Estudo multicasos sobre atividades inovativas
1. INTRODUÇÃO
Estudos sobre inovação sustentam-se no argumento de que para uma empresa se
manter competitiva em um mercado global, ela necessita de estratégia baseada em
inovações e requer capacidades internas em constantes e intensas
transformações. Em outras palavras, com a introdução das inovações ocorre o
aceleramento e "a obsolescência dos meios de produção e dos próprios bens de
consumo" (TIGRE, 2006, p.29), gerando transformações no ambiente interno das
organizações, não somente nos padrões tecnológicos, mas também em todo o
processo produtivo, além de gerar competitividade (TIDD, BESSANT e PAVITT,
2008). Os colaboradores, por sua vez, são inseridos nos processos de
desenvolvimento das inovações e demandados por suas ideias e conhecimentos, com
mecanismos de estímulo à criatividade como alavancas da inovação (SBRAGIA et
al., 2006).
Tidd, Bessant e Pavitt (2008, p.62) discutem amplamente as questões relativas à
gestão da inovação, com base em questionamentos sobre como estruturar o
processo de inovação de forma adequada, como desenvolver padrões de
comportamento eficazes e capazes de definir as operações cotidianas para a
gestão da inovação e sobre como adaptar ou desenvolver processos paralelos
(fora da rotina), que possibilitem lidar com a dinâmica das inovações e com as
inovações descontínuas.
No escopo dessas discussões, neste artigo
(1)
apresenta-se a experiência com as atividades inovativas de quatro indústrias
brasileiras, de médio e grande portes, de segmentos, densidades tecnológicas e
históricos com inovações diferentes entre si: empresa de alimentos, empresa de
cimentos, empresa de fitoterápicos e empresa de tecnologia.
Pretende-se colocar que, apesar dos indicadores universalmente aceitos para
caracterizar uma organização como inovadora (ANDREW e SIRKIN, 2007) - patentes
concedidas, quantidade de mestres e doutores em pesquisa e desenvolvimento
(P&D) e outros - , há pouca discussão sobre como ocorre o desenvolvimento
das atividades inovativas (processos intraorganizacionais), que se encadeiam
desde a concepção até a introdução da inovação no mercado.
Sendo a inovação uma das estratégias para a competitividade global, parte-se do
pressuposto de que as atividades inovativas contribuem para os resultados com
inovações. Dessa forma, o adequado encadeamento dessas atividades evidencia-se
como um dos mecanismos emergenciais para a competitividade e a sustentabilidade
das organizações com inovações, pois
"a menos que as organizações estejam preparadas para renovar seus
produtos e processos de maneira contínua, suas chances de
sobrevivência estarão seriamente ameaçadas" (TIDD, BESSANT e PAVITT,
2008, p.59).
2. AS ATIVIDADES INOVATIVAS
Ao se tentar caracterizar uma organização como inovadora, é inevitável, pela
força dos padrões globais do mercado competitivo, apontar grandes corporações
de alta tecnologia, com pesquisa e desenvolvimento contínuos, com inovações
radicais em produtos que geram ganhos econômicos significativos, como
detentoras de uma cultura de estímulo à criatividade e à inovação associadas à
estratégia organizacional. Essas grandes empresas impressionam como entidades
duráveis e persistentes na paisagem econômica e muitas delas ainda desenvolvem
grande capacidade de sobrevivência em longo prazo, com alterações
significativas em seus produtos e tecnologias básicas (UTTERBACK, 1996).
Isso significa que uma organização é inovadora não somente por seus produtos e
processos tecnologicamente inovadores, mas também por uma estratégia de gestão
altamente focada na contínua dinâmica do mercado (de competitividade sistêmica
e de mudanças tecnológicas), em que os processos de gestão da inovação são
estruturados para o cumprimento do intento estratégico da organização,
estabelecendo uma cultura de inovação contínua.
Interessante notar que, para avaliar o grau de inovação de uma indústria, o
Manual de Oslo, guia lançado em 1992 pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) para a coleta de dados em inovação
tecnológica, considera o número de inovações implementadas e não aquele da
competitividade e da sustentabilidade da indústria com as inovações. Na
terceira edição do referido manual (FINEP, 2005, p.70-71), define-se empresa
inovadora como aquela que realizou pelo menos uma inovação dentre os quatro
tipos definidos naquele documento (produto, processo, marketing e
organizacional) ou uma combinação entre esses tipos. Esclarece-se, igualmente,
que as empresas podem realizar algumas atividades de inovação no período de
análise sem ter realizado inovação alguma em um dado período.
Já no Brasil foi desenvolvida uma metodologia para avaliar uma organização
inovadora que engloba os resultados obtidos com inovações. Trata-se da Pesquisa
de Inovação Tecnológica, promovida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2008), segundo a qual os resultados obtidos com inovação
estão associados a:
* produto - quando há melhoria da qualidade ou ampliação da gama de oferta
de produtos;
* processo - quando há aumento da flexibilidade ou da capacidade produtiva
e/ou quando reduz os custos da organização;
* benefício associado aos aspectos relacionados ao meio ambiente, à saúde e
à segurança no trabalho e ao enquadramento em regulamentações e normas;
* percentual de vendas internas e de exportações, obtido pelos produtos
novos ou significativamente aprimorados, lançados no mercado pela
organização.
