Avaliação do impacto da produção científica de programas selecionados de pós-
graduação em Administração por meio do índice H
1. INTRODUÇÃO
A produção científica brasileira tem, de forma geral, evoluído e ganhado espaço
junto à comunidade científica internacional. Em 2009, o Brasil ocupava a 13ª
posição no ranking de produção científica no mundo e continua evoluindo em
ritmo acelerado (Brasil,_2012). Estima-se que a evolução experimentada pela
comunidade científica no país como um todo tenha também ocorrido no campo
específico da Administração, cuja produção tem sido cada vez maior. Por
exemplo, em 2012, o Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa
em Administração (EnANPAD), um bom termômetro da produção científica brasileira
nesse campo, recebeu 2.940 submissões de trabalhos. Em 1997, o número de
trabalhos recebidos havia sido 787 (ANPAD,_2012).
No entanto, embora a produção científica no País tenha crescido, a qualidade
dessa produção, expressa pela quantidade de trabalhos publicados em periódicos
de alto impacto e pelo número de citações que os artigos recebem, ainda se
encontra em uma posição distante das referências mundiais (Zago,_2011).
Situação similar é verificada no campo da Administração, cuja produção tem
crescido em quantidade, porém, segundo avaliações, não em qualidade (Spink
&_Alves,_2011 ; Bertero,_Vasconcelos,_Binder_&_Wood_Jr.,_2013 ; Bertero,
Caldas_&_Wood_Jr.,_2005).
Tal contexto tem estimulado reflexões críticas sobre o sistema de medição da
produção científica e de avaliação da pós-graduação no Brasil (Horta,_2006;
Alcadipani,_2011a; Alcadipani,_2011b; Bertero_et_al.,_2013; Marques,_2013).
Dentre as críticas ao sistema de avaliação, destaca-se aquela referente à
orientação para a produção - medida pelo número de artigos publicados em
periódicos qualificados - e não para o impacto - medido pela citação dos
artigos em outros artigos. Conforme apontaram Bertero_et_al._(2005) há dez
anos, o sis tema vigente provoca distorções, na medida em que estimula os
pesquisadores a aumentarem o número de publicações para garantir maior
pontuação, fazendo assim com que a quantidade avance em detrimento da
qualidade.
Essas distorções, estimuladas pelo sistema de avaliação vigente no Brasil, têm
gerado debates acerca de um fenômeno que se convencionou chamar de
produtivismo, geralmente asso ciado à má qualidade da produção cientifica
(Alcadipani,_2011a; 2011b; Machado_&_Bianchetti,_2011 ; Mattos,_2012).
Críticos do modelo de avaliação advogam que tal sistema estimula a quantidade,
em detrimento da qualidade. Em estudo recente, realizado sobre uma base de 168
professores pesquisadores que recebem a bolsa produtividade do Conselho
Nacional de De senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), constatou-se a
média de um artigo publicado por trimestre, o que significa uma produção alta.
Entretanto, os mesmos pesquisadores levam em média dez anos para publicar um
artigo em periódico de alta qualidade (Pegino,_2014).
Por outro lado, pode-se advogar que o aumento da quan tidade da produção
científica na área levará ao aumento da qualidade. Adicionalmente, pode-se
argumentar que o aumento da produção de trabalhos científicos viabiliza um
processo mais acirrado de acesso aos periódicos, especialmente aqueles de maior
fator de impacto, garantindo, assim, maior qualidade do que é veiculado.
Entretanto, qualquer que seja a perspectiva ou a posição sobre o sistema de
avaliação em vigor no País, pode-se arguir que o uso de indicadores de impacto
poderia estimular os pesquisadores a realizarem trabalhos mais orientados para
o desenvolvimento de contribuições científicas substantivas. Além disso,
ajudaria a identificar e reconhecer pesquisadores que construíram trajetó rias
sólidas, o que facilitaria decisões sobre alocação de recursos para pesquisa
(veja Bornmann_&_Daniel,_2009).
Entre os indicadores de impacto, o índice H é sugerido em diversos estudos
(e.g., Hirsch,_2005; Van_Eck_&_Waltman,_2008 ; Adler,_Ewing_&_Taylor,
2009 ; Franceschini_&_Maisano,_2010 ; Marcelino,_2010; Sandes-Guimarães_&
Costa,_2012). De fato, tal indicador tem sido adotado por agências de fomento
de diversos países, tais como Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia (Lima,
Velho_&_Faria,_2012).
Este estudo representa um esforço inicial de mensuração e reflexão sobre o
impacto da produção científica dos programas de pós-graduação em Administração
no Brasil, por meio de uma métrica distinta daquelas utilizadas atualmente no
País. O objetivo nesse trabalho é avaliar o impacto da produção dos Núcleos
Docentes Permanentes (NDPs) de programas selecionados da área de Administração
por meio do índice H.
Para cumprir esse objetivo, foi analisada a produção científica de seis
programas nacionais de pós-graduação. Para estabe lecer uma referência externa,
foi também analisada a produção científica de quatro programas estrangeiros de
pós-graduação. Considerou-se toda a produção científica dos pesquisadores dos
respectivos NDPs ou equivalentes, disponível na base de dados do Google
Scholar.
