A função transcendental do Gemüt na Crítica da razão pura
Com referência aos princípios do conhecimento, a razão especulativa pura é uma
unidade que subsiste por si de um modo bem peculiar e na qual, como um corpo
organizado, cada membro existe em função de todos os demais e todos os demais
em função dele, e assim nenhum princípio pode ser tomado com segurança numa
relação sem ter sido ao mesmo tempo investigado na sua relação universal com
todo
o uso puro da razão.
(KANT, I. Crítica da razão pura, B XXIII)1
Pretendo mostrar como a partir do simples conceito de Gemüt e a partir de seus
troncos e ramos forma-se um todo articulado de conhecimentos chamado ciência,
vinculado à ideia de organismo, consequentemente à ideia de vida.
Vou expor-lhes de início o ponto de partida que leva a essa direção. Por
ocasião da tradução da edição B da Crítica da razão pura (KrV),2 Udo Moosburger
e eu adotamos para Gemüt o termo mente. Mais tarde, por ocasião da tradução da
Crítica da faculdade do juízo (KU),3 António Marques e eu concordamos em
traduzir Gemüt por ânimo. Vimos que Kant muitas vezes fornecia em latim e entre
parênteses, após o termo Gemüt, os termos animus e mens. Sabemos que esses
termos vêm carregados de uma história de sentidos, em virtude da qual a opção
por uma tradução ou outra deles envolvia algumas consequências. O próprio Kant,
diante da conotação metafísica do termo Seele/anima (alma), passou a preferir
em sua concepção crítica, em vez dele, o termo Gemüt/animus (ânimo). Em
decorrência de uma investigação da questão, publiquei no início dos anos 1990
um artigo com minha posição a respeito.4 Tratou-se de um texto mais abrangente
do que este, que pretendo direcionar para a Crítica da razão pura. Então,
movendo-me neste espaço da KrV, pretendi inicialmente limitar-me ao comentário
de duas passagens, na quais Kant explicitamente se manifesta a respeito. Na
primeira passagem, do final da Introdução à KrV, ele pensa a primeira Crítica à
maneira de um organismo, mais especifi camente de uma árvore, com troncos e
raiz. A partir da anunciada divisão do conhecimento nos elementos do
entendimento e da sensibilidade, ele escreve:
Como introdução ou advertência parece necessário dizer apenas que há
dois troncos do conhecimento humano, que talvez brotem de uma raiz
comum, mas desconhecida a nós, a saber, sensibilidade e entendimento:
pela primeira, objetos são-nos dados, mas pelo segundo eles são
pensados. (KrV B 29)
Comparemos com essa passagem a primeira frase da Introdução à Lógica
Transcendental:
Nosso conhecimento surge de duas fontes principais do ânimo [Gemüt],
cuja primeira é receber as representações (a receptividade das
impressões) e a segunda, a faculdade de conhecer um objeto por estas
representações (espontaneidade dos conceitos); pela primeira um
objeto nos é dado, pela segunda é pensado em relação com essas
representações (como simples determinação do ânimo). (KrV A 74)
Portanto, as citações referem-se ao conhecimento humano. Na primeira
determinação, esse conhecimento é constituído de dois troncos e de uma raiz
talvez comum, mas desconhecida. Mediante seu empreendimento de fundamentação
crítica de um conhecimento objetivo finito, limitado aos juízos de experiência,
Kant é muito cuidadoso em não ultrapassar esses limites criticamente
estabelecidos. Ele frustra as pretensões desmedidas da metafísica especulativa,
que anda com uma perna só: do tronco do entendimento, do pensar, dos conceitos,
desprovido da sensibilidade, das intuições, às quais teria de se aplicar. O
Idealismo alemão, partindo de Kant, transgrediu mais uma vez esses limites,
cujo equivalente racionalismo anterior Kant procurara criticar e corrigir. Os
idealistas tentaram apresentar sem véu as profundezas da alma, a cujo respeito
Kant nos oferece uma passagem semelhante às duas primeiras, na doutrina do
Esquematismo:
Este esquematismo de nosso entendimento é uma arte oculta nas
profundezas da alma humana, cujo verdadeiro manejo dificilmente
arrebataremos algum dia à natureza, de modo a poder apresentá-la sem
véu. (KrV B 180-1)
Na segunda citação Kant, em vez do tronco, fala de duas fontes do ânimo. O
ânimo seria esse elemento comum às duas fontes, da receptividade e
daespontaneidade. É claro, no texto não está dito, mas para elas se combinarem
entre si não apenas acidentalmente, receptividade e espontaneidade teriam de
ser destinadas uma à outra pelo ânimo, ou seja, ter-se-ia de admitir certa
unidade originante e enfim um todo, ao qual essas fontes do conhecimento se
destinam e com vistas ao qual se articulam.
