva por um conjunto de sujeitos, sobre
determinado assunto. O DSC se organiza em quatro figuras metodológicas:
Ancoragem (AC), que é a manifestação linguística explícita de uma teoria,
ideologia, ou crença que o autor do discurso declara; Expressões-chave (ECH)
que são trechos do discurso individual, devendo ser destacados pelo
pesquisador, reveladores da essência do conteúdo do discurso; Ideia Central
(IC), expressão que descreve a partir da leitura dos textos coletados, o
sentido de cada um dos discursos, que revelam o tema do depoimento ou sobre o
que o sujeito está falando; o DSC é composto pelas ECHs que tem a mesma IC(7).
A análise do material foi feita extraindo-se de cada um dos depoimentos a Ideia
Central, Ancoragens e suas correspondentes Expressões-Chave, a fim de que
compusessem um ou vários discursos-síntese, na primeira pessoa do singular.
Dessa forma, o sujeito coletivo se expressou por meio de um discurso emitido no
que se poderia chamar de primeira pessoa coletiva do singular, pois, várias
pessoas discursaram sobre determinado tema, mas não formam um nós, mas, um eu
coletivizado(7).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caracterização dos participantes do estudo
Dentre os indivíduos participantes, quatro eram do sexo feminino e sete do sexo
masculino. As idades variaram entre 30 e 95 anos. Em relação à religião, 63%
eram católicos, 27% evangélicos, 9% kardecistas. Quanto ao estado civil, 72%
eram casados, 18% viúvos e 9% desquitados.
Os resultados são apresentados de acordo com os temas e a transcrição dos
discursos do sujeito coletivo (DSC) e ideias centrais (IC), que embasaram a
análise dos dados. Cabe ressaltar que o discurso representa o coletivo dos
pacientes receptores de hemocomponentes entrevistados e, conforme a técnica
apresenta-se como se fosse o relato de uma única pessoa.
DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO
1ª Pergunta: Você tem conhecimento de por que está recebendo esta transfusão?
Perda e reposição sanguínea. (IC)
Sim, devido à perda excessiva de sangue na cirurgia cardíaca a que me
submeti, estava com o hematócrito muito baixo e mal estar geral, logo
precisei de muito sangue para repor hemácias e melhorar a oxigenação.
(DSC)
A percepção declarada no discurso evidencia clareza por parte dos receptores da
real necessidade de submeterem-se ao processo transfusional. A medicina
transfusional é um complexo processo que depende de uma equipe interdisciplinar
(8), que exerce um papel fundamental na segurança da hemotransfusão e cuja
responsabilidade consiste, inclusive, em manter o paciente informado acerca dos
procedimentos a que é submetido.
A atividade de orientação dos pacientes receptores de transfusão sanguínea por
parte dos profissionais de saúde é indispensável, para que haja colaboração
destes e sucesso de todo o processo. Neste contexto, os profissionais da saúde
não apenas administram transfusões, mas também devem conhecer suas indicações,
providenciar e checar dados importantes na prevenção de erros, orientar os
pacientes sobre a transfusão, detectar, comunicar, atuar e documentar todo
processo transfusional(9).
As informações e características da doença ou de procedimentos a que o paciente
será submetido configura-se numa das estratégias educativas adotadas pelas
enfermeiras a fim de promover a adesão dos pacientes à terapêutica proposta.
Adesão pode ser definida como uma colaboração ativa entre o paciente e a equipe
multiprofissional, onde o comportamento do paciente corresponde às
recomendações de médicos, enfermeiros, nutricionistas, etc e é demonstrada, por
vezes, na correspondência do paciente às solicitações, comparecimento a
consultas, seguimento das prescrições e da terapêutica de uma forma geral e
ainda, mudança no estilo de vida(10).
A não adesão do paciente pode vir a comprometer o tratamento em função de não
favorecer a participação ativa do paciente em seu processo de cura ou manejo da
doença. A adesão é um fator relevante que por vezes interfere nos resultados
positivos de um tratamento de saúde. Para tanto, uma efetiva comunicação
interpessoal entre equipe e paciente é condição essencial.
