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BrBRHUAp1413-99362006000300003

BrBRHUAp1413-99362006000300003

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioHumanities
Great areaApplied Social Sciences
ISSN1413-9936
ano2006
Issue0003
Article number00003

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Dissertações defendidas no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFMG, na década de 1990: um balanço

1 Introdução Este estudo faz parte do projeto em desenvolvimento A produção do conhecimento em biblioteconomia e ciência da informação no Brasil dos anos 902, o qual tem como objetivo principal apresentar um panorama geral da produção científica brasileira em biblioteconomia e ciência da informação, buscando ampliar o quadro delineado por pesquisas com objetivos semelhantes e que privilegiaram recortes cronológicos e metodológicos distintos daqueles aqui propostos.

A década de 90 pode ser considerada um marco importante, na medida em que se realizaram ou se consolidaram nesse período grandes mudanças, sobretudo no que diz respeito ao desenvolvimento das novas tecnologias da informação, à sua rápida difusão e às suas repercussões econômicas, políticas e sociais. A globalização da economia tem provocado profundas mudanças em vários setores da sociedade, incluindo as expectativas com relação à pesquisa básica, a demanda por informação e a relação entre as áreas do conhecimento. O entendimento da informação como instrumento estratégico de política econômica, considerando-se que o domínio econômico do mundo está centrado nas organizações baseadas em informação e conhecimento, coloca diversos desafios ao estudo e à prática da biblioteconomia e da ciência da informação no Brasil. Esses desafios relacionam-se tanto às novas tecnologias de armazenagem, recuperação e disseminação da informação, quanto às novas formas de ação/gestão dos recursos informacionais, tendo em vista que uma das vertentes de fundamental importância na nova ordem mundial é, justamente, a qualidade e a competitividade das novas tecnologias de informação, aliada à gestão de unidades de informação.

No presente trabalho, apresentamos resultados parciais desse projeto, relativos à análise das dissertações aprovadas no curso de Mestrado do Programa de Pós- Graduação em Ciência da Informação da Escola de Ciência da Informação da UFMG, no período de 1990 a 1999. O estudo teve por objetivo caracterizar esse segmento da produção acadêmica desse curso, enfocando as tendências temáticas, os tipos de pesquisa e as abordagens metodológicas predominantes. Procuramos também comparar os resultados obtidos com aqueles encontrados em estudos semelhantes realizados em outros programas de pós-graduação da área. A escolha desse programa deve-se ao fato de o mesmo não ter sido ainda objeto de estudo das pesquisas que analisaram a produção acadêmica nas áreas de biblioteconomia e ciência da informação, além de ser um dos primeiros programas criados no país e de manter um excelente nível de avaliação pela CAPES. Buscamos, assim, ampliar os estudos sobre a produção acadêmica no âmbito dos programas de pós- graduação da área, apresentando mais indicadores das tendências temáticas e metodológicas dessa produção.

2 A Pós-graduação e a pesquisa em biblioteconomia e ciência da informação no Brasil Considera-se que a ciência da informação foi introduzida no país em 1970, através do curso de Mestrado em Ciência da Informação instituído pelo então IBBD, atual IBICT, com mandato acadêmico da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ -, curso pioneiro no Brasil e na América Latina. Esse curso, segundo Freitas (2001), trouxe consigo a introdução do termo ciência da informação, das problemáticas e das idéias dessa área no país. Em 1992, é criado o doutorado, 22 anos após o início do mestrado. Durante toda sua trajetória o Curso passou por reformulações em suas áreas de concentração, linhas de pesquisa e grade curricular, buscando-se adequá-lo às transformações, necessidades e demandas da sociedade. Atualmente, funciona em convênio com a Universidade Federal Fluminense - UFF.

Ainda na década de 1970, outros cursos de mestrado em Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação foram implantados, com diferentes áreas de concentração, assim distribuídos: 1976 (UFMG); 1977 (PUC-CAMPINAS/SP); 1978 (UnB) e (UFPB). Grande parte dos núcleos iniciais do corpo docente desses cursos foi formada pelo curso de Mestrado em Ciência da Informação do IBICT.

Além da criação desses cursos, o Mestrado em Comunicação da USP passou a oferecer, a partir de 1972, uma área de concentração em biblioteconomia e documentação. Todos esses cursos também passaram por várias reformulações ao longo de suas trajetórias, inclusive com alterações em suas denominações, de biblioteconomia e documentação, para ciência da informação. Em 1992, foi também implantado o doutorado em ciência da informação na UnB e, em 1997, na UFMG. De um modo geral, pode-se afirmar que esses programas, inicialmente, vieram atender às necessidades relativas à preparação de agentes de informação tecnológica, de analistas de sistemas de informação, de animadores culturais, de gerentes de recursos informacionais e de administradores de redes e sistemas de informação. Atualmente, funcionam nove programas de pós-graduação em ciência da informação, distribuídos da seguinte maneira: PUC-CAMPINAS, UFPB, UFBA e UFSC (com cursos de mestrado somente) e UFMG, UFF/IBICT, UnB, USP e UNESP (com cursos de mestrado e doutorado).

