Comportamento de busca e uso da informação: um estudo com alunos participantes
de empresas juniores
1 Introdução
O ambiente que se descortina dentro da sociedade da informação é composto por
pessoas e organizações que necessitam, buscam, disseminam e usam a informação
sem se preocupar com a sistematização desse processo. As organizações se vêem
envoltas por quantidades cada vez maiores de dados em seus sistemas
computacionais, gerando diariamente enormes volumes de informação sem o seu
devido gerenciamento. Para os usuários, esse excesso de informação se torna
angustiante, devido ao fato de eles terem acesso e não conseguirem absorvê-la,
usá-la para atingir um objetivo ou mesmo para executar alguma tarefa.
Para os indivíduos, de maneira geral, ter consciência sobre a necessidade de
informação é algo subjetivo e difícil de ser alcançado. Posteriormente, efetuar
a procura por essa informação depende da acessibilidade e da relevância das
fontes de informação, as quais são selecionadas conforme as escolhas subjetivas
do usuário. A confiança e a facilidade de acesso às fontes são fatores que
auxiliam na busca pela informação. O uso da informação, dentro da dinâmica
comportamental, está relacionado à transformação do usuário da informação em
agente ativo, de acordo com suas necessidades; à qualidade, acessibilidade e
confiança nas fontes disponíveis e escolhidas.
O presente trabalho tem o propósito de estudar como os alunos participantes de
empresas juniores (EJ)1, distribuídas pelo Brasil, se comportam diante de um
número previamente escolhido de fontes de informação, disseminadas por vários
meios formais ou informais, pessoais ou impessoais (CHOO, 1994) e também
eletrônicas e não-eletrônicas (PEREIRA, 2006). De acordo com o Conceito
nacional de Empresa Júnior (BRASIL JÚNIOR..., 2006), as EJ são organizações sem
finalidades econômicas, mas com fins educacionais. Elas têm seu próprio CNPJ,
garantindo assim sua atividade como sendo juridicamente válida ao prestar
serviços para as micro e pequenas empresas, por exemplo.
De forma geral, a pesquisa pretende fazer um levantamento e analisar o
comportamento informacional dos alunos participantes das empresas juniores, com
foco em como eles buscam e usam a informação para executar tarefas específicas
na empresa júnior. De maneira mais direcionada, pretende-se:
1. Determinar o perfil dos participantes de EJ segundo o gênero, a
idade, a universidade/ faculdade onde estudam, o curso de graduação
no qual estão matriculados, o tempo de empresa júnior, o papel dentro
da EJ, o tempo dedicado à EJ, e os principais tipos de clientes;
2. Analisar as diversas fontes de informação utilizadas pelos
participantes das EJ com base nos critérios de frequência de uso;
3. Avaliar a relevância das fontes de informação por parte dos alunos
participantes das EJ;
4. Avaliar qual o grau de confiabilidade das fontes de informação
buscadas pelos alunos participantes;
5. Analisar como os alunos participantes usam da informação para
executar suas tarefas nas EJ, com base na frequência de uso e na
importância das fontes.
2 Comportamento de busca e uso da informação
Para mudar o seu estado de conhecimento e "preencher" as lacunas cognitivas, o
indivíduo parte em busca da informação. O modelo apresentado por Ellis (1989) e
Ellis, Cox e Hall (1993) é também apresentado no artigo de Wilson (1999),
Models in Information Behavior Research e, através do estudo com cientistas
sociais, médicos pesquisadores e químicos, aponta padrões de comportamento em
que a busca é determinada por oito características: iniciação, encadeamento,
browsing (procura), diferenciação, monitoramento, extração, verificação e
finalização.
A iniciação são atividades características iniciais da busca por informação.
Encadeamento é uma seqüência ou cadeias de referenciais que se conectam entre
si. Browsing ou procura é uma busca semi-direcionada em um local de possível
interesse, sem compromisso. Já na diferenciação há uma consciência das
diferenças de natureza e qualidade do material pesquisado nas diferentes fontes
de informação. O monitoramento serve de manutenção da qualidade do
desenvolvimento em um campo, através do acompanhamento das fontes de
informação. Na extração, retira-se o que é material de interesse para algum
trabalho específico. Enquanto que a verificação são as atividades associadas à
checagem da precisão da informação. E, por último, a finalização, que é tratada
como as atividades características de busca de informação no final de algum
projeto, preparando para executar alguma tarefa ou em busca de algum objetivo.
A busca por determinada informação é dependente também da qualidade da fonte de
informação que irá determinar o padrão de busca e a facilidade de se acessá-la.
Wilson (2000) apresenta o conceito de comportamento de busca como sendo aquele
com conseqüências para satisfazer a uma necessidade ou atingir um objetivo
previamente planejado.
Para o autor supracitado, há dois conceitos que devem ser entendidos, pois eles
são sutis e se complementam dentro do comportamento de busca da informação. São
eles: information seeking behavior e information searching behavior. Na
tradução para o português, seriam quase que sinônimos, portanto viu-se a
necessidade de não traduzir, mas explicar o seu significado.
Wilson (2000) propõe que information seeking behavior
[...] seja a busca intencional pela informação como conseqüência de
uma necessidade de cumprir um objetivo. Ao longo da busca, o
indivíduo pode interagir com os sistemas de informação manual (como
um jornal impresso ou uma biblioteca), ou com sistemas computacionais
(como a World Wide Web) (WILSON, 2000, p. 49, tradução nossa).
Complementando o conceito de comportamento de busca informacional, esse autor
define information searching behavior
[...] como o micro-nível do comportamento empregado pelo pesquisador em
interação com todos os tipos de sistemas de informação. Consiste de todas as
interações com o sistema, se ao nível da interação homem-computador (por
exemplo, uso do mouse e cliques nos links) ou ao nível intelectual (por
exemplo, ao adotar a estratégia booleana de busca ou ao determinar o critério
de escolha de quais dos dois livros selecionados de lugares adjacentes na
prateleira numa biblioteca é mais útil), que também envolverá atividades
mentais como julgar a relevância de dados ou informações recuperadas (WILSON,
2000, p. 49, tradução nossa).
