Formação, sucessão e migração: trajetórias de duas gerações de agricultores do
Alto Jequitinhonha, Minas Gerais
Juventude rural
Nas unidades familiares de produção da região do Alto Jequitinhonha, Minas
Gerais, denominadas sítios, os lavradores produzem frutas, hortaliças e grãos,
beneficiam cana, milho e mandioca para produzir rapadura, fubá, canjica,
farinha e polvilho - ou goma, a denominação local -, criam grandes
e pequenos animais e se abastecem de carne, leite e ovos. Além disso, eles
vendem essa produção familiar nas feiras livres, abastecendo, dessa forma, a
população da cidade e do campo.
Esses agricultores familiares respondem por parte relevante da produção de
alimentos e matérias-primas no Brasil. Segundo o Censo Agropecuário de 2006,
eles dirigem 85% dos estabelecimentos rurais, exploram 30% da área agrícola e
respondem por 38% da produção e 66% da ocupação na agropecuária. Apesar disso e
do apoio de programas públicos, desde a década de 1990, observa-se que filhos e
filhas de agricultores - sucessores da unidade familiar - têm
buscado oportunidades de trabalho fora do meio rural.
Os estudos sobre sucessão indicam que transição demográfica, diferenciais de
educação, integração campo-cidade, renda baixa, masculinização e envelhecimento
no campo estimulam as emigrações. Assim, como a qualificação do agricultor é
associada ao trabalho familiar - é trabalhando que crianças e jovens se
habilitam para ocupações rurais -, a reprodução dessa cultura material
estaria ameaçada. Por isso são recomendados programas voltados para a juventude
rural capazes de integrar os jovens ao meio que conhecem.
Este artigo aborda a situação em Turmalina e Veredinha, municípios da região do
Alto Jequitinhonha, investigando se e em que condições os jovens permanecem no
rural. O estudo enfoca herança e sucessão na agricultura familiar, os
mecanismos formais e tradicionais de capacitação e analisa os efeitos das
transformações do rural sobre a sucessão.
A pesquisa
Os dados qualitativos e quantitativos foram coletados em 2007, por meio de
entrevistas focalizadas na família ampliada, investigando a história de
formação, migração e sucessão vivida por 40 casais com idades entre 30 e 71
anos, que representavam 10% dos agricultores familiares dos municípios de
Turmalina e Veredinha, do Alto Jequitinhonha. As informações abrangeram três
gerações vinculadas a uma mesma terra: marido, mulher e seus irmãos, para
compreender o acesso à terra do sítio, a sucessão passada e o plano da futura
sucessão; seus pais, para entender a lógica de acesso à terra e a presença de
eventuais padrões sucessórios; e seus filhos, para identificar a sucessão em
processo. Os casais pesquisados foram amostrados intencionalmente, seguindo
indicações de organizações rurais, distribuídos entre as diversas áreas
agrícolas dos municípios e obedecendo aos critérios de prática agrícola,
moradia rural e descendência.1
A amostra foi distribuída proporcionalmente ao número de estabelecimentos
familiares existentes em 1996 no município de Turmalina - do qual
Veredinha então era distrito -, com base nos dados sistematizados Incra/
FAO (2000) sobre agricultura familiar dos municípios. Além disso, a amostra
seguiu a proporcionalidade dos grupos definidos pelo Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar - Pronaf: grupo B, renda familiar
anual bruta até R$ 2 mil; grupo C, renda familiar anual bruta entre R$ 2 mil e
R$ 14 mil; e grupo D, renda familiar anual bruta entre R$ 14 mil e R$ 40 mil
(ORTEGA, 2008). Foi feita correção na amostra do grupo D, em face de
modificações apontadas pelas agências de crédito e extensão rural no perfil da
distribuição entre 1996 e 2006. A Tabela_1 detalha a amostragem.
![](/img/revistas/rbepop/v30n2/a06tab01.jpg)
Além dos casais, foram entrevistados 40 filhos(as) desses agricultores, com
idades entre 12 e 25 anos, sendo 20 rapazes e 20 moças. Esses jovens foram
amostrados pelos mesmos critérios usados para escolher os casais. Os
entrevistados forneceram ainda informações sobre os 141 filhos(as) e os 282
irmãos(ãs) do homem e da mulher que formam o casal e os 115 irmãos(ãs) dos(as)
40 filhos(as) de agricultores pesquisados, conforme exposto no Quadro_1. Para
facilitar a compreensão do texto, os grupos dos casais e de seus irmãos(ãs)
serão denominados "adultos" e os demais serão denominados
"jovens".