Este artigo está estruturado em cinco seções, incluindo esta introdução: na
segunda seção, trata-se da questão da medição do impacto da produção
científica; na terceira, explica-se o método utilizado na pesquisa; na quarta
seção, apresentam-se e discutem-se os resultados da pesquisa; e na quinta,
apresenta-se uma síntese do estudo e explicitam-se suas contribuições; além
disso, indicam-se as limitações do trabalho, sugerindo possibilidades para
futuros estudos.
2. MEDIÇÃO DO IMPACTO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA
O impacto da produção científica tem sido fonte de reflexão na academia desde o
trabalho pioneiro de Gross_e_Gross_(1927). Com o tempo, as citações foram
adotadas como uma proxy do impacto e, consequentemente, da qualidade dos
trabalhos científicos. A questão ganhou relevância a partir das contribui ções
de Eugene Garfield, considerado um dos fundadores da bibliometria e da
cientometria e criador do Institute for Scien tific Information (ISI). Criado
em 1960, o ISI passou a oferecer serviços de base de dados, com destaque para a
indexação de citações em milhares de periódicos. Desde 1992, o ISI faz parte de
uma divisão da Thomson Reuters Corporation, empresa multinacional do setor de
mídia e informações.
2.1. Citações
As citações passaram, a partir dos anos 1960, a ser a princi pal forma de medir
a dimensão qualitativa da produção científi ca. O argumento é simples: quanto
mais um trabalho científico é citado, maior sua influência sobre os pares e
também maior sua qualidade, já que é aceito e validado por maior número de
membros da comunidade acadêmica (Glänzel,_2008). A publicação de um trabalho
serve para divulgar os resultados de uma pesquisa e estimular os outros
pesquisadores a discutirem seus achados. Quando esses resultados são
considerados em outros trabalhos, os autores fazem menção formal a essa
utilização por meio das citações (McClellan,_2003; Bornmann,_Mutz,_Neuhaus
&_Hanz-Dieter,_2008). A citação pode ser então considerada como um
reconhecimento que um trabalho recebe a partir de outro (Nicholas_&
Ritchie,_1978).
As citações dependem de alguns fatores discutidos por Bornmann_et_al._(2008): a
localização do autor e seu prestigio, a língua da publicação e a
disponibilidade do veículo influenciam o total de citações do trabalho. Se o
artigo é de revisão, seu posicionamento na edição e o número de coautores
também influenciam o impacto da produção. Cabe notar que a adoção de índices de
citação não está livre de distorções e problemas (veja Motta,_1983).
Entretanto, as citações ainda se configu ram como a principal forma para
medição da qualidade e da influência da produção científica.
2.2. Fator de impacto
Na prática, as citações subsidiam outros indicadores, como o fator de impacto
(FI), que tem origem no trabalho de Eugene Garfield (Ruiz,_Greco_&_Braile,
2009). Com o tempo, o FI consolidou-se como a principal métrica de avaliação do
impacto da produção científica.
Seu uso mais corriqueiro refere-se aos periódicos cientí ficos (veja Garfield,
1999). O FI de determinado periódico é uma medida da frequência com a qual um
artigo médio nesse periódico é citado em determinado período de tempo. Os FIs
são calculados anualmente para os periódicos indexados no Journal of Citation
Reports.
A identificação do FI de periódicos atende a diversos grupos de interesse.
Segundo Strehl_(2005), os autores levam em conta o FI para identificar os
periódicos que podem trazer maior prestígio e visibilidade a seu trabalho; os
bibliotecários, por sua vez, analisam o FI para selecionar os títulos de maior
interesse para seu acervo; e os editores de periódicos analisam a evolução
desse indicador e procuram elevá-lo, para atrair trabalhos relevantes e
fomentar a reputação de suas revistas.
No Brasil, o FI foi adotado pelo Sistema Qualis, da Coordena ção de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), para classificar os
periódicos científicos, o que, supostamente, permite avaliar a qualidade da
produção científica gerada pelos programas de pós-graduação. Apesar da ampla
aceitação, o FI é alvo de críticas, frequentemente relacionadas à definição da
base de dados e ao método de apuração (Ruiz_et_al.,_2009).
Autilização do fator de impacto, com base nos artigos inde xados pelo ISI, é
permeada por alguns problemas, podendo-se destacar a limitação da cobertura e a
não inclusão de livros, anais e documentos de trabalho, além de serem poucos os
documentos em línguas diferentes do inglês (Harzing_&_Van_der_Wal,_2008 ;
Sanderson,_2008).
Além do ISI, outras bases de dados, tais como aquelas com preendidas pelo
sistema Scientific Electronic Library Online (SciELO) e pelo Google Scholar (ou
Google Acadêmico), reali zam a indexação de citações. Com isso, elas permitem a
geração de indicadores de impacto distintos daqueles indexados pelo ISI.
Harzing_e_Van_der_Wal_(2008) argumentam que o Google Scholar é uma fonte
alternativa interessante de dados de citação, em particular nas Ciências
Sociais e de Informação, devido a sua grande cobertura. Entretanto, essa base
apresenta algumas desvantagens, como a inclusão de citações não acadêmicas e
uma cobertura pouco abrangente de publicações mais antigas.
