Estudos Asiáticos no Brasil: contexto e desafios
Introdução
No início dos anos 60, a partir da constatação de perspectivas divergentes,
Estados Unidos envolvido com as questões da segurança internacional e Brasil
voltado para a busca de instrumentos que possibilitassem seu desenvolvimento
econômico, a política externa brasileira entrou num processo de alteração de
seu paradigma anterior, baseado numa aliança estratégica com os Estados Unidos.
Foi fundamental neste processo, de um lado, a perspectiva de diversificação de
parceiras, econômicas e/ou políticas e, de outro, a aceitação das teses do
Terceiro Mundo, em especial a necessidade da definição de uma Nova Ordem
Econômica Internacional.
Neste sentido, no estudo do relacionamento brasileiro com a Ásia, alguns pontos
merecem destaque especial. O discurso favorável a modificações na ordem
internacional e, em especial, a imersão na proposta de Cooperação Sul-Sul,
aponta a existência de interesses e valores comuns entre o Brasil e a Ásia. No
período da Guerra Fria, entretanto, a aproximação brasileira foi, na prática,
muito mais direcionada para os países africanos e para o Oriente Médio.1 A
exceção foi o relacionamento, mais intenso no plano político, com a China, após
sua reintegração no sistema internacional no início dos anos 70. Já a relação
com o Japão, dentro do conceito de diversificação, sempre foi considerada como
uma alternativa ao relacionamento com os Estados Unidos.
No pós-Guerra Fria, a manutenção das orientações básicas da política externa
brasileira e o dinamismo econômico asiático, entre outros fatores, vão
propiciar a perspectiva de se buscar uma maior aproximação com a Ásia. O pouco
interesse dos Estados Unidos em ampliar seus intercâmbios comerciais com países
latino americanos no final do século passado, com exceção do México, também tem
pressionado o Brasil a buscar um maior relacionamento com outros países. Neste
cenário, a ampliação e a implementação de um relacionamento mais intenso com a
Ásia se apresenta fortemente dependente das iniciativas governamentais. Nelas
se observa uma presença atuante da sociedade civil em sua definição, esta,
porém tem sido mais direcionada para as questões regionais e hemisféricas do
que para a distante e relativamente desconhecida Ásia.2
Em seu atual projeto de inserção internacional, o Brasil delega à região
asiática um espaço especial, considerando-se a grande demanda por investimentos
e por acesso a tecnologias de ponta, bem como por um mercado com alta
capacidade de consumo. Historicamente, o Brasil suscita interesses na Ásia por
se caracterizar como uma importante fonte supridora de matérias-primas,
principalmente produtos alimentícios e insumos básicos. Nesse sentido, na
medida em que a Ásia se dinamiza e se especializa em produtos manufaturados, é
mantido ou ampliado o interesse na importação de produtos básicos do Brasil.
Além de país fornecedor de matérias-primas para a rápida industrialização de
alguns países asiáticos, principalmente na segunda metade do século passado, o
Brasil já possuía laços de amizade e fluxos migratórios com vários países
asiáticos que datam do século XIX. Apesar deles, até a década de 1970 o
relacionamento brasileiro com a Ásia restringia-se basicamente às relações com
o Japão, com a aproximação, de caráter mais político e com a República Popular
da China a partir da metade dos anos 1970. Mesmo esse restrito relacionamento
sofre uma retração com a sucessão de crises nos anos 1980, retomando força na
década de 1990.
Na última década, a retomada e ampliação do relacionamento com a Ásia adquirem
novo vigor pela maior presença tanto da Coréia do Sul e dos países do Sudeste
Asiático, quanto da China que, em decorrência de seu desenvolvimento acelerado,
não mais é só um ator político, mas um forte mercado consumidor além de
fornecedor.
Nos anos 90, por exemplo, a Coréia do Sul, particularmente com seus grupos
Samsung e LG, surgiu como um grande protagonista de investimentos diretos
direcionados ao setor eletroeletrônico. Nos primeiros anos do presente século,
têm sido crescentes os investimentos chineses, como nos casos da empresa
Huawei, fornecedora de equipamentos de telecomunicações, do Grupo Shangdong, na
área de geração de energia termoelétrica e o Grupo Shangai Baosteel em uma
joint venture com a Companhia Vale do Rio Doce para a mineração de ferro e
aço.3 Esta retomada tem clara conotação econômica, mas também é influenciada
pela disputa comercial entre os países desenvolvidos e pela proposta de criação
de uma Área de Livre Comércio das Américas (Alca), por muitos entendida como
uma modalidade de protecionismo regional, com entraves para a inserção de
atores externos.
Apesar do aumento do dinamismo político e econômico entre o Brasil e os demais
países asiáticos, detecta-se baixo ou esporádico envolvimento acadêmico com
essas conexões inter-regionais. Os esforços despendidos até recentemente
estiveram basicamente concentrados na análise do relacionamento com o Japão ou
sobre o modelo de desenvolvimento japonês.4 Destarte, análises sobre este
relacionamento tendem a ser esporádicas, seletivas e desiguais, sendo o número
de pesquisadores envolvidos extremamente reduzido, com praticamente inexistente
participação de recursos institucionais.
Persiste, neste sentido, um profundo vácuo informativo, de desconhecimento das
respectivas regiões. Buscando contribuir para estreitar este distanciamento, o
presente trabalho procura sintetizar a história das relações do Brasil com a
região asiática; evidencia os esforços de algumas instituições e acadêmicos no
estudo deste relacionamento concentrando sua atenção aos aspectos políticos e
econômicos; e, finalmente, discute as perspectivas e possibilidades de
crescimento das relações acadêmicas entre brasileiros e asiáticos como forma de
consolidar e ampliar as iniciativas em curso.
O desenvolvimento das relações do Brasil com a Ásia-Pacífico
Até quase o final do século XIX pode-se afirmar que não havia qualquer tipo de
relacionamento entre o Brasil e a Ásia. Quando do início da busca de mão-de-
obra para substituir a força de trabalho escrava no Brasil, a opção era por
mão-de-obra chinesa, motivando o deslocamento de uma missão brasileira para a
China em 1879. Mesmo com a não concretização dessa corrente migratória, pela
proibição formal da China em permitir emigração para o Brasil, os dois países
assinaram o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação em 1881, com o Brasil
abrindo um consulado em Xangai em 1883.
A razão da não permissão de vinda de mão-de-obra chinesa ao Brasil decorre
essencialmente dos maus tratos que as primeiras correntes migratórias para o
continente americano tinham sofrido, em especial em Cuba, no Peru e na
Califórnia (Estados Unidos). De outro, o fato do tratado assinado entre Brasil
e China seguir o modelo dos firmados pela China com as potências ocidentais
(denominados de tratados desiguais), também não facilitou o acordo migratório.
Cervo e Bueno apontam que a missão brasileira, em seus preparativos, se
encontrara "na Europa com os governos ocidentais em busca de apoio e levava
instruções específicas para não discordar nas cláusulas a convencionar de
nenhum direito já outorgado anteriormente pela China, tendo em vista manter a
simpatia e o consenso das nações amigas".5
Com a China, os contatos bilaterais foram escassos em decorrência da sucessão
de conflitos internos e externos que afetaram aquele país no final do século
XIX e na primeira metade do século XX. Com a vitória de Mao Zedong em 1949, o
Brasil rompeu as relações diplomáticas. Mesmo assim, registra-se durante o
século XIX a entrada oficial no território brasileiro de aproximadamente 3.000
chineses.6 Após 1949, constata-se a intensificação de um fluxo migratório
chinês, não oficial para o Brasil, em especial para a cidade de São Paulo.
Possivelmente, estes imigrantes deixavam a China por não aceitarem as regras do
novo regime que se instaurava com a instauração da república socialista.
No que se refere ao Japão, somente com a Restauração Meiji (1867) é que o Japão
passou por uma série de modificações estruturais que possibilitaram o
estabelecimento do Japão moderno e também uma abertura para o exterior. Em
decorrência da Restauração, a economia japonesa sofreu um processo de
desestabilização provocando fluxos migratórios inicialmente para o Havaí e a
costa oeste dos Estados Unidos. Do lado brasileiro, com a abolição da
escravidão em 1888 e com o crescimento rápido da lavoura cafeeira no Estado de
São Paulo tornou-se necessária à ampliação da migração de mão-de-obra externa.
Dessa forma, o relacionamento bilateral entre o Brasil e o Japão iniciou-se com
a vinda de migrantes para o trabalho nas lavouras cafeeiras. A base legal para
esse relacionamento foi criada, primeiramente, pela assinatura do Tratado de
Amizade, Comércio e Navegação em novembro de 1895 e, depois, pelo
estabelecimento de companhias que trabalhavam especificamente no recrutamento e
transporte de emigrantes.
A chegada do navio Kosato Maru, em 1908, deu início à imigração japonesa ao
Brasil, tendo um crescimento significativo até 1934 quando a nova Constituição
brasileira limitou o fluxo migratório, o qual praticamente se interrompeu com a
Segunda Guerra Mundial, sendo retomado somente após 1955.7 Em quase um século
da presença de imigrantes japoneses no Brasil8 foi grande sua contribuição para
o desenvolvimento brasileiro. Esse esforço foi investigado pela antropóloga
Ruth Cardoso9, que analisou a adaptação dos descendentes de japoneses à
sociedade brasileira, especialmente à paulista.
