Envelhecimento populacional e mudanças no padrão de consumo e na estrutura
produtiva brasileira
Introdução
Analisando o comportamento da população brasileira, observa-se uma tendência ao
seu envelhecimento, retratada pela diminuição da taxa de fecundidade, que
passou de pouco mais de 6 filhos por mulher, até a década de 1960, para 5,30 na
de 1970, 4,06 na de 1980, 2,79 na de 1990, 2,39 na de 2000 e 1,76 em 2010
(IBGE, 2008a). Este é um processo que deve se intensificar nas próximas
décadas, tanto pela possível continuação da redução da taxa de fecundidade até
2013 (IBGE, 2008a), quanto pela diminuição da mortalidade dos grupos etários
mais velhos, mas principalmente como resultado das quedas da fecundidade no
passado.
Entre as principais consequências econômicas do envelhecimento populacional,
têm-se as mudanças no mercado de trabalho (redução do crescimento ou até
declínio da oferta de trabalhadores e aumento da participação de idosos no
mercado de trabalho), seu impacto no crescimento econômico, as alterações nos
padrões de consumo (pessoas mais velhas tendem a gastar uma parte maior de suas
rendas em moradia, saúde e energia) e no comportamento de poupança dos
indivíduos (como as pessoas deixam de poupar ao se aposentar, as economias com
alta participação da população idosa podem experimentar alteração na taxa de
poupança) (WORLD ECONOMIC AND SOCIAL SURVEY, 2007).
A mudança no padrão de consumo geral da população, uma vez que os hábitos e
necessidades, a renda e outros fatores se alteram com a idade, compreende um
dos resultados menos estudados deste processo, embora tenha grande importância,
dado seu impacto sobre toda a estrutura produtiva do país, que deve se
rearranjar para suprir essa nova demanda. Assim, o objetivo geral desse estudo
é verificar o impacto do envelhecimento da população brasileira sobre a
estrutura produtiva nos anos 2005, 2030 e 2050, considerando-se o padrão de
consumo atual dos grupos etários. Para isto, foram utilizadas, além da Matriz
Insumo-Produto de 2005, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009,
a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2005 e a projeção da
população do Brasil por sexo e idade para o período 1980-2050, todas elaboradas
pelo IBGE.
O estudo está dividido em seis seções, entre as quais esta introdução. Nas duas
seções seguintes são feitas duas revisões, uma teórica sobre as questões
referentes ao envelhecimento populacional, e outra sobre a relação entre
envelhecimento, consumo e estrutura produtiva. Posteriormente, são mostrados a
metodologia empregada e o tratamento dos dados. As duas últimas seções, por sua
vez, apresentam os resultados e as considerações finais do estudo.
Envelhecimento populacional no Brasil
A definição do que é um idoso depende de variados aspectos, que passam pelos
culturais e vão até os biológicos, tornando difícil sua demarcação exata
(CAMARANO; PASINATO, 2004). Contudo, devido a necessidades práticas, como a
adoção de políticas públicas, toma-se no Brasil, para determinar esse segmento
populacional, o limite etário, sendo que pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) os idosos são as pessoas com 60 anos ou mais, para os países em
desenvolvimento, e com 65 anos ou mais, para os desenvolvidos.
O envelhecimento populacional refere-se à mudança na estrutura etária da
população, de forma que a participação de idosos no total da população se
amplia de maneira contínua. De acordo com Moreira (2001, p. 27), "por
envelhecimento populacional entende-se o crescimento da população considerada
idosa em uma dimensão tal que, de forma sustentada, amplia a sua participação
relativa no total da população".
No Brasil, com o declínio da fecundidade a partir de meados da década de 1960,
tem início o processo de envelhecimento da população. Aqui, como em vários
outros países que apresentavam uma população muito jovem, a redução sustentada
da fecundidade nas próximas décadas resultou na queda do ritmo de crescimento
anual do número de nascimentos a partir de meados dos anos 1980, dando início
ao processo contínuo de estreitamento da base da pirâmide etária − o
envelhecimento populacional (CARVALHO; GARCIA, 2003).
Segundo Brito (2007), a transição demográfica no Brasil ocorre de maneira mais
rápida e generalizada do que a verificada nos países desenvolvidos. Porém, como
observa Carvalho e Garcia (2003), esses países, mesmo antes de registrarem um
processo de envelhecimento populacional, já apresentavam população menos jovem,
por não terem passado por período de alta fecundidade como o Brasil. Como
resultados desse processo, Brito (2007) cita a diminuição do tamanho das
famílias e seus novos arranjos, cada vez mais diversificados, o aumento da
longevidade da população e o crescimento da população em idade ativa nas
próximas décadas.
De acordo com o Banco Mundial (2011), o padrão demográfico brasileiro apresenta
cinco características principais: seu processo de transição demográfica se
encontra muito mais avançado se comparado aos outros países da América Latina;
a taxa de fecundidade tem baixado muito mais rapidamente do que foi observado
nos países europeus (no Brasil diminuiu de 3 para 2 filhos por mulher em 19
anos, enquanto na Europa a mesma queda levou 60 anos em média); a redução da
mortalidade não tem sido tão rápida e profunda quanto a da fecundidade; a
estrutura etária da população tem mudado rapidamente; e a estrutura etária
atual é muito favorável dada a concentração da população em idade ativa.
