Notas e comentários sobre a dinâmica do comércio Brasil-África nas décadas de
1970 a 1990
As relações econômicas do Brasil com a África não são recentes. Ao contrário,
datam dos primórdios da formação do Estado brasileiro, e seu desenvolvimento é
marcado por períodos de descontinuada intensidade. Sua importância, contudo, é
relevante para a história do país, sendo ressaltada por diversos estudiosos que
enfatizam o papel fundamental desempenhado por essas relações na formação da
sociedade e economia do Brasil.
Este artigo tem como propósito discorrer sobre a presença empresarial
brasileira na África entre as décadas de 1970 e 1990, enfocando particularmente
as visões de diversos autores que se voltaram ao estudo das relações entre o
Brasil e África entre as décadas mencionadas, um período de grandes
transformações no desenvolvimento desse intercâmbio e, portanto, rico em
acontecimentos e experiências. Trata-se, sobretudo, da tentativa do autor em
esclarecer indagações pessoais advindas do seu exercício profissional, enquanto
servidor público de instituição voltada ao acompanhamento das atividades de
comércio exterior. Nesse sentido, o presente texto objetiva responder a duas
dessas questões. Primeiramente: sob que motivações o comércio Brasil-África
obteve um notável crescimento no período compreendido entre os anos 1970 a
1990? Em segundo lugar: quais as perspectivas que se apresentariam para o
empresário brasileiro que desejasse efetuar negócios junto ao mercado africano?
No aprofundamento dessas questões empregou-se como recurso a pesquisa
bibliográfica junto a universidades e instituições oficiais brasileiras
voltadas para o comércio exterior2. Além disso, foram de importante significado
os depoimentos colhidos junto a executivos envolvidos em operações comerciais
no mercado africano e especialistas em comércio exterior.
De imediato, constatou-se que abordar temas que envolvem as relações comerciais
entre o Brasil e a África é tarefa complexa, considerando-se que não são apenas
os Estados que estão em causa, mas também os povos e os interesses dos agentes
econômicos, determinando circunstâncias históricas e também momentos distintos.
Esse parece ser o entendimento de Renouvin (citado por Almeida, 1998, p. 22) ao
afirmar que "estudar as influências que se exercem sobre as relações
internacionais deixando de lado o conjunto de circunstâncias de um momento ou
de uma época seria falsear a perspectiva histórica". Dessa forma, perseguindo
uma visão mais ampla das relações econômicas Brasil-África acredita-se ser
oportuno tecer algumas considerações acerca de fatores políticos e econômicos
que influenciaram o comportamento empresarial brasileiro nas suas relações com
o continente africano desde 1961, ano que representa um referencial importante
na reaproximação do país ao continente africano.
A estratégia da substituição de importações e as relações Sul-Sul
Ao investigarmos sobre o desenvolvimento de negócios brasileiros no mercado
africano, norteamo-nos pela análise do processo de desenvolvimento econômico
brasileiro, particularmente a estratégia de substituição de importações, que
elegeu a industrialização como elemento-chave para o desenvolvimento e inseriu
o país, de forma singular, no contexto das novas relações com o Terceiro Mundo.
Trata-se das relações Sul-Sul, no âmbito das quais se incentiva o incremento
das trocas entre os países em desenvolvimento, e a partir do qual a África se
torna parceira de grande importância para o Brasil.
Assim, partimos da compreensão de que até os anos 1950 a economia brasileira
era essencialmente agrária e voltada para a exportação de produtos primários,
explorando vantagens comparativas em termos de recursos naturais e de mão-de-
obra. Essa condição, segundo os pensadores da Comissão Econômica de
Planejamento para a América Latina (Cepal)3, configurava um atraso que era
preciso romper para se conseguir avançar rumo ao desenvolvimento. De acordo com
esse pensamento, sistematizado em obras de Raul Prebisch, Osvaldo Sunkel, Celso
Furtado e outros, a reversão desse atraso seria obtida pela afirmação da
industrialização como elemento aglutinador e articulador do desenvolvimento, do
progresso, da modernidade, da civilização e da democracia política.
Ao longo desses anos, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, o país
procurou modificar essa situação e, apoiado nas recomendações da Cepal, deu
início ao processo de desenvolvimento da indústria nacional. Mediante a
intervenção estatal (políticas industrial, comercial e macroeconômica), adotou-
se um modelo de desenvolvimento cuja estratégia principal consistia em promover
a industrialização, visando substituir grande parte dos produtos importados por
produtos fabricados no País. A adoção dessa estratégia garantiu ao Brasil
longos períodos de crescimento elevado, mudando substancialmente o seu padrão
de comércio. De economia primário-exportadora, o Brasil se tornou importante
exportador de produtos manufaturados, não somente em termos regionais, mas
igualmente em âmbito mundial. Essa mudança se deu de forma gradual, começando
pela eliminação dos bens de consumo não-duráveis4 da agenda de exportações
(Pinheiro & Moreira, 1997).
A substituição de importações avançou, alcançando os bens de consumo duráveis,
com ênfase nos automóveis. Os bens intermediários foram também afetados e, numa
última etapa, na década de 1960, teve início a substituição dos bens de
capital5. A partir dessa fase, o país experimenta um elevado crescimento
industrial, que passou a exigir um mercado de amplas dimensões para assegurar
os benefícios da escala de produção. Mas a crescente inflação dos anos 1960
deteriorou o poder de compra da classe assalariada. Aliada a isso, ocorre uma
queda no volume de emprego, ocasionando substancial redução no volume de
demanda interna. Aumenta desse modo a capacidade ociosa da maioria dos setores,
tanto quanto a acumulação de estoques invendáveis, o que vai levar à procura
por mercados externos como meio de permitir às empresas desfazer-se de parte
desses estoques.
Com a adoção do Paeg (Plano de Ação Econômica do Governo) em 1967, o Governo
Costa e Silva inicia um processo que tem como objetivo básico o desenvolvimento
econômico e social do país, passando a executar uma política de facilitação das
exportações por meio do estabelecimento de isenções fiscais e da abertura de
linhas de crédito. Em 1968, essa política continua, acrescida da
minidesvalorização do câmbio (Alves, Sayad, 1987).
Esse era o quadro brasileiro quando a economia mundial entrou em crise, ao
final dos anos 1960. Os países industrializados registram os primeiros sinais
de desaceleração6 e passam a impor fortes restrições às exportações do Terceiro
Mundo, levando a sérios impasses na condução do diálogo entre as nações do
Norte, industrializadas, e do Sul, em desenvolvimento (Cunha, 1991). Nessa
conjuntura, a rígida bipolaridade do pós-guerra é substituída por certa
flexibilidade nos vínculos interestatais e, apesar de os centros de poder
estarem quase exclusivamente no Norte, essa flexibilidade permite o surgimento
de uma multipolaridade na área econômico-industrial. Os países do Sul adquirem
grande importância como produtores de matérias-primas, como o petróleo, e
passam a reivindicar a reforma do sistema econômico mundial como meio de
atenuar a situação cada vez mais crítica em que se encontravam.