O Brasil foi o maior receptor mundial de imigrantes japoneses ao longo do
século passado, ultrapassando hoje, com seus descendentes, mais de um milhão de
pessoas. O bairro da Liberdade em São Paulo pode ser considerado uma das
maiores cidades japonesas fora do Japão. A presença de japoneses e seus
descendentes é grande também no interior de São Paulo e nos Estados do Pará e
do Paraná. Neste último, mais expressivamente na região norte do Estado, em
cidades como Londrina, Maringá, Assaí e outras.
A presença nipônica no norte paranaense é visualmente percebida e
academicamente documentada em vários trabalhos científicos desenvolvidos ao
longo do tempo. Entre os trabalhos recentes temos a contribuição de Celina M.
Murasse10 e Tereza H. de Rezende11. Destacam-se também os trabalhos de Ruy C.
Wachowicz,12 e Evandir Codato13 como representativos do esforço paranaense na
busca de um maior e melhor conhecimento dos diferentes processos migratórios e
de aculturação de diferentes povos a também diferentes espaços geográficos.
Se o relacionamento com Japão e China data do Século XIX, com a Coréia do Sul é
bem mais recente.14 O relacionamento político-diplomático do Brasil com a
Coréia do Sul teve início em junho de 1949. O Brasil foi o oitavo país do mundo
e o segundo latino-americano (o primeiro foi o Chile) a reconhecer oficialmente
aquele país asiático. Durante e após o conflito bélico na Coréia, o Brasil, a
exemplo dos demais países latino-americanos, sempre votou favoravelmente à
Coréia do Sul em questões políticas ou comerciais perante instituições como as
Nações Unidas e a atual OMC (Organização Mundial do Comércio). O Brasil, por
meio do relacionamento de amizade com o governo coreano e comportamento
cooperativo com os Estados Unidos, atendia os interesses deste último não só na
península coreana, onde era necessário impedir a expansão do comunismo, como
também na América Latina, onde era imperativa a manutenção da paz hemisférica.
Em 1965, o Brasil estabeleceu sua embaixada em Seul e em 1967 designou seu
primeiro representante oficial naquele país, o embaixador Bartel Rosa. A partir
dos anos 60, o governo coreano passou a intensificar sua atividade diplomática
acordos e missões comerciais com países considerados comercialmente
estratégicos. Em 1962, estabeleceu na cidade do Rio de Janeiro sua primeira
embaixada na América Latina (a décima terceira no mundo). Mais tarde, em 1970,
devido à maior demanda de serviços pelos imigrantes coreanos, instala, em São
Paulo, o Consulado Geral.
De acordo com Lee,15 em janeiro de 1961 foi criada, na Coréia do Sul, uma
associação de emigração. O golpe militar de 1961, na Coréia, comandado pelo
general Park Chung Hee, despertou o interesse de muitos sul-coreanos pela
emigração. Dessa forma, chegaram ao Porto de Santos, em fevereiro de 1963, um
grupo de 103 sul-coreanos e, em novembro do mesmo ano, mais um grupo de 350
pessoas. Estes grupos foram assentados nas proximidades de Guarulhos e Mogi das
Cruzes, no Estado de São Paulo. No ano seguinte, outros dois grupos,
totalizando 635 sul-coreanos, chegam ao Brasil e se instalam em São Paulo e no
Rio de Janeiro. Nos anos de 65 e 66 mais 1.065 chegaram ao Paraná e outros
3.032, que chegaram entre os anos de 67 e 70, permanecem em São Paulo.
O maior número de imigrantes, 4.028, chegou ao Brasil em 71 e 72. Após esta
data, de acordo com Choi,16 registram-se ainda outros 752 entre 73 e 79 e mais
848 entre 80 e 85. Além do Brasil, os Estados Unidos, Canadá, Austrália e
África do Sul eram as opções dos emigrantes sul-coreanos. O Brasil, naquela
época, mais industrial e economicamente mais desenvolvido que a Coréia do Sul,
apresentava-se como uma opção possível. O êxito da emigração japonesa em anos
anteriores também contribuiu para que o interesse do governo e do povo coreano
pelo Brasil fosse grande.
Em 1980, houve nova regulamentação da lei brasileira de imigração, e cerca de
4.500 sul-coreanos encontravam-se em São Paulo em situação irregular. Estes
sul-coreanos e outros 2.500 em 1989, que ilegalmente entraram no país, via
Paraguai, foram anistiados e tiveram sua situação regularizada. No início dos
anos 90, a embaixada da Coréia do Sul divulgou que aproximadamente 43 mil sul-
coreanos residiam no Brasil. A Revista Veja, em maio de 98, divulgou que o
número de imigrantes legais chega a 45 mil e o número de ilegais, segundo
estimativas da Polícia Federal, chega a 35 mil. A presença dos imigrantes
coreanos certamente contribuiu para o aumento das transações entre os países,
especialmente as que dizem respeito ao comércio bilateral.
Os fluxos migratórios de asiáticos para o Brasil mais expressivos foram os
acima considerados. Os japoneses juntamente com seus descendentes são mais de
1,3 milhão os chineses cerca de 200 mil e os sul-coreanos, legalizados e
ilegais, 80 mil. Desta forma, é interessante ressalvar que o relacionamento
entre Brasil e Ásia até a década de 1950 ficou quase que unicamente restrito ao
campo sociocultural representado pelo fluxo migratório japonês. Embora não
tenham sido ainda realizados estudos aprofundados sobre o papel da colônia
japonesa na capacidade de influência sobre o relacionamento nipo-brasileiro, a
maior parte dos analistas procura apontar sua importância.
No começo dos anos 70, Roper discutia a presença de investimentos japoneses
relacionados aos imigrantes afirmando: "It will be found that the proportion of
Japanese investment in any country roughly correspond to the distribution of
Japanese immigrants in Latin America".17 Na mesma linha de raciocínio, Okita,
no final dos anos 80, apontava: "Japanese interest in Latin America focuses on
the region's economic development potential. However, because about 1 million
Japanese live in Brazil, Japanese interest in this country is particularly
strong. These Japanese immigrants have contributed greatly to Brazil's economic
development".18
Sem negar a relevância da existência da colônia, Horisaka, no entanto, pondera
que a decisão tomada pelo MITI (Ministry of International Trade and Industry),
na década de 1950, de investir no Brasil decorreu principalmente do potencial
econômico e comercial que ele apresentava.19 Assim, nas décadas de 1950 a 1970,
não se pode pensar propriamente num relacionamento Brasil-Ásia. Apesar de
presente em discursos, principalmente a partir da política externa
independente20 no governo Jânio Quadros, constata-se, na realidade, somente uma
interação, no plano multilateral, de construção de uma agenda política comum a
países em desenvolvimento no processo de defesa de instauração de uma nova
ordem econômica internacional.
Nesse processo de construção de uma nova agenda política, o Brasil recebe a
visita do presidente Sukarno, da Indonésia, em 59 o primeiro presidente
asiático a visitar o Brasil. E, em maio de 61, foi assinado um acordo bilateral
econômico com aquele país. Excluindo estes dois eventos, pode-se afirmar sobre
a inexistência, até a década de 1980, de um relacionamento concreto entre os
dois países, ou mesmo com o Sudeste Asiático. Na realidade, a Indonésia passa a
compor o imaginário político no que se refere ao estreitamento de vínculos com
o mundo afro-asiático, dentro dos pressupostos da política externa
independente. A intensificação das relações com o mundo afro-asiático seria
conseqüência da necessidade de autodeterminação não só nacional, mas também do
contexto afro-asiático com vistas à superação mútua do subdesenvolvimento.
Dentro dessa perspectiva Cooperação Sul-Sul, a política externa brasileira
nitidamente envolveu-se mais profundamente com o continente africano,
desenvolvendo o que se chamou de política africana. Essa política claramente
representou, enquanto emblema, o envolvimento brasileiro com as perspectivas de
geração de uma nova ordem econômica internacional ou com sua política de
Terceiro Mundo. Celso Lafer defende a tese de que "a política exterior
independente procurou articular no sistema internacional uma frente única dos
subdesenvolvidos com o objetivo de proteger os preços das matérias-primas e
produtos agrícolas e forçar o sistema internacional a responder
satisfatoriamente às demandas de industrialização".21
Essa aproximação com o continente africano, interpretada como uma opção em
relação à Ásia e, em especial, ao Sudeste Asiático que poderia oferecer
vantajosas oportunidades comerciais, passou a sofrer no início dos anos 90 uma
série de críticas. Gibson Barbosa, ministro de Relações Exteriores de 69 a 73,
pondera: (...) não houve opção naquela ocasião, como também não deve haver
hoje, pois uma coisa não exclui a outra. De qualquer modo, o fato dominante no
sudeste asiático, na primeira metade da década de 1970, não eram os famosos
'tigres', tão louvados e invejados hoje, mas sim a guerra do Vietnã, que, como
se sabe, terminou somente em 30 de abril de 75. De tigre na região só havia na
época os Estados Unidos da América, que, aliás, os chineses chamavam de 'tigre
de papel'. Os chamados tigres asiáticos surgiram muito depois.22
Deve-se igualmente considerar que a política externa brasileira articulava o
conceito de uma dupla inserção no cenário internacional. Uma, decorrente de
seus laços históricos e tradicionais com o Ocidente e, outra, representada pela
similaridade de deficiências que une o país a um conjunto de outros países que
se situam numa posição de desvantagem dentro do sistema internacional. No
entanto, essa perspectiva de dupla inserção não representa para a política
externa brasileira a necessidade de opção entre alternativas diversas. Ao
contrário, são movimentos percebidos como complementares e correspondentes a
uma tentativa de diminuição da dependência em relação aos Estados Unidos.