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Migração, herança e sucessão
Em estudo clássico sobre camponeses brasileiros, Moura (1978) observou que o
Código Civil, que institui partilha igual da herança entre os filhos, era
ignorado nessas sociedades para evitar a fragmentação excessiva da terra. O
costume é o lavrador se habilitar a comprar a herança da sua irmã, o que
geralmente é feito com recursos da venda da parcela herdada pela sua mulher,
preferencialmente para o irmão desta. Mulheres herdam por intermédio do
casamento e, como os terrenos herdados pelo casal raramente são contíguos, os
acertos de terras e casamentos entre os grupos familiares estão associados à
necessidade de reunir o patrimônio herdado pelo casal numa só gleba.
Essas vendas de "preferência" ou "consideração", às vezes
priorizando um herdeiro e excluindo outros, são analisadas também por Seyferth
(1985), Garcia Júnior (1991) e Woortmann (1994). As soluções encontradas para
transmitir o patrimônio entre gerações variam por grupos rurais e regiões, mas
definem padrões de herança que revelam adaptações feitas pelas famílias sempre
com dois objetivos claros: conservar pelo menos um herdeiro na terra; e evitar
a venda da terra para pessoas de fora do grupo familiar. Por isso os herdeiros
preferem vender sua parte a outro(a) herdeiro(a). Quando não é possível, eles
vendem em parcelas ou a preço reduzido a parentes, de modo a favorecer a
transação.
No mesmo movimento da herança, mas não necessariamente ao mesmo tempo, costuma
ser resolvida a sucessão, que constitui a assunção de uma nova geração de
agricultores ao comando da unidade produtiva, concluída com a transferência do
patrimônio, a saída da geração anterior da gestão do estabelecimento e a
continuidade da família e da atividade na terra. No primeiro movimento há
transmissão da terra e dos ativos para outra geração; no segundo, ocorre a
passagem da gerência e da capacidade de utilização do patrimônio. Por fim, a
sucessão se completa com a redução do trabalho e do mando de uma geração sobre
os ativos da unidade de produção. O propósito da sucessão é fazer com que pelo
menos um herdeiro reproduza a unidade familiar (MOURA, 1978; RIBEIRO, 1993;
WOORTMANN, 1994; CASTRO, 2005).
Na história de uma família rural, o momento da sucessão - da mesma forma
que o da herança - varia com a idade e a formação dos filhos, a idade dos
pais, o desempenho da unidade produtiva e a economia local. A solução da
herança e da sucessão vai se impondo aos sujeitos, à terra e aos destinos na
passagem da infância para a idade adulta.2
Entretanto, estudos recentes têm revelado mudanças nessa dinâmica da sucessão.
Woortmann (1994) já observava que filhos(as) de agricultores valorizavam cada
vez menos o modo de vida rural, sendo que a posição de sucessor passava a
representar um ônus para jovens que preferiam trabalhar em fábricas. Nisso a
autora via sinais de substituição do coletivo da família pelo
"indivíduo" e enfraquecimento dos vínculos com a unidade familiar.
Carneiro (1998) constatou que, em função de escolhas individuais, deixara de
vigorar a norma costumeira de tornar sucessor o filho mais novo nas áreas em
que pesquisara. Camarano e Abramovay (1998) perceberam uma tendência acentuada
de saída dos jovens do campo, transformando a sucessão num problema. Silvestro
et al. (2001) observaram que as oportunidades para jovens agricultores eram
melhores fora do rural e que havia um aumento do número de unidades sem
sucessores. Mello et al. (2003a) identificaram a desaparição da unidade de
destinos entre família e indivíduo, sendo que a condição de agricultor perdia
caráter "moral". Segundo esses autores, o desinteresse dos jovens
limitava a perspectiva de reprodução das unidades familiares.
Silvestro et al. (2001) observaram a redução no tamanho das famílias rurais
provocada, de acordo com Camarano e Abramovay (1998), pela queda da taxa de
fecundidade total. O decréscimo no número de filhos diminuiu o número de
herdeiros potenciais, ao mesmo tempo que ocorria elevação da escolaridade e da
emigração de jovens rurais (CARNEIRO, 1998; MARTELETTO, 2002; SANTANA; COSTA,
2004). Essa emigração era mais intensa para mulheres jovens: em 1995, havia 5,2
milhões de homens a mais do que mulheres no rural latino-americano; diferença
que atingia 1,8 milhão entre aqueles de 15 a 29 anos (CAMARANO; ABRAMOVAY,
1998). Estes autores sugerem que isso devia-se ao aumento de oportunidades para
moças no setor serviços, ao incentivo à emigração e à valorização dos estudos
pelas mulheres. Assim, acentuaram-se a masculinização e o envelhecimento,
reduzindo a oportunidade de renovação da agricultura familiar, pois emigravam
jovens já detentores de saber qualificado adquirido na escola e no campo (MELLO
et al., 2003b).
