Princípios da gestão orientada para resultados na esfera municipal: o caso da
prefeitura de Curitiba
1. INTRODUÇÃO
Constitui-se como desafio dos governos e da administração pública atual a
promoção do desenvolvimento econômico, social e sustentável, ante o contexto de
mudanças, que exige não só novos posicionamentos em relação à questão da
governança e à revisão de modelos de gestão, como também a definição de novas
formas de relacionamento com a sociedade.
Nesse conjunto, exige-se dos governos, além da necessidade de elevar os níveis
de desempenho da gestão, maior atenção no que se refere à ética, à moral e à
transparência na administração pública, à accountability (MATIAS-PEREIRA,
2009).
Essa questão surge no ambiente contemporâneo em virtude da velocidade das
mudanças vivenciadas, o que acarreta consequências também para o Estado e mais
precisamente à administração pública. A proposta vem associada também às
reivindicações da sociedade civil, que almeja um Estado diferente, mais
produtivo, e que atenda aos serviços próprios e de sua competência, como
educação, saúde e justiça (VERGARA, 2004).
Desse modo, estudar e analisar o tema gestão para resultados (GpR) no
planejamento e gestão municipal requer uma abordagem atual do contexto global e
local da realidade municipal e urbana, considerando que cidade, segundo Rezende
e Castor (2006, p.27),
"é um organismo dinâmico e complexo que se caracteriza por
grandes diversidades, múltiplos contrastes e interesses divergentes,
gerando inúmeras dificuldades aos gestores locais, aos munícipes e
aos demais interessados na cidade".
Nesse conjunto de aspectos, segundo Wilson (1987, apudMATIAS-PEREIRA, 2009,
p.7), de um lado está o Estado e de outro a sociedade, com suas demandas por
serviços públicos de qualidade e transparência, e, entre eles, a administração
pública que, dentro de uma visão sistêmica, deve atuar como eixo transmissor
entre o Estado e a sociedade.
No entanto, o Estado, por meio da administração pública, necessita empregar
novas competências para atuar adequadamente e, na análise de Matias-Pereira
(2009, p.109), é necessária uma ação previsível e programada, capaz de definir:
"rumos sustentáveis, a médio e longo prazo, para atender às
necessidades coletivas, buscando caminhos e oportunidades,
aglutinando e coordenando atores".
Portanto, a administração pública necessita, no tempo contemporâneo, em seus
diferentes níveis (federal, estadual e municipal), estar bem estruturada para
agir com efetividade e atender às demandas da sociedade (MATIAS-PEREIRA, 2009).
Assim, a abordagem de uma gestão orientada para resultados ganha centralidade
na pauta dos governos como possibilidade de agregar valor público e o resultado
apresenta-se como instrumento-chave para valorização da ação pública (SERRA,
2008).
No que tange aos problemas pertinentes, deve-se considerar um conjunto de
fatores que interferem no planejamento e na gestão das cidades, a começar pelo
processo de redemocratização no Brasil que, a partir da Constituição de 1988,
trouxe aos municípios novos papéis na formulação das políticas públicas. Aliado
a isso, as cidades brasileiras apresentam problemáticas parecidas, como as de
emprego, habitação, transporte, lazer, água, esgoto, saúde e educação, e reúnem
enormes carências (SANTOS, M., 1996).
Na dimensão do Estado, a crise da burocracia pública brasileira demonstra a
realidade sobre processos internos altamente burocratizados, fragilidade na
estrutura, deficiências na estratégia, problemas culturais, denotando práticas
patrimonialistas e excessivamente burocráticas e permitindo, com isso, a
manifestação de clientelismo, corporativismo, fisiologismo e corrupção (MATIAS-
PEREIRA, 2009).
São problemas, no tocante à gestão, gerados pelos desafios do dia a dia,
dificuldades na tomada de decisões, visão de curto prazo, ineficiência, descaso
do funcionalismo público e irracionalidade dos dirigentes. Concomitantemente a
isso, impõe-se a exigência de uma estratégia competitiva que assegure um
processo de desenvolvimento econômico e social permanente (LOPES, 1998). Nesse
enfoque, o objetivo deste artigo é analisar como se manifestam os princípios da
GpR, identificando sua presença no planejamento e na gestão municipal de
Curitiba. As gestões municipais escolhidas para a análise foram o período
compreendido entre 1997 e 2010, por considerar-se, com base na pesquisa
documental, que, a partir de 1997, se manifesta a retórica sobre uma gestão
orientada para resultados. A escolha do município de Curitiba foi motivada por
três fatores: a implantação de propostas de planejamento ancorada na abordagem
para resultados possui uma amplitude global, para toda a prefeitura; essa
cidade possui um perfil de gestão diferenciado em relação às capitais dos
outros estados brasileiros, bem como em relação às 5.565 localidades
brasileiras; a acessibilidade por conveniência (GIL, 1999, p.104; ROESCH, 1999,
p.118).
Os temas GpR e planejamento e gestão municipal reservam certa relação, na
medida em que o processo da gestão orientada para resultados se manifesta, em
geral, precedido por movimentos de administração e planejamento estratégico. A
própria definição do tema resultados, como já mencionado anteriormente, possui
estreita vinculação com a visão estratégica de governos. E visão estratégica
significa o estabelecimento de procedimentos estratégicos, com formulação de
objetivos preestabelecidos e orientadores das ações nos diversos níveis da
organização, com possibilidade de mensuração e avaliação dos resultados
previamente esperados (PERDICARIS, 2009).
Detalhado esse ponto de vista, justifica-se este estudo sob três aspectos. Em
primeiro lugar, trata-se da relevância do tema e da adoção do modelo GpR, que
se encontra em ascensão na pauta dos governos como possibilidade de atender às
demandas sociais e sua inserção vem sendo crescentemente difundida, embora seja
um movimento recente (PERDICARIS, 2009). Em seu conceito, apresenta as
seguintes dimensões: trata-se de um marco conceitual de gestão organizacional,
cujo fator resultado se dissemina por todo o processo de gestão; é um marco de
vinculação de responsabilidades e compromisso do gestor com o resultado; é um
marco de integração de todos os componentes do processo de gestão; por fim,
caracteriza-se por ser uma linha condutora e direcionadora de resultados
(SERRA, 2008). O segundo aspecto refere-se ao contexto e à influência do Estado
no ambiente municipal e da sociedade atual, que se constitui como condição para
garantia da ordem interna e do atendimento às necessidades básicas de toda a
população (SANTOS, C.S., 2006). O terceiro aspecto diz respeito ao processo de
planejamento como possibilidade de implantação de uma gestão orientada para
resultados ao constituir-se em uma prática fundamental para o alcance dos
resultados pela organização, na medida em que, segundo Matias-Pereira (2009,
p.113),
"o planejamento possibilita a coordenação de diferentes pessoas,
projetos e ações em curso; a aplicação racional (otimizada) dos
recursos disponíveis ou escassos; e o aumento da responsabilidade ao
lidar com mudanças, na medida em que faz parte do processo de
planejar e especular sobre fatores do ambiente que afetam a
organização".