2.3. Índice H
Uma alternativa ao FI que está se tornando cada vez mais popular é o índice H,
proposto por Hirsch_(2005) como uma medida para avaliação da produção de um
único pesquisador (Bornmann_&_Daniel,_2007). No entanto, sua utilização
pode ir além dessa aplicação e ser realizada em um nível mais amplo de análise,
como, por exemplo, o impacto da produção de grupos de pesquisa (Van_Raan,_2006)
e de periódicos (Braun,_Glänzel_&_Schubert,_2006). De fato, o índice H é
apontado como uma medida que incorpora medidas de quantidade e de qualidade das
publicações (Egghe,_2006; Van_Raan,_2006; Bornmann_&_Daniel,_2007).
De acordo com Hirsch_(2005) e Glänzel_(2008), o índice H é um indicador de
apuração relativamente simples e que estima a importância, o significado e o
impacto da produção científica. O fato de utilizar somente os trabalhos mais
citados também é considerado uma vantagem. Hirsch_(2005)argumenta que o índice
H pode fornecer um ponto de referência útil, que permite comparar, de uma
maneira imparcial, diferentes indivíduos, quando um dos critérios importantes é
a realização científica. Harzing_e_Van_der_Wal_(2008) argumentam que o índice H
apresenta diversas vantagens: a falta de um horizonte temporal fixo e o fato de
não se basear em pontuações médias, atenuando assim o impacto de um artigo
altamente citado.
O índice H é calculado tomando-se o número de artigos publicados e o número de
citações recebidas pelo pesquisador, pelo periódico ou pelo grupo de pesquisa.
Assim, um pesquisador tem índice N se N de seus artigos possuem no mínimo N
citações cada um. Por exemplo, um pesquisador com índice H igual a 10 possui ao
menos 10 artigos que foram citados pelo menos 10 vezes cada um. (Sandes-
Guimarães_&_Costa,_2012).
Apesar de suas vantagens, o índice H também apresenta algumas características
que podem ser consideradas como desvantagens. Primeiro, ele é diretamente
proporcional à duração da carreira e, dessa forma, gera uma desvantagem
comparativa para pesquisadores mais jovens (Burrell,_2007) ou para grupos mais
jovens de pesquisadores. Segundo, ele não é muito influenciado por artigos com
um número muito alto de citações, o que pode desvalorizar trabalhos de
altíssimo impacto (Egghe,_2006). Terceiro, ele apresenta uma medida simples,
que não reconhece questões relacionadas à coautoria e pode não refletir o
impacto científico de forma mais ampla (Baptista,_Campiteli,_Kinouchi,_&
Martinez,_2006 ; Van_Raan,_2006. Ainda assim, pode-se afirmar que o índice
Hproporciona uma solução de compromisso entre a capacidade de refletir o
impacto da produção científica e a possibilidade de ser apurado de forma
relativamente simples, podendo, naturalmente, ser utilizado em composição com
outros indicadores.
2.4. Consistência e referências para o índice H
A consistência do índice H foi testada por diferentes pes quisadores, em
distintas áreas. Bornmann_e_Daniel_(2005) compararam os resultados do índice H
de determinados pes quisadores com a avaliação feita por um grupo de renomados
cientistas quando da avaliação para a concessão de bolsas de pós-doutorado. Os
autores verificaram que, em média, os pesquisadores selecionados por meio da
avaliação do grupo de cientistas apresentavam índice H maior do que o índice H
daqueles que foram rejeitados.
No campo da Química, a consistência da utilização do índice H foi comprovada
pelo estudo de Van_Raan_(2006), que analisou 147 grupos de pesquisadores em
universidades da Holanda, constatando que os valores calculados para o índice H
se as semelham a análises realizadas por pesquisadores renomados. Resultado
similar foi encontrado por Cronin_e_Meho_(2006), que analisaram pesquisadores
da área das Ciências da Informação.
Diversas pesquisas foram conduzidas focando o índice H como medida de
relevância da produção científica, para pesquisadores individuais e para grupos
de pesquisa. Hirsch_(2005) destaca que, no campo da Física, um índice H igual a
20, para um cientista cujo período de atividade científica é de 20 anos,
caracteriza um profissional bem-sucedido. Para o mesmo período, um índice H
igual a 40 caracteriza um profis sional de destaque; e um índice H igual a 60
após 20 anos de atividade ou igual a 90 após 30 anos de atividade caracteriza
profissionais verdadeiramente únicos. No caso das Ciências Sociais, Mingers_
(2008) aponta que um índice H igual a 20 é bastante elevado.
Na Tabela_1, apresenta-se, a título de ilustração, o índice H para 12
pesquisadores em seis campos da Administração de Empresas. Os nomes foram
identificados por meio de busca no Google Scholar, a partir dos seguintes
critérios: que fossem pesquisadores de destaque nos respectivos campos, que
fossem experientes e que não fossem exclusivamente norte-americanos. Nota-se
que o índice H varia entre 31 e 109, apresentando, portanto, valores coerentes
com aqueles apontados por Hirsch_(2005) e Mingers_(2008) para outros campos
científicos. Por outro lado, é importante registrar que os índices H
identificados para esses pesquisadores constituem uma referência relativa, pois
foram obtidos em ambientes institucionais distintos do brasileiro, no qual foi
realizado o presente estudo.
