Proteção ao conhecimento: análise dos impactos positivos e negativos do
vazamento de conhecimento em empresas no Brasil e no Reino Unido
Introdução
Observa-se, hoje, que a maior parte do valor dos produtos das empresas é
produzida em redes e não mais isoladamente por uma única empresa (CASTELLS,
2000). Estas redes têm a principal função estratégica de propiciar
competitividade com dinamismo e versatilidade, formando arranjos de alto valor
agregado que disputam mercados em praças variadas (REAGANS e Mc EVILY, 2003).
Portanto, recursos que são críticos para a competitividade das empresas, tal
como o conhecimento e a inovação, precisam ser compartilhados, explorados e
aplicados, dentro da perspectiva das redes. (DYER & NOBEOKA, 2000; GULATI,
NOHRIA & ZAHEER, 2000, TEIXEIRA ET AL, 2005, VASCONCELOS ET AL, 2005).
Esta estrutura em rede criou uma grande complexidade nos ambientes internos e
externos das organizações, e aumentou os esforços para uma efetiva gestão do
conhecimento estratégico e da inovação. Este tema representa hoje um assunto
central para inúmeras pesquisas que procuram captar a sofisticação das relações
entre as empresas e caracterizar a dinâmica competitiva das cadeias produtivas
na atualidade. Um dos pontos mais importantes a serem observados e
compreendidos, neste contexto, é o aumento expressivo do fluxo de conhecimento
intra e inter empresas, e a análise dos seus impactos, que podem ser positivos
ou negativos. Na chamada sociedade do conhecimento, o crescente fluxo de novos
conhecimentos que mantém os mercados em movimento contínuo tem requerido das
empresas uma concentração na sua capacidade inovativa. Dyer (1996) argumenta
que empresas que participam de redes podem levar vantagem em relação às
empresas independentes, porque seus parceiros podem fornecer-lhes recursos e
informações que respondam efetivamente a choques exógenos. Assim, ele enfatiza
que o valor adicionado da empresa vem da conversão dos seus ativos genéricos
(capital, matéria prima, competências gerais, etc.) para ativos especializados
(tecnologia, competências centrais, processos especializados, etc.), e que
estes ativos especializados podem ser produtos da relação da empresa com os
seus parceiros de negócios. O relacionamento cooperativo, além de dar acesso ao
conhecimento dominado pelo parceiro, permite que a empresa ainda mantenha e
melhore suas habilidades centrais. (BESSANT, KAPLINSKY, ET AL., 2003, 2003 a).
Para Kale, Singh & Perlmutter (2000), os estudos sobre redes estão tendendo
para a questão do aprendizado. A possibilidade de acessar ou adquirir
informações críticas, know-how ou capacitações do parceiro são freqüentemente
citadas como sendo as maiores motivações para a formação de redes. Estas redes
são vistas, não somente como um meio de negociar acesso às capacitações
complementares do outro, mas também como um mecanismo para adquirir ou
internalizar as técnicas e habilidades do parceiro. Os autores ressaltam que
alianças com o objetivo de aprendizagem constituem uma importante classe de
aliança. As empresas enfrentam o desafio de gerenciar o equilíbrio entre
aprender e proteger os seus conhecimentos estratégicos (TEIXEIRA ET AL, 2005).
Yoshino e Rangan (1996) também ressaltam que o aprendizado é sempre um objetivo
estratégico implícito para cada empresa que participa de redes. Tais redes
englobam o conjunto, tanto horizontal como vertical, de relacionamentos de uma
empresa com outras organizações - sejam elas fornecedores, clientes,
competidores, ou outras entidades - incluindo relações entre indústrias e
países. Estas redes estão compostas muitas vezes de laços duradouros, de
significado estratégico para as empresas que entram nelas, e incluem alianças
estratégicas, empreendimentos conjuntos e parcerias de longo prazo. Segundo
Gulati, Nohria, & Zaheer (2000), as redes fornecem às empresas informações,
conhecimentos, recursos, acesso a outros mercados e a outras tecnologias;
favorecem o aprendizado e podem gerar economias de escala e de escopo, dentre
outros. Dyer & Nobeoka (2000) argumentam que estas redes podem ser meios
eficazes de aprendizagem inter organizacional, onde os clientes e os
fornecedores podem vir a ser fontes primárias de inovação. (VASCONCELOS ET AL,
2005).
Algumas questões especiais emergem quando se observa o posicionamento e o valor
dos profissionais, empregados diretos, terceirizados, alocados temporariamente
ou mesmo contratados de prestadores de serviços, para a formação destas redes.
A literatura ressalta várias iniciativas de empresários e demais formadores das
redes empresariais no sentido de definir políticas de gestão de recursos
humanos destinadas a manter, proteger e valorizar o capital intelectual
desenvolvido, adquirido e formado através da evolução do trabalho dos
profissionais que atuam nestes complexos sistemas organizacionais. (CHOO, 1998;
JAMIL, 2006)
Deve ainda ser ressaltado que tais redes se formam com apoio intensivo de
tecnologia da informação e de comunicação, para atuar como preconizado, em
termos de competitividade e flexibilidade, formando cadeias produtivas
inovadoras (LUCAS, 2006). Entretanto, tais redes tecnológicas trazem, como
contrapartida ao atendimento aos pressupostos estratégicos de maior dinamismo e
versatilidade, vulnerabilidades advindas da complexidade e interconexões de
equipamentos, software, e da interação entre usuários, que se comunicam através
da interface provida pelo aparato de poderosos sistemas de informação.