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Planejamento e gestão municipal
Gestão municipal diz respeito aos aspectos da gestão da estrutura
administrativa da prefeitura, por meio de recursos e instrumentos próprios da
administração local. Como não poderia deixar de ser, a gestão municipal
acontece em um contexto contemporâneo complexo e de diferentes exigências e
necessidades da sociedade brasileira (REZENDE e CASTOR, 2006).
Uma boa gestão é aquela que alcança resultados e, no setor público, significa
atender às demandas, criando valor público. Esses resultados não acontecem por
acaso, tampouco são autoexecutáveis. Nesse sentido, muitos autores e estudiosos
atribuem-na a diferentes fatores geradores de resultados, tais como consciência
estratégica, liderança, estrutura (clareza nas competências e níveis de
responsabilidade), processos devidamente detalhados, projetos passíveis de
monitoramento, contratualização para pactuação de resultados, pessoas com
competências desenvolvidas e mobilizadas, tecnologias de informação e
comunicação (inovadoras e integradas) e recursos financeiros disponíveis e
previsíveis (MARTINS e MARINI, 2010).
Na mesma linha, Santos, C.S. (2006, p.23-24) enfatiza a importância e a
responsabilidade do planejamento no âmbito da administração pública e afirma
que
"a crescente complexidade das necessidades, a escassez de
recursos e as novas aspirações das populações têm exigido, cada vez
mais, a introdução de critérios científicos no processo de tomada de
decisões governamentais".
Assim, o processo de planejamento propicia, com antecedência, o que se deve
fazer quais os objetivos, controles, tipo de gestão a ser adotado e tipo de
gerenciamento mais apropriado para alcançar resultados, constituindo-se em uma
das bases para as demais funções da administração (SANTOS, C.S., 2006). No que
se refere à finalidade, o planejamento, na abordagem de Matias-Pereira (2009,
p.121), visa
"alcançar a eficiência, isto é, a execução perfeita de uma
tarefa que se realiza, bem como a eficácia, ou seja, que se façam as
coisas que realmente importa fazer porque são socialmente desejáveis.
O planejamento tem, ainda, a função de tornar transparente e precisa
a ação de organizar o que será executado, de sistematizar as ideias e
os recursos para tornar mais eficientes as ações
governamentais".
Tendo em vista os benefícios advindos do processo de planejamento, esse se
torna essencial à administração pública ou privada. O uso dessa ferramenta
possibilita a elevação de eficiência, eficácia e efetividade da organização, na
medida em que evita a desorganização nas operações, possibilita o aumento da
racionalidade das decisões e, com isso, o aumento das possibilidades de
alcançar os objetivos da organização (MATIAS-PEREIRA, 2009). Motta (2004),
quando define planejamento, ressalta o aspecto de aprendizagem gerado pela
vivência do processo pelos grupos de trabalho.
Na esfera governamental, o planejamento surgiu no início do século passado
dentro da ideia de que a evolução do conhecimento tecnológico poderia ser
aplicada à sociedade, dando origem ao nascimento do planejamento público, como
estratégia para explicitar relações de poder, estruturas e sistemas por meio de
ações de melhoria de bem-estar social e criação de novas oportunidades (LOPES,
1998). O propósito do planejamento governamental está relacionado com a
definição de objetivos para o futuro, bem como os meios para alcançá-los de
forma intencional e proposital (SANTOS, C.S., 2006).
2.2. Gestão para resultados (GpR)
2.2.1. Conceitos da gestão para resultados ' GpR
Adota-se nesta pesquisa a expressão gestão para resultados, por ser mais
apropriada a utilização da preposição para, pois, leva à compreensão de uma
gestão orientada à consecução de resultados predeterminados e predefinidos. Sua
origem pode ser considerada a partir da obra de Peter Drucker (1954; 1964), no
contexto da disciplina management(administração, gerenciamento, gestão), que
formulou duas expressões: managings BY objectives e manangings FOR results,
cuja tradução significa gestão por objetivos e gestão para resultados, ou
mesmo, dirigir por objetivos para conseguir resultados (DRUCKER, 1954 e 1964,
apud SERRA, 2008, p.23). Diante dessas considerações, a gestão para resultados
pode ser definida, segundo Serra (2008, p.36), como
"um marco conceitual cuja função é a de facilitar às
organizações públicas a direção efetiva e integrada de seu processo
de criação de valor público, a fim de otimizá-la, assegurando a
máxima eficácia, eficiência e efetividade de desempenho, além da
consecução dos objetivos de governo e a melhoria contínua de suas
instituições".
A gestão pública para resultados caracteriza-se como uma estratégia no início
do planejamento, desenvolve-se no processo defeedback e pode ser considerada
como uma prática de boa governança, respeitando princípios de distribuição
eficiente de recursos públicos e accountability(Corrêa, 2007). Assim, segundo
Martins e Marini (2010), não se trata apenas de formular resultados que atendam
ou satisfaçam as demandas sociais de modo realista, desafiador e sustentável,
mas também de alinhar arranjos de implementação amparados por mecanismos de
monitoramento e avaliação (MARTINS e MARINI, 2010).
Para estabelecer o objeto da GpR, deve-se esclarecer, primeiro, o que significa
resultados no âmbito da administração pública. Resultado é o efeito e a
consequência de uma ação, tanto na administração de empresas, que se
caracteriza como a criação de maior valor para o acionista, quanto na esfera
pública, cujo resultado de governo é a maximização da criação do valor público
(SERRA, 2008). O processo de criação de valor público, segundo Moore (1995,
apud SERRA, 2008, p.38), "está orientado à mudança social e não a
resultados de rentabilidade econômica, o que dificulta sua conceituação e
formalização". Mediante tais considerações, tem-se que, segundo Serra
(2008, p.30), o objeto da GpR é o "processo que assegure a criação de
valor público, sempre dentro de um regime democrático, única garantia de que o
valor seja realmente público".
Estabelecido o objeto da GpR, tem-se como objetivo no setor público, segundo
Serra (2008, p.32),
"gerar capacidade nas suas organizações para que consigam,
mediante a gestão do processo de criação de valor público, os
resultados estipulados nos objetivos do programa de governo".
Na agenda de uma gestão orientada para resultados, alguns aspectos merecem
destaque, tais como o próprio foco da gestão, voltado para o resultado; a
formulação das políticas públicas, tendo como base o planejamento
governamental; o caráter descentralizador na tomada de decisão; a adoção do
planejamento estratégico nas organizações públicas; sistemas de informação que
ofereçam insumos para a tomada decisão; o controle dos recursos; o
monitoramento da gestão; a prestação de contas e a avaliação; a incorporação de
mudanças nas metodologias utilizadas na formulação do orçamento público, e,
ainda, a formulação de indicadores próprios para o monitoramento e a
identificação de desvios, para a introdução de medidas corretivas (FORTIS,
2009).