Tabela 1 Índice H de Pesquisadores Estrangeiros de Referência em Diferentes
Áreas da Administração
Campo Nome Instituição Índice H
Estratégia Henry Mintzberg McGill University 91
Michael Porter Harvard Business School 109
Estudos Organizacionais David Knights Bristol Business School 53
James March Stanford University 53
Finanças Michael C. Jansen Harvard Business School 54
Ross Levine University of California 81
Marketing Philip Kotler Kellog School of Management 98
Christian GrönroosHanken School of Economics 54
Recursos Humanos Michael B. Arthur Suffolk University 34
Scott Snell University of Virginia 41
Operações e LogísticaRobert Johnston Warwick Business School 37
Gerard Cachon University of Pennsylvania 31
3. MÉTODOS
Neste estudo, tratou-se da mensuração, por meio do índi ce H, do impacto da
produção científica de professores que compõem os NDPs de seis programas de
pós-graduação em Administração no Brasil. A escolha dos programas baseou-se na
avaliação da CAPES para o triênio 2007-2009, da área de Administração, Ciências
Contábeis e Turismo. Foram identifi cados inicialmente programas que obtiveram
notas seis e sete na avaliação disponível na época em que o estudo foi
realizado. Optou-se por não atualizar os dados, quando houve a divulgação dos
resultados da avaliação para o triênio 2010-2012, por eles serem, naquele
momento, ainda sujeitos a alteração.
Dessa forma, foram analisados os programas de mestrado e doutorado em
Administração de Empresas: da Escola de Administração de Empresas de São Paulo,
da Fundação Ge tulio Vargas (FGV-EAESP-AE); da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade, da Universidade de São Paulo (FEA-USP); da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGA-UFRGS); e da Universidade
Federal de Minas Gerais (CEPEAD-UFMG).
Foram incluídos na análise o programa de mestrado e doutorado em Administração
Pública e Governo da FGV -EAESP (FGV-EAESP-APG), por tratar-se do único
programa de doutorado nessa modalidade no Brasil, e o programa de Administração
de Empresas da Escola Brasileira de Adminis tração Pública e Empresas (FGV-
EBAPE), programa que foi identificado como um dos cinco mais produtivos na
edição de 2013 do EnANPAD.
Na Tabela_2, indicam-se as notas da avaliação realizada pela CAPES, disponível
na época de realização do estudo (triênio 2007-2009), as notas mais atuais
(triênio 2010-2012) e o número de professores de cada programa (em 2013).
Observa-se que há diferenças substantivas de porte entre eles: o maior programa
(FEA-USP) é mais de três vezes maior, em termos de números de professores, do
que o menor programa (FGV-EAESP-APG).
Tabela 2 Programas Brasileiros Analisados
Instituição / Nota CAPES Nota CAPES Número de Professores
Programa (Triênio 2007-2009) (Triênio 2010-2012) (2013)
FGV-EAESP-AE 6 7 33
FEA-USP 7 7 56
PPGA-UFRGS 7 5 39
CEPEAD-UFMG 6 6 28
FGV-EAESP-APG 5 5 16
FGV-EBAPE 5 6 21
Fontes: Websites da CAPES e dos programas analisados.
Além desses programas brasileiros, foram identificados quatro programas
estrangeiros nas áreas de Administração de Empresas e de Administração Pública.
Em Administração de Empresas foram escolhidos: o programa de doutorado de
Wharton, por ser reconhecido como referência em produção científica, sendo o
primeiro colocado no ranking The UTD Top 100 Business School Research Rankings
(UT_Dallas,_2013); e o programa de doutorado da I.E. Business School, por ter
sido uma instituição europeia, que realizou um trabalho reconhecido de
crescimento e internacionalização de sua produção científica. Em Administração
Pública foram escolhidos os programas de doutorado da Lyndon B. Johnson School
of Public Affairs e da Harvard Kennedy School, duas referências mundiais nesse
campo.
Para a coleta de informações desses programas, foram tomadas as linhas ou
grupos de pesquisa próximos daqueles encontrados nas instituições brasileiras.
Foram considerados apenas os professores identificados como faculty members,
com atuação nos respectivos programas de doutorado. Não foram considerados os
professores identificados como associate, assistant e emeritus. Na Tabela_3,
apresenta-se o número de professores de cada programa analisado. Notam-se,
também entre esses programas, diferenças substantivas de porte. O maior
programa (The Wharton School) é quase sete vezes maior, em termos de número de
professores, do que o menor programa (I.E. Business School).
Tabela 3 Programas Estrangeiros Analisados
Instituição / Programa País Número de Professores (2013)
The Wharton School Estados Unidos 101
I.E. Business School Espanha 15
Lyndon B. Johnson School of Public Estados Unidos 27
Affairs
Harvard Kennedy School Estados Unidos 34
Fontes: Websites dos programas analisados.