E, para completar minhas primeiras observações, chamaria a atenção para a
referida comparação do esquematismo com uma arte oculta nas profundezas da alma
humana. Vejam que Kant não é dogmático; ele é crítico, não faz afirmações e
negações sem base. Na primeira citação ele falou em "talvez", aqui ele fala de
"dificilmente". Portanto, trata-se aí de um segredo guardado pela natureza no
fundo da alma, coberto por um véu. Os esquemas ligam categorias às condições
dos fenômenos, espaço e tempo, na produção do conhecimento. Essa parte vem
tratada no contexto de uma doutrina transcendental da capacidade de julgar,
entendida como faculdade de subsumir sob regras ou de ligar o geral e o
particular.
Outro lado desta minha introdução tem a ver com o importante livro de Bernd
Dörflinger, A vida da razão teórica.5 Na primeira parte do livro, o autor
aborda o conceito de vida como ideia-guia. Na segunda, trata das formas da
intuição, e, na terceira, do entendimento. Portanto, com uma estrutura bastante
simples, ele, por assim dizer, desdobra o que vimos ou sugerimos até aqui, com
a diferença de que, em vez do termo Gemüt, aparece no livro o termo Leben
(vida), à qual remetem agora os troncos da sensibilidade e do entendimento.
Logo, relacionam-se aí conhecimento e vida.
A relação entre conhecimento e vida justifica-se pelo que foi dito, porque na
KrV oculta-se a representação do conhecimento como dando-se dentro de um
organismo que envolve uma representação sistemática e articulada das partes em
um todo dotado de vida. O conhecimento constitui-se pela vida da razão teórica.
Ora, diz-nos a Metafísica dos costumes (abrev.: MS), vida é "a faculdade de um
ente de agir conformemente a suas representações".6 Logo, isto significa que a
vida teórica envolve uma representação prática de como se age no nível teórico,
na busca de seu fim próprio. A teoria da finalidade, já presente nas últimas
seções da KrV como ponto de convergência sistemático de tudo o que foi antes
considerado, é propriamente desenvolvida na terceira Crítica. Segundo esta, o
que caracteriza tanto a beleza quanto o organismo é uma finalidade dinâmica
subjacente. Ora, se na KrV tudo é convergência e síntese de faculdades de
intuições e conceitos, se a KrV é um sistema guiado por uma ideia de
finalidade, então o sistema teórico é dotado de vida. O todo é representado
mediante uma ideia da razão. Portanto a razão, como terceira faculdade além de
entendimento e sensibilidade, é aquela que se representa criticamente um todo
da razão pura, que enquanto um organismo é guiado por uma ideia de unidade que
anima ou vivifica o sistema. O grande artista da vida vai ser o juízo, como
faculdade intermediária entre as faculdades de conhecer superiores,
entendimento e razão, e que é também a faculdade mediadora do ânimo entre as
faculdades de conhecer e apetecer, entre teoria e prática.
Há duas funções da faculdade de julgar: uma consiste em determinar, subsumindo
o particular sob o universal dado; e a outra, em refletir, isto é, em comparar
representações empíricas em vista de um universal não dado. As reflexões
estéticas e teleológicas restringem-se ao exercício desse segundo tipo de
faculdade de julgar. Na faculdade de julgar reflexiva, o conceito representa um
todo vivido e não dado. Por isso Kant dirá que o belo se expressa através de
uma conformidade a fins sem fim; o fim ou o conceito não é dado, ele é pensado
como ideia inteligível. A Estética interessa-se pela forma, sem preocupação com
a determinação da matéria: por exemplo, quando vejo uma mulher andando, não
determino esteticamente o fim que ela busca, embora este fim exista, mas
aprecio apenas a forma de seu movimento, e esta apreciação gera prazer como
sentimento de vida.