Segundo o último Censo Demográfico (IBGE, 2011), a população brasileira
alcançava 190,8 milhões em 2010, dos quais 42,03% pertenciam ao grupo etário
entre 0 e 24 anos de idade, 47,18% ao de 25 a 59 anos e 10,79% ao de 60 anos ou
mais. Considerando-se que em 2000 os mesmos grupos etários correspondiam a
49,67%, 41,76% e 8,56%, respectivamente, observa-se uma gradual mudança na
composição destes no período 2000-2010, com diminuição do segmento jovem e
aumento dos grupos de adultos e idosos.
Segundo Guimarães (2006), além de seu tamanho crescente, a população idosa
possui outras características que levam a novas oportunidades de negócios ainda
não supridas. Entre estas características é possível observar que a renda do
idoso tem caráter mais permanente do que a de outros grupos etários, seja pela
sua composição (na maior parte aposentadorias e pensões), seja pela poupança
efetuada durante sua vida.
O elevado número de idosos chefes de família mostra que eles assumem, cada vez
mais, o papel de colaborar com a renda familiar, de forma que as transferências
entre gerações tornam-se bidirecionais. Isto porque diversos eventos, como as
crises econômicas ocorridas recentemente, o desemprego (principalmente entre os
jovens) e a instabilidade das uniões, têm tornado muitos filhos adultos
dependentes de seus pais (GUIMARÃES, 2006).
A menor dependência dos idosos em relação às suas famílias pode ser explicada,
também, pelo fato de que, no Brasil, assim como nos países desenvolvidos, as
transferências públicas para o grupo etário idoso correspondem à maior parte
das suas necessidades de consumo, enquanto o consumo dos grupos mais jovens
fica a cargo, principalmente, das transferências privadas (transferências
familiares), fato que surpreende em razão da estrutura ainda jovem da população
(TURRA et al., 2011).
Envelhecimento populacional, consumo e estrutura produtiva
Muitos estudos têm sido feitos com o objetivo de avaliar como a transição
demográfica deve afetar o crescimento econômico em diversos países. Isto
porque, durante esse processo, há um período, denominado de janela demográfica,
no qual a população dependente se reduz, o que significa mais recursos
disponíveis para serem investidos na economia, além do fato de que o aumento da
longevidade, ao afetar o comportamento de poupança da população economicamente
ativa, deve criar efeito positivo no nível de renda (QUEIROZ; TURRA, 2010).
Ademais, é preciso lembrar que o envelhecimento populacional deve trazer
mudanças na economia, uma vez que os níveis de consumo e renda se modificam com
a idade, fato estilizado nos modelos de ciclo de vida econômico. No Brasil, o
consumo privado e a renda do trabalho apresentam uma relação clássica de
déficit (consumo maior do que a renda) no primeiro (pré-trabalho) e último
(pós-trabalho) estágios, e de superávit (renda maior que o consumo) no estágio
intermediário (trabalho). Dessa forma, o consumo desses grupos que se encontram
no estágio deficitário é financiado por transferências públicas e privadas
(BANCO MUNDIAL, 2011).
Entre os aspectos determinantes do consumo de um indivíduo, ou do padrão de
consumo de uma população, podem-se incluir suas preferências, sua renda, o
preço dos bens e serviços, a taxa de juros, a renda esperada e sua riqueza
(DORNBUSCH; FISCHER, 1991). Todos estes fatores são, de certa forma,
influenciados pela idade do consumidor: os indivíduos mais velhos, seja por
gosto ou necessidade, não consomem as mesmas coisas de quando eram jovens; o
preço dos produtos destinados aos idosos tende a ser mais caro e com inflação
mais elevada; a taxa de juros, em muitos casos, é mais atrativa para
aposentados; a renda para grande parte dos idosos tem uma constância maior dada
a aposentadoria; e a riqueza também tende a ser maior para o grupo idoso (NERI
et al., 2004; CAMARANO; PASINATO, 2004). Por estas e outras razões, a mudança
na estrutura etária de um país deve trazer como consequência a modificação no
padrão de consumo de sua população.
Hagemann e Nicoletti (1989) afirmam que a distribuição etária da população tem
efeito sobre a importância relativa dos diferentes produtos na estrutura do
consumo privado, dado que a idade é um importante determinante das
preferências. Assim, em geral, as categorias do consumo que mais declinariam em
uma sociedade em processo de envelhecimento seriam educação, transporte,
recreação e bens duráveis, além de serviços domésticos, enquanto alimentação, a
maioria dos serviços e, particularmente, cuidados médicos deveriam aumentar.
Analisando o comportamento e estilo de vida da população idosa brasileira e seu
poder de consumo, Ballstaedt (2007) afirma que o envelhecimento populacional
traz novo nicho de mercado consumidor, com diferentes valores, comportamentos e
necessidades específicas, nicho este que ainda não é aproveitado, visto que a
maior parte dos produtos vendidos para idosos está relacionada à saúde,
enquanto ainda há muitos outros a serem explorados, como cosméticos, turismo,
lazer e educação, por exemplo.