O envelhecimento relativo da população rural é acentuado pela queda no número
de jovens no campo, pela migração de retorno ao campo de aposentados urbanos e
pelo aumento da expectativa de vida. Cresceu a expectativa de vida produtiva
dos pais, ampliando o período de trabalho conjunto com os(as) filhos(as) e
levando os jovens rurais a se ocuparem no urbano (MELLO et al., 2003a, 2003b;
SACCO DOS ANJOS; CALDAS, 2005).
Posteriormente, na segunda metade da década de 1990, pesou nesse cenário o
declínio dos ganhos da agricultura familiar, em função da elevação das escalas
produtivas, da abertura às importações, da queda de preços e das barreiras à
entrada de pequenos produtores nos mercados. Nos anos 2000 a mecanização
agrícola reduziu os empregos rurais, sendo que o campo e a cidade se integraram
pelos transportes e comunicações, aumentando o número de ocupados em atividades
não agrícolas (GRAZIANO DA SILVA, 2002; SACCO DOS ANJOS; CALDAS, 2006; BALSADI,
2008).
Embora essas transformações desafiem a reprodução da agricultura familiar, é
preciso considerá-las à luz das condições heterogêneas do campo brasileiro, dos
agroecosistemas, das culturas materiais, dos estilos de integração e dos
programas públicos. Tais características manifestam-se de diversas maneiras
conforme as peculiaridades regionais. A educação formal tem peso diferente nos
vários segmentos do mercado de trabalho; neles, a emigração definitiva de
jovens, principalmente do sexo masculino, não se distingue facilmente de
migrações sazonais de longa duração; o fortalecimento da posição dos idosos e
mulheres nas famílias graças aos programas públicos - aposentadorias e
Bolsa-Família - certamente influi de forma diversa nas escolhas feitas
por jovens.3
Turmalina e Veredinha, Alto Jequitinhonha
Desde a década de 1980, os pesquisadores perceberam a força das emigrações no
Alto Jequitinhonha. Como a região é muito integrada ao mercado nacional de
trabalho, os lavradores migram sazonal ou definitivamente para fronteiras
agrícolas, trabalho urbano, corte de cana em São Paulo ou serviços diversos
(MARTINS, 1986; RIOS NETO; VIEIRA, 1990; RIBEIRO, 1993). A pequena unidade
familiar de produção é majoritária neste rural: há pouca integração com
mercados agrícolas, sendo relevante a produção de autoconsumo. Dadas essas
condições estruturais de reprodução e as tendências emigratórias recentes, as
agências de desenvolvimento rural da região temem que esteja ocorrendo a
dissolução da família rural, acelerada pela emigração de sucessores.
Na região estudada, a família rural pode ser nuclear - constituída por
pai, mãe e filhos -, ou extensa, quando agrupa mais de uma família
nuclear; quase sempre o que se constata é um meio termo entre essas duas
formas. Família extensa é um resguardo para evitar a fragmentação excessiva da
terra, que poderia inviabilizar a reprodução. Mas é a família que origina o
trabalho, e este, tanto quanto família e terra, é essencial para a reprodução,
sendo organizado em função do espaço e do tempo. O espaço do trabalho é a
unidade familiar, o sítio, dividido entre casa, lavoura, pastos e chapadas
(RIBEIRO; GALIZONI, 2000; GALIZONI, 2007).
O tempo do trabalho é dividido em duas épocas distintas. No verão, período em
que chove de novembro a março, ocorrem plantios, tratos culturais e colheitas.
De abril a outubro, quando há falta de chuvas, o trabalho agrícola é reduzido e
as famílias se ocupam com artesanato e indústria doméstica, beneficiando cana-
de-açúcar, mandioca e milho. Esses trabalhadores costumam definir como
"livre" o tempo em que trabalham nas suas próprias unidades e, como
"cativeiro", o trabalho para outros - em São Paulo ou recebendo
por dia de serviço para vizinhos ou fazendeiros.4
Quando descrevem a divisão do trabalho usada nas unidades produtivas, os
agricultores afirmam que cabem aos homens os serviços da roça e seu
planejamento, o comércio e a transmissão do saber agrícola, ficando por conta
das mulheres os serviços de casa, cuidados com filhos, preparo e beneficiamento
de alimentos, cuidados de aves e animais. Apesar disso, todas as etapas do
trabalho na lavoura costumam ser feitas pelo casal, filhas e filhos, com
exceção da roçada, geralmente atividade masculina (AMARAL, 1988; GALIZONI,
2007).