Há outros benefícios indiretos, com impactos diretos, obtidos com a inovação,
que acrescentam valor à organização. O acréscimo do conhecimento adquirido pode
ser reaproveitado na criação de produtos, nas áreas de negócio da empresa, em
novos negócios ou, inclusive, tornar o novo conhecimento em si um ativo
negociável. O fortalecimento da marca, como inovadora e pioneira, pode
propiciar o estabelecimento dos preços premium a seus produtos ou serviços e
facilitar a migração da empresa para novas áreas ou novos produtos associados à
inovação. A marca também pode ganhar preferência ou exclusividade em
negociações, propiciando à empresa manter a confiança em sua capacidade de
obter retorno e, com isso, manter e atrair pessoas com ideias e perspectivas
inovadoras (ANDREW e SIRKIN, 2007, p.49-68).
Os resultados com inovação, o sucesso da inovação propriamente dito, são
medidos pela taxa de crescimento da renda per capita e, consequentemente, pelo
bem-estar da população. As medições intermediárias referem-se a dois
indicadores: número de patentes concedidas e número de publicações científicas.
Sob essa ótica, o desempenho do Brasil está aquém do esperado, comparado ao
quadro internacional, pois suas patentes e publicações ficam abaixo da média
dos países com economias semelhantes. O Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI) apresenta o número de artigos brasileiros, da América Latina e
do mundo publicados em periódicos científicos indexados por Thomson/ISI e
Scopus, entre 1996 e 2011, em que o Brasil apresentou o baixo índice de
crescimento de 2,6% e 2,11%, respectivamente, em suas publicações no mundo.
Dados do MCTI também apontam menos de 600 depósitos de patentes, em 2010, no
United State Patents and Trademark Office (USPTO), e menos de 0,5%, em 2009, de
protagonismo privado em inovação no Brasil, enquanto a Coreia alcançou 2,45% em
2008. Além disso, conforme Sbragia et al. (2006, p.29),
"a falta de investimentos em atividades inovativas dentro das
empresas brasileiras fez que estas não fossem dotadas de produtos
competitivos no mercado internacional".
Ante esse quadro, as empresas nacionais que investem em inovação obtêm
resultados, geram patentes e publicações científicas, destacam-se entre as
demais e instigam estudos que evidenciem suas estratégias de diferenciação,
competitividade e longevidade.
O ambiente propício à inovação abrange, portanto, a gestão e a sistematização
de processos organizacionais dinâmicos, não lineares e diversificados em função
de diferentes fatores do ambiente, mas que devem estar integrados à estratégia
organizacional.
Tidd, Bessant e Pavitt (2008, p.57-64) abordam os desafios de discutir como
estruturar, adequadamente, os processos de inovação sem apregoar "melhores
formas" como modelos de gerenciamento da inovação. Atêm-se a explorar a
correspondência entre estruturas, processos e culturas de uma organização e
atestam que a maioria dos estudos se concentra em contextos específicos.
Jonash (2001) considera dois princípios fundamentais para uma organização
chegar à inovação: primeiro, que esse processo deve ser conduzido na companhia
inteira para criar valor e não apenas na área de P&D ; segundo, que é
necessário alavancar tecnologia e competência para impulsionar a inovação
sustentável e capturar vantagem competitiva. Outros autores também consideram a
visão sistêmica no processo da inovação (processo interativo), incluindo
questões que vão além das fronteiras da organização, e o compartilhamento dos
conhecimentos (LUNDVALL, 1999; SWAN et al., 1999).
No olhar mais voltado para a dinâmica da inovação, a teoria dos projetos
dominantes confere maior ênfase ao projeto que adquire a fidelidade do mercado,
sintetizado com base em inovações tecnológicas, como um evento marcante para a
indústria em resultado das interações de opções técnicas com as de mercado. A
dinâmica organizacional contida nessa teoria pressupõe capacidades internas
para realizar rápidas transições em processos, estruturas e práticas
organizacionais, logo em seguida à evolução tecnológica do setor (UTTERBACK,
1996). Além do grande impacto causado, a própria indústria adensa sua força
criativa e sua capacidade de transformação.
Contudo, a sustentação dessa dinâmica pressupõe uma estratégia organizacional
voltada para as inovações, definida como
"um conjunto de decisões fixadas em um plano, ou emergentes do
processo organizacional, que integra missões, objetivos e sequência
de ações administrativas num todo interdependente" (MOTTA, 1998,
p.82).
Observa-se que, tanto na estratégia organizacional voltada para a inovação
quanto na inovação como resultado das interações de opções técnicas com as de
mercado, a corporação necessita de processos organizacionais sistematizados
como fonte de inovações, sem os quais o cumprimento do intento estratégico fica
comprometido, gerando descontinuidade no processo de desenvolvimento das
inovações.