Frente à falta de soluções satisfatórias e também paralelamente a essas
reivindicações, fortalece-se no Terceiro Mundo a idéia de que os problemas de
desenvolvimento não seriam solucionados exclusivamente com a ajuda dos países
desenvolvidos. Inicia-se então um movimento de valorização da cooperação
horizontal, em nível regional e intra-regional, entre os países do Sul.
Tratava-se de um movimento que buscava dar ênfase ao esforço próprio e à
colaboração recíproca entre os países do Sul. Estimava-se que uma ação conjunta
pudesse aumentar o poder de negociação das nações em desenvolvimento frente aos
países industrializados (Perona, 1985). Essa percepção encontra uma quase
unanimidade no seio do Terceiro Mundo, como atestam as numerosas conferências
internacionais realizadas sobre o assunto após a VI Sessão Extraordinária da
Assembléia das Nações Unidas, em 1972, que pleiteava a instauração de uma nova
ordem econômica mundial.
A premissa básica partia da consideração de que, num sistema de sujeição global
controlado pelas nações desenvolvidas, o reforço dos laços econômicos entre os
países do Sul se constituiria em elemento fundamental da estratégia de
desenvolvimento do Terceiro Mundo, sendo necessário criarem-se condições para o
estabelecimento de novas relações de força em nível internacional. Conhecidas
na literatura econômica como relações Sul-Sul, estas iriam converter-se não
apenas em fonte de interdependência como também em instrumento de pressão, no
quadro da reestruturação da economia mundial, e ainda em via de transferência
de riqueza entre os países do Terceiro Mundo.
O movimento Sul-Sul se propaga. Interliga-se com o Movimento dos Não-
Alinhados7, com o Grupo dos 77 e com a Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (Opep), que apóiam essa nova estratégia de esforço coletivo para
reduzir a influência das grandes potências no sistema internacional (Ogwu,
1976). Com o crescimento dessa tendência, chegou-se a propor o estabelecimento
de uma associação Sul-Sul de Estados em via de desenvolvimento (Duarte, 1984).
Para d'Adesky (1985), esse movimento engendra duas concepções. A primeira, em
sentido amplo, refere-se ao sistema de trocas dependentes entre o Norte e o
Sul, cuja estrutura fixa é o alvo das críticas dos países em desenvolvimento
nas negociações internacionais. A segunda, em nível específico, ocupa-se das
relações particulares entre países do Terceiro Mundo, no propósito de que os
esforços coletivos possam redundar em um desenvolvimento econômico e
tecnológico que contribua para produzir uma ruptura no circuito das relações
centro-periferia. A idéia de ruptura, todavia, não é compartilhada por Selcher
(1984), que entende a cooperação Sul-Sul como um relacionamento "horizontal"
que intenta servir como alternativa, e não como substituição total, às relações
"verticais" de dependência com o Norte desenvolvido.
Integrando-se à corrente reivindicatória terceiro-mundista, o Brasil passa a
fazer, nos fóruns de que participa, críticas constantes à deterioração das
trocas internacionais, ao monopólio e às medidas protecionistas adotadas pelos
países industrializados. Essa postura avança ostensivamente a partir do reforço
da identidade terceiro-mundista assumida pelo país, que passa inclusive a
defender posições consideradas, por setores da opinião pública, como de
relativa imprudência (Saraiva, 1999)8. Vale ressaltar que diversos países
latino-americanos demonstraram interesse por mercados periféricos fora de sua
área, sendo o Brasil aquele em que essa tendência foi mais acentuada. Exemplo
disso é o aumento do volume de comércio entre o Brasil e a Nigéria, que, de US$
25 milhões em 1972, passa para US$ 600 milhões em 1978.
Para Calcagnoto (1985), a "abertura ao Sul" efetuada pelo Brasil vai
consolidar-se em três fases distintas. Abre-se numa primeira fase com a viagem
do chanceler Gibson Barbosa a nove países africanos, em 1972, promovendo a
aproximação diplomática com nações recém-emancipadas ou ainda em processo de
luta anticolonial. Na segunda fase, de 1974 a 1978, a abertura continua, com a
condenação dos regimes colonialistas e racistas na África, bem como o
reconhecimento da OLP. Na terceira fase, a partir de 1979, ela se torna ainda
mais nítida quando o Brasil passa a se definir explicitamente como país
terceiro-mundista.
De fato, embora no Governo Costa e Silva (1967-9) algumas vozes se tenham
manifestado em prol dessa abertura, é a partir de 1972 que se observa uma
incisiva postura de ampliação do relacionamento do Brasil com os países do Sul,
especialmente os do continente africano, que à época tinha um lugar de destaque
nas trocas do Terceiro Mundo. Tratava-se de uma região de grandes
potencialidades, com um mercado expressivo e detentora de importantes reservas
de petróleo, além de outras matérias-primas. Para o Brasil, o mercado de
consumo africano, que se imaginava de grande relevância, passou a ter
importância estratégica na política de intensificação das exportações,
originada não apenas da necessidade de aumentar o valor destas e de contribuir
para o equilíbrio do balanço de pagamentos, mas também da pragmática
deliberação de ampliar as fontes de aprovisionamento externo do país em face de
uma situação mundial particularmente complexa, sobretudo depois da crise
petrolífera de 1973.
A África, por sua vez, na busca da autonomia e de melhorar sua posição perante
as ex-metrópoles coloniais européias e os centros do capitalismo mundial,
intensifica a procura de novos investidores e parceiros comerciais. Nesse
contexto, volta-se para os países recém-industrializados do Terceiro Mundo -
entre eles, como um dos parceiros privilegiados, o Brasil. A relativa expansão
econômica africana, advinda do boom do petróleo, tornava conveniente uma
parceria comercial e estratégica, no âmbito do Atlântico, com um país que
oferecia uma tecnologia dita "tropical", adaptada às circunstâncias africanas.
Assim, ampliar o intercâmbio favoreceria a conjugação de interesses mútuos: as
nações africanas, fontes importantes de petróleo, buscavam diminuir sua
dependência econômica em relação ao Norte, e o Brasil, carente dessa matéria-
prima, tinha bens e serviços adequados a oferecer9. Além disso, para o governo
brasileiro, as relações com a África abriam a possibilidade de reforçar o
perfil externo do país nos fóruns multilaterais e no jogo diplomático global,
pois, falando como representante do Terceiro Mundo, o Brasil teria muito mais
peso do que falando isoladamente (Sardenberg, 1980; Lafer, 1984).
Entretanto, ainda que esse movimento das exportações brasileiras em direção à
África possa representar uma alternativa ao mercado dos países industrializados
do Norte, não deve ser percebido unicamente como tal. Não se pode esquecer que
esse movimento visa também responder às necessidades do desenvolvimento da
acumulação capitalista implementada internamente no Brasil, no sentido de
realizar a mais-valia das indústrias aqui localizadas. Nessa condição, os
contatos com o Hemisfério Sul gradativamente assumem formas em que o Brasil
aparece como fornecedor de produtos manufaturados e semimanufaturados,
recebendo em troca produtos primários. No decorrer da segunda metade dos anos
1970, progressivamente, ganham destaque as operações de venda de tecnologia e
de serviços - em particular, nas áreas de engenharia civil, projetos
ferroviários, usinas de açúcar e álcool, como também engenharia de detalhes de
unidades industriais (Fragoso, 1984; Calcagnoto, 1985)10.