No contexto apresentado, em que as estratégias orientam o sentido de direção
para o alcance dos objetivos, o planejamento estratégico, dentro de uma
abordagem mais ampla, representa um meio para estabelecer o propósito da
organização. A adoção de novos modelos de gestão pública tem procurado imprimir
a cultura da gestão orientada para resultados e vem exigindo a aplicação dos
modelos de gestão da iniciativa privada e dos conceitos de administração
estratégica e, no contexto da gestão pública, ocorre mediante a implementação
de algumas reformas estruturais na gestão (MOTTA, 2004; REZENDE e CASTOR, 2006;
MATIAS-PEREIRA, 2009). Nesse sentido, Matias-Pereira (2009, p.144) apresenta
"uma sequência de eventos necessários para uma gestão estratégica
orientada para resultados": missão; diagnóstico do ambiente; objetivos
estratégicos; indicadores de desempenho; metas de desempenho; monitoramento de
desempenho e planos de ação (que retroalimentam o monitoramento de desempenho).
Com base nos conceitos até aqui apresentados e na sequência do trabalho de
revisão da literatura, adotou-se esse conjunto de eventos, combinado com os
desdobramentos propostos por Rezende (2011), no item diagnóstico do ambiente,
como as categorias de análise, no elenco das variáveis selecionadas para esta
pesquisa (estudo de caso) e como sendo os princípios da GpR. Portanto, para
este estudo, os conceitos relacionados com gestão estratégica orientada para
resultados envolvem os temas: diretrizes estratégicas (missão e objetivos
estratégicos); diagnóstico do ambiente (funções organizacionais, estrutura
organizacional, modelo de gestão, ambientes da organização e análise setorial);
indicadores de desempenho; metas de desempenho; monitoramento do desempenho; e
planos de ação (CERTO e PETER, 1993; STONER e FREEMAN, 1995; OLIVEIRA, 1996;
MOTTA, 2004; REZENDE e CASTOR, 2006; HITT, IRELAND e HOSKISSON, 2008; MATIAS-
PEREIRA, 2009).
2.2.2. Instrumentos e metodologias aplicadas à GpR
A adoção de novos instrumentos de gestão tem como ideia central promover maior
autonomia, responsabilidade e responsabilização, para o gestor público, na
perspectiva do alcance dos objetivos. Algumas ferramentas têm sido
implementadas, como é o caso do contrato de gestão, da administração por
excelência, do planejamento e da gestão estratégica, da transparência e
accountability, do preparo dos gestores e dirigentes públicos, e de outras, com
o propósito de mensurar e comparar resultados (PEREIRA e PACHECO, 2001).
Exemplos de ferramentas que podem ser nominadas e já são utilizadas para a
gestão do desempenho: balanced scorecard (BSC), modelo de gestão estratégica
que alinha missão e estratégias de uma unidade de negócios em medidas tangíveis
e mensuráveis; bain & company (alcançar resultados a partir de um ponto de
partida e de chegada); prisma de desempenho (ênfase em stakeholders); hosshin
kanri (ênfase nas diretrizes); gestão da qualidade total (PDCA); rummer &
branche (variáveis de desempenho em objetivos, projeto e gestão); cadeia de
valor de Porter (vantagens competitivas); gestão de projetos (PMBOK), áreas do
conhecimento e ciclo de vida do projeto; cadeia de suprimento (Supply Chain) '
desempenho logístico (redes e integração dos processos corporativos);
planejamento estratégico situacional (PES) e valor público (MARTINS e MARINI,
2010).
As metodologias possuem características próprias e todas servem como
instrumentos para a melhoria de desempenho organizacional, na medida em que
preconizam visão sistêmica, elos de causalidades, visualização do desempenho
por parte dos stakeholders, alinhamento de todos os níveis organizacionais,
integração do nível estratégico e operacional e outras características
apresentadas por esta metodologia. Cabe, no entanto, salientar que a adoção
isolada não é capaz de atender às demandas para o alcance de resultados, mas
sim a composição de cada um desses modelos em uma abordagem integradora
(MARTINS e MARINI, 2010).
Nessa mesma linha, Corrêa (2007, p.498) aponta alguns aspectos importantes para
o alcance de uma prática de resultados:
"[...] boa prática de gestão pública por resultados não implica
somente a implementação de mecanismos de avaliação institucional. A
gestão pública por resultados é viabilizada por diversos mecanismos
gerenciais, começando pelo planejamento estratégico das ações
governamentais ' sejam elas organizadas em projetos ou programas;
ampliação da flexibilidade gerencial; desenvolvimento de indicadores
de desempenho; e, por fim, a avaliação de desempenho que, além da
medição das metas estabelecidas, fornece subsídios para
retroalimentação de informações para o desenvolvimento de futuras
metas gerenciais".
Portanto, nesse sentido, projetos e programas de governo devem estar em
consonância com o planejamento estratégico, com os objetivos de governo que
efetivamente gerem resultados (CORRÊA, 2007).
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
Como propósito de investigação nesta pesquisa, impõe-se a questão problema:
De que forma os princípios da gestão orientada para resultados se
manifestam, identificando a sua presença no planejamento e gestão
municipal?
Para este estudo, consideraram-se princípios como a sequência de eventos
necessários para alcançar uma gestão orientada para resultados, conforme modelo
apresentado por Matias-Pereira (2009), o qual se constituiu como as variáveis
desta pesquisa.
Na abordagem metodológica, a escolha do método de pesquisa, estudo de caso,
permitiu um estudo mais aprofundado e detalhado sobre o caso do município de
Curitiba e as abordagens quantitativa e qualitativa foram utilizadas na
intenção de analisar a presença das variáveis e sua manifestação nos períodos
estudados.
Para este trabalho, investigou-se esse fenômeno por meio de um estudo, de modo
a ter um amplo e aprofundado conhecimento sobre determinado fenômeno real e
contemporâneo. Por tratar-se de uma prefeitura estudada, optou-se por um estudo
de caso único, que é uma inquisição empírica e investiga um fenômeno
contemporâneo dentro de um contexto na vida real (YIN, 1994).
Para fins desta investigação, foi definido para pesquisa o município de
Curitiba, tendo como recorte analítico os seguintes períodos, no intervalo de
tempo de 1997 a 2010: 1997-2000, 2001-2004, 2005-2008 e 2009-2010.
Quanto à abordagem do problema da pesquisa, foi utilizada abordagem qualitativa
que, neste estudo, foi apropriada por permitir explicar como os princípios da
GpR estão presentes no planejamento e na gestão municipal. Para a análise sobre
essa presença, fez-se uso de uma análise quantitativa, com o uso de instrumento
quantificável com a finalidade de estabelecer graus de presença dos princípios
de uma gestão orientada para resultados. Nessa abordagem, a ênfase é dada à
forma quantificável, ou seja, a tradução em números, opiniões e informações
(SILVA e MENEZES, 2005).
Quanto aos objetivos da pesquisa, este estudo teve caráter descritivo (GIL,
1991) e contemplou uma visão temporal, de caráter longitudinal, no período
compreendido entre 1997 e 2010.