Sbragia et al. (2006, p.49-50) abordam as diversas fontes para a inovação,
conforme a realidade cotidiana das empresas, questionando o que pode ser
considerado atividade inovativa. Os autores analisaram o Manual Frescati
(1963), desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE)
(2)
, que oferece um padrão para avaliação das atividades de inovação em P&D e
que, em sua atualização, abrange padrões de mensuração de uma gama de
atividades científicas e tecnológicas. O documento apresenta a diferenciação
para essa inovação (segundo a definição schumpeteriana
(3)
) e a atividade de inovação, classificando essa última em sete grupos
sintetizados por Sbragia et al. (2006), conforme consta no Quadro_1 em que se
apresenta um paralelo com as sete definições sobre atividades inovativas
divulgadas e pesquisadas por Pintec/IBGE
(4)
. No Manual de Oslo (FINEP, 2005, p.56), as atividades de inovação são
definidas como "etapas científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras
e comerciais que conduzem, ou visam conduzir à implementação de inovações".
Assim, as atividades inovativas são apresentadas comparativamente ao estudo de
Sbragia et al. (2006).
Alguns processos não são evidenciados como atividades inovativas no Manual de
Oslo e na Pintec, como a atividade financeira, por exemplo, referente a
incentivos tributários para atividades de P&D e fontes de fomento.
O processo de difusão de inovações também contribui para a absorção de
experiência e conhecimentos de outras empresas ou instituições de ciência e
tecnologia, da primeira introdução para diferentes consumidores, países,
regiões, setores, mercados e empresas. Nesse aspecto, destaca-se a relevância
da inteligência de mercado, da vigilância e da inteligência tecnológica (REIS e
CARVALHO, 2002, p.65). Segundo Reis e Carvalho (2002, p.65), a inteligência
competitiva deve ser realizada considerando as novas tecnologias, os novos
processos, as tendências em suas respectivas áreas, o potencial interno da
organização e os reflexos do meio ambiente externo para o interno.
O formato de atuação em redes tem se mostrado como opção viável aos melhores
resultados com inovações (MOTA e LUCCHESI, 1998; SATO, DERGINT e HATAKEYAMA,
2005; TIGRE, 2006) e pode ser considerado na caracterização de uma organização
inovativa, pelo comportamento aberto na busca de parcerias que viabilizem o
desenvolvimento de inovações. As estratégias competitivas com inovação
impulsionam as empresas a participarem de um Sistema Nacional de Inovação
(SNI), composto por redes de instituições públicas e privadas voltadas ao
desenvolvimento científico e tecnológico do País (SBRAGIA et al., 2006). Na
interação das instituições públicas com as privadas, visando promover o
desenvolvimento científico e tecnológico e implementar as inovações nas
empresas, a cultura e as considerações estratégicas de cada companhia
participante determinarão o encadeamento das atividades inovativas, com
variações conformes ao tipo de colaboração (terceirização/relações de
suprimentos, licenciamento, consórcios, alianças estratégicas, joint ventures e
redes), características de duração e contratos, tipos de companhias e de
empresas inseridas nas redes (TIDD, BESSANT e PAVITT, 2008, p.311). Nessa
dinâmica de atuação em redes, com base em projetos de inovação, as atividades
inovativas são reorganizadas, considerando-se as etapas de seu desenvolvimento.
Outro ponto relevante para a atuação em redes é o observado por Enkel, Gassmann
e Chesbroug (2009) sobre as mudanças de princípios nas atividades de P&D
nas empresas, ao considerarem de menor importância ter um laboratório central,
por exemplo, uma vez que o conhecimento externo está mais disponível. Ainda em
acordo com Enkel, Gassmann e Chesbroug (2009), trata-se de outro contexto em
que a inovação pode desenvolver-se, um sistema denominado open innovation
(inovação aberta) ou gerenciamento de pesquisa e desenvolvimento em rede.
Uma organização inovativa também considera relevantes o conhecimento e a
criatividade das pessoas participantes do processo e necessita da gestão do
ambiente (pessoas, recursos, estruturas etc.) para que ambos sejam
potencializados. As fontes de inovação podem ser provenientes de diversas
plataformas de estímulo à criatividade e à inovação (sistemas de ideias, open
innovation), tanto de ideias provenientes dos colaboradores quanto de estudos
aprofundados e conectados com o cliente/consumidor, da aprendizagem proveniente
da relação construtiva entre empresa/fornecedor e das informações tecnológicas
contidas nos bancos de patentes (KANTER, KAO e WIERSEMA, 1998; SBRAGIA et al.,
2006).
Compreende-se, portanto, que a atividades inovativas em uma organização
inovadora são aquelas que abrangem, de forma estruturada e contínua, os
processos de gestão em todas as áreas da organização e não somente as
relacionadas à área de P&D, voltadas à consecução da estratégia
organizacional centrada na inovação.
2.1. Criatividade: uma das alavancas da inovação
Inúmeros estudos sobre inovação tratam da relevância do estímulo à criatividade
dos colaboradores para a obtenção da inovação e abordam os dificultadores e
facilitadores do processo no ambiente organizacional (AMABILE e GRYSKIEWICZ,
1989; AMABILE et al., 1996; EKVALL, 1996; ISAKEN et al., 2000-2001; KWASNIEWSKA
e NECKA, 2004).