A viabilização dessas operações foi tornada possível a partir de uma grande
ofensiva brasileira envolvendo diplomacia, agências de governo e empresas
estatais. Entrelaçadas num projeto comercial, essas instituições orientaram-se
para um efetivo apoio a empresas multinacionais com filiais no Brasil e a
empresas de capital industrial nacional, estimulando-as a estabelecer relações
comerciais com o continente africano. As empresas tiveram à sua disposição todo
um aparato estatal que foi de significativa importância na promoção de
eventos11, bem como na condução do processo de comercialização e na luta para
vencer os obstáculos surgidos nesse processo.
Nesse sentido, o governo brasileiro empenhou-se na redução de barreiras e
dificuldades enfrentadas pelas empresas nacionais na concorrência com
estrangeiras, sobretudo as das antigas metrópoles coloniais européias, já de há
muito estabelecidas nas regiões em pauta. Esse empenho foi fundamental na
solução de problemas relacionados ao desconhecimento mútuo entre o Brasil e as
nações africanas; bem como à preferência dos consumidores desses países pelas
empresas e produtos europeus. Além desses, podem-se citar problemas como a
adoção de práticas indevidas - protecionismo, subsídios e reservas de mercado
em detrimento de empresas brasileiras -, bem como a insuficiência nos
mecanismos fiscais, de crédito, de seguros e de câmbio (Pimentel, 2000). A
extensão desse apoio brasileiro pode ser avaliada pela análise da gama de
incentivos à exportação, incluindo tanto os permitidos pelo Gatt12, como a
dispensa de pagamentos fiscais ou tarifas, quanto os não-permitidos, como os
subsídios fiscais. Com isso se obteve uma ampla margem de folga para a formação
dos preços de exportação, que se reduziram a valores situados entre 40% a 50%
abaixo dos preços do mercado interno (Calcagnoto, 1985).
Ao longo da década de 1980, o desempenho da economia brasileira sofreu um
declínio. A inflação, que se havia acelerado na década de setenta, chegou ao
final dos anos 1980 praticamente fora de controle, enquanto o PIB crescia em
níveis mínimos (em média, 1,3% a.a.), abaixo do crescimento demográfico, que
era de 1,9% a.a. Com o endividamento crescente do Estado, o déficit público se
elevou e a economia entrou em processo de estagnação (Pinheiro & Moreira,
1977)13. O regime de incentivos criado para fomentar a substituição de
importações exercia notável influência sobre o fraco desempenho da economia
brasileira nesse período: à medida que se esgotavam as possibilidades de
substituição de importações, esse regime deixava de ser um fator de promoção,
transformando-se em obstáculo ao crescimento econômico. O excesso de
intervenção estatal na alocação de recursos, especialmente a proteção e os
subsídios à indústria local, levava a uma série de distorções nos mercados de
produtos e fatores que acabavam por impactar negativamente o crescimento
econômico. Diante desse quadro, adota-se, na segunda metade da década de 1980,
uma política de liberalização comercial e de redução da intervenção estatal na
alocação de recursos. A partir de 1988, o governo vai progressivamente
abandonando o regime de incentivos adotado durante a industrialização, e com
isso se reduz a proteção aos produtos domésticos. Em 1989, a tarifa média de
impostos sobre importações era de 51%; no segundo semestre de 1993, ela caíra
para 14,9%. Nesse ano, já se havia eliminado a maior parte das barreiras
tarifárias às importações.
A política de liberalização comercial acaba por levar a modificações no padrão
de comércio formado durante os anos de substituição de importações, sendo
significativa para os bens de consumo. Em setores como têxteis, vestuário e
calçados, mobiliários e equipamentos de transporte, as tarifas aduaneiras, que
estavam acima de 100%, caíram para cerca de 20% em 1993. Sob a influência da
"ortodoxia neoliberal", a intervenção estatal cede lugar à orientação do
mercado. Assim, subsídios e incentivos à exportação são reduzidos ou eliminados
de uma média de 3,1% do PIB em 1981-4, o valor desses incentivos cai para 1,3%
em 1990. Em resultado disso, as relações Sul-Sul entram em declínio. As novas
prioridades do comércio exportador brasileiro a partir do final dos anos 1980
apontam quase que exclusivamente para parceiros tradicionais, como os Estados
Unidos, a União Européia e o Japão, que ampliam substancialmente sua
participação no comércio bilateral com o Brasil. A evolução do Mercosul,
constituído em 1991, aumenta a participação da América Latina nesse comércio,
incentivada por fatores como proximidade geográfica, melhores possibilidades de
coordenação e apoio, maior suporte do governo brasileiro, proximidade de idioma
e de cultura. A participação do continente africano nas exportações brasileiras
reduz-se significativamente, estagnando a partir dos anos 1990.
Incentivos à exportação
O governo brasileiro oferecia muitos incentivos para estimular as exportações
para o continente africano. A título de exemplo, podemos citar o Befiex14,
programa especial de incentivos que beneficiava as empresas nacionais e
estrangeiras que se instalassem no Brasil com o fito de exportar sua produção.
Esse mecanismo foi amplamente utilizado pelas companhias multinacionais, que
recebiam generosas taxas, de 15 a 25%, como estímulo às exportações. Em 1977, a
Volkswagen do Brasil iniciou a exportação de carros para a Nigéria e Angola,
estabelecendo, depois, montadoras nesses países. A IBM do Brasil foi outra
empresa que desenvolveu ação semelhante, beneficiando-se desse e de outros
incentivos (Uriarte, citado por Saraiva, 1999, p. 148).
Por sua vez, o programa Finex do Banco Central concedia recursos a taxas
privilegiadas de financiamento para fazer face às despesas relativas às
diferentes etapas de fabricação de bens indiretos, manufaturados e
semimanufaturados. Isso permitiu a viabilização de muitos negócios em condições
compatíveis de igualdade com parceiros tradicionais dos africanos, como era o
caso das ex-metrópoles, cujos acordos preferenciais de comércio inviabilizavam
a comercialização das manufaturas brasileiras, já penalizadas por diferentes
obstáculos, dentre eles os decorrentes das insuficientes rotas de transportes,
assim como dos fretes caros e difíceis.
Numa época de baixo crescimento da economia mundial, notabilizava-se o esforço
do Itamaraty, tentando superar dificuldades com seu "esquema de promoção
comercial", desenvolvendo estratégias - que envolviam empresários,
exportadores, governos e representações diplomáticas - e realizando detalhados
estudos e análises acerca das possibilidades comerciais. A Carteira de Comércio
Exterior do Banco do Brasil (Cacex) também teve importante papel, facilitando
as liberações das empresas brasileiras interessadas no mercado africano. E
também a imprensa, que dava ampla cobertura aos eventos na África, a exemplo da
revista Istoé15. (Lima, 1976, p. 153; 1982, p. 19; Ficou, 1986; Um roteiro,
1977).
A estrutura financeira demandada pelas relações comerciais teve um importante
suporte no Banco do Brasil (com agências em Abidjan, Lagos, Cairo, Casablanca,
Dacar, Libreville e Túnis), e no Banco Real (agência em Abidijan) facilitavam a
ação das empresas e o financiamento às importações africanas de produtos
brasileiros. O Brasil detinha na época 20% das ações do Biao Banco
Internacional da África Ocidental, com 21 agências na África e cinco na Europa
(d'Adesky, 1980, p. 10).
