Maturidade do endividamento, desenvolvimento financeiro e instituições legais:
análise multinível em empresas latino-americanas
1. INTRODUÇÃO
Já se passaram mais de 50 anos desde que a conhecida conclusão de Modigliani_e
Miller_(1958) foi publicada. A partir da inclusão de algumas premissas
restritivas, os autores identificaram que o valor da firma é independente da
sua estrutura de capital. Também com base em algumas restrições, Stiglitz_
(1974) encontrou que a mesma conclusão de independência poderia ser estendida
para outras políticas de financiamento da firma, como, por exemplo, a
maturidade das dívidas. Entretanto, o próprio autor incita um questionamento:
"Whether these assumptions are 'realistic' or not is a question of some debate
" (Stiglitz,_1974, p. 851). De forma similar a Modigliani_e_Miller_(1958), na
medida em que algumas premissas não se mostraram verossímeis, surgiram
hipóteses teóricas com o objetivo de explicar as escolhas de maturidade. Na
classificação de Terra_(2011), as hipóteses são: trade-off estático (Brick,
&_Ravid,_1985 ; 1991; Kane,_Marcus,_&_McDonald,_1985) ; custos de agência
(Myers,_1977; Barnea,_Haugen,_&_Senbet,_1980) ; sinalização (Flannery,_1986;
Diamond,_1991); e maturity matching (Myers,_1977; Diamond,_1991; Emery,_2001).
O objetivo no presente trabalho é investigar a influência de diferentes grupos
de fatores explicativos na variância da maturidade do endividamento corporativo
na América Latina. A partir da análise de trabalhos empíricos prévios,
percebeu-se que há cinco grupos de variáveis que, potencialmente, impactam nas
escolhas de maturidade do endividamento corporativo. No entanto, percebeu-se
que tais grupos de fatores foram preliminarmente tratados de forma isolada e
não se procedeu à sua análise em conjunto. Ademais, o tratamento de variações
setoriais é majoritariamente feito com a utilização de variáveis binárias e
pouca atenção se dá às variações setoriais medidas continuamente.
A amostra utilizada foi composta por países da América Latina. Especialmente em
ambientes voláteis, como os analisados, espera-se que a utilização de recursos
de longo prazo seja menor. Dessa forma, analisar a maturidade do endividamento
deve captar com propriedade as influências dos diferentes níveis de fatores nas
decisões de financiamento. É notável, também, que se extraíram fatores
relativos ao desenvolvimento financeiro e à qualidade das instituições de 32 e
6 variáveis, respectivamente. A extração dos fatores permitiu, essencialmente,
a comparação direta entre os dois grupos de variáveis, e seu impacto na
maturidade.
De modo geral, os resultados sugerem que:
* as variações ao longo do tempo e as variações entre as empresas são as
maiores fontes de variações na maturidade;
* o tamanho, a liquidez, a taxa real de juros e o nível de desenvolvimento
financeiro do país sobressaem-se como variáveis que sistematicamente
influenciam a maturidade do endividamento corporativo;
* o nível de desenvolvimento financeiro e a qualidade das instituições
impactaram indiretamente na maturidade por meio da variável tamanho.
O restante do trabalho foi construído do seguinte modo: na seção 2 expõem-se os
possíveis determinantes da maturidade do endividamento e as hipóteses teóricas
relacionadas; na seção 3 apresenta-se a amostra utilizada e descreve-se o
método aplicado; na seção 4 são apresentados os resultados; e finalmente, na
seção 5, são feitas as considerações finais.
2. FATORES DETERMINANTES DA MATURIDADE DO ENDIVIDAMENTO
A análise das hipóteses teóricas relacionadas revela que a dívida de curto
prazo é frequentemente sugerida como ótima. Por exemplo, caso a estrutura a
termo da taxa de juros seja decrescente: a maturidade de curto prazo torna-se
ótima (Brick,_&_Ravid,_1985) ; o uso de dívida de curto prazo pode controlar
o subinvestimento (Myers,_1977); pode diminuir os custos de agência associados
à assimetria de informação, ao "efeito de substituição de ativos", e ao
subinvestimento (Barnea_et_al.,_1980); pode sinalizar ao mercado a boa
qualidade da firma de modo a diferenciá-la das demais (Flannery,_1986); pode
sinalizar ao mercado que os gestores têm expectativas positivas quanto ao
futuro da empresa (Diamond,_1991), e pode proporcionar maior lucratividade por
aumento das receitas e diminuição dos custos financeiros (Emery,_2001). Por
outro lado, a dívida de longo prazo: é ótima quando a estrutura a termo da taxa
de juros é crescente (Brick_&_Ravid,_1985) ; vai se tornando ótima quando
ocorre aumento dos custos de transação, aumento dos impostos para pessoa
física, diminuição da volatilidade do retorno dos ativos da empresa (Kane_et
al.,1985), e, ainda, diminui o risco de liquidez (Diamond,_1991).
Diversos fatores, internos e externos à firma, podem influenciar as escolhas do
prazo do endividamento. Trabalhos empíricos anteriores sugerem que há cinco
grupos de fatores determinantes da maturidade do endividamento, a saber:
fatores em nível de firma; em nível de setor, e em nível de país, isto é,
macroeconômicos; relacionados ao desenvolvimento financeiro e à qualidade das
instituições legais. Contudo, tais trabalhos carecem da análise conjunta desses
grupos de fatores. Por exemplo: Guedes_e_Opler_(1996), Antoniou,_Guney_e
Paudyal_(2006) e Terra_(2011) analisam apenas os fatores específicos das
empresas; Barclay_e_Smith_(1995) e Stohs_e_Mauer_(1996) analisam apenas fatores
específicos das empresas em conjunto de variáveis binárias para setor;
Giannetti_(2003) e Kirch_e_Terra_(2012) analisam apenas fatores específicos das
empresas em conjunto de fatores relativos ao desenvolvimento financeiro do
país; Demirgüç-Kunt_e_Maksimovic_(1999) analisam apenas fatores macroeconômicos
em conjunto a fatores institucionais; e Qian_e_Strahan_(2007) e Fan,_Titman_e
Twite_(2012)analisam apenas fatores específicos das empresas em conjunto a
fatores institucionais. O restante da seção destina-se à apresentação de tais
trabalhos, à análise das medidas empíricas utilizadas em cada grupo e ao
relacionamento deles com as hipóteses teóricas.
2.1. Fatores em nível de firma
As variáveis específicas da firma estudadas foram: carga fiscal, oportunidades
de crescimento, tamanho, liquidez e maturidade dos ativos. A carga fiscal
permite testar a hipótese do trade-off estático. Conforme Kane_et_al._(1985), é
esperada uma relação inversa dessa variável com maturidade. Para os autores,
quanto menor for a alíquota de imposto paga, menores serão as vantagens fiscais
decorrentes do endividamento e, portanto, a empresa necessitará de maiores
períodos de tempo para amortizar os custos de transação na emissão da dívida.
