O alargamento da União Européia e a América Latina
Introdução
A Europa renascida mediante os processos de consolidação da paz e de
recuperação econômica após as devastações da Segunda Guerra Mundial se formou
na lógica da neutralização de riscos e ameaças. Duas foram as principais linhas
de definição da ação política prevalentes. Uma, a de compensar a ameaça da
expansão, vinda do leste, do regime comunista. Essa linha de ruptura,
simbolizada pelo discurso de Winston Churchill sobre a cortina de ferro, se
esgueira entre as políticas da guerra fria e inventa o conceito de "Europa
Ocidental". Traçada a fronteira material e imaterial da divisão do mundo em
dois blocos, a outra linha de atuação política concentra-se na criação de
instrumentos políticos de preservação do espaço europeu ocidental do risco de
um terceiro conflito de grandes proporções que acarretasse seja a destruição
dos sobreviventes do conflito de 1939-1945 seja a expansão do regime soviético.
A combinação de ambas as linhas criou as condições para o desenvolvimento
econômico e para o crescimento dos seis primeiros membros das Comunidades. Não
se tem aqui nada de bem extraordinário, visto tratar-se de um cenário ' em
parte trágico ' bem conhecido e, entrementes, amplamente superado. Ao final da
década de 1980, mudado o jogo, desaparece a pressão política e ideológica que
pesava, qual hipoteca, sobre o sistema internacional.
Sob circunstâncias históricas internacionais adversas, pode-se dizer que o
processo de construção da União Européia é, entretanto, o primeiro a ter dado
passos concretos no caminho da integração efetiva e a ter imposto que se
pusesse a questão da situar-se cada indivíduo, cada comunidade e cada estado
diante do novo quadro de referências culturais e de decisões políticas. Tal
processo decisório deu-se no início da década de 1950, no mundo politicamente
fraturado, e repetiu-se na de 1980, diante da orfandade política e do atraso
econômico dos países do centro e do leste europeus. Entrementes, ao longo de
praticamente cinqüenta anos de percurso, as Comunidades Européias,
transformadas em União Européia pelo Tratado de Maastricht de 1992, tornam-se
uma realidade econômica, financeira e política incontornável no espaço público
mundial. A ponto de substituírem, por metonímia, o sentido continental do
conceito espacial de Europa.
A alternativa política da Europa Ocidental jamais chegou a constituir-se
plenamente. A opção preferencial pelo sistema de alianças ocidental, pelo
estado democrático de direito e pela economia de livre iniciativa situou
nitidamente as Comunidades do Tratado de Roma na cultura política "do
Ocidente". As raízes da cultura européia, contudo, sempre pertenceram à lógica
da integração, cujo projeto político incluía, desde seu nascedouro, a
perspectiva da reconciliação "familiar" européia. É certo que o processo
político trilhou, sobretudo e mais longamente, caminhos econômicos e
comerciais, tendo suas dimensões culturais, sociais e políticas ' no sentido da
prática quotidiana da vida democrática em sociedade ' evoluído mais lentamente.
O "déficit democrático" é hoje ainda um desafio que persiste em uma Europa que
acaba de admitir entre os sócios da União mais dez membros.1 O projeto União
Européia gere, por conseguinte, um percurso entre duas margens: o horizonte
civilizatório da identidade cultural européia, de um lado, e a
institucionalização jurídica, de outro.
A margem civilizatória do projeto é generosa, ampla e ambiciosa. Seu aspecto
exemplar, transposto idealmente para o mundo da cristandade ou do império
carolíngeo, projeta-se até o presente, conformando as opções políticas e a
convicção das lideranças políticas européias (dentro e fora da União Européia).
O exórdio do projeto de tratado constitucional aprovado pela Convenção Européia
abre o olhar sobre a outra margem valorativa, com uma citação clássica de
Tucídides:2 "A nossa constituição... chama-se democracia porque o poder está
nas mãos, não de uma minoria, mas do maior número de cidadãos". É sabido que o
formato institucional, contudo, malgrado o êxito político global do modelo
europeu (ocidental) de integração, deixa a desejar e que a fatura de sua
organização ainda não foi equalizada. O preâmbulo consagra um tom jubiloso
acerca da qualidade moral da civilização européia e seu caráter paradigmático.
Essa exemplaridade ideal exerce fascínio evidente, em primeiro lugar, sobre os
demais países europeus na fila de espera para ingressar na União. Uma versão
temperada desse fascínio, combinada com os requisitos da afirmação política de
democracias em consolidação e economias carentes de sustentação, se exerce
sobre os países da América Latina. A atração do modelo europeu ocidental que
conforma a União Européia se exprime na inspiração do Mercosul na história
institucional européia.