Com a finalidade de facilitar as exportações brasileiras de bens de capital e
produtos de consumo duráveis, bem como o pagamento de serviços, foram colocadas
linhas de crédito à disposição de países como Angola, Moçambique, Senegal,
Costa do Marfim, Gabão, Guiné-Bissau, Níger, Mali e Togo (d'Adesky, 1980, p.
10). O Banco do Brasil colocou em prática linhas de crédito em favor não apenas
de suas próprias agências na África, mas também em benefício de entidades
financeiras. Essa prática permitia às organizações beneficiárias divulgar, por
meio de seus clientes na África, uma lista de produtos que podiam ser
importados do Brasil, com financiamentos que variavam de cento e oitenta dias a
oito anos, com reembolso semestral e a juros prefixados.
A participação do Brasil no Fundo Africano de Desenvolvimento (FAD), com cerca
de US$ 20 milhões - uma das cinco maiores participações no FAD -, contribuiu
também para facilitar a participação do empresariado brasileiro nas
concorrências e projetos financiados pelo BAD (Banco Africano de
Desenvolvimento) ou por ambas as entidades.
O countertrade e outros serviços na relação Brasil-África
Apesar dessa rede de apoio financeiro, o acesso aos fundos internacionais -
indispensável para concretizar a participação brasileira em projetos de
envergadura na África - tornava-se cada vez mais difícil. Os fundos recusavam-
se a conceder empréstimos destinados a projetos brasileiros no Terceiro Mundo
(Mourão, 1985, p. 9-10). Uma das soluções utilizadas para contornar a situação
foi a introdução da modalidade de troca conhecida como countertrade,que
possibilitava o pagamento parcial ou total de mercadorias por meio de
mercadorias.
O countertradeconstituiu-se em importante instrumento para a facilitação das
trocas na África, contornando as barreiras protecionistas do Norte e suprindo a
necessidade de divisas decorrente da crise da dívida e da alta dos juros
internacionais. De certa maneira, consistia num trunfo de autonomia a ser
utilizado nas negociações com os demais países ou organismos internacionais.
Para Fonseca (1984. p. 32), executivo da Cotia Trading, dadas as condições dos
mercados africanos e brasileiro, a utilização do countertrade revestia-se de um
mecanismo de grande significação para o comércio bilateral, considerando-se que
(...) a grande motivação político-econômica que permite justificar as
operações de "countertrade" é exatamente em função de utilizar a
capacidade ociosa que existe no país em desenvolvimento. E dois
motivos básicos justificam a operação: 1) para o "countertrade" se
justificar é necessário que existam dois parceiros com escassez de
divisas para pagar em moeda não forte; 2) existir bens e serviços
excedentes e que encontram demanda potencial no outro (...).
Assim, tendo como base o petróleo, esse sistema foi o principal responsável por
um certo deslocamento das compras brasileiras desse produto do Oriente Médio e
da América Latina para a África, constituindo instrumento estratégico e fato
explicativo para o crescimento avultado do comércio brasileiro com um seleto
grupo de países africanos, a exemplo da Nigéria, que na década de 1980 se
tornou o maior parceiro comercial do Brasil na África, ensejando inclusive a
criação, em São Paulo, da Câmara de Comércio Brasil-Nigéria, em setembro de
1983, e da Câmara de Comércio Nigéria-Brasil, em novembro de 1984, em Lagos,
Nigéria.
As perspectivas sobre o significativo relacionamento entre o Brasil e a Nigéria
eram apontadas na época como modelares na cooperação Sul-Sul e exaltadas pelas
possibilidades que se abriam de romper a dependência em relação aos países
desenvolvidos (Nigéria, 1977). Em visita ao Brasil, em maio de 1977, o ministro
das Relações Exteriores da Nigéria afirmava categoricamente que, além do
comércio e da transferência de tecnologia, o interesse nigeriano no Brasil
dirigia-se ao novo tipo de padrão de cooperação que se desenvolvia entre dois
países de herança colonial.
A Nigéria foi o primeiro país africano a estabelecer um contrato por
countertrade com o Brasil. Por meio dele o Brasil importava cerca de cem mil
barris de petróleo por dia e exportava o equivalente a quarenta mil barris
diários em veículos, peças e outros produtos, por intermédio da Cotia (a mais
importante parceria comercial privada brasileira na Nigéria). Também utilizando
o countertrade, a Petrobrás efetuava compras de petróleo junto à estatal
Nigerian National Petroleum Company (NNPC)16, que recebia em troca o
equivalente em serviços, tecnologia e bens de capital, comercializados por meio
da Cotia Trading e destinados, em grande parte, à construção de barragens,
hidrelétricas, estradas de rodagem, ferrovias, entre outros fins.17
Outro acordo importante de countertrade foi estabelecido com Angola, em
novembro de 1984, para a construção da hidrelétrica de Capanda, a maior da
África, numa empreitada em que a Construtora Norberto Odebrecht se associava a
uma empresa soviética fornecedora de turbinas. O custo da construção, previsto
inicialmente em US$ 650 milhões - o maior envolvendo uma construtora brasileira
no exterior -, seria parcialmente pago com petróleo angolano, numa base inicial
de dez mil barris diários. A Petrobrás também participou de operações de
countertrade com Angola, como a associação com a Sonangol, estatal angolana, e
com as empresas estrangeiras Petrofina e Bristish Petroleum, para a exploração
do petróleo angolano.
Não sendo um meio perfeito nem fácil de fazer negócios, e dada a sua
importância, o countertrade mereceu do governo brasileiro uma atenção especial.
Criou-se dentro da Cacex uma central de coordenação, o Departamento de Estudos
de Mercado (Depem), encarregado de agilizar as operações e identificar novos
parceiros potenciais para operações de countertrade.
Um aspecto marcante da aproximação econômica do Brasil com a África no Governo
Figueiredo foi a tentativa de criação de uma estrutura própria de comércio
envolvendo as mais diversas iniciativas, desde o aperfeiçoamento da estrutura
de serviços informativos e informáticos instalada no Departamento de Promoção
Comercial do Itamaraty até a criação de trading companies privadas e estatais.
Nesse particular, a Interbrás, trading brasileira subsidiária da Petrobrás,
estabeleceu associação com 21 companhias instaladas no Brasil e na Nigéria para
comercializar cerca de cem produtos industrializados brasileiros sob a marca
exclusiva Tama. Convém lembrar ainda que a atividade comercial brasileira na
África não se restringiu aos países citados anteriormente. Incluiu vários
outros parceiros, tais como Moçambique (barcos de pesca e máquinas agrícolas),
Zaire (frotas de carros e peças de reposição), além de Tanzânia, Senegal,
Mauritânia, Libéria e Costa do Marfim (Estreitamento, 1978).
O comércio de armas foi outro importante segmento nos intercâmbios entre o
Brasil e a África na década de 1980. A partir de 1974, quando o Brasil passou a
desenvolver capacidade na produção de armas, e particularmente depois de 1977,
quando denunciou o acordo de cooperação militar com os Estados Unidos, a
indústria bélica adquiriu reputação e espaço para exportar tanques, armas
manuais e de artilharia, aviões de treinamento e de guerra (Saraiva, 1996, p.