As informações dos programas e dos NDPs (ou faculty, para os programas
estrangeiros) foram levantadas nos websites das instituições e dos respectivos
programas, em junho de 2013. O levantamento do impacto da produção científica
ocorreu entre os meses de setembro e outubro de 2013, e foi realizado por meio
do software Publish or Perish (PoP). A escolha do PoP justifica-se pela
utilização da base do Google Scholar. Conforme Harzing_e_Van_der_Wal_(2008),
essa base é mais indicada para o cálculo do impacto, por ser a mais abrangente
e por considerar, além de revistas, livros e trabalhos apresentados em
congressos.
4. RESULTADOS
Com a utilização do PoP, mapeou-se a produção científica de cada pesquisador,
não se distinguindo a posição da autoria. Assim, conferiu-se a mesma
importância a trabalhos nos quais o pesquisador avaliado é autor ou coautor.
Além disso, foi considerado todo o período de atividade de cada pesquisador,
desde a primeira publicação.
Com o intuito de verificar e eliminar erros inerentes ao uso do Google Scholar
e do PoP, foi realizada uma revisão manual de todos os resultados apresentados
pelo software. Assim, foram eliminados artigos de homônimos, textos que não
poderiam ser considerados como trabalhos científicos (por exemplo, ementas de
disciplinas) e textos duplicados. Nos casos em que um mesmo texto foi publicado
em veículos diferentes (anais e periódico, por exemplo) foram mantidos os dois
resultados.
Tendo em vista que a base do Google Scholar é dinâmica, foi feito um estudo
específico para avaliar o efeito do momento da coleta sobre os resultados.
Constatou-se que uma diferença de duas semanas entre as coletas não afeta
significativamente os resultados.
A métrica principal escolhida para a análise do impacto foi o índice H. No
entanto, foram também levantados outros indicadores relevantes: o número de
citações por trabalho, o número de citações por ano e o tempo médio de
atividade de cada pesquisador. Tais indicadores complementam a visão
proporcionada pelo índice H.
O processo ocorreu em três etapas. Primeiro, foram cal culados os indicadores
de produção e do índice H de cada pesquisador. Segundo, foi realizada uma
filtragem, com o objetivo de excluir eventuais textos repetidos, realizados em
coautoria por pesquisadores de uma mesma instituição. Ter ceiro, com base nas
publicações individuais e na indexação de citação delas, efetuou-se o cálculo
do índice H dos programas, considerando-se toda a produção de seu respectivo
NDP ou equivalente.
Nesta seção, são apresentados os resultados dos levanta mentos realizados.
Primeiro, serão mostrados os resultados referentes ao índice H e aos demais
indicadores para todos os programas analisados, brasileiros e estrangeiros.
Segundo, serão apresentados os resultados relacionados à distribuição do índice
H entre os pesquisadores de cada programa analisado. Terceiro, serão mostrados
os resultados referentes ao índice H relacionado ao tempo de experiência dos
pesquisadores.
4.1. Índice H e outros indicadores de impacto dos programas brasileiros e
estrangeiros
Na Tabela_4, apresentam-se os resultados para cada um dos programas brasileiros
e estrangeiros analisados. Entre os programas brasileiros, os resultados
sugerem a existência de dois grupos: de um lado, os programas da FEA-USP, da
FGV-EAESP-APG, da FGV-EAESP-AE e da FGV-EBAPE com índices H mais altos; e, de
outro lado, os programas do PPGA -UFRGS e do CEPEAD-UFMG com índices H mais
baixos. É relevante observar que os programas da FGV-EAESP-AE e da FEA-USP são
os mais antigos do Brasil e os que apresentam maior tempo médio de atividade
dos pesquisadores, especial mente o da FEA-USP. Conforme aponta Burrell_(2007),
o índice H favorece pesquisadores com mais tempo de atividade, já que aumenta à
medida que aumenta o tempo de atividade dos pesquisadores.
Tabela 4 Indicadores de Impacto dos Programas Brasileiros e Estrangeiros
Analisados
Programa Índice HCitações/ Média de Citações da PrincipaTempo Médio de
Trabalho Publicação Atividade
FGV-EAESP- 60 7 166 22
AE
FEA-USP 63 5 113 26
PPGA-UFRGS 37 4 72 19
CEPEAD- 25 3 44 20
UFMG
FGV-EAESP- 61 8 153 27
APG
FGV-EBAPE 55 10 333 23
The
Wharton 386 67 1.352 32
School
I.E.
Business 41 10 113 21
School
Lyndon B.
Johnson
School of 68 9 136 32
Public
Affairs
Harvard
Kennedy 282 46 890 32
School
Três outros fatores devem ser considerados na análise dessa tabela. Primeiro, o
efeito localização. Os programas da FEA -USP, da FGV-EAESP-AE e da FGV-EAESP-
APG localizam -se na região com maior concentração de pesquisadores do País, o
que favorece as redes de cooperação (Capobiango,_Silveira,_Zerbato_&
Mendes,_2011), o que, por sua vez, fa vorece o impacto. Segundo, o fato de
essas duas instituições sediarem periódicos tradicionais e renomados: a Revista
de Administração (RAUSP), a Revista de Administração Públi ca (RAP) e a Revista
de Administração de Empresas (RAE). Tal condição também pode contribuir para o
impacto dos respectivos programas, mesmo que medidas contra práticas endógenas
tenham sido adotadas (Wood_Jr._&_Chueke,_2008). Terceiro, o fato de esses
programas terem um papel histórico na formação de pesquisadores. Com isso,
foram criadas redes de relacionamento que também contribuem para a elevação de
sua produção científica.