Há que se ressaltar também que o período inicial de universalização da política
externa brasileira coincide, no plano internacional, com um momento no qual
novas potências econômicas, em especial Alemanha e Japão, estavam buscando
redefinir sua inserção, visando igualmente menor dependência dos Estados
Unidos. E, nesse sentido, pressupõe-se que o posicionamento brasileiro no
sistema internacional foi relativamente favorecido pela ampliação das disputas
econômicas entre os países desenvolvidos.
Nesse período, o relacionamento brasileiro com a região asiática esteve
basicamente restrito a suas relações com o Japão. Desde a década de 1960, as
relações econômicas entre Brasil e Japão passaram por um incremento
significativo, à medida que o Japão assumia o papel de segundo mercado
individual para as exportações brasileiras e terceiro maior investidor externo
no Brasil. No entanto, o estudo dessas relações aponta para o fato de que seu
incremento se deveu, primordialmente, a iniciativas por parte do Japão.
Nesta linha de raciocínio, deduz-se que as exportações brasileiras para o Japão
são, em sua maioria, determinadas claramente pelos investimentos japoneses no
Brasil, os quais privilegiam a produção de insumos industriais vitais para a
economia japonesa. Além disto, de forma menos significativa houve também uma
realocação das chamadas sunset industries, cujos elevados gastos em energia,
mão-de-obra e impacto ambiental não permitiam que a produção no Japão
mantivesse competitividade elevada se localizadas em seu território.
"O que mais parece ter influído para a especialização nipônica em determinados
setores da economia brasileira foi a meta de garantir insumos fundamentais para
a sua indústria, conjugada à reestruturação industrial da economia japonesa,
realocando no exterior setores intensivos em mão-de-obra, energia e altos
custos ambientais".23
Denota-se, assim, certa complementaridade entre os dois países: fornecimento de
matérias-primas em troca de investimentos e fornecimento de produtos
industrializados. Sob o ponto de vista político, mantém-se igualmente a
visualização da complementaridade ou de uma estratégia conjunta visando redução
de dependências em relação aos Estados Unidos, ou mesmo, de perspectivas
similares no que se refere a suas inserções no sistema internacional. Nesse
sentido, a ampliação do relacionamento com o Japão atendia aos pressupostos
básicos da política externa brasileira de redefinição de sua inserção no
cenário internacional, em coerência com os princípios da política pragmática em
vigência.24
Esta complementaridade nipo-brasileira sofre, no entanto, um processo de
retração a partir do início dos anos 80, em decorrência, de uma parte, da
diminuição da importância da garantia de fornecimento de matérias-primas, seja
pelo aumento da oferta como pela queda dos preços reais e, de outra, pela
aceleração da crise econômica brasileira, revertendo as expectativas de que a
economia brasileira continuaria crescendo a ritmo acentuado. Não se pode deixar
de considerar que o distanciamento decorre não só dos problemas brasileiros,
mas também do novo posicionamento internacional que o Japão assume nos anos 80,
em especial após a forte valorização do yen em 1985, com o Japão mais seguro
quanto à sua dependência de acesso a determinadas matérias primas.
Esta crise inclusive propicia o surgimento do fenômeno chamado dekassegui, ou
seja, o estabelecimento de um fluxo migratório de descendentes de japoneses
para trabalho no Japão. Os dekasseguis, atualmente em torno de 250 mil,
passaram a ser um fator importante no relacionamento nipo-brasileiro enquanto
fonte significativa de fluxo de capitais.25
Mesmo com a reversão de expectativas com relação ao crescimento econômico
brasileiro durante as décadas de 80 e 90, o investimento direto estrangeiro foi
atraído na década de 1990 pelo amplo processo de privatização ocorrido no
Brasil. Apesar de atrair novos investidores como os espanhóis e portugueses os
asiáticos em geral se mantiveram fora desse processo de privatização.
Independente desse processo, durante a mesma década cresceu a presença de
empresas coreanas e chinesas no Brasil, como ilustram os casos, mencionados
anteriormente, da Samsung, LG, Huawey e Shangai Baosteel.
Nos primeiros anos deste século, percebe-se também um crescente aumento do
comércio bilateral brasileiro com os países asiáticos. As exportações
brasileiras para a China, mais por necessidades chinesas do que por um esforço
exportador brasileiro, bateram recordes de crescimento. A presença de empresas
chinesas em busca de parcerias estratégicas com empresas e governos locais,
quer para participar do mercado local, quer para garantir o suprimento de
produtos básicos, como os minérios e, marcadamente, a soja tem caracterizado o
relacionamento do país com a Ásia. Será a China, neste novo século, o motor de
um maior relacionamento do Brasil com a Ásia?
Estudos asiáticos no Brasil do pós-Guerra à década de 1980
Os estudos, no Brasil, referentes à região da Ásia-Pacífico encontram-se em
estágio inicial, não se detectando programas ou instituições consolidadas. Em
seu desenvolvimento histórico, no início dos anos 60 e relativamente em
consonância com a implementação da política externa independente podem ser
apreendidas a partir do estabelecimento de centros de pesquisa de caráter mais
abrangente, englobando o conjunto dos países não desenvolvidos ou, mais
especificamente o que passaria a ser chamado de Terceiro Mundo.26
Assim, de uma forma genérica, estes centros de estudos englobam África, Ásia e
Oriente Médio.27
Houve um desenvolvimento mais sistemático dos Estudos Africanos28, enquanto os
Asiáticos terão início só no final dos anos 80. O primeiro constituído foi o
Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao)29, em 1959, e ligado à Universidade
Federal da Bahia. É uma instituição voltada para o estudo, a pesquisa e ação
comunitária na área de estudos afro-brasileiros e das ações afirmativas em
favor das populações afro-descendentes, bem como na área dos estudos das
línguas e civilizações africanas e asiáticas. Publica desde 65 a Revista Afro-
Ásia, de periodicidade semestral.
A denominação de estudos africanos ou asiáticos apresenta um sentido muito
amplo, podendo se referir tanto aos estudos específicos sobre a Ásia, quanto
sobre a comunidade asiática residente no Brasil ou ainda sobre as relações
entre o Brasil e a Ásia. No presente caso, o Ceao, apesar de apresentar os
termos orientais e Ásia em sua publicação, está diretamente envolvido na
análise das questões que tratam a inserção dos afro-brasileiros na sociedade
brasileira.
Outra iniciativa teve início quando Jânio Quadros assumiu a Presidência da
República em 61. Seu governo conferiu um destaque especial aos países em
desenvolvimento, enfatizando a possibilidade de instauração de uma maior
aproximação não só política, mas também econômica, com vistas a uma
complementaridade que reforçasse os esforços conjuntos para a superação do
subdesenvolvimento. "O Brasil tem aumentado sua produção internamente em busca
não apenas do mercado doméstico, mas, especificamente, na tentativa de atrair
novos mercados: o interno, os da América Latina, África, Ásia e Oceania".30
Em um de seus primeiros bilhetes pequenas anotações em pedaços de papel,
característicos de sua forma autoritária de governar, Jânio solicitava
providências ao Ministério das Relações Exteriores, Itamaraty, no sentido de:
"a) constituir um grupo de trabalho com o objetivo de preparar a representação
diplomática brasileira nos novos Estados africanos; b) elaborar esse ministério
a política brasileira naquele continente, que deve ser reexaminada em todos os
seus aspectos, sobretudo no político, no econômico e no cultural''.31
Desta forma, criou-se o Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos (Ibeaa)
pelo Decreto no. 54.465, de 14 de abril de 1961. De acordo com o Decreto no.
684-A que o regulamentou, seria um centro de altos estudos, destinado a estudar
e a divulgar assuntos relacionados com os países da África e da Ásia e a
colaborar com o Ministério das Relações Exteriores. Tinha como objetivos: a)
estimular, desenvolver e difundir estudos culturais, sociais, políticos e
econômicos relativos ao mundo afro-asiático; b) promover o estudo comparado dos
processos de desenvolvimento do Brasil e dos países africanos e asiáticos,
visando ao intercâmbio em benefício mútuo, da experiência de técnicas ou
soluções adotadas; c) cooperar com o Ministério das Relações Exteriores no
intercâmbio universitário entre o Brasil e os países africanos e asiáticos.
No entanto, em decorrência do golpe militar esse Instituto teve suas atividades
encerradas em 1964. Posteriormente, o Centro de Estudos Afro-Asiáticos (Ceaa),
estabelecido e mantido pela Universidade Cândido Mendes, situada no Rio de
Janeiro, incorpora seus antigos objetivos e pode ser considerado como o
herdeiro do desaparecido Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos
(Ibeaa)32. Suas atividades iniciaram-se em 1973 e compreendem estudos
africanistas, orientais e afro-brasileiros, publicando desde 1978 a revista
Estudos Afro-Asiáticos.