As crianças participam do trabalho. Meninos com oito anos já recebem tarefas
que dão início ao ciclo de aprendizado e os levam de meninos a rapazes e,
posteriormente, a homens que assumem a coordenação dos trabalhos. Meninas, a
partir de dez anos, assumem tarefas domésticas, cuidam de animais domésticos,
aprendem costura e trabalham nas lavouras.5
A emigração é frequente para os agricultores familiares de Turmalina e
Veredinha desde a juventude, quando emigram definitiva ou sazonalmente para
formar o patrimônio necessário ao casamento, ou, depois de casados, para
garantir o sustento da família que se forma. A emigração definitiva revela que
parte desses agricultores não pode permanecer na terra, migrando para
reconstruir unidades produtivas em outros locais, sendo que, até conseguirem se
restabelecer, a família extensa oferece a segurança das redes de solidariedade
e apoio para aqueles que emigraram. Ao mesmo tempo essas pessoas dilatam laços
pelo espaço e se reagrupam pelo parentesco, formando redes sociais que dão
suporte aos fluxos migratórios (MARTINS, 1986; AMARAL, 1988; RIOS NETO; VIEIRA,
1990; RIBEIRO; GALIZONI, 2000; NORONHA, 2003).
A descendência define o acesso à terra nesses municípios onde predomina o
regime agrário denominado de "terra no bolo": as glebas são indivisas
e combinam uso e domínio privado e comunitário. Este regime garante a cada
família o mínimo necessário em terra e recursos naturais para a exploração.
Dessa forma, o sujeito do "acesso à terra não é um indivíduo, mas sim uma
família, entendendo neste termo um grupo de parentesco em que as famílias
nucleares são uma de suas faces" (GALIZONI, 2007, p. 44).6
A definição do sucessor resulta de um conjunto de passos. Primeiro ocorre a
formação agrícola que capacita o jovem nos fundamentos da cultura material. Em
seguida, tem-se a herança, que, sendo seletiva para reduzir a pressão sobre as
poucas áreas de cultivo, abrange um ou poucos filhos. Neste passo, a filha é
orientada preferencialmente para o casamento e, embora em certos casos possa
assumir o domínio da terra, quase sempre seu acesso à terra dependerá das
trocas de terras feitas entre seu marido e seus irmãos. Terceiro, a migração
sazonal e a definitiva definem os destinos de parte dos herdeiros e dos
sucessores. Por fim, a manutenção de recursos em comum - campos,
florestas, aguadas e jazidas - potencializa os sistemas de produção e
coloca a família numa relação de afinidade e tensão com a comunidade de
parentesco, posta assim no centro da vida produtiva. Mas é preciso esclarecer
que nem todas as famílias seguem estes passos, que resultam, sobretudo, de uma
tipificação moral descrita por camponeses (RIBEIRO; GALIZONI, 2000).
Ao longo das décadas, a formação de novas famílias e a exploração contínua dos
recursos na região resultaram em fragmentação da terra em Turmalina e
Veredinha. O módulo fiscal, área definida como mínima para reprodução de uma
família rural, corresponde a 40 hectares, mas a área média das unidades
familiares nestes municípios atinge apenas 13 hectares (SADE/FAO/INCRA, 2000).
Essa subdivisão excessiva da terra muitas vezes inviabiliza a reprodução,
estimula a emigração e problematiza a sucessão (NORONHA, 2003; GALIZONI, 2007).
Os adultos
Na porção adulta desta população, os 40 casais pesquisados apresentavam pequena
variação na idade média (49 anos para homens e 47 anos para mulheres) e o
número de filhos variava entre 4,5, no grupo de menor renda, e 3,5, naquele de
maior renda. Os homens adultos tinham, em média, três anos de escolaridade e
as mulheres 4,3 anos, e creditavam o curto período na escola a dois fatores:
começaram a trabalhar ainda muito jovens e o acesso à escola na época era
difícil. As escolas eram poucas ou não existiam, possuíam instalações
precárias, faltavam professores qualificados, a frequência era incerta e a
falta de transporte limitava o acesso e contribuía para a evasão.
Mas a educação formal influiu pouco na ocupação desses(as) lavradores(as).
Foram os conhecimentos tradicionais da agricultura que deram a base para sua
permanência no campo, pois começaram ainda crianças a aprender a trabalhar na
terra da família, acompanhando os pais e passando depois às pequenas tarefas.
Ao se tornarem adultos, o trabalho intensificou-se até que aprenderam todas as
atividades rurais. O saber foi apreendido pelo trabalho: os pais explicavam o
serviço, os(as) filhos(as) experimentavam, os pais supervisionavam, corrigiam,
e de novo explicavam. Assim dominaram as técnicas produtivas e a gerência da
unidade de produção. Por isso, quando perguntados com quem aprenderam a
trabalhar, 82,5% responderam que foi com o pai, que levava as crianças para a
roça e ia ensinando. Apenas para 17,5% desses agricultores, que correspondem
aos casos de pais falecidos que deixaram filhos(as) pequenos(as), foram a mãe
e/ou o irmão mais velho que cuidaram da formação. Mas afirmar que o pai
responde pelos ensinamentos não exclui outros membros da família dessa
responsabilidade, pois eles trabalhavam partilhando conhecimentos e trocando
experiências entre os membros da unidade produtiva.