O alargamento da União Européia, após a queda do Muro de Berlim, processa-se em
três etapas. A primeira completou-se em 1º de maio de 2004, com a adesão de dez
novos países: Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Eslováquia, Eslovênia,
República Checa e Hungria, oriundos do antigo sistema soviético, assim Malta e
o estado cipriota grego. A segunda tem data prevista para acontecer: 1º de
janeiro de 2007, com a admissão da Bulgária e da Romênia. Uma terceira etapa
refere-se a dois países: a Croácia e a Turquia. No caso da Turquia subsistem
grandes resistências, mas em 6 de outubro de 2004 foi apresentado o relatório
regular à Comissão e ao Parlamento Europeu que recomenda a admissão do país,
após complexas negociações e numerosos ajustes, no horizonte de 2015. No
conjunto, o alargamento traz para o interior da União Européia questões
econômicas, sociais e financeiras (mas também culturais), que o bloco até há
pouco somente encontrava em parceiros externos. Esse rearranjo da estrutura da
União Européia ' cujos instrumentos políticos e administrativos estão ainda
longe de ter sido adaptados à nova realidade ' por certo concentra atenção e
esforços. As relações da União Européia com regiões do mundo em que não há
prioridade decisiva (como é o caso da América Latina), não resta dúvida, serão
afetadas.
Para se avaliar o alcance das modificações introduzidas pelo alargamento da
União Européia e seus efeitos sobre suas relações com a América Latina importa
conhecer alguns indicadores de 2004 e o caráter impreciso da concepção de
América Latina.
O quadro histórico-político e econômico do alargamento da União Européia
O alargamento da União Européia tornou-se um tema central de viabilidade
política, de desenvolvimento econômico e de compromisso moral. Se a opção de
preservar a paz e de evitar conflitos no imediato pós-guerra animou bem mais da
metade das iniciativas da Europa ocidental, o esfacelamento do bloco soviético
parece ter imposto às Comunidades Européias uma espécie de dever moral de
apadrinhar rapidamente os países do centro e do leste europeus.3 É fato que
esses países vislumbraram na história de sucesso da União Européia ' por
custosa que tenha sido ou seja ' uma via real de resgate de sua capacidade
econômica e de sua regeneração social e política.
O alargamento de 2004 difere dos anteriores. A começar pelo intervalo de quase
dez anos. Em seguida por inaugurar a expansão (termo utilizado habitualmente no
mundo anglo-saxão) a leste. Em terceiro lugar, por abranger dez novos membros
de uma só vez. Enfim, por ser a adesão coletiva que mais dificuldades trouxe
para as finanças e para a administração da União. Com efeito, em 1973 foram
três os novos membros: a Europa dos Nove inclui doravante a Dinamarca, a
Irlanda e o Reino Unido. Em 1981, a Grécia adere ' a Europa agora é a dos Dez.
Em 1986, Espanha e Portugal; em 1995, Áustria, Finlândia e Suécia. As adesões
de 1981 e 1986, dizia-se, constituíam o alargamento "para o sul". As de 2004, o
"para o leste". A cada "onda", encontram-se longas e complexas negociações, com
acordos intermediários, tratados recheados de cláusulas derrogatórias, mas
sempre a exigência de adotar plenamente o acquis comunitário em particular no
campo político e jurídico. O patrimônio valorativo da democracia liberal
representativa, do estado de direito, dos direitos humanos e das liberdades
públicas, assim como o livre empreendimento econômico e o trânsito desimpedido
de bens e serviços, constituem a condição primordial a ser atendida por
qualquer candidato.
Os critérios ditos "de Copenhague"4 sistematizam os requisitos a serem
cumpridos por países candidatos à admissão à União:
(a) dispor de instituições estáveis, garantindo a democracia, a primazia do
direito, os direitos humanos, o respeito das minorias e sua proteção;
(b) dispor de uma economia de mercado viável e capaz de enfrentar a
concorrência e participar do dinamismo do mercado interno da União;
(c) dispor de instituições suscetíveis de assegurar o cumprimento as obrigações
decorrentes da adesão à União, a adoção e a observância do acquis comunitário e
de engajar-se nos objetivos da união política, econômica e monetária.
A decisão política tomada já em 1993 assinala com clareza a vontade coletiva da
União de estender a seus vizinhos a leste o manto protetor de sua visão
institucional e de evitar, obviamente, a concorrência externa (notadamente a
estadunidense, por exemplo quanto à Polônia). Percebe-se, no itinerário
definido e percorrido, que a União tomou um sem-número de precauções, para
manter um controle rigoroso de um processo que ela mesma buscou. Esse
itinerário, no caso do alargamento de 2004, estendeu-se por mais de dez anos,
como mostra o quadro a seguir:
O imperativo moral seguido pela União Européia traduziu-se bastante cedo, não
apenas na vontade política, mas sobretudo na oferta de apoio financeiro para a
reestruturação dos potenciais candidatos, já em 1990. Um exemplo é o programa
PHARE (Polônia, Hungria, Ajuda à Reestruturação). Uma bateria de acordos de
associação (então chamados de acordos europeus) forneceu o quadro jurídico
internacional de referência à preparação dos candidatos à adesão. O mais antigo
é o da Turquia (de 1963, em vigor desde 1964). O mais recente (e de efeitos
mais rápidos), foi o da Eslovênia (de 1996, em vigor a partir de fevereiro de
1998, adesão efetiva em 1º.5.2004). No decorrer desses prazos (diversos,
segundo o país) 31 capítulos temáticos do acquis comunitário foram negociados.