Zamparoni aponta que o Ceaa apresentou três fases claramente diferenciadas,
sendo a primeira fase mais direcionada para as questões africanas relacionadas
com os processos de libertação colonial dos "países de língua oficial
portuguesa" (PALOP) e particularmente para a conjuntura política da África
Austral e, num segundo momento, a tônica passou a ser o estudo sobre as
relações Brasil-África, questões de desenvolvimento e cooperação, já num quadro
de pós-independência dos PALOP. E que, a partir da metade dos anos 1980,
voltou-se mais para estudos afro-brasileiros e particularmente para as questões
das relações raciais no Brasil. Zamparoni acrescenta ainda que o apoio
financeiro da Fundação Ford foi determinante nesta mudança de prioridades,
sendo hoje a principal atividade de produção acadêmica do Ceaa o seu
Laboratório de Relações Raciais.33
Além destes, podem ser ainda citadas duas outras iniciativas nas décadas de
1960 e 1970, mas que praticamente não apresentaram desenvolvimento vigoroso.
Uma delas, foi o Centro de Estudos Afro-Asiáticos de Natal, em 65, com o
objetivo de especializar-se nos estudos africanistas e orientais, como também
nas relações entre esses continentes e o Brasil. A outra, o Instituto
Brasileiro de Cultura Luso-Afro-Asiática, fundado por iniciativa de portugueses
e brasileiros no Rio de Janeiro em 1977, com a pretensão de se ocupar com os
estudos da Ásia e de toda a área de fala portuguesa em função da cultura
lusitana.34
Neste período, merece destaque ainda o desenvolvimento de alguns cursos
regulares de ensino do idioma japonês e localizados normalmente em
universidades públicas, como a Universidade de São Paulo (USP), onde existe
também a Casa da Cultura do Japão para estudos e eventos de caráter cultural35,
a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade
Federal do Estado do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Estadual
Paulista (UNESP) e a Universidade de Brasília (UnB). Cursos de extensão
passaram a ser igualmente oferecidos na Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), Universidade Estadual de Maringá (UEM) em seu Instituto de Estudos
Japoneses, Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Federal do
Estado do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Estado da Bahia (UFBA),
Universidade Estadual da Bahia (UNEB), entre outros.
Na década de 1960, constata-se ainda uma experiência pioneira que poderia ter
dado origem ao desenvolvimento da área de estudos regionais no país. Com base
na manutenção de cursos livres de idiomas (russo, hebraico e árabe) implantados
nos anos 40, o Departamento de História, da antiga Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Universidade de São Paulo criou a seção de Estudos
Orientais, dando início aos cursos de bacharelado das áreas de árabe, armênio,
hebraico, japonês e russo. Em 1968 agregam-se a esta Seção as áreas de chinês e
sânscrito. O objetivo era o de especialização por área, com o estudo não só de
língua e cultura, mas também de história, política (nacional e internacional),
sociedade e economia.
No entanto, a partir da reforma universitária de 70, a antiga Seção de Estudos
Orientais passou ao âmbito do Curso de Letras, com a criação do Departamento de
Lingüística e Línguas Orientais. Com o desmembramento de Lingüística, em 1986,
passou a chamar-se Departamento de Línguas Orientais e, posteriormente,
Departamento de Letras Orientais.36 Desde a reforma universitária, que
fundamentalmente extinguiu as cátedras e organizou as diversas áreas do
conhecimento em departamentos, não existiu outra iniciativa de estudos
asiáticos no Brasil que não estivesse atrelada ao estudo de idiomas e, na
melhor das hipóteses, cursos esporádicos sobre aspectos culturais dos povos
asiáticos.
Renovado esforço dos estudos asiáticos no Brasila partir da década de 1980
Considerando a Ásia como um todo, é necessário ponderar que, dos anos 80 até
hoje, tem havido um relativo aumento do interesse da sociedade em geral, dos
empresários e dos acadêmicos por aquela região. Inicialmente, ainda na década
de 1980, o Japão que comprava o Rockfeller Center, a Columbia Pictures, a CBS
Records, entre outras empresas norte-americanas, e que se apresentava como a
principal economia mundial atraía a atenção dos analistas econômicos e dos que
desejavam aprender e emular seu modelo de administração de empresas e
desenvolvimento econômico. Aos poucos, porém, começou a se fazer presente a
percepção de que a economia asiática não representava somente o Japão, mas
também o Sudeste Asiático e igualmente a República da Coréia. Por fim e, em
especial, a partir da metade da década de 1990, começava igualmente a ser
objeto de interesse o entendimento de como a República Popular da China
conseguia firmar-se como uma economia emergente e provável potência do século
XXI.
Desta forma, é a partir do final da década de 1980 que começam a ser observados
os primeiros movimentos de se tentar estruturar um processo de estudos sobre a
Ásia em si e sobre as relações entre Brasil e Ásia. De qualquer forma, este
momento é caracterizado pelo surgimento de iniciativas individuais e, na
maioria, associado a projetos de mestrado e/ou doutorado, como, por exemplo,
Ernani Teixeira Torres na UFRJ; Gilson Schwartz na UNICAMP, Wellington Dantas
Amorim na UnB, Silvio Miyazaki e Alberto Sugo na EAESP-FGV, entre outros. De
outro lado, o ex-embaixador Amaury Porto de Oliveira amplia a sua participação
acadêmica retomando suas análises iniciadas com as Cartas de Cingapura.37
No Centro de Estudos Afro-Asiáticos da Cândido Mendes, tem prosseguimento o
trabalho abnegado de Severino Cabral no esforço de ampliação do conhecimento
sobre a realidade chinesa. Na Universidade de Brasília, sob coordenação de
Henrique Altemani de Oliveira, constituiu-se um Grupo de Estudos sobre as
Relações Brasil-Japão, com financiamento da Fundação Ford. E, de certa forma
com melhor infra-estrutura e recursos assegurados e contínuos, constitui-se, na
Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, em 1989, o
Centro de Estudos Japoneses com recursos da Sasakawa Peace Foundation do Japão.
Com o objetivo de maximizar os esforços individuais e evitar dispersão de
iniciativas e recursos, constituiu-se em 1991 a Sociedade Brasileira de Estudos
sobre o Japão e o Pacífico (SBEJP). Conforme declara Gilson Schwartz, primeiro
presidente da SBEJP, além da falta de um foro, um espaço, onde se pudesse
desenvolver discussões e estudos acadêmicos: "(...) havia um interesse muito
grande por um espaço novo que trouxesse o Japão acadêmico, mais próximo, e que
fosse também um espaço de integração com os problemas da realidade brasileira,
com os interesses, as dificuldades, e os desafios da sociedade brasileira. Esse
foi o diagnóstico do qual o grupo partiu: de um lado, uma carência nas
instituições que trabalhavam com a questão japonesa; e de outro, (...) um
interesse geral de se criar uma ponte entre estes dois mundos Brasil e Japão.38
Ainda que o nome da nova associação indicasse, além do Japão, o Pacífico, e
tivesse se esforçado, nos cinco congressos que organizou, para a presença de
temas que abordassem outros países da região, não se pode negar que, naqueles
anos, a preocupação dos pesquisadores brasileiros estava prioritariamente
direcionada ao estudo do Japão, com interesse residual para outros países da
região. A SBEJP, por absoluta falta de recursos, teve que descontinuar suas
atividades, mas mesmo assim, em 1998, alterou sua denominação para Sociedade
Brasileira de Estudos sobre a Ásia e o Pacífico, após ter recepcionado a visita
de uma missão da Academia de Ciências Sociais da República Popular da China.
Como apontado anteriormente, na década de 1990, em decorrência do fim da Guerra
Fria e início do processo de reestruturação internacional visando uma
redefinição do sistema internacional, bem como das regras que possam configurar
um novo padrão de relacionamento internacional, o Brasil apresentou alguns
ajustes em suas estratégias de inserção internacional. Dentre estas
estratégias, a Ásia do Leste passou a ser vista como uma área de expressão no
processo de inserção internacional brasileira, com conteúdo tanto econômico
quanto político.
O interesse não é só do lado brasileiro, mas também do asiático que até então
contava com o acelerado desenvolvimento econômico japonês e demais economias em
rápido processo de industrialização, tendo a Coréia do Sul, por exemplo,
ultrapassado o Brasil em termos de renda per capita no início dos anos 80.
Inicialmente, a Ásia, seja em decorrência do processo de reestruturação do
sistema comercial internacional, seja do crescimento da tendência de formações
regionais econômicas, passou a encarar o Brasil como um possível parceiro tanto
para o fornecimento de matérias-primas ou produtos alimentícios, quanto para
recepção de produtos manufaturados ou para a instalação de unidades produtivas
visando o mercado regional e continental.