De acordo com o World Economic and Social Survey (2007), ao se observar o
padrão de consumo da população idosa nos países desenvolvidos, é possível
prever que a demanda por saúde aumentará com o envelhecimento populacional e
que os gastos com moradia e energia crescerão como resultado do maior tempo
despendido em casa por esta população. Por outro lado, gastos com
entretenimento e transporte devem cair, enquanto a participação do consumo de
bens básicos como alimentos e vestuário deve permanecer constante.
A renda, entretanto, deve continuar sendo a principal determinante da estrutura
e do nível de demanda da economia. Portanto, ao se analisar a influência da
mudança demográfica no padrão de consumo, é necessário considerar a relação
entre idade e renda. Se a renda muda com a idade e uma idade mais avançada
implica uma menor renda em algumas circunstâncias, então, uma população idosa
crescente irá afetar a estrutura de demanda não apenas pela mudança de
preferências e necessidades, mas, também, pelas alterações na renda trazidas
pela idade. Uma renda menor para um crescente número de idosos levará a uma
redução no nível de consumo e este se deslocará para os bens de necessidade
básica. Por isso, ao se projetar a estrutura da demanda no futuro, é também
preciso levar em conta possíveis mudanças no poder de compra da população idosa
(WORLD ECONOMIC AND SOCIAL SURVEY, 2007).
Neri et al. (2004) verificaram as principais diferenças nas proporções dos
gastos das famílias com pelo menos 50% de idosos (os autores denominam idosos
aqueles com 65 anos ou mais) em relação às proporções dos gastos das famílias
em geral no Brasil. Entre os itens que apresentaram maior proporção de gastos
nas famílias com idosos, destacaram-se despesas com saúde e cuidados pessoais,
alimentação, despesas diversas e com habitação. Por outro lado, os itens com
menor proporção de gastos nas famílias com idosos em relação ao total de
famílias corresponderam a transportes, vestuário, educação, leitura e
recreação.
Almeida (2002), partindo da hipótese de que a renda do idoso tem papel
expressivo no contexto familiar, principalmente entre as famílias com renda
mais baixa, analisou o consumo das famílias com idosos e sem idosos no Brasil
por meio de um modelo lógite, de forma a verificar a probabilidade de estas
famílias adquirirem determinados bens e serviços. A partir de dados da POF de
1995-1996 sobre dispêndios não alimentares (exceto alimentação fora do
domicílio), o autor observou que o resultado mais significativo foi o aumento
dos gastos com serviços de saúde e produtos farmacêuticos nas famílias com
idosos, além de despesas pessoais, roupas, lazer, jogos e apostas. Outro
resultado que pode ser ressaltado refere-se à importância da renda dos idosos
dentro da estrutura familiar, os quais, dada a sua renda estável, elevam o
poder de compra de toda a família.
Como a estrutura produtiva de um país está intrinsecamente ligada à demanda de
consumo de sua população, ela será fortemente influenciada por uma mudança
nesta demanda, tanto diretamente, pela alteração no consumo final, quanto
indiretamente para responder às necessidades das indústrias produtoras, o
consumo intermediário.
Dewhurst (2006) e Albuquerque e Lopes (2009) buscaram quantificar os impactos
setoriais da evolução dos padrões de consumo associados ao envelhecimento, na
Escócia e em Portugal, respectivamente. Para isto, os autores desagregaram a
coluna de consumo das famílias da matriz insumo-produto destes países em
diferentes grupos de idade − idosos e não idosos −, com base em pesquisas de
gastos familiares. Eles também utilizaram projeções demográficas para prever
possíveis mudanças na importância relativa dos setores produtivos, ou seja,
quais terão oportunidades de expansão e quais devem contrair-se.
Os resultados das projeções para a Escócia foram que a demanda se expandirá nos
setores utilidades, serviço social, saúde e seguros, enquanto retrairá nos
setores hotéis, restaurantes e bares e aluguéis de imóveis (DEWHURST, 2006).
Para Portugal, os autores verificaram que os setores com maior crescimento
serão os de instrumentos médicos e de precisão e relógios, produtos químicos,
construção civil e energia, enquanto os setores com decréscimo serão os
serviços públicos, educação, materiais de escritório e computadores, rádio,
televisão e equipamentos de comunicação (ALBUQUERQUE; LOPES, 2009).
Lührmann (2005) analisou o efeito futuro do envelhecimento populacional sobre a
demanda de bens e serviços, entre 2000 e 2040, para a Alemanha. Por meio da
estimação da demanda das famílias, de acordo com a idade, para um grupo de oito
bens, foram projetados quatro cenários com o objetivo de distinguir o efeito
direto de uma mudança na estrutura etária, e as mudanças no nível e na
distribuição do poder de compra diante da alteração da composição familiar. Os
resultados apontaram significativo aumento na participação dos gastos em saúde
e lazer e um declínio em alimentação e energia. O efeito direto da mudança na
estrutura etária foi significativo para a demanda agregada. Já a mudança na
composição das famílias não afetou a demanda substancialmente.