Segundo o Online Etymology Dictionary2 (HARPER, 2001), a palavra search vem do
latim circare, pela palavra em francês antigo cerchier. A origem da palavra
seek, entretanto, consultada no The Free Dictionary by Farlex3 (FARLEX INC.,
2004), é proveniente do Inglês Médio (Middle English) sechen, seken, vindo do
Inglês Antigo secan.
As duas palavras são sinônimas, mas apresentam variações sutis em seus
significados, que influenciaram a decisão de Wilson (2000), nas citações acima,
de separar o searching behavior do seeking behavior. O comportamento
informacional de seeking é a tentativa de se obter a informação ou a procura
por informação, já o comportamento informacional de searching está mais próximo
do ato de examinar, investigar alguma informação perdida; é a atividade de
explorar a informação mais de perto, utilizando os sistemas computacionais,
conforme observado por Wilson (2000).
O modelo do processo de busca da informação foi estudado e discutido por
Kuhlthau (1991) na perspectiva do usuário. Os estágios apresentados e
discutidos pela pesquisadora em seu modelo são: Iniciação, Seleção, Exploração,
Formulação, Coleção e Apresentação. Esse modelo, segundo Wilson (1999), é um
complemento dos estudos de Ellis (1989).
A Iniciação é uma fase do processo que pode ser caracterizada por sentimentos
de incerteza, com pensamentos gerais sobre os problemas a serem resolvidos.
A Seleção é um estágio de reconhecimento da tarefa a ser desempenhada mais a
bagagem informacional e, portanto, da consciência da necessidade informacional.
É uma fase de otimismo.
Na fase da Exploração, os sentimentos de incerteza, confusão e dúvida perduram,
mas há estratégias e ações que podem fazer com que melhorem os sentimentos
anteriores como, por exemplo, listar os fatos pertinentes e refletir sobre
algumas idéias.
A Formulação é a fase da clareza e enfoca um tópico específico da tarefa a ser
solucionada. Há uma mudança nos sentimentos, com aumento da segurança e maior
senso de clareza.
Na Coleção, há um levantamento da informação relevante, baseado no foco de
pesquisa. É um estágio no processo em que a interação entre o usuário e o
sistema de informação funciona mais efetivamente.
A Apresentação é caracterizada como a fase do senso de satisfação; se a busca
foi bem ou de desapontamento, se não houve sucesso no processo de busca em
torno de um objetivo determinado.
Após o devido reconhecimento da ausência de informação, a busca pela informação
é definida, segundo Case (2002), estritamente em termos do comportamento ativo
e intencional, que limita sua aplicabilidade na dimensão extensa de pesquisa,
atualmente conduzida pelo uso da informação dos indivíduos.
Na seqüência do comportamento informacional, o uso da informação é, segundo
Choo (2006), o conjunto entre seleção e processamento da informação. Ele se
configura como uma visível mudança no estado do conhecimento e,
conseqüentemente, na capacidade de o indivíduo utilizar a informação para
executar alguma ação efetiva, "responder a uma pergunta, resolver algum
problema, tomar uma decisão ou entender uma situação" (CHOO, 2003, p. 107).
Para entender melhor o uso da informação pelos indivíduos, Taylor (1991) propõe
oito categorias baseadas na relevância que os seres dão à informação. São elas:
o esclarecimento, a compreensão do problema, a parte instrumental, a questão
factual, a confirmação, a projeção de um acontecimento, a motivação e as
questões pessoais e políticas. Taylor (1991) aponta que os trabalhos de Dervin
e Nilan (1986) e colegas foram importantes referências para esta categorização.
Todas as categorias apresentadas se sobrepõem e uma não exclui a outra. Ao
contrário, elas se complementam e precisam umas das outras para caracterizar a
importância identificada pelos indivíduos ao usar a informação. Sem esquecer
que o contexto ou ambiente onde a informação é utilizada pode afetar o
resultado do comportamento informacional como um todo, assim como a variedade
de fontes de informação e os tipos diferentes de usuários.
No esclarecimento, a informação é usada para desenvolver um contexto adequado
ou para criar sentido a uma situação. A informação é trabalhada para responder
questões sobre a organização. Há situações similares? Quais são elas?
Para o entendimento do problema, a informação é usada em um caminho mais
específico do que na categoria anterior. Ela é usada para desenvolver uma
melhor compreensão de um problema particular. Dervin chama de capacidade de
decidir, preparar e planejar.
Na parte instrumental descobre-se o que fazer e como fazer alguma coisa. As
instruções são uma forma comum de informação instrumental. Para Dervin, é o
desenvolvimento de habilidades para ler e interpretar as instruções.
Na questão factual a informação é usada para determinar os fatos de um fenômeno
ou evento, para descrever a realidade. O uso da informação factual depende de
dois fatores: a) a qualidade e atualidade da informação (o quão ela representa
fielmente a realidade); e, relacionada com o fator acima, b) a percepção da
qualidade por parte do usuário.
A necessidade de confirmar um trecho ou pedaço da informação é um tipo de uso
chamado por Taylor de confirmação. Ela envolve a busca por uma segunda opinião.
Se essa nova opinião não se confirmar, então o indivíduo pode reformular o
problema para tentar reinterpretar a informação ou escolher outra fonte para
confiar. É uma atitude comumente verificada em gerentes.
O uso projetivo da informação serve para verificar o que irá acontecer no
futuro. É utilizada tipicamente para estimativas, probabilidades e previsões,
não para situações pessoais, mas em termos mais gerais e amplos.
A categoria motivacional usa a informação para manter as pessoas em uma
atividade contínua, através do envolvimento interpessoal em torno de um
objetivo.
E, por último, a informação usada para fins pessoais e políticos melhora o
envolvimento e o desenvolvimento de relacionamentos e aumenta seu status e sua
reputação diante de situações diárias e/ou do trabalho.