Sbragia et al. (2006) apontam que as pessoas e suas ideias no contexto da
gestão do conhecimento para a geração das inovações constituem uma das
principais alavancas para a competitividade empresarial. Parolin e Albuquerque
(2010) consideram a criatividade no âmbito das estratégias de gestão de pessoas
alinhadas às estratégias de inovação, com base nas características
organizacionais (estrutura, filosofia, valores, políticas e sistemas de
recursos humanos) que influenciam o ambiente para a criatividade e inovação
(encorajamento à criatividade).
Os processos de estímulo à criatividade, como uma das fontes de ideias para a
inovação, são encontrados com inúmeras variações, e das formas mais criativas,
nas empresas, como o Programa 3I da Siemens, o Projeto Simplificação da
Brasilata, o Programa Click da Suzano Papel e Celulose (BARBIERI, ÁLVARES e
CAJAZEIRA, 2009). A respeito, Tidd, Bessant e Pavitt (2008, p.516-518) abordam
a atmosfera criativa e os fatores ambientais que contribuem para a "asfixia da
inovação" e levantam, com originalidade, os aspectos relacionados às práticas
contábeis que não apoiam a inovação. Observa-se que todos os autores têm em
comum a gestão dos elementos facilitadores e dificultadores no contexto de cada
organização.
3. METODOLOGIA
A pesquisa aqui apresentada é de natureza qualitativo-descritiva, não
experimental, de corte transversal de múltiplos casos, pois o estudo multicasos
possibilita levantar evidências relevantes e de maior confiabilidade se
comparado aos estudos de casos únicos (YIN, 2001).
As pesquisas descritivas, segundo Roesch (1999, p.137),
"não procuram explicar alguma coisa ou mostrar relações causais, como
as pesquisas de caráter experimental [...], buscam informação
necessária para a ação ou predição [...], não respondem bem o porquê,
embora possam associar certos resultados a grupos de respondentes".
Pesquisas com corte transversal, por outro lado, não abrangem inúmeras
variáveis condicionantes do contexto.
As definições que apoiam estudos descritivo-qualitativos consideram que
"o método qualitativo difere, em princípio, do quantitativo na medida
em que não emprega um instrumental estatístico como base do processo
de análise de um problema" (RICHARDSON, 1989, p.38).
Tal abordagem parece propícia, quando se pretende apreender e analisar
fenômenos sociais, por possibilitar a identificação dos aspectos subjetivos dos
fenômenos sociais no ambiente organizacional.
A seleção das empresas considerou vários aspectos, dentre os principais:
* empresas que, preferencialmente, estivessem inseridas nos setores que
mais introduziram inovações tecnológicas ou melhorias substanciais em
produtos e processos, conforme dados Pintec/IBGE (2008), referentes ao
estado do Paraná;
* empresas participantes dos prêmios Finep Inovação Tecnológica e empresas
cujos tipos de produtos são considerados inovadores pelas publicações nas
áreas técnicas;
* empresas com histórico de inovações pertencentes a setores distintos e de
densidade tecnológica diferente entre si.
Os parâmetros adotados para caracterizar as organizações como inovativas
abrangeram a identificação dos produtos e processos inovadores, o histórico com
patentes, as atividades inovativas e as plataformas de estímulo à criatividade,
como alavancas da inovação, conforme descrito a seguir:
* produtos e processos tecnologicamente inovadores, conforme classificação
contida no Manual de Oslo (FINEP, 2005);
* atividades inovativas, agrupadas com base em Sbragia et al. (2006, p.49-
50) e Manual de Oslo (FINEP, 2005):
- P&D - trabalho criativo em base sistemática para aumento do conhecimento
existente,
- engenharia industrial - aquisição ou troca de equipamen-tos, mudanças nos
procedimentos de qualidade, métodos e padrões existentes, visando à manufatura
do novo produto ou à aplicação do novo processo,
- marketing de novos produtos - atividades de lançamento desses produtos para
diferentes mercados, como comer-cialização pioneira;
* aquisição de tecnologia intangível e tangível - na forma de patentes,
licenças, know-how e serviços de conteúdo tecnológico em geral; na forma
de máquinas e equipamentos de cunho tecnológico conectado com as
inovações de produto e de processo introduzidas pela empresa;
* design - atividades relativas à definição de procedimentos,
especificações técnicas e aspectos operacionais necessários à fabricação
do novo produto ou à execução do novo processo; design artístico, quando
diretamente relacionado ao novo produto ou processo;
* plataformas de estímulo à criatividade - conjunto de ações, projetos,
atividades diversas de estímulo à criatividade, capaz de alavancar a
inovação (SBRAGIA et al., 2006).
O perfil das quatro empresas é indicado no Quadro_2. Fo-ram utilizados
dados secundários baseados em documentos das empresas, jornais, revistas e
manuais internos, website, histórico da inovação, das patentes, de
organogramas, de artigos técnicos e de textos sobre as empresas. Em duas delas,
foi facilitado o acesso a extensos relatórios de gestão, sem restrições às
informações neles contidas. Os dados primários foram coletados mediante
entrevistas semiestruturadas com os gestores de Recursos Humanos e de
Tecnologia.