Vários países "veteranos" participaram de 826 operações de apadrinhamento para
respaldar as reestruturações necessárias nos candidatos. O processo político de
sustentação das negociações e dos tratados delas resultantes exigiu os
habituais procedimentos de ratificação formal tanto pelos estados veteranos
quanto pelos noviços. A vontade política dos chefes de Estado e de governo,
assim como de suas maiorias parlamentares, foi decisiva para o bom desenrolar
das ratificações.
Percebe-se que o alargamento de 2004 produziu uma carga de responsabilidade
política, social, cultural e econômica sem precedentes na história da União
Européia. Para uma eventual imbricação com as relações entre a União e a
América Latina (e seus subconjuntos), é relevante obter uma idéia do custo
financeiro da operação, pois os engajamentos orçamentários da União condicionam
obviamente suas prioridades em outras regiões do mundo. A título de comparação,
pode-se recordar que o Plano Marshall de 1947 investiu nos países da Europa
Ocidental, entre 1948 e 1951, cerca de 97 bilhões de dólares em valores de
hoje, equivalentes a 1,5% do produto interno bruto dos beneficiários à época.
Seu efeito positivo na reconstrução européia é conhecido. Outro ponto de
comparação útil é o custo da reunificação alemã, a contar de outubro de 1990:
em dez anos, a fatura chegou a 600 bilhões de euros (cerca de 720 bilhões de
dólares). Nos últimos cinco anos, estima-se que a Alemanha venha transferindo,
das províncias ocidentais para as orientais, algo em torno de 75 bilhões de
euros por ano.
Tomando-se esses valores como referência, o orçamento geral da União Européia
gastou desde 1990 e gastará ainda até 2006 um total de 32,1 bilhões de euros
com seus dez novos membros. A diferença em valores de PIB/per capita/ano,
contudo, entre a média da Europa dos Quinze ( 24.450) e a dos novos membros (
13.240) aponta para um horizonte de concentração de investimentos e esforços
que se projeta até 2025. Ou seja: no médio prazo, a presença dos novos membros
não reforça a capacidade européia no plano mundial, mas indica uma nítida
necessidade de destinação de recursos líquidos a esse novo espaço comunitário.
As negociações concluídas em 2002 incorporaram essas vantagens financeiras. Se,
para efeitos comparativos internos à União, o balanço geral não representa uma
sobrecarga notável de custos para os contribuintes, as estratégicas de
investimento e as prioridades certamente levam em conta, em primeiro lugar, os
novos Estados-membro. Por exemplo, na França ' segundo contribuinte líquido
para a União, depois da Alemanha ', o custo adicional seria de 14,80 anuais
por pessoa. A gestão orçamentária pública, porém, não é o principal. O capítulo
dos investimentos diretos é particularmente relevante para as economias dos
novos membros. Assim, a Polônia, a Hungria e a República Checa concentram 65%
dos investimentos direitos internos da União Européia em 2002, ano da conclusão
do processo negociador prévio à adesão. A Alemanha lidera o volume de
investimentos (30%), mas o segundo maior investidor nos novos países-membro é
externo à União: os Estados Unidos detêm 25% dos capitais. Ora, tendo em vista
os encargos de grande monta para o equilíbrio financeiro da União, pode-se
perfeitamente compreender que a atitude do sistema europeu com outros parceiros
não será particularmente liberal ou generosa.
Na projeção feita pela Direção Geral dos Assuntos Econômicos da Comissão
Européia, no final de 2003, o quadro interno da União, com os novos membros de
2004, não apresentava uma imagem plenamente tranqüilizante, mesmo se os
ingredientes de uma estabilidade genérica estão presentes:
Tendo em vista a pressão do desemprego sobre as políticas sociais (ponto fraco
em termos europeus, pois trata-se de competência reservada aos Estados-membro)
e os dois fatores mais vulneráveis da administração fiscal (déficit
orçamentário e dívida pública), compreende-se que, no caso de outros parceiros
mundo afora, a União Européia não considere estar obrigada a engajamentos de
cunho moral ou de responsabilidade direta. Mesmo se é possível notar uma
modificação ' lenta, no entanto ' no comportamento geral de certos Estados-
membro da União (da França e da Alemanha, em especial) desde a polêmica criada
pelos Estados Unidos com a guerra contra o Iraque em 2003 e com o desprezo pelo
sistema internacional de negociação representado pela ONU, a União Européia
nunca se distinguiu pela rapidez de reações e pelo engajamento imediato em
questões cruciais (por exemplo, nos conflitos nos Bálcãs), quanto mais nas
menos prementes, como o intercâmbio com a América Latina.