O uso adequado da informação é dependente da qualidade e da relevância das
fontes de informação identificadas pelos usuários da informação. O uso da
informação "encontrada depende também de como o indivíduo avalia a relevância
cognitiva e emocional da informação recebida e atributos objetivos capazes de
determinar a pertinência da informação a uma determinada situação problemática"
(CHOO, 2003).
As seções a seguir tratam dos diferentes tipos e categorias de fontes de
informação apresentadas por pesquisadores da área.
3 Fontes de informação
Segundo Auster e Choo (1993), as fontes de informação nas organizações podem
ser externas ou internas, pessoais ou impessoais. Elas se dividem em quatro
categorias: pessoais externas, pessoais internas, impessoais externas e
impessoais internas.
Em um estudo sobre as "fontes de informação sobre o ambiente organizacional
externo", Barbosa (2002) organizou 17 fontes de informação baseadas nessas
quatro categorias citadas e analisou-as, junto a 91 estudantes de pós-graduação
que atuam em diversas empresas de vários portes, em função de seu grau de
relevância, de freqüência e de confiabilidade. Os dados indicaram que as fontes
documentais externas (jornais, revistas, rádio e televisão) são mais
frequentemente acessadas, no entanto, essas fontes foram consideradas pouco
confiáveis. Já as publicações governamentais foram consideradas muito
confiáveis, embora pouco usadas e pouco relevantes. As outras fontes externas
(associações empresariais, congressos, feiras e viagens) apresentaram pouca
utilização, relevância e confiabilidade. A fonte pessoal interna mais utilizada
foram os colegas do mesmo nível hierárquico. Os superiores em hierarquia são
considerados fontes de grande confiabilidade. As fontes pessoais externas
(clientes, concorrentes, parceiros e associados) foram pouco acessadas. Os
dados encontrados revelaram que as fontes pessoais de informação são
insubstituíveis, mesmo com o grande aumento de acesso às fontes eletrônicas de
informação.
A TAB._1 resume melhor as fontes de informação organizacionais (AUSTER; CHOO,
1994). TABELA_1 - Fontes de Informação Organizacional
É importante atentar para o fato de que, na época, as fontes de informação,
utilizando-se como suporte a Internet, eram pouco ou nada utilizadas.
Eles classificaram as fontes informacionais em pessoais e externas, impessoais
e externas, pessoais e internas, e impessoais e internas.
Em um trabalho recente, Barbosa (2006) investigou o uso de fontes de informação
em empresas de pequeno e grande porte, e sua importância como recursos para a
inteligência competitiva. A metodologia utilizada se assemelhava às empregadas
por Auster e Choo (1994) e Barbosa (2002), em que se analisou e avaliou a
freqüência, a relevância e a confiabilidade das fontes de informação, critérios
utilizados na presente pesquisa com os alunos participantes de EJ.
Outro estudo, de Bastos e Barbosa (2005), analisou 92 executivos de empresas de
tecnologia da informação. Os resultados indicaram um predomínio do uso de
fontes externas para se obter informações do ambiente externo, tendo sido
consideradas mais relevantes e confiáveis, e utilizadas com maior freqüência.
Para Burke (1996), há três tipos de fontes de informação a serem consideradas
para empresas prestadoras de serviços: fontes interpessoais, publicações
oficiais da empresa e fontes informais. Em seu estudo, ele avalia as fontes
apresentadas, a quantidade de informação recebida dessas fontes, quais são as
preferidas e o valor de cada uma delas para o desempenho no trabalho. Ele
identificou, em seu trabalho, que as fontes interpessoais e informais são
preferencialmente mais acessadas em relação às oficiais.
Em outro estudo, Burke (2001) investigou a relação do gênero com as fontes de
informação, tendo identificado que as fontes preferidas das mulheres são as
provenientes das relações interpessoais, e que elas são as que mais recebem
informações dos três grandes tipos identificados por Burke (1996).
Segundo Norman (1997, p. 125), as fontes de informação eletrônicas cresceram
significativamente em acesso nas bibliotecas. Ele lista abaixo os principais
tipos de fontes eletrônicas nas bibliotecas: "CD-ROM, publicações na internet,
banco de dados online, fitas magnéticas; e vários outros caminhos de entrada
disponíveis".
Sua produção e seu uso estão sendo largamente empregados em outros ambientes,
sendo que as publicações na Internet aumentaram em grande escala desde o estudo
de Norman (1997). São fontes que podem ser consideradas como provenientes dela:
World Wide Web (WWW), Gopher4, telnet5, file transfer protocol (FTP)6 e e-mail.
Ainda são fontes de informação na internet: grupos de discussão, jornais e
newslettersonline, e-books (NORMAN, 1997). Muito se evoluiu depois dos estudos
de Norman, conforme se observa a seguir.
Para Pereira (2006), as fontes podem ser classificadas utilizando-se de três
critérios, conforme mostra o gráfico abaixo. Nele observa-se que, além do que
foi proposto por Auster e Choo (1994) e Barbosa (2002), com suas variáveis
pessoais e impessoais, internas e externas, há mais uma variável componente que
são os tipos de fontes eletrônicas e não-eletrônicas. A figura 4 representa os
tipos de fontes de informação usadas por consultores de empresas investigados
pelo pesquisador. As fontes escolhidas foram categorizadas segundo três
critérios, e cada um deles possui uma variável oposta (PEREIRA, 2006, p. 79-
80).
a- Com relação à origem (com relação à empresa ou negócio de
consultoria): fontes internas ou externas;
b- Com relação ao relacionamento / proximidade: fontes pessoais ou
impessoais (sendo fonte pessoal a que proporciona troca de
informações entre o consultor e outra pessoa, e fonte impessoal
aquela utilizada pelo consultor para a busca de informações
relevantes, podendo ser esta fonte, na maioria das vezes, de caráter
documental ou formal); e
c- Com relação à mídia: fontes eletrônicas (informações obtidas
através da Internet, de mídia eletrônica, CD-ROMs ou disquetes, bases
de dados on-line, etc.) e não-eletrônicas (informações em papel).