A seguir, apresenta-se, de forma sintética, o perfil das quatro empresas
pesquisadas.
3.1. Empresa de Alimentos (A)
Empresa de grande porte, do setor de fabricação de produtos alimentícios, de
baixa densidade tecnológica, atua com diversos produtos de laticínios e
cárneos. Foi fundada em 1979 e é uma central de cinco cooperativas situadas na
região oeste do estado do Paraná, Brasil, chamadas de filiadas, com seu centro
administrativo situado na cidade de Medianeira. Conta com dez unidades fabris
distribuídas pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul e
seis filiais de vendas nos estados do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e
vários distribuidores e representantes nas principais capitais brasileiras. Sua
estrutura organizacional é calcada em sistema de governança cooperativada.
3.2. Empresa de Cimentos (B)
Empresa de grande porte, de média-baixa densidade tecnológica, atua no setor de
fabricação de produtos minerais não metálicos, com produtos de cimento e
argamassa. A empresa B deu início a suas atividades em 1918, trata-se de uma
holding operacional que reúne empresas de cimento, agregados, cal hidratada,
argamassa, calcário agrícola, gesso e concreto e é considerada uma das dez
maiores empresas de cimento do mundo. Entre as 20 unidades de produção, a
fábrica de cimentos localizada em Rio Branco do Sul, uma das cidades da Região
Metropolitana de Curitiba, estado do Paraná, é a primeira e maior do País. Na
região Sul, a empresa detém 45% de market share e é certificada por órgãos
internacionais em qualidade, saúde, meio ambiente e responsabilidade social,
além de sua mantenedora defender a cultura da inovação colaborativa entre suas
unidades de negócios.
No que se refere a patentes, conforme dados coletados no Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI), a holding tem, desde 1999, oito pedidos de
patentes de invenção e um pedido de modelo de utilidade, depositados no
referido órgão.
3.3. Empresa de Fitoterápicos (C)
Empresa de médio porte, do setor de fabricação de produtos farmaquímicos e
farmacêuticos, de média-alta densidade tecnológica, atua com produtos
fitoterápicos, homeopáticos, cosméticos, entre outros. Fundada em 1985,
atualmente está localizada na cidade de Colombo, Região Metropolitana de
Curitiba, estado do Paraná, Brasil, em meio a um grande bosque, onde podem ser
observadas mais de 20 espécies de plantas medicinais. Dispõe de escritório na
capital do estado de São Paulo, responsável pela comercialização e distribuição
dos produtos para o Paraná e São Paulo, e de distribuidores terceirizados para
os demais estados do país e países como os Estados Unidos e os da Europa. Os
dados coletados no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI)
demonstram que a empresa tem, desde 2004, três pedidos de patentes de invenção
depositados nesse órgão.
3.4. Empresa de Tecnologia (D)
Empresa de grande porte, de alta densidade tecnológica, atua no setor de
fabricação de equipamentos de informática e produtos eletrônicos, com provedora
de soluções integradas de automação comercial para o varejo. Situada na Região
Metropolitana de Curitiba, estado do Paraná, Brasil, a empresa nasceu em 1989,
inspirada nas dissertações de mestrado de dois engenheiros eletrônicos
aplicadas em uma incubadora tecnológica, ambas relacionadas a sistemas de
impressão matricial por impacto.
Atualmente, possui escritórios e parcerias comerciais na América do Sul,
América do Norte, América Latina, Europa, Ásia e Oceania, gerando mais de 1200
empregos efetivos e, em 2007, ingressou na Bolsa de Valores de São Paulo
(Bovespa) para ampliar seus investimentos em inovações tecnológicas.
No que se refere a patentes, conforme dados coletados no Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI), a empresa tem, desde 1994, sete pedidos de
patentes de invenção e três pedidos de modelo de utilidade depositados nesse
órgão.
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A proposta neste artigo, como já mencionado, é apresentar e discutir a
experiência com as atividades inovativas em quatro indústrias brasileiras de
porte, segmento e densidade tecnológica e históricos com inovações diferentes
entre si. Para proceder às discussões, apresenta-se o Quadro_3 que sintetiza as
práticas das empresas ante o construto das atividades inovativas proposto no
presente estudo.
A primeira questão a se apresentar é que as atividades inovativas não podem ser
analisadas isoladamente da dinâmica da organização, principalmente nos aspectos
relacionados às estratégias de gestão de pessoas alinhadas às estratégias de
inovação. Tradicionalmente, as abordagens sobre as pessoas atuantes com
inovação referem-se àquelas alocadas em P&D, contrariando as tendências de
captura de ideias para inovação por meio de sistemas que alcancem as pessoas no
todo da organização. Cada vez mais, evidencia-se a necessidade de superação da
estratégia com inovação restrita às geradas pelas atividades inovativas, como
atividades isoladas no contexto organizacional. As iniciativas com plataformas
de estímulo à criatividade reafirmam essa necessidade de superação, permitindo
inferir que todas as atividades de uma empresa e todos os colaboradores
concorrem para o cumprimento da estratégia organizacional voltada para a
inovação, principalmente, quando as inovações são mais incrementais e de menor
densidade tecnológica. Quanto maior o alinhamento entre as estratégias de
gestão de pessoas e estratégias de inovação, maior probabilidade de obtenção
dos resultados em qualquer modalidade de inovação.