No que tange à hipótese dos custos de agência, Myers_(1977) destaca que, quando
os fluxos de caixa dos projetos disponíveis à firma acontecem antes do
pagamento dos juros aos credores, os acionistas têm menores incentivos à
execução dos projetos. Isso porque parte desses fluxos iria compor o pagamento
dos juros aos credores – o que, consequentemente, poderia gerar o problema de
agência denominado subinvestimento. Para mitigar tal problema, Myers_(1977)
sugere a utilização de dívidas de curto prazo. Nesse caso, deve-se esperar
relação negativa entre oportunidades de crescimento e maturidade. Os resultados
de Guedes_e_Opler_(1996) e Ozkan_(2000)corroboram tal relação. Da mesma forma,
o tamanho da firma está relacionado ao maior monitoramento de analistas
externos, o que diminui o virtual conflito de agência incorrido pela firma e
possibilita a utilização de recursos de maior prazo. Logo, espera-se relação
positiva entre maturidade e tamanho . Ozkan_(2000) encontrou tal relação
positiva, enquanto Perobelli_e_Famá_(2002) encontraram relação negativa com
dívida de curto prazo.
Já a inclusão de uma medida de liquidez das firmas permite um teste da hipótese
da sinalização. De acordo com Diamond_(1991), a dívida de curto prazo aumenta o
risco de liquidez da empresa, o que diminui sua capacidade de endividamento.
Empresas que mantêm maior nível de liquidez devem, portanto, ter mais acesso a
recursos de maiores prazos. Logo, espera-se relação positiva entre liquidez e
maturidade. Por fim, conforme sugerem Diamond_(1991) e Emery_(2001), as firmas
tendem ao casamento das maturidades das dívidas e dos ativos. Logo, segundo a
hipótese de maturity matching, a relação entre tais variáveis deve ser
positiva. Nota-se que Guedes_e_Opler_(1996) encontraram tal relação positiva.
2.2. Fatores em nível de setor
A partir dos trabalhos de Barclay_e_Smith_(1995) e Stohs_e_Mauer_(1996), notou-
se aumento apenas marginal após a inclusão de variáveis binárias (dummies) para
os setores econômicos das empresas. Com o objetivo de aprimorar a análise, no
presente trabalho, utilizaram-se, inicialmente, as variáveis construídas por
Kayo_e_Kimura_(2011), a saber: munificência (medida da disponibilidade dos
recursos no setor), dinamismo (volatilidade dos recursos disponíveis no setor),
e concentração setorial. Também foram incorporadas as variáveis utilizadas por
Copat_e_Terra_(2009), a saber: ciclo de vida, dispersão de eficiência
tecnológica, dispersão da qualidade dos produtos, poder de barganha dos
clientes e poder de barganha dos fornecedores.
Em ambientes cuja munificência é maior, espera-se que o crescimento das firmas
seja maior e, por conseguinte, sua rentabilidade. A fim de se evitar o
subinvestimento (Myers,_1977), tais firmas devem captar apenas dívida de curto
prazo; logo, espera-se relação negativa entre munificência e maturidade. Da
mesma forma, a maior volatilidade nos recursos disponíveis ao setor pode
acarretar maior captação de recursos de curto prazo. Tal decisão se dá devido à
busca de aumento de discricionariedade do gestor no controle da dívida. Além
disso, em setores mais voláteis, o risco tende a ser maior, o que sugere menor
maturidade nos ativos (Kane_et_al.,_1985) e, consequentemente, menor maturidade
das dívidas. Analogamente, espera-se que, em setores mais concentrados, o risco
das empresas seja maior (Kayo_&_Kimura,_2011) e, portanto, a maturidade dos
ativos deverá também ser menor. Consequentemente, também se espera relação
negativa entre concentração e maturidade.
Para Maksimovic_e_Zechner_(1991), as empresas mais eficientes, e cujos produtos
são mais qualificados, apresentam maior rentabilidade. Para equipararem sua
rentabilidade e manterem-se competitivas no setor, as empresas menos
eficientes, e cujos produtos são menos qualificados, aumentam seu
endividamento. Analogamente, tais empresas poderiam aumentar o prazo de
utilização de seus recursos. Seguindo tais autores, portanto, pode-se esperar
que, em setores com maiores dispersão da eficiência tecnológica e dispersão de
qualidade dos produtos, um número elevado de empresas tem o incentivo para
aumentar a maturidade do seu endividamento.
Empresas que atuam em setores mais novos, por sua vez, possuem um conjunto
maior de investimentos a ser feito. Para evitar incorrer em subinvestimento,
tais firmas devem, majoritariamente, se financiar com dívidas de menor prazo,
conforme sugerido por Myers_(1977). Dessa forma, espera-se relação negativa
entre ciclo de vida e maturidade. Finalmente, Kale_e_Shahrur_(2007) argumentam
que, quanto maior o poder de barganha dos clientes e dos fornecedores, maior a
pressão exercida pelos clientes e fornecedores por prazos de pagamento e
recebimento, o que extrai recursos financeiros da firma. Em tais setores, a
utilização de dívida de menor prazo pode ser propositalmente aumentada como
forma de comprometer uma parcela maior dos fluxos financeiros da firma com os
credores e diminuir a potencial expropriação por clientes e fornecedores.
Portanto, espera-se relação negativa com maturidade.
2.3. Fatores em nível de país
Para Fan_et_al._(2012), taxas de inflação mais altas indicam maior nível de
incerteza econômica. Nesse cenário, evita-se a utilização de recursos de longo
prazo como forma de diminuir o risco financeiro da firma. Espera-se, portanto,
relação negativa entre taxa de inflação e maturidade, relação essa encontrada
nos estudos de Demirgüç-Kunt_e_Maksimovic_(1999), os quais sugerem que
diferenças no Produto Interno Bruto (PIB) explicam aproximadamente 40% das
variações de maturidade das dívidas. Adicionou-se, então, a variável PIB per
capita e espera-se relação positiva com maturidade. Foram incluídas também a
variação cambial e a taxa real de juros. Espera-se que maior variação cambial
aumente o custo da captação de dívida externa de longo prazo e que maior taxa
real de juros aumente o custo de captação de dívida interna, e,
consequentemente, uma relação negativa com maturidade em ambos os casos. Por
fim, seguindo-se Jong,_Kabir_e_Nguyen_(2008), incluiu-se o crescimento do PIB
como variável de controle das condições gerais da economia.
No tocante às variáveis relacionadas ao desenvolvimento financeiro, Demirgüç-
Kunt_e_Maksimovic_(1998) afirmam que a existência de um mercado financeiro
desenvolvido facilita captações de maiores prazos. Já o estudo de Giannetti_
(2003) indica que: em países com mercado de ações mais capitalizado, o
endividamento corporativo é de menor prazo; em países com mercado de dívida
mais capitalizado, o endividamento corporativo é de maior prazo; e a maturidade
do endividamento é menor em países cujo sistema bancário é mais concentrado.