Para a pesquisa de Pereira (2006), foram identificadas e analisadas 30 fontes
de informação mais utilizadas por consultores empresariais em suas atividades
profissionais. Os resultados apontaram para um maior uso das fontes
eletrônicas, mas as fontes pessoais foram consideradas as mais relevantes e
confiáveis. Para os consultores, as fontes são utilizadas prioritariamente para
a tomada de decisões em seu ambiente de trabalho.
A seção seguinte indica a tendência de uso das fontes de informação
consideradas por Pereira (2006) como eletrônicas; em função disso, alguns
autores já desenvolvem pesquisas sobre o assunto. Trabalha-se a seguir com o
termo fontes de informação na Internet, por entender que as fontes eletrônicas
são provenientes, em sua maioria, da grande rede mundial.
Com o grande aumento de acesso à internet, os usuários da informação estão
utilizando-a como uma das principais fontes para adquirir informação. Para
Tomaél et al (2001, p. 3) ela é o "resultado da convergência das tecnologias da
computação e da comunicação; a Internet representa uma verdadeira revolução nos
métodos de geração, armazenagem, processamento e transmissão da informação".
A Internet, como fonte de informação, pode ser dividida em vários setores, ou
seja, há muitas formas de se ter acesso à informação pela grande rede, sendo
elas: listas de discussão, correio eletrônico (e-mail), informativos via
correio eletrônico (newsletter), informativos comerciais via correio eletrônico
(e-mail marketing), salas de bate-papo virtual (chat), mensageiros instantâneos
(instant messengers), sítios de busca ou ferramentas de busca, intranets,
extranets e os próprios sítios (sites) disponíveis na web.
Não se pode negar que a Internet ocupa um espaço importante nos processos
informacionais e, atualmente, é um fator determinante no comportamento
informacional do indivíduo em termos de necessidade, busca e uso da informação.
Situação comprovada por estudos como o de Choo, Detlor e Turnbull (1999), visto
que eles pesquisam os comportamentos de busca baseados na web por trinta e
quatro diferentes tipos de usuários, de sete empresas e de três setores
diferentes.
A seção seguinte é um complemento teórico às características fundamentais do
objeto de estudo e seu ambiente organizacional. As EJ são consideradas como
estímulo ao empreendedorismo, pelo fato de proporcionar aos seus participantes
a oportunidade de se envolverem com a criação de seu próprio negócio.
4 O empreendedorismo e a empresa júnior
Com o objetivo de apresentar e aprofundar os estudos sobre as empresas juniores
no Brasil, é importante desenvolver uma breve fundamentação teórica com os
principais autores da área e que dão suporte à presente pesquisa.
Segundo David (2004), os economistas de séculos atrás, como Richard Cantillon,
Jean-Baptist Say, Adam Smith e, mais recentemente, Joseph Alois Schumpeter,
associaram o empreendedor à inovação e ao desenvolvimento econômico.
Filion (1999), pesquisador canadense que estuda o empreendedorismo, propõe uma
definição de empreendedor:
O empreendedor é uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de
estabelecer e atingir objetivos e que mantém um alto nível de
consciência do ambiente em que vive usando-a para detectar
oportunidades de negócios. Um empreendedor que continua a aprender a
respeito de possíveis oportunidades de negócios e a tomar decisões
moderadamente arriscadas que objetivam a inovação, continuará a
desempenhar um papel empreendedor. Resumindo nos aspectos essenciais:
'um empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza
visões' (FILION, 1999, p. 19).
O empreendedor é, portanto, em consonância com o assunto pesquisado, um usuário
de informação que tem um comportamento informacional, ou seja, de acordo com
Filion (1999), ele imagina, desenvolve e realiza, inferindo-se, portanto, uma
correlação entre a necessidade, a busca e o uso da informação.
O empreendedor, para Schumpeter (1954) apud Filion (1999), no início do século
XX, era alguém associado à inovação e que tinha uma percepção das novas
oportunidades de negócios diferenciada, e, mais importante, que sabia como
criar novas formas de empregar ou usar os recursos. Esse tipo de pensamento se
encaixa com os paradigmas atuais, no sentido de que o novo empreendedor deve
saber como criar novas formas de usar a informação a partir dos novos recursos
informacionais.
Assim, empresas são criadas por iniciativas de universidades que fomentam
incubadoras para preparar futuros investidores em suas spin-offs, a partir do
ambiente universitário. Sem aprofundar no assunto, para Blais et al (1997),
spin-off é uma empresa formada por um ou mais empregados de uma grande ou
pequena organização, que se uniram para desenvolver um mercado ou um produto
relacionado às atividades de uma empresa incubadora, mas sem estar sob o
controle dela.
No caso apresentado por Lemos, Grizendi e Lotufo (2005), a INOVA, incubadora da
UNICAMP (Universidade de Campinas), é a incentivadora de atividades acadêmicas
e pré-incubadora de promissores e futuros negócios, desenvolvida em outros
ambientes dentro da universidade. Ela inclusive estimula a integração com as 16
EJ da instituição para intensificarem os processos de pré-incubação. Essa
iniciativa tem melhorado e fomentado, de acordo com Lemos, Grizendi e Lotufo
(2005), o crescimento das EJ e dos interesses dos alunos em torno do
empreendedorismo.
Fato que vai de encontro à idéia de que o comportamento empreendedor está
relacionado ao ambiente propício para se empreender, conforme a cultura, as
necessidades e os hábitos de uma região (FILION, 1999), de uma comunidade, ou
mesmo de uma organização. Este último é chamado de intra-empreendedorismo, que
pode ser definido pelo seu agente: o intra-empreendedor.
Segundo David (2004), são pessoas que
[...] anseiam por liberdade dentro da organização, são orientados
para metas, comprometidos e automotivados, mas também reagem às
recompensas e ao reconhecimento da empresa. São indivíduos que "põem
a mão na massa" e fazem o que deve ser feito. Gostam de riscos
moderados, não temem ser demitidos e por isso vêem pouco risco
pessoal. E, principalmente, fogem do estado estável, detestam as
rotinas, pois são criativos e inovadores. Pode-se, resumidamente,
caracterizar o intra-empreendedor como uma pessoa que é persistente,
trabalha arduamente, é decidida e autoconfiante, orienta-se por seu
objetivo e não para obter statusou dinheiro (DAVID, p. 45, 2004).