Porém, a transmissão de conhecimento e a socialização do saber também envolvem
relações com vizinhos e a comunidade, abarcando segmentos formais -
associações, sindicatos, agências de extensão - e informais, como grupos
religiosos e companheiros de migração. Para esses camponeses, a migração também
é um momento de aprendizado, quando aprendem novas técnicas, novos produtos e
conhecem cultivos que até então não usavam. Migrar possibilita ainda conviver
com outras pessoas, conhecer a vida fora da localidade, ampliar o círculo de
conhecidos e dominar novos ofícios - carpinteiro, pedreiro, cozinheiro,
por exemplo. Já as mulheres que migraram aprenderam principalmente ocupações
domésticas, pois trabalharam em média dois anos em casas de famílias.
Entre os agricultores adultos entrevistados, 32% das mulheres e 72% dos homens
migraram pelo menos uma vez e por curto período. Seus destinos foram os Estados
de São Paulo, Paraná e Goiás, ou outros municípios de Minas Gerais,
principalmente João Pinheiro, Paracatu, Curvelo, Pompéu e Belo Horizonte.
Migrar temporariamente para cada um desses lugares, porém, foi decidido a
partir das circunstâncias de época, da idade do migrante e da sua localidade de
origem.7
Variam as idades em que esses agricultores migraram: 63% deles começaram ainda
na adolescência, 22% depois de casados; contudo, 68% migraram quando solteiros
e os 25% que o fizeram depois de casados migraram no máximo três vezes. Há
forte relação entre classes de renda e migração, comprovando a necessidade de
buscar recursos para adquirir rebanho, equipamentos e terras.
Cada lavrador desenvolve estratégia própria para adquirir e/ou melhorar sua
unidade produtiva. Entretanto, suas histórias têm aspectos em comum: formam
patrimônio pelo trabalho, economizam recursos para criar excedentes e buscam
maximizar esses excedentes. Fazendo economia, eles geram poupanças que guardam
em casa, em bancos ou investem, principalmente em criações como gado, porco ou
galinha, porque consideram importante, como dizem, "fazer o recurso
girar". Gado é considerado o melhor investimento: "Não existe outra
criação, caso você queira comprar terra, a não ser o gado" (Senhor V.).
Porém, segundo seus relatos, gado dá despesa e ocupa tempo, pois é necessário
plantar capim, fazer silagem, alimentar o animal e, às vezes, comprar ração.
Os adultos tornaram-se agricultores por circunstâncias distintas: 52,5% foram
indicados sucessores por seus pais e 47,5% construíram a condição de
agricultores em sítios diferentes, no próprio município. Os motivos para serem
escolhidos sucessores dependeram de fatos como ser único filho homem, ter sido
o único a permanecer no domicílio, por ter construído o direito à terra por
meio do trabalho, ou pelo destino diverso dos irmãos, que emigraram em
definitivo e encontraram trabalho e casamento em outro lugar.
Entre os adultos entrevistados que se tornaram sucessores(as) dos pais -
herdaram casa e unidade de produção para continuarem nas mesmas atividades
-, 90% residiam e trabalhavam na mesma unidade que seus pais herdaram de
seus avós. Eles valorizam o fato de residir e trabalhar na unidade familiar,
pois assim guardam o patrimônio e a memória da família e, além de herdarem a
terra para manter sua família, receberam recursos como animais, engenhos de
cana-de-açúcar e alambiques, equipamentos relacionados às atividades
produtivas.
Dos 47,5% dos adultos que se tornaram agricultores em outros municípios, 26% se
casaram com herdeiros(as) e 74% compraram terra.
As informações sobre os demais adultos - irmãos ou irmãs dos membros dos
casais entrevistados - revelam que alguns saem e outros ficam na terra,
conforme mostra a Tabela_2. A escolha dependeu de circunstâncias externas, como
acesso a trabalhos urbanos, compra de terras no próprio município ou em outro
município vizinho.
Os dados da Tabela_2 indicam que 52% dos irmãos e irmãs dos
membros dos casais entrevistados se ocupavam em atividades urbanas, trabalhando
em empregos permanentes, dentro e fora do município de origem, principalmente
no setor de serviços (doméstico, educação, segurança, comércio) e na indústria.
Observa-se que 35% desses adultos (irmãos ou irmãs dos casais entrevistados)
migraram definitivamente para outras regiões do país. Destes, a maior parte
(66,34%) dirigiu-se para municípios mineiros, sendo que 30,69% foram para Belo
Horizonte, 10,89% para Capelinha e 7,92% para Minas Novas. O Estado de São
Paulo recebeu 26,73% desses migrantes definitivos, dos quais 54% são mulheres,
confirmando que elas, mais do que os homens, migram em definitivo (RIBEIRO;
GALIZONI, 2000).