157). Na África, a Nigéria era a principal compradora de armas brasileiras,
além de Gabão, Marrocos, Sudão, Togo, Alto Volta e Zimbábue (Livro, 1991). Por
não transparecer nas estatísticas, esse comércio é de difícil percepção, e na
época era motivo de certo desconforto para determinados setores empresariais,
preocupados com a possibilidade de que ele trouxesse inconvenientes para a
exportação de outros bens industriais. A verdade é que a politização do
comércio de armas só se comprovou mais tarde (em 1988), a partir da pressão
norte-americana contra a venda de um bilhão de dólares em armamentos
brasileiros à Líbia.
A transferência de tecnologia e serviços, por sua vez, foi atividade geradora
de grandes negócios no continente. Uma das marcas inovadoras do período em
questão é uma progressiva abertura dos países africanos à entrada de empresas
brasileiras de prestação de serviços, especialmente aquelas voltadas à
construção de obras públicas e de infra-estrutura, exploração de petróleo,
implantação de projetos agrícolas, realização de estudos de viabilidade de
prospecção mineral, mapeamento de solos etc. Inicialmente esses serviços eram
executados exclusivamente por companhias estatais brasileiras. As empresas
privadas não tardaram a entrar nesse mercado, especialmente as empreiteiras,
que marcaram presença no setor. Estas trabalhavam principalmente no regime de
joint-venturee, devido à carência estrutural de financiamento local para
manterem presença permanente no continente, utilizavam preferencialmente o
sistema de built-operate-transfer,que era também muito bem aceito pelos
parceiros africanos (Saraiva, 1996, p. 154).
Lafayete do Prado, executivo da Transcon, entende que, pela adequação do
estágio tecnológico brasileiro à necessidade dos países do Terceiro Mundo, o
Brasil estaria preparado para vender diversos tipos de serviços a esses países.
"As áreas vedadas à presença brasileira, por carência de maturidade
tecnológica, dificilmente se inserem na demanda daqueles países. Além disso, em
vários, setores como o de transportes, hidrelétricas e indústrias básicas, a
nossa maior afinidade com os níveis atuais dos países potencialmente
recipientes conta a nosso favor." Ele acrescenta ainda que, diante disso, as
relações comerciais brasileiras eram priorizadas pelos africanos em razão de
fatores como "necessidade reconhecida de apoio e a disposição favorável do
Brasil para isso, falta de periculosidade de ingerência nos assuntos internos
desses países, e, quanto à maior parte das nações africanas, somos hipóteses
alternativas em face dos antigos colonizadores" (Brasil, 1981, p. 6).
A esse respeito, as empresas prestadoras de serviços de engenharia destacaram-
se em termos da dimensão da transferência de tecnologia, bem como pelo volume
de divisas envolvido nas negociações. De certo modo, a crise do mercado interno
brasileiro de construção civil contribuiu para a maior presença dessas empresas
no mercado externo. Entre estas, podemos citar a Mendes Júnior, pioneira nesse
campo com a construção da Transmauritânia, que atuou principalmente na
construção de estradas e aeroportos na Nigéria e na Mauritânia; a Norberto
Odebrecht, que desenvolveu projetos de construção de estradas, hidroelétricas e
hotéis em Angola, envolvendo-se no setor de óleos por meio de sua subsidiária
Tenenge; a Ecisa, que construiu a rodovia Morogaro-Dodoma, na Tanzânia; a
Andrade Gutierrez, que utilizou o sistema built-operate-transfer para contratos
de construção e gerenciamento de minas de ouro no Zaire, além de construir
estradas nos Camarões e no Congo, onde foi responsável, em 1984, por uma
rodovia de 134 km em plena floresta equatorial, envolvendo cerca de dois mil
trabalhadores, dos quais quinhentos brasileiros; a Sisal, que preparava pessoal
e reformava hotéis para tornar a capital angolana viável a estrangeiros.
Foram muitas as companhias que tiveram seus nomes ligados ao desenvolvimento
das relações econômicas do Brasil com o continente africano. Entre elas, ainda
podemos citar a Pão de Açúcar, uma das primeiras empresas privadas a estar
presente no continente; a Hidroservice, que desenvolveu importantes trabalhos
de consultoria para implantar serviços de comunicação junto à Companhia de
Comunicação da Nigéria, em Lagos, chegando a recrutar cerca de trinta
engenheiros em São Paulo, e participando ainda da produção de aço em Abeokuta;
a Sobratel, a Protec e a Promon, na área de serviços de comunicação. Esta
última chegou a levar cento e quarenta engenheiros brasileiros para atuarem na
Nigéria (Infra-estrutura, 1977).
O fornecimento de "pacotes" de engenharia foi uma estratégia bastante utilizada
pelas empresas brasileiras de serviços para compensar sua falta de
competitividade no continente africano. Conforme revela Roberto Prisco Ramos,
executivo da Montreal Engenharia, faltavam ao Brasil condições
(...) para concorrer com as empresas da Coréia e com as que empregam
mão-de-obra indiana e paquistanesa - muito mais barata. Mas
conseguimos equilibrar e até levar vantagem dentro das operações
chamadas "pacote" (package deal), onde colocávamos bens de
equipamentos nacionais, pois aqueles países não tinham o parque
industrial que nós possuíamos (...) (Empresas, 1981, p. 35)18.
O volume de serviços prestados nessas condições assumiu proporções
consideráveis, acarretando para o Brasil as óbvias vantagens que esse tipo de
exportação traz (Calcagnoto, 1985, p. 78). Como reconhece a Fiesp: "(...) para
cada dólar de serviços exportados, iam três de manufaturados. Rodovias,
ferrovias, hidrelétricas, cadeias de hotéis são alguns dentre os muitos
exemplos arrolados para documentar o contributo brasileiro à modernização de
países africanos (...)".
Outra estratégia muito utilizada para gerar exportações consistiu na concessão
de empréstimos condicionados à aquisição de bens manufaturados brasileiros,
como é o caso das operações efetuadas com o Senegal e o Gabão em 1974, pelas
quais o Brasil emprestava a esses países em contrapartida à compra de produtos
brasileiros (Brasil, 1974). A utilização dessa e de outras estratégias
possibilitou o extraordinário crescimento do comércio Brasil-África nesse
período.
Dificuldades e declínio das relações Brasil-África
Muitos obstáculos se fizeram presentes nesse relacionamento, alguns dos quais
contribuíram decisivamente para o declínio gradativo da importância do comércio
do Brasil com a África ao longo da segunda metade dos anos 1980 e, mais
incisivamente, nos anos 1990. Trata-se de obstáculos que, conforme Pimentel
(2000, p. 9), podem ser distinguidos como genéricos - enfrentados por empresas
de qualquer país, instaladas ou em operação na África - ou específicos das
empresas brasileiras.