O trabalho do intra-empreendedor em uma organização se identifica com o aluno
participante de EJ, na medida em que este acredita que seu trabalho irá
impulsioná-lo para o crescimento profissional.
O intuito dessa seção é indicar a importância do empreendedorismo para o
surgimento e a orientação das EJ. Há uma tendência ao crescimento e
desenvolvimento do espírito empreendedor por parte de seus alunos
participantes.
O Movimento Empresa Júnior se iniciou na França, em 1967, na Escola Superior de
Ciências Econômicas e Comerciais de Paris, com o intuito de fundar uma empresa
ou associação civil, sem fins lucrativos, em que os estudantes de graduação
regularmente matriculados em instituições de ensino superior poderiam
participar.
No Brasil, o movimento começou em 1988, na Fundação Getúlio Vargas (FGV), e
hoje já se estende por mais de 600 empresas juniores, sendo 150 somente em
Minas Gerais, segundo a FEJEMG (Federação das Empresas Juniores do Estado de
Minas Gerais).
Com a mobilização das federações estaduais, foi criada, em 2003, a Confederação
Brasileira de Empresas Juniores, ou "Brasil Júnior", que tem como objetivos
organizar, representar e auxiliar no trabalho das 11 federações brasileiras já
confederadas a ela.
Este tipo de associação tem como objetivo primário o aprendizado por meio da
prática e do exercício da profissão, prestando serviços para entidades e para a
sociedade em geral, dependendo da área de atuação. A EJ é supervisionada, na
maioria das vezes, por professores do curso de graduação ao qual estão
vinculados.
O foco principal de trabalho das EJ são as micro e pequenas empresas (PME), que
contratam seus serviços por não poderem investir em consultorias profissionais
devido ao seu alto custo.
Há uma troca bastante rica entre as EJ e as PME, no sentido de servirem umas às
outras, profissional e academicamente, na formação dos futuros profissionais
para o mercado de trabalho, desenvolvendo serviços a custo mais vantajoso para
as PME.
Comparativamente às atividades das EJ, no trabalho de Pereira (2006), alguns
dados podem ser destinados às atividades de consultoria dos consultores
empresariais profissionais, investigadas em diversos setores, mas que podem
indicar uma tendência também para os empresários juniores.
Em sua pesquisa, observa-se que:
Mesmo sendo os consultores pesquisados profissionais autônomos ou
pertencentes à MPE de consultoria, atendem empresas tanto de micro,
pequeno (80,8%), médio (87,5%) e grande portes (77,9%),
caracterizando a atividade de consultoria como uma prestação de
serviços diferenciada, quando comparada a outras prestações de
serviços (PEREIRA, 2006, p. 96).
Essa diferenciação na prestação de serviços também é vista nas atividades das
EJ, já que várias delas também são fontes de inovação para o mercado. Algumas
trabalham em setores onde o valor agregado está no desenvolvimento de novos
produtos, novas fórmulas, etc., conforme Leão (1997), do Jornal da USP,
instituição que, a título de exemplo, congrega onze empresas juniores em suas
instalações.
Segundo Souza (2002), essas empresas:
[...] constituem um processo que capacita alunos universitários
através de desenvolvimento de projetos para clientes do mercado e do
gerenciamento de questões pertinentes a uma empresa de natureza real,
proporcionando uma contribuição diferenciada e oferecendo melhor
preparação para o universitário enfrentar as incertezas e
necessidades do mercado de trabalho (SOUZA, 2002, p. 100).
Seus participantes, ou propriamente os alunos, para comporem uma EJ, devem
estar matriculados na universidade ou faculdade que cede o espaço para seu
funcionamento. Estes alunos podem ser considerados estagiários, consultores,
membros do conselho ou até mesmo diretores da EJ, dependendo do Estatuto Social
da empresa ou da sua relação com a Instituição de Ensino Superior da qual fazem
parte.
Assim, como os estágios são exigidos regularmente em alguns cursos de graduação
para a formação profissional dos alunos, as EJ são formas efetivas de inseri-
los no mercado profissional, além de despertarem neles um interesse
empreendedor que pode levá-los a investir na carreira, como proprietários do
seu negócio.
Para ilustrar o presente estudo, apresenta-se o caso da formação da empresa
júnior Qualitas, da FACAMP (Faculdades de Campinas). Ele foi relatado em um
artigo de Graça e Pais (2003), que conta como foi instituída a EJ Qualitas, que
tinha como objetivo, ou justificativa para a direção da instituição, a criação
de um local onde os estudantes dos cursos de Administração e de Economia
pudessem suprir as lacunas entre a teoria da sala de aula e a prática do
mercado de trabalho; além de desenvolver suas habilidades técnicas e
interpessoais, através dos projetos desenvolvidos. Para dar continuidade ao
processo de criação da Qualitas, foram definidos passos a serem realizados:
criar a estrutura organizacional; elaborar o estatuto; definir o plano de
negócios; apresentar a empresa ao corpo discente; selecionar os consultores;
registrar a EJ.
No caso da Qualitas, Graça e Pais (2003) relataram que os alunos fizeram uma
pesquisa e trabalharam com os modelos de EJ anteriormente criadas em outras
universidades ou faculdades. Os alunos observaram que, em algumas EJ, havia
diferenças nas suas estruturas organizacionais. Isso fica evidente quando esses
autores afirmam:
Durante o processo de benchmarking pôde-se observar que algumas
empresas juniores, principalmente as empresas direcionadas às áreas
de marketing e publicidade, utilizavam, por exemplo, uma
departamentalização matricial enquanto outras, voltadas basicamente à
atividade de consultoria empresarial, utilizavam uma
departamentalização funcional ou por projetos. Além disso, foi
possível observar o desenvolvimento dos projetos, ou seja, o processo
de análise de viabilidade, precificação, realização das etapas e
finalização (GRAÇA; PAIS, 2003, p. 6).