Outro aspecto ressaltado por vários autores é o fato de que as empresas não
conseguem ao mesmo tempo ser competitivas e desempenhar todas as atividades
dentro da sua cadeia de valor. Elas precisam se concentrar nas suas
competências essenciais (PRAHALAD & HAMEL, 2000) e terceirizar outras
atividades. A terceirização tem sido praticada de forma crescente,
principalmente para fornecedores nos países em desenvolvimento, como por
exemplo, a China. A governança da rede passa a ser uma competência essencial
para as empresas mais competitivas. Achar uma posição sustentável dentro desta
crescente cadeia de valor global passa a ser um desafio constante para as
empresas, pois elas passam então a ter de enfrentar o duplo desafio de
aproveitar e usar os novos conhecimentos oferecidos pelos parceiros e, ao mesmo
tempo, assegurar que conhecimentos estratégicos, que constituem competências
essenciais, não sejam vazados nestas redes. É neste contexto que se ressalta a
importância dos conceitos de proteção e de vazamento de conhecimento.
(KAPLINSKY ET AL, 2006).
O objetivo do artigo é entender como as empresas estão lidando com o vazamento
de conhecimento e suas conseqüências, visando proteger o seu conhecimento
estratégico. No artigo se analisou as diferentes rotas de vazamento e como as
empresas entendem este conceito. Inicialmente são discutidos os impactos
positivos ou negativos que o vazamento de conhecimento, intencional ou não,
pode ocasionar na competitividade das empresas. São apresentados os resultados
de uma pesquisa exploratória sobre o tema, envolvendo entrevistas com gestores
de empresas de grande porte no Brasil, e uma comparação com estudos de caso
realizados na Inglaterra.
O vazamento de conhecimento
O conceito de vazamento de conhecimento (knowledge leakage) ainda representa um
ponto pouco discutido na literatura sobre gestão do conhecimento. Outros termos
podem ser encontrados para designar este fenômeno: perda ou fuga de
conhecimento (knowledge loss), escoamento de conhecimento (knowledge seepage)
ou exposição/revelação de conhecimento (knowledge disclosure). Annansingh
(2005) define o vazamento de conhecimento como sendo a possibilidade de
informações e conhecimentos, críticos para a organização, serem perdidos ou
vazados, de forma deliberada ou não, para um competidor ou pessoa não
autorizada.
É importante ressaltar que o vazamento de conhecimento se refere tanto à
absorção como à transferência de conhecimento, que acontece na interação das
empresas com o seu ambiente de trabalho. As conseqüências ou impactos desse
vazamento, na vida das empresas, podem ser positivos ou negativos. Por exemplo,
compartilhar conhecimento na cadeia de suprimento pode ocasionar a melhoria de
produtos e de processos e, consequentemente, aumentar a competitividade da
organização. Por outro lado, compartilhar conhecimento estratégico de forma
inadequada (ou para um parceiro inadequado) pode ocasionar a diminuição da
competitividade. Entender esta dinâmica do processo de vazamento de
conhecimento e de suas conseqüências traz novos desafios para as empresas na
utilização total ou parcial dos seus conhecimentos estratégicos nas suas
parcerias. Devido à sua importância, o vazamento de conhecimento precisa ser
analisado e entendido, principalmente no contexto das redes, em que as empresas
estão inseridas (MOHAMED ET AL, 2006).
Várias são as situações que permitem vislumbrar a avaliação positiva ou
negativa do vazamento de conhecimento, quando se verificam processos decisórios
típicos da gestão, considerados ainda sob a ótica da atuação em rede. Entre
estes casos, verificam-se em Kotler e Armstrong (2003), com relação ao processo
de marketing, e em Kalakota e Robinson (2002), em relação a aspectos da cadeia
de suprimentos integrada através de sistemas tecnológicos de Business to
Business (identificados pela sigla B2B) e de suporte à gestão de logística
propriamente dita, nas soluções denominadas Supply Chain Management
(identificados pela sigla SCM). Tais situações, entre várias outras, permitem
tanto verificar a complexidade das redes quanto avaliar as interações nos
inúmeros processos decisórios destinados ao planejamento e à execução destas
atividades, apontando os riscos (negativos) e possíveis benefícios (positivos)
do vazamento de conhecimento.
Segundo Kaplinsky et al (2006), o vazamento de conhecimento precisa ser
analisado de forma integrada na empresa, e deve ser observado o balanço entre
perdas e ganhos de conhecimento que acontecem nas ligações entre as empresas.
Os autores destacam que a análise do vazamento de conhecimento nas organizações
envolve vários campos de estudo, como: gestão do conhecimento e da inovação,
estratégia, recursos humanos, análise de risco, cadeias de suprimento, cadeias
de valor, competências essenciais, análise de produtividade, confiança,
pesquisa e desenvolvimento, etc. Segundo os autores, a literatura falha ao não
dar ênfase ao vazamento positivo de conhecimento. Outros pontos pouco
discutidos na literatura são: o grau de intencionalidade do vazamento de
conhecimento, a avaliação estratégica do fato "vazamento de conhecimento" e as
estratégias de proteção aos conhecimentos usados pelas organizações.