A partir de 1995, esse processo se tornou importante pelo receio asiático de
que as discussões para a implantação da Área de Livre Comércio das Américas
possam dificultar ainda mais o acesso asiático aos mercados americanos. Esta
preocupação, por exemplo, está bem expressa na análise do Ministério das
Relações Exteriores do Japão quando reconhece: "há o perigo de que devido ao
progresso na integração econômica da América Latina e do Caribe, as companhias
japonesas possam ficar em desvantagem, através da região, na competição com as
companhias dos Estados Unidos e da Europa".39
O embaixador do Japão no Brasil, Katsunari Suzuki, retrata muito claramente, de
um lado, o atraso brasileiro no processo de ampliação de conhecimento sobre a
Ásia e, de outro, a importância política e estratégica deste conhecimento:
"Para o Brasil tornar-se, futuramente, um verdadeiro global player, acho
imprescindível incorporar a Ásia dentro de sua esfera de atuação. Falando com
toda franqueza, porém, o Brasil ainda não conta com um conhecimento profundo,
em sua verdadeira acepção, sobre a Ásia. Daqui para o futuro, quando o Brasil
ou a América do Sul tentar fortalecer seus laços com a Ásia, deve haver muitos
pontos nos quais o Japão poderá atuar como um honest broker em prol do
interesse de ambas as partes. Sendo assim, o Brasil e o Japão poderão fazer
juntos muitas coisas, no sentido de os dois países se unirem para estabelecer o
elo entre a América do Sul e a Ásia. E, numa perspectiva em longo prazo, o fato
de o Brasil fortalecer sua relação com a Ásia e assim tornar-se um país com um
relacionamento equilibrado com os Estados Unidos, Europa e Ásia, poderá ser de
interesse do próprio Japão.40
De alguma maneira as preocupações expressas pelo governo japonês nos documentos
mencionados, estavam presentes quando da instalação, em 1986, da Associação
Latino-Americana de Estudos Afro-Asiáticos do Brasil (Aladaab) como a Seção
Nacional da Associação Latino-Americana de Estudos Afro-Asiáticos (Aladaa). Foi
estabelecida no Colégio de México, na cidade do México, com o objetivo de
promoção de atividades e eventos na área de estudos afro-asiáticos, vinculando
e entrelaçando os esforços acadêmicos nesta área de conhecimento.
Tradicionalmente, no Brasil, seus congressos nacionais reúnem pesquisadores de
quatro áreas distintas: estudos afro-brasileiros, estudos africanos, literatura
africana e estudos asiáticos. No entanto, a presença de pesquisadores sobre
Ásia, apesar do aumento do interesse brasileiro pela Ásia, é ainda residual. No
livro que publicou as apresentações do VI Congresso da Aladaab em 96, constam
sete artigos sobre estudos afro-brasileiros, nove sobre estudos africanos,
quatro sobre literatura africana e quatro em estudos asiáticos.41 Nestes
últimos, além da baixa presença de análises sobre a Ásia, os temas são ainda
extremamente desconexos, impossibilitando uma reflexão conjunta, sendo um
artigo sobre política externa chinesa, um sobre teatro indiano clássico, outro
sobre a noção de pessoa em Keiji Nishitami e o quarto sobre a colonização
portuguesa na Índia.
Da mesma forma, no VII Congresso, realizado em novembro de 2004 em Brasília,
foram apresentados 66 trabalhos, sendo 25 sobre estudos africanos, 19 sobre
estudos afro-brasileiros, nove sobre literatura africana, sete de estudos
asiáticos e três sobre relações brasileiras com países do Sul e três sobre
outros temas. Este último quadro reflete de uma forma muito clara e crua o fato
de que a área de estudos asiáticos no Brasil ainda carece de um esforço muito
forte no sentido de minimamente poder se estruturar para produzir um
conhecimento mais sistemático sobre a realidade asiática, de um lado, e sobre o
relacionamento brasileiro com a Ásia, de outro.42
Mesmo assim, pode-se considerar um relativo avanço na área a constituição de
alguns grupos com ênfase específica na Ásia. A Universidade Cândido Mendes, no
Rio de Janeiro, manteve o Ceaa voltado para os estudos africanos enquanto os
Estudos Afro-Brasileiros passaram a estar compreendidos no recente Centro de
Estudos Afro-Brasileiros (Ceab). Já os estudos asiáticos, praticamente
reduzidos à análise sobre a China e sobre o relacionamento sino-brasileiro
ficaram alocados dentro do Centro de Estudos das Américas daquela universidade.
Na Universidade de Brasília, foi criado, em 1987, o Neásia Núcleo de Estudos
Asiáticos, desenvolvendo atividades multidisciplinares sobre a Ásia e o
Pacífico Asiático assim como sobre as relações do Brasil com os países
asiáticos.43 A criação de um curso de bacharelado em língua e literatura
japonesa, em 1997, na Universidade de Brasília indiretamente contribuiu para
reforçar a consolidação do Neásia, em primeiro com a atuação de Ronan Alves
Pereira e, atualmente, com Lytton Guimarães. O Neásia, em razão da proximidade
com as representações diplomáticas dos países asiáticos em Brasília e da
relativa vinculação com estudantes e pesquisadores do curso de Relações
Internacionais da Universidade de Brasília, apresenta uma vocação para uma
especialização em torno de análise de questões internacionais da região da
Ásia-Pacífico.
Na Universidade de São Paulo, o Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais44
abriu uma linha de pesquisa específica sobre a Ásia a partir de 1995, com
Alexandre Uehara trabalhando mais sobre o Japão, Henrique Altemani sobre a
China e Gilmar Masiero sobre a República da Coréia. Desde então, Uehara
desenvolveu sua tese de doutorado sobre a política externa japonesa45 e tem
publicado vários artigos em jornais e revistas como também liderado discussões
acadêmicas junto à Fundação Japão. Gilmar Masiero segue investigando o
desenvolvimento econômico asiático e da mesma forma Henrique Altemani, lidera
na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo a formação do Grupo de Estudos
Ásia-Pacífico46, trabalhando principalmente sobre os temas de segurança
regional, integração e políticas externas dos países do Leste Asiático.
Ainda na Universidade de São Paulo, Alexander Chung Yuan Yang, imbuído do ideal
que tinha norteado a criação dos cursos de Estudos Orientais, promoveu em
setembro de 1995 o I Congresso Nacional de Docentes e Pesquisadores Chineses e
Sinólogos do Brasil com o intuito de incentivar a criação de um Centro de
Estudos Chineses. Ainda que formalmente este centro não tenha sido constituído,
o grupo de professores do curso de língua chinesa na USP continua promovendo
seminários e publica a Revista China em Estudo.
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o Núcleo de Estratégia e Relações
Internacionais (Nerint), sob a coordenação de Paulo Vizentini começou também a
apoiar o desenvolvimento de reflexões sobre o contexto asiático, por meio de
uma linha de pesquisa específica voltada para a análise da realidade
estratégica, a inserção internacional e o desenvolvimento econômico que vem
ocorrendo na Ásia-Pacífico.47E, em abril de 2002, foi estabelecida a Associação
Brasileira de Estudos Japoneses (Abej) que visa congregar professores,
pesquisadores e estudantes de Estudos Japoneses, na acepção mais geral do
termo, bem como aqueles que desenvolvem trabalhos relacionados com a cultura
japonesa. Seus objetivos são o de incentivar o ensino, a pesquisa acadêmica e a
pesquisa-ação, bem como promover a divulgação e o intercâmbio de produção
didática e científica em Estudos Japoneses, apoiar a criação e a melhoria de
cursos de língua e cultura japonesa, incrementar a troca de informações e
contatos profissionais com outras associações de ensino e pesquisa, nacionais e
internacionais.48
A Fundação Japão, com sede em São Paulo, tem, de forma sistemática, acompanhado
a situação dos estudos japoneses no país, com a elaboração de um diretório de
pesquisadores e instituições de pesquisa. Devido à defasagem dos dados (os
levantamentos anteriores foram realizados em 84 e 88, sendo que o diretório
atual é resultado da pesquisa realizada em 98) está sendo realizada uma nova
versão. A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), com a abertura
oficial de sua cátedra no ensino da língua japonesa a partir de 2003, junto com
a sua equipe de professores da área de ciências sociais e humanas, foi
escolhida para realizar o levantamento nacional, que está em vias de
finalização. Nele, percebe-se uma nítida tendência de mudança de enfoque,
anteriormente com forte presença da área de língua, em direção à diversificação
de assuntos.49
Cabe ainda apontar o surgimento de entidades não diretamente voltadas para
estudos asiáticos, mas que desempenham um papel fundamental enquanto apresentam
o objetivo, entre outros, de colaborar para o estreitamento das relações
bilaterais. Detecta-se assim a importância tanto da Associação Brasil-Japão de
Pesquisadores, anteriormente sob a denominação de Sociedade Brasileira de
Pesquisadores Nikkeis, quanto da Associação Brasileira dos Professores
Universitários Coreanos, sob liderança do professor Hee Moon Jo.