Escolheu-se o ano de 1997 como marco, por considerar-se que é a partir desse
período, conforme pesquisa documental realizada em anos anteriores, que se
encontra expressa a discussão da gestão orientada para resultados na Prefeitura
Municipal de Curitiba (PMC). Quanto ao quarto período, de apenas dois anos,
embora diferente dos demais, se justifica seu estudo por considerar-se possível
a análise identificada por dois fatores, quais sejam: a presença de todas as
variáveis e a declaração expressa do modelo de gestão intitulado Modelo de GpR
em Curitiba 2009-2012. Em decorrência desses fatores, foi possível identificar
um conjunto de eventos robustos e de impacto ao presente estudo.
A unidade de observação para a presente investigação foi classificada como
documental, com o uso de observações sistemáticas que, segundo Silva e Menezes
(2005), se realiza em condições controladas para responder aos propósitos
estabelecidos. A seleção das unidades de observação contempla documentos e
registros oficiais da Prefeitura Municipal de Curitiba atendendo aos seguintes
critérios: documentos e registros oficiais, acessibilidade, documentos e
informativos de planejamento e gestão. A seleção efetuada ocorreu a partir do
exame e leitura dos documentos que contivessem relação com o conjunto de
variáveis e subvariáveis pesquisadas, podendo um mesmo documento oferecer
insumos a diferentes variáveis.
Com o objetivo de delinear a pesquisa em o que deve ser pesquisado e o como
realizá-la, elaborou-se um protocolo de pesquisa componentes de uma gestão
estratégica orientada para resultados, que constitui uma ferramenta tática.
Essa ferramenta tem a finalidade de guiar o investigador na categorização da
análise do conteúdo, na orientação, na coleta de dados e na identificação de
aspectos que permitem manter o foco (YIN, 1994). Na coleta de dados, utilizou-
se esse instrumento como a principal referência para a análise documental.
Além da abordagem qualitativa, que traduziu o como se manifestou o conjunto das
variáveis e subvariáveis por período, agregou-se a ela uma análise quantitativa
para medir a presença dessas por período, a qual gerou uma análise do conjunto
das variáveis e subvariáveis por período, e uma síntese comparativa entre os
períodos.
No processamento quantitativo, propôs-se a utilização de uma escala numérica
aplicada a cada variável e subvariável, no período de tempo pesquisado, em um
intervalo de 0 a 1, cujo significado pode variar dentro de três possibilidades
de valor, a saber: 0 ' a variável não está presente; 0,5 ' a variável encontra-
se presente, porém não atende completamente aos critérios e padrões teóricos
definidos na pesquisa; 1,0 ' a variável está presente.
O protocolo de pesquisa, elaborado para atender aos objetivos e à questão-
problema, possibilitou adotar uma linha diretiva, na medida em que agregou as
variáveis, as subvariáveis (sequência de eventos), os critérios de análise
(unidade de medida embasada pelo referencial teórico) e os autores que as
fundamentaram.
As variáveis deste estudo foram: diretrizes organizacionais municipais (missão
e objetivos municipais); diagnóstico do ambiente municipal (funções municipais,
estrutura organizacional, modelo de gestão, ambientes da organização, análise
setorial municipal); indicadores de desempenho municipal; metas de desempenho
municipal; monitoramento do desempenho municipal; e planos de ação municipal.
4. RESULTADOS DA PESQUISA: UMA ANÁLISE DO GPR
A análise dos dados foi fundamentada em um modelo de eventos necessário a uma
gestão estratégica orientada para resultados, cujos eventos constituíram as
categorias de análise, pelo conjunto das variáveis e subvariáveis e, para esta
pesquisa, esse conjunto foi considerado como os princípios da gestão orientada
para resultados (GpR). Referidas categorias foram respaldadas teoricamente e
integraram o protocolo de pesquisa que se constituiu na ferramenta orientadora
para a pesquisa, com o rol de teóricos, assim como os critérios de aferição.
Essa análise contemplou os quatro períodos pesquisados. Na tabela a seguir,
apresentam-se sinteticamente as informações referentes às análises por período
e por variável, com a finalidade de demonstrar uma análise conclusiva e
comparativa.
4.1. Análise da variável diretrizes organizacionais
4.1.1. Análise da subvariável missão municipal
A construção da missão PMC, nos períodos em que há a declaração, apresenta-se
de forma clara, objetiva, sintética, de fácil compreensão e deixa claro o bem,
ou serviço, a ser entregue. Ao longo dos períodos analisados constataram-se
três formulações de missão municipal.
Em 2003, encontra-se a formulação e a declaração de duas missões municipais,
com redações distintas e publicadas em documentos diferentes, porém ambas
atendem às diretrizes e estratégias do Plano de Governo em constituir Curitiba
como a Capital Social do País, desdobrando-se nos objetivos.
Em 2005, a missão municipal, referência no Mapa da Estratégia Municipal, é a
formulação revisada da que consta no documento Manual de Integração Funcional,
com o acréscimo de "melhor para a nossa gente", porém há documentos
oficiais nesse período em que se utiliza a missão constante nesse documento.
Em 2009, no Plano de Governo 2009-2012, não se identificou missão municipal,
mas a declaração de uma meta mobilizadora ' Curitiba: a melhor qualidade de
vida das capitais brasileiras ', como a tradução dos resultados que se pretende
alcançar com a gestão. Essa meta, como foi expressa, apresenta características
de visão.
Demonstra-se, com isso, que essa variável sofreu atualização e revisão nesses
anos, dentre os períodos pesquisados. No entanto, em todos os anos desses
períodos, constatou-se nos relatórios de gestão a apresentação e a declaração
da missão de todas as secretarias e órgãos, como também nos projetos
estratégicos de governo, o que permite afirmar que as missões das secretarias e
órgãos da PMC, ano a ano, são revisadas.
4.1.2. Análise da subvariável objetivos estratégicos municipais
Na pesquisa realizada, os objetivos estratégicos municipais foram encontrados
de forma sintética no documento Plano Plurianual (PPA) de todos os períodos. Em
geral, os objetivos estratégicos municipais são, em todos os períodos, a
tradução dos propósitos contidos nos Planos de Governo que se disseminaram,
reservadas as características de cada período estudado, nos diversos
instrumentos e métodos de planejamento, como planos derivados do Planejamento
Estratégico Situacional (PES), Projetos Estratégicos do Plano de Governo
(PEPGs), projetos estratégicos das secretarias e órgãos municipais, portfolio
de projetos, arquitetura estratégica aplicada ao processo de delineamento
estratégico das secretarias e órgãos, planos das ações integrados e territórios
priorizados, planos de ação concebidos pelo Modelo Curitiba de Colaboração
(MCC), planos setoriais, regionais e contratos de gestão de 2009 e 2010.
![](/img/revistas/rausp/v47n4/a10quadro.jpg)
Fatos de relevância identificados no documento Plano Plurianual 2010-2013 foram
o encadeamento e a integração dos objetivos dos programas, os objetivos dos
projetos por secretaria e órgão e as grandes metas, com os objetivos referentes
ao Plano de Governo (eixos estratégicos). Todos os programas apresentam seus
objetivos vinculados aos respectivos eixos estratégicos norteadores do Plano de
Governo, demonstrando total integração dos projetos e ações.
Ainda, nesse período, nos contratos de gestão encontram-se os programas de
governo, seus objetivos desdobrados em projetos e seus respectivos marcos de
acompanhamento.