As principais inovações executadas pelas empresas pesquisadas são incrementais
(à exceção da empresa D, que atua com inovações radicais, com alta intensidade
tecnológica), como resultado dos processos de melhoria contínua, da busca de
soluções de problemas e da identificação de novos produtos ou processos. Tidd,
Bessant e Pavitt (2008, p.33-35) enfatizam a importância da inovação
incremental, contínua e sustentada, por intermédio de plataformas que favorecem
o desenvolvimento de famílias de produtos, inclusive de aplicabilidade em
outros mercados, e habilidades, impulsionando o aumento de desempenho que
favorece as inovações em processos. Em todas essas possibilidades, o
conhecimento (existente ou em prospecção) encontra-se na base do processo da
gestão da inovação incremental, pois parte de algo já conhecido e que se quer
aprimorar (TIDD, BESSANT e PAVITT, 2008). Observou-se essa lógica na empresa C,
quando introduz novos produtos com base nas famílias de produtos (plataformas
tecnológicas), na empresa A, quando inova em processos com vistas à melhoria
nos processos produtivos, e na empresa B, quando multiplica seus negócios com
base em pesquisas tecnológicas voltadas para a diversificação. Na empresa D,
observa-se que as inovações radicais compõem plataformas tecnológicas que
favorecem o surgimento de novas famílias de produtos inovadores.
Os dados evidenciam que, quanto mais alta a densidade tecnológica, maior é o
número de inovações nos produtos e maior é a intensidade das atividades
inovativas, com grande concentração nas atividades de P&D de longo curso de
desenvolvimento. Na empresa de baixa densidade tecnológica, a inovação em
processos alcança maior relevância; inclusive, com maior ênfase na participação
das pessoas na identificação de ideias que possam gerar inovações, mais do que
nas empresas com predominância de inovações em produtos. Na empresa B, a
inovação abrange produtos, processos, marketing e inovações em negócios e
serviços inovadores. Todas as empresas estão, há mais de 20 anos, competindo em
seu mercado, demonstrando capacidades de alterações significativas em seus
produtos e tecnologias básicas.
Não foi observado um padrão mais evidente das atividades inovativas que possa
ser relacionado à tipologia das inovações. As práticas de comitês para novos
produtos e a reformulação de layouts com a aquisição de novas tecnologias são
as que se apresentam de forma mais equânime entre as empresas. Inclusive,
conforme o Quadro_4, mesmo as que inovam em produtos apresentam uma dinâmica
das atividades inovativas voltadas para a inovação de processo associado às
inovações em produtos (UTTERBACK, 1996).
Nota-se que o Manual de Oslo (FINEP, 2005), conforme citado no tópico 2, define
empresa inovadora como aquela que realizou pelo menos uma inovação dentre os
quatro tipos definidos (produto, processo, marketing e gestão de negócio) ou
uma combinação entre eles, mas não define se devem ser radicais ou incrementais
ou se há alguma associação aos setores de mais alta densidade tecnológica. Por
esse ângulo, a definição é essencialmente inclusiva, pois abrange grande gama
de empresas que inovam de forma não sistemática e, em sua maioria, praticam
inovações incrementais.
Em torno disso, a observação das atividades inovativas nas empresas
pesquisadas, com base na dinâmica gerada na organização, permite destacar a
continuidade da estratégia voltada para inovações tecnológicas, ao se
considerar não somente a continuidade de pesquisa e desenvolvimento em si, mas
todos os processos que viabilizam a implementação da inovação pela empresa.
Nesse sentido, poderá ocorrer a descontinuidade tecnológica, por fatores
diversos, mas não a descontinuidade da estratégia organizacional voltada para
inovação (PAVITT, 1990). Na empresa de média-alta densidade tecnológica, ocorre
menor descontinuidade tecnológica do que na de baixa densidade tecnológica.
Contudo, nessa última, há maior diversidade nas fontes de captação de ideais
para a implementação de inovações. Já na de média-baixa densidade tecnológica,
observou-se que a continuidade tecnológica ocorre em função da diversificação
dos investimentos voltados para inovação. Não foram analisadas essas tendências
relacionadas ao porte das organizações.
Os prêmios em inovação tecnológica conquistados por duas empresas e o histórico
com patentes nas três demonstram níveis considerados relevantes, se comparados
ao desenvolvimento e à cultura empresarial com inovação no País.
A seguir, apresenta-se uma breve síntese das análises sobre as atividades
inovativas nas quatro empresas pesquisadas.