Kirch_e_Terra_(2012), por meio da análise fatorial, utilizaram 32 variáveis
para compor fatores para desenvolvimento financeiro. Seu resultado indica uma
relação positiva entre o fator e o endividamento de longo prazo de empresas
latino-americanas. Seguindo esses trabalhos, espera-se relação positiva entre
desenvolvimento financeiro e maturidade das dívidas corporativas.
Por fim, Qian_e_Strahan_(2007) argumentam que proteção ao credor mais forte
está positivamente relacionada a empréstimos bancários de maiores prazos. Já
Fan_et_al._(2012) encontraram que o nível de corrupção é negativamente
relacionado à maturidade das dívidas, enquanto a presença de um código de
falência explícito no país é positivamente relacionada. Os autores sugerem que
as empresas assumem maior proporção de dívida de longo prazo em países cujo
sistema legal provê os investidores de melhor proteção. Seguindo Fan_et_al._
(2012), espera-se uma relação positiva entre o fator relativo à qualidade das
instituições e a variável dependente.
3. DADOS, AMOSTRA E MODELO ESTATÍSTICO
3.1. Dados e amostra
A amostra foi composta pelos seguintes países: Argentina, Brasil, Chile,
Colômbia, México, Peru e Venezuela. Essencialmente, esses são os países com as
maiores economias e maiores expressões econômicas na América Latina. O período
utilizado na pesquisa vai de 1996 a 2009. Tal escolha foi necessária na medida
em que os dados disponíveis acerca de algumas variáveis relativas ao
desenvolvimento financeiro são disponibilizados apenas após 1996. Para
comparação, foram incluídas empresas dos Estados Unidos. No total, 1.820
empresas fizeram parte da amostra.
A fonte dos dados utilizada foi a base Economática, da qual foi extraída a
classificação setorial, sendo excluídos, porém, o setor "finanças e seguros" e
o setor "fundos", devido às suas peculiaridades em termos de tomada de capital
externo, e o setor "outros", por não ser um segmento uniforme. Os dados
macroeconômicos, por sua vez, foram retirados do International Monetary Fund
(2011). Já os dados acerca dos fatores relacionados ao desenvolvimento
financeiro e à qualidade das instituições legais foram retirados da fonte
apontada por Kaufmann,_Kraay_e_Mastruzzi_(2009) e Beck,_Demirgüç-Kunt_e_Levine_
(2010): World Bank Financial Structure Dataset e Governance Indicators Dataset,
respectivamente. Por fim, vale ressaltar que se procedeu ao winsorization a 1%
em ambas as caudas como medida para minimizar os impactos de potenciais
outliers.
3.2. Mensuração do desenvolvimento financeiro e da qualidade das instituições
As variáveis relativas ao desenvolvimento financeiro e à qualidade das
instituições foram retiradas de World Bank Financial Structure e Governance
Indicators Dataset, respectivamente. O período total coberto vai de 1960 a 2009
(1), sendo que mais de 200 países compõem a base. Foram utilizadas as variações
observadas em todos os países contidos na amostra, o que, além de aumentar a
relação número de observações por variável estudada, implica a utilização da
variabilidade disponibilizada por toda a base de dados e não apenas de uma
parte. Dessa forma, entende-se que os fatores extraídos são representativos em
nível global e não apenas em nível local ou nacional.
Em relação ao desenvolvimento financeiro, ao todo, foram 32 as variáveis
disponibilizadas. Contudo, algumas apresentavam poucas observações ou dados
faltantes para os países analisados, levando a excluir tais variáveis da
análise(2). Ao todo, foram selecionadas 16 variáveis (50% do número total de
variáveis, mas 66% do número total de observações disponíveis). Na média, o
número de observações por ano foi de 109 e sempre maior do que 89, resultando
em torno de 6,83 e 5,56 observações por variável, respectivamente. A medida
Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) média foi 0,792 (menor valor médio foi 0,77), o que
sugere alta adequação do fator aos dados. A média do Eingevalor foi de 6,1 e
explica em torno de 38% da variância. Foram disponibilizadas seis variáveis
relacionadas à qualidade das instituições legais(3). Em virtude de não haver um
número de variáveis-observações criticamente baixo, não foi necessária a
exclusão de variáveis. Na média, o número de observações por ano foi de 194,
resultando, aproximadamente, 32 observações por variável. O KMO médio foi 0,897
(menor valor médio foi 0,835), ou seja, o fator extraído mostra-se bastante
adequado. A média do Eingenvalor foi 5,1, o que explica aproximadamente 86% da
variância. Na Tabela_1 apresentam-se as estatísticas descritivas dos fatores
(4).
Tabela 1 Estatísticas Descritivas dos Fatores
Desenvolvimento Financeiro Qualidade das Instituições
MédiaDesvio PadrãoMáximoMínimo MédiaDesvio PadrãoMáximoMínimo
Argentina -0.48 0.14 -0.33 -0.79 -0.14 0.33 0.41 -0.71
Brasil -0.12 0.06 -0.02 -0.21 0.03 0.08 0.21 -0.07
Chile 0.02 0.19 0.26 -0.21 1.26 0.09 1.38 1.08
Colômbia -0.53 0.24 -0.17 -0.81 -0.53 0.14 -0.32 -0.69
México -0.55 0.08 -0.39 -0.65 -0.03 0.12 0.17 -0.15
Peru -0.56 0.10 -0.40 -0.71 -0.30 0.07 -0.21 -0.45
Venezuela -0.69 0.14 -0.41 -0.93 -0.89 0.36 -0.40 -1.39
Estados 1.14 0.40 1.73 0.54 1.49 0.11 1.64 1.30
Unidos
Em relação ao desenvolvimento financeiro, a média dos valores do fator extraído
para o Chile foi a única positiva (0,02). A seguir, encontram-se Brasil,
Argentina, Colômbia, México, Peru e Venezuela. Acerca da qualidade das
instituições, o valor médio encontrado para o Chile também foi superior aos dos
vizinhos: média próxima a 1,26. Na sequência, posicionam-se Brasil, México,
Argentina, Peru, Colômbia e Venezuela. Resumidamente, percebe-se que a economia
chilena apresentao maior nível de desenvolvimento financeiro e de qualidade das
instituições dentre os países latino-americanos. Os Estados Unidos são o país
com maiores níveis em geral.
3.3. Modelo estatístico
Foi utilizado o Modelo Linear Hierárquico, da mesma forma que em Kayo_e_Kimura_
(2011). Para o aninhamento, foi feita a mesma divisão dos autores: o primeiro
nível foi composto pela variável tempo, o segundo pelas variáveis específicas
da firma, e o terceiro pelas variáveis relativas ao setor e às variáveis em
nível de país(5). Finalmente, ressalta-se que os dados estão em formato de
painel não balanceado.