Entende-se que esses passos são relativamente comuns em todos os tipos de EJ
brasileiras, com pequenas modificações de acordo com as características do
curso de que fazem parte.
Para agregar um melhor entendimento à fundamentação teórica, abaixo segue o
modelo de análise que serve de norteador do presente estudo, trazendo uma visão
geral do que será apresentado nos capítulos subseqüentes, ao relacionar o que
foi fundamentado pela teoria existente no campo de estudo investigado.
5 Metodologia da pesquisa
Levando-se em consideração as diferentes formas metodológicas existentes na
literatura, classifica-se esta pesquisa como de natureza descritiva e
exploratória, envolvendo os alunos participantes de EJ do Brasil e seu
comportamento informacional.
Os estudos exploratórios são adequados para pesquisas que querem conhecer e
saber mais sobre determinado assunto, ou seja, esclarecer certos aspectos do
fenômeno estudado, conforme Quivy e Campenhoudt (1992).
Como procedimento técnico da pesquisa, foi feito um levantamento de dados
(survey), mais especificamente um levantamento por meio da internet
(websurvey), com o intuito de garantir um índice adequado de retorno dos
questionários. A utilização de um programa, cujo acesso é pela internet,
contribui para a agilidade do processo, tanto para o pesquisador quanto para os
respondentes. Segundo Couper, Traugott e Lamias (2001), os websurvey estão se
proliferando rapidamente e facilitam a coleta de dados para qualquer pesquisa
exploratória.
A pesquisa sobre o estudo do comportamento informacional dos alunos
participantes das EJ do Brasil se propõe utilizando-se da Confederação
Brasileira das Empresas Juniores - Brasil Júnior como parceira, distribuidora e
incentivadora, para que os questionários sejam respondidos pelos participantes
das EJ filiadas. Sabe-se que a Brasil Júnior tem filiadas 140 EJ, que compõem a
sua Assembléia Geral, distribuídas por 12 Federações Estaduais. O número de
alunos participantes por EJ é variável, mas estima-se um número médio de 25
alunos, perfazendo um universo de aproximadamente 3.500 indivíduos.
Levando-se em conta que foram enviados 460 e-mails-convites para os alunos
participantes, o retorno foi positivo, pois se trabalhou com uma amostragem
estratificada desses possíveis respondentes, conseguindo-se um número de 270
questionários respondidos.
A unidade de observação desse estudo é o aluno participante das EJ, filiadas ou
não à Brasil Júnior, devido ao auxílio que a confederação em questão
proporciona, no sentido de avalizar a pesquisa e incentivar os respondentes do
questionário. O e-mail-convite foi enviado via Brasil Júnior para todos os e-
mails cadastrados. Houve um primeiro encaminhamento pela Brasil Júnior e
acreditava-se que fosse uma tentativa de mobilizar os potenciais respondentes
com relação à importância de se responder o questionário.
Em função do baixo retorno inicial por parte dos potenciais respondentes, em
contato por telefone com a Brasil Júnior e com a FEJEMG, o pesquisador dividiu
os envios para aperfeiçoar e organizar melhor o retorno dos respondentes. Em
uma primeira pesquisa no Google com o verbete "empresa júnior", foram coletados
alguns websites de EJ que estavam entre os primeiros lugares dentre as
ocorrências apresentadas pela ferramenta de busca. Em um segundo momento,
necessitou-se de maior aprofundamento da busca para garantir um número maior de
contatos nos websites das EJ presentes na web.
Em seguida, o pesquisador enviou pelo sistema de gestão de levantamento de
dados Makesurvey,em seu mailing list, três blocos de endereços de e-mail. O
primeiro bloco continha 116 endereços, o segundo 226 e o terceiro constava com
118 endereços, totalizando 460 e-mails pessoais e de contato das EJ coletados.
Abaixo, na FIG._1, é apresentado o esquema, em formato de fluxograma, dos
procedimentos de coleta utilizados. Ele representa a divisão dos procedimentos
em duas etapas, em função da dificuldade de realização do primeiro, e indica o
segundo como a opção mais eficiente do processo de coleta de dados.
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FIGURA_1_-_clique_para_ampliar
Para a construção do instrumento de coleta de dados, se viu necessária a
técnica de observação participante (DUARTE; BARROS, 2005). O pesquisador do
referido estudo fez parte de uma EJ como tutor, portanto, estava inserido no
meio a ser pesquisado. A partir de sua vivência e do compartilhamento do espaço
de observação, ele fez anotações dos processos e das tarefas executadas e em
execução para obter subsídios para a construção dos questionários utilizados na
pesquisa. Através desse método, buscou-se estabelecer categorias de análise a
serem utilizadas como norteadoras do desenvolvimento do questionário.
A observação participante colaborou para a construção do questionário que,
primeiramente, passou por um pré-teste impresso, sendo distribuído e o seu
preenchimento acompanhado pelo pesquisador. Foram escolhidos oito alunos
participantes da EJ em que o pesquisador atuou como tutor e orientador. Durante
o pré-teste, verificou-se que alguns dos respondentes tiveram dificuldades em
responder algumas perguntas, o que levou a uma melhora e reformulação no
conteúdo e na forma de redigir e apresentar a questão.
A base da coleta de dados da pesquisa é o método survey, que, segundo Babbie
(1999), é lógico, determinístico, generalista, parcimonioso e específico,
atributos que o garantem como sendo "empiricamente verificável".
Como se investigaram os alunos que fazem parte das EJ disseminadas pelo Brasil,
os objetivos da Survey como descrição, explicação e exploração são adequados.
Especificamente, para se conseguir uma resposta sobre o comportamento
informacional, deve haver uma descrição minuciosa de acordo com certos traços e
atributos (BABBIE, 1999) verificados. Um objetivo complementar é a explicação
com a análise multivariada, ou seja, o cruzamento de variáveis. A exploração é
um mecanismo de busca que deve ser utilizado para se melhorar a pesquisa
survey, contribuindo para uma análise mais criteriosa dos dados.
O desenho da pesquisa de survey proposto é o estudo contextual, pois através
das respostas dos participantes se obtém um panorama geral do ambiente onde
estão inseridos.