4.1.3. Análise conclusiva da variável diretrizes organizacionais municipais
Com base na pontuação total do aspecto presença, verificou-se que essa variável
(desdobrada nas subvariáveis missão municipal e diretrizes organizacionais)
está presente, nos períodos estudados, em 81%.
Convém salientar que as temáticas eleitas como objetivos estratégicos
municipais em todos os períodos são compatíveis com as opções estratégicas no
âmbito da gestão e do planejamento e dos planos de governo, também foi possível
verificar integração dos objetivos municipais com missões municipais, quando
declaradas. Pela leitura dos documentos, pode-se visualizar também essa
integração no âmbito das secretarias e órgãos, pelo fato de que em todos os
períodos estudados há a declaração setorial, o que supõe o desdobramento em
planos.
4.2. Análise da variável diagnóstico do ambiente
4.2.1. Análise da subvariável funções municipais
Verificou-se, nos períodos de análise, a predominância de uma estrutura de
atividades nas rotinas setoriais (estrutura organizacional ' hierárquico)
realizadas pelas unidades organizacionais e de uma estrutura divisionada, ou
matricial, na realização dos projetos estratégicos dos programas do Plano de
Governo, com responsáveis específicos para esses programas e composição de
equipes intersetoriais. Outro aspecto constatado foi a ênfase na introdução do
funcionamento matricial, no primeiro período, motivado pelos movimentos de
planejamento adotados.
A própria Lei n.7671/91, instrumento legal que orienta o funcionamento e a
estrutura organizacional municipal, determina a organização das secretarias e
órgãos em Coordenações Funcionais, conferindo um funcionamento de forma
matricial.
Ficou evidente o caráter dinâmico da administração, na adequação de
funcionamentos compatíveis às demandas, fortemente marcado no primeiro e no
segundo períodos pelas características do Modelo de Gestão Curitiba; nos
períodos subsequentes, a opção pela criação de grupos funcionais destaca-se nos
grupos voltados aos propósitos do processo de monitoramento da gestão
administrativa.
4.2.2. Análise da subvariável estrutura organizacional municipal
Como já abordado, a Lei n.7671/91 contempla: a estrutura organizacional básica
da PMC, as unidades administrativas e níveis, as áreas de competências, as
coordenações funcionais e o respectivo conjunto de secretarias e órgãos que
compõem cada uma das coordenações, segundo a semelhança e a natureza de ações e
projetos. Até o ano de 2000, as coordenações eram as seguintes: Coordenação de
Gabinete, Coordenação dos Meios Administrativos, Coordenação de Estrutura
Urbana e Coordenação Socioeconômica. A partir de 2000, a Coordenação de
Estrutura Urbana passou a chamar-se Coordenação Urbanístico-Ambiental.
Constatou-se na pesquisa que, nos anos de 1997 a 2005, o Relatório de Gestão
apresenta as realizações das secretarias e órgãos por meio das quatro
coordenações funcionais contidas na Lei. A Coordenação Funcional Socioeconômica
foi a que sofreu maior número de alterações, com a incorporação e a extinção de
secretarias, além de mudança da natureza (ordinária e extraordinária).
Verificou-se, também, que a estrutura e o funcionamento das unidades
administrativas da PMC são constantemente revisados e sofrem adequações, em
geral, de alteração, criação ou extinção de denominação de unidades
administrativas, regimento interno, funções gratificadas: normas
organizacionais, de convênio, dentre outras relativas ao funcionamento
municipal e que produzem impactos na estrutura organizacional.
4.2.3. Análise da subvariável modelo de gestão municipal
Na análise realizada para essa subvariável, constatou-se a presença de um
modelo de gestão declarado no primeiro, no segundo e no quarto períodos. O
Modelo de Gestão Curitiba, presente no primeiro e no segundo períodos, exerceu
influência em todo o processo de planejamento e de gestão, caracterizando-se
como um orientador na indicação e na determinação das estratégias, inclusive
sobre todas as variáveis estudadas na presente pesquisa.
Está presente também nesses períodos o Modelo Colaborativo, pontual às ações
comunitárias e compatível com o modelo de gestão administrativa. No quarto
período, o modelo declarado, denominado Modelo de GpR em Curitiba 2009--2012,
apresenta regras de orientação para a concretização da estratégia, pois na
própria denominação do modelo está explicitada a orientação para resultados.
Suas características orientam a administração para os passos necessários à
condução do processo estratégico.
Os modelos propostos são desdobramentos do Plano de Governo e foi possível
identificar, pelas propostas metodológicas e nas características propostas dos
modelos declarados, que ambos estão vinculados às diretrizes estratégicas
vigentes nesses períodos, ou seja, seus pressupostos existem a serviço de um
processo maior de intenções.
No que se refere à temática de estudo desta pesquisa, confirma-se a intenção da
gestão voltada para resultados, presente na declaração dos modelos,
constituindo-se em uma das características a serem perseguidas e traduzidas na
escolha de métodos de planejamento, procedimentos de planejamento e práticas de
gestão.
4.2.4. Análise da subvariável ambientes da organização municipal
Algumas observações merecem destaque, quando da análise do ambiente na
perspectiva da construção dos diagnósticos constatou-se que, pelo menos em três
dos períodos estudados, há a realização de diagnósticos por meio de ferramentas
próprias para a análise do ambiente, com as mais diversas denominações,
características e metodologias.
Nas metodologias já apresentadas, em cada período pode--se verificar a intenção
de vincular o procedimento análise do ambiente aos propósitos estratégicos do
governo. Nos dois primeiros períodos, intensificaram-se ferramentas de
diagnósticos, com uma abordagem global da realidade em que a organização PMC
está inserida. Os referidos movimentos desencadearam impactos no funcionamento
das estruturas, por meio da elaboração de planos e projetos, com foco nos
resultados, nos territórios priorizados com ações integradas, compartilhadas
com a sociedade e no funcionamento matricial.
No terceiro período, constatou-se a implantação de instrumentos para uma
avaliação da ambiência interna, cujos resultados foram apresentados como
insumos para ações gerenciais.
Além dos instrumentos institucionais de análise do ambiente, conforme descrito
nas documentações, os próprios Planos de Governo representaram a consolidação
das demandas sociais da população, os quais no processo seletivo eram
ratificados como uma leitura das demandas da sociedade. Destaca-se que os
Planos de Governo do terceiro e do quarto períodos foram registrados em
cartório.
4.2.5. Análise da subvariável análise setorial
Em relação ao que se propunha pesquisar nessa variável, podem-se identificar
instrumentos institucionais com parâmetros de avaliação previamente definidos e
o estabelecimento de procedimentos e periodicidade. Destaca-se que essa
variável torna-se presente a partir do terceiro período. Relevante destacar que
os referidos instrumentos foram organizados com metodologias cuja finalidade
principal foi a de oferecer insumos gerenciais às práticas de melhoria da
gestão e foco nos resultados, sendo alguns exemplos: o Plano Plurianual, que
contempla o Índice de Satisfação do Usuário, o Índice de Desenvolvimento de
Gestão Pública (IDGP) e o Contrato de Gestão.