3.3.1. O modelo vazio
Um dos recursos obtidos, a partir da escolha do modelo linear hierárquico como
método estatístico utilizado, é a decomposição da variância da variável
dependente. Como primeiro passo, assume-se que a maturidade (MATtfsp) do ano t,
da firma f, que faz parte do setor s e do país p, é uma função da maturidade
média da firma f ao longo do tempo (β0fsp) mais um erro "(εtfsp) que tem
distribuição normal, média zero e variância σ2 e que representa a variância ao
longo do tempo.
No segundo nível de análise, a maturidade média ao longo do tempo da firma f,
que faz parte do setor s e do país p (β0fsp), é uma função da maturidade média
do setor s e do país p(γ00sp) mais um erro (r0fsp) que representa a variância
entre as firmas.
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0381-e02.jpg]
Finalmente, no terceiro nível, a maturidade média do setor s e do país p
(γ00sp), que passa a ser aleatória, é uma função da maturidade média de toda a
amostra (δ 0000) mais um erro aleatório (u00sp), que representa a variância do
setor s e do país p.
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0381-e03.jpg]
Nesse nível, porém, são adicionados dois novos elementos: um erro aleatório
(s00s 0), que representa a variância entre os setores, e um erro aleatório
(t000p) que representa a variância entre os países. Consolidando as três
equações, tem-se:
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0381-e04.jpg]
Desse modo, a maturidade MATtfsp do ano t, da firma f, que faz parte do setor s
e do país p, é uma função da maturidade média de toda a amostra δ 0000; de um
erro aleatório u00sp, que representa a variância de um termo de interação entre
o setor s e o país p ; de um erro s00s 0 que representa a variância entre os
setores; de um erro t000p que representa a variância entre os países; de um
erro r0fsp que representa a variância entre as firmas, e de um erro εtfsp que
representa a variância ao longo do tempo. A variância dos erros descritos
indica a importância relativa do nível de estudo. Por exemplo, a variância do
erro εtfsp indica a importância relativa do tempo na variância da variável
dependente; o mesmo ocorre para os demais níveis estudados.
3.3.2. A inclusão das variáveis independentes
Uma vez feita a decomposição da variância, com o objetivo de se analisar a
significância dos coeficientes das equações seguintes, foram incluídas as
variáveis independentes. Tal inclusão foi feita gradualmente conforme as
Equações [1], [2] e [3] foram reestimadas. Dessa forma, o primeiro passo foi
reestimar a Equação [1], incluindo as variáveis específicas da firma, a saber:
carga fiscal (CFtfsp), oportunidades de crescimento (OCtfsp), tamanho (TAtfsp),
liquidez (LItfsp) e maturidade dos ativos (MAtfsp). Adicionou-se, ainda, a
variável binária ANOtfsp para cada ano da análise, exceto o primeiro.
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0381-e05.jpg]
Na sequência, a Equação [2] foi reestimada e incluídas as variáveis relativas
aos setores, a saber: munificência (MUoosp), dinamismo (DIoosp), concentração
(HHoosp), ciclo de vida do setor (CVoosp), dispersão da eficiência tecnológica
(DToosp), dispersão da qualidade dos produtos do setor (DQoosp), poder de
barganha dos clientes (PCoosp) e poder de barganha dos fornecedores (PFoosp).
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0381-e06.jpg]
Finalmente, a Equação_[3] foi reestimada, incluindo-se, nesse caso, as
variáveis em nível de país, a saber: crescimento real do PIB (CRP000p), PIB per
capita (PpC000p), taxa de inflação (TI000p), variação cambial (VC000p), taxa
real de juros (TJ000p), fator de desenvolvimento financeiro (DF000p) e fator de
qualidade das instituições legais (IN000p). Afim de se mitigar o potencial
efeito da endogeneidade, defasou-se, em uma unidade de tempo, o fator de
desenvolvimento financeiro(6).
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0381-e07.jpg]
Consolidando as Equações [5], [6] e [7], tem-se a seguinte Equação [8]:
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0381-e08.jpg]
3.3.3. Os efeitos indiretos
A última etapa do método teve como objetivo analisar os impactos indiretos que
o desenvolvimento financeiro e a qualidade das instituições têm na utilização
de recursos de longo prazo, por meio da medida empírica relacionada ao tamanho
da firma. De acordo com a teoria dos custos de agência, empresas maiores são
mais monitoradas do que empresas menores, o que diminui o virtual conflito de
agência e facilita o acesso a recursos de longo prazo. Adicionalmente, de
acordo com a teoria do trade-off estático, empresas maiores têm menor risco de
falência e, potencialmente, apresentam maior capacidade de oferecer colateral,
o que também facilita o acesso a recursos de longo prazo. Sob ambos os pontos
de vista, empresas menores são mais dependentes do crédito de menor prazo.
Contudo, maiores níveis de desenvolvimento financeiro aumentam a
disponibilidade de recursos de longo prazo por meio da maior atividade e
tamanho do mercado de dívidas. Analogamente, a qualidade das instituições deve
facilitar o acesso à informação por parte dos investidores. Como resultado, o
incentivo dos investidores ao financiamento de projetos de longo prazo deve
aumentar devido aos menores riscos de conflito de agência. Ambos os fatores
devem aumentar a disponibilidade de recursos de longo prazo, inclusive para
empresas menores. Em resumo, a fim de se investigar se tais fatores facilitam a
utilização de recursos de longo prazo, objetivamente, foram incluídos, na
Equação_[8], termos de interação entre os dois fatores descritos e a variável
tamanho.
3.4. Medidas empíricas
Empiricamente, as variáveis previamente descritas foram mensuradas da seguinte
forma: tal qual Barclay_e_Smith_(1995), Stohs_e_Mauer_(1996), Guedes_e_Opler_
(1996), Ozkan_(2000), Antoniou_et_al._(2006), Terra_(2011) e Kirch_e_Terra_
(2012), oportunidades de crescimento é medida pelo market-to-book, tamanho é
medido pelo logaritmo da receita de vendas e liquidez é mensurada por ativos
correntes/ativo total. Maturidade dos ativos é medida por (ativos correntes/
custo do produto vendido + imobilizado líquido/depreciação do exercício) e
carga fiscal é o quociente tributos pagos/ativo.
A medida de cálculo para munificência e dinamismo foi feita de acordo com Kayo
e_Kimura_(2011). Para munificência: fez-se a regressão do tempo contra as
vendas do setor dos cinco anos anteriores ao período em análise; e dividiu-se o
coeficiente angular pela média das vendas do setor do período. O dinamismo é
medido pelo erro padrão do coeficiente angular da regressão de munificência
dividido pela média das vendas do setor. Concentração é mensurada pela soma dos
quadrados das participações de mercado das empresas dentro do setor.
Seguindo Copat_e_Terra_(2009), o ciclo de vida do setor é medido pela mediana
de ((receita operacional líquidat/ receita operacional líquidat-1)-1). Assume-
se que setores em fase inicial de vida apresentam maior crescimento e,
portanto, maior variação da sua receita operacional líquida. A dispersão da
eficiência tecnológica é medida pelo desvio padrão setorial de imobilizado/
custo do produto vendido; tal medida capta as variações entre firmas de suas
capacidades de produção instalada. Dispersão da qualidade dos produtos do setor
é o desvio padrão setorial do lucro bruto/receita operacional líquida,
captando-se, assim, variações na qualidade dos produtos por meio da diferença
na margem de lucro bruto que a empresa consegue repassar a seus clientes.