É um desenho que se adapta ao objeto a ser estudado, por se entender que o
contexto ou o ambiente onde os alunos participantes de EJ estão indica o seu
comportamento. Aponta também, em certa medida, que suas atitudes ou
comportamentos, especificamente os relacionados à informação, determinam o tipo
de ambiente propício ou não à coleta, disseminação e uso da informação.
Para garantir uma boa distribuição da pesquisa foram aplicados questionários
via web (websurvey), pois se observa que é a melhor maneira de garantir um
retorno satisfatório com baixo custo. "É uma forma de levantamento de dados que
está se proliferando rapidamente" (COUPER; TRAUGOTT; LAMIAS, 2001, p. 250).
Além disso, ainda de acordo com Couper, Traugott e Lamias (2001), os
questionários websurvey são visualmente mais atrativos e contêm mais estímulos
para que o respondente se interesse em preencher os campos. O retorno é em
tempo real e, se houver algum problema, a correção da trajetória e do desenho
da pesquisa é rápida.
Outra justificativa que reforça a disponibilização dos questionários por
intermédio da web está na não-dependência de um indivíduo com treinamento para
a aplicação. Em muitos casos, a coleta de dados é prejudicada por falha do
entrevistador, por falta de empatia ou de interesse.
O instrumento de coleta foi integralmente desenvolvido no ambiente web e
disponibilizado aos respondentes em um endereço on-line específico (URL), cujo
endereço na web éhttp://www.makesurvey.net. É um sistema cujo objetivo
principal é o gerenciamento do levantamento de dados.
Para iniciar o processo, o pesquisador deve se cadastrar e configurar a sua
área conforme o tipo de pesquisa, de questões e de forma de visualização do
questionário. Cada questão deve ser inserida separadamente, podendo ser
alterada a conforme necessidade do pesquisador.
Após o cadastramento no website e a inserção de todas as questões a serem
levantadas, o pesquisador enviou uma mensagem, convidando os alunos
participantes das EJ a responderem à pesquisa.
6 Resultados
6.1 Perfil do respondente
Através do levantamento de dados feito pelo questionário aplicado via
websurvey, determinou-se o perfil dos alunos participantes das EJ, conforme
questões como: gênero, faixa etária, nome da universidade/faculdade em que
estuda, curso, tempo de EJ, papel desempenhado na EJ e tempo de dedicação
diário à EJ. Para tal, algumas tabelas foram organizadas para se visualizar e
compreender a composição da população respondente.
Observa-se que 59% dos entrevistados são do sexo masculino e, portanto, 41% são
mulheres. Em relação à idade dos respondentes, houve uma maior concentração na
faixa de 19 a 21 anos (62%) e entre 22 a 25 anos (26%). O maior número de
respondentes veio da Universidade Federal de Santa Catarina, com 27
entrevistados, seguido da Universidade Federal da Bahia, que totalizou 24.
Outras instituições que se destacaram foram as Federais do Rio Grande do Sul,
do Rio de Janeiro e do Paraná, com 22, 19 e 18, respectivamente. As demais
instituições que apresentaram bom número de respondentes foram a USP -
Universidade de São Paulo e a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, com
17 respondentes cada.
A região com o maior número de respondentes é a Sudeste, com 42%, acompanhada
de perto pela região Sul, de onde vieram 39% dos alunos que foram entrevistados
e participam de EJ. O Nordeste obteve 15% dos respondentes. Somente 4% são do
Centro-Oeste, representado por alunos da UnB (Universidade de Brasília). De
acordo com o levantamento feito, o curso que obteve a maioria de respondentes
foi o de Administração (71), em seguida o curso de Ciência da Computação (27),
o de Ciências Econômicas (24) e o de Engenharia Elétrica (23). Mas, somando-se
todos os alunos dos cursos de Engenharia, obtém-se quase um terço dos
respondentes (30%).
Observa-se que 24% dos respondentes está há 2 semestres ou 1 ano na EJ, mas
destaca-se que 19% trabalham na EJ há mais de 4 semestres, ou seja, dedicam-se
às atividades na EJ por mais de 2 anos. Em relação ao principal papel
desempenhado na EJ onde trabalha, a maioria respondeu que sua função é de
Liderança (32%), logo após os alunos autodenominaram-se Organizadores (23%) e,
em seguida, mostraram-se como os responsáveis pela Produção ou Execução de
trabalhos/ projetos (20%).
Os dados sobre o tempo despendido na EJ mostram que 26% dos alunos que
responderam ao questionário passam mais de 4 horas dedicados à EJ, diariamente.
Próximos deste número estão aqueles que dedicam 2 horas diárias (24%) às
atividades da EJ. Foi observado, também, que um grande percentual de
respondentes (80%) passa acima de 2 horas com dedicação à EJ.
6.2. Comportamento de busca pelas fontes de informação
Observou-se, nos resultados apresentados pela pesquisa, que as fontes de
informação mais buscadas são as formais e formais e internas, representadas
pelas conversas com colegas e troca de e-mail com colegas, em virtude da
facilidade de acesso por parte dos alunos participantes de EJ. As fontes
eletrônicas, procura em sites de busca e conversa via Messenger, também tiveram
boa freqüência de busca. Ao contrário, as fontes de informação que obtiveram
menos freqüência de busca foram as formais, sejam eletrônicas ou não-
eletrônicas, como a troca de e-mails com os professores e a conversa com os
professores.
Assim como no resultado anteriormente apresentado, os alunos participantes
indicaram que as fontes mais relevantes são as pessoais, internas e
eletrônicas, que são os contatos via e-mail com os colegas; mas o grande
destaque ficou para a conversa com os colegas, visto que 100% dos respondentes
indicaram elevado grau de relevância à fonte.