Vetores do vazamento de conhecimento
Kaplinsky et al (2006) observam que o vazamento de conhecimento envolve seis
diferentes vetores, que são: fornecedores, clientes, competidores, os recursos
humanos da empresa, o relacionamento da empresa com o sistema de inovação e as
ações relacionadas à propriedade intelectual. Em cada um destes vetores, a
empresa terá múltiplas formas de interação com outras organizações. Estas
interações podem envolver ações intencionais (por exemplo, a entrega de manuais
para clientes ou para fornecedores) ou não intencionais (como perda de equipe
de projetos através da terceirização da atividade). Os impactos destes
vazamentos podem ser positivos ou negativos.
Mohamed et al (2006) propõem um modelo para análise do vazamento de
conhecimento através do fluxo de pessoas na organização. O modelo (FIG_1)
caracteriza o vazamento em dois grupos: intencional e não intencional. Além
disto, o modelo caracteriza o tipo de impacto ocorrido: positivo ou negativo. O
modelo proposto permite uma análise da estrutura do vazamento de conhecimento,
que pode ser utilizado pelas empresas no desenvolvimento de estratégias para a
proteção dos conhecimentos que compõem suas competências essenciais.
Mohamed et al (2006) ressaltam que:
* O vazamento de conhecimento é hoje um conceito crescentemente
estratégico. O desafio para as empresas é fazer uma análise do fluxo de
conhecimento de forma explícita e intencional, que normalmente é feita de
forma implícita e não intencional.
* É preciso criar rotinas que potencializem os impactos positivos de
vazamento de conhecimento e reduzam os impactos negativos. Isto deve ser
feito em todos os níveis da empresa.
* As empresas precisam reconhecer que trabalham em diferentes redes, com
diferentes graus de confiança entre os membros.
* O vazamento de conhecimento acontece tanto nas grandes como nas pequenas
e médias empresas.
Os autores desenvolveram uma pesquisa para identificar as rotas de vazamento de
conhecimento que acontece através das pessoas nas empresas. As principais rotas
identificadas se encontram no Quadro_1.
Deve ser contemplado, em adição, segundo levantado na revisão de literatura
feita anteriormente, que o vazamento de conhecimento, ao envolver processos
decisórios estratégicos, implica em valorizar pesquisas sobre o tema, uma vez
que a atuação empresarial em rede torna-se, no atual panorama, irreversível,
assim como sua complexidade e uso de infra-estruturas tecnológicas.
Com base na importância do impacto do vazamento de conhecimento nas empresas,
foi elaborada uma pesquisa exploratória com empresas brasileiras para
identificar as principais rotas de vazamento. Para a análise dos dados, foi
utilizada a taxonomia de vazamento de conhecimento proposto por Mohamed et al
(2006), isto é, que o vazamento pode ser intencional ou não, com impactos
positivos ou negativos.
O próximo item apresenta a metodologia utilizada na pesquisa.
Aspectos metodológicos
A pesquisa que subsidiou os resultados deste estudo pode ser caracterizada como
um estudo de campo exploratório, de caráter qualitativo, realizado por meio da
técnica de entrevistas, utilizando questionário aberto. Foi realizada uma
investigação empírica junto a 4 (quatro) gerentes de 4 (quatro) empresas de
grande porte nacionais e multinacionais, atuantes no Brasil, para obter dados
sobre vazamento de conhecimento e seus impactos, nos setores listados abaixo:
* Empresa 1: do setor eletroeletrônico
* Empresa 2: do setor de mineração
* Empresa 3: do setor automobilístico
* Empresa 4: do setor de equipamentos eletrônicos (distribuição)
A pesquisa pode, ainda, ser classificada como de natureza descritiva, uma vez
que se propõe à obtenção e exposição de dados representativos de determinada
situação ou fenômeno. Segundo Rudio (1986, p. 56), o propósito desse tipo de
pesquisa é "descobrir e observar fenômenos, procurando descrevê-los,
classificá-los e interpretá-los". Este trabalho é ainda um estudo de caso, uma
vez que está circunscrito a poucas empresas e tem o objetivo de examinar
acontecimentos contemporâneos (YIN, 2001). Os levantamentos feitos foram
estudados posteriormente à sua coleta, visando categorização do conteúdo, para
melhor elaboração das conclusões do estudo, como recomenda Gil (2002).
O roteiro de entrevista usado na pesquisa foi o mesmo utilizado por Mohamed et
al (2006) e foi enviado inicialmente via internet, para que os entrevistados
tomassem conhecimento sobre as questões a serem respondidas. Depois disto,
vários contatos foram feitos com os entrevistados, tanto por e-mail como por
telefone, no sentido de eliminar dúvidas, tanto relativas às perguntas como às
respostas. As respostas obtidas nas entrevistas foram agrupadas e analisadas na
tentativa de uma categorização.