Também de acordo com Copat_e_Terra_(2009), os prazos médios de recebimento e
pagamento (com sinal negativo), respectivamente, são boas proxies para poder de
barganha dos clientes e poder de barganha dos fornecedores. Tais variáveis
foram medidas, respectivamente, da seguinte forma: mediana setorial de
(clientes de curto prazo/receita operacional líquida) X 360; mediana setorial
de (fornecedores de curto prazo/receita operacional líquida) X 360.
Finalmente, seguindo Demirgüç-Kunt_e_Maksimovic_(1998,_1999), Jong_et_al._
(2008) e Kayo_e_Kimura_(2011): crescimento real do PIB é medido por (Produto
Interno Brutot/Produto Inter-no Brutot-1) / (índice deflator do PIBt/ índice
deflator do PIBt-1); PIBper capita é igual ao PIB/população. Taxa de inflação é
dada por índices de preços do consumidort/índices de preços do consumidort-1
(Fan_et_al.,2012). Também segundo Copat_e_Terra_(2009), variação cambial é
igual a (moeda nacional/ SDR)t/(moeda nacional/SDR)t-1. Taxa real de juros é
dada por ((1+taxa de juros de captação)/(1+ taxa de inflação)-1).
Desenvolvimento financeiro e qualidade das instituições legais referem-se aos
fatores extraídos via análise fatorial.
No que tange à construção da variável explicada, Barclay_e_Smith_(1995),
Demirgüç-Kunt_e_Maksimovic_(1999), Antoniou_et_al._(2006), Fan_et_al._(2012),
Terra_(2011)e Kirch_e_Terra_(2012) utilizam o quociente dívida de longo prazo/
dívida total (doravante M1). Por sua vez, Demirgüç-Kunt_e_Maksimovic_(1999)
valem-se do quociente dívida de longo prazo/ativo total (doravante M2).
Adicionalmente, foram utilizados testes de robustez para a relação dívida de
longo prazo/(ativo total– patrimônio líquido) (doravante M3). Sua inclusão
objetivou considerar o trade credit – que foi desprezado pelas outras medidas e
que, potencialmente, é fonte relevante de financiamento utilizada pelas firmas
latino-americanas.
4. RESULTADOS
4.2. Modelo vazio
Após a consecução do modelo vazio, identificou-se que as variações ao longo do
tempo e as variações entre as empresas são as maiores fontes da variabilidade
de M1. Ao todo, quando se trata dos países latino-americanos, em torno de 92%
das variações são originadas nos primeiro e segundo níveis. As variações entre
os setores foram fonte de, aproximadamente, 5% das variações da maturidade. As
variações entre os países representaram menos de 1% das variações totais.
Acredita-se que esse resultado foi causado pela similaridade dos países dessa
amostra. Quando se consideram os Estados Unidos, aumenta a proporção de
variabilidade, em decorrência dos setores, para em torno de 9,1%. Apesar disso,
os primeiro e segundo níveis mantiveram-se como as maiores fontes, somando em
torno de 83% das variações na maturidade. A Tabela_2 consolida esses
resultados.
Tabela 2 Modelo Vazio
Maturidade Amostra EUA/AL Amostra AL
País 9,11% 0,83%
Setor 5,67% 4,43%
Interação país versus set 2,16% 1,24%
Empresa 46,49% 46,56%
Tempo 36,57% 46,94%
Total 100,00% 100,00%
Observações 14.809 5.833
Procedeu-se, também, à decomposição da variância da variável dependente
discriminada por país. Nesse caso, o terceiro nível foi composto, unicamente,
pelas variações setoriais. Os demais níveis foram os mesmos anteriormente
utilizados. Na Tabela_3, apresentam-se os resultados.
Tabela 3 Modelo Vazio por País(*)
Maturidade Argentina Brasil Chile ColômbiaMéxicoVenezuela Estados Unidos
Setor 0,00% 9,37% 2,56% 0,00% 9,63% 1,71% 12,72%
Empresa 45,06% 47,75% 43,57% 63,89% 33,09% 44,97% 52,08%
Tempo 54,94% 42,88% 53,87% 36,11% 57,28% 53,33% 35,20%
Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Observaçõe 574 2.704 675 83 892 162 8.976
Nota:
(*)O resultado referente ao Peru não é apresentado devido ao fato de não se ter
atingido convergência na estimação da variância - foi permitida até a 1.000a
interação.
Apesar de as variações ao longo do tempo e entre as empresas terem sido,
novamente, as maiores fontes da variabilidade, nota-se que para Estados Unidos,
Brasil e México as variações setoriais parecem ser fontes expressivas de
variações na maturidade do endividamento. Reconhecidamente, essas são as
maiores economias analisadas. Tal resultado, nesse caso, pode sugerir que,
especialmente em economias maiores, as diferenças entre os setores não devem
ser desconsideradas na análise da maturidade das dívidas. Em economias menores,
entretanto, o acesso a tais recursos é mais homogêneo entre os setores, de modo
que as particularidades de cada setor são menos relevantes. Outra possível
explicação é o diferente nível de concentração das empresas nos setores entre
os países. Países cujas economias são menores apresentam empresas em apenas uma
parcela dos setores, enquanto países cujas economias são maiores apresentam
maior dispersão de empresas dentro dos setores. Nesse caso, tal fato também
pode explicar o resultado obtido.
4.3. Variáveis independentes
As Tabelas_4 e 5 apresentam os resultados após a inclusão das variáveis
independentes. De modo geral, nota-se que os coeficientes de tamanho e liquidez
apresentaram relação significativa a 1%. A relação positiva entre tamanho e
maturidade suporta a hipótese teórica dos custos de agência. Conforme comentam
Stohs_e_Mauer_(1996), empresas pequenas enfrentam maiores conflitos de agência
do que empresas maiores, de modo que reduzem o prazo da dívida como forma de
mitigar tais problemas (Myers,_1977). A relação entre liquidez e maturidade,
por sua vez, mostrou-se negativa, o que não confirma a hipótese teórica da
sinalização. Uma possível explicação para a relação encontrada é que as
empresas que mantêm maior liquidez também mantêm uma maior proporção de dívida
de curto prazo, a fim de aumentar a discricionariedade dos gestores em relação
à rolagem da dívida. Antoniou_et_al._(2006) sugerem, entretanto, que tal
inversa relação pode ser devida aos custos de agência dos fluxos de caixa
livres (freecashflow).