DellaVigna e Pollet (2007) estudaram como a alteração na demanda ocasionada
pela mudança demográfica, nos Estados Unidos, pode modificar a lucratividade
das empresas, influenciando, por fim, o mercado de ações. Para isso, os autores
traçaram a evolução do consumo da população americana, por idade, utilizando
dados de 1935-36, 1960-61, 1972-73 e 1983-84, chegando às seguintes conclusões:
o consumo de cada bem depende significativamente da idade do chefe de família;
chefes de família mais jovens consomem, por exemplo, mais bens para o cuidado
de crianças e brinquedos, os na meia idade consomem mais seguros de vida e
cigarros e os mais velhos gastam mais com viagens e casas de repouso; e o
padrão de consumo de móveis para a faixa-etária de 25 a 35 anos é praticamente
estável ao longo do tempo.
O conjunto dos estudos aqui levantados mostra que a idade exerce grande
influência na determinação do consumo de um indivíduo e, consequentemente, de
sua família e, portanto, a mudança na estrutura etária traz impactos sobre o
padrão de consumo de toda a sociedade, afetando, por fim, a estrutura produtiva
do país.
Metodologia
Fonte e tratamento dos dados
Para analisar os impactos na estrutura produtiva de uma mudança na estrutura
etária e sua consequente alteração no consumo, foram utilizadas a Matriz
Insumo-Produto (MIP) do Brasil para 2005 (IBGE, 2008b), a Pesquisa de
Orçamentos Familiares (POF) de 20082009 (IBGE, 2009b), a projeção da população
do Brasil por sexo e idade para o período 1980-2050 (IBGE, 2008a) e a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2005 (IBGE, 2005). A POF e a PNAD
são empregadas para desagregar os vetores consumo das famílias e salários da
MIP, respectivamente, entre a população idosa e a não idosa. Assim, com a
utilização do instrumental insumo-produto, podem ser verificadas as mudanças
entre a estrutura produtiva atual (2005) e a futura (2030 e 2050), neste caso
aplicando a projeção da população para se obter o consumo dos grupos etários de
então. Tal período foi escolhido por ser 2005 o ano da última matriz brasileira
divulgada pelo IBGE, 2050 por ser o último ano com projeção para a população
disponível e 2030 por estar, aproximadamente, entre esses outros dois anos.
A POF de 2008-2009 foi utilizada por ser a última disponível. A unidade de
consumo (UC), ou família, como também pode ser chamada, é a unidade básica de
investigação e análise dos orçamentos na POF, podendo ser formada por um único
morador ou conjunto de moradores que compartilham da mesma fonte de alimentação
(IBGE, 2010). Estas UCs foram desagregadas em unidades de consumo idosa e não
idosa. Assim, a UC foi considerada idosa quando 50% ou mais de seus membros
tinham 60 anos ou mais, e não idosa no caso contrário.
Os dados de despesa com os diferentes tipos de bens e serviços têm na POF
periodicidade variada, como 7, 30 e 90 dias e 12 meses. Portanto, para obter as
despesas, foi utilizada a variável valor da despesa anualizado e expandido, que
permite comparar os gastos com diferentes periodicidades, ao torná-los anuais,
deflacioná-los e expandi-los pelo fator de expansão da amostra.
Na POF de 2008-2009, encontram-se milhares de itens de despesas diferentes,
enquanto na MIP observam-se 110 produtos e 55 setores de atividades. Dados os
propósitos da pesquisa e a necessidade de compatibilização entre o número de
atividades da POF e da MIP, estes 110 produtos da matriz foram agregados em 51
produtos, para só então serem relacionados às despesas da POF. Um problema
encontrado refere-se ao comércio, que apresenta consumo das famílias na matriz,
mas não está contabilizado na POF. Para este setor, foi utilizada como proxy a
média da atividade de serviços, considerando que esta atividade apresenta
características mais próximas ao comércio. Além da agregação prévia de produtos
da matriz, explicada anteriormente, foi necessária, também, a agregação dos
setores de atividades da MIP, os quais passaram de 55 originalmente, para 38,
dado que na POF o agrupamento de produtos em setores resultou em 38 setores de
atividades. Na PNAD também foi feita uma compatibilização entre os seus
grupamentos de atividades e os 38 setores da matriz insumo-produto aqui
utilizada.1
![](/img/revistas/rbepop/v30s0/a04tab01.jpg)
[/img/revistas/rbepop/v30s0/a04tab02.jpg]
[/img/revistas/rbepop/v30s0/a04tab03.jpg]
Com as despesas da POF compatibilizadas aos produtos da matriz e com a
desagregação destas entre famílias idosas e não idosas, foi encontrada a
proporção do consumo destes dois grupos etários, a qual foi aplicada de acordo
com cada produto no vetor consumo das famílias da Tabela_3 de oferta e demanda
da produção a preço básico da MIP.2
Posteriormente, a projeção da população por faixa etária para 2030 e 2050
(IBGE, 2008a) foi aplicada aos vetores previamente encontrados de consumo dos
idosos e não idosos, com o intuito de se obterem novos arranjos que permitiram
avaliar o impacto do envelhecimento na configuração da estrutura produtiva
brasileira. Considerou-se que a proporção de domicílios idosos e não idosos de
2005 correspondia à proporção de idosos e não idosos na população brasileira
neste mesmo ano, mantendo-se a mesma regra para os períodos seguintes, ou seja,
manteve-se a composição domiciliar constante. Admite-se, para o propósito do
estudo, que a composição dos gastos de ambos os grupos etários seja constante
ao longo do tempo, ou seja, que as famílias não mudem a divisão de seus
orçamentos, mantendo os mesmos hábitos de consumo. Também é importante lembrar
que, para o cálculo das projeções de consumo, consideram-se apenas o
crescimento populacional e a respectiva estrutura etária da população.
Cabe salientar que a manutenção da composição domiciliar e da estrutura etária
da população pode afetar, de alguma forma, os resultados. No entanto, no caso
da primeira, Lührmann (2005) argumenta que os resultados não são afetados
substancialmente ao longo do período. No segundo caso, a alteração na estrutura
etária pode mudar os resultados na medida em que o consumo da família mudaria
como um todo. Como o que se espera é que esta mudança resulte em famílias com
mais idosos, o aumento do consumo dos produtos por elas demandados seria maior.
Assim, embora os resultados não meçam exatamente o comportamento do consumo das
famílias, eles fornecem uma boa orientação deste ao longo dos anos em foco.
Na PNAD, a divisão entre a população idosa e não idosa foi feita por indivíduo,
sendo considerados idosos aqueles com 60 anos ou mais e os não idosos os com
até 59 anos.
O salário desses indivíduos foi retirado da MIP, que corresponde ao valor
recebido livre de contribuições sociais efetivas, como previdência oficial/FGTS
e previdência privada.
Como a variável de interesse nesta pesquisa foi o salário, excluíram-se os
índios, por apresentarem pouca representatividade no que diz respeito aos
objetivos da pesquisa, as pessoas não economicamente ativas (PNEA), as pessoas
que exercem alguma atividade, contudo sem remunerações monetárias e que se
encontraram na condição de desocupados, os aposentados e pensionistas.
Com estes dados da PNAD, foram obtidas as proporções do total de salários e do
número de ocupados para os dois grupos etários e para cada setor, sendo feita a
aplicação destas proporções, respectivamente, aos vetores linha de salários e
do número de ocupados da Tabela 2 de usos de bens e serviços a preço de
consumidor da MIP.3
Modelo insumo-produto
Leontief foi o responsável, em 1936, pela primeira aplicação empírica do modelo
de insumo-produto. Neste, as variáveis fundamentais são os produtos dos
inúmeros setores de uma economia, os quais são constituídos pela soma de suas
vendas aos outros setores e pela demanda final. Quando a produção e as vendas
de cada setor se igualam, a economia está em equilíbrio. As compras de um setor
são determinadas pela produção de todos os outros setores. Dessa forma, a
análise de insumo-produto permite, além de identificar, medir a
interdependência da estrutura econômica (RICHARDSON, 1978).
Para se derivar o sistema aberto de Leontief, com a demanda final exógena a
ele, precisa-se obter os coeficientes técnicos, que indicam a quantidade de
insumo do setor i necessária para a produção de uma unidade de produto final do
setor j (MILLER; BLAIR, 2009). Assim:
[/img/revistas/rbepop/v30s0/a04eq01.jpg]
O coeficiente aij descreve, portanto, uma relação fixa entre os insumos
utilizados (zij) e o produto de cada setor (xj). Por conseguinte, o sistema
aberto de Leontief pode ser encontrado da seguinte maneira:
[/img/revistas/rbepop/v30s0/a04eq02.jpg]
em que, yi é a demanda final por produtos do setor i.
Reescrevendo a equação (2) em forma matricial, tem-se:
[/img/revistas/rbepop/v30s0/a04eq03.jpg]
em que x é o vetor dos produtos totais de cada setor, de ordem (n×1); A
corresponde à matriz de coeficientes diretos de insumo, de ordem (n×n); e y
refere-se ao vetor da demanda final total por setor (C+I+G+E), de ordem (n×1).
A partir da equação (3), pode-se obter o vetor de produção total necessário
para satisfazer a demanda final:
[/img/revistas/rbepop/v30s0/a04eq04.jpg]
em que (I - A)-1
=B
é a matriz conhecida como inversa de Leontief ou matriz de coeficientes
diretos e indiretos, de ordem (n×n). Nela, cada elemento corresponde à produção
total do setor i necessária para produzir uma unidade de demanda final do setor
j (GUILHOTO, 2006). Dessa forma, ao aumentar a demanda de um setor, elevar-se-á
a produção necessária dos setores que lhe fornecem insumos, os quais também
necessitarão de mais insumos, levando a um efeito indireto de encadeamento.
Podem-se endogeneizar o consumo e a renda das famílias de forma a calcular
também o efeito induzido, o qual pode ser explicado da seguinte maneira: as
famílias obtêm sua renda (pelo menos em parte) pelo pagamento ao seu trabalho
no processo produtivo e, como consumidoras, também gastam sua renda de acordo
com um padrão definido. Assim, um aumento na quantidade de trabalho demandada
por um setor, dada a necessidade de acréscimo de sua produção, eleva a renda
total recebida pelas famílias, o que aumenta também seus gastos, gerando então
novo incremento na demanda, novas contratações e assim por diante (MILLER;
BLAIR, 2009).
Este sistema, denominado como fechado às famílias, requer que os vetores de
coeficientes do consumo das famílias e da renda sejam adicionados à matriz A de
coeficientes diretos de insumo que passa a ser chamada de Ā, de ordem (n+1)×
(n+1). Têm-se, também, novos vetores de produção total, [/img/revistas/rbepop/
v30s0/a04letx.jpg], de ordem (n+1)×(n+1), e de demanda final, [/img/revistas/
rbepop/v30s0/a04lety.jpg], de ordem (n+1)×(n+1).
O sistema de Leontief passa a ser representado como:
[/img/revistas/rbepop/v30s0/a04eq05.jpg]
em que (I - Ä)-1
=
representa a matriz dos efeitos diretos, indiretos e também induzidos, de
ordem (n+1)×(n+1). Assim, quando o impacto de um acréscimo no consumo, dado um
aumento na renda, é considerado no modelo, revela-se um produto maior dos
setores em relação ao caso em que ambos são ignorados.
Projeção do produto por setor
Com o objetivo de comparar o produto de cada setor para os três períodos
analisados (2005, 2030 e 2050), utilizaram-se a inversa de Leontief
endogeneizada (modelo fechado às famílias), o consumo de 2005 e suas projeções
para 2030 e 2050.
Assim, como visto na equação (5), ao se multiplicar a inversa (I - Ä)-1 pelo
vetor coluna de demanda final (neste caso o consumo das famílias), tem-se como
resultado o vetor , a produção total necessária para satisfazer essa demanda.
Com a aplicação do consumo para cada ano pesquisado, obteve-se o produto dos
mesmos, por setor.
Este produto corresponde ao necessário para satisfazer a demanda criada, ou
seja, precisa cobrir os efeitos diretos (suprir a demanda final), os efeitos
indiretos (suprir as necessidades geradas nos outros setores) e os efeitos
induzidos (produto adicional necessário para suprir os novos gastos dos
consumidores gerados pelo aumento na sua renda) (MILLER; BLAIR, 2009).
Esta projeção do produto, entretanto, está relacionada apenas ao crescimento da
população, excluindo-se o crescimento econômico devido a outros fatores como o
avanço tecnológico.
Resultados e discussão
A divisão entre idosos e não idosos por meio da POF de 2008-2009 resultou em
uma proporção de 10,58% de idosos, ou seja, pessoas com 60 anos ou mais, e
89,42% de não idosos, pessoas com até 59 anos. Por sua vez, a divisão entre as
unidades de consumo (famílias) idosas e não idosas obteve diferentes
proporções: 15,26% delas foram consideradas idosas (UC com pelo menos 50% de
idosos) e 84,74% não idosas (UC com menos de 50% de idosos).
Segundo a matriz insumo-produto de 2005 (IBGE, 2008b), o consumo das famílias
foi de 1.086.708 milhões de reais, sendo que, deste total, 923.441 milhões de
reais foram consumidos pelas famílias não idosas (84,98%) e 163.266 milhões de
reais pelas famílias idosas (15,02%).
Partindo dessas considerações, pode-se verificar na Tabela 1 a participação de
cada produto no consumo das famílias idosas e não idosas. As principais
diferenças observadas foram: o produto intermediação financeira e seguros (40),
apesar de estar entre os mais consumidos para ambas as famílias, respondeu por
uma parcela muito maior no orçamento das famílias idosas (13,09%) do que no das
não idosas (7,69%); outro produto que merece destaque é saúde mercantil (46),
que obteve participação de 6,94% no consumo total das famílias idosas, ao passo
que nas não idosas correspondeu a 4,43%; alguns produtos como serviços
domésticos (48) e produtos farmacêuticos (23), por sua vez, tiveram maior
destaque para as famílias idosas do que para as não idosas; por outro lado,
educação mercantil (45), vestuário, calçados e produtos do couro (17), serviços
de alojamento e alimentação (43), transporte de passageiros (47) e serviços
prestados às famílias e associativos (47) se destacaram entre os produtos que
têm maior participação no consumo total das famílias não idosas.
Interessante, também, notar que a soma dos dez produtos mais consumidos
correspondeu a 66,88% para as famílias idosas e 60,50% para as não idosas,
mostrando uma concentração ligeiramente maior dos gastos nas primeiras.
Contudo, apesar das diferenças observadas, os serviços imobiliários e aluguel
inclusive imputado (41) constituíram o produto com maior participação no
orçamento tanto das UCs idosas quanto das não idosas. Estes serviços, embora
incluam os aluguéis imputados, ou seja, os aluguéis para quem tem moradia
própria, também consideram os gastos das famílias com aluguéis (quando estas
não têm moradia própria), serviços de corretagem, administração de imóveis,
etc.
Cabe esclarecer que, nas Tabelas_1 e 3, os produtos educação pública (49),
saúde pública (50) e serviço público e seguridade social (51) aparecem com
valor zero, pois não são pagos diretamente pelas famílias, sendo, portanto,
tidos como serviços prestados pelo Estado.
Para observar as alterações no consumo causadas pelas mudanças na estrutura
etária, foram comparadas as proporções dos grupos de idade entre 2005 e as
previsões de 2030 e 2050, resumidas na Tabela_2.
Verificou-se que a população total deve aumentar até 2030, porém, em 2050, esta
deverá apresentar decréscimo, o qual será causado pela diminuição do grupo de
não idosos (até 60 anos), que representará pouco mais de 70% da população
total, enquanto o de idosos (60 anos ou mais) continuará aumentando, chegando a
quase 30% em 2050.
Ao se projetarem estas mudanças na estrutura etária, podem ser verificadas as
diferenças resultantes da participação de cada produto no consumo entre 2005 e
2050 (Tabela_3). Tem-se, então, que os produtos que mais devem ampliar sua
participação no orçamento das famílias em geral são aqueles mesmos que
obtiveram maior participação relativa do consumo para as famílias idosas,
enquanto os produtos que mais devem perder participação no orçamento familiar
são, basicamente, aqueles referentes ao consumo das famílias não idosas.
As diferenças encontradas no padrão de consumo dos grupos etários estão de
acordo com Hagemann e Nicoletti (1989) quanto à importância da idade na
determinação do consumo das famílias. Sobre a composição do consumo desses
grupos etários, os resultados condizem com os encontrados por Neri et al.
(2004) e Almeida (2002), também para o Brasil. Além disso, pode-se verificar
que as mudanças no consumo geral da população, de 2005 a 2050, são semelhantes
às observações do World Economic and Social Survey (2007) para os países
desenvolvidos, que apontou o crescimento dos gastos com saúde, moradia e
energia e decréscimo dos dispêndios com entretenimento e transportes.
Com a projeção do consumo das famílias, pela taxa de crescimento da população
apenas, foi possível estimar a produção necessária para supri-lo. Esta produção
engloba não apenas aquela para abastecer a demanda final das famílias, mas
também a demanda gerada no processo produtivo pelos outros setores e pelo
efeito renda. O total deste produto passou de, aproximadamente, 2,932 trilhões
de reais em 2005, para 3,690 e 3,947 trilhões de reais em 2030 e 2050,
respectivamente.
A Tabela_4 permite observar como se comportou, em âmbito geral, a estrutura
produtiva da economia quanto à produção destinada ao consumo das famílias na
comparação dos anos 2005, 2030 e 2050. Nela está listada a produção estimada
para todos os setores. Importante notar que, como esta produção não visa apenas
a demanda final, entre os setores com maior produção incluem-se não somente os
que apresentam maior consumo das famílias. Entre os setores com maior
importância na produção ao longo do período, podem ser citados transporte,
armazenagem e correio (26), combustíveis derivados do petróleo, gás e álcool
(11), agricultura, silvicultura e exploração florestal (1) e serviços prestados
às empresas (32).
Em todo o período analisado, não foram observadas trocas de posição entre os
setores com maior produção, embora estes tenham apresentado diferentes taxas de
crescimento. Além disso, verificou-se crescimento bem maior do produto entre
2005 e 2030 (mais de 750 bilhões de reais no total) do que entre 2030 e 2050
(pouco mais de 250 bilhões de reais no total). Isto pode ser explicado,
principalmente, pela inflexão prevista na taxa de crescimento da população em
2040 (IBGE, 2008a), quando deverá iniciar um declínio, embora também é preciso
observar que o segundo intervalo de tempo apresenta cinco anos a menos do que o
primeiro.
Utilizando-se índices, nos quais a produção de 2005 foi considerada 100, têm-
se, ainda na Tabela_4, os índices de crescimento do produto entre 2005 e 2050
para todos os setores. Constatou-se que os setores com maior destaque foram, em
sua maioria, aqueles que produzem os produtos mais consumidos pelo grupo etário
idoso, como produtos farmacêuticos (13), saúde mercantil (34), intermediação
financeira e seguros (28), outros serviços (35), serviços imobiliários e
aluguel (29) e serviços de informação (27).
Enquanto isso, entre os outros setores com maiores índices, apesar de
apresentarem elevado crescimento, apenas os de aparelho/instrumento médico-
hospitalar, medida e óptico (20) e serviços prestados às empresas (32)
apresentaram nível de produção razoável, sendo pouco representativa, para
satisfazer o consumo das famílias, a produção dos setores educação pública (36)
e saúde pública (37).
Entre os dez setores com menores índices, oito são responsáveis pela produção
de produtos consumidos, em sua maioria, por famílias não idosas: perfumaria,
higiene e limpeza (14); material elétrico, eletrônico, informática e
comunicação (19); transporte, armazenagem e correio (26); veículos automotores,
peças e equipamentos (21); produtos do fumo (5); serv. de alojamento e
alimentação (31); vestuário, calçados e produtos do couro (7); e educação
mercantil (33), sendo que este último passa a apresentar decréscimo da produção
entre 2030 e 2050 (de 54,8 para 53,4 bilhões de reais).
Já os setores metalurgia de metais ferrosos e não-ferrosos (17) e móveis e
produtos das indústrias diversas (22) revelaram baixos índices, principalmente
por serem fornecedores de insumos para a produção nos outros setores que também
apresentaram baixo crescimento.
Pela Figura_1 pode-se visualizar a evolução da estrutura produtiva da economia
quanto à produção destinada ao consumo das famílias entre os extremos do
período analisado. Os números dos setores na Figura 1 correspondem àqueles
constantes na Tabela_4. A linha contínua representa a produção dos setores em
2005 e a tracejada em 2050. Alguns dos setores aparecem aqui com pequena
participação porque a produção de muitos não é voltada para o consumo das
famílias, tendo outros destinos, como governo e exportações (como os setores
educação pública e saúde pública, por exemplo, que registram produção, no caso
deste estudo, apenas para o consumo indireto). De forma geral, verificou-se que
a estrutura produtiva, mesmo com a expansão diferenciada no consumo entre os
setores, não deve se alterar expressivamente, sendo que a distribuição da
produção deve continuar basicamente a mesma.
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Dados os estágios de envelhecimento populacional mais avançados observados em
Portugal e na Escócia, Albuquerque e Lopes (2009) e Dewhurst (2006) puderam
verificar um decréscimo no produto de vários setores e não apenas um
crescimento menor, como no Brasil. Apesar disso, as tendências observadas entre
estes países e o Brasil são as mesmas na maior parte dos setores.
Considerações finais
O envelhecimento da população brasileira é fenômeno visível em razão do aumento
da participação dos idosos na população total desde o final do século XX,
quando as taxas de fecundidade passaram a apresentar quedas sucessivas e
substanciais, revelando ser este um processo permanente, com diversas
consequências, inclusive econômicas.
Dadas as diferenças entre a população idosa e a não idosa, tais como
preferências e necessidades, renda, preço dos bens e serviços consumidos, taxa
de juros (que é diferenciada para aposentados), renda esperada e sua riqueza,
tem-se que o consumo das famílias idosas e não idosas difere substancialmente
para diversos produtos, enquanto para outros não se observe diferença
considerável.
Assim, o consumo verificado pela aplicação das proporções de consumo da POF
20082009 na matriz insumo-produto de 2005 revelou que a maior parte dos
produtos mais consumidos pelas famílias idosas também é a mais demandada pelas
não idosas, apesar de apresentarem diferentes participações em seus orçamentos,
destacando-se intermediação financeira e seguros (40) e saúde mercantil (46).
Já produtos relacionados ao bem-estar do idoso ou à sua saúde apareceram entre
os maiores gastos das famílias idosas relativamente às não idosas, enquanto
outros produtos, tais como a educação, não estavam entre os de maior consumo
para as famílias idosas, mas apareciam para as não idosas.
Os resultados da produção estimada para satisfazer o consumo das famílias
mostraram não haver trocas de posições entre os setores com maior produção,
embora tenham sido observadas taxas diferentes de crescimento entre os setores.
Estes resultados são condizentes com os apontados pelo World Economic and
Social Survey (2007), que sugere que mudanças na composição da demanda devam
ocorrer de forma lenta ao longo do tempo.
Os diferentes padrões de consumo verificados entre famílias idosas e não idosas
devem impactar diferentemente os setores produtivos da economia brasileira,
cabendo à iniciativa privada adaptar-se a estas mudanças, com o desenvolvimento
de produtos para o público idoso, por exemplo. Assim, também o poder público
deve ficar atento para suprir estes setores, com elevado crescimento, com a
infraestrutura necessária e profissionais capacitados, inclusive porque muitos
destes empregados tendem, cada vez mais, a fazer parte do grupo etário idoso,
dado o aumento da participação destes no mercado de trabalho.
Ao governo cabe, também, acompanhar estas modificações na estrutura etária,
para que o país possa aproveitar a elevação do potencial de crescimento que se
abre com o processo de envelhecimento da população. Deve-se, portanto, ficar
alerta com o já elevado custo das transferências públicas ao grupo idoso, e com
o devido direcionamento do esperado aumento da poupança para investimentos
produtivos.
Por fim, dada a natureza estática da metodologia utilizada, os resultados
obtidos, enquanto importantes indicadores para a tomada de decisões nas esferas
pública e privada, devem ser tomados de forma qualitativa.
Para estudos futuros sugere-se analisar as mudanças na composição da população,
na estrutura familiar e no padrão de consumo dentro de cada grupo etário, ao
longo do tempo. Dessa forma, seria possível verificar se o padrão de consumo
tende a se alterar com o passar dos anos ou não, como no estudo de DellaVigna e
Pollet (2007) para os Estados Unidos, e como isto afeta a estrutura produtiva
da economia.