Observa-se ainda, na Tabela_2, que 44% dos adultos (irmãos e irmãs) tornaram-se
agricultores. Destes, 9% eram solteiros(as) ou viúvos(as) e trabalhavam na
terra com a família; 72% eram casados, moravam e trabalhavam em terrenos
herdados por eles ou pelos cônjuges e 19%, também casados, compraram a terra.
Aqui não foi possível averiguar se as compras caracterizaram-se como vendas
preferenciais ou guiadas pela consideração a membro da família, conforme
indicou Moura (1978).
De acordo com os dados da Tabela_3, não há grande diferença entre o tempo médio
que esses adultos - sejam eles agricultores, migrantes ou sucessores
- frequentaram escola. Não se percebe em Turmalina e Veredinha - ao
contrário do que aponta a literatura para outras regiões do país - que
tenham sido escolhidos sucessores aqueles que estudaram menos. Percebe-se que o
precário acesso à educação formal foi dividido equitativamente entre os irmãos
e irmãs dos casais entrevistados.
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Jovens
Os jovens, da mesma forma que os adultos entrevistados, adquiriram com a
família os conhecimentos sobre o trabalho. Entretanto 59% deles também
aprenderam agricultura com vizinhos das comunidades rurais e consideram que
essa convivência, além de fortalecer laços de amizade, possibilitou melhor
desempenho no trabalho. Os conhecimentos são transmitidos por meio do fazer-
aprender, que começa aos dez anos de idade. Desses jovens, 90% trabalhavam com
a família na lavoura, no beneficiamento e na comercialização de produtos.
Eles participam das atividades das organizações que atuam no meio rural, tais
como o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (10% dos jovens), o Centro de
Agricultura Alternativa Vicente Nica (25%), a Associação de Promoção ao
Lavrador e Assistência ao Menor de Turmalina (20%), a Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (20%) e as Associações
Comunitárias (10%). Os jovens avaliam que essas organizações contribuem para o
seu aprendizado e a valorização da agricultura familiar, fornecendo insumos a
baixo custo, cursos para aprimorar conhecimentos, palestras técnicas sobre
máquinas e insumos agrícolas. Contudo, a família continua sendo a base de
formação do(a) jovem rural, pois é principalmente a partir do aprendizado na
família que se consideram habilitados para desempenhar as atividades agrícolas.
Contudo, o padrão de frequência escolar se alterou em relação à geração
anterior, revelando os resultados dos investimentos em ensino e da valorização
social da formação escolar. Jovens com até 15 anos já possuem mais do que o
dobro do tempo de escola que seus pais frequentaram: em média 6,7 anos.
Mulheres, nas duas gerações, frequentaram mais escola do que os homens,
conforme o Gráfico_1.
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As escolas das comunidades rurais oferecem quatro anos de curso e, quando não
há escola, as Prefeituras disponibilizam transporte escolar até as sedes
urbanas. Dos(as) jovens rurais entrevistados(as), 95% estudaram pelo menos dois
anos na escola da comunidade, passando depois para escolas na sede do município
ou para Escolas Família Agrícola. Estas últimas contribuem para aumentar a
escolaridade ao adotarem o regime de alternância, no qual estudantes passam
duas semanas na unidade familiar e outras duas na escola. A alternância
estimula a articulação dos conhecimentos adquiridos na unidade de produção com
aqueles ensinados na escola. Assim, os jovens estudam, contribuem para a
produção agrícola familiar e recebem formação técnica útil para os que escolhem
a vida rural.
A Tabela_4 apresenta informações sobre os(as) irmãos(ãs) dos(as) jovens
pesquisados(as). Observa-se que 40,0% deles estavam inseridos em atividades
urbanas, principalmente no setor de serviços, dentro ou fora do município de
origem, 21,0% se ocupavam na agricultura familiar e 3,0% haviam realizado
migração sazonal, principalmente corte de cana-de-açúcar em São Paulo.
Migrantes sazonais apresentavam, em média, 7,3 anos de estudo e 24 anos de
idade, sendo que 64,0% eram solteiros. Estudantes solteiros com idades entre 7
e 22 anos representavam 36,0% do total, dos quais 69,0% trabalhavam no campo
com a família, 4,0% estudavam em outros municípios mineiros e 27,0% não se
ocupavam na agricultura. Desses jovens, aqueles que não mais estudavam e
migravam sazonalmente iam para os mesmos lugares que seus pais e tios(as):
municípios dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, com 47,3% e 30,9%,
respectivamente.