4.1. Pesquisa e desenvolvimento
A importância dos comitês de projetos e da estrutura laboratorial das empresas,
mesmo naquelas que praticam inovação colaborativa com universidades para
pesquisas que requeiram aprofundamento na fronteira do conhecimento, constitui
destaque a assinalar-se. Com relação às práticas de comitês de novos projetos,
ficou evidente que em nenhuma das empresas essa instância é exclusiva para
detecção de ideias para inovação. Em todas elas, os comitês e as plataformas de
estímulo à criatividade convivem sem sombreamento ou sobreposição. Supõe-se,
com isso, que haja clareza na estratégia organizacional de que os colaboradores
em geral podem contribuir com ideias para inovação. O trabalho criativo é
principalmente caracterizado nas atividades de P&D, mas pode ocorrer em
várias etapas de apoio às atividades de P&D.
4.2. Engenharia industrial
As principais atividades observadas neste campo referem-se à alteração de
layout como consequência de inovações em processos ou aquisição de equipamentos
que alteraram o modo de produção. Um dado a considerar é que várias atividades
no âmbito da engenharia industrial não foram mencionadas pelas empresas como
mecanismos de apoio à inovação, mas foram consideradas extremamente necessárias
à incorporação da inovação no processo produtivo. Essas considerações podem ser
decorrentes de uma cultura para a inovação alicerçada na concepção tradicional
sobre as atividades inovativas.
4.3. Marketing de novos produtos
Como atividades em conexão com o lançamento de novos produtos para diferentes
mercados, observou-se maior valorização das atividades relacionadas à
vigilância e à prospecção tecnológica, com características diferenciadas entre
as empresas em função dos diferentes mercados em que atuam e dos enfoques das
estratégias com inovações. Na empresa B, observou-se que o marketing para novos
produtos é relacionado às estratégias para os novos negócios, com
características de diferenciação em produção mais limpa e responsabilidade
socioambiental.
4.4. Aquisição de tecnologia tangível e intangível
A aquisição de know-how, por intermédio de serviços tecnológicos, associada à
aquisição de equipamentos, apresentou maior ênfase nas empresas com estratégias
de inovação em processos. Observou-se uma tendência para a ampliação de
parcerias universidade-empresa em projetos de inovação; em estratégias de
inovação em negócios, a transferência de tecnologias também ocorre em áreas da
própria empresa ou entre empresas do mesmo grupo, como no caso da empresa B.
São dados que demonstram a assimilação do papel integrativo universidade-
empresa no desenvolvimento do conhecimento voltado para a inovação (SBRAGIA et
al., 2006). Poucas foram as evidências sobre a utilização dos recursos de
pesquisa em bancos de patentes (pesquisas de anterioridade), práticas de
transferência de tecnologia, vigilância e inteligência tecnológica, conforme
apontam Reis e Carvalho (2002).
4.5. Design
Esta atividade encontra-se menos evidenciada no encadeamento das atividades
inovativas, apesar da constatação de sua ocorrência nas organizações
pesquisadas, com alto nível de criatividade, associada aos comitês de projetos
para novos produtos.
4.6. Programas de estímulo à criatividade
Sobre os programas de estímulo à criatividade, com base em plataformas
temáticas e metodologias que privilegiam processos criativos grupais, observou-
se que cada organização apresenta especificidades, conforme os valores e a
estratégia organizacional, além da estrutura de P&D tradicionalmente
concebida nas empresas que investem em inovações. Nas quatro organizações,
observou-se forte tendência e alta relevância à participação dos colaboradores
como estratégia de envolvimento e de estímulo à criatividade, como contraponto
para a aquisição de tecnologias e licenças de patentes. Nelas, não foi
claramente evidenciada a oferta de prêmios e bonificações pelas ideias
introduzidas. A principal ênfase foi no clima de reciprocidade entre colegas e
para com a organização, como ambiente propício e estimulador da criatividade.
Para o processo criativo e para a junção do fazer e do pensar, as práticas que
encorajam o contato entre pessoas favorecem as trocas coletivas e os insights,
por toda a exposição a que as pessoas ficam sujeitas nessas situações (PAROLIN
e ALBUQUERQUE, 2010).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As estratégias competitivas globais na atualidade tendem a voltar-se para as
inovações. Diante desse contexto, o Brasil, de forma geral, ainda vem
apresentando resultados aquém dos almejados, apesar de esforços pontuais bem-
sucedidos. Portanto, as empresas de capital predominantemente nacional,
destacadas nesse cenário, são aquelas que instigam estudos que evidenciem suas
estratégias de diferenciação com inovações, competitividade no mercado global e
sustentabilidade no lon-go prazo.
Foram essas as principais questões que motivaram o estudo sobre as atividades
inovativas em organizações inovadoras, consideradas como tal não somente pelo
número de inovações executadas, conforme Manual de Oslo (FINEP, 2005). Foi dado
enfoque à dinâmica dos processos de cada organização que, em sua condução
voltada aos resultados, traduz uma estratégia de competitividade com inovações,
cuja obtenção de resultados com inovação requer processos de gestão
estruturados e alinhados, com suficiente flexibilidade para acompanhar a
dinâmica da inovação.