A produção acadêmica desses programas - dissertações e teses - vem sendo objeto de diversos estudos (dentre eles algumas dissertações), constituindo-se em importantes contribuições para o conhecimento da área, na medida em que seus resultados apresentam indicadores de tendências da pesquisa. Dentre esses estudos, destacamos o de Neves (1992), que objetivou resgatar a história do curso de Mestrado em Ciência da Informação do IBICT/UFRJ e identificar as tendências temáticas desse curso, no período de 1970 a 1990. Tal conhecimento foi buscado principalmente nas diversas estruturas curriculares que o curso conheceu nessas duas décadas e nos temas das dissertações dos alunos; Bufrem (1996), que analisou 215 dissertações também defendidas no curso de Mestrado em Ciência da Informação do IBICT/UFRJ, entre 1972 e 1995, sob enfoque histórico crítico e apoiando-se em análise quantitativa, centralizando a pesquisa nas opções metodológicas dos autores das dissertações analisadas.

Freitas (2001), em sua tese de doutorado, analisou, entre outros aspectos, recortes discursivos dos títulos das dissertações de mestrado e teses de doutorado produzidas nos cursos do IBICT/UFRJ (1972/2000) e da UFMG (1978/ 2000); Witter e Oliveira (1996), analisaram a produção acadêmica no período de duas décadas, 1972-1992, com enfoque no tipo de método usado nessa produção. O material analisado incluiu 320 dissertações e teses defendidas em seis cursos de pós-graduação em biblioteconomia e ciência da informação.3 Galvão (1997) objetivou estudar as características epistemológicas e teóricas da ciência da informação. O corpus para seu estudo empírico foi formado por 24 dissertações e 17 teses, somando 41 pesquisas elaboradas entre 1975 e 1995, no Departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP, cujas temáticas estiveram voltadas para a biblioteconomia, documentação, ciência da informação e/ou suas sub- áreas. Posteriormente, Queiroz e Noronha (2004) realizaram um estudo de natureza descritiva com o objetivo de traçar um panorama temático das dissertações e teses apresentadas ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA/USP, no período de 1979 a 2002. Foram analisados 114 trabalhos (75 dissertações e 39 teses) e as variáveis referiram-se à distribuição temporal, temáticas abordadas e sua relação com as linhas de pesquisa departamentais.

Teixeira (1997), em sua dissertação de mestrado, desenvolveu um estudo descritivo, de natureza analítico-retrospectiva, sobre as 69 dissertações defendidas no curso de Mestrado em Biblioteconomia e Documentação da UnB, no período de 1980 a 1995. Seu objetivo geral foi identificar as tendências temáticas predominantes, sua relação com as linhas de pesquisa do curso e com os temas abordados nos artigos publicados, no mesmo período, nos principais periódicos brasileiros da área; Oliveira (1999) analisou 69 dissertações produzidas no curso de Mestrado em Ciência da Informação da UFPB, defendidas entre 1981 e 1998. Seu objetivo foi identificar a formação dos pesquisadores naquele programa; os temas mais pesquisados; as abordagens metodológicas mais utilizadas e os autores nacionais e estrangeiros mais citados no embasamento teórico dessas dissertações. Essas dissertações também foram objeto do estudo realizado por Araújo, Tenório e Farias (2003), com o objetivo geral de caracterizar a produção acadêmica do Mestrado em Ciência da Informação da UFPB em termos de temas pesquisados, estrutura científica dos textos, abordagens teórica e metodológica e produção de comunicações científicas, no período de 1999 a 2001.

Población e Noronha (2003) analisaram, quantitativamente, as dissertações e teses defendidas nos períodos de 1990-1999 e 2000-2002, segundo as linhas de pesquisa de nove programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação4. Chamam a atenção para a mudança no enfoque central das pesquisas, do ambiente biblioteca para o foco da informação, ampliando para sistemas de informação, análises de produção do conhecimento, usuários da informação e os processos de comunicação, contemplando os fluxos e linguagens de informação. Essas mudanças vão ocorrer a partir da década de 90, com a implantação dos cursos de doutorados.

Seguindo essa linha de estudos, apresentamos os resultados da pesquisa que realizamos no programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Escola de Ciência da Informação da UFMG.