Considera-se que a pesquisa seja relevante, pois ainda não são bem
compreendidas as rotas através das quais o conhecimento vaza das empresas. Só
após esta compreensão será possível proteger o conhecimento estratégico das
empresas, maximizando os impactos positivos e minimizando os impactos negativos
deste vazamento. A pesquisa pode propiciar um maior conhecimento sobre estes
mecanismos, de forma a dar suporte às empresas na busca da competitividade. A
conscientização dos riscos potenciais do fluxo sem controle, de conhecimentos
específicos, pode subsidiar, no futuro, políticas governamentais, e oferecer às
empresas um guia para uma adequada participação em redes, na busca pela
inovação e competitividade.
Análise dos resultados
As respostas dos gerentes empresariais, em relação a temas ligados à gestão e
proteção do conhecimento e, especificamente, sobre o vazamento de conhecimento
e suas rotas foram agrupadas numa tentativa de categorização.
Gestão do conhecimento e mensuração do impacto do conhecimento
Sabe-se que a definição e o controle de indicadores de gestão do conhecimento
ainda representam um desafio para as organizações. Esta dificuldade ficou bem
evidenciada nas respostas dos gerentes, quando questionados sobre a importância
do conhecimento e as medidas usadas pela empresa para mensurar o sucesso do
conhecimento. Com exceção do indicador de número de patentes, que é um
indicador que mede resultados, os outros indicadores citados foram de esforço:
Os produtos estão cada vez mais complexos e o conhecimento embutido neles é
múltiplo. Ninguém individualmente domina o conjunto completo. Por um lado, isso
reduz o impacto, por outro lado, aumenta a importância de reduzir as perdas de
conhecimento. O emprego de PDT ' Product Development Team e engenharia
simultânea contribuem para o paralelismo das atividades e compartilhamento do
conhecimento geral. Uma medida do sucesso do conhecimento usada na empresa é o
número de patentes requisitadas, superior a 4 mil por ano na empresa. (E1)
O conhecimento foi um dos fatores críticos que mais contribuiu para que a
companhia chegasse aonde chegou e com as perspectivas futuras que possui.
Entretanto, mensurar o valor do conhecimento é um dos desafios que as
organizações devem enfrentar na era do conhecimento. (...). É preciso que se
perceba que essa nova dimensão dada ao conhecimento traz à tona questões
delicadas, complexas e multifacetadas para as organizações, seus gerentes e
seus respectivos tomadores de decisão. (E2)
Acredito que temos boas práticas já consolidadas tais como relacionamento com
universidades na formação de nossos empregados e no desenvolvimento de novos
conhecimentos; adoção de mapas de competências em todas as áreas da organização
como instrumento de gestão e desenvolvimento de pessoas. Possuímos uma
Universidade Corporativa para atender as necessidades de treinamento. Porém,
não percebo um sistema integrado e planejado para a gestão do conhecimento (E3)
Avaliamos a importância do conhecimento embutido nos nosso produtos pelo
feedback dos clientes que podem qualificar o quanto nosso suporte de informação
e conhecimento os ajuda e nos habilita a fechar negócios e ser reconhecido como
confiável. Também serve para nos balizar em relação ao mercado (E4)
Foi perguntado aos entrevistados se as respectivas empresas tinham estratégias
de captura de conhecimento. Algumas empresas ainda se mostraram na fase inicial
da estruturação de sistemas de captura.
As ferramentas de TI como groupwaree portais de uso coletivo facilitam o
registro de conhecimento (E1)
A possível solução passa por uma Transferência Estruturada do Conhecimento
através de um processo sistemático e devidamente orientado, em que o detentor e
o receptor do conhecimento são levados a refletir sobre as suas realidades e os
aspectos importantes para o bom desempenho da função. Associado a isto, também
devem ser tomadas medidas de cunho jurídico com vistas a assegurar o sigilo com
relação a informações estratégicas. (E2)
Não existe uma estratégia robusta e compartilhada pela alta direção neste
sentido, o que ocorre são algumas práticas internas. Usamos multiplicadores
internos, metodologia de gestão chamada trabalho padronizado, que permite a
todos os turnos trabalharem de forma padronizada (neste processo o conhecimento
tácito é explicitado). No ambiente de produção temos grupos de metodologistas e
Condutores de Processos que têm o papel de atuarem como "Treinadores" do
pessoal operacional. A empresa possui procedimentos e normas que regulamentam
todas as suas atividades, a maioria está disponível na intranet do Grupo. Estes
procedimentos e normas não são apenas focados no sistema de funcionamento da
empresa, mas também temos procedimentos e normas técnicas que orientam o
desenvolvimento, a fabricação e a verificação de qualidade de nossos produtos e
dos produtos fornecidos por terceiros. (E3).
Não, a empresa não tem mecanismos de captura de conhecimento estruturado. (E4)
Conceito de vazamento de conhecimento
Quando questionados sobre a definição do termo "vazamento de conhecimento" e as
suas conseqüências, os entrevistados se mostraram informados sobre esta questão
e preocupados com os impactos deste vazamento para a empresa. Alguns trechos
citados abaixo mostram esta preocupação. Observa-se que o vazamento é ainda
fortemente associado aos impactos negativos, e não aos impactos positivos,
conforme descrito na literatura.