Os primeiros estariam vinculados à situação de instabilidade política e
econômica da maioria dos países africanos, desencorajando investimentos e
gerando um "custo África" que fez diminuir o interesse pelo continente. As
dificuldades específicas do empresariado brasileiro estariam vinculadas ao
desconhecimento mútuo e à preferência africana pelas empresas européias e seus
produtos, em razão dos sólidos vínculos comerciais com as ex-metrópoles. Além
disso, também influíram a insuficiência de transportes diretos; a utilização de
práticas indevidas, como protecionismo, subsídios e reserva de mercados em
prejuízo das empresas brasileiras; a deficiência dos mecanismos de crédito e
seguros das exportações brasileiras; as similaridades de produtos etc. Vale
ressaltar que, antes da visita do ministro Gibson Barbosa à África em 1973, a
revista Conjuntura Econômica (1973, p. 90) já apontava alguns desses
obstáculos.
Os empresários brasileiros enfrentaram algumas dificuldades para as quais não
estavam preparados, tais como a diversidade de culturas e os desníveis de
desenvolvimento de país para país, bem como as diversas línguas dos
interlocutores. Alguns executivos brasileiros que atuaram no continente
africano registraram os problemas enfrentados. O empresário Freddy Aflalo
alertava que, para o brasileiro se instalar na África, era necessário primeiro
saber com quem lidar. O único método para isso, segundo ele, era "a avaliação
objetiva do mercado, dos homens e das sociedades africanas". Advertia também
que o primeiro passo consistia em "despir-se dos preconceitos, do racismo
intrínseco que povoa a mente dos nossos executivos, que leva a uma atitude
paternalista ou, o que é pior, de antagonismo" (Saiba, 1981, p. 32).
Boaventura d'Avila Filho, executivo da Tecnometal, empresa que realizou estudos
sobre a indústria no Congo e no Gabão, salientava que soluções brasileiras,
como o emprego de mão-de-obra local em larga escala, eram muito mais
consentâneas com a realidade africana do que um modelo de fábrica robotizada
norte-americana ou japonesa. Ele ponderava, no entanto, que uma das maiores
dificuldades era o quase completo desconhecimento, por parte dos brasileiros,
da realidade histórica, política e étnica dos países africanos, o que o levara,
para bem executar o seu trabalho, a contratar um especialista (Nova, 1983, p.
14).
Outra dificuldade, segundo Oliveira (1987, p. 151), advinha do fato de os
levantamentos de dados (econômicos, demográficos, comerciais e outros) sobre a
maioria dos países africanos serem adquiridos na Europa, o que implicava
informações desatualizadas ou distorcidas da realidade africana. As
dificuldades apontadas por esses empresários e estudiosos, somadas à crise
econômica mundial do início dos anos 1980, reduziram a capacidade do Brasil em
dar sustentação à política comercial relativa ao mercado africano. Assim, no
Governo Sarney (1985-90), o comércio brasileiro começou a declinar. Seus
índices retornaram a valores semelhantes àqueles dos primórdios do intercâmbio,
com uma participação entre 3,5 e 4% do total das exportações brasileiras para
todo o mundo19. Os anos 1990 trouxeram, além de mudanças no mundo como um todo,
a consolidação político-institucional, o redimensionamento do Estado e a
abertura econômica. Voltou-se a privilegiar as relações com os Estados Unidos e
a Europa, ao mesmo tempo em que se incrementaram as relações com a Ásia. O
sucesso do Mercosul fez as atenções do empresariado convergirem para os
vizinhos do continente, fazendo com que a África perdesse os atrativos que nos
anos 1970 levaram ao brilho e à ousadia da política africana daquele período.
A tendência de baixa nesse comércio não significa, contudo, o fim do
intercâmbio, pois a política persiste, embora de maneira seletiva, com
prioridades precisas e bem delimitadas no continente. A política africana dos
anos 1970 e parte dos anos 1980 cede lugar a um enfoque recortado a poucos
países, regiões e temas. Os interesses se voltam para a África Austral,
nomeadamente a África do Sul, um dos raros países ao sul do Saara que têm
conseguido superar as crises de desenvolvimento por que passa o continente
africano, registrando níveis históricos de crescimento. Seus níveis de
intercâmbio com o Brasil elevaram-se substancialmente em relação às décadas
anteriores, alcançando, de 1992 a 1994, entre US$ 350 milhões e US$ 400 milhões
(Banco do Brasil, 1995).
Em discurso realizado na celebração do Dia da África, em 25 de maio de 1995, o
ministro das Relações Exteriores reconhece na África uma das grandes
oportunidades que se abrem para o Brasil, listando razões que estimulariam
essas relações, tais como: a) a proximidade relativa entre o Brasil e a África
e o fato de que grande parte do continente compartilha conosco o Atlântico, uma
base física que também facilitou as relações comerciais no passado; b) a
condição de país em desenvolvimento que, em diferentes gradações, o Brasil
compartilha com a totalidade do continente africano; c) a complementaridade
existente entre a economia brasileira e as economias africanas, que era forte
no passado e deveria ser reavaliada no presente; d) a importância da África
como parceira internacional, com cinqüenta países, diversas culturas e muitas
interfaces geográficas com o Mediterrâneo, o Oriente Médio, a península
Ibérica, o Atlântico Sul e o oceano Índico; juntamente com um peso político
próprio, a extensa e variada África, mesmo enfrentando problemas, oferece
janelas de oportunidades para parcerias com países em desenvolvimento; e) a
grande semelhança de condições físicas, climáticas e sociais entre o Brasil e
muitos países africanos, gerando uma importante "identidade regional" em termos
de desenvolvimento tecnológico e adaptabilidade de técnicas para os vários
tipos de ambientes tropicais que o Brasil compartilha com seus parceiros
africanos (Lampréia, 1995, p. 205).
Além disso, os novos rumos da realidade internacional incentivam a cooperação
de empresas e governos, abrindo espaços para a expansão de associações entre
países com objetivos afins. Diante disso, importantes vias de expansão desse
comércio prenunciam estabelecer-se a partir dos espaços que se consolidam com a
criação das ZPCAs e da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Perspectivas empresariais: considerações finais
Ao voltar a atenção para as relações econômicas Brasil-África, observamos
tratar-se de um intercâmbio de há muito estabelecido, mas que, no cômputo
geral, ganhou relevância no período compreendido entre os anos 1970 e 1990,
ocasionando uma grande movimentação do empresariado brasileiro em direção ao
mercado africano.
Como pudemos observar, essa movimentação foi conduzida no âmbito da estratégia
governamental de substituição de importações, tratando-se, mais
especificamente, de um desdobramento dessa estratégia, ou seja: à medida que o
crescimento da indústria nacional via substituição de importações gerava
estoques invendáveis, a busca de compradores no exterior fazia-se necessária
para o escoamento da produção excedente. Essa necessidade tornou-se premente
com o acirramento das tendências protecionistas dos países industrializados e a
vulnerabilidade externa da economia brasileira no período. Com isso, o governo
se viu forçado a incentivar não apenas as exportações de artigos de maior valor
agregado (manufaturados), mas também a conquista de novos mercados.
Sob o estímulo das emergentes relações Sul-Sul, que incentivavam o intercâmbio
entre países do Terceiro Mundo, a busca por novos mercados vai encontrar na
África uma importante opção para o destino das exportações de manufaturados
brasileiros. Essa opção era favorecida não apenas pela destacada fonte de
suprimento de petróleo e outras matérias-primas cruciais ao desenvolvimento do
modelo econômico implantado no Brasil em que se constituíam os países
africanos, mas igualmente pela manifesta disposição destes em encontrar
parceiros no contexto Sul-Sul.