Tabela 4 Análise Multinível - Amostra EUA/AL, Período 1996-2009
Maturidade (M1) Relação Amostra EUA/AL
Esperada I II III IV
Variáveis binárias para anos Sim Sim Sim Sim
Constante 0,51*** 0,49*** 0,57*** 0,59***
Carga fiscal - 0,10 0,10 0,09 0,15
Oportunidades de crescimento - 0,00 0,00 -0,01* -0,01**
Tamanho + 0,01*** 0,01*** v0,01*** 0,01***
Liquidez + -0,25*** -0,25*** -0,26*** -0,27***
Maturidade dos ativos + 0,00 0,00 0,00 0,00
Munificência - -0,18 -0,12 -0,01
Dinamismo - 1,35*** 1,19*** 1,45***
Concentração - 0,00 0,00 -0,00**
Ciclo de vida do setor - 0,01 0,01 0,02
Dispersão da eficiência + 0,00 0,00 0,00
tecnológica
Dispersão da qualidade dos + 0,08** 0,07** 0,09**
produtos
Poder de barganha dos clientes - 0,00 0,00 0,00
Poder de barganha dos fornecedores - 0,00 0,00 0,00
PIB per capita + 0,00*** 0,00***
Crescimento do PIB 0,20 -0,01
Taxa de inflação - -0,25*** -0,18*
Variação cambial - -0,05** -0,03
Taxa real de juros - -0,28*** -0,29***
Desenvolvimento financeiro + 0,08***
Qualidade das instituições + -0,03
Observações 7.620 7.620 7.620 7.416
AIC -3.007,2 -3.007,6 -3.062,2 -3.041,9
BIC -2.840,7 -2.785,6 -2.805,4 -2.779,3
Notas:
*, **e *** indicam significância de 1%, 5% e 10%, respectivamente. Variável
dependente é a medida de maturidade do endividamento M1. I - variáveis em nível
de firma; II - variáveis em nível de firma e setor; III - variáveis em nível de
firma, setor e macroeconômicas; IV - variáveis em nível de firma, setor,
macroeconômicas, desenvolvimento financeiro e qualidade das instituições.
Tabela 5 Análise Multinível - Amostra AL, Período 1996-2009
Maturidade (M1) Relação Amostra AL
Esperada I II III IV
Variáveis binárias para anos Sim Sim Sim Sim
Constante 0,31*** 0,30*** 0,40*** 0,45***
Carga fiscal - 0,43** 0,44** 0,40** 0,41**
Oportunidades de crescimento - 0,01* 0,02** 0,01 0,01
Tamanho + 0,02*** 0,02*** 0,02*** 0,03***
Liquidez + -0,30*** -0,29*** -0,30*** -0,30***
Maturidade dos ativos + 0,00 0,00 0,00 0,00
Munificência - -0,37 -0,35 -0,24
Dinamismo - 1,53*** 1,35*** 1,38**
Concentração - 0,00 0,00 0,00
Ciclo de vida do setor - -0,03 -0,03 -0,04
Dispersão da eficiência + 0,00 0,00 0,00
tecnológica
Dispersão da qualidade dos + 0,18*** 0,16*** 0,19***
produtos
Poder de barganha dos clientes - 0,00 0,00 0,00
Poder de barganha dos fornecedores - 0,00 0,00 0,00
PIB per capita + 0,00 0,00
Crescimento do PIB 0,25 0,24
Taxa de inflação - -0,22* -0,16
Variação cambial - -0,07* -0,05
Taxa real de juros - -0,26*** -0,24***
Desenvolvimento financeiro + 0,20***
Qualidade das instituições + -0,02
Observações 3.551 3.551 3.551 3.382
AIC -741,8 -746,5 -772,8 -758,9
BIC -593,6 -548,9 -544,3 -526,1
Notas:
*, **e *** indicam significância de 1%, 5% e 10%, respectivamente. Variável
dependente é a medida de maturidade do endividamento M1. I - variáveis em nível
de firma; II - variáveis em nível de firma e setor; III - variáveis em nível de
firma, setor e macroeconômicas; IV - variáveis em nível de firma, setor,
macroeconômicas, desenvolvimento financeiro e qualidade das instituições.
Os sinais dos coeficientes de oportunidades de crescimento apresentaram relação
negativa na Amostra EUA/AL, porém positiva na Amostra AL. No entanto, a
significância dos coeficientes ora foi acima, ora foi abaixo de 10%, o que
torna as interpretações inconclusivas. Uma possível explicação para esses
resultados é a diferença na utilização da dívida de curto prazo como mecanismo
de governança. O sinal negativo na Amostra EUA/AL pode indicar que empresas
norte-americanas utilizam a dívida de curto prazo como fator mitigador do
subinvestimento (Myers,_1977). Por sua vez, o sinal positivo encontrado na
Amostra AL pode indicar que as empresas de crescimento que operam em mercados
financeiros comparativamente menos desenvolvidos, tal qual América Latina,
podem sofrer maior risco de liquidez (Diamond,_1991) e, portanto, têm o
incentivo a tomar emprestados, preferencialmente, recursos de longo prazo.
Ao contrário do esperado, a carga fiscal apresentou sinal positivo. AAmostra
AL, contendo apenas países latino-americanos, apresentou p -valor < 5%,
contudo, na Amostra EUA/AL os coeficientes não foram significativos a 10%. Tais
resultados, majoritariamente, não confirmam a hipótese do trade-offestático.
Além disso, observa-se que a maturidade dos ativos não mostrou relação
significativa em nenhuma das amostras. Tal achado, nesse caso, não suporta a
hipótese de que as firmas planejam adequar a maturidade de seu financiamento à
maturidade de seus ativos e indica que, na amostra estudada, as decisões de
maturidade são independentes da alocação dos ativos da firma.
No que diz respeito às variáveis específicas dos setores, os resultados foram
pouco conclusivos. Ao contrário das expectativas, encontrou-se relação positiva
e significativa entre maturidade e dinamismo. Esse resultado pode indicar que
empresas que operam em setores com maior volatilidade no acesso a recursos
preferem a utilização de capital de longo prazo, como forma de mitigar o risco
do refinanciamento da sua dívida em períodos de escassez. Adicionalmente,
corroborando o esperado, encontrou-se que a dispersão na qualidade dos produtos
tem relação positiva com a maturidade. Isso sugere que, a fim de equiparar sua
competitividade dentro do setor, empresas com produtos menos qualificados
aumentam o prazo dos seus endividamentos. Por fim, há de se observar que os
demais fatores, em nível setorial, não apresentaram coeficientes
significativamente diferentes de zero.