A perda do conhecimento é muito grave para nossa empresa, cuja base é a
inovação. Nosso maior desafio tem sido lidar com perdas de funcionários para
outras empresas (E1)
O termo fuga do conhecimento significa que informações consideradas sigilosas
escapam para o ambiente através das interações da empresa ou de seus
funcionários com outros elementos do mercado. (E2)
Para mim significa a perda de conhecimento importante ou estratégico para a
organização, seja por perda de recursos humanos, vazamento de conhecimentos
estratégicos, falhas de sistemas informativos, entre outros (E3)
Significa a transferência do conhecimento para dentro e fora da organização
(E4).
Rotas de vazamento
As principais rotas de vazamento de conhecimento citadas, com impacto negativo,
foram: roubo, desleixo ou indiferença do colaborador, falhas no sistema
eletrônico, participação em conferências, consultores, revistas e jornais da
empresa, espionagem industrial, profissionais terceirizados, atividade de co-
design com fornecedores e as estruturas matriciais para a elaboração de
projetos. Foram ressaltadas as preocupações relativas à rota de vazamento via
consultores. Observa-se, mais uma vez, pelas respostas obtidas, que o vazamento
do conhecimento está fortemente ligado aos impactos negativos. A seguir se
encontram alguns trechos das declarações dos pesquisados sobre as várias rotas
de vazamento de conhecimento.
Roubo:
Sim. Já ocorreu gerando perdas em concorrências. Estagiário demitido. (E1)
Indiferença do colaborador:
Pouco freqüente. Empresa remunera cross-selling (indicações de negócios feitas
por um colaborador para outras áreas de negócios). (E1)
Sistemas de informação:
O vazamento é pouco freqüente. Uso crescente de mensagens e arquivos
criptografados usando crachá com chip (smart-card) (E1)
Pouco prováveis. Os sistemas geralmente não falham. (E2)
Sim, já houve perdas de informação por problemas de backup. (E4)
Participação em conferências:
Nestes eventos não são fornecidos detalhes tecnológicos. A abordagem é
comercial com mínimo de técnica. (E1)
Representa ótima oportunidade para a prática de Benchmarking e Engenharia
Social. (E2)
Consultores:
Canal perigoso. Pode ocorrer. (E1)
Particularmente eu os considero muito perigosos. (E2)
Revistas e jornais da empresa:
Já ocorreu de vazar informações sobre grandes negócios e que podem ser usados
pelos concorrentes. O inverso também existe. Descobri muita coisa lendo o
jornal da concorrente. (E1)
Gestão do vazamento de conhecimento
Outra questão colocada aos gerentes foi relativa à gestão do vazamento de
conhecimento. As respostas mostraram que algumas empresas estão desenvolvendo
ações para minimizar o vazamento negativo, principalmente em relação à retenção
de talentos, análise de risco e proteção física dos sistemas:
Trabalha-se com estratégias de proteção física e de retenção de talentos. (E1)
Através de procedimentos internos sigilosos. A título de informação, são
executados procedimentos tais como: identificação dos perigos e análise do
risco; identificação, análise e aprovação das medidas de controle;
implementação das medidas de controle do risco e avaliação dos riscos
residuais; monitoramento e revisão das medidas de controle do risco. (E2)
Temos a identificação de um grupo de pessoas classificados como Key People.
Para estes fazemos uma gestão mais particularizada, ou seja, seguimos de perto
no intuito de fazermos uma política de retenção, porém não declarada e bastante
sutil. (E3)
Não temos um processo de gerenciamento de risco (E4)
Um dos blocos de perguntas da pesquisa focalizou as principais causas de saída
das pessoas da empresa, seja por aposentadoria, nova oportunidade profissional,
promoção, etc. O objetivo era explorar quão dependente é a empresa de pessoas
específicas, o que acontece quando os profissionais saem da empresa, o
treinamento de substitutos e os processos de segurança do sistema para que os
ex-funcionários não tenham mais acesso. As respostas estão citadas abaixo.
Turn-over:
Sobre a perda de conhecimento, ocasionada pelo turnover na empresa, as
respostas foram muito variáveis, indo de empresas com processos bem definidos
para evitar perda de conhecimento e outras ainda em fase de estruturação.
Nosso turn-over é muito baixo (<0,5%). A empresa tem um programa intensivo de
trainees e de carreira. A empresa atrai facilmente novos talentos (E1).
A companhia está estruturando um programa de gestão do conhecimento associado a
uma política de segurança da informação rigorosa. Com isso, um dos objetivos
que esperamos atingir é exatamente a prevenção deste tipo de fuga de
conhecimento, diminuindo o turn-over. (E2).
Para nossa organização seria catastrófica uma taxa de turnover alta. Temos uma
taxa normal de +/- 0,8 % de turnover para os mensalistas e de +/- 1,5% para os
horistas, sendo que em relação apenas aos pedidos de demissão esta taxa cai a
+/- 0,04 %. O aumento de um turnover espontâneo nos cargos operacionais não
seria problema, pois temos um sistema estruturado para capacitar de forma
rápida pessoas sem conhecimentos específicos em fabricação de motores. Porém,
no caso de pessoal especializado (foco na Engenharia de processo e Engenharia
de Produto) não temos como repor eventuais saídas sem que venhamos a perder um
pouco do conhecimento. O mercado em que estamos inseridos não fornece recursos
com experiência no ramo automobilístico. Desta forma, levamos um tempo
considerável para a formação de nossos engenheiros. A entrada de muitos
substitutos poderia paralisar estes setores. (E3).