Ainda que não estejam arroladas todas as iniciativas, todos os pesquisadores e
grupos que direta ou indiretamente estejam trabalhando com o tema de estudos
asiáticos, a presente e breve descrição evidencia o reconhecimento de que os
estudos asiáticos no Brasil apresentam uma relativa mudança, a partir dos anos
90. Esta mudança se caracteriza pela agregação de interesses mais diversos, até
então concentrados no Japão. Na eleição de novos temas ou novos países, a
China, principalmente nos últimos anos, passou a representar o país que mais
está atraindo a atenção de estudiosos ou de trabalhos acadêmicos.50 A República
da Coréia, por sua capacidade econômica, sua rapidez na redução dos efeitos da
crise asiática, seu desenvolvimento tecnológico, entre outros fatores, está
igualmente atraindo interesses, mas sem que, até o momento, tenha sido
estruturado um esforço mais sistematizado de análise por pesquisadores
brasileiros.51 Esperanças, entretanto, recaem sobre o acordo de cooperação
firmado em março de 2005, entre a Universidade de São Paulo e The Korea
Foundation. Com vigência de cinco anos, o acordo envolve cooperação acadêmica
em Estudos Coreanos, nas áreas de Língua Coreana, Estudos Comparativos e
Relações Internacionais.
Pelo acordo de cooperação, a Universidade de São Paulo, além de envidar
esforços para patrocinar intercâmbios de alunos e pesquisadores, se obriga a
estabelecer e co-patrocinar um curso permanente de língua coreana, organizar
anualmente uma Semana de Estudos Coreanos e uma Conferência sobre Brasil e
Coréia: Comparativo e Perspectivas. Por seu lado, The Korea Foundation também
providenciará bolsas de estudo e pesquisas, co-patrocinará o emprego de
instrutores dos cursos de língua e seminários e conferências sobre estudos
coreanos e estudos comparativos Brasil-Coréia.
O Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do Ministério das Relações
Exteriores (Ipri-MRE), com a preocupação de buscar um conhecimento maior sobre
países de especial importância para o Brasil e assim contribuir para a gradual
construção de uma visão brasileira sobre as principais sociedades e Estados
passou no final da década de 1990 a promover uma série de seminários. Com
relação aos países asiáticos, considerados neste trabalho, realizou o seminário
"Brasil-China" em novembro de 1999, "Coréia" em outubro de 2000 e "Japão" em
dezembro de 2000. E, juntamente com o Departamento da Ásia e Oceania do
Ministério das Relações Exteriores, patrocinou, em junho de 2001, o seminário
"O Brasil e a Ásia no século XXI: ao encontro de novos horizontes".52
O aumento das visitas presidenciais quer das lideranças asiáticas ao Brasil,
quer do presidente ou de outras autoridades brasileiras aos países asiáticos,
nos anos recentes, tem estimulado a realização de seminários e encontros em
várias esferas do governo.53 Infelizmente essas atividades são pontuais e
carecem de maior esforço de sistematização e divulgação dos resultados. Além
dos centros acadêmicos anteriormente mencionados, timidamente, na maioria dos
casos por escassez de recursos, surgem outras iniciativas no interior das
instituições de ensino superior brasileiras, principalmente atreladas aos
emergentes cursos de Relações Internacionais. Exemplo nesta direção é o Grupo
de Estudos da Ásia-Pacífico da PUC/SP, estabelecido em 2004. Em sua curta
trajetória de existência já realizou três encontros denominados de "Semana de
Estudos Asiáticos". Após encontros sobre o Japão e China realizou, um seminário
específico sobre a República da Coréia, em abril de 2005.
Comentários finais
Aparentemente, qualquer tipo de conclusão que se faça tem que apontar o que
está por demais patente: a área de estudos asiáticos no Brasil é recente, com
um número exíguo de instituições e de pesquisadores, com carência de recursos e
estando, até recentemente, quase que integralmente concentrada em estudos
direcionados ao Japão.
No entanto, dado o atual interesse econômico e político que o Brasil demonstra
pelo continente asiático ("Se temos uma vocação regional, somos, também um país
global. Da mesma forma que a integração nacional passa pela integração
regional, estou convencido de que a aproximação com a Ásia e, em particular com
a China, será decisiva para o Brasil realizar esse destino maior")54, torna-se
cada vez mais premente a necessidade de se buscar um entendimento melhor de uma
região até então negligenciada nas preocupações dos analistas e estudiosos
brasileiros.
Assim, em primeiro lugar, pode-se observar uma presença européia muito forte no
cotidiano brasileiro, reforçando este distanciamento e desconhecimento do
continente asiático. Independentemente de algumas características brasileiras
decantadas, como o pluralismo étnico e a importância atribuída a outras
regiões, o Brasil permanece culturalmente influenciado e direcionado para a
Europa e para os Estados Unidos. Aparentemente esta observação aplica-se também
aos fluxos comerciais com uma relativa inércia para estas duas áreas, enquanto
que a diversificação para outras é normalmente reflexo de uma forte ação
governamental. Há assim, uma total marginalização da Ásia na educação
brasileira, em todos os níveis, negligenciando-se, tanto no ciclo básico,
quanto no secundário e mesmo no universitário, o conhecimento da região
asiática e mesmo da africana. Esta observação reforça a perspectiva do caráter
eurocêntrico da sociedade brasileira.
Em segundo lugar, e em parte decorrente da primeira observação, detecta-se uma
contínua e persistente falta de política de apoio material à consolidação de
instituições voltadas a suprir esta deficiência. Se, tradicionalmente, já há
uma relativa falta de apoio às próprias universidades, não é difícil imaginar a
dificuldade de obtenção de fundos para a criação ou manutenção de Centros de
Estudos Asiáticos.
De outro lado, constata-se, da mesma forma, ausência de cultura de
financiamento privado para estudos das mais variadas áreas. Há um relativo
entendimento de que a manutenção de centros de estudos é um custo que deve ser
mantido pelo Estado, sendo que o setor privado só aplica em atividades que
aparentemente possibilitem um retorno imediato. No caso dos estudos japoneses,
observa-se uma relativa exceção, mas que decorre de entidades relacionadas com
o Japão, como a Fundação Japão, o Banco América do Sul, e a Sasakawa Peace
Foundation. Por isto mesmo que a Fundação Ford em especial, mas também as
Fundações Alemãs (Konrad Adenauer e Friedrich Ebert) desempenham um papel
fundamental no desenvolvimento das Ciências Sociais no país.55
E, sem dúvidas, associada a esta questão de falta de recursos, a especialização
acadêmica pela área de estudos asiáticos implica perda de oportunidades
profissionais pelo fato de não haver praticamente, nos diferentes cursos
universitários, uma grade curricular que propicie oportunidades de aplicação
destes conhecimentos e, porque não, de contratação. No caso brasileiro, esta
possibilidade de especialização é grave pelo fato da não existência da carreira
de pesquisador. Sendo assim, o pesquisador tem que ser, em primeiro, professor,
sendo que seu envolvimento em pesquisas é sempre por interesse próprio ou
complementar à carreira de professor.
Finalmente, como decorrência de um círculo vicioso, constata-se fraca
organização cooperativa. Não há centros de estudos, em parte pelas razões acima
enumeradas, e esta ausência impede a formatação de associações que pudessem
operar na consolidação da área. Neste caso, o exemplo da Sociedade Brasileira
de Estudos sobre a Ásia e o Pacífico é bem ilustrativo. Surgiu por iniciativas
individuais e, por falta de recursos, permanece no papel, mas sem qualquer tipo
de atividade. É igualmente ilustrativa a institucionalização da Associação
Brasileira de Estudos Japoneses em 2002. Ainda que compreenda estudos sobre um
país com o qual o Brasil mantém um intenso relacionamento econômico e comercial
desde o final dos anos 50, com a presença de projetos de ensino de língua e
cultura desde os anos 60, com uma comunidade comparativamente ampla e com
relativa influência política e com apoio de uma das poucas instituições
atuantes no país (Fundação Japão), só recentemente reuniu condições de buscar
uma política de consolidação da área de estudos japoneses no país.56
Entretanto, há uma questão que sobremaneira reforça este distanciamento,
desconhecimento da Ásia. O que a Ásia, e aí podemos pensar diretamente em cada
país compreendido neste universo chamado de Ásia, conhece do Brasil? Nada! Ou,
da mesma forma como se processa no Brasil, há um trabalho franciscano de poucos
pesquisadores isolados, ou ainda que mais raro, de poucas instituições voltadas
a pensar o Brasil e suas relações com a Ásia.
Talvez a única possibilidade de superação deste atraso de conhecimentos e
informações seja o desenvolvimento de vontades políticas que propiciem ações
concretas. Por parte dos governos, direcionando recursos para a implementação
de intercâmbios de professores/pesquisadores que se dediquem ao ensino de
língua e cultura, ou de pesquisadores asiáticos em Centros de Estudos no Brasil
e de pesquisadores brasileiros em Centros de Estudos na Ásia, bem como para a
manutenção de instituições no país, com recursos para infra-estrutura e acesso
a materiais de estudo (livros, periódicos, viagens e realização de eventos
acadêmicos). Por parte das universidades, disponibilizando recursos para a
instalação e atuação desta área de estudos e remuneração dos pesquisadores. E,
por parte de Fundações e empresas privadas diretamente interessadas na
ampliação das relações bilaterais.