Ao cabo de cinqüenta anos de evolução, a União Européia apresenta uma
complexidade institucional ainda não resolvida e um estatuto jurídico-político
difícil e cheio de meandros. O tratado constitucional proposto pela Convenção
Européia de 2003 ainda não foi adotado e está longe de equacionar todas as
questões de funcionamento institucional da personalidade jurídica da União
Européia de modo plenamente satisfatório. Esse, no entanto, não é o ponto que
interessa aqui diretamente. O espaço econômico, social e político da União
Européia consolidou-se, no início do século XXI, indiscutivelmente, como a
alternativa de parceria econômica com respeito aos Estados Unidos. Desaparecido
o maniqueísmo da Guerra Fria, esvaiu-se também a necessidade de constituir-se
como alternativa política, como uma terceira via internacional. O fundamento
cultural dos valores, e político do sistema democrático, aparece como uma
conquista irreversível. O denominador comum europeu situa-se (ou busca situar-
se) doravante na afirmação da identidade pela cultura. A cultura dos valores
das liberdades fundamentais, do respeito do indivíduo, da autonomia de
pensamento e de invenção crítica, etc. é sistematicamente liberada do
contrapeso histórico de uma longa série de conflitos e de destruições, que
marcaram a história européia e se estenderam ' por causa das rivalidades
européias, na maior parte dos casos ' pelo planeta.5 Os europeus ' os
integrantes da União Européia se intitulam e são vistos como os europeus por
excelência ' enraízam-se, com "naturalidade paradigmática", como modelo de
civilização (na Europa e em si) e projetam com exclusividade apenas os aspectos
positivos de sua cultura.6 Giuliani, presidente da representativa Fundação
Robert Schuman afirma-o de modo significativo, ao afirmar que a cultura da
Europa é a da "mescla dos matizes de um continente que compartilha os mesmos
valores fundamentais, que se compraz em mostrar suas diferenças mas que os
impõe ao mundo amiúde no mesmo formato".7 Giuliani vê nessa relação dialética
de unidade e diversidade, de introspecção e de extroversão cultural uma
"legitimidade" européia que ultrapassaria enfim seu início econômico e seu
pragmatismo comercial ainda prevalente. Considerando-se assim uma unidade
política com fundamento cultural, a União Européia (e, em boa parte, diversos
dos Estados-membro mais destacados) dirige seu olhar e suas iniciativas a seus
parceiros sob o pressuposto genérico de que deve encontrar uma unidade análoga
à sua. Decorre daí uma dificuldade adicional em suas relações com a América
Latina, na medida em que a União privilegia acordos abrangentes indutores de
associações regionais (mesmo se os resultados são inexpressivos).
Se a cultura da liberdade, da democracia, do respeito e do desenvolvimento da
pessoa humana fixa um parâmetro de referência dificilmente posto em dúvida
pelos países com regimes políticos liberais instalados, a prática internacional
do negócio pode introduzir uma variável de indiferença nas relações entre a
União Européia e seus parceiros fora do espaço territorial europeu. A União
Européia encontra-se, no início do século XXI, diante de uma projeção
demográfica decrescente, no horizonte de uma geração e meia (2050). Em 2004, a
população da Europa a 25 é de pouco mais de 453 milhões de habitantes. Mantida
a tendência atual de queda, em 2050, a Europa a 25 recuaria a 397 milhões de
habitantes, cerca de 15% a menos. Ora, esse fator é importante não apenas para
a organização social, mas igualmente para a preservação da capacidade produtiva
e para o financiamento dos benefícios (salários, seguros, aposentadorias), sem
falar dos aparelhos administrativos. Ora, sabe-se que só o Mercosul reúne, em
2004, uma população de aproximadamente de 244 milhões de pessoas, com uma
projeção de crescimento ' mesmo se modesto ' para cerca de 300 milhões. O fator
pode parecer de importância secundária, mas para o processo decisório europeu
não o é. Os interlocutores alhures ' como no Mercosul ' devem ter isso em
conta. Mantidos os mesmos números de integrantes dos dois blocos, a população
do Mercosul (e, por conseguinte, sua capacidade de produção econômica),
aproxima-se da européia em 2050. É de se considerar, por conseguinte, que o
sistema de negociação da União Européia, já hoje, inclua esse fator na equação
negocial.