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Migração e sucessão
Para comparar as trajetórias de "adultos" e "jovens", ou
seja, as trajetórias dos irmãos e irmãs dos jovens entrevistados com aquelas
dos irmãos e irmãs dos casais entrevistados, foram excluídos os dados
referentes aos(às) jovens que frequentam escola e que, portanto, ainda não
definiram seus destinos (Tabela_5). Dessa forma, pode-se afirmar que:
[/img/revistas/rbepop/v30n2/a06tab05.jpg]
• a proporção de agricultores passou de 44% do total de filhos na
primeira geração para 32% na segunda geração, indicando que existem
menos 27% de agricultores familiares na geração jovem;
• cresceu, entre as gerações, o percentual de filhos(as) de
agricultores(as) ocupados em atividades urbanas, que passou de 52%
para 62% do total.
Percebeu-se ainda que a média de anos de estudo não variou em função da
ocupação desempenhada pelos(as) jovens: tanto aqueles ocupados na agricultura
(6,3 anos de escolaridade para homens e 6,1 anos para mulheres) como os jovens
inseridos em atividades urbanas (6,6 e 7,6 anos, respectivamente) frequentaram
quase o mesmo tempo de escola. Assim, escolaridade não pode ser considerada
fator determinante para definir quem permanece ou não no campo. Contudo, é
preciso ponderar que nem todos esses jovens fizeram a escolha dos rumos que
seguiram.
Mas sucessão pode ser relacionada também aos filhos e filhas dos 40 casais
entrevistados. Segundo estes, sucessão se encontra em três situações distintas:
há um vago horizonte de escolha do(a) sucessor(a); existem famílias que estão
preparando sucessores(as); e há famílias sem sucessores(as), conforme mostra a
Tabela_6.
[/img/revistas/rbepop/v30n2/a06tab06.jpg]
Em 14 das 40 famílias existia apenas um vago horizonte de sucessão, das quais
cinco possuíam filhos(as) menores de dez anos, o que dificulta depreender qual,
ou quais se tornarão sucessores(as). Em três famílias, apesar de os(as) filhos
(as) terem entre 10 e 17 anos, eles nunca trabalharam junto com os pais; como a
transmissão do conhecimento pelo trabalho familiar é fundamental para a
sucessão, estes jovens não estavam recebendo a capacitação necessária para se
tornarem agricultores. As outras seis famílias são constituídas por filhas ou
filhos já estabelecidos em ocupações urbanas, restando somente filhas na
unidade produtiva familiar. Apenas em uma delas a filha foi explicitamente
indicada como possível sucessora na unidade, e a jovem se mostra disposta a
suceder aos pais no empreendimento.
Nas famílias que estão preparando seus sucessores, existem duas situações:
aquelas que já definiram o sucessor (oito famílias); e aquelas que, dada a
trajetória dos(as) filhos(as), ainda não o definiram (15). No primeiro caso, os
sucessores, todos homens, já foram definidos e trabalham na unidade familiar.
No segundo, observou-se uma média de 6,2 filhos(as) por casal, contra 3,1 no
primeiro arranjo. Maior número de filhos(as) implica, certamente, mais opções
para escolha de sucessores(as), criando também situação mais delicada para a
escolha. Como todos os filhos e filhas são preparados para a sucessão e todos
estão ainda decidindo seu futuro, além de os pais encontrarem-se em pleno vigor
produtivo, não é possível saber qual(is) será(ão) os(as) sucessores(as).8
Por fim, na última situação, têm-se três famílias sem sucessores, sendo uma de
agricultores de maior renda e duas de menor renda. No primeiro caso, a família
é constituída por duas filhas que migraram em definitivo e cursam universidade.
Nas duas famílias de menor renda sem sucessores, numa delas o casal de filhos
já se estabeleceu em empregos urbanos e, na outra, a filha única era
incentivada a estudar e procurar ocupação fora do rural. Neste caso a terra
poderá voltar para o estoque da família extensa e a herança da terra pode se
resolver saltando uma geração ou passando de tios para sobrinhos ou afilhados,
conforme descrito por Galizoni (2007) para a região.
Conclusões
Os recursos para a capacitação de jovens para a agricultura continuam sendo os
mesmos usados por seus pais: o conhecimento adquirido na família. Mas as redes
comunitárias, a migração sazonal, as organizações formais e informais,
governamentais e não governamentais também são importantes para a formação
profissional e a inovação. Além disso, a escola passou a ocupar lugar
destacado: os 6,9 anos médios de escola dos jovens representam quase o dobro da
média dos 3,5 anos de escola dos adultos. Isso indica que os programas voltados
para universalização da escola vêm atingido objetivos, com elevação do nível de
escolaridade formal da população rural e valorização deste recurso.
Entre a população pesquisada nos municípios de Turmalina e Veredinha, não foram
observadas diferenças em termos de anos de frequência à escola por sexo, renda
ou destino, ao contrário do que a literatura registra em outras áreas rurais
brasileiras. As jovens cursaram, em média, um ano a mais de escola do que os
rapazes. A diferença do tempo de escola dos(as) jovens filhos(as) de
agricultores com rendas maiores, médias e menores é inferior a um ano. Jovens
com a mesma origem rural que exerciam atividades rurais ou urbanas possuíam na
média o mesmo tempo de frequência à escola. Nos municípios pesquisados, o
acesso à educação formal não estimula o abandono do meio rural. A educação é
culturalmente considerada um dos meios para garantir "futuro" aos
filhos e filhas diante das dificuldades do meio rural; mas não é o único meio
nem torna moralmente obrigatória a saída do campo.