Sobre a dependência da empresa de funcionários que detenham conhecimentos
específicos, foi possível observar grandes preocupações dos respondentes e
grandes dependências:
Pela complexidade, o conhecimento é distribuído normalmente em várias pessoas,
mas em alguns casos (10%) está concentrado (E1).
Somos uma companhia de classe mundial que possui mais de 40 mil empregados
próprios e 120 mil terceirizados, atuando em vários segmentos econômicos. A
companhia está totalmente automatizada e informatizada, no entanto ainda
existem alguns gaps que derivam dos conhecimentos particulares de alguns
empregados que são expoentes em suas respectivas áreas de atividades. Caso
estes empregados deixem a companhia, certamente alguns problemas surgirão.
Principalmente se eles forem parar na concorrência e levarem consigo
informações estratégicas sobre novos projetos e investimentos. (E2)
Em 2004 ficamos mais dependentes de certos especialistas, isto ocorreu pela
rápida inversão nos processos de desenvolvimento de novos produtos (Engenharia
de Produto). Foi transferida ao Brasil a responsabilidade de desenvolver por
completo os motores para o Mercosul. Alguns engenheiros foram treinados no
exterior e outros países para lidar com os novos processos e tecnologias
(simulação de motores, transmissão automática, etc.). (....) não conseguimos
ainda compartilhar de forma estruturada o know how aprendido com outros
engenheiros da organização, criando assim um "back up de conhecimento". (E3)
A empresa é muito dependente de cada pessoa, principalmente nos segmentos de
high end, onde o conhecimento do produto, do mercado e das pessoas é
diferencial competitivo. 10% das pessoas da empresa são responsáveis pelos
produtos de high end (alto valor) e correspondem a 40% do faturamento da
empresa (E4).
Saída de funcionários "chave"
Sobre o impacto, na empresa, da saída de funcionários considerados "chave" e
que detenham conhecimentos específicos, os respondentes mostraram grande
preocupação:
Em minha opinião, devido à fuga de conhecimento derivada da saída dos
empregados, os prejuízos financeiros são muito grandes e podem colocar até
mesmo a sobrevivência das empresas em jogo. Daí a necessidade de haver uma
fiscalização efetiva e sistemática de todo conhecimento produzido dentro das
empresas. (E2)
A saída destes funcionários poderia colocar em risco o cumprimento do plano de
lançamentos de novos produtos, o qual é vital para nosso cliente principal.
Pelo fato destas pessoas estarem normalmente bem envolvidas nos processos
estratégicos da organização, poderia ocorrer o vazamento de informações
estratégicas de novos produtos. A concorrência teria muito interesse em
contratar este pessoal, em função não só do conhecimento pessoal, mas também
pelo conhecimento organizacional que estas pessoas possuem sobre modelo de
gestão, métodos, processos. Porém, por se tratar de uma multinacional, teríamos
a alternativa de trazer um especialista do exterior para momentaneamente cobrir
a falta, mas seguramente não seria uma operação de fácil realização. (E3)
Imenso. O conhecimento se perde. Já conversamos sobre esta hipótese e neste
caso o diretor da empresa está ciente do risco e se sujeita a perder
competitividade se esta pessoa se for, mas não tem como aumentar o efetivo para
a operação. (E4)
Sobre os procedimentos que a empresa desenvolveu para que o conhecimento não
seja perdido para sempre e possa ser mantido dentro da organização, as
respostas foram evasivas, em algumas das empresas. Em outros casos, as
respostas foram bastante preocupantes:
Manutenção de baixo turn-over, retenção de talentos no preventivo e plano de
carreira e formação contínua de equipes. A empresa valoriza o conhecimento e
paga por isso com certo nível de redundância. (E1)
Os primeiros passos estão sendo dados. No entanto, ainda não há nada
estruturado ou decidido de forma definitiva. (E2)
Classificamos esta situação como know how critical. Nestes casos, avaliamos,
junto com a liderança de cada área, quais são os know how critical em função de
algumas orientações, tais como: a) quando apenas 1 (um) profissional detém este
conhecimento e ele é considerado "Core" para a organização, b) dificuldade em
encontrar o know how disponível no mercado local, c) sinais de que o
especialista pretende deixar a empresa, d) facilidade ou não de se criar um
contexto para transferência de conhecimento para outra pessoa na organização,
(...), etc. Após a identificação do know how critical, a liderança junto com o
RH prepara um plano de desenvolvimento de uma outra pessoa na organização que
possa ser preparada para substituir ou mesmo ajudar/potencializar o empregado.