3 Metodologia A análise de conteúdo das dissertações foi a estratégia metodológica utilizada.

A fim de complementar o quadro obtido nessa análise, entrevistamos três professores que desenvolvem suas atividades de investigação em linhas de pesquisa diferentes, no programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFMG5. As entrevistas foram realizadas pessoalmente, utilizando-se gravador, nos dias 23 e 28/12/2004. Foi elaborado um roteiro com questões em aberto sobre aspectos diversos da área no Brasil e, em particular, do programa de Pós- Graduação da UFMG.

O corpus para o estudo empírico compreendeu as 63 dissertações defendidas no curso de Mestrado daquele Programa entre 1990 e 1999, consultadas na biblioteca da Escola de Ciência da Informação daquela universidade.

3.1 Procedimentos de coleta e análise dos dados A caracterização das dissertações foi feita a partir da leitura do resumo, da introdução, de capítulos ou sub-capítulos referentes à metodologia e da conclusão. Para a atividade de análise, foi realizada uma ordenação preliminar dos dados com os seguintes elementos: autor, título e número de páginas, ano de defesa, nome do(s) orientador(es) e respectiva(s) linha(s) de pesquisa, tema, objetivo, questões ou problema da pesquisa, hipóteses, metodologia e técnica(s) de coleta de dados utilizadas, comentários à metodologia e observações gerais sobre aspectos formais e/ou de conteúdo.

Para identificar e classificar os temas pesquisados, utilizamos a tabela de classificação de assuntos que elaboramos, apresentada em Oddone e Gomes (2003).

Essa tabela está estruturada em dez categorias gerais, cada uma com suas respectivas subcategorias de assuntos específicos. As categorias ou classes principais são as seguintes: 01 Aspectos teóricos e gerais da ciência da informação; 02 Formação profissional e mercado de trabalho; 03 Gerência de serviços e unidades de informação; 04 Estudos de usuários, demanda e uso da informação e de unidades de informação; 05 Comunicação, divulgação e produção editorial; 06 Informação, cultura e sociedade; 07 Legislação e políticas públicas de informação e de cultura; 08 Tecnologias da informação; 09 Processamento, recuperação e disseminação da informação ; 10 Assuntos correlatos e outros.

No que diz respeito à escolha de um instrumento para classificar e analisar as abordagens metodológicas utilizadas nas dissertações, a maior dificuldade que constatamos na literatura revisada foi a questão da definição, não apenas do que seja pesquisa, mas também de uma tipologia relacionada às categorias de pesquisa, de métodos e estratégias, técnicas ou instrumentos de investigação.

Esses aspectos foram também observados e destacados por outros pesquisadores que estudaram a produção acadêmica na área como Bufren (1996), Oliveira (1998), entre outros. Diante das dificuldades encontradas, optamos por utilizar a tipologia proposta por Bernhard e Lambert (1993)6 que inclui treze métodos de pesquisa com suas definições, os quais foram avaliados e testados por especialistas e considerados importantes na área. São os seguintes: 01 Análise de conteúdo; 02 Desenho de sistemas de informação; 03 Enquete; 04 Estudo bibliométrico; 05 Estudo comparativo; 06 Estudo de caso; 07 Estudo etnográfico/Enquete naturalista; 08 Estudo de avaliação/Pesquisa de avaliação; 09 Estudo experimental; 10 Estudo histórico/Pesquisa histórica; 11 Estudo teórico; 12 Método Delphi; 13 Pesquisa operacional/Análise de sistema.

Cada uma das dissertações foi classificada em apenas uma das categorias, tanto em relação ao assunto, quanto à metodologia adotada.

4 Breve histórico do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFMG O curso de Pós-Graduação em Administração de Bibliotecas - CPG/AB da UFMG -, em nível de mestrado, foi implantado em fevereiro de 1976, tendo como principal objetivo qualificar docentes para os cursos de biblioteconomia. Estruturado na época em duas áreas de concentração: biblioteca e educação; e biblioteca e informação especializada, em ambos os casos buscava-se desenvolver no aluno atitude crítica e capacidade de planejar, implementar, avaliar e reorganizar bibliotecas e serviços de informação. Foi credenciado pela CAPES em 1980.