Em relação às variáveis macroeconômicas, notou-se a predominância na relação
entre a taxa real de juros e a maturidade – todos os coeficientes em todas as
estimativas apresentaram p -valor < 1%. Esse resultado sugere que a taxa real
dos juros da economia é um dos direcionadores-chave no processo de escolha dos
prazos dos recursos a serem utilizados. Conforme o esperado, o coeficiente
mostrou-se negativo. Tal resultado indica que, quando as taxas de juros
praticadas na economia são maiores, as firmas emitem menores proporções de
dívida de longo prazo em relação à dívida total, possivelmente para evitar os
maiores custos da dívida durante a emissão. Na Amostra EUA/AL, o PIB per capita
mostrou relação positiva e indica que, quanto maior o Produto Interno Bruto do
país, maior a utilização de dívida de prazos mais longos. No entanto, na
Amostra AL, os coeficientes não foram mais significativos, o que sugere que a
relação encontrada pode ser fruto do PIB norte-americano ser consideravelmente
maior do que o dos demais países estudados. Finalmente, notaram-se evidências
parciais de relação negativa entre taxa de inflação, variação cambial e
maturidade. Ambos os casos sugerem que, conforme a incerteza na economia
aumenta, as firmas captam, preferencialmente, dívida de curto prazo. Uma
possível explicação dessa escolha é o fato de que, em momentos de incerteza, os
gestores preferem manter maior discricionariedade sobre a estrutura de capital
da firma e evitam comprometer seus recursos no pagamento de juros de longo
prazo.
Por fim, a inclusão dos fatores referentes a desenvolvimento financeiro e
qualidade das instituições apresentou relações que merecem destaque.
Inicialmente, o coeficiente relativo ao desenvolvimento financeiro mostrou-se
positivamente relacionado com a maturidade e apresentou significância de 1% em
todas as análises feitas. Essa relação sugere que, na medida em que a economia
de um país se desenvolve financeiramente, as empresas têm mais acesso a
recursos de prazos mais longos, o que corrobora Demirgüç-Kunt_e_Maksimovic_
(1998), e Kirch_e_Terra_(2012). Consequentemente, o desenvolvimento financeiro
de um país pode ser um meio facilitador para investimentos cujos prazos de
retornos são maiores.
Entretanto, no que tange ao fator qualidade das instituições nacionais, os
coeficientes encontrados não se mostraram significativamente diferentes de zero
em nenhuma das estimativas. Tal resultado não confirma o estudo de Fan_et_al._
(2012); tampouco confirma Kirch_e_Terra_(2012), que encontraram relação
positiva e significativa entre o fator para qualidade das instituições e
maturidade. Em resultados não reportados, procedeu-se, ainda, à inclusão apenas
do fator relativo ao desenvolvimento financeiro e do fator relativo à qualidade
das instituições. Em geral, os coeficientes do fator relativo ao
desenvolvimento financeiro mantiveram-se significativos, ao passo que os
coeficientes do fator relativo à qualidade das instituições não apresentaram
significância em nenhum caso.
4.3. Impactos indiretos
De modo geral, o fator de desenvolvimento financeiro e o fator de qualidade das
instituições impactaram indiretamente a maturidade a partir do tamanho das
firmas. Em ambos os casos, os termos de interação enfraqueceram a relação
positiva anteriormente encontrada. Uma possível interpretação do resultado é
que o desenvolvimento financeiro e a qualidade das instituições nacionais foram
capazes, ainda que parcialmente, de mitigar o conflito de agência, o que
aumentou o acesso aos recursos de longo prazo pelas empresas em geral. Para
explicar tais relações, uma hipótese é que, ao longo do processo de
desenvolvimento financeiro de uma economia e da melhoria na qualidade das suas
instituições, em paralelo são criados mecanismos mais sofisticados de controle
do sistema financeiro em geral, o que resulta em menores custos associados ao
problema de agência(7). Na Tabela_6 constam os resultados dos impactos
indiretos.
Tabela 6 Impactos Indiretos
Maturidade (M1) Relação Esperada Amostra EUA/AL
I II
Variáveis binárias para anos Sim Sim
Constante 0,50*** 0,36***
Carga fiscal - 0,15 0,17
Oportunidades de crescimento - -0,01** -0,01***
Tamanho + 0 02*** 0,02***
Liquidez + 0 27*** -0,27***
Maturidade dos ativos + 0,00 0,00
Munificência - 0,02 0,03
Dinamismo - 1,50*** 1,59***
Concentração - -0,00** -0,00**
Ciclo de vida do setor - 0,02 0,01
Dispersão da eficiência tecnológica + 0,00 0,00
Dispersão da qualidade dos produtos + 0,08** 0,08**
Poder de barganha dos clientes - 0,00 0,00
Poder de barganha dos fornecedores - 0,00 0,00
PIB per capita + 0,00*** 0,00***
Crescimento do PIB 0,03 0,01
Taxa de inflação - -0,15 -0,12
Variação cambial - -0,03 -0,02
Taxa real de juros - 0 28*** -0,27***
Desenvolvimento financeiro + 0,34*** 0,08***
Qualidade das instituições + -0,04 0,27***
Desenvolvimento financeiro x tamanho - -0,02***
Qualidade das instituições x tamanho - -0,02***
Notas:
*, **e *** indicam significância de 1%, 5% e 10%, respectivamente.
4.4. Testes de robustez
Os testes de robustez foram compostos pela utilização de M2 e M3 como variáveis
dependentes. Em sua maioria, os resultados foram semelhantes aos encontrados a
partir de M1(8). Contudo, algumas relações merecem destaque. Por exemplo, o
coeficiente relacionado à carga fiscal das firmas apresentou, em ambos os
casos, sinal negativo e foi significativo – tal relação permaneceu nas duas
amostras estudadas. Encontrou-se, nesses casos, suporte à teoria do trade-off
estático. Ozkan_(2000,_p._201) afirma que a relação inversa entre dívida e
carga fiscal se deve ao fato de que "the firm increases its debt maturity as
the tax advantage of debt decreases to ensure that the remaining tax advantage
of debt is not less than amortized flotation costs ".
Contudo, deve-se destacar que carga fiscal e as medidas M2 e M3 foram compostas
com o Ativo Total no denominador, de modo que a relação positiva pode indicar
tal relação. Portanto, é necessário interpretar com cautela esse novo
resultado.
Em relação aos determinantes encontrados previamente como os mais importantes,
os novos resultados confirmam os achados anteriores: os coeficientes de
liquidez mantiveram a relação negativa e significativa com maturidade; a medida
para tamanho manteve a relação positiva e significativa, na maioria dos casos;
e os coeficientes de taxa real de juros e de desenvolvimento financeiro
tiveram, em todos os casos, sinal negativo e p -valor < 5%.
Por fim, ressalta-se que os resultados não são influenciados pelo potencial
problema de multicolineariedade. Em estimativas não reportadas, notou-se que a
estimativa dos coeficientes de correlação pairwise entre o PIB per capita, o
fator desenvolvimento financeiro e o fator qualidade das instituições foi
destacadamente alta. Procedeu-se à estimação do modelo IV da Amostra EUA/ AL
sem a inclusão conjunta dos pares mencionados. Os novos coeficientes estimados
não apresentaram modificações no sinal e apresentaram modificações apenas
marginais no seu p -valor. Dessa forma, os resultados principais mantiveram-se
e não estão sujeitos à multicolinearidade entre as variáveis incluídas.