É relevante ainda registrar o efeito representado por pesquisadores com índice
H excepcionalmente alto. No programa da FGV-EAESP-APG constatou-se que um caso
dessa natureza teve efeito substantivo. Mediante simulação, foi possível
constatar que, caso sua produção fosse retirada da avaliação, o índice H do
programa cairia de 61 para 40. Tal caso representa sem dúvida um outlier.
Verificou-se que outras instituições têm pesquisadores com índice H alto, mas
em nenhum caso se pode afirmar que sejam também outliers, como no caso citado,
pois seu índice H não é tão excepcional, nem tão distante dos índices H de
outros pesquisadores. Ana logamente, não se pode afirmar que haja outlierscom
índice H muito baixo, porque o número de pesquisadores em tal condição é
apreciável em todas as instituições.
Conforme esperado, alguns dos programas estrangeiros escolhidos apresentam
índices H consideravelmente mais al tos do que aqueles apresentados pelos
programas brasileiros. Destacam-se os programas de Wharton, em Administração de
Empresas, e Harvard, em Administração Pública. De fato, esses são programas
tidos como referência mundial em termos de pesquisa científica, reputação e
capacidade de influência e impacto. O grande número de citações verificadas na
produção dos pesquisadores desses dois programas, aliado ao grande número de
professores que os compõe, contribui para o alto valor apurado para o índice H
dos programas. Se na avaliação individual dos pesquisadores uma única produção
com grande número de citações não se torna relevante, quando da análise dos
indicadores dos programas essa mesma produção pode ter uma participação
importante. Por outro lado, os programas da Lyndon B. Johnson School of Public
Affairs e da I.E. Business School apresentaram índices H comparáveis aos dos
programas brasileiros.
Naturalmente, não se podem comparar diretamente tais valores, por terem sido
gerados em ambientes diferentes e por áreas diferentes - Administração de
Empresas e Administração Pública (Hirsch,_2005). Embora o ambiente científico
seja aberto e internacionalizado, o histórico do desenvolvimento das
comunidades científicas privilegia, em termos de impacto, as instituições
anglo-saxônicas e, no caso da Administração, especialmente as instituições
estadunidenses.
O campo científico da Administração estadunidense está consolidado, com grande
número de instituições de pesquisa de topo, eventos de grande porte e
periódicos importantes. Além disso, tem influência mundial, atraindo
pesquisadores de todos os países. Comparativamente, o campo científico brasi
leiro no caso da Administração é menor, ainda insular e com pequena capacidade
de atração de pesquisadores estrangeiros. Consequentemente, a publicação de um
artigo em um periódico de topo estadunidense gera potencialmente maior impacto
do que a publicação de um artigo em um periódico de topo brasileiro.
Por isso, comparações entre os indicadores de instituições brasileiras e
estrangeiras devem ser feitas com cautela. Uma forma mais consistente para
fazer comparações é a distribuição relativa dos índices H dos pesquisadores nos
diversos progra mas, brasileiros e estrangeiros, como se verá a seguir.
4.2. Distribuição dos índices H dos programas brasileiros e estrangeiros
Além das diferenças em termos de índice H dos programas, procurou-se avaliar a
dispersão interna dentro de cada pro grama, ou seja, como varia o índice H
dentro de cada um dos NDPs ou equivalentes analisados. Na Tabela_5, apresentam-
se os resultados da distribuição do índice H para cada um dos seis programas
brasileiros e quatro programas estrangeiros analisa dos. A escala foi
construída de forma exploratória, chegando -se a variações de cinco pontos no
índice H como o valor que permite melhor visualização das diferenças. Com isso,
foram definidas cinco faixas. O valor superior, correspondente a um índice H de
20, foi definido com base na literatura existente, que sugere ser esse um valor
alto, e na observação dos índices H dos pesquisadores individuais. Para
facilitar a visualização, foram marcados os percentuais superiores a um terço
do total, que indicam concentrações importantes em determinadas faixas.
Analisando-se primeiramente os programas brasileiros, conforme esperado aqueles
que apresentam maiores índices H são aqueles que também apresentam o maior
percentual de pesquisadores nos estratos superiores, com índice H igual ou
superior a 15. Além disso, constatou-se que apenas o programa da FGV-EAESP-APG
apresenta percentual significativo de pesquisadores com índice H igual ou
superior a 20 (18,80%). É oportuno observar que pesquisadores de alto impacto
são importantes porque tendem a consolidar em torno deles grupos de pesquisa,
são capazes de conduzir trabalhos que contribuem para o avanço do conhecimento
e servem de modelo para pes quisadores iniciantes.