4.2.6. Análise conclusiva da variável diagnóstico do ambiente municipal
Com a intenção de realizar uma análise mais completa dessa variável, com o
elenco das cinco subvariáveis já citadas, foi possível realizar uma leitura
mais aprofundada e detalhada do ambiente organizacional na PMC, apresentando um
resultado de 87,5% em relação ao total possível, mesmo constatada a
inexistência da análise setorial no primeiro e no segundo períodos, e uma
pontuação de 0,5 para o modelo de gestão, no segundo período, em que não há
declaração de um modelo de gestão, e sim a apresentação de um mapa de
estratégia. Em relação a cada uma das subvariáveis, em linhas gerais pôde-se
identificar:
subvariável funções municipais ' além das características de uma
estrutura de atividades nas rotinas setoriais realizadas pelas
unidades organizacionais, há ênfase em um funcionamento matricial,
verificado em todos os períodos, especialmente nos projetos
estratégicos. Esse tipo de funcionamento foi introduzido a partir de
1997, com a Lei Municipal n.7.671/91, que já indica a forma matricial
quando contempla o funcionamento por coordenações funcionais, o que
traz um ganho na dinâmica e no funcionamento administrativo;
subvariável estrutura organizacional ' verificou-se em todos os
períodos que a estrutura e o funcionamento das unidades
administrativas da PMC são constantemente revisados e sofrem
adequações;
subvariável modelo de gestão ' nos períodos em que se constata sua
presença, esta subvariável comporta-se como um orientador das
diretrizes estratégicas, fato evidenciado por suas características e
consequentes desdobramentos nos processos de planejamento e gestão,
especialmente no primeiro e no segundo períodos. No modelo proposto
para o quarto período pode-se verificar a ênfase no alinhamento
estratégico;
subvariável ambientes da organização ' o principal foco de atenção
foi a identificação de instrumentos e ferramentas que pudessem
realizar um diagnóstico municipal. No primeiro e no segundo períodos,
identificaram-se movimentos de análises globais da realidade de
Curitiba, com a orientação de metodologias e ferramentas próprias,
fortemente influenciadas pela característica do modelo de gestão
adotado. No terceiro período houve a introdução formal de ferramentas
gerenciais para a análise do ambiente interno, como a pesquisa de
clima, o IDGP e os contratos de gestão;
subvariável análise setorial da organização municipal ' verificou-
se a preocupação formal em identificar e avaliar o desempenho da
gestão em sua capacidade de dar respostas às demandas sociais com a
utilização das ferramentas gerenciais IDGP e contratos de gestão.
4.3. Análise da variável indicadores de desempenho municipal
Em todos os períodos são apresentados indicadores denominados macroindicadores,
indicadores sociais, indicadores de eficiência, eficácia e efetividade, com o
estabelecimento de marcos e parâmetros de mensuração, o que determinou pela
pontuação atribuída, 87,5%, uma forte presença dos princípios de uma gestão
orientada para resultados. Aspecto que fica evidenciado é que, no segundo e no
quarto períodos, há a presença de uma metodologia para mensuração dos
resultados, inclusive com a existência de uma unidade avaliadora. Nos demais
períodos, não foi possível constatar uma padronização de métodos constituídos
para essa finalidade. No entanto, em relação à formulação de indicadores de
desempenho, verificou-se a existência de orientações conceituais em sua
elaboração, caracterizando-os como instrumentos de medida.
4.4. Análise da variável metas de desempenho municipal
Identificou-se a presença dessa subvariável em todos os períodos, mais
explícita nos dois primeiros, no Plano Plurianual (PPA) e nos dois últimos
períodos; além de fazer-se presente no PPA, também está contida nos contratos
de gestão, para ser monitorada administrativamente. Apresenta uma pontuação de
100%, que determinou forte presença dos princípios de uma gestão orientada para
resultados.
4.5. Análise da variável monitoramento de desempenho municipal
Observa-se uma manifestação crescente dessa variável nos períodos pesquisados,
identificados por mecanismos e instrumentos de planejamento, quais sejam: o
modelo de gestão adotado no primeiro e no segundo períodos, com a
característica voltada para resultados que preconizava como, quando e quais os
referenciais de monitoramento; as revisões de estrutura e funcionamento das
secretarias ao longo dos períodos pesquisados; as avaliações quadrimestrais dos
contratos de gestão no quarto período e a edição anual dos relatórios de
gestão.
Do ponto de vista do monitoramento por parte da população, como ponto de
partida para o controle social, verificou-se a disponibilização de instrumentos
de planejamento e gestão via internet, assim como os próprios Planos de
Governo, que foram publicados e registrados em cartório no terceiro e no quarto
períodos.
Além disso, um modelo de monitoramento e avaliação requer as seguintes
condições: objetos, ciclos e prazos definidos para proceder ao processo de
monitoramento e avaliação, existência de unidades avaliadoras e sistemática de
pontuação (MARTINS e MARINI, 2010). Diante desses parâmetros, foi possível
identificar estes instrumentos:
objetos ' na pesquisa pôde-se verificar nos instrumentos gerenciais
adotados para essa finalidade a existência de indicadores, marcos de
acompanhamento e sistemas informatizados criados para tal finalidade;
ciclos e prazo ' foram identificados no Relatório de Gestão e nos
Contratos de Gestão;
existência de unidades avaliadoras ' em todos os períodos foram
constituídos grupos funcionais com a finalidade de acompanhar o Plano
de Governo;
existência de uma instância apoiadora do desenvolvimento de
capacidade de governo ' realizada por uma autarquia da PMC, o
Instituto Municipal de Administração Pública (IMAP);
sistemática de pontuação ' aspecto verificado nos processos de
avaliação previstos nos contratos de gestão.
Todo esse elenco de instrumentos identificados sinaliza que a gestão pública
municipal vem realizando o monitoramento de suas ações, fato confirmado por sua
presença em todos os períodos.
4.6. Análise da variável planos de ação municipal
Na análise realizada sob a ótica da presença de um plano de ação, verificou-se
um percentual de 75% quanto à presença dessa variável nos períodos estudados.
Fato observado na pesquisa realizada, na qual foi identificado o instrumento
Plano de Ação Municipal, no segundo e no quarto períodos, com predominância em
todos os períodos do Plano de Governo, compromissos políticos de campanha, como
ponto de partida e principal orientador dos objetivos estratégicos municipais.
Ressalta-se que em cada período há desdobramento, aprimoramento e esforço
técnico de transformar o referido plano em instrumentos de planejamento para
orientar os projetos estratégicos do Plano de Governo. Para tanto, utilizaram-
se diferentes métodos, próprios em cada período, como Planejamento Estratégico
Situacional (PES); metodologia para aperfeiçoamento da ação integrada
(transversalidade e territorialização); démarche stratégique, appreciative
inquiry ' olhar apreciativo; arquitetura estratégica; mapa da estratégia do
governo; disseminação da tecnologia de avaliação de resultados e
contratualização de resultados.
Além da adoção dos referidos métodos, em alguns períodos conta-se com a adoção
de modelos de gestão, que servem como referencial para as práticas adotadas.