1 O papel do mundo afro-asiático está muito bem retratado nos trabalhos de
MENEZES, Adolpho Justo Bezerra. O Brasil e o mundo ásio-africano, Rio de
Janeiro: Irmãos Pongetti, 1956 e SELCHER, Wayne. The Afro-Asian dimension of
Brazilian foreign policy (1956-1972). Gainesville: University Presses of
Florida, 1974. Y
2 Em decorrência da imprecisão do termo "Ásia", a região que estará sendo
abordada nesta reflexão corresponde à "Ásia-Pacífico" ou ao "Leste Asiático",
englobando o Nordeste Asiático (Japão, China, Hong Kong, Taiwan, Coréia do Sul
e Coréia do Norte), e os atuais membros da Asean Associação das Nações do
Sudeste Asiático (Indonésia, Malásia, Tailândia, Filipinas, Cingapura, Brunei,
Vietnã, Laos, Camboja e Myanmar).
3 Ver MASIERO, Gilmar. Investimentos diretos do Japão, Coréia do Sul e China no
Brasil: motivos, características e perspectivas. Texto preparado para o II
Encontro de Estudos Coreanos na América Latina. México. Outubro de 2005.
4 Ver, entre outros, TORRES FILHO, Ernani T. A economia política do Japão:
reestruturação econômica e seus impactos sobre as relações nipo-brasileiras
(1973-1990). Rio de Janeiro: Tese de Doutorado, Instituto de Economia
Industrial, 1991. MASIERO, Gilmar. Empresas Japonesas: Estrutura, Principais
aspectos e processo decisório. São Paulo, EAESP-FGV, 1994. SCHWARTZ, Gilson
(org). Lições da Economia Japonesa. São Paulo: Saraiva, 1995. Y Y
5 CERVO, Amado Luiz & BUENO, Clodoaldo. História da política exterior do
Brasil. São Paulo: Ática, 1992. p. 123. Sobre essas questões do tratado e da
busca de mão-de-obra chinesa, veja também: DANTAS, Fábio Lafaiete. Origens das
relações entre o Brasil e a China: a missão especial de 1879. Brasília:
Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, 1986; BUSSCHE, Eric Vanden.
A dimensão histórica das relações sino-brasileiras (séc. XVI-1943). In: Tempo
Brasileiro, n. 137. p.85-98; SPENCE, Jonathan. Em busca da China moderna:
quatro séculos de história. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 216-221. Y Y Y
6 TEIXEIRA Leite, José Roberto. A China no Brasil. Campinas: Editora da
UNICAMP, 1999. p. 111-124.
7 O processo de imigração japonesa foi detalhadamente analisado por LEÃO,
Valdemar Carneiro. A crise da imigração japonesa no Brasil (1930-1934).
Brasília: IPRI, 1990 e SAITO, Hiroshi. A presença japonesa no Brasil. São
Paulo: EDUSP, 1980. Y
8 Comissão de elaboração da história dos 80 anos da imigração japonesa no
Brasil. Uma epopéia moderna: 80 anos da imigração japonesa no Brasil. São
Paulo: Hucitec/Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, 1992.
9 CARDOSO, Ruth. O papel das associações de jovens na aculturação dos
japoneses. São Paulo: Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, 1970;
CARDOSO, Ruth. Estrutura familiar e mobilidade social: estudo dos japoneses no
estado de São Paulo. São Paulo: Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo,
1972. Y
10 MURASSE, Celina M. Processo imigratório no século XX: duplo caráter da
imigração japonesa no Brasil. São Paulo: Dissertação de Mestrado, Universidade
Federal de São Carlos, 1993.
11 REZENDE, Tereza H. de. Ryu Mizuno: saga japonesa em terras brasileiras.
Curitiba: SEEC; Brasília: INL, 1991.
12 WACHOWICZ, Ruy C. História do Paraná. Curitiba: Vicentina.1988.
_________. obrageiros, mensus e colonos: história do oeste paranaense.
Curitiba: Vicentina, 1982.
13 CODATO, Evandir. Colonização agrícola: a colônia três barras 1932-1970.
Curitiba: Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Paraná, 1981.
14 Os cinco parágrafos seguintes sobre a imigração coreana foram anteriormente
publicados no texto: MASIERO, Gilmar. A economia coreana: características
estruturais. In: GUIMARÃES, Samuel Pinheiro (Org.). Coréia: visões brasileiras.
Brasília: IPRI, 2002.
15 LEE, Sangki. Brasil e Coréia do Sul: aspectos político-econômicos do
relacionamento bilateral. Brasília: Dissertação de Mestrado, Universidade de
Brasília, 1995. p. 58-62.
16 CHOI, Keum Joa. Além do arco-íris: a imigração coreana no Brasil. São Paulo:
Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, 1991. p. 34-37.
17 ROPER, P. Investment in Latin America. In: Economist Intelligence Unit.
London, 1970. p. 10.
18 OKITA, Saburo. Japan's quiet strength. In: Foreign Policy. Washington, 1989.
p. 141.
19 Declaração em conversa informal com Kotaro Horisaka, em setembro de 1990.
Veja também HORISAKA, Kotaro. A alvorada das relações econômicas nipo-
brasileiras. In: YOKOTA, Paulo. Fragmentos sobre as relações nipo-brasileiras
no pós-guerra (Org.). Rio de Janeiro: Topbooks. 1997. p. 55-78.
20 A "política externa independente", implementada a partir do início dos anos
60, corresponde à proposta de estabelecimento de uma política externa autônoma
e voltada para a real promoção dos interesses brasileiros. Vai se caracterizar,
por um lado, por uma tentativa de "universalização", ou seja, multiplicação de
parcerias econômicas e políticas e, de outro, por uma maior aproximação com os
países em desenvolvimento, visando uma ação coordenada e conjunta na defesa de
interesses comuns.
21 LAFER, Celso. Uma interpretação do sistema de relações internacionais do
Brasil. In: Revista Brasileira de Política Internacional. ano X, n.39-40. Rio
de Janeiro: IBRI, 1967. p. 99.
22 BARBOSA, Gibson. Depoimento em Funag. Reflexões sobre a política externa
brasileira. Brasília: Funag, 1993. p. 253.
23 AMORIM, Wellington Dantas. Contraste e Contato: Aspectos do Relacionamento
Econômico entre Brasil e Japão. Brasília: Dissertação de Mestrado, Universidade
de Brasília, 1991. p. 193.
24 OLIVEIRA, Henrique Altemani & AMORIM, Wellington Dantas. O
relacionamento Brasil-Japão. In: ALBUQUERQUE, José Augusto Guilhon (org.)
Sessenta anos de política externa brasileira (1930-1990). São Paulo: Annablume,
vol. 3, 2000. p. 475-496.
25 Para uma visão mais atualizada sobre a questão dos dekasseguis veja-se
NINOMIYA, Masato & TANAKA, Aurea Christine. Os Trabalhadores Brasileiros no
Japão. In: AMARAL Jr., Alberto & SANCHEZ, Michelle Ratton. Relações Sul-
Sul: países da Ásia e o Brasil. São Paulo: Aduaneiras, 2004. p.: 277-316.
26 Não há mais dúvidas de que o "termo 'Terceiro Mundo' fora empregado pela
primeira vez, em 1952, pelo demógrafo e historiador francês Alfred Sauvy num
artigo publicado no periódico L'Observateur (14 de agosto de 1952) sob o título
Trois Monde, Une Planète no qual 'no calor da Guerra Fria, (ele) usara para
distinguir os países em desenvolvimento situados fora dos dois blocos de
poder'. Mais tarde os colegas de Sauvy que trabalhavam no Institut National des
Études Démographiques relata Wolf-Philips publicaram um trabalho intitulado
Tiers Monde: sous developpement et developpement referindo-se ao termo numa
analogia ao sentido de Tiers État retirado do discurso de Abbé Sieyes de 1789
que perguntava: 'o que é o Terceiro Estado? Tudo. O que tem sido até agora na
ordem política? Nada. O que deseja ser? Alguma coisa'. Esse termo, no entanto
ficara praticamente sem uso até os anos 70 e, no início dessa década a obra The
New Language of Politics adicionava ao verbete Third Force a explicação de que
'... Deveria ser utilizado Third World seguindo a expressão francesa, mas Third
Force é empregado mais freqüentemente'". (SATO, Eiiti. O papel dos países
periféricos na ordem econômica internacional: percepções em mudança. São Paulo:
Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, 1991. p. 15-16).
27 Note-se que esta tendência não está circunscrita ao caso brasileiro. No
México, em especial no El Colégio de México, também se observa a mesma
tendência de agrupamento de estudos orientais com os estudos africanos.
28 Para uma análise mais aprofundada dos estudos africanos, veja-se: BELTRÁN.
Luís. O Africanismo Brasileiro: incluindo uma bibliografia africanista
brasileira (1940/1984). In: África, 8 bis, 1986. p.152.
29 Para mais informações ver o site do Ceao: <www.ceao.ufba.br>.
30 QUADROS, Jânio. A nova política externa brasileira. In: Relações
Internacionais. I, n.3, se/out 1978. p.76
31 RODRIGUES, José Honório. Brasil e África: outro horizonte. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1982. p. 403.