Tabela 5 Distribuição do Índice H dos Pesquisadores dos Programas Brasileiros e
Estrangeiros Analisados
H<5 H>=5 H>=10 H>=15 H>=20
Programa H<10 H<15 H<20
% % % % %
FGV-EAESP-AE 18,18 42,42 27,27 6,06 6,06
FEA-USP 32,14 37,50 19,64 8,93 1,79
PPGA-UFRGS 28,21 43,59 25,64 2,56 -
CEPEAD-UFMG 25,00 64,29 10,71 - -
FGV-EAESP-APG - 50,00 25,00 6,25 18,80
FGV-EBAPE 4,76 42,86 33,33 14,29 4,76
The Wharton School - 2,97 7,92 16,83 72,28
I.E. Business School 31,25 43,75 18,75 6,25 -
Lyndon B. Johnson School of Public Affairs 14,81 48,15 18,52 - 18,52
Harvard Kennedy School - 8,82 2,94 8,82 79,41
Por outro lado, deve-se registrar como ponto de atenção o alto percentual de
pesquisadores com índice H inferior a 5, o que, vale lembrar, significa que
parte considerável dos pesquisa dores do NDP dos programas mais bem avaliados
pela CAPES no Brasil tem cinco ou menos artigos com cinco citações.
Quanto aos programas estrangeiros, chamam mais uma vez a atenção os resultados
dos programas de Wharton e de Harvard, com mais de 70% dos corpos de
pesquisadores, que têm grande porte, apresentando índice H maior ou igual a 20.
Por outro lado, em Administração Pública, a Lyndon B. Johnson School of Public
Affairs apresenta um perfil de distribuição muito similar ao da FGV-EAESP-APG;
e, em Administração de Empresas, o I.E. Business School apresenta um perfil de
distribuição similar ao da FEA-USP e do PPGA-UFRGS. Isso não significa dizer
que essas instituições tenham impacto similar na ciência. Con tudo, pode-se
especular que elas exercem influências similares em seus respectivos domínios
geográficos. Tal hipótese deverá, naturalmente, ser testada em futuros estudos.
4.3. Produção individual de pesquisadores dos NDPs ao longo do tempo
Além das análises coletivas, foi também realizada uma análise da variação do
índice H por tempo de atuação dos pesquisadores, tanto para os programas
brasileiros quanto para os programas estrangeiros. Nas Figuras_1 e 2, mostram-
se tais resultados.
Figura 1 Variação do Índice H com os Anos de Atividade de Pesquisadores dos
Programas Brasileiros Analisados
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0325-gf02.jpg]
Figura 2 Variação do Índice H com os Anos de Atividade de Pesquisadores dos
Programas Estrangeiros Analisados
Obviamente, deve-se esperar que, quanto maior o tempo de atividade, maior o
índice H. Entretanto, entre os programas brasileiros não parece haver um
incremento significativo ao longo dos anos: muitos pesquisadores parecem manter
índices H abaixo de 10, ou até mesmo abaixo de 5, apesar de contarem com 20
anos de experiência ou mais.
Mingers_(2008) argumenta que um índice H abaixo de 10 pode significar uma
produção científica de baixo impacto. Se tomar-se tal patamar como referência,
constata-se que, entre os pesquisadores analisados neste estudo, e que atuam
nos principais programas de pós-graduação do Brasil, a expres siva maioria
apresenta produção científica de baixo impacto. Significativamente, ao analisar
as listas de artigos identificados pelo PoP, chama a atenção o número de
artigos sem nenhuma citação, ou com apenas uma ou duas citações.
Por outro lado, entre os pesquisadores dos programas estrangeiros, constata-se
considerável dispersão, havendo um grupo representativo de pesquisadores com 20
ou mais anos de atividade e índices H abaixo de 10. Isso pode significar, como
no caso brasileiro, tanto uma baixa orientação para a produção científica,
quanto a existência de uma produção científica de baixo impacto, em termos de
índice H.
5. CONCLUSÃO
Neste trabalho, o objetivo foi avaliar o impacto da produ ção dos NDPs de
programas brasileiros de pós-graduação em Administração. Foram avaliados seis
programas, por meio do índice H. Complementarmente, foram avaliados quatro
programas estrangeiros, também por meio do mesmo índice.
Constataram-se diferenças significativas entre os programas e uma diversidade
significativa entre pesquisadores dentro de cada programa brasileiro, em termos
de impacto, conforme medido pelo índice H. Constatou-se também que parte con
siderável dos pesquisadores brasileiros apresenta produção científica com baixo
índice H, o que significa baixo impacto; e que apenas um número restrito de
pesquisadores apresenta produção científica com índice H da mesma ordem de
grandeza de pesquisadores estrangeiros de destaque. Deve-se, entretanto, mais
uma vez, frisar que comparações devem ser feitas com cautela, pois
pesquisadores brasileiros e estrangeiros atuam em ambientes institucionais
distintos. Conforme observado anteriormente, não se pode fazer uma transposição
simples de patamares de índice H do ambiente institucional de pesquisa anglo-
saxão, ou estadunidense, para o ambiente institucional de pesquisa brasileiro.
Eles diferem em termos de nível de maturidade, cultura de pesquisa, número e
perfil dos periódicos, ação de órgãos reguladores e certificadores, e diversos
outros fatores. Além disso, existem barreiras de acesso para pesquisadores
brasileiros interessados em publicar em periódicos estrangeiros de alto
impacto, representados pela própria língua inglesa e por diferenças nas agendas
de pesquisa. Ainda assim, os resultados encontrados neste estudo, tanto aqueles
relacionados ao impacto dos NDPs dos programas avaliados quanto aqueles
relacionados ao impacto dos pesqui sadores, devem ser vistos como um alerta.