Os participantes deste estudo, após a realização da cirurgia cardíaca, têm na
transfusão sanguínea a continuidade do cuidado e também do tratamento. O
reconhecimento das experiências, modos de viver e ser saudável destes pacientes
assume significado para a Enfermagem, na medida em que se compreende que as
vivências destes sujeitos podem contribuir positivamente ou não para as
relações de cuidado ao interferir no autocuidado e reabilitação(11). Outro
fator que deve ser levado em consideração são os índices de ansiedade e
depressão presentes no pós-operatório de pacientes com patologias cardíacas
pois, a internação prolongada é um dos fatores que pode favorecer as
dificuldades emocionais, assim como a continuidade do tratamento por intermédio
das transfusões sanguíneas acarretam perturbações no repouso e na autonomia do
paciente(12). O conhecimento e o entendimento das razões acerca da necessidade
de transfusão sanguínea ou mesmo da condição de saúde e procedimentos
realizados, podem ajudar o paciente, contribuindo positivamente para adesão à
terapêutica proposta e proporcionando segurança.
Estudo que descreveu as necessidades do paciente no pós-operatório de cirurgia
cardíaca apontou que há preocupação dos enfermeiros em diminuir o déficit de
conhecimento dos pacientes e familiares por meio de atividades de educação em
saúde, a fim de promover o autocuidado, influenciando positivamente na
recuperação dos pacientes(9).
2ª Pergunta: O que significa o sangue para você? O que ele representa?
Preservação da vida. (IC)
É a garantia de vida dentro do ser humano, logo representa a vida.
Enfim, é um composto necessário para melhora clínica que mantém,
preserva e dá continuidade à vida. (DCS)
Quando se trata de pensar sobre o sangue, os receptores demonstram que há
mitos, crenças, dogmas, que transformam inconscientemente objetos e formas em
símbolos que lhes atribui expressões tais como "o sangue é vida". O discurso
mostra o forte significado que atribuem ao ato de receber sangue, os benefícios
que ele traz ao quadro geral de saúde e ao bem estar. Observa-se, que os
benefícios da hemotransfusão relatadas no discurso superam os riscos que dele e
de sua manipulação podem advir.
Nesta perspectiva a orientação e o conhecimento da enfermeira e da equipe de
saúde atuam como um diferencial para o sucesso da terapêutica. Outro fator que
influencia o receptor sanguíneo nesta compreensão do sangue como representação
da vida são os seus sistemas de significações, símbolos culturais e religiosos.
Durante toda a história da humanidade, o sangue sempre esteve relacionado a
mitos e cosmogonias, sendo-lhe atribuídos vários significados. Os significados
atribuídos ao sangue refletem diretamente nos sistemas de significados
atribuídos a transfusão sanguínea. Interpretar os significados e,
principalmente o simbolismo do sangue relacionado à transfusão sanguínea
possibilitará, por meio da atuação profissional, a redução ou a minimização dos
conflitos religiosos culturais e sociais respeitando-se o ser humano e atuando-
se na promoção e recuperação da saúde(13).
O ser humano é amplamente influenciado pela realidade sociocultural em que está
inserido e suas reações aos estímulos se dão com base no significado que as
situações representam para ele. A realidade é interpretada e recebe sentido na
medida em que corresponde às expectativas do sujeito, sendo este um dos
diferenciais do ser humano com relação a outras espécies: a capacidade de
produzir símbolos e construir o mundo e função de experiências empíricas e
sensoriais(14).
A vinculação da vida ao sangue é um conceito antigo, sendo que este significado
foi sendo incorporado culturalmente ao longo dos anos. A função de manutenção
da vida foi atribuída, pelos informantes, ao sangue que circula no organismo
humano, enquanto que sua ausência pode ser interpretada como morte(14).
Na cultura cristã, a palavra "sangue" possui forte relação com as emoções.
Quando associado ao coração, este vocábulo está presente na literatura, nas
artes e nas ciências. Desta forma, o sangue de um doador é considerado uma
parte de outro sujeito e, quem o recebe numa transfusão faz parte de um
processo de solidariedade, não isento de fortes simbolismos, representando não
apenas a vida, mas sua continuidade(15).
3ª Pergunta: Transfusão sanguínea: como é este processo para você?