(E3)
Do ponto de vista de gestão do conhecimento, nenhum. O conhecimento não é foco
da estratégia da empresa e não há motivação para partilhá-lo. (E4)
Estratégia de preparação de substitutos
Sobre a estratégia de treinamento de profissionais substitutos, no caso de
perda do profissional titular, observa-se uma variedade grande, desde
contratação de novos profissionais no exterior até a falta total de estratégia:
* Isso pode incluir treinamento no exterior. A empresa tem poder de atrair
talentos prontos. (E1)
* Não se tem conhecimento (de estratégias) de forma oficial. (E2)
* A empresa tem um programa muito bem estruturado no caso de operadores de
produção. No caso recente das novas admissões de especialistas para a
área de engenharia, foi desenvolvido um programa para integração dos
mesmos que levou em consideração cursos técnicos, metodológicos e
comportamentais; outra prática constante é a realização de programas
trainees. Neste programa, temos a possibilidade de trabalhar por 1 a 1,5
anos com os trainees, capacitando-os para o exercício de suas futuras
funções. (E3)
* Sim, nos primeiros três meses a pessoa passa por todos os setores da
empresa para familiarizar-se com os processos. (E4)
Acesso de ex-funcionários
Sobre o risco de acesso de ex-funcionários aos sistemas de informações da
empresa e à base de conhecimento explícito, as empresas se mostraram bem
estruturadas.
São imediatamente removidos da lista de usuários. É crescente o emprego de
criptografia nas mensagens. (E1)
Basicamente são procedimentos já previamente definidos e consolidados que são
executados pelas áreas de TI e Segurança Empresarial. Porém, por determinações
internas não podemos revelar. (E2)
Quando estes saem da empresa, a área de Informática providencia seus
respectivos descadastramentos do sistema. A informática possui sistemas de
segurança que buscam gerenciar a entrada e saída de informações importantes.
(E3)
Basicamente, é comunicada a toda a empresa a saída do funcionário, seu acesso é
proibido e o acesso ao sistema é cancelado. (E4)
A pesquisa incluiu uma série de questões relativas aos riscos de vazamento de
conhecimento provocado pela terceirização de serviços. Seguem as respostas.
Profissionais e serviços terceirizados
Sobre a proporção e tipos de profissionais terceirizados, as empresas
demonstraram estratégias bastante diferentes, dependendo do setor em que atuam.
Quando questionados se mantinham profissionais terceirizados, responderam:
Muito pouco. Menos que 20%. Inclui obras civis e montagens industriais. No caso
de P&D existe sub-contratação do CESAR e GENIUS usando a lei da
informática. A terceirização é feita na China e Polônia. (E1)
É política da companhia terceirizar todas as áreas que não são atividade fim.
Porém, algumas áreas meio são estratégicas e não podem ser terceirizadas. (E2)
A maioria dos fabricantes de motores a combustão usina apenas as principais
peças do motor bloco/cabeçote/virabrequim e biela, e terceira o resto. (...)
Outra característica importante é que no desenvolvimento de produto
terceirizamos a parte de desenhos/CAD. Em finanças, terceirizamos a parte de
contas a pagar. Em RH, terceirizamos a freqüência/ registros/ e folha de
pagamento. Na manufatura, terceirizamos o abastecimento de linha, almoxarifado
e manutenção. (E3)
A empresa possui uma rede de distribuidores em vendas que responde por 20% do
faturamento, o restante a empresa não terceiriza. (E4)
Sobre os riscos associados à terceirização, as respostas foram bem
diversificadas, ressaltando-se o vazamento de conhecimento para os
concorrentes, pois os fornecedores participam de várias redes.
Maior risco são os de qualidade e prazo de entrega. Isso é controlado por
metodologia de PM-Project Management. . (E1)
São muitos. No entanto, em se tratando de Brasil, o maior deles é a
responsabilidade solidária em passivos trabalhistas. (E2)
Os riscos são: a transferência de informação estratégica, pois estes
fornecedores também fornecem para nossos concorrentes, dependência de um único
fornecedor local (...), grande influência dos componentes adquiridos de nossos
fornecedores na performance final de nosso produto junto ao cliente (erros de
fornecedores podem destruir a imagem de nosso produto junto ao cliente). (E3)
Perder o controle da efetividade da atuação no mercado (E4)
Pelo resultado da pesquisa exploratória, observa-se que o vazamento de
conhecimento acontece intensamente entre os funcionários e colaboradores das
empresas, no contato com o mundo dos negócios e com as redes das quais
participam. O vazamento está associado ao relacionamento entre fornecedores,
distribuidores, clientes, concorrentes, parceiros, etc. Este vazamento pode ser
intencional ou não. Entender este processo passa a ser um novo desafio para as
empresas, que devem planejar que tipo de conhecimento deve ser compartilhado,
visando o aumento da capacidade inovativa e da sua competitividade, conforme
ressaltado por Bessant, Kaplinsky et al. (2003; 2003a).
Comparação dos resultados com estudos realizados no Reino Unido
Em estudo recente, realizado por Mohamed et al (2006) com 6 empresas inglesas,
dos ramos de manufatura e projeto, pôde ser constatado que o vazamento de
conhecimento acontece de forma intencional ou não, com impactos positivos e
negativos (Quadro_1).
Os dois principais vazamentos intencionais e positivos observados na pesquisa
inglesa foram: via contratação de trainees e através da participação de
funcionários em cursos externos. O principal vazamento negativo, considerado
não intencional, foi relativo à contratação de funcionários chave da empresa
pelos concorrentes. Como exemplo de vazamento intencional negativo foi citado o
caso de um consultor em TI, que tinha acesso total aos sistemas da empresa e
que, portanto, tinha a oportunidade de copiar qualquer base de conhecimento da
organização.