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: ANÁLISE COMPARATIVA
Pode-se constatar que o tema GpR se apresenta nas variáveis precedentes ao
processo de planejamento na PMC, com movimentos contínuos sem interrupção
técnico-política, ao longo desses períodos. Observou-se que o pensamento
estratégico foi permeando, em uma lógica crescente de debates, pesquisas,
produções documentais, cada um dos períodos e fases pesquisados, as declarações
expressas, e conforme descrito, a firme intenção de gerar impactos e
resultados.
Em uma análise mais apurada obtida pelas observações e verificações documentais
na abordagem qualitativa, pode--se constatar que, a começar pela variável
missão, primeiro evento proposto na sequência de uma gestão orientada para
resultados, tem-se uma presença de 62,5% no conjunto dos períodos. Esse
percentual foi atribuído pela inexistência dessa variável no primeiro e no
quarto períodos e pela existência de duas missões municipais declaradas em
documentos diversos no segundo período, porém, quando existentes, as missões
revelaram os princípios da organização e suas declarações atendem aos critérios
teóricos.
Na ponta e último evento da sequência de eventos, a variável Planos de Ação
Municipal, pode-se constatar a existência dessa variável no primeiro e no
terceiro períodos, dentro de uma natureza setorial, intersetorial e regional,
não sendo identificado um plano único de ação municipal nesses períodos. No
entanto, no segundo e no quarto períodos foi constatado um esforço técnico e
político de traduzir o contido no Plano de Governo em um plano único de ação,
inclusive com metodologia e movimentos de mobilização e elaboração coletiva
muito semelhantes. Em todos os períodos, a formulação dos Planos de Ação
Municipal foram decorrentes dos Planos de Governo e, no tocante aos
pressupostos de planejamento, observou-se que apresentam componentes
estratégicos, porém, se comparados aos pressupostos teóricos, não são
caracterizados dentro de uma proposta de planejamento estratégico, cuja
característica principal é agregar propostas estratégicas de longo prazo
(MATIAS-PEREIRA, 2009; REZENDE, 2011). A referida afirmação confirma-se pelo
fato de que por período são identificados objetivos, programas e projetos
estratégicos distintos, diferentes, próprios e limitados a cada período da
gestão governamental.
Nas análises das variáveis e subvariáveis objetivos estratégicos municipais,
funções municipais, estrutura organizacional, ambientes da organização
municipal, metas de desempenho e monitoramento de desempenho municipal
identificou-se a presença em 100%, nos períodos estudados, demonstrando uma
tendência da gestão em estabelecer diretrizes estratégicas pela formulação dos
objetivos estratégicos; promover a revisão das estruturas e funções municipais,
presentes como condição obrigatória ao funcionamento de uma organização, e além
disso, pôde-se verificar a constante revisão, adequação e inovação delas ante
as demandas sociais; e, por fim, garantir a presença de instrumentos de
monitoramento e estabelecimento de parâmetros para processos de avaliação,
quando da análise das variáveis metas de desempenho e monitoramento de
desempenho municipal.
Especialmente nesse último fator, pode-se concluir, pelo descrito nos
documentos, a existência de um processo de realimentação entre o processo de
monitoramento e os planos e ações estratégicas de ação.
Na análise do diagnóstico do ambiente municipal, com um resultado de 87,5% de
presença em relação ao total possível, optou-se em desmembrá-la em cinco
subvariáveis (funções municipais, estrutura organizacional, modelo de gestão
municipal, análise do ambiente municipal e análise setorial), com o intuito de
realizar uma leitura mais aprofundada e detalhada, dentro do seguinte
raciocínio: a análise das funções e estruturas pode oferecer um entendimento da
dinâmica e funcionamento da organização administrativa, o modelo de gestão pode
demonstrar a orientação estratégica adotada nos períodos para a condução do
planejamento e da gestão, a escolha da análise do ambiente organizacional pode
oferecer a compreensão de como a prefeitura considera e se relaciona com o
sistema no qual está inserida (ambiente interno e externo) e, por fim, a
análise setorial centrada no desempenho da administração em relação aos
aspectos de gestão.
A presença da variável análise setorial ocorre no terceiro e no quarto
períodos, com o propósito de avaliar o desempenho da gestão e, mesmo constatada
a inexistência dessa variável no primeiro e no segundo períodos, perfazendo um
total de 50% dentro dos períodos estudados, é forte a presença dos princípios
de uma gestão orientada para resultados, situação atribuída pelos resultados
obtidos nas outras variáveis.
Com relação à subvariável modelo de gestão, constatou-se a adoção de um modelo
de gestão declarado no primeiro, no segundo e no quarto períodos. O Modelo de
Gestão Curitiba, presente no primeiro e no segundo períodos, exerceu influência
em todo o processo de planejamento e gestão, caracterizando-se como um
orientador ao indicar e determinar estratégias, inclusive sobre todas as
variáveis estudadas na presente pesquisa, por meio das características:
estratégica, compartilhada, descentralizada, intersetorial e voltada para
resultados. No quarto período, o modelo declarado, Modelo de GpR em Curitiba
2009-2012, apresentou as regras de orientação para concretização da estratégia,
pois na própria denominação do modelo está explicitada a orientação para
resultados e suas características orientam a administração para os passos
necessários à condução do processo e alinhamento estratégico. Em uma análise
conclusiva entre os períodos, identificou-se como forte a presença dos
princípios de uma GpR, tanto no recorte por período, como no recorte por
variável, e pode-se constatar a média 87% de presença das variáveis nos
períodos estudados.
Em uma análise comparativa, destaca-se para o primeiro período, como já
mencionado, a forte influência das características do modelo de gestão
administrativa do Modelo de Gestão Curitiba, adotado na PMC. Nesse período, de
modo concreto, realizou-se a construção de indicadores e macroindicadores nos
órgãos da PMC, buscou-se o equilíbrio entre receita e despesa na formulação do
planejamento (orçamento-programa) e adotou-se a gestão por projetos (MS-
project) como ferramenta para o gerenciamento dos projetos.
O conceito estratégico na gestão municipal, adotado nesse período, era expresso
desta forma: processo contínuo e sistemático de direcionar a organização para
atingir sua missão, na perspectiva de uma visão de futuro. Além desse enfoque,
destacaram-se os seguintes aspectos: a abordagem de um modelo de planejamento
único para a PMC, PES, a introdução de um funcionamento matricial em ações
estratégicas do governo e a formulação de uma metodologia para as ações
sociais, o Modelo Colaborativo, com forte envolvimento da sociedade na
elaboração, acompanhamento e avaliação das ações em âmbito local. Outro
destaque importante foi o movimento de diagnóstico denominado Decidindo
Curitiba, com proposições para as políticas públicas gerais, setoriais,
intersetoriais e territoriais.
Todos esses movimentos aconteceram contemplando as características semelhantes
ao preconizado no modelo de gestão, o que supõe a plena integração do processo
de planejamento, bem como sua forte influência nesses processos.