Prazer e sentimento de vida equivalem-se. Vou citar a respeito a passagem em
que Kant diferencia entre, por um lado, a apreensão cognitiva de um edifício
regular e conforme a fins, e, por outro, a consciência dessa representação com
a sensação de complacência ou prazer. No caso do conhecimento, a representação
é referida ao objeto e tem de concordar com ele; e, no caso da experiência
estética, a representação é referida ao sujeito, concordando (ou não) com seu
sentimento de vida:
Aqui a representação é referida inteiramente ao sujeito e na verdade
ao seu sentimento e vida, sob o nome de sentimento de prazer ou
desprazer, o qual funda uma faculdade de distinção e ajuizamento
inteiramente peculiar, que em nada contribui para o conhecimento, mas
somente mantém a representação dada no sujeito em relação com a
inteira faculdade de representações, da qual o ânimo torna-se
consciente no sentimento de seu estado. (KU B 4-5, AA 204)
Sobre a identidade de vida e prazer vale lembrar a declaração enfática de Kant,
na Reflexão 4857, datada de 1776-78: "Unicamente prazer e desprazer constituem
o absoluto, porque eles são a própria vida". Mas existe uma segunda parte na
frase destacada antes, que contém a chave para a explicação desse sentimento. O
sentimento de vida é um sentimento concernente ao todo, ao todo do mundo em que
vivemos, é um sentir-se bem no todo do mundo ou em relação a um todo humano. O
texto remete ao Gemüt como a inteira faculdade de representações, e diz que o
ânimo, que sente a beleza ou o prazer no sentimento de seu estado, tem um
sentimento em relação ao todo da faculdade de representações. A presença desse
todo é denunciada no prefixo Ge, do Gemüt. Mut, além de seu sentido usual de
coragem, significa aqui faculdade. Gemüt significa então o todo das faculdades
representativas.7 Então o importante nisso é que o sentimento estético e o
juízo estético remetem a um todo vivido. O juízo sobre o belo e o feio remete a
um todo, como se o mundo inteiro se impregnasse da minha apreciação da beleza
de um objeto singular, efêmero, como se para poder ver beleza numa flor esse
sentimento extravasasse como um sentimento em relação ao todo ao qual o
sentimento da flor se liga, ou seja, a uma presumível concordância universal de
todos com ele e com o universal sentimento de vida.
Porém, o que está por trás da beleza e do organismo é, nessa virtualidade
mesma, uma ideia. O conceito e a determinação que faltam nessa vivência
subjetiva e intersubjetiva são preenchidos pela vivência de uma ideia, como uma
possibilidade de vida em relação ao todo da vida e da humanidade. O gênio, que
é o artista por excelência, seja ele pintor, poeta, músico, escultor, comunica
na forma de sua obra de arte uma ideia, ou seja, comunica algo inacessível à
determinação intelectual e que se expressa numa linguagem simbólica ou
analógica.
Para encerrar estas primeiras considerações, cito a propósito uma passagem de
Otfried Höffe, que confirma minha interpretação:
Enquanto os fenômenos deixam constatar-se empiricamente (eles formam
o particular dado), a suposição da totalidade conforme a fins não
surge da experiência. A totalidade conforme a fins é o universal não
dado, que a faculdade de julgar descobre por espontaneidade própria.
Assim em juízos de conformidade a fins, o dar-se sensível, a natureza
e o ato de pôr espontâneo, a liberdade, formam uma unidade
originária.(HÖFFE, O. Immanuel Kant. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
p. 295)
Quero com isso dizer que também o sistema teórico forma um todo articulado como
um organismo. Logo, ele é dirigido por uma ideia, que obviamente não é
tematizada, porque na Analítica da KrV é dada prioridade à compreensão
minuciosa das partes. Contudo, se entendimento e sensibilidade estão
reciprocamente destinados na formação do conhecimento, se inclusive há um "eu
penso" que acompanha todas as representações, se a própria definição de juízo
em sentido teórico remete à apercepção originária, se é verdade que as
representações formam um todo no Ge-müt, de tal modo que revelem um parentesco,
isto é, uma afinidade, então a KrV pode ser entendida transcendentalmente na
perspectiva do Gemüt como Ge-müt, ou seja, como um todo de faculdades em
relação recíproca, sob o primado da razão e sob a mediação do juízo. Então o
Gemüt representa as três Críticas de Kant: ele é exatamente o conjunto das
faculdades que se apresentam nas respectivas três Críticas.
Vejamos esta questão do parentesco ou da afinidade entre as faculdades. A
Antropologia em sentido pragmático assim define a Verwandschaft (afinidade):
Entendo por Verwandschaft (parentesco, afinidade) a reunião a partir
da proveniência do múltiplo de um fundamento [Ich verstehe unter der
Verwandschaft die Vereinigung aus der Abstammund des Mannigfaltigen
von einem Grunde].8
Assim o múltiplo revela uma afinidade, se é gerado desde um mesmo fundamento.9
E assim o conhