Simulação da quantidade máxima de domicílios permitida por quadras em Belo
Horizonte
Introdução
Um dos grandes desafios dos gestores municipais de países em desenvolvimento é
como associar um crescimento urbano que tende a dobrar até 2025 (BREMNER_et
al.,_2010; UNFPA,_2011) a um processo de desenvolvimento urbano inclusivo e
sustentável que proporcione a geração de riqueza, a qualidade de vida e a
qualidade ambiental para habitantes do presente e do futuro (MARTINE,_2007;
BREMNER_et_al.,_2010). A expansão urbana (horizontal) das cidades passa cada
vez mais a ser acompanhada do adensamento (expansão vertical) na maioria dos
aglomerados urbanos, o que agrava seus problemas de planejamento à medida que a
população aumenta (LEMOS_et_al.,_2004; DDI, 2011; UNFPA,_2011).
Além das questões sobre o desenvolvimento sustentável e inclusivo, a tendência
de concentração urbana e os efeitos decorrentes deste processo constituem um
grande desafio para o planejamento territorial em termos da ordenação do
adensamento (BREMNER_et_al.,_2010; UNFPA,_2011). Tal ordenação tende a evitar
ocupações irregulares, bem como prover a população com serviços públicos,
infraestrutura urbana e qualidade ambiental adequada nos espaços urbanos.
Equilibrar as demandas por um desenvolvimento urbano inclusivo de forma a
contemplar questões físico-territoriais, econômicas, sociais, políticas,
ambientais e de gestão tem sido o maior desafio da administração municipal em
grandes centros urbanos. Diante desse quadro, a administração pública municipal
demanda competência e efetividade dos seus gestores, que devem agir por meio de
instrumentos técnicos, modernos e práticos de planejamento e gestão, tais como
os advindos das geotecnologias (TORRES,_2006; REZENDE;_ULTRAMARI,_2007; UNFPA,
2011).
Essa demanda por qualificação do processo de planejamento encontra um grande
desafio nos números: o Censo Demográfico de 2010 mostrou um contingente de
190.755.799 habitantes vivendo em 67.569.688 domicílios. Calculou-se que cerca
de 84% dessa população está localizada em áreas urbanas, que ocupam
aproximadamente 101.503 km2, correspondendo a 1,2% do território nacional
(IBGE,_2011). No caso de Belo Horizonte, dos 332,3 km2 do município, foi
mensurado que 294,7 km2 estão ocupados pela mancha urbana1 e vários locais se
encontram com a ocupação futura aprovada, sendo o mais expressivo o Plano
Urbano Ambiental da Região do Isidoro, que contempla a expansão urbana de uma
área aproximada de 5 km2 (BELO_HORIZONTE,_2010).
Nesse contexto, o presente trabalho propõe uma metodologia de simulação por
quadra2 da capacidade máxima de domicílios permitida em Belo Horizonte, a
partir da análise da legislação urbanística e ambiental municipal (Leis n.
7.165/96, 7.166/96 e 9.959/10). Os parâmetros utilizados foram extraídos das
informações cadastrais da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), associadas aos
dados do Universo dos Censos Demográficos de 2000 e 2010. A simulação foi
desenvolvida utilizando um Sistema de Informação Geográfica (SIG), que busca
simular a realidade do espaço geográfico, permitindo armazenamento, manipulação
e análise de dados geográficos num ambiente computacional.
O SIG empregado nesse artigo é representado por uma base georreferenciada para
todas as quadras do município, construída a partir do mapeamento dasimétrico
(explicado na seção metodológica) da distribuição domiciliar na capital em
2011. Em um segundo momento, o limite máximo de novos domicílios permitidos por
lei é estimado, tomando-se como pressupostos: a ocupação de todos os lotes
vagos em sua capacidade máxima domiciliar, instituída por lei em cada classe do
zoneamento; e a demolição das edificações que possam, potencialmente, ceder
lugar a novos edifícios residenciais também construídos em sua capacidade
domiciliar máxima.
Os resultados mostram o número atual de domicílios e o máximo de domicílios que
poderiam vir a se instalar em cada quadra do município se os pressupostos forem
mantidos. As informações produzidas fornecem subsídios para informar
instrumentos de planejamento, caminhos para discutir as dimensões da ocupação
urbana de médio prazo, os limites potenciais da ocupação humana, as áreas
preferenciais de adensamento e as implicações dessa ocupação para o
planejamento da capital (TORRES,_2006; REIBEL;_AGRAWAL,_2007; JANNUZZI,_2007;
SANTOS,_2010). Além disso, os resultados propõem uma contribuição metodológica
para estudos demográficos em pequenas áreas, ao possibilitar simulações
espaciais em espaços intraurbanos para investigar cenários de demandas sociais,
apontando onde a expansão e o adensamento urbano podem ocorrer, bem como o
limite máximo suportado em cada quadra, caso os parâmetros de adensamento em
cada classe de zoneamento previstos na Lei n. 9.959/10 sejam utilizados em sua
totalidade (BELO_HORIZONTE,_2010; PDDI,_2011).
A próxima seção traz uma síntese da expansão domiciliar em Belo Horizonte nos
últimos anos, assim como os principais instrumentos reguladores do espaço
urbano da capital. Em seguida, é feita a apresentação da metodologia e
informações utilizadas na criação dos dois cenários de adensamento,
complementada com os resultados, conclusões e considerações finais.
Adensamento domiciliar e instrumentos reguladores do espaço urbano de Belo
Horizonte
O planejamento da ocupação do espaço é uma marca instaurada em Belo Horizonte
desde a sua criação, em 1897, conferindo-lhe, segundo Matos_(1992), o título de
primeira capital planejada implantada no país. Desde seu surgimento, esteve
presente a implantação de mecanismos voltados para o ordenamento do espaço
urbano, embora a maioria provocou diversos efeitos colaterais que dificultaram
a gestão urbana municipal (MATOS,_1992; EPAMINONDAS,_2006).
Em 1976 foi lançada a Lei Municipal n. 2.662, também conhecida como Lei de Uso
e Ocupação do Solo (Luos), a qual foi apontada por Ferreira_(1999) como a
primeira tentativa de ordenação da produção do meio urbano e que anunciou o fim
da expansão urbana sem a efetiva presença de um processo de planejamento
urbano. Em 1979, entrou em vigor a Lei Federal n. 6.766, que dispõe sobre o
Parcelamento do Solo Urbano e definiu loteamentos e desmembramentos, além de
ditar normas para os parcelamentos urbanos. A partir de então, todos os
municípios brasileiros deveriam criar sua legislação de parcelamento do solo
com base nos parâmetros desta Lei (BRASIL,_1979; CAVALCANTI,_1999).
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o Plano Diretor Municipal
(PDM) consolidou-se como um instrumento importante e obrigatório para o
planejamento urbano dos municípios populosos. Os princípios que norteiam o PDM
apareceram com maior robustez em 2001, com a criação do Estatuto da Cidade
(BRASIL,_2005). O PDM de Belo Horizonte foi elaborado em 1996 (Lei n. 7.165),
assim como a Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo ou LPOUS (Lei n.
7.166). Por influência direta da Constituição Federal de 1988, as Leis
instituídas em 1996 visavam a alteração da lógica de ocupação e de ordenamento
do espaço urbano.
Em 2010 foi lançada, em Belo Horizonte, a Lei n. 9.959, que altera as Leis n.
7.165/96 e 7.166/96, de forma mais restritiva no que tange ao adensamento e à
expansão urbana do município, que já contava com 2,37 milhões de habitantes e
quase 800 mil domicílios (IBGE,_2011; BELO_HORIZONTE,_2011a).
A análise da evolução da legislação municipal que trata da expansão urbana e
adensamento do município permite diagnosticar que, apesar da maior restrição
nos critérios de uso e ocupação do solo, a legislação vigente até 2010
possibilitou a saturação e conurbação do espaço urbano do município, assim como
o aumento do número de domicílios por quadras (adensamento domiciliar) em
níveis de verticalização incompatíveis com a infraestrutura urbana. O resultado
foi a criação de problemas de difícil solução para a capital, tais como déficit
habitacional, verticalização da paisagem e acúmulo de veículos. Segundo Lemos
et_al._(2004), como a mancha urbana ocupou praticamente todo o município,
restou ao zoneamento da capital estimular o adensamento domiciliar nucleado,
que prioriza a descentralização de atividades e que, espera-se, não condicione
a uma contínua degradação da qualidade do ambiente urbano.
A Lei Municipal n. 9.959/10 (BELO HORIZONTE, 2010), que vigora atualmente,
forneceu os parâmetros necessários para as simulações deste trabalho. Como o
PDM e a LPOUS definem critérios e limites para o exercício do direito de
propriedade, o principal instrumento utilizado para a definição do modo pelo
qual a função social da propriedade deve ser cumprida é o zoneamento, que
divide o território municipal em glebas, conforme critérios que atendem ao
modelo de ordenamento territorial traçado. O zoneamento atual é dividido nas
seguintes categorias: Zona de Preservação Ambiental (ZPA); Zona de Proteção
(ZP); Zona de Adensamento Restrito (ZAR); Zona de Adensamento Preferencial
(ZAP); Zona Central (ZC); Zona Adensada (ZA); Zona de Especial Interesse Social
(Zeis); e Zona de Grandes Equipamentos (ZE).
Os limites praticáveis nas edificações construídas em cada tipo de zoneamento
são dados pelos valores dos parâmetros urbanísticos do PDM, sendo que a quota
de terreno por unidade habitacional (QT), vinculada ao zoneamento, é o
parâmetro da Lei n. 9.959/10, que define, para cada tipo de zona, o número
máximo de domicílios comportado por lote. A QT é o instrumento que controla o
nível de adensamento domiciliar nas edificações destinadas ao uso residencial
ou na parte residencial das edificações de uso misto. O Quadro_1 apresenta os
valores mínimos em m2 da QT permitida para cada domicílio em cada categoria do
zoneamento descrita anteriormente (BELO_HORIZONTE,_2010). A título de
ilustração, um terreno de 800m2 localizado no zoneamento ZA (QT de 40m2/un.)
pode possuir no máximo 20 domicílios. Se este mesmo terreno estivesse
localizado no zoneamento ZP-3 (QT de 200m2/un.), é possível a construção de até
quatro domicílios.
QUADRO 1 Parâmetros urbanísticos relativos à quota de terreno por unidade
habitacional por categoria de zoneamento Município de Belo Horizonte – 2011
Categoria do zoneamento Quota de terreno por unidade habitacional (m2/un.)
ZPAM -
ZP-1 2.500
ZP-2 1.000
ZP-3 200
ZAR-1 180
ZAR-2 45
ZA 40
ZAP 40
ZHIP 8
ZCBH 20
ZCBA 25
ZCVN 25
Zeis -
ZE -
Fonte: Belo Horizonte (2010).
Metodologia
Para o desenvolvimento da metodologia, foram definidas algumas estratégias com
base nos textos de Cota_(2002, 2010), Lemos_et_al._(2004) e PDDI_(2011), na
análise das Leis n. 7.165/96, 7.166/96 e 9.959/10, que tratam da evolução da
legislação sobre o uso e ocupação do solo em Belo Horizonte, e em um processo
de criação dos pressupostos e validação dos dados básicos pela equipe de
técnicos da Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano (SMAPU-PBH), no
período 2011-2012. Assim:
* este trabalho simula a ocupação máxima somente nas classes de zoneamento
que permitem construções do tipo "residencial", caracterizado pelos
domicílios. Classes de zoneamento dedicadas a ocupações do tipo "não
residencial", como indústria, comércio, serviços e equipamentos públicos,
não foram consideradas passíveis de construções do tipo "residencial",
não sendo incorporadas na simulação;
* o processo de expansão domiciliar ocorrerá a partir da construção de
novas edificações em lotes vagos ou em locais que possam ser demolidos,
sendo que, sempre que o zoneamento aceitar, as novas construções serão do
tipo apartamento e não do tipo casa;
* as Leis municipais n. 7.165/96, 7.166/96 e 9.959/10, referentes a
parcelamento, ocupação e uso do solo no município, influenciarão
diretamente na expansão das áreas urbanas e no adensamento dos espaços já
ocupados:
o -o zoneamento municipal não deve sofrer alterações;
o -as categorias de zoneamento impróprias ao uso domiciliar não serão
ocupadas por moradias;
o -o adensamento domiciliar nas áreas de vilas e aglomerados (Zeis-
1 e Zeis-3) continuará a ocorrer em ritmo parecido com o restante
da capital;
o -as quadras do município passíveis de ocupação, mas que não possuem
lotes vagos ou edificações potenciais para demolição, manterão seu
estoque domiciliar ao longo do tempo;
* o cenário de adensamento domiciliar utilizou a quota de terreno praticada
pelo mercado imobiliário em vez daquela prevista na Lei n. 9.959/10,
cujos valores estão em processo de revisão por não serem condizentes com
a realidade do município;
* os grandes empreendimentos estruturadores do espaço no vetor norte da
capital - Linha Verde, Aeroporto Industrial de Confins, Cidade
Administrativa do Governo do Estado e Anel Viário Norte - aumentarão a
pressão sobre áreas passíveis de crescimento domiciliar em toda a porção
setentrional do município;
* a região do Isidoro passará, na próxima década, por um intenso processo
de adensamento domiciliar, pois possui um Plano de Urbanização que
permite um aumento de até 67 mil novos domicílios.
Os próximos tópicos apresentam uma descrição mais detalhada do processo de
simulação da capacidade de adensamento domiciliar de Belo Horizonte.
Uso do SIG e mapeamento dasimétrico para projetar a capacidade de carga urbana
Reunindo dados relevantes para esta pesquisa, foi construído um SIG cujo
conteúdo será descrito adiante. Para conferir maior precisão às análises que
envolvem a densidade de parâmetros, como o número de domicílios ou a população
em cada quadra, utilizou-se a técnica de mapeamento dasimétrico, que consiste
em distribuir valores conhecidos para uma unidade espacial de referência apenas
sobre partes de sua área em que se sabe que o fenômeno se manifesta (EICHER;
BREWER,_2001; MENNIS;_HULTGREN,_2006). Por exemplo, conhecendo a população de
um setor censitário e sabendo que ela se concentra nas quadras e lotes
residenciais, é possível excluir da distribuição espacial as áreas de outra
natureza (arruamento, parques, canteiros, praças, indústrias e áreas comerciais
não habitadas). Esta técnica pode ser considerada uma sofisticação de um mapa
coroplético (mapa temático poligonal convencional), pois utiliza dados
auxiliares para refinar a representação da distribuição espacial da variável
analisada.
A metodologia apresentada a seguir foi elaborada e validada em conjunto com os
técnicos da Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano de Belo
Horizonte (SMAPU).3 Todas as informações vetoriais adquiridas passaram por um
processo de compatibilização das bases de dados, utilizando o programa MapInfo
11. Inicialmente, os arquivos georreferenciados tiveram seu limite geográfico
adaptado de forma a corresponder à delimitação oficial do município de Belo
Horizonte. Em um segundo momento, todos os arquivos com as malhas digitais
foram ajustados à projeção geográfica UTM (Universal Transversa de Mercator),
Fuso 23 Sul, Datum SIRGAS 2000.
A Figura_1 mostra a estrutura desenvolvida para três porções distintas do
município (região do Isidoro, região das Zeis e demais áreas), possibilitando a
criação dos cenários que compõem o artigo, descritos na próxima seção.
FIGURA 1 Etapas do processo de criação dos cenários de simulação do número
máximo de domicílios para a área urbana de Belo Horizonte em ambiente SIG
Bases de dados utilizadas nas simulações
O Quadro_2 traz as informações básicas disponibilizadas pela Prefeitura de Belo
Horizonte e pelo IBGE, que serviram de insumos para as estimativas de número
máximo de domicílios possível a partir da aplicação da lei municipal vigente.
Cada informação apresentada neste quadro é uma base de dados georreferenciada
sobre uso e ocupação do solo de Belo Horizonte.
QUADRO 2 Variáveis e origem (bases de dados) utilizadas como insumo para a
simulação do número máximo de domicílios para a área urbana de Belo Horizonte
Informações / bases Descrição
georreferenciadas
A base de quadras de Belo Horizonte, referente ao Cadastro Técnico Municipal (CTM)
Quadras de setembro de 2011 (BELO HORIZONTE, 2011b), é uma base vetorial formada por
17.448 polígonos que correspondem a todas as quadras do município, com informações
atualizadas segundo a Lei n. 9.959/10.
A base atualizada com as delimitações das Regionais de Planejamento da capital foi
Regional de extraída do Cadastro Técnico Municipal (CTM) de setembro de 2011 (BELO HORIZONTE,
Planejamento 2011c) e possui nove polígonos que foram utilizados para possibilitar uma
interpretação dos resultados por regional.
A base de faces dos lotes de Belo Horizonte, referente a setembro de 2011, foi
extraída do cadastro do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
(BELO HORIZONTE, 2011b). Trata-se de uma base vetorial formada por 705.850 linhas
que correspondem a todas as faces de lotes do município, com informações
Cadastro de utilizadas para a coleta do IPTU. Cada face possui os seguintes atributos: área do
contribuintes do IPTU terreno em m2; área construída no terreno em m2; tipo de ocupação (residencial,
não residencial e territorial); tipo construtivo (casa, barracão, apartamento,
área comercial e lote vago); e quantidade de domicílios por registro. Para a
criação de uma evolução temporal das informações, foram utilizadas as mesmas bases
com as datas de referência em julho de 2006 e agosto de 2010.
O zoneamento de Belo Horizonte em setembro de 2011 (BELO HORIZONTE, 2011d) é
representado por uma base vetorial formada por 16.492 polígonos que correspondem a
Zoneamento todas as manchas de zoneamento do município, com informações atualizadas conforme
a Lei n. 9.959/10. Cada mancha possui atributos referentes ao zoneamento
específico, que pode englobar uma porção ou a área total de cada quadra do
município.
As informações georreferenciadas de tipologias de ocupação foram extraídas do CTM
Tipologias de de setembro de 2011 (BELO HORIZONTE, 2011c) e são formadas por 336.051 polígonos
ocupação que representam todos os lotes cadastrados do município, com informações sobre a
tipologia de ocupação do lote, ano de construção, quantidade de pavimentos da
edificação, tipo de uso e área do lote.
Os arquivos georreferenciados referentes aos setores censitários (SCs) dos Censos
Setores censitários de 2000 e 2010 (IBGE, 2002, 2011) foram utilizados de forma complementar, para
suprir informações das áreas de vilas e favelas do município, que possuem baixa
cobertura no cadastro do IPTU.
Fonte: Belo Horizonte (2011b, 2011c, 2011d), IBGE (2011).
Na Figura_2, o primeiro mapa mostra os limites das nove Regiões de Planejamento
e as 17.155 quadras da capital e o segundo apresenta as 19.008 manchas que
formam as 15 categorias de zoneamento presentes na Lei n. 9.959/10, as quais
representam as unidades referidas na lei com os valores permitidos para
construção residencial.
[/img/revistas/rbepop/v32n3//0102-3098-rbepop-32-03-0511-gf02.jpg]Fonte: Belo
Horizonte_(2011b, 2011c, 2011d), IBGE_(2011).
FIGURA 2 Regiões de Planejamento, quadras e zoneamento atualizados pela Lei
9.959/10 Município de Belo Horizonte - 2011
Adensamento domiciliar de Belo Horizonte
Os cenários construídos neste artigo buscaram projetar o número máximo de
domicílios que podem vir a ser edificados em Belo Horizonte, adotando-se como
pressuposto que todas as áreas vazias e com potencial de reconstrução sejam
utilizadas para fins de habitação. Inicialmente, foi necessária a aplicação do
mapeamento dasimétrico para o ajuste de todas as bases de informação, de tal
forma que houvesse uma perfeita sobreposição espacial entre todas as bases de
dados e que todas as informações possuíssem atributos devidamente preenchidos.
Para a criação dos cenários, foram realizadas as seguintes etapas de
manipulação das informações:4
* divisão da base de cadastro do IPTU segundo a variável "tipo de
construção" em dois arquivos: "IPTU residencial" e "IPTU territorial",
com a exclusão dos dados não residenciais (lojas, salas, galpões, etc.);
* compatibilização dos vetores com sobreposição espacial na base IPTU
residencial, como no caso dos edifícios e condomínios;
* ajuste da área dos lotes que possuíam área maior do que a quadra ou que
estavam muito discrepantes na amostra;
* verificação manual e retirada da maioria dos lotes cujo tamanho é 60%
superior ao tamanho total da quadra na qual ele está inserido, o que
permitiu localizar antigos loteamentos que foram divididos em glebas
menores e ainda não haviam sido excluídos da base cadastral da
Prefeitura;
* exclusão de todos os lotes vagos nos zoneamentos ZE, ZPAM, Zeis-1 e Zeis-
3, uma vez que a Lei n. 9.959/10 não permite que estes espaços sejam
edificados com novos domicílios;
* exclusão de todos os lotes vagos sobrepostos às bases de áreas verdes
(áreas protegidas, Programa BH Verde, Parques Municipais atuais e
futuros, Reserva Particular Ecológica);
* exclusão de todos os lotes vagos da base do IPTU que não fossem
sobrepostos à categoria de uso "lote vago" ou "nulo (existe lote mas sem
cadastro no IPTU)" da base do CTM;5
* exclusão de lotes vagos com projetos de construção aprovados pela PBH:
236 lotes vagos com projetos aprovados do tipo não residencial; e 1.814
lotes vagos com projetos aprovados do tipo residencial;6
* justaposição das bases "IPTU residencial" e "IPTU territorial" com a base
de quadras. Cálculo para cada quadra: área total (m2) dos terrenos
residenciais; área total construída (m2) nos terrenos residenciais;
quantidade total de domicílios; quantidade de casas, barracões e
apartamentos; quantidade de lotes vagos; área total (m2) dos lotes vagos;
e área total (m2) da quadra;
* exclusão das quadras com os zoneamentos ZE, ZPAM e Zeis. Para o caso das
Zeis, foi elaborado um método específico, descrito adiante.
Após todos os ajustes, foi construído um cenário de adensamento via lotes vagos
apresentado a seguir.
Cenário 1: ocupação dos lotes vagos utilizando a quota praticada
O cenário 1 apresenta para cada quadra o quantitativo máximo de domicílios que
pode ocorrer, caso os lotes vagos desta quadra sejam adensados usando a QT
média de cada quadra praticada pelo mercado imobiliário entre 2008 e 2011. A
justificativa de criação deste cenário 1 se deu pelo fato, comprovado a partir
da análise das informações cadastrais, de que a dinâmica do mercado imobiliário
do município pratica uma quota de terreno usualmente mais elevada do que a
prevista na Lei n. 9.959/10.
O cálculo da QT praticada pelo mercado imobiliário do município foi realizado a
partir da divisão da área total do lote da edificação do Cadastro Técnico
Municipal pela quantidade de domicílios cadastrados no lote. Os resultados
foram refinados segundo a análise anual da evolução da QT praticada em cada
quadra, entre 1970 e 2011, para o total de domicílios, assim como para as
construções do tipo casa e apartamento. A evolução temporal da média por quadra
das QT praticadas pelo mercado é apresentada na Tabela_1. Os dados apontam,
para o total municipal, uma tendência nas últimas duas décadas de diminuição da
quota praticada, principalmente nos domicílios do tipo apartamento. Nesse
contexto, os valores obtidos para apartamentos no período de 2008 a 2011, mais
próximos do praticado atualmente pelos agentes imobiliários, foram escolhidos
como parâmetro para calcular a QT de cada quadra que irá integrar a razão de
adensamento do cenário 1.
TABELA 1 Média da quota de terreno praticada, segundo tipos de domicílio
Município de Belo Horizonte – 1970-2011
Tipos de domicílio Quota média (em m2/domicílio)
1970-1980 1981-1990 1991-2000 2001-2007 2008-2011
Total de domicílios 217,6 226,6 224,9 219,5 174,1
Domicílios do tipo casa 225,6 236,4 258,0 283,3 274,7
Domicílios do tipo 63,2 63,1 68,7 62,8 60,8
apartamento
Fonte: Belo_Horizonte_(2011a).
Também confirmam o pressuposto descrito anteriormente os dados referentes ao
número de domicílios particulares permanentes captados nos Censos Demográficos
de 2000 e 2010 (IBGE_2002, 2011). Uma análise pormenorizada mostrou que, na
última década, a taxa de crescimento geométrico anual (TCG) dos apartamentos
foi de 4,0% ao ano, contra 0,9% para os domicílios do tipo casa. Entre 2000 e
2010, o número de casas no município aumentou em 41 mil unidades, passando de
458.893 para 499.867, enquanto o de apartamentos ampliou-se em 81 mil unidades
(de 169.554 para 251.275).
Para as quadras que não tiveram construção do tipo apartamento entre 2008 e
2011, foi calculada a média de QT praticada em cada zoneamento, dentro de cada
Regional de Planejamento do município, de tal forma a se obter uma QT média
para cada espaço intraurbano.
A única exceção foi feita para as quadras localizadas nas tipologias ZP-1 e ZP-
2, que seguiram as diretrizes previstas na Lei n. 9.959/10. Dessa forma, para
as quadras inseridas na categoria ZP-1, a QT foi calculada da seguinte forma:
* QT de 2.500 m2/un. para lotes com área maior ou igual a 2.500 m2;
* QT do tamanho do terreno para lotes com área menor que 2.500 m2.
Para as quadras inseridas em ZP-2, a QT foi calculada da seguinte forma:
* QT de 1.000 m2/un. para lotes com área maior ou igual a 1.000 m2;
* QT do tamanho do terreno para lotes com área menor que 1.000 m2.
Feitas todas as ressalvas, o cálculo do número de domicílios no cenário 1 foi
realizado a partir da seguinte razão de adensamento:
(Lv Iptu / quota praticada) + EcTot
onde:
Lv Iptu = área em m2 disponível para construção domiciliar na quadra;
Quota praticada = quota de terreno por unidade habitacional (m2/un.) praticada
na quadra ou no zoneamento por regional (onde não existia informação por
quadra);
EcTot = total de domicílios existentes em setembro de 2011.
Devido às diversas possibilidades de adensamento presentes no meio urbano da
capital, este cenário teve que ser adaptado a duas peculiaridades existentes
que são deta- lhadas a seguir.
Complemento ao cenário 1: cálculo dos domicílios atuais e futuros das
categorias Zeis-1 e Zeis-3
O mapeamento dasimétrico dos setores censitários de 2000 e 2010 mostrou-se mais
preciso para gerar as informações domiciliares para as quadras cobertas pelos
zoneamentos Zeis-1 e Zeis-3, que representam as vilas e aglomerados
distribuídos ao longo de todo o município. Este mapeamento apresentou-se mais
confiável em função da imprecisão dos registros da Prefeitura de Belo Horizonte
sobre a população residente nas áreas de vilas e favelas.
Para o cenário 1, que segue as tendências de adensamento domiciliar da capital,
foi constatado que o número de domicílios nas Zeis cresceu na última década a
uma TCG de 1,82% ao ano, valor ligeiramente inferior à taxa de 1,94% ao ano,
referente ao total de domicílios do município. Entre 2000 e 2010, o número de
moradias nessas zonas passou de 83.455 para 99.964 (IBGE, 2002, 2011). Isso
representa um diferencial de 16,5 mil domicílios, demonstrando que essas áreas
continuam em processo de crescimento domiciliar, ao contrário do que é desejado
nos instrumentos urbanísticos previstos no Estatuto das Cidades e na Lei n.
9.959/10.
A primeira etapa necessária para o cálculo de adensamento das Zeis foi a
compatibilização dos setores censitários de 2000 e 2010, conforme a metodologia
desenvolvida por Umbelino_(2007). Após a compatibilização, o mapeamento
dasimétrico foi utilizado nos setores, conforme pode ser verificado na Figura
3. O primeiro mapa mostra o limite de todos os setores censitários, enquanto o
segundo apresenta o resultado após estes terem sua área total filtrada pela
subtração das áreas de preservação, arruamento, equipamentos públicos e locais
de comércio/serviços, de tal forma que se obteve a área líquida de cada setor
(ocupada somente por moradias). Dessa forma, 3.935 setores censitários de 2010
foram unificados com os 2.563 setores censitários de 2000, resultando em uma
base de 3.880 polígonos que representam a área ocupada por domicílios na
capital. Esse procedimento possibilitou a análise temporal dos dados
censitários na menor escala de desagregação possível.
O próximo ajuste foi a adaptação das informações censitárias de agosto de 2010
para a data de referência dessa pesquisa, por meio da extrapolação da TCG de
cada setor entre 2000 e 2010, o que resultou em uma estimativa de 101.723
domicílios existentes nas Zeis em setembro de 2011.
[/img/revistas/rbepop/v32n3//0102-3098-rbepop-32-03-0511-gf03.jpg]Fonte: Belo
Horizonte_(2011b, 2011c, 2011d), IBGE_(2011).
FIGURA 3 Setores censitários compatibilizados antes e após o mapeamento
dasimétrico, para a estimativa domiciliar das Zeis Município de Belo Horizonte
- 2011
Para o cálculo dos domicílios futuros que podem surgir nas Zeis, via construção
nas áreas vagas ou adensamento domiciliar (também conhecidos como
"puxadinhos"), foram adotados os procedimentos apresentados a seguir.
Construção nas áreas vagas:
* a partir da área não ocupada (m2) em 2011 em cada quadra e da densidade
média domiciliar de ocupação (9.387 dom./km2) das Zeis, foi calculado o
número aproximado de domicílios que cada quadra ainda comportaria, caso
essa densidade média fosse aplicada na área não ocupada.
Adensamento (verticalização):
* para as quadras com TCG nula ou negativa entre 2000 e 2011 foi adotado o
pressuposto de que o adensamento não ocorrerá nesses locais;
* para as quadras com TCG positiva e acima da densidade domiciliar média
(9.387 dom./km2), também foi adotado o pressuposto de que o adensamento
da quadra na área construída não ocorrerá, dado que o espaço edificado já
está saturado;
* nas quadras com TCG positiva e abaixo da densidade domiciliar média, foi
calculado o número de domicílios que ainda podem surgir (puxadinhos),
caso o adensamento médio seja atingido nessas quadras.
Complemento ao cenário 1: cálculo dos domicílios futuros para a região do
Isidoro
A porção norte do município de Belo Horizonte é uma região que, nos últimos
anos, tem vivenciado forte pressão do mercado imobiliário em função de diversos
investimentos, como a implantação da Cidade Administrativa, a criação da Linha
Verde e a reestruturação do aeroporto de Confins (BELO_HORIZONTE,_2010; COTA,
2010; PDDI,_2011). A região do Isidoro localiza-se no extremo norte da capital,
na Regional de Planejamento Norte. Além de possuir uma localização estratégica
no contexto metropolitano, o local caracteriza-se por estar predominantemente
desocupado, sendo a última grande fronteira de expansão urbana de Belo
Horizonte, com a maior porção de terra contínua passível de parcelamento
existente no município, em uma área de 9,6 km2 (BELO_HORIZONTE,_2010).
Para minimizar a ocupação desordenada do local, a Prefeitura elaborou o segundo
Plano Urbano Ambiental da Região do Isidoro, que visa promover, após 2015, a
proteção e recuperação ambiental da região, por meio de um processo de ocupação
ordenado (BELO_HORIZONTE,_2010; COTA,_2010). As diretrizes do Plano preveem,
para a próxima década, a construção de um contingente máximo de 67.623
domicílios (cenário adensamento populacional máximo), que foi adotado como
pressuposto para integrar os resultados da região do Isidoro, presentes no
cenário 1 (BELO_HORIZONTE,_2011b).
Cenário 2: renovação urbana via demolições
O cenário 2, diferentemente dos pressupostos do cenário 1, visa simular o
máximo de domicílios que podem surgir no município, oriundos da renovação
urbana, ou seja, caso todos os domicílios com potencial de demolição cedam
lugar a novas edificações residenciais construídas em sua capacidade domiciliar
máxima.
O primeiro procedimento para simular o processo de renovação urbana domiciliar
foi adotar como pressuposto a criação de um único cenário, tomando-se como
parâmetro a QT praticada pelo mercado imobiliário. Em seguida, foi analisada a
evolução temporal das bases do tipo residencial do cadastro de contribuintes do
IPTU, referentes a julho de 2006, agosto de 2010 e setembro de 2011. Na
comparação entre a localização espacial e o número do CTM das três bases,
encontraram-se as edificações do tipo apartamento existentes em 2011 que, nos
períodos anteriores, eram casas, barracões ou edificações do tipo apartamento,
mas com número menor de moradias do que em 2011. Acredita-se que dessa forma
tenha sido possível captar todas as demolições recentes ocorridas no município
em prol da renovação urbana.
Os dados cadastrais revelaram que, em todo o período analisado, ocorreram 700
alterações em registros de edificações do município, originando 11.373 novos
domicílios que podem ser caracterizados como oriundos da renovação urbana.
Entre 2006 e 2010, 509 registros de edificações foram renovados, originando
6.736 domicílios. Entre 2010 e 2011, 191 registros de edificações foram
renovados, gerando 4.637 domicílios.
Na Figura_4, elaborada a partir da espacialização das referidas edificações, o
primeiro mapa apresenta a mancha de influência de demolições, criada por meio
do método de análise espacial Distance7 existente no programa Idrisi, sendo
estimados 500 metros a partir de cada edificação com potencial de demolição. No
segundo mapa, estas informações foram filtradas pela sobreposição desta mancha
com as categorias de zoneamento que permitem a renovação urbana. O produto
final foi uma área denominada zona potencial de renovação urbana.
[/img/revistas/rbepop/v32n3//0102-3098-rbepop-32-03-0511-gf04.jpg]Fonte: Belo
Horizonte_(2011b, 2011c, 2011d), IBGE_(2011).
FIGURA 4 Mancha de influência de demolições por zoneamento e zona potencial de
renovação urbana, passível de demolições Município de Belo Horizonte - 2011
Como a maioria dos domicílios localizados na zona potencial de renovação urbana
não necessariamente será demolida, o próximo passo foi detectar características
das edificações que as tornassem passíveis de demolição. Para isso, foram
analisados padrões comuns nas variáveis disponíveis no SIG das edificações que
sofreram renovação urbana entre 2006 e 2011. Foi feita a remoção de toda
edificação dentro da zona de renovação urbana que: foi construída após o ano
2000; possui área do lote inferior a 360m2; possui alto padrão de acabamento
construtivo (padrão P5); tem mais de dez domicílios por lote; possui quatro ou
mais pavimentos; e não seja classificada na base de tipologia de ocupação como
Zeis, clubes, equipamentos de saúde e instituições religiosas.
Resultados
Apesar de todos os resultados das simulações terem sido obtidos na escala de
quadras, para fins de análise optou-se pela agregação dos dados por Regional de
Planejamento. A Tabela_2 apresenta o número de domicílios existentes na planta
cadastral de Belo Horizonte e os resultados, para os dois cenários de
simulação, do número potencial de domicílios a serem adicionados a Belo
Horizonte ao longo do tempo.
TABELA 2 Domicílios existentes na planta cadastral e potenciais domicílios a
serem construídos, por cenários simulados, segundo Regional de Planejamento
Município de Belo Horizonte – 2011
Domicílios Lotes Domicílios a serem construídos
Regional existentes vagos Cenário 1 (quota Cenário 2 (renovação Total (domicílios existentes + cenários 1 e 2 )
praticada) urbana)
Barreiro 76.630 2.241 22.712 27.039 126.381
Centro-Sul 132.930 2.145 13.467 19.227 165.624
Leste 77.062 780 10.788 60.377 148.227
Nordeste 88.243 3.230 46.458 34.274 168.975
Noroeste 88.399 1.258 7.732 36.264 132.395
Norte (sem 61.017 2.306 21.875 27.605 110.497
Isidoro)
Oeste 114.238 2.439 33.312 36.097 183.647
Pampulha 87.313 4.479 31.316 54.015 172.644
Venda Nova 73.108 1.846 14.850 41.442 129.400
Norte (só - - 67.623 - 67.623
Isidoro)
Total 798.940 20.724 270.133 336.340 1.405.413
Fonte: Belo_Horizonte_(2011b, 2011c, 2011d), IBGE_(2011).
Os resultados das simulações (representados pela densidade de quadras/hectare)
podem ser visualizados nas Figuras_5 e 6, que apresentam, respectivamente, o
adensamento domiciliar de Belo Horizonte em 2011 e o somatório dos domicílios
de 2011 com os cenários 1 e 2, mostrando as quadras do município que podem ter
maior pressão em termos de adensamento domiciliar futuro.
[/img/revistas/rbepop/v32n3//0102-3098-rbepop-32-03-0511-gf05.jpg]Fonte: Belo
Horizonte_(2011b, 2011c, 2011d), IBGE_(2011).
FIGURA 5 Domicílios por hectare existentes por quadra na planta cadastral
Município de Belo Horizonte - setembro de 2011
[/img/revistas/rbepop/v32n3//0102-3098-rbepop-32-03-0511-gf06.jpg]Fonte: Belo
Horizonte_(2011b, 2011c, 2011d), IBGE_(2011).
FIGURA 6 Capacidade máxima domiciliar (domicílios por hectare por quadra)
suportada a partir do somatório dos domicílios existentes com os casos de
simulação 1 e 2 Município de Belo Horizonte - 2011
Analisando a área total proveniente da soma das 17.155 quadras do município,
verificou-se que 3,1% encontram-se em algum tipo de zoneamento que proíbe a
construção de novas edificações, 14,6% são formadas por Zeis e 82,3% situam-se
em regiões passíveis de adensamento ou demolição. Além das áreas de Zeis e da
região do Isidoro, existem 5.195 quadras em Belo Horizonte com lotes vagos onde
é possível a materialização do cenário 1 e 6.453 quadras onde os dados do
cenário 2 podem se concretizar.
A análise do SIG construído a partir da junção das informações possibilitou
quantificar 798.359 habitações na capital em 2011. De acordo com o cruzamento
dos dados apresentados na Tabela_2, o resultado das simulações aponta que o
município ainda comporta 270.133 moradias no cenário 1 e 336.340 no cenário 2.
Em termos percentuais, o cenário 1 pode ocasionar um aumento de 33,8% no número
de domicílios da capital, enquanto o cenário 2 prevê o a geração de 42,1% novos
domicílios via demolição. Nesse sentido, os 14.898 lotes vagos analisados ainda
comportam um crescimento de aproximadamente 40% do número de domicílios da
capital, caso o espaço urbano seja ocupado em sua potencialidade máxima.
A partir de uma interpretação integrada dos cenários, acredita-se que uma
situação mais plausível poderia ocorrer a partir da junção do adensamento via
QT praticada (cenário 1), com a renovação urbana (cenário 2), o que permitiria
que Belo Horizonte aumentasse o número de domicílios em 75,9%, chegando a
atingir sua capacidade máxima de adensamento em cerca de 1.405.413 moradias.
Analisando esses valores por Regionais de Planejamento, verifica-se que a maior
concentração pode ocorrer na regional Oeste (183.647 domicílios), seguida pelas
regionais Norte (178.120),8 Pampulha (172.644 domicílios), Nordeste (168.975
domicílios) e Centro-Sul (165.624 domicílios). Estes resultados devem ser
analisados pelo poder público com muita cautela, pois, apesar de serem
hipotéticos, servem para refletir sobre os impactos potenciais da expansão
urbana e sua capacidade de manter a qualidade de vida da população e do
ambiente natural em um cenário de aumento de 3/4 no número de domicílios.
Especificamente em relação à região do Isidoro, deve-se reforçar que essa é a
porção do município com maior probabilidade de concretização das simulações,
pois, diferentemente do restante do município, existe um plano de habitação em
execução que prevê 54.340 moradias no cenário 1 e 67.623 no cenário 2 (BELO
HORIZONTE,_2011b).
O crescimento domiciliar ocorrido na última década nas categorias de zoneamento
Zeis-1 e Zeis-3 mostra que, apesar do arrefecimento da TCG ao longo das últimas
décadas, esses ainda são lugares dinâmicos, que possuem potencial de
adensamento e que certamente terão esses potenciais explorados, uma vez que se
trata da categoria de zoneamento menos vulnerável à legislação urbanística do
município. Os resultados mostram que em 2011 existiam 101.723 domicílios nesses
locais, que ainda podem ser adensados em cerca de 20%, chegando a comportar
18.439 novas moradias precárias, distribuídas de forma homogênea em todas as
partes da capital. Assim como no restante do município, as áreas de Zeis também
apresentam escassez de terrenos vazios e possuirão a maioria do seu adensamento
domiciliar se manifestando a partir de novas construções surgidas nos fundos de
quintal, ou nas verticalizações de até três pavimentos erigidas acima das lajes
dos domicílios precários, nas construções conhecidas como "puxadinhos".
Conclusão
A partir de uma perspectiva metodológica que reforça a interação entre SIG e a
técnica de mapeamento dasimétrico, analisou-se na escala intraurbana de quadras
(com o município de Belo Horizonte) um modelo capaz de projetar cenários de
aumento e distribuição da oferta domiciliar (adensamento domiciliar máximo),
inclusive no que tange aos seus potenciais impactos sobre a verticalização da
mancha urbana. A importância dessa análise é predicada na necessidade de criar
instrumentos eficientes de planejamento em pequenas escalas, que corrijam
desequilíbrios da expansão domiciliar e do alto grau de antropização presente
na capital mineira. Espera-se, assim, que este artigo contribua para a difusão
das novas potencialidades advindas do geoprocessamento na demografia e nas
áreas relativas ao planejamento urbano e regional.
A comparação dos resultados da simulação permite qualificar a legislação atual
como bastante permissiva (apesar de as últimas alterações adotarem maiores
instrumentos de restrição). Embora esse seja um limite máximo de ocupação
domiciliar, fica claro que existem mecanismos na legislação municipal atual que
possibilitam a saturação de novos espaços urbanos, que podem se tornar vilas e
aglomerados ainda mais densos ou bairros de classe média com saturação de
infraestrutura urbana. Acredita-se, ainda, que uma avaliação dos resultados em
escalas mais refinadas (intraurbanos), possíveis a partir da metodologia
desenvolvida nesse artigo, permita identificar locais que podem vir a se
concretizar (ou estão se concretizando) como focos de adensamento maiores do
que seria desejável. Poder-se-ia, dessa forma, antever e evitar problemas
decorrentes do adensamento urbano, como os engarrafamentos e problemas de
abastecimento de água por rede subdimensionada que têm ocorrido, por exemplo,
nos bairros Buritis, Estoril, Castelo e Novo Engenho Nogueira, criados na
última década sem uma infraestrutura urbana adequada à sua densidade.
Os problemas decorrentes do adensamento exagerado, como verificado nos bairros
supracitados, estimulam uma discussão para o planejamento urbanístico futuro da
capital. Em particular, recomenda-se o aumento dos valores da QT na legislação
vigente para níveis maiores do que os atuais e preferencialmente acima dos
praticados pelo mercado, visando a minimização do adensamento domiciliar e
problemas decorrentes nas quadras que ainda apresentam alto potencial
construtivo.
Já o cenário 2 permite uma reflexão suplementar à do parágrafo anterior, pois,
à medida que os lotes vagos vão diminuindo, aumenta a tendência de o mercado
imobiliário se apossar de edificações passíveis de demolição. A renovação
urbana é um nicho de mercado cuja atividade no município está se expandindo
rapidamente, principalmente nos espaços mais nobres da capital, como mostram os
dados de evolução do cadastro do IPTU, com renovação de 191 edificações entre
2010 e 2011, contra uma média de 127 por ano entre 2006 e 2010. Estes dados
ainda mostram que, embora o preço do m2 nestes locais seja mais elevado, tem
havido uma constante demanda por parte dos incorporadores imobiliários,
geralmente para fins de especulação. O aumento anual do número de demolições
sinaliza a necessidade de se pensar melhor nesse tipo de mecanismo, sendo que
os resultados aqui levantados ajudam a identificar os locais do município mais
aptos ao processo de renovação, buscando assim um melhor planejamento do uso do
solo urbano.
Ressalta-se que o uso de informações georreferenciadas oficiais do município,
assim como o envolvimento de vários especialistas na elaboração dos
pressupostos, foi fundamental para tornar o modelo mais acurado, de tal forma
que estas simulações possam ser mais úteis como instrumentos de planejamento
intraurbano da capital, provando, inclusive, que a Lei n. 9.959/10, apesar de
ser considerada a mais restritiva já implantada no planejamento da capital,
ainda mostra-se bastante permissiva.
É nesse sentido que a metodologia desenvolvida pode servir para o aprimoramento
de diversas atividades de manutenção e planejamento do meio urbano, tais como a
planificação de políticas de infraestrutura e habitação, a expansão e
manutenção de redes de serviços públicos ou privados (água, eletricidade,
esgotamento sanitário, telefonia, entre outros), a identificação de locais para
a instalação de equipamentos públicos, a caracterização de novas áreas de
assentamentos precários e a identificação da vulnerabilidade ambiental presente
e futura da população. Todos esses elementos mostram a importância da
desagregação espacial da informação urbana em pequenas áreas (TORRES,_2006).
Comparando de forma sintética a densidade domiciliar atual com a projetada
conforme os parâmetros da referida Lei, percebe-se que, sob a ótica de um
cenário conservador, embora aparentemente próxima à saturação dos espaços de
expansão urbana, a capital ainda possui instrumentos legais que permitem e
estimulam um expressivo adensamento domiciliar. Este adensamento está ocorrendo
de forma contínua a partir da ocupação em lotes vagos e, em um segundo momento,
se acentuará por meio da renovação urbana. Como o processo está ocorrendo em
todas as porções do município, os resultados apontam a necessidade de os
gestores urbanos desenharem estratégias de intervenção distintas para cada
espaço da capital, sendo que os dados da simulação indicam para cada quadra do
município o impacto que poderá ser resultante dos cenários projetados,
possibilitando uma intervenção mais adequada para cada tipo de situação.
Embora o foco deste artigo seja eminentemente metodológico, os resultados
mostram a possibilidade de utilização de instrumentos que viabilizem a criação
de cenários que alimentem um debate sobre a morfologia urbana, mormente em
torno da discussão sobre a compactação ou espraiamento da urbanização
brasileira e suas repercussões (e demandas) para o planejamento e as políticas
públicas. Nesse sentido, deve-se frisar que estudos complementares voltados
para o planejamento da paisagem e da qualidade ambiental urbana podem ser
feitos utilizando-se cenários de expansão domiciliar, ao demonstrar para onde e
quanto a cidade pode crescer. Essa questão é particularmente relevante tendo em
vista o aparente paradoxo entre o avanço da transição demográfica brasileira,
com a redução da taxa de crescimento e, em algumas décadas, do tamanho da
população urbana brasileira, e uma taxa relativamente maior de crescimento na
formação de domicílios em função de novos arranjos domiciliares e de família e
da dinâmica do mercado imobiliário urbano. Além disso, uma análise mais
aprofundada dos dados permitirá verificar as implicações positivas e negativas
que o crescimento e adensamento domiciliar causarão em Belo Horizonte,
principalmente por meio da verticalização e adensamento domiciliar. Uma
hipótese a ser investigada, apresentada por Martine_(2007) e Bremner_et_al._
(2010), é sobre a existência de razões demográficas, socioeconômicas e
ambientais que fariam os grandes centros urbanos adensados potencialmente mais
sustentáveis a médio e longo prazos, por gerarem economias de escala que
possibilitem a oferta mais eficiente de serviços e infraestrutura, desde que
políticas de manutenção da infraestrutura urbana voltadas para o adensamento
sejam adotadas (MARTINE,_2007; BREMNER_et_al.,_2010). Um planejamento ordenado
da ocupação urbana pode potencializar benefícios de um maior adensamento
populacional, ao gerar economias de escala que possibilitam a oferta mais
eficiente de serviços e infraestrutura.
O método proposto neste artigo possui algumas limitações. Em primeiro lugar,
deve-se ressaltar que a qualidade dos insumos básicos fornecidos pela
Prefeitura de Belo Horizonte é a principal responsável pela viabilidade do
produto final e seu constante aprimoramento contribui para uma simulação cada
vez mais precisa. Outra limitação é a alta dependência dos pressupostos com o
PDM e a LPOUS. Caso esses instrumentos tenham parâmetros urbanísticos
alterados, a metodologia e os resultados dos cenários devem ser revistos.
Por fim, verifica-se que a demografia vive um momento oportuno para uma maior
absorção das geotecnologias, em função das novas fontes de dados que se tornam
acessíveis, das inovações nos recursos computacionais voltados para simulações
e da maior abertura da demografia (assim como outras disciplinas) a diálogos
interdisciplinares. Esse conjunto de possibilidades favorece, em particular, o
avanço da compreensão da dinâmica demográfica em pequenas áreas,
particularmente no espaço intraurbano. Assim, espera-se que a integração de
dados demográficos às geotecnologias seja mais difundida entre os demógrafos, e
que o exercício metodológico aqui proposto sirva como exemplo de possibilidades
de análise de informações contemporâneas e de simulação de cenários futuros em
pequenas áreas.
*Os autores agradecem as significativas contribuições do prof. Alisson Barbieri
(Cedeplar – UFMG), que orientou a tese que serviu de insumo para este artigo.
1O conceito de mancha urbana é amplo e complexo em sua definição, mas para fins
práticos e metodológicos considerou--se mancha urbana, neste trabalho, a área
do município que possui algum elemento de infraestrutura urbana, tais como
edificações, equipamentos públicos, ruas e praças.
2A quadra ou quarteirão é a unidade de análise formada por um polígono
circundado pela malha viária, que comporta todos os lotes e espaços públicos do
município.
3As bases de dados cadastrais da capital foram gentilmente cedidas pela SMAPU-
PBH, para uso exclusivo na realização desta pesquisa. Os resultados deste
trabalho estão sendo utilizados pela Prefeitura de Belo Horizonte para
subsidiar os nove Planos Diretores das Regionais de Planejamento do município.
4Algumas dessas etapas foram necessárias para corrigir erros existentes nas
bases.
5Para esses lotes excluídos, foi calculado o número de domicílios, extraídos da
base do CTM. Os resultados foram incorporados à base "IPTU residencial", dado
que esses "lotes vagos" já estão ocupados e não estão atualizados no cadastro
do IPTU.
6Para esses lotes excluídos, foi calculado o número de domicílios, extraídos do
cadastro de unidades planejadas existente na base de Projetos Aprovados da PBH.
Os resultados foram incorporados à base "IPTU residencial", dado que esses
"lotes vagos" já possuem planejamento de uso domiciliar.
7Módulo do programa Idrisi que calcula a distância euclidiana de cada célula da
imagem às células analisadas, permitindo a obtenção de áreas de influência na
forma de anéis concêntricos, ou buffers (EASTMAN, 2009).
8Incluindo o cenário de adensamento domiciliar previsto na região do Isidoro.