Para aumentar o impacto da pesquisa científica em Admi nistração no Brasil, é
preciso, entre outras medidas, aperfeiçoar o ambiente institucional no qual a
atividade é realizada. Os resultados reforçam, portanto, os argumentos críticos
expressos por diversos autores a respeito do estado das coisas no campo da
Administração no Brasil (por exemplo, Alcadipani,_2011a; 2011b; Bertero_et_al.,
2013).
5.1. Contribuição
A principal contribuição deste estudo é chamar a atenção para a questão do
impacto da produção científica e operacio nalizar critérios de mensuração que
possam representar um avanço em relação aos critérios atualmente dominantes no
Brasil, focados na contabilização de publicações qualificadas. Tal sistema,
embora tenha representado um avanço em outro momento, tornou-se alvo frequente
de críticas, por estimular uma mentalidade produtivista, que distorce a missão
da ciência e prejudica a qualidade e o impacto dos trabalhos científicos
(Alcadipani,_2011a; 2011b; Faria,_2011; Freitas,_2011; Machado_&
Bianchetti,_2011 ; Godoi_&_Xavier,_2012 ; Mattos,_2012).
A operacionalização de sistemas baseados no índice H é relativamente simples.
Eles podem ser utilizados por pesqui sadores, interessados em monitorar o
impacto de sua produção científica; por programas, interessados em monitorar o
desem penho de seus NDPs; e por órgãos de regulação e controle, para avaliar
grupos de pesquisa e programas.
Adicionalmente, contribuiu-se com este estudo provendo referências de programas
de pós-graduação localizados fora do Brasil. Embora, conforme ressaltado, não
se possam fazer comparações diretas, as informações coletadas e apresentadas
sobre programas estrangeiros oferecem referências sobre o índice H de
pesquisadores consagrados no campo da Administração, sobre a distribuição dos
índices H nos quadros de pesquisadores, sobre a evolução do índice H ao longo
do tempo, e até mesmo sobre a variação dos índices H entre os programas
estrangeiros analisados.
5.2. Limitações do estudo e futuras pesquisas
Esta pesquisa teve caráter preliminar, apresentando algu mas limitações, que
poderão ser tratadas em futuros trabalhos. A primeira limitação relaciona-se ao
número de programas avaliados. Futuros trabalhos poderão expandir tal número, o
que resultará em um retrato mais representativo da realidade brasileira. De
forma complementar, poderão ser avaliados, para fins de comparação, o fator H e
outros indicadores de impacto de um maior número de programas selecionados no
exterior. Tal esforço poderá incluir programas de países desenvolvidos,
reconhecidos pela tradição e pela excelência em pesquisa, e programas de países
emergentes, mais recentes e que estão passando por processos de evolução
similares ao que ocorre no Brasil. De forma similar, novos estudos poderão
incluir outros campos das Ciências Humanas, como, por exemplo, a Economia. A
expansão da amplitude do estudo provavelmente permitiria compreender melhor o
potencial e os limites de cada campo em termos de impacto.
A segunda limitação refere-se a restrições inerentes aos indicadores
utilizados, especialmente o índice H. Acredita-se que tais indicadores possam
representar um avanço em relação ao sistema de medição em uso no Brasil. No
entanto, eles também não são capazes de capturar de forma ampla o impacto de
trabalhos científicos, de pesquisadores individuais e de programas de pós-
graduação. Nesse sentido, futuros es tudos poderão identificar, avaliar e
desenvolver modelos mais completos de medição de impacto, que considerem
aspectos relacionados à disseminação do conhecimento e a sua aplicação para
transformação da realidade.
A terceira limitação relaciona-se à dificuldade para comparar os indicadores de
programas estrangeiros com os indicadores de programas brasileiros. Futuros
estudos poderão explorar tal restrição, aprofundando o conhecimento sobre os
respectivos ambientes institucionais, as diferenças entre eles, e como tais
ambientes se alteram, facilitando ou dificultando o impacto da produção
científica.
A quarta limitação refere-se às diferenças entre os NDPs dos programas, em
termos de tempo de experiência, o que potencialmente afeta o índice H. Nesse
sentido, futuras pesquisas poderão avaliar, de forma aprofundada, o efeito de
tal variável sobre o índice H de pesquisadores que atuam no Brasil e no
exterior.
A Academia Brasileira de Administração ainda é um campo relativamente jovem.
Como tal, encontra-se em processo de institucionalização e de consolidação.
Estimular o autoconhecimento e a apreciação de novas perspectivas pode ser um
meio eficaz para acelerar tal processo. Os autores deste artigo desejam que o
presente estudo tenha contribuído nesse sentido e possa estimular outros
pesquisadores a explorarem esta linha de pesquisa.
COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO
(De acordo com as normas da American Psychological Association[APA])
Wood Jr., T., & Costa, C. C. de M. (2015, julho/agosto/setembro). Avaliação
do impacto da produção científica de programas selecionados de pós-graduação em
Administração por meio do índice H. Revista de Administração (RAUSP), 50(3),
325-337. doi: 10.5700/rausp1203