O resultado apresenta a grande importância que os alunos participantes de EJ
dão às fontes informais. Observa-se, entretanto, que a leitura de livros da
área (fonte impessoal) e as conversas com os professores (fonte formal e
pessoal) são fontes de informação bastante importantes, com 83% considerando
"extremamente relevantes" e "relevantes" o seu acesso; são também consideradas
muito relevantes as palestras e debates na área (82%). Os dados indicaram que o
acesso a informações restritas no site da faculdade/universidade (intranet ou
extranet) é o considerado de menor relevância para os alunos participantes de
EJ, com 18% tendo respondido como "irrelevante" e "totalmente irrelevante". Em
seguida, a leitura de e-mails recebidos após cadastro (newsletter, e-mail
marketing), fonte de informação que obteve baixa relevância, com 15% dos
respondentes. Observam-se esses dados devido ao fato de essas fontes serem
altamente formais, exigirem maior esforço e apresentarem dificuldade de acesso.
Em relação à confiabilidade ao buscar as fontes de informação determinadas, os
resultados mostram que os livros da área (fonte formal, impessoal e não-
eletrônica) são os mais confiáveis para os alunos participantes de EJ. Depois,
o destaque está nas conversas com os professores (fonte formal, pessoal e não-
eletrônica), em que 34% dos respondentes indicaram o grau de "extremamente
confiável" e 43% marcaram como "confiável".
O que se observou nos resultados é que as conversas por mensagens instantâneas
são as menos confiáveis pelos participantes. Um terço deles, aproximadamente,
considera tal conversa pouco ou nem um pouco confiável. Vê-se também que as
fontes informais e pessoais são as com maior freqüência, porém são as menos
confiáveis na opinião dos alunos participantes de EJ. As conversas com os
professores também estão entre as menos confiáveis, com 20% das respostas
indicando pouco ou nem um pouco confiáveis; observando-se que, apesar desse
resultado, os alunos participantes acham relevante conversar com os
professores. Mas, ao mesmo tempo, é uma das fontes mais confiáveis para eles,
entrando na segunda colocação, com a opinião de 34% dos respondentes.
6.3 Comportamento de uso através das fontes de informação
Com base nas 14 fontes de informação selecionadas, os alunos participantes das
EJ responderam a questões referentes à importância e à freqüência com que são
usadas para diferentes propósitos como: compartilhar, armazenar, solucionar
problemas, desenvolver projetos, atender a clientes e aprender.
Observa-se que as fontes de informação listadas são as mais freqüentemente
usadas entre os respondentes, com 87% "a todo o momento" e "todos os dias" para
se adquirir aprendizado. Em seguida, usam-se as fontes de informação com mais
frequência para compartilhamento, pois 81% responderam que a usam "a todo o
momento" e "todos os dias". Também são usadas as fontes de informação para
solucionar problemas em 64% dos casos "a todo o momento" e "todos os dias".
Visualizou-se, de forma geral, que os alunos demonstraram, através de suas
respostas, que dão importância a todos os tipos de uso das fontes de
informação, mas destaca-se como "muito importante" e "importante", para eles, o
aprendizado, com 100% dos respondentes. O compartilhamento (99%) e a solução de
problemas (99%) também obtiveram números expressivos de respondentes que os
consideram importantes.
7 Conclusão
Para se poder conhecer e analisar o comportamento informacional, é fundamental
conhecer a quem essa informação é direcionada. Portanto, a partir das
necessidades informacionais, das buscas por fontes de informação, de como os
usuários da informação as usam e com qual objetivo é que se pode conhecer o seu
comportamento informacional.
Os empresários juniores, aqui estudados e chamados de alunos participantes de
EJ, são os futuros empreendedores. Isto ocorre por já se envolverem desde os
seus cursos de graduação com uma organização empresarial, mas também por
transmitirem aos novos alunos participantes o espírito empreendedor.
Na presente pesquisa com os alunos participantes de empresas juniores, e tendo
como base os objetivos propostos de pesquisa, pode-se afirmar que o estudo
sobre as práticas informacionais, mais especificamente o comportamento
informacional dos alunos participantes de EJ no Brasil, apresentou dados
significativos. Os resultados para o campo do comportamento informacional são
de suma importância, mas também podem contribuir de maneira efetiva para o
crescimento e a evolução do movimento EJ em âmbito nacional.
Acredita-se que estes resultados obtidos contribuíram para que as entidades
federadas à Brasil Júnior possam direcionar seus esforços, no sentido de suprir
as necessidades evidenciadas pelo comportamento informacional de seus
afiliados.
Os resultados alcançados com essa pesquisa e a metodologia aplicada sugerem uma
série de possibilidades para novos estudos. O fato de que essa pesquisa tenha
sido realizada com dados quantitativos já abre precedentes para que haja um
novo estudo, mais aprofundado, trabalhando-se com os métodos quantitativos. O
que se pode desenvolver é uma entrevista em profundidade com um grupo de alunos
participantes, para se identificar mais fontes de informação.
Em outra perspectiva, mais dimensões oriundas dessa mesma pesquisa podem ser
investigadas pelo cruzamento estatístico de dados como, por exemplo, a relação
entre a idade dos entrevistados e a freqüência com que buscam determinada fonte
de informação. Ainda, podem-se cruzar os dados de gênero com a importância que
dão a uma ou outra fonte de informação. Pode-se também fazer cruzamentos de
dados quantitativos entre os respondentes que consideram as fontes mais
relevantes e confiáveis e sua freqüência de uso para determinado objetivo. Ou
mesmo cruzar as variáveis tempo de atividades na EJ e grau de confiança nas
fontes de informação mais acessadas.
O presente estudo pode contribuir para a evolução dos estudos em ambientes
organizacionais poucos pesquisados, como é o caso das EJ. Esse ambiente é uma
ligação entre a academia e o mercado de trabalho, ou seja, um ambiente
peculiar, que demanda comportamentos informacionais de indivíduos em um
contexto informacional característico, com acesso a fontes de informação
diferenciadas.
O comportamento de busca e uso da informação, ainda em evolução, amplia um
pouco mais suas perspectivas com essa pesquisa, pois traz à tona a realidade
dos alunos das universidades brasileiras, diante das formas com que acessam as
informações e de como as usam para construir conhecimento, seja pelo
aprendizado, pelo compartilhamento, ou mesmo para solucionar problemas.