É possível indicar, em suma, que a União Européia, confiante na exportação bem
sucedida das "tábuas da lei" civilizatórias de sua cultura multissecular,
entenderia, no caso específico da América Latina ' em cuja homogeneidade não há
crença ' ser desnecessário o aspecto missionário do convencimento. A questão se
concentraria ' como bem se vê nas duras negociações dos últimos cinco anos '
nas questões comerciais. A voz de Bruxelas corresponde, pois, a uma unidade '
mesmo se custosa ' sem equivalente no "espaço latino-americano". Vê-se porque a
negociação principal se faz com o Mercosul, apesar de este bloco passar por
dificuldades comparáveis àquelas pelas quais as Comunidades Européias passaram
em sua fase inicial (antes dos Tratados de Roma e do Compromisso de
Luxemburgo).
América Latina: uma entidade imprecisa, uma região desconexa
América Latina é um conceito equívoco. Em particular em sua expressão singular.
Designa uma região geográfica e um legado cultural de contornos imprecisos. A
expressão está, no entanto, consagrada, inclusive quanto a sua imprecisão e
abrangência política ' confortável, aliás. Sua origem está no século XIX. O
contexto em que foi forjado é de cunho predominantemente político. O ambiente
em que se desenvolveu e consolidou é histórico e cultural. A cultura histórica
é uma forma de contextualizar os modos (políticos, sociais e econômicos) pelos
quais as sociedades constroem e administram seu passado. A referência
generalizada à história é um critério importante de definição da identidade
pessoal e coletiva. Isso pode dar-se por meio de quatro processos principais:
identidade por assimilação ou apropriação, identidade por contraste, identidade
por rejeição e identidade por diferença. Esses processos ocorrem não apenas nas
sociedades tradicionais (mais antigas), como no caso da busca de uma latino-
americanidade, mas igualmente no das novas identidades em devir, como as que
emergem dos novos blocos como o Mercosul. Identidades nucleares como as
originais em grupos mais ou menos pequenos e as mais abrangentes, como as das
sociedades complexas multiculturais são compatíveis entre si e convergem.
A questão de uma identidade latino-americana tornou-se não apenas atual, mas
premente, sobretudo ao longo do século XX. Sua origem está numa experiência
marcante de contraste e de contradição com a memória do regime colonial, com os
projetos nacionais e liberais decorrentes dos processos de autonomia política,
com os mecanismos de dependência econômica e financeira e, principalmente, com
a pluralidade da composição social de suas populações.
Uma das características do esforço de autodefinição das sociedades latino-
americanas desenvolve-se mais particularmente na segunda metade do século XX,
com a grande variedade de ensaios de cunho literário e com os resultados das
ciências sociais obtidos por latino-americanos passam a desempenhar um papel
relevante no cenário mundial. A América que vinha sendo dita latina por
terceiros quer proclamar-se América e Latina por si própria. A simples
contraposição com a Europa (em especial com as antigas metrópoles coloniais) ou
com a América do Norte tem grandes lacunas. O sentimento generalizado de
pertencimento à história da expansão da cultura européia é necessário, mas não
suficiente para consolidar a legitimidade social e cultural da composição e da
pluralidade social na América de fala espanhola e portuguesa.8
A perspectiva da identidade latino-americana ou de sua consolidação não
constitui, em hipótese alguma, o objetivo do eventual relacionamento da União
Européia com a região. Antes de mais nada, é preciso constatar que a América
Latina (ainda) não formou uma entidade política abrangente para todo seu espaço
geográfico. Kegel descreve de forma eloqüente o caráter das relações entre a
União Européia e a América Latina.9 Essas relações ' notadamente em sua fase
após a cimeira do Rio de Janeiro, em 1999, estão enquadradas pela política
externa e de segurança comum, para seu substrato político, mas desenvolvem-se
sobretudo no plano econômico e comercial. O percurso no tempo, dessas relações,
já revela a dicotomia entre a abordagem retórica da "latino-americanidade" e a
concretude prática dos organismos ou entidades interlocutoras. O quadro adiante
fornece os dados indispensáveis.
Percebe-se que a União Européia lida com acordos em que ela mesma define o
conjunto de seus parceiros por um mecanismo de adesão que não requer
necessariamente a constituição de uma personalidade jurídico-política própria.
Ela mesma, contudo, comporta-se como um estado orgânico, mesmo se seu próprio
estatuto (ainda) não chega a tanto. Com relação à América Latina (o termo é
empregado como designando o espaço geográfico), vê-se que a União Européia
prefere claramente os acordos setoriais ou singulares. O teor de sua política e
de suas decisões está claramente vinculado a uma dimensão retórica das reuniões
de cúpula e dos "comunicados" da Comissão ' perfeitamente coerente, reconheça-
se, com a afinidade cultural presente nos pressupostos do discurso
civilizatório ' ao pragmatismo setorial (acordos [= tratado] por país ou
pequenos grupos de países).