Em agosto de 1990 foi reformulado, tendo sido criadas três linhas de pesquisa focalizando informação gerencial e tecnológica; informação e sociedade; e tratamento da informação e bibliometria. A partir de 1997, com a implantação do doutorado, o curso passa a denominar-se programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. As áreas de concentração até então em funcionamento foram desativadas e o curso foi re-estruturado em uma única área de concentração: Produção, Organização e Utilização da Informação. Em 2000, duas linhas de pesquisa foram desativadas: Tratamento da informação e bibliometria, substituída por Organização e uso da informação, que inclui estudos sobre a descrição física e temática de documentos, além de estudos bibliométricos; e Informação e sociedade, substituída pela linha de pesquisa Informação, cultura e sociedade, que, com enfoque mais abrangente, investiga a informação enquanto fenômeno social, apreendendo-a a partir de seus domínios epistemológicos e contextos sociais. A linha de pesquisa Informação gerencial e tecnológica foi recentemente re-estruturada e passou a chamar-se Gestão da informação e do conhecimento.

Segundo depoimento de um docente que acompanhou o processo de reformulações ocorridas no âmbito do Programa nesses últimos quinze anos, essas mudanças foram positivas, na medida em que propiciaram uma ampliação do espectro de profissionais interessados na formação pós-graduada na área, bem como no que diz respeito ao corpo docente, que também passou a incorporar pessoas com formações diversas, oriundas da engenharia, sociologia, administração e computação, dentre outras áreas. "Essa diversificação foi boa, no sentido de que houve aportes não teóricos, mas metodológicos de outras áreas do conhecimento", ressaltou o professor. A opinião do referido docente traduz bem a proposta do Programa, que "busca a construção de um saber comum, com o aporte de várias áreas do conhecimento". Na visão de outro docente entrevistado, a presença de pessoas de várias áreas do conhecimento deveria, em princípio, ser muito enriquecedora, embora muitas vezes as pessoas não criam compromisso com a área de ciência da informação, talvez acreditando que, na prática, a agregação por si seja suficiente para produzir a integração.

5 Resultados Das 63 dissertações defendidas entre 1990 e 1999, não foi possível analisar apenas uma delas, porque durante o período em que consultamos esse material, a mesma encontrava-se no Setor de Reparos. No período estudado pudemos constatar que os anos menos produtivos foram os de 1994 e 1995, com quatro e três dissertações defendidas, respectivamente e que os mais produtivos foram os de 1998 e 1999, com oito e dez dissertações defendidas, respectivamente.

5.1 Os temas e as linhas de pesquisa As opiniões dos professores entrevistados sobre o funcionamento das linhas de pesquisa enquanto instância agregadora da produção acadêmica do Programa revelaram aspectos importantes para o seu entendimento. Um entrevistado considera que dispersão temática nos trabalhos dos alunos e que essa dispersão tem origem na própria falta de amadurecimento da atividade de pesquisa na área. No que diz respeito, por exemplo, à linha de pesquisa Gestão da informação e do conhecimento, considera que essa linha desenvolveu-se de forma caótica e de maneira rápida e pouco sustentada; que não é um tema característico da ciência da informação, mas que surgiu no rastro da globalização. Ressaltou que a linha de pesquisa Organização e uso da informação é a área tradicional da ciência da informação e é para ela que convergem as questões básicas desse campo científico, e que é da linha Informação, cultura e sociedade de onde sai a teoria social da área. Outro docente entrevistado chama a atenção para a dificuldade em se pensar nas linhas de pesquisa como um mecanismo de fortalecimento da pesquisa e afirma que essas linhas precisam se articular melhor, pois nota-se uma certa dispersão e variedade de temas investigados.

No GRÁF._1 são apresentados os percentuais, por classes temáticas gerais, das dissertações defendidas no mestrado em ciência da informação da UFMG na década de 1990. Fonte: Dados da pesquisa.

Mesmo sem observarmos uma correspondência total entre o conteúdo das três linhas de pesquisa do Programa e os temas investigados nas 62 dissertações analisadas, podemos constatar que essa produção acompanha, em parte, sua proposta. Vários assuntos estudados no âmbito das classes gerais que identificamos como as mais pesquisadas ' gerência de serviços e unidades de informação e estudos de usuários, demanda e uso da informação e de unidades de informação e comunicação, divulgação e produção editorial, estão relacionados com os conteúdos das linhas de pesquisa Gestão da informação e do conhecimento e Organização e uso da informação, mostradas no GRÁF._1. Essas classes gerais agruparam, em sua maioria, estudos sobre arquivos, recursos humanos, monitoração ambiental, automação de unidades de informação, estudos sobre outros serviços e unidades de informação; necessidades de informação, usos da informação e de unidades de informação, usos e impactos das novas tecnologias de comunicação e informação; estudos de canais, veículos, ciclos e modelos de comunicação, estudos de fontes de informação, entre outros.