Os adultos valorizam culturalmente a escola para jovens, mas ponderam a
necessidade de aliar educação formal com o saber técnico qualificado apreendido
na vida no campo pelos(as) agricultores(as) e que é transmitido aos jovens.
Para eles, iniciativas como as Escolas Família Agrícola são fundamentais para
qualificar os jovens, pois integram as disciplinas com o cotidiano rural. Os
adultos entrevistados consideram necessário que uma parte das escolas rurais
ajuste seus programas à especificidade cultural, à sazonalidade e às demandas
da população rural.
Tanto no caso dos adultos quanto dos jovens estudados, observou-se que a
escolha de sucessores para as unidades familiares, pelo menos aparentemente,
não obedece a critérios de sexo ou padrões de idade ou escolaridade. Filhos
mais velhos, do meio ou mais moços, homens ou mulheres, com mais ou menos tempo
de escola, se tornaram ou podem vir a ser sucessores. Mas observa-se que formar
o sucessor é uma escolha, pois este recebe a responsabilidade de guardar a
memória familiar junto com a terra. Diferentemente do que apontam os estudos
feitos no Sul do país - como Mello et al. (2003a; 2003b), Sacco dos Anjos
e Caldas (2005) e Silvestro et al. (2002), em que a sucessão é sentida como uma
prisão pelo jovem e a ocupação agrícola perde seu caráter moral -, todos
os jovens pesquisados manifestaram o desejo de permanecer na agricultura
familiar e conservar os costumes da comunidade.
Contudo, a renda baixa na agropecuária pode interferir, e interfere, na
permanência do jovem no campo. Diante disto, alguns pais até incentivam filhos
(as) a buscarem oportunidades fora do rural.
Mas quando migram, sazonal ou definitivamente, os jovens o fazem com maior
escolaridade do que os adultos que migraram. Apesar disso, eles costumam ir
para as mesmas ocupações que aqueles foram. Neste aspecto não foi observada
qualquer mudança relevante: os jovens continuam migrando na mesma proporção que
os adultos.
Adultos responsáveis por estabelecimentos de menores rendas eram os que mais
estimulavam jovens a procurarem ocupações urbanas, mesmo quando isso
significava ausência de sucessor. Portanto, revela-se em Turmalina e Veredinha,
assim como no Sul do Brasil, a necessidade de criar programas capazes de
melhorar a renda agrícola, apoiando produção, beneficiamento e comercialização.
Outro aspecto que interfere na permanência de jovens e na sucessão no campo é a
longevidade dos pais, agindo em dois sentidos opostos. Por um lado, o aumento
na expectativa de vida da população adulta rural dilata o prazo da sucessão e,
por outro, as rendas advindas de aposentadorias e pensões oferecem mais
segurança para investir, inovar e melhorar a produção.
Nas famílias entrevistadas percebeu-se o interesse de jovens em continuar nas
atividades dos pais, mesmo que para isso tivessem que trabalhar simultaneamente
em ocupações urbanas e na agricultura. Mas nota-se que, na área pesquisada, 15%
das famílias não registravam mais a presença de jovens residentes nas unidades
familiares, percentual superior aos 12% observados no oeste de Santa Catarina
por Silvestro et al. (2001). Entretanto, em somente 7,5% das famílias
pesquisadas não existiam possíveis sucessores; este percentual é 4,5 vezes
menor do que os 34% encontrados no Rio Grande do Sul por Sacco dos Anjos e
Caldas (2006).
Os dados da pesquisa em Turmalina e Veredinha mostraram, ainda, que a
comparação entre a ocupação dos adultos - 44% deles inseridos na
agricultura - e a dos jovens integrados ao trabalho - 32% já
ocupados na unidade familiar - revela queda de 27% no número de filhos
que permanecem no rural. Mas não é possível afirmar que essa redução de
agricultores entre gerações deixe vazios os sítios: a área média das unidades
familiares é tão pequena em função da fragmentação da terra nas últimas décadas
que, mais do que parecer despovoá-las, a redução da permanência de jovens
reordena seu uso, para garanti-lo em área suficiente para aqueles interessados
em se ocupar no rural. Não é, certamente, o melhor dos métodos para
redistribuir terra, porém, aqueles jovens que nesses municípios puderem optar
por permanecer no rural vão fazê-lo em condições diferentes dos seus pais:
aparentemente terão mais terra à disposição, concretamente receberão maior
educação formal e, certamente, estarão um pouco mais envelhecidos.