Nesse quadro, no início dos anos 1970, o governo concedeu forte estímulo a
multinacionais estrangeiras com filiais no Brasil e empresas de capital
nacional para direcionarem parte de suas exportações para o continente
africano. Sob o impulso do Itamaraty e de outros órgãos de governo, o Estado
investiu maciçamente na conquista de novos mercados na África, viabilizando
empreendimentos que de outra forma enfrentariam pesados obstáculos,
especialmente em razão da falta de liquidez das nações africanas e das
dificuldades de obtenção de moeda forte junto a bancos e entidades
internacionais.
Estreitaram-se laços políticos, criaram-se embaixadas, promoveram-se eventos
diversos, estimulando-se também o desenvolvimento de novos meios e formas de
facilitar as exportações para o continente africano. Apostava-se nas
potencialidades da região, ao tempo em que se buscava persuadir setores
influentes da sociedade para se engajarem no esforço exportador do governo.
Isso pode ser percebido pelo grande número de eventos patrocinados pelo governo
brasileiro nesse período, além das facilidades e incentivos (fiscais,
creditícios, cambiais, entre outros) concedidos aos empreendimentos que
exportavam para a África.
As atividades de fomento à exportação fizeram com que diversas empresas
surgissem nesse período ou voltassem seus empreendimentos para o mercado
africano, contribuindo, dessa forma, para que a participação africana no total
do comércio exterior brasileiro, ao início dos anos 1980, se elevasse a índices
jamais alcançados. Essa situação chama a atenção na medida em que o auge dessas
relações foi alcançado num período, do ponto de vista econômico, bastante
conturbado para o Brasil - a década de 1980 foi considerada uma "década
perdida", de grave desequilíbrio nas contas externas e de inflação alta, quase
incontrolável.
Nos anos 1990, o intercâmbio comercial regrediu. A crise econômica que abalou o
mundo ao final dos anos 1980 atingiu profundamente as economias africanas,
retirando-lhes a capacidade de ampliar suas relações com o Hemisfério Sul. O
Brasil, por sua vez, ao efetuar a renegociação da dívida externa, perdeu parte
de sua liquidez e conseqüentemente grande parcela de sua capacidade de
sustentar uma política em direção à África, concedendo subsídios, incentivos e
demais facilidades às exportações.
A política de estabilização da economia e a reforma do Estado brasileiro
exerceram consideráveis influências no arrefecimento desse comércio, na
proporção em que levaram o País a eleger uma política cuja abertura comercial
privilegiava a relação com os tradicionais parceiros industrializados (Estados
Unidos e União Européia) e priorizava uma política regional em direção ao
Mercosul. Isso torna-se evidente nas palavras do ministro das Relações
Exteriores do Brasil, em 1995, ao afirmar que uma prioridade da política
externa brasileira "é o processo de consolidação do Mercosul, o seu eventual
engrandecimento com a incorporação de novos parceiros, o seu relacionamento com
outras comunidades econômicas, com destaque para a União Européia e Nafta e sua
incidência na estabilização e na retomada do crescimento" (Lampréia, 1975, p.
115). Com a reforma do Estado, percebe-se que, do ponto de vista do comércio
externo, o País se distancia da África. Conformando-se com os princípios da
globalização e do livre mercado, que estimulavam a desregulamentação e a
privatização, o papel do Estado vai progressivamente diminuindo.
Como se pôde inferir, a reaproximação do Brasil com a África nos anos 1970 não
foi um fato natural, decorrente dos anos de contatos com o continente africano,
mas um ato político decorrente de um projeto de inserção internacional para o
Brasil que buscava na África atender interesses materiais e políticos de
afirmação de autonomia no mundo.
Contudo, não se pode desprezar a disposição do empresariado brasileiro em
aproveitar as oportunidades de negócios surgidas no âmbito do comércio Brasil-
África, como também o seu empenho no enfrentamento de dificuldades nada
convencionais. Aí estariam incluídos o conflito angolano, a preferência
africana por produtos e serviços europeus, a insuficiência de transportes
diretos e o desconhecimento mútuo das respectivas realidades.
Tais competências desenvolvidas ao longo dos anos fazem com que alguns desses
empreendimentos ainda hoje prossigam atuando em operações voltadas para o
comércio africano, a exemplo da Câmara de Comércio Brasil-África e a
Construtora Norberto Odebrecht.
No caso da Câmara percebeu-se que, em face de uma insuficiente conformação aos
novos ditames do mundo dos negócios, suas atividades se reduziram, evidenciando
a perda de uma parcela de sua força negocial. Por sua vez, os novos cenários do
mundo dos negócios exigem a utilização intensiva de modernas ferramentas de
gestão. Estas parecem incorporar-se de forma bastante lenta ao dia-a-dia da
Câmara de Comércio Afro-Brasileira, que não possui uma página na webe parece
utilizar pouco a internet, além de possuir um banco de dados que carece de
atualização. Tais constatações estariam a indicar a necessidade de sérias
reformulações na forma de atuação da Câmara a fim de que esta possa continuar a
exercer o significativo papel desempenhado nos "anos de ouro" do comércio
Brasil-África. Seu nome, sua história e seu passado constituem um legado que
não se pode desprezar, tendo em vista a ampla experiência e o grande
conhecimento acumulados ao longo dos anos no desenvolvimento de negócios no
continente africano.
No que tange à atuação da Odebrecht em Angola, pudemos perceber que se tratou
de uma experiência muito bem sucedida, cujos resultados positivos permitiram a
essa empresa firmar-se na atualidade como uma das mais importantes forças da
construção civil naquele país, executando grandes obras de engenharia,
diversificando seus negócios e instalando subsidiárias. Diversos fatores
contribuíram para o êxito dessa empresa em território angolano. Além do forte
apoio governamental, identificamos o bom relacionamento entre os dois países, a
língua comum, a planejada integração e parceria no mercado local, o
investimento na capacitação tecnológica e gerencial das equipes, a aplicação de
modernas formas de gestão e uma desenvolvida capacidade de mobilizar pessoas,
recursos estratégicos, financeiros e políticos, com vistas a atingir seus
objetivos.
A despeito das mudanças no ambiente econômico brasileiro e da redução
progressiva do apoio estatal nos anos 1990, a Odebrecht experimenta uma
continuada ampliação de suas atividades no continente africano. Ela se instalou
em outros países da região e, por meio do "efeito vitrine", ampliou o seu raio
de ação para outros continentes. Por tais constatações, a experiência da
Odebrecht estaria a demonstrar que as relações comerciais com o continente
africano são viáveis, suscitando diversas indagações: será que hoje em dia uma
grande empresa brasileira que desejasse iniciar negócios na África poderia
conseguir êxito seguindo o modelo adotado pela Odebrecht? E no caso de uma
pequena ou média empresa?