Apenas duas das 6 empresas pesquisadas na Inglaterra apresentaram planos para a
substituição imediata de funcionários "chave", no caso de saída dos mesmos. Na
maioria dos casos, o novo funcionário acaba tendo de reaprender todo o know how
do novo serviço, começando normalmente do ponto zero. Este fato é
particularmente grave quando o conhecimento do antigo funcionário não está
incorporado em estruturas, procedimentos, normas, manuais, patentes, sistemas
de informação, etc.
Na pesquisa realizada no Brasil, também se pôde observar vazamentos de
conhecimentos, intencionais ou não, com impactos positivos e negativos. Nos
contextos onde o fato ocorreu, foram percebidas questões referentes à
comunicação entre profissionais, comunicação em treinamentos e atividades
participativas, e aplicação de ferramentas de tecnologia e sistemas de
informação, confirmando alguns dos cenários levantados na literatura e que
motivaram a pesquisa.
De maneira geral, as empresas explicitaram que o conhecimento precisa ser
valorizado e protegido, pois representa um dos fatores críticos para a
competitividade das mesmas. As parcerias com universidades foram citadas como
forma de produzir novos conhecimentos através do desenvolvimento de pesquisas.
As contratações de novos talentos e as universidades corporativas foram citadas
como forma de aquisição contínua de conhecimento pelas empresas e pelos
funcionários. Estes são exemplos de vazamentos intencionais e positivos de
conhecimento.
Como forma de minimizar o vazamento de conhecimento negativo, foi observada a
preocupação das empresas em manter um turn-over baixo, evitando assim a perda
de conhecimento para a concorrência. A perda de funcionários tidos como "chave"
ainda continua sendo um dos desafios das empresas brasileiras pesquisadas, que
nem sempre preparam substitutos para estes postos. Os consultores foram
citados, em particular, como sendo um canal propício e tido como "perigoso"
para o vazamento intencional de conhecimento com impactos negativos para a
empresa, devendo, portanto ser monitorado constantemente. Estes pontos
coincidem com aqueles levantados na pesquisa com empresas inglesas.
Algumas fragilidades observadas nas empresas brasileiras foram relativas à
captura do conhecimento dos funcionários. Algumas empresas citaram que o
registro do conhecimento estratégico é realizado através de portais
corporativos, procedimentos e normas. Outras empresas ainda não dispõem de
mecanismos para captura do conhecimento, mostrando não estarem ainda preparadas
para a efetiva proteção do conhecimento. O mesmo aspecto foi observado na
pesquisa inglesa, sinalizando ser este um desafio global.
Considerações finais
Este artigo teve como objetivo principal fazer um estudo exploratório sobre o
comportamento de empresas brasileiras em relação à proteção do seu
conhecimento, e analisar o conceito de vazamento de conhecimento e suas
principais rotas. Nesta análise foi usada uma taxonomia apresentada na
literatura para caracterizar este conceito. Foram apresentados os resultados de
estudos de caso com empresas que atuam no Brasil e foi feita uma breve
comparação com uma pesquisa realizada na Inglaterra.
Quando questionados sobre a definição do termo "vazamento de conhecimento" e
sobre as suas conseqüências, os entrevistados se mostraram informados sobre
esta questão e preocupados com os impactos deste vazamento para a empresa.
Observou-se que o vazamento é ainda fortemente associado aos impactos negativos
e não aos impactos positivos, conforme descrito na literatura. As principais
rotas de vazamento positivo de conhecimento foram: contratação de talentos,
treinamento, parcerias com universidades tradicionais, além dos benefícios das
universidades corporativas. Os consultores foram citados como sendo uma
possível rota de vazamento de conhecimento, com impacto negativo, devendo sua
atividade ser monitorada. Além disto, foi mostrada grande preocupação com a
perda de funcionários "chave" para a concorrência, que representa outra rota de
vazamento de conhecimento com impacto negativo. Outras rotas citadas foram:
roubo, desleixo ou indiferença do colaborador, falhas no sistema eletrônico,
revistas e jornais da empresa, serviços terceirizados e até mesmo a espionagem
industrial.
Pôde-se concluir que as empresas brasileiras pesquisadas já estão atentas para
algumas rotas de vazamento de conhecimento e para os impactos positivos e
negativos deste vazamento, mas muito ainda precisa ser feito para uma gerência
eficaz deste processo, visando maximizar os efeitos positivos, minimizar os
negativos e proteger o seu conhecimento estratégico.
Considera-se que a pesquisa seja relevante, pois ainda não são bem
compreendidas as rotas através das quais o conhecimento vaza das empresas, seja
através do fluxo de pessoas ou dos seus relacionamentos nas redes. Uma das
reflexões que o artigo proporciona está relacionada ao fato de que, apesar das
grandes vantagens que as redes com acesso aos conhecimentos tácitos podem
propiciar, existem vários riscos associados à participação nas redes. Estes
riscos devem ser analisados, de forma cuidadosa, pelos participantes. Um destes
riscos é o vazamento de conhecimento estratégico, que pode trazer impactos
negativos e positivos para a empresa.