32 Entende-se que o Ceaa é um herdeiro do Ibeaa pelo fato do Professor Cândido
Mendes, proprietário da Sociedade Brasileira de Instrução/Universidade Cândido
Mendes ter sido um dos pesquisadores do Ibeaa e ter praticamente mantido os
mesmos objetivos institucionais. No momento da criação do Ibeaa, Cândido Mendes
era ainda o Chefe do Gabinete Técnico da Presidência da República. No primeiro
módulo do Seminário O Brasil e a Ásia no Século XXI: ao encontro de novos
horizontes, em junho de 2001, Cândido Mendes apontava "eu me sinto muito feliz
de estar aqui, em uma Casa que possui a mais antiga instituição de estudos
sobre a Ásia, criada aqui, em Brasília, durante o Governo Jânio Quadros, no
momento em que, pela primeira vez (eu chefiava a sua assessoria técnica), se
pensou a partir de uma perspectiva terceiro-mundista, aquela que se desenhou
mais tarde, nos governos que o sucederam, e que nos deu um eixo diferente,
saindo daquelas boas agulhas magnéticas para o mundo clássico de nossa
formação". ALMEIDA, Cândido Mendes. América Latina e Ásia: globalização,
identidades e diferenças. In: FUJITA, Edmundo (org). O Brasil e a Ásia no
Século XXI: ao encontro de novos horizontes. Brasília: IPRI, 2003. p.17
33 ZAMPARONI, Valdemir. Os estudos africanos no Brasil. Disponível em:
<www.historianet.com.br>. Acessado em 08 de junho de 2005.
34 Vale a pena ainda registrar a criação do Centro de Estudos Africanos da
Universidade de São Paulo, em 1963, sendo, no período, o único que assumia a
sua vocação africanista.
35 Em 1968 foi criado o Centro de Estudos Japoneses da Universidade de São
Paulo (CEJ-USP) com o objetivo de formar pesquisadores em áreas como Língua,
Literatura e Cultura Japonesa e, em 1996, implantou o Curso de Pós-Graduação em
Língua, Literatura e Cultura Japonesa.
36 Para informações sobre as atividades de ensino, pesquisa e extensão deste
departamento da Universidade de São Paulo, acessar o site: <www.fflch.usp.br/
dlo>.
37 Não se pode deixar de observar o papel solitário e fundamental desempenhado
pelo embaixador Amaury Porto de Oliveira na divulgação e no incentivo para o
estudo sobre a região da Ásia Pacífico. Quando ainda na ativa e ocupando a
embaixada brasileira em Cingapura, Amaury Porto iniciou um trabalho sistemático
de reflexão sobre o processo asiático de desenvolvimento, com ênfase na
perspectiva da Terceira Revolução Industrial. Suas reflexões foram publicadas
pelo Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do Ministério das
Relações Exteriores (IPRI-MRE) sob a denominação de "Cartas de Cingapura". Após
seu desligamento do ministério, Amaury Porto foi Pesquisador Associado do
Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo e, atualmente, é
membro do Grupo de Análises da Conjuntura Internacional da Universidade de São
Paulo (GACINT/USP).
38 SCHWARTZ, Gilson. Perspectivas das relações Brasil-Japão. In: NINOMIYA,
Masato (org.). O desenvolvimento das relações Brasil-Japão à luz da expansão
econômica da região Ásia-Pacífico. São Paulo: Kaleidos-Primus, 1996. p. 63.
39 JAPAN. Diplomatic bluebook 2004. Tokyo: Ministry of Foreign Affairs, 2004.
p. 88.
40 BRASIL. Simpósio Internacional de Pesquisas Econômicas Brasil-Japão. São
Paulo: Universidade de São Paulo, 2001. p. 11.
41 DÖPCKE, Wolfgang. Crises e reconstruções: estudos afro-brasileiros,
africanos e asiáticos. Brasília: Linha Editorial, 1998.
42 A pouca produção sobre Ásia pode ser percebida também pela reduzida
freqüência de Congressos. Após a realização de 5 encontros a cada 2 anos. O
período foi dilatado para um congresso a cada 8 anos.
43 Informações através do site: <www.unb.br/ceam/neasia>.
44 Informações através do site: <www.usp.br/relint>.
45 A tese de doutorado de Alexandre Uehara foi publicada sob o título: A
política externa do Japão no final do século XX: o que faltou? São Paulo:
Annablume, Fundação Japão, 2003. 268 p.
46 Informações através do site: <www.asiapacifico.com>. Veja-se também a
newsletter: Ásia em Foco. Disponível em: <www.asiaemfoco.com> Y
47 Informações disponíveis em: <www.ilea.ufrgs.br/nerint>.
48 Informações disponíveis em: <www.ahcaiafa.com.sites/abej/principal/
index.php>
49 Os dados do último levantamento (1998) estão disponíveis em FUNDAÇÃO JAPÃO.
Estudos Japoneses no Brasil. São Paulo: Fundação Japão, 1998. p. 132 (Pesquisa,
9). Os dados estão igualmente disponíveis em: <www.fjsp.org.br>. Y
50 A titulo de exemplo pode-se mencionar os artigos de Amaury Porto de
Oliveira, O salto qualitativo de uma economia continental e Dissonâncias e
convergências sino-japonesas no século XXI publicados respectivamente na
revista Política Externa. Vol 11 n.4, 2003. p.5-11. e vol. 12, n.4, 2004. p.7-
2 ou ainda o trabalho de Henrique Altemani de Oliveira, Brasil-China: trinta
anos de uma parceria estratégica publicado na Revista Brasileira de Política
Internacional, ano 47, n.1, 2004. p.7-30 e o texto de Gilmar Masiero,
Administração e crescimento econômico: a experiência das township and village
enterprises (TVEs) chinesas merecedor do Prêmio Belmiro Siqueira de
Administração em 2004 e publicado na Revista Brasileira de Administração ano
XV, n.48, mar 2005.p. 43-55. Y Y
51 Apesar da pouca especialização em assuntos coreanos nas instituições
brasileiras já é significativo o número de dissertações e teses desenvolvidas
em programas de pós-graduação. Entre os trabalhos mais citados, desenvolvidos a
partir de 1990, encontram-se: CHOI, K.J. Além do arco-íris: a imigração coreana
no Brasil. São Paulo: Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, 1991;
CANUTO, Otaviano. Processos de industrialização tardia: o paradigma da Coréia
do Sul. Capinas: Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas. 1991. Y
SANG, K. Socialização de jovens imigrantes coreanos. São Paulo: Dissertação de
Mestrado, Universidade de São Paulo, 1993; LEE, Sangki. Brasil e Coréia do Sul:
Aspectos político-econômicos do relacionamento bilateral. Brasília: Mestrado em
Relações Internacionais, Universidade de Brasília, 1995; CHOI, K.J. Aspectos
fonético-fonológicos do português falado por coreanos. São Paulo: Tese de
Doutorado, Universidade de São Paulo, 1996; WOO, Young-Sun. O relacionamento
Brasil-Coréia no período de 1988-2001. Brasília: Mestrado em Relações
Internacionais, Universidade de Brasília, 2002; MEE JOUNG, L. Evolução global
da indústria da TI (Tecnologia da Informação): uma abordagem comparativa do
Brasil e da Coréia do Sul. São Paulo: Tese de doutorado, Universidade de São
Paulo. 2004; DOO-BIN, I. A aquisição do tempo composto do português como LE e
L2 por Coreanos. Araraquara: Tese de Doutorado, Universidade Estadual Paulista,
2004. Y Y Y Y Y
52 Os textos dos seminários relativos ao Japão e à China ainda estão em fase de
edição, enquanto que os sobre a Coréia já foram publicados (GUIMARÃES, Samuel
Pinheiro (org.). Coréia: visões brasileiras. Brasília: IPRI, 2002), assim como
os do seminário com o Departamento da Ásia e Oceania (FUJITA, Edmundo (org). O
Brasil e a Ásia no Século XXI: ao encontro de novos horizontes. Brasília: IPRI,
2003). Y
53 No atual governo do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, o Brasil recebeu a
visita do primeiro ministro do Japão, dos presidentes da China e da Coréia do
Sul, tendo o presidente brasileiro visitado igualmente os três Estados.
54 Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na
solenidade de Abertura do Seminário Brasil China: "Um Salto Necessário" BNDES
Rio de Janeiro, 30 de abril de 2003. In: Palavra Internacional do Brasil. 2 de
maio de 2003. Disponível em: <http://www.relnet.com.br>.
55 A Fundação Ford teve um papel fundamental no financiamento das atividades do
Centro de Estudos Afro-Asiáticos da Universidade Cândido Mendes, financiou o
Projeto de Relações Brasil-Japão desenvolvido na Universidade de Brasília no
final dos anos 80 e início da década de noventa (dentro do projeto maior de
apoio ao desenvolvimento da área de Relações Internacionais no país).
Atualmente está fortemente incentivando estudos sobre o G3 (Índia, Brasil e
África do Sul). Cabe ainda mencionar a presença da Fundação Sasakawa desde
1993, na Universidade de São Paulo, financiando estudos de pós-graduação
voltados preferencialmente à área de Relações Internacionais.
56 Estas observações, em parte foram inspiradas pela análise de: PEREIRA, Ronan
Alves. Japanese studies in the west: Brazil today (Part 2). In: Tsushin Edwin
O. Reischauer Institute of Japanese Studies. vol., n.2, fall 1999. p. 2-4.