Reconhecimento do processo transfusional. (IC)
Tem certas horas que não se têm muitas escolhas, quando se perde
muito sangue precisa ser reposto. É a entrada de sangue no corpo com
suas propriedades, doado de outras pessoas, um bem necessário que
devolve a vida, um procedimento simples, porém com vários riscos.
(DCS)
Dos relatos advindos dos receptores, apesar da consciência de o ato de receber
a transfusão representar riscos, a necessidade desta para a manutenção da vida
torna-se aceitável. Observa-se que a relação de ajuda é essencial, para que a
troca de experiência entre profissionais e pacientes possa sanar dúvidas,
ansiedades, angústias perante o ato transfusional. Importante a inclusão de
programas de capacitação, atualização e educação permanente para os
profissionais envolvidos na terapêutica transfusional.
A Hemoterapia é uma especialidade complexa e interdisciplinar, que reúne
médicos, enfermeiros, bioquímicos, assistentes sociais e outros pesquisadores
de vários ramos da ciência, contribuindo para a recuperação da saúde. A
medicina transfusional tem como objetivo garantir a qualidade e a quantidade do
sangue, componentes e serviços oferecidos aos receptores, a indicação adequada
ao uso do sangue e seus componentes, atende preceitos da hemoterapia seletiva,
vem propiciando uma maior otimização das unidades de coleta e redução
quantitativa na exposição dos receptores(16).
Em um discurso anterior, evidenciou-se que há conhecimento por parte dos
receptores quando aos significados de receber uma transfusão sanguínea. Este
discurso, advindo do terceiro questionamento, reforça a segurança sobre a
necessidade deste processo, embora, carregue consigo mensagem real de que não
há escolha. A experiência pela qual passa o receptor é legítima e este parece
compreender a relação de dependência que há entre esta terapêutica e a
necessidade de manutenção da vida.
O entendimento sobre as representações da saúde e da doença varia culturalmente
a cada lugar e momento histórico. Desta forma, os pacientes podem apoiar-se em
inúmeros conceitos, símbolos ou estruturas interiorizadas para interpretar suas
experiências(17). As narrativas destes sujeitos mostram a necessidade
inquestionável de reposição sanguínea para "repor o sangue perdido".
4ª Pergunta: Quais as suas maiores dúvidas quanto ao processo de transfusão?
Segurança transfusional. (IC)
Tenho medo de pegar uma doença transmissível, de rejeição e até
morrer com sangue contaminado, advindas de doadores doentes. Sempre
há dúvida quanto à aceitação do nosso corpo, pode ocorrer reação
adversa se trocarem por algum descuido o meu tipo sanguíneo e receber
um sangue não compatível, só pode fazer transfusão com a mesma
tipagem sanguínea. (DCS)
O discurso evidencia a apreensão dos receptores sanguíneos quanto ao processo
de recepção do sangue, seus medos e incertezas referentes à compatibilidade
entre doador e receptor, além da transfusão como meio de transmissibilidade de
doenças. O sangue sendo um veículo para a transmissão de doenças apresenta-se
no imaginário social como o modo facilitado de adoecimento por patologias que
sinalizam risco de morte. No Brasil, a regulamentação da Hemoterapia é
realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), através da
Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº153 de junho de 2004, que determina o
Regulamento Técnico para os procedimentos hemoterápicos, incluindo a coleta, o
processamento, a testagem, o armazenamento, o transporte, o controle de
qualidade e o uso humano de sangue, e seus componentes, obtidos do sangue
venoso, do cordão umbilical, da placenta e da medula óssea(18).
A triagem dos doadores de sangue é um procedimento ético, onde todas as
declarações recebidas são mantidas em sigilo, para preservação de seus
interesses. Considera-se de vital importância criar mecanismos para qualidade
dos resultados positivos e/ ou inconclusivos. Os receptores de sangue submetem-
se a testes pré-transfusionais para determinação do grupo ABO e fator Rh,
pesquisa de anticorpos irregulares e compatibilidade sanguínea. As amostras de
sangue coletadas dos doadores ficam armazenadas durante seis meses, enquanto do
receptor dez dias(19).
À equipe de saúde está reservado o esclarecimento, a atenção e o cuidado desde
o manuseio até a administração e manutenção do receptor. A utilização do sangue
em transfusões exige o consentimento do receptor, porque existem aspectos
jurídicos que legitimizam a prática transfusional. Várias etapas jurídicas
antecedem o processo de transfusão, existe inclusive a responsabilidade do
Estado pela fiscalização dos hemocentros.