Esses resultados assemelham-se aos obtidos em outras pesquisas que estudaram a produção científica em biblioteconomia e ciência da informação, onde se constatou a predominância de temáticas relativas à gerência de recursos informacionais, explorando-se aspectos da gestão de informações das organizações tais como uso, usuários e transferência da informação; processamento e recuperação da informação; planejamento e gerência de unidades ou sistemas de informação.

Constatamos também um número muito reduzido de pesquisas que enfocaram os aspectos teóricos da ciência da informação, perfazendo o percentual de apenas 5% do total das 62 dissertações analisadas. Essa realidade também foi constatada no estudo de Oliveira (1998, p. 118), que investigou a pesquisa financiada pelo CNPq na área de ciência da informação no período de 1984 a 1993. A autora considerou que pouca atenção foi dedicada à análise da ciência da informação, tendo sido identificada apenas uma pesquisa com enfoque nas questões teóricas da área. Os resultados de outra pesquisa realizada posteriormente pela mesma autora, que analisou 69 dissertações produzidas no curso de Mestrado da UFPB, no período de 1981 a 1998, evidenciaram também um índice muito pouco expressivo de pesquisas sobre aspectos teóricos da biblioteconomia e da ciência da informação, com apenas duas dissertações (2,8%), do total analisado (OLIVEIRA, 1999, p. 479). Araújo, Tenório e Farias (2003) analisaram 24 dissertações também defendidas no Curso de Mestrado da UFPB, no período de 1999 a 2001 e os resultados obtidos revelaram a inexistência de estudos teóricos nessas áreas.

Os estudos de Bufrem (1996, p. 87) e Teixeira (1997, p. 76) que analisaram as dissertações de mestrado defendidas no IBICT/UFRJ e na UnB, respectivamente, revelaram também um baixo índice de trabalhos que enfocaram os aspectos teóricos da biblioteconomia e da ciência da informação. No caso da pesquisa de Bufrem, apenas 3 dissertações, perfazendo o percentual de 1,4% do total de 215 dissertações analisadas; no estudo de Teixeira, que analisou 69 dissertações, constatou-se a inexistência desses estudos.

Freitas (2001), em sua tese de doutorado, analisou, entre outros aspectos, recortes discursivos dos títulos das dissertações de mestrado e teses de doutorado igualmente produzidas nos Cursos do IBICT/UFRJ (1972-2000) e da UFMG (1978-2000). No caso do IBICT, constatou a presença apenas pontual da discursividade cultural até a década de 80, firmando-se mais na década de 90.

a discursividade política, que se firmara nos anos 90, em 2000, juntamente com a cultura, a ciência e as perspectivas histórico-sociológicas tradicionais, invertem seu sentido, com a ascensão avassaladora da discursividade econômico- gerencial por volta do ano 2000. na produção discente da UFMG, essa autora afirmou que "se podemos constatar a emergência da discursividade científica apenas ao final da década de 80, vemos forte crescimento do econômico-gerencial sobrepujar a abordagem cultural" (FREITAS, 2001, p. 107).

Na pesquisa de Población e Noronha (2003) sobre a produção acadêmica em nove Programas de Pós-Graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação, nos períodos 1990-1999 e 2000-2002, apenas 27 trabalhos do total geral de 655, entre dissertações e teses, estudaram os aspectos teóricos dessas áreas. Na pesquisa de Queiroz e Noronha (2004, p.135), que analisou 114 trabalhos (75 dissertações e 39 teses) apresentadas ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA/USP, no período de 1979 a 2002, a categoria biblioteconomia e ciência da informação, que abrange estudos relacionados às questões teóricas dessas áreas, compareceu com apenas dois trabalhos, perfazendo 1,75% do total, ocupando o penúltimo lugar.

A distribuição percentual por classes gerais das dissertações defendidas no Mestrado em Ciência da Informação da UFMG/1990-1999, ilustrada no GRÁF._1, permite constatar a concentração da produção em três classes gerais, indicando, assim, os eixos temáticos do Programa, conforme destacamos anteriormente.

Talvez pelo fato de não se exigir, em nível de mestrado, estudo de um tema pouco investigado e com maior aprofundamento nas análises efetuadas, além do tempo limitado ' máximo dois anos - para o desenvolvimento e conclusão da dissertação, não se observa um número significativo de pesquisas sobre aspectos mais teóricos da área, como aqueles ligados à epistemologia, à elaboração de modelos e a questões conceituais. Conforme consta nos objetivos e organização geral do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFMG, o mestrado envolve a preparação de uma dissertação na qual o mestrando deve demonstrar capacidade de sistematização de idéias, bem como domínio do tema e da metodologia científica. O doutorado envolve a preparação de uma tese, por meio da qual o doutorando deve demonstrar habilidade de conduzir pesquisa original e independente na área de Ciência da Informação, com resultados que representem real contribuição ao avanço da área.