Diante do que apresentamos ao longo deste texto, percebe-se que as condições no
Brasil se modificaram e, portanto, uma empresa brasileira que, resolva iniciar
operações dirigidas ao mercado africano terá de partir de novas bases, já que
não poderá contar com a vasta gama de incentivos creditícios e financeiros
concedidos no passado pelo governo brasileiro. Extinguiram-se as linhas diretas
semanais que ligavam o Brasil a diversas cidades africanas, como Lagos
(Nigéria), Abidjan (Costa do Marfim), Luanda (Angola) e Maputo (Moçambique). À
exceção dos dois vôos diretos semanais para a África do Sul, os contatos aéreos
com o continente africano se efetuam de forma triangular, com passagem pela
Europa.
Com o capital financeiro escasso no Brasil e nos países africanos, em lugar dos
empréstimos a juros subsidiados, antes concedidos por bancos oficiais, as
empresas são hoje obrigadas a contar com seus próprios recursos ou recorrer a
empréstimos a taxas de juros de mercado oferecidos pelos bancos privados. Em
contrapartida, no horizonte do século XXI, o Brasil, da mesma forma que os
países africanos, ampliou o conhecimento sobre esse intercâmbio. Cresceu no
País o número de centros de estudos sobre a África, contabilizando um reforço
em termos de capital intelectual e de recursos humanos proveniente do maior
número de africanos e brasileiros que atuaram nesse comércio.
A rede mundial de computadores facilitou o conhecimento de oportunidades de
negócios. Análises de possibilidades de países e mercados africanos podem ser
inferidas de sites de organismos internacionais, como os da ONU, Onudi, OUA e
FAO, entre outros. A BrazilTradeNet (www.braziltradenet.gov.br), site do
Departamento de Promoção Comercial do Ministério das Relações Exteriores,
oferece gratuitamente um amplo conjunto de oportunidades de negócios,
informações e pesquisas sobre produtos e mercados, endereços úteis, notícias,
links e outros dados de interesse para exportadores brasileiros. Nesse site, a
empresa pode incluir uma oferta de exportação para ser consultada por
congêneres de fora do Brasil, além de obter informações sobre as condições
gerais de acesso de seu produto a um país ou bloco econômico. Assim, uma
pequena ou média empresa que esteja procurando negócios no mercado africano
deve incorporar a internet à sua rotina de trabalho. A isso se deve acrescentar
a busca de oportunidades junto a câmaras de comércio20, consulados e embaixadas
de países africanos no Brasil.
Já no caso de uma grande empresa, a especialização e o aprimoramento dos
recursos humanos e tecnológicos revestem-se de importância capital. Dispondo de
departamento de exportação próprio, a permanente atualização de seus quadros,
em sintonia com as tendências mundiais, a torna mais capacitada para atuar
nesses mercados. A assinatura de periódicos especializados em África, o envio
de representantes para conhecer pessoalmente as potencialidades dos países
africanos, o permanente contato com empresas estrangeiras e nacionais que detêm
o conhecimento dos mercados locais constituirão importantes ferramentas a serem
consideradas. Em certas circunstâncias, seria recomendável buscar a associação
com outras empresas em torno de projetos de joint-venture. Convém ainda
ressaltar que, a exemplo das grandes empresas européias, norte-americanas e
asiáticas, a intenção de permanecer no continente africano parece fator de
grande importância para o sucesso nesse tipo de empreendimento, haja vista que
essa presença contínua tende a propiciar um maior domínio dos mecanismos
comerciais, assim como maior rapidez na adaptação aos mercados.
Caberia acrescentar que as considerações aqui apresentadas advêm do
entendimento de que as conjunturas brasileira, africana e internacional estão
continuamente a criar novas oportunidades e desafios que não podem ser
ignorados pelos homens de negócios deste País, a despeito das dificuldades que
sempre existirão nas relações com qualquer país ou região. No caso africano,
tais dificuldades estariam vinculadas sobretudo à recorrente instabilidade
política e econômica de boa parte desses países, determinando um "custo África"
que cria obstáculos à instalação ou operação de empresas brasileiras naquele
continente.
Buscando averiguar quais os mercados africanos que se apresentariam como
promissores para o desenvolvimento de negócios brasileiros nos horizontes do
ano 2002, o pesquisador consultou Especialistas em África e deles recolheu
impressões que nos levaram à conclusão de que, excluídas algumas grandes
empresas que procuraram consolidar sua presença no continente, o setor privado
brasileiro não está familiarizado com as diferenças entre os diversos países
africanos. Por isso, tende a julgar a África como um todo em função dos
aspectos negativos ressaltados pela imprensa, da mesma forma que, em sentido
inverso, muitos empresários africanos desconhecem a qualidade de nossos
produtos e serviços.
Percebeu-se ainda que as relações comerciais entre o Brasil e o continente
africano hoje se concentram, em grande medida, nos países petrolíferos, como
Líbia, Nigéria, Gabão, Argélia, Angola e Congo Brazzaville. Além desses países,
destaca-se a África do Sul, que desponta como parceiro de elevado valor
estratégico em função de sua posição geográfica e do seu nível de
desenvolvimento industrial, que é elevado em comparação com os de outros países
africanos. Brasil e África do Sul são os pólos mais desenvolvidos do
capitalismo em seus respectivos continentes, o que se expressa não só na
grandeza de seus PIBs, mas também nos respectivos graus de sofisticação
industrial. Acrescente-se a isso a condição privilegiada de observador de que a
África do Sul desfruta no Mercosul, além do fato de poder ser considerada um
trampolim para a penetração em todo o subcontinente da África Austral, região
de apreciável valor econômico derivado da produção e reserva de vários minerais
estratégicos, situada entre os oceanos Índico e Atlântico e fronteiriça ao cone
sul da América Latina.
Também o mercado dos países africanos da CPLP foi apontado como um mercado
potencial para a venda de mercadorias e serviços, tais como a construção civil,
a agropecuária, etc. A língua portuguesa comum e o interesse político do
governo brasileiro em desenvolver maior cooperação representariam um grande
atrativo para impulsionar um intercâmbio comercial de grandes potencialidades.
Trata-se de um mercado com cerca de quarenta milhões de pessoas cujas
afinidades culturais e familiaridade com o Brasil são estimuladas por condições
semelhantes em termos de terreno e de clima. Além disso, as empresas
brasileiras possuem vantagens comparativas para participar no desenvolvimento
africano, pois o patamar tecnológico dessas empresas permite a atuação em
setores de média complexidade, dotados de capacidade indutora, como a formação
profissional, a construção civil, a agricultura e outros.
Trata-se de perspectivas múltiplas e atraentes, que ainda assim nos apontam
para novas questões: sob que outras formas de atuação empresas brasileiras se
estabeleceram no continente africano no período estudado? Que situações
poderiam ser apontadas como potencializadoras do sucesso (ou do fracasso)
dessas iniciativas? Em tempos de globalização, com o peso hegemônico das
relações econômicas Norte-Sul, seria possível ou desejável reativar o
intercâmbio Sul-Sul? Será que, no contexto da globalização, o governo
brasileiro deveria voltar a priorizar as relações com a África? São questões,
como muitas outras, cujas respostas seriam de muita utilidade para
pesquisadores interessados no tema das relações comerciais Brasil-África, além
de ampliar o conhecimento sobre o comportamento do empresariado nacional,
provendo o campo da administração (fortemente contaminado por influências
estrangeiras) com informações retiradas do contexto brasileiro - rica fonte de
ensinamentos para as novas gerações de empreendedores.
Agosto de 2003