Os medos dos participantes deste estudo estão centrados, basicamente, na
possibilidade de transmissão de doenças, na rejeição ao sangue do doador e na
possibilidade de morrer em função da transfusão. A segurança transfusional
assumiu destaque nos últimos anos, principalmente a partir da década de 80, com
a descoberta do vírus da imunodeficiência humana (HIV), acelerando o
desenvolvimento de práticas seguras para a terapêutica transfusional(20).
A segurança do paciente é afetada por riscos que são inerentes à terapia
transfusional. Porém, políticas públicas especificas fomentaram o
desenvolvimento de processos que a tornam não apenas uma especialidade
complexa, mas também uma das mais seguras atualmente(21).
Prevenir, eliminar ou minimizar os riscos envolvidos na prática transfusional,
garantindo a eficácia dos hemocomponentes por meio de vigilância constante é
papel dos profissionais da saúde envolvidos com todo o processo, de modo a
transmitir confiabilidade para o paciente. Desta forma, o registro de reações
transfusionais ou quaisquer problemas de ordem técnica, passa a ser um
imperativo na busca pela qualidade. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária
informou que, no ano de 2011, ocorreram 5.340 reações transfusionais, com uma
subnotificação estimada de 50,1%(22).
Estudo realizado em 226 centros de sangue do núcleo de hemoterapia e agências
transfusionais em 178 municípios do estado de Minas Gerais, Brasil, concluiu-se
que a incidência de notificação e investigação das causas de reações
transfusionais foi maior nos serviços de transfusão que possuíam comitê
transfusional atuante, embora, no geral, o desempenho dos comitês de transfusão
tenha sido considerado incipiente, carente de melhores formas de organização
(23).
No caso dos participantes deste estudo, por terem sido submetidos a inúmeros
procedimentos invasivos e pela necessidade de continuidade de tratamento pós-
operatório de cirurgia cardíaca, o processo transfusional possui forte
significado, uma vez que dele depende a qualidade de suas vidas. Para tanto é
necessário, cada vez mais, qualificar o cuidado profissional, desenvolvendo
estratégias de acolhimento eficazes, que possam contribuir para minimizar
sofrimentos e diminuir ao máximo as dúvidas de pacientes e familiares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo oportunizou aproximação aos modos de pensar e perceber o estado de
saúde-doença de pacientes que necessitaram de intervenção transfusional.
Partindo do pressuposto que cada ser humano traz consigo sentimentos, valores e
crenças filosóficas e que a necessidade de cirurgia cardíaca e posterior
continuidade do tratamento por meio do processo transfusional são situações que
assumem profundo significado simbólico para o imaginário destes pacientes,
percebe-se a necessidade de amplo acolhimento por parte da equipe de
enfermagem, estabelecendo confiança e contribuindo para o sucesso do tratamento
e reabilitação.
A pesquisa possibilitou conhecimentos sobre a percepção e o significado do
sangue e a percepção de que as preocupações dos receptores sanguíneos são da
ordem de possíveis incertezas com relação a sua sobrevivência. As
transformações no estado de saúde do ser humano e a complexidade das mudanças
ocorridas interferem no modo de enfretamento e nos papéis assumidos.
A percepção sobre a mudança que os pós-transfundidos começam a vivenciar a
partir do processo transfusional traz à tona uma ressignificação da própria
vida, influenciada por uma série de incertezas. A relação entre equipe de
enfermagem e paciente e seus familiares neste contexto é de inegável
importância, pela proximidade e estabelecimento de vínculos de confiança. Os
participantes deste estudo mostraram conhecer o processo a que estão sendo
submetidos, embora isso não o torne isento de medos. Aponta-se como limitação
para este estudo o reduzido número de estudos sobre o tema, constituindo uma
lacuna na literatura, além da especificidade da situação vivida pelos
participantes (pós-cirúrgicos de cirurgia cardíaca), por si só, já forte em
simbolismos. Desta forma, aponta-se para a necessidade de novos estudos, com
pacientes de outras especialidades, igualmente dependentes, mesmo que
temporariamente, do processo transfusional.