4.5. Análise de sensibilidade
Por fim, procedeu-se à análise da sensibilidade dos coeficientes apresentados
nas etapas anteriores. Foi utilizada a metodologia proposta por Leamer_(1985) –
foram refeitas as estimações dos coeficientes da análise multinível: excluindo-
se um país da amostra; excluindo-se um setor econômico da amostra; e excluindo-
se um ano do período(9). De modo geral, a análise de sensibilidade sugere que
os novos coeficientes estimados variam pouco em relação ao coeficiente
original. Majoritariamente, a média dos novos coeficientes é similar ao
coeficiente original e o desvio padrão é baixo. Destaca-se apenas que os
coeficientes de munificência e dinamismo apresentaram alto desvio padrão quando
comparados aos demais. Em suma, a análise de sensibilidade confirmou as
evidências obtidas anteriormente: nas três amostras, pelo menos 97% dos
coeficientes para taxa real de juros e desenvolvimento financeiro foram
significativos e todos apresentaram o sinal esperado. Em relação à qualidade
das instituições, os resultados novamente sugerem que, na maioria dos casos, há
uma relação negativa do fator com a maturidade, muito embora não seja
significativa.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente estudo, investigaram-se quais são os fatores determinantes da
maturidade do endividamento ao longo de 14 anos para sete países da América
Latina em conjunto com os Estados Unidos. Como peculiaridade, utilizou-se o
modelo linear hierárquico. Foi executada, inicialmente, a decomposição da
variância da variável dependente. A seguir, identificaram-se as variáveis cujos
coeficientes se mostraram significativamente diferentes de zero. Além disso,
investigou-se a existência de impactos indiretos entre variáveis em nível de
país e em nível de firma. Finalmente, procedeu-se a testes de robustez e
análise de sensibilidade dos resultados.
Os achados da pesquisa são:
* as maiores fontes de variações na maturidade são as diferenças em nível
de empresa e variações ao longo do tempo. Contudo, especialmente para
Estados Unidos, Brasil e México, as variações entre os setores
representam parcela relevante na variação da maturidade;
* as características da firma tamanho e liquidez, a taxa real de juros e o
nível de desenvolvimento financeiro do país parecem ser os direcionadores
mais relevantes das decisões de maturidade do endividamento;
* há indícios de que os fatores relativos ao desenvolvimento financeiro e à
qualidade das instituições nacionais foram capazes de, ao menos
parcialmente, dirimir o conflito de agência enfrentado pelas firmas.
A decisão de maturidade do endividamento somente se justifica na medida em que
tenha um impacto sobre a riqueza do acionista e o valor da empresa. Nesse
sentido, os resultados desta pesquisa sugerem que três grupos de fatores são
primordiais para que se atinja tal objetivo: fatores idiossincráticos da
empresa, fatores do seu setor de atuação e fatores institucionais e
macroeconômicos nacionais. Em relação ao primeiro grupo, cabe às empresas
adequarem a maturidade da sua dívida ao seu porte e à sua liquidez. Quanto ao
segundo grupo de fatores, esses estão naturalmente fora do controle das
empresas e, em grande medida, dos Estados nacionais. As práticas correntes, em
um determinado setor, decorrem preponderantemente da sua cadeia de valor que é
cada vez mais estabelecida em nível internacional. Finalmente, relativo ao
terceiro grupo de fatores, temos um espaço no qual o Estado pode contribuir
para a valorização das empresas nacionais. Especificamente, os resultados desta
pesquisa sugerem que um ambiente institucional de maior qualidade, um setor
financeiro mais desenvolvido e maior estabilidade macroeconômica são elementos
relevantes para a determinação da maturidade do endividamento das empresas.
Essas são áreas de atuação nas quais o Estado pode contribuir para o avanço do
setor privado e, por consequência, para o desenvolvimento econômico do país.
Quando se considera que um melhor ambiente institucional pode contribuir com
até 8% do valor de uma empresa média (conforme Kirch_&_Terra,_2012), tem-se
a perspectiva da importância dos resultados obtidos na presente pesquisa.
COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO
(De acordo com as normas da American Psychological Association[APA])
Martins, H. C., & Terra, P. R. S. (2015, julho/agosto/setembro). Maturidade
do endividamento, desenvolvimento financeiro e instituições legais: Análise
multinível em empresas latino-americanas. Revista de Administração – RAUSP, 50
(3), 381-394. doi: 10.5700/rausp1207
NOTAS
(1)Em ambos os casos, os dados disponibilizados estão disponíveis em uma
estrutura de painel. No entanto, a análise fatorial requer que os dados estejam
em apenas duas dimensões. Nesse caso, construiu-se uma série temporal com os
fatores anuais extraídos.
(2)Variáveis com as quais se realizou a análise fatorial: liquid liabilities /
GDP, deposit money bank assets / GDP, private credit by deposit money banks /
GDP, private credit by deposit money banks and other financial institutions /
GDP, bank deposits /GDP, financial system deposits/GDP, bank credit/bank
deposits, liquid liabilities, bank overhead costs/total assets, net interest
margin, bank concentration, bank ROA, bank ROE, bank cost-income ratio, loans
from non-resident banks (AMT outstanding)/GDP, e offshore bank deposits/
domestic bank deposits.
(3)Variáveis: voice and accountability, political stability, government
effectiveness, regulatory quality, rule of lawe control of corruption.
(4)A apresentação dos Eigenvalores, a variância acumulada pelos fatores e as
cargas fatoriais e a relação completa da medida KMO ao longo da totalidade dos
anos foram suprimidas por motivo de espaço. Tais dados serão prontamente
fornecidos mediante solicitação aos autores.
(5)Para Kayo_e_Kimura_(2011), não faz sentido aninhar os fatores específicos
setoriais e os fatores em nível de país, pois uma empresa f pode fazer parte do
setor s para o país p. No entanto, o mesmo setor s, no país p' pode não conter
a empresa f (Kayo,_&_Kimura,_2011). Isso implica que fatores setoriais e em
nível de país devem estar no mesmo nível.
(6)Na medida em que, dadas as variáveis consideradas, o maior nível de dívida
corporativa pode aumentar os níveis nessas variáveis, a relação entre
maturidade e o fator pode apresentar endogenia.
(7)Em resultados não reportados, também se encontrou relação significativa
positiva entre a interação taxa real de juros versus tamanho e maturidade.
Nesse caso, conforme a taxa real de juros de uma economia aumenta, empresas
maiores são favorecidas na captação de recursos no longo prazo. Uma possível
explicação do resultado é que, na medida em que a taxa real de juros aumenta, a
incerteza da economia, de modo geral, também aumenta. Logo, apenas empresas
maiores conseguem suportar a captação de recursos no longo prazo. Como
resultado, empresas menores podem não conseguir captar recursos de prazos
longos, o que, potencialmente, prejudica sua política de investimento.
(8)Resultados foram suprimidos por motivo de espaço, porém estão disponíveis
mediante solicitação aos autores.
(9)Resultados foram suprimidos por motivo de espaço, porém estão disponíveis
mediante solicitação aos autores.