No segundo período, ganha destaque a condução única para a elaboração do plano
de ação, derivado do Plano de Governo. Esse processo foi realizado por meio de
um amplo processo de discussão intersetorial, matricial e local e desmembrado
não só em planos globais como também territoriais, tendo como referência o
movimento Decidindo Curitiba. Além desses aspectos, permaneceram as orientações
e características do Modelo de Gestão Curitiba, o aprimoramento do Modelo
Colaborativo, que também se intensificou e tomou forma da realidade de
Curitiba, sendo denominado de Modelo Curitiba de Colaboração (MCC). Nesse
período, identificou-se a tônica por processos de monitoramento e avaliação, a
exemplo disso a criação e a elaboração da Matriz Lógica.
No período subsequente, constata-se a introdução de algumas ferramentas com a
pretensão de realizar análise interna do ambiente PMC, centrados na escuta da
visão do servidor à Pesquisa de Clima, bem como na leitura sobre as práticas de
excelência em gestão, por meio da implantação do IDGP.
No último e quarto período, é forte a presença dos princípios da gestão
orientada para resultados, pois verificou-se encadeamento e sequência de
eventos dentro das diretrizes estratégicas definidas pelo Plano de Governo e
sistematizadas no Sistema de Acompanhamento do Plano de Governo e nos Contratos
de Gestão, presentes em todas as variáveis, a começar pela declaração de uma
meta mobilizadora, desencadeando a visão de futuro da prefeitura.
Destaque para esse período é não só a total integração das estratégias de
governo ao Plano Plurianual 2010-2013, no que se refere aos elementos das
estratégias de governo, como também a ênfase em resultados na declaração do
modelo de gestão Modelo de GpR em Curitiba 2009-2012.
Nesse contexto, há também o processo de implementação dos Contratos de Gestão,
cujo embasamento seguiu a abordagem do Governo Matricial ou Gestão Matricial de
Resultados (GMR), desenvolvida pelo Instituto Publix, com a introdução de
instrumentos de monitoramento e avaliação da gestão municipal.
Fundamentada por essa abordagem, a PMC, conforme descrito nas documentações,
apresenta um norteador de estratégias voltadas para resultados, as quais
orientam as ações às necessidades de governabilidade, cuja construção dos
indicadores, metas e ações está vinculada à perspectiva da criação da cadeia de
valor.
6. CONCLUSÃO
Diante dessas considerações, merecem destaque alguns aspectos mais globais
sobre as conclusões levantadas. Ao se observar a gestão municipal no que se
refere ao foco nos resultados, levando em conta a linha de tempo utilizada para
este estudo, pode-se afirmar que a administração municipal apresenta um
processo evolutivo e contínuo nessa perspectiva.
É relevante salientar que, no detalhamento das análises, foram identificadas
variações quanto ao predomínio de variáveis entre si, bem como a ausência
dessas em períodos distintos. Mesmo assim, esses fatores não interferiram na
média final dos resultados, de modo que a administração municipal classificou-
se como uma gestão marcada pela forte presença dos princípios de uma gestão
orientada para resultados, tanto no recorte avaliado por período como no
recorte por variável.
Conclui-se, ainda, que essa abordagem seja decorrência dos movimentos do
planejamento de várias décadas. Assim, destaca-se que na PMC o planejamento
sempre se constituiu em uma preocupação, tanto que nos anos 1940-1950 houve um
salto qualitativo na área do planejamento urbano, e essa era a ênfase até o
período de 1997, conforme descrito nos documentos pesquisados.
É a partir desse ano que o planejamento administrativo assume relevância dentro
do que se chamou de movimentos de inovação em planejamento na PMC. Dessa forma,
pode-se verificar que o estudo longitudinal possibilitou a verificação das
variáveis tanto do ponto de vista da presença, como de sua manifestação,
demonstrando que há movimentos que vêm sendo de agregação no âmbito da gestão.
Quanto à proposta dos procedimentos de coleta de dados, tendo como referência o
protocolo de pesquisa, a abordagem qualitativa para o aprofundamento sobre o
estudo da manifestação das variáveis, a abordagem quantitativa com a adoção de
faixas de pontuação, foi permitida a classificação da gestão em relação aos
princípios de uma gestão orientada para resultados, que pode ser implementada
como parâmetro para outras pesquisas, como a análise comparativa entre outras
gestões de municípios semelhantes a Curitiba.
Finalmente, na análise por período, com a verificação da sequência dos eventos
(variáveis e subvariáveis) ao longo do processo de planejamento e gestão
municipal, em todos os períodos pesquisados, somados ao detalhamento da análise
por variável, constatou-se a existência desses eventos como um atributo
necessário a uma efetiva GpR.
Os resultados auferidos vêm ao encontro do objetivo proposto, pois foi
realizado um estudo para identificar a presença e a forma de manifestação do
conjunto de variáveis por período, em um caráter longitudinal, e por variável e
subvariável em relação à gestão para resultados. Esses foram demonstrados pela
análise descritiva e qualitativa sobre a manifestação das variáveis e
subvariáveis, e quantitativa sobre a presença delas, conforme apresentado na
seção 5 "Discussão dos Resultados: Análise Comparativa".
Com isso, foi possível realizar uma análise conclusiva e comparativa por
período e por variável, entre os períodos estudados, no Planejamento e Gestão
Municipal em relação aos princípios da GpR e, conforme a intenção, o estudo
propiciou uma síntese global das análises realizadas, estabelecendo-se as
relações comparativas e conclusivas entre os períodos e entre as variáveis, por
meio da identificação da presença e da forma de manifestação da sequência de
eventos (variáveis e subvariáveis) nos e entre os períodos, em direção aos
princípios da GpR. Finalmente, foi possível elaborar uma série histórica das
gestões municipais, contemplando os principais marcos e características
presentes em relação aos princípios de uma GpR, pois, na medida em que se optou
por realizar uma pesquisa de caráter longitudinal, uma das possibilidades era
reunir dados e sistematizar as informações por período estudado, constituindo
um arcabouço histórico sobre a forma de manifestação das variáveis e a presença
dos princípios da GpR, como foco deste estudo.
As contribuições do presente estudo podem ser direcionadas à comunidade
acadêmica, à administração municipal pesquisada, aos gestores, a outras
prefeituras e à sociedade.
Com relação às limitações, destaca-se o fato de esta pesquisa constituir-se
como um estudo de caso único, não permitindo proceder a generalizações e
comparações com outras prefeituras, principalmente pelas diferenças estruturais
e outras peculiaridades de gestão municipal. Constatou-se, também, a falta de
acompanhamento longitudinal sobre o desdobramento das variáveis, o que não
permite o acompanhamento das possíveis alterações dos resultados auferidos
neste momento.
Ao concluir a tarefa, fica para os pesquisadores uma visão de outras
possibilidades de trabalhos futuros complementares, inclusive pelas próprias
limitações apresentadas. Sugere-se a incorporação de outras variáveis
relacionadas à abordagem da GpR como forma de analisar outros aspectos, co mo é
o caso da transparência, da participação social, da prestação de contas, entre
outras, que se traduzem como pilares essenciais à execução de um modelo de GpR.
Na mesma linha, ampliar o número de municípios como possibilidade de
estabelecer análises comparativas e complementares ao tema estudado.