O artigo 133 do Tratado da Comunidade Européia define a competência da União
(por intermédio da personalidade jurídica da Comunidade Européia) para
negociar, celebrar e gerir acordos internacionais. Há contudo acordos mistos,
em que a Comunidade e os Estados-membro atuam concorrentemente. No caso da
América Latina, seguindo Torrent, Kegel chama a atenção que, desde o acordo com
a Comunidade Andina, de 1993, os documentos adotam uma linguagem genérica, com
nítidos traços de retórica política: são os acordos "vazios", lavrados em
termos amplos, vagos.10 Esses acordos têm objetivos inespecíficos, omni-
abrangentes, incluindo até setores em que a Comunidade Européia não está
investida de competência própria para atuar. Caracterizam-se esses acordos pela
dimensão de serem "cartas de intenções", exortações ao bom cumprimento das
práticas democráticas na vida política, inclusive quanto às cláusulas
referentes aos direitos humanos, sem disporem, contudo ' já que se trata de
acordos ou documentos análogos com países terceiros ' de ferramentas jurídicas
eficazes (ou quiçá de as querer evitar). "De modo geral, escreve Kegel, estes
acordos de tipo "vazio" são utilizados como instrumentos da política externa
comunitária, compondo uma extensa rede internacional, através da qual a
presença e os objetivos comunitários são constantemente fixados e
relembrados."11 Diversos dos acordos desse tipo lembram mais, em seus
enunciados e na gestão que a União lhes dedicou até o início dos anos 1990, uma
política de ajuda ao desenvolvimento de países pobres ou emergentes. Tal traço
caracteriza uma atitude, por parte da União, de iniciativa própria (ou seja:
retratável a qualquer momento) e de tutela.12
De outro lado, existem os acordos ditos "cheios", com objetivos comerciais
claramente definidos e com instrumentos jurídicos eficazes. Desse tipo são os
acordos com a África do Sul, com o México e com o Chile, por exemplo. Acordos '
"cheios" ou "vazios" ' somente são negociados e assinados se, e somente se, as
prioridades entre os países-membro da União estiverem satisfeitas. Quanto mais
conflitantes ou diversos os interesses dos 25 países, tanto mais tenderão os
acordos a serem vazios ou a incluir cláusulas derrogatórias. Por conseguinte, é
o canal de comunicação comercial que prevalece. E o quadro de referência desse
canal é o "meio ambiente" econômico intra-comunitário ' especialmente a partir
de 2004. Os acordos de associações, por conseguinte, requerem parceiros
definidos (o que "América Latina", definitivamente, não é) e têm seu principal
obstáculo genérico na assim chamada "pirâmide das preferências européias",
doravante definidas a 25. As três faces dessa pirâmide são a política, a
geoestratégia e o comércio. Elas não são isoladas, mas pesam diversamente
conforme o interlocutor ou parceiro. Politicamente a União Européia assumiu, ao
menos parcialmente, sua responsabilidade (moral) com o universo de suas ex-
colônias no âmbito dos acordos ACP. Geoestrategicamente, a iniciativa de ocupar
o espaço do centro e do leste europeu (e, não se pode deixar de mencionar, com
a economia-mundo do Mediterrâneo), mostra uma preferência óbvia.
Comercialmente, vêm em primeiro lugar os Estados Unidos ' parceiro tradicional
e com cujo pensamento político reina uma sintonia estrutural ' e o sudeste
asiático, em particular a China.
A política da União Européia para com a América Latina, como um todo, situa-se
preferencialmente no plano das boas intenções e da retórica. Nenhuma ação
estratégica de longo prazo ultrapassa o horizonte inercial de que a cultura
européia faz dela uma dependente natural. Nem mesmo enquanto alternativa
política ou comercial à preeminência estadunidense parece mover-se a União com
ações de envergadura necessária. Cabe aqui uma observação: é útil recordar que
há uma diferença entre as políticas e as ações da União Européia (enquanto
entidade própria) e as de seus Estados-membro. Assim, a soma dos intercâmbios
financeiros e comerciais entre os diversos países da América Latina e os da
União Européia alcançam valores expressivos, mas esse não é um resultado
específico da ação institucional da União. Os "resultados" das cúpulas, desde a
primeira, no Rio de Janeiro, em 1999, mostram-no. Até 2002, lidou-se sobretudo
com declarações simpáticas, mas sem efeitos práticos. A segunda cúpula, em
2002, demonstrou ' com o acordo singular com o Chile ' o caráter inconclusivo
decorrente da imprecisão política e institucional não só da América Latina, mas
também do Grupo do Rio e de seus mecanismos operacionais, que pouco mais são do
que os costumeiros instrumentos diplomáticos de consulta bilateral ou
multilateral. A terceira cúpula, em Guadalajara, em 2004, já com o quadro do
alargamento da União, nada inovou, em sua agenda, para além da reafirmação das
intenções afáveis de consolidação da associação birregional (praticamente essa
somente poderia ocorrer em três casos: Mercosul, Comunidade Andina, Caricom e,
mesmo assim, na medida de seu desenvolvimento e consolidação institucional).