Nesse sentido, os temas gerais e os assuntos que identificamos como os mais pesquisados parecem responder às expectativas do programa.

Essa questão das fragilidades teóricas observável no conjunto da área de um modo geral, vem sendo apontada na literatura especializada. Smit, Dias e Souza (2002), ao apresentarem uma síntese da ciência da informação no Brasil em 2001, numa visão construída a partir dos principais elementos de análise adotados pela CAPES para a avaliação dos programas de pós-graduação, destacaram que a análise das áreas de concentração e respectivas linhas de pesquisa é reveladora de uma visão pragmática da área, freqüentemente voltada à solução de problemas da atividade profissional e menos voltada para a consolidação conceitual e epistemológica da própria área.

Aliás, é somente a partir do IV Encontro Nacional de Pesquisa em Biblioteconomia e Ciência da Informação - IV ENANCIB, realizado em Brasília no ano de 2000, que o grupo temático Epistemologia da ciência da informação foi criado, mostrando a emergência, embora ainda tímida, do interesse por questões teóricas, ligadas à epistemologia da área, assunto sem grupo específico nos Encontros anteriores. No V e VI Encontros, realizados, respectivamente, em Belo Horizonte, em 2003 e em Florianópolis, em 2005, podemos observar um fortalecimento desse grupo temático, o que sinalizaria uma maior maturidade da área na reflexão sobre os seus conhecimentos teóricos.

5.2 As opções metodológicas A pesquisa empírica é presença marcante nos trabalhos analisados e destaca-se em primeiro plano, com 59 dissertações defendidas no período analisado (95% do total), com o predomínio das abordagens quantitativas, enquanto a pesquisa teórica esteve presente em apenas três dissertações (5% do total). Quanto às opções metodológicas das dissertações elas caracterizaram-se, predominantemente, como estudos de caso, com 31 dissertações. Destacaram-se, em segundo lugar, a enquete e, em terceiro, a análise de conteúdo, com 8 e 7 dissertações apresentadas (respectivamente, com13% e 11% do total). As demais metodologias utilizadas ficaram abaixo de 10% . (GRAF._2).

Ao discutir essas opções metodológicas, um dos entrevistados ponderou que não considera o estudo de caso como uma pesquisa necessariamente inferior, mas que sua qualidade depende de como ela é realizada. Por outro lado, destacou que a área precisa desenvolver metodologias mais ousadas e mais sofisticadas e que mesmo as pesquisas quantitativas necessitam avançar mais, com melhor tratamento dos dados.

Conforme constatamos no GRÁF._2, foi muito expressivo o número de trabalhos que utilizaram a metodologia estudo de caso, com 50% do total das 62 dissertações analisadas. Esse resultado difere daqueles obtidos por Bufrem e por Oliveira.

No estudo de Bufrem (1996, p.105-106), essa prática metodológica comparece em terceiro lugar, sendo identificada em 23 das 215 dissertações analisadas no período de 1972 a 1995, perfazendo o percentual de 10,7% desse total. Conforme destaca essa autora, citando Bruyne, Herman e Schoutheete, nos anos oitenta, o estudo de caso começava a despontar como possibilidade metodológica, passando a constituir-se em opção de um grande número de pesquisas intensivas, onde a determinação de um quadro teórico seria fundamental para que essas investigações não caíssem num puro dataísmo, proveniente da crença em que cada elemento do conhecimento poderia ser reduzido a um conjunto de dados. (p.106).

O estudo bibliométrico foi a prática metodológica mais utilizada, tendo sido identificada em 58 das 215 dissertações, perfazendo o significativo percentual de 27% do total de dissertações analisadas (p.91). no estudo de Oliveira (1998, p.122-123), o enfoque metodológico estudo de caso é quase imperceptível, representando apenas 1% do universo estudado. O levantamento foi o procedimento metodológico predominante, com um percentual de 70% das pesquisas analisadas.

Dentre as pesquisas que utilizaram a metodologia estudo de caso, destaca-se a predominância da temática Gerência de Serviços e Unidades de Informação, em 13 dissertações, ou seja, 43% das dissertações usaram esse enfoque metodológico.

Essas dissertações direcionaram-se para estudos sobre outros serviços e unidades de informação; monitoração ambiental; recursos humanos; automação de unidades de informação; arquivos e marketing. Em segundo lugar situou-se o tema Estudos de Usuário, Demanda e Uso da Informação e de Unidades de Informação, em 11 dissertações (33%). Sobre esse tema foram realizados estudos sobre necessidades de informação; uso da informação e de unidades de informação; usos e impactos das novas tecnologias de comunicação e informação; sobre oferta, demanda e transferência de informação e sobre caracterização e comportamento do usuário. Com menor presença, outros temas foram estudados sob esse mesmo enfoque metodológico, conforme podemos observar no GRÁF._3.