O estudo permitiu analisar as atividades inovativas, mas não os resultados com
as inovações, como acréscimo de conhecimento, ampliação da gama de produtos,
percentual de vendas obtido com os produtos novos ou significativamente
melhorados, etc. A ausência desses dados, contudo, não impede a infererência de
que as empresas pesquisadas obtêm retornos substanciais com a introdução das
inovações no mercado, pois todas elas estão operando há mais de 20 anos
(gerando inovações), e mantêm-se competitivas em seus mercados e segmentos
industriais, demonstrando a continuidade da estratégia voltada para inovações.
Conclui-se, assim, que a continuidade dessa estratégia garante os ciclos de
inovação, mesmo que, por fatores diversos, ocorram ciclos de descontinuidade
tecnológica na organização (PAVITT, 1990).
Citam-se a seguir as principais conclusões evidenciadas no decorrer do estudo.
* Todas as atividades de uma organização e todos os seus colaboradores, em
diferentes níveis de participação, concorrem para o cumprimento da
estratégia organizacional voltada para obter resultados com inovação, e
não somente as pessoas alocadas em P&D. Não basta, portanto, deter-se
em P&D para considerar inovadora uma empresa, uma vez que se faz
necessário o encadeamento das atividades inovativas para a obtenção de
resultados com inovação. As evidências foram encontradas na composição
dos comitês de análise de projetos, compostos por equipes
multidisciplinares e de diferentes posições na empresa, nos programas de
estímulo à criatividade com ampla participação dos colaboradores e
reuniões de brainstorming. Com isso, ressalta-se a compreensão sobre a
criatividade ser considerada uma das alavancas para a inovação, com base
no estímulo à participação dos colaboradores nos processos de geração e
discussão das ideias.
* Não foi observado um padrão mais evidente das atividades inovativas que
possa ser relacionado à tipologia das inovações. As práticas de comitês
para novos produtos e a reformulação de layouts com a aquisição de novas
tecnologias são as que se apresentam de forma mais equânime entre as
empresas. Contudo, observou-se que, quanto maior a densidade tecnológica
do setor da empresa, maior é a ênfase nas atividades de P&D e nas
inovações em produto, apresentando uma dinâmica das atividades inovativas
voltadas para inovação de processo associado às inovações em produtos.
Como temas para aprofundamento, sugere-se abranger, além das atividades
inovativas, indicadores de resultados com inovações comparáveis com dados do
mercado e dados econômicos secundários.
Uma discussão adicional refere-se ao conceito inclusivo de inovação do Manual
de Oslo (FINEP, 2005) em relação às empresas que mantêm a inovação em sua
estratégia de negócios gerando o ciclo de inovações contínuas. Novos estudos
poderiam analisar as estruturas de gestão de inovação necessárias nessas
empresas em relação aos conceitos existentes no referido manual.
É interessante igualmente aprofundar, no âmbito do encorajamento à criatividade
para a inovação, como os colaboradores integrados nas diversas atividades
inovativas podem ser avaliados em suas iniciativas e desempenho, uma vez que
muitas ideias e invenções não geram inovações (geram custos sem trazer
resultados imediatos) além de, por outro lado, inúmeras delas surgirem de
descobertas acidentais, tais como o fecho velcro, o adesivo no post-it, o
princípio da fabricação de vidros planos (TIDD, BESSANT e PAVITT, 2008, p.516).
No escopo da sustentabilidade e da inovação, novos estudos podem analisar como
a gestão sustentável é concebida e praticada (como valores compartilhados) e
seus reflexos nas atividades inovativas nas empresas inovadoras. Ampliando essa
análise, sugerem-se estudos sobre a relevância da sustentação da estratégia
organizacional voltada para a inovação contínua no âmbito da sustentabilidade,
da competitividade e da longevidade das organizações.
NOTAS
(1) Artigo apresentado no XIV Congreso Latino-Iberoamericano de Gestión
Tecnológica: innovación para el crecimiento sostenible en el marco del
bicentenario (ALTEC), Pontificia Universidad Catolica del Peru, outubro de
2011, em Lima, Peru.
(2) A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) -
Organisation for Economic Co-operation and Development - , com sede em Paris,
França, é uma organização internacional e intergovernamental que agrupa os
países mais industrializados do mercado econômico. Na OCDE, os representantes
dos países membros reúnem-se para trocar informações e definir políticas com o
objetivo de maximizar o crescimento econômico e o desenvolvimento dos países
membros. Disponível em: <http://www.oecd.org>.
(3) O debate sobre o conceito de inovação foi retomado nos anos 1970, em
decorrência das profundas transformações em escala mundial nos processos
produtivos. Algumas classificações foram formuladas seguindo os impactos
provocados nos ciclos econômicos, como citado por Cattani (1997, p.132):
inovações marginais (incrementais ou secundárias), inovações radicais
(inovações primárias) e revolução tecnológica (como forças criadoras da
destruição e da mudança de paradigmas tecnológicos, centro da teoria de
Schumpeter).
(4) A Pesquisa Inovação Tecnológica (Pintec) é realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com apoio da Financiadora de
Estudos e Projetos (Finep) e do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação
(MCTI), em sua terceira versão.