Como assevera Kegel,
com exceção dos acordos com Chile e México, as negociações e
celebrações de acordos com o restante dos países da América Latina e
Caribe desenvolveram-se dentro do quadro dos acordos "vazios", nos
quais o nível de comprometimento jurídico e objetivos concretos é
bastante reduzido, apontando, desta forma, para a importância
relativamente reduzida com a qual a parceria ou acordo se reveste
para a União Européia.
Entretanto, interessa tanto à União como aos países latino-americanos
(confrontados com o projeto Alca) criar estruturas multilaterais que viabilizem
uma ação política internacional, se não conjunta, ao menos coordenada.13
Com a inexistência de contornos política e institucionalmente administráveis no
âmbito de uma "América Latina", delineia-se o caso do Mercosul como um possível
interlocutor com moldura e rosto próprios. Pelo perfil das pautas de importação
e exportação ' nas quais não se entra aqui em pormenor ' tem-se uma estimativa
de que o alargamento da União em 2004 é um fator de risco para o Mercosul, em
particular. Como indica Renato Flôres, parte das economias que aderiram em 2004
à União Européia possui características competidoras com as do Mercosul. Assim,
o quadro de absorção dos novos países-membro inclui concessões e cláusulas que
podem neutralizar ou desviar ganhos esperados pelo Mercosul.14 Poder-se-ia
imaginar que uma União Européia maior representaria mais oportunidades para o
Mercosul. Flôres aponta para a perspectiva inversa. Vê as possibilidades como
muito limitadas, pela presença (crescente) dos demais países da Europa a 15,
dos Estados Unidos e dos intercâmbios de vizinhança. Sobrariam poucos nichos
para o Mercosul.15 O que Flôres não desenvolve ' e que tampouco se pode
elaborar aqui ' é que ainda seria necessário que o Mercosul progrida em sua
própria integração para fazer face à da União Européia. As portas, por certo,
não estão fechadas, mas as vias são estreitas e íngremes. A análise de Flôres '
como a da maior parte dos comentaristas especializados na imprensa ou nos meios
diplomáticos ' concentra-se nas questões comerciais, em particular com respeito
a produtos agrícolas (40,2% do total das importações provenientes da América
Latina e do Caribe).16
Conclusão
Os caminhos historicamente percorridos pelos países da América Latina e pelos
países integrantes da União Européia certamente asseguram um terreno comum de
convergência. Os elementos culturais e civilizatórios falam por si. Não parece
subsistir dúvida de que nesse particular a entente entre a matriz européia e
sua descendência nas Américas existe. O romantismo dessa aliança, hoje,
exprime-se em um amplo espectro de reconhecimentos políticos e culturais
mútuos. Aos observadores políticos e aos analistas econômicos aparece como
natural que deveria fluir uma aliança, por assim dizer, espontânea entre a
Europa dos 25 e sua extensão além-mar. A dura realidade do mundo dos negócios e
da defesa sem quartel dos interesses "nacionais" alteraram ' e não só no final
do século XX ' as circunstâncias sob as quais as relações bi e multilaterais
(em particular as birregionais) se processam. O alargamento da União Européia,
sob as condições de 2004 (e na perspectiva das adesões em 2007 e seguintes). A
inexistência de um interlocutor latino-americano propriamente dito descarta de
início a singularidade de um intercâmbio formal com a União Européia. Nesse
ponto, esta fornece apoio, assistência, financiamento e coisas semelhantes a
países ou a programas da região. Não se pode falar, nesse caso, de uma parceria
definida ou definível. A fragilidade política e conceitual de uma suposta
América Latina aumenta, por conseguinte, o fator de afastamento da União
Européia tanto mais esta cresça em seu espaço de origem. A escolha sistemática
de a União concentrar suas parcerias em organismos comparáveis (por exemplo, o
Mercosul), mesmo em escala fortemente diversa, não resulta necessariamente em
um progresso regular e constante. O perfil econômico e financeiro do
engajamentos decorrentes da União a 25, para as comunidades européias, é fonte
de mais obstáculos do que de facilidades. No contexto internacional de
construção de parcerias estratégicas que reforcem as trocas comerciais é certo
que o terreno valorativo comum entre os países da região e da União Européia
contribui para uma aproximação. Se a parceria estratégica inclui os Estados
Unidos ou, eventualmente, volta-se para uma alternativa a eles no plano
mundial, tem-se de qualquer maneira o fato de que a interface cultural é-lhes
igualmente comum. União Européia e Mercosul ' ou Comunidade Andina, ou ainda
que outra organização seja ou venha a ser ' não poderão valer-se apenas da
tradição e da história comuns para sustentar sua entente. De imediato, uma
Europa maior é também um problema maior. Não obstante os otimistas de todos os
campos. De qualquer maneira, à semelhança dos procedimentos adotados pelos
europeus, em particular em suas mais difíceis fases desde 1950, parece de todo
adequado que os interlocutores políticos e comerciais latino-americanos
pratiquem a perseverança, a persistência e a paciência históricas que podem
construir uma parceira orgânica internamente a suas próprias estruturas e no
relacionamento com a União Européia.