Esses resultados também diferem daqueles obtidos por Bufrem (1996) em sua pesquisa sobre a produção acadêmica do Mestrado em Ciência da Informação da UFRJ. Nos trabalhos que utilizaram a metodologia estudo de caso destaca-se a predominância de estudos sobre Uso, Usuários e Transferência da Informação e, em segundo lugar, sobre Comunicação Científica e Tecnológica.

Na opção enquete, constatamos a predominância da temática Gerência de Serviços e Unidades de Informação, em 4 dissertações, com 49% do total sob esse enfoque, abrangendo estudos sobre recursos humanos e sobre planejamento, organização e gerência de serviços e unidades de informação. A seguir, o tema Estudos de Usuários, Demanda e Uso da Informação e de Unidades de Informação, em 2 dissertações, com 25% do total, uma sobre uso e impacto das novas tecnologias de comunicação e informação, e a outra, sobre usos da informação e de unidades de informação. Essas duas classes temáticas foram também as mesmas que predominaram na opção metodológica estudo de caso. Além dessas, as classes temáticas, Comunicação, Divulgação e Produção Editorial e Assuntos Correlatos e Outros foram também estudadas, empregando a enquete como opção metodológica, com uma dissertação em cada classe (GRÁF._4).

A opção pela análise de conteúdo foi a terceira metodologia mais empregada pelos autores (GRÁF._5). Foi utilizada em cinco (5) dissertações na classe temática Comunicação, Divulgação e Produção Editorial, envolvendo estudos sobre fontes de informação; canais, veículos, ciclos e modelos de comunicação, e sobre jornalismo científico. As classes temáticas Informação, Cultura e Sociedade e Processamento, Recuperação e Disseminação da Informação comparecem com uma dissertação em cada, abrangendo estudos sobre impacto das novas tecnologias da informação e da comunicação e sobre linguagens documentárias, respectivamente.

Esses resultados também diferem daqueles obtidos por Bufrem e por Oliveira. No estudo de Oliveira (1998), não foi identificada a opção metodológica análise de conteúdo; no estudo de Bufren (1996), essa prática metodológica comparece em décimo segundo lugar, sendo identificada em apenas 3 das 215 dissertações analisadas no período estudado, perfazendo o percentual de 1,4% desse total. Os temas Processamento e recuperação da informação e Comunicação científica e tecnológicaforam abordados em duas dessas dissertações.

Outras opções metodológicas foram identificadas, tais como o estudo comparativo, a pesquisa histórica, o estudo teórico, o estudo bibliométrico, o estudo etnográfico, a pesquisa de avaliação e a análise fenomenológica, mas foram utilizadas em proporções bem menores, conforme mostrado no GRÁF._2. Os temas mais pesquisados sob esses enfoques metodológicos foram Gerência de serviços e unidades de informação, Aspectos teóricos e gerais da ciência da informação e Comunicação, divulgação e produção editorial.

Dentre as principais diferenças constatadas entre os resultados que obtivemos e aqueles identificados na pesquisa de Bufrem (1996), relativos às temáticas mais investigadas e às opções metodológicas mais utilizadas em cada estudo, destacamos a predominância da temática Gerência de serviços e unidades de informação e dos estudos de caso, nas dissertações da UFMG, enquanto que, no IBICT, destacou-se a predominância da temática Padrões e estruturas da informação registrada e o estudo bibliométrico foi a prática metodológica mais empregada. Considera-se que houve uma grande influência dos professores estrangeiros na adoção dessa metodologia, sobretudo na primeira fase do Curso, entre 1970 e 1975: "além da expressiva influência exercida pelos professores estrangeiros, outra pressão tinha sua origem na política institucional do país, reforçada a partir de 1975 pela transformação do IBBD em IBICT, colocando a necessidade de mapeamento da atividade científica como um todo" (BUFREM, 1996, p.91-93).

Essas pressões não são mais tão evidentes na década de 90 e, no caso da UFMG, apenas duas dissertações analisadas utilizaram o enfoque metodológico estudo bibliométrico (3% do total), com estudos sobre citação e autoria, no âmbito da classe temática Comunicação, divulgação e produção editorial.