Outubro de 2004
1 A questão do déficit democrático é hoje um tema recorrente. Os diagnósticos
políticos costumam insistir nas lacunas da participação dos cidadãos nos
processos decisórios europeus. Essa é a primeira acepção, e a mais genérica, de
déficit democrático. Uma segunda, mais restrita, diz respeito às eleições
européias, ao absenteísmo do eleitorado e às competências do Parlamento
Europeu. A respeito dispõe-se de uma bibliografia abundante. Uma síntese
ilustrativa pode ser encontrada em Raisons Politiques 10 (maio-julho 2003).
2 Disponível em: <http://european-convention.eu.int/docs/Treaty/
cv00850.pt03.pdf >. Acesso em 30 set 2004.
3 GIULIANI, Jean-Dominique. L'élargissement de l'Europe. Paris: Presses
Universitaires de France, 2004, p. 7.
4 CÚPULA DO CONSELHO EUROPEU, 22 jun 1993.
5 Pode-se consultar utilmente, ao menos para o século XX, CHAUTARD, Sophie.
L'indispensable des conflits du XXe siècle. Paris: Studyrama, 2003. BESTE, Antony et alii. International History of the Twentieth Century.
Londres: Routledge, 2004. SCHMALE, Wolfgang. Geschichte
Europas. Viena: Böhlau, 2001. SACCO, Giuseppe. Orizzonti e
dèmoni dell'Europa. Ideazione 8/1, 2001, p. 39-54.
6 Cf. RIBEIRO, Maria Manuela Tavares. A idéia de Europa. Uma perspectiva
histórica. Coimbra: Quarteto, 2003.
7 GIULIANI. Op. cit., p. 62.
8 Cf. MARTINS, Estevão de Rezende. Das Neue Europa In Den Augen Lateinamerikas
' Selbstverstådnisse, Missverstådnisse. In: PFUSTERSCHMID-HARDTENSTEIN, H.
(ed.). Zeit und Wahrheit. Viena: Österreichisches Kolleg, 1995, p. 379-392; Lateinamerika ' Eigenweg oder Labyrinth? In: Gesellschaft und
Geschichte. 14/1, 1995, p. 15-32; Die europåische Leitkultur
aus lateinamerikanischer Sicht. In: ACHAM, K. (ed.). Europa ' wohin? Viena:
Passagen Verlag, 2002, p. 115-124.
9 KEGEL, Patrícia Luiza. O quadro geral dos interesses comerciais e políticos
europeus na América Latina e as perspectivas de um Acordo Mercosul-União
Européia. In: W. Hofmeister (ed.). Anuário Brasil-Europa 2003. Direitos humanos
e relações externas. Rio de Janeiro/Belém: Konrad-Adenauer-Stiftung/Programa de
Pós-Graduação em Direito da UFPA, 2004, p. 103-111.
10 KEGEL. Op. cit., p. 106. TORRENT, Ramón. Derecho y práctica de las
relaciones exteriores en la Unión Europea. Barcelona: Cedecs Editorial, 1998
(cit. em KEGEL. Op. cit., p. 106, nota 7).
11 KEGEL. Op. cit., p. 107.
12 Nesse sentido se pode ler todo o capítulo 5 do documento da Comissão
Européia L'Union Européenne, l'Amérique Latine et les Caraïbes ' um partenariat
stratégique. Bruxelas: CE/Relações Exteriores, 2004, p. 36-52. Disponível em:
<http://europa.eu.int/comm/external%5Frelations/library_/publications/
08%5Finfopack%5F04%5Ffr.pdf> .
13 KEGEL. Op. cit., p. 110. Cf. também KEGEL, Patrícia L. O marco jurídico-
institucional da União Européia e sua influência no contexto das negociações
com o Mercosul. In: MARCONINI, Mário & FLÔRES, Renato (eds.). Acordo
Mercosul-União Européia ' além da agricultura. Rio: CEBRI/Konrad-Adenauer-
Stiftung, 2004, p. 15-57.
14 FLÔRES, Renato. O alargamento da União Européia e as negociações Mercosul-
UE: uma nota preliminar. In: MARCONINI & FLORES. Op. cit.,
p. 59-75.
15 FLÔRES. Op. cit., p. 63. O mesmo viés comercial prevalece, malgrado as
análises histórico-políticas, em GINESTA, Jacques. El Mercosur y su contexto
regional e internacional. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1999.
16 Cf. por exemplo a Declaração Final da XI Reunião Ministerial entre o Grupo
do Rio e a União Européia (Disponível em : <http://www.comdelbra.org.br) ou a
palestra do embaixador Celso Amorim. A diplomacia do governo
Lula. Brasília: Instituto Rio Branco, 10 abr 2003.