Ao comparar a produção acadêmica da pós-graduação da UFMG com a do IBICT, um dos entrevistados destacou algumas características básicas dos dois Programas, acentuando suas principais diferenças, como o volume maior de dissertações e teses defendidas no IBICT e sua tendência em se lançar em temáticas de maneira mais independente em relação à biblioteconomia, além de mais experiência no desenvolvimento de pesquisa em grupo.

6 Considerações finais Os resultados parciais apresentados acima permitem constatar que a produção discente do Curso de Mestrado em Ciência da Informação da UFMG acompanha o estágio de desenvolvimento da área no Brasil. De acordo com a opinião dos entrevistados, em termos de qualidade, não se observa desnível entre essa produção e a produção de outros programas, mas em termos de volume, ela ainda é pequena. No que diz respeito às temáticas mais investigadas, consideramos que mais semelhanças do que diferenças entre os resultados encontrados na produção acadêmica da UFMG e aqueles produzidos nos demais programas da área.

Quanto às opções metodológicas, constatamos a predominância da pesquisa empírica, com o predomínio das abordagens quantitativas, sendo o estudo de caso o procedimento metodológico mais utilizado. Destaca-se ainda a presença pouco relevante da pesquisa teórica ou conceitual, característica que a produção da UFMG partilha com outros programas revelando, assim, uma das fragilidades teóricas e metodológicas da própria área.

Esses aspectos vêm sendo recorrentemente apontados na literatura especializada e nos Documentos de Área da CAPES. Conforme o último Documento, em que são apresentados os resultados da avaliação dos Programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação relativa ao triênio 2001/2003, a área teve uma evolução constante, porém discreta e insuficiente para acompanhar o sistema nacional de pós-graduação como um todo. Mesmo lentamente, a área cresceu tanto quantitativa quanto qualitativamente, salientando-se essa melhoria, sobretudo, no que diz respeito a dois aspectos considerados fundamentais pela avaliação: a inserção das pesquisas no campo da ciência da informação e a produção bibliográfica resultante deste esforço. Ao longo do triênio 2001/2003 foram realizadas modificações no enunciado das áreas de concentração e linhas de pesquisa dos programas de pós-graduação, os quais incorporaram o caráter interdisciplinar de seu objeto e passaram a perseguir a construção disciplinar do mesmo, conferindo uma maior consistência a essas áreas de concentração e linhas de pesquisa. Por outro laado, observou-se também que a pesquisa merece muita atenção, pois ainda se enuncia de forma excessivamente localizada, no tempo e no espaço, raramente perseguindo objetivos generalizáveis. Embora a percentagem de "estudos de caso" venha diminuindo, a mesma ainda constitui a tônica das dissertações de mestrado e de uma parcela das pesquisas sob a responsabilidade do corpo docente.

Parece que os problemas identificados na produção acadêmica da UFMG refletem os próprios problemas da área. A dificuldade em definir exatamente o que é ciência da informação; a ausência de grupos de pesquisa consolidados; e o curto espaço de tempo de existência da área no país e sua institucionalização, contribuem para acentuar essa dificuldade. Esses foram alguns dos aspectos destacados por um dos entrevistados, quando nos referimos à essa produção acadêmica e sugerimos que fizesse uma avaliação do Programa destacando os seus pontos positivos e suas fragilidades. Com relação aos pontos positivos, considerou que são decorrentes da trajetória e experiência da Escola de Ciência da Informação da UFMG. Essa atuação positiva que a Escola vem mantendo para assegurar uma produção acadêmica de qualidade também foi destacada por outro entrevistado, que considerou que a UFMG possui dois grandes trunfos que se refletem na sua produção: um deles é a boa base institucional que o Programa tem e o outro, é o corpo docente bem titulado e numericamente expressivo. Outro ponto positivo destacado refere-se ao fato de, ao longo do tempo, não ter havido interrupção no ritmo de produção, com uma boa distribuição anual no número de dissertações e, ultimamente, de teses. Trata-se de um Programa respeitado por sua solidez institucional, o que é muito importante. Em termos gerais da ciência da informação no Brasil e não apenas na UFMG, o entrevistado considerou também que as dissertações alcançaram um patamar de qualidade muito bom, o mesmo não acontecendo ainda com as teses. Os doutorados são recentes, carecem ainda de um maior amadurecimento da área em termos de pesquisa, para que se tenha uma produção de teses com qualidade. Chamou a atenção para o fato de a década de 90 ter sido muito importante para o desenvolvimento da área e de seus Programas, tendo havido ganho de visão e amadurecimento, embora a área caminhe devagar, e seja pouco expressiva na sua produção e pouco conhecida. " necessidade de se criar uma terceira via, um caminho que permita seu desenvolvimento, que ganhe em expansão e mantenha a qualidade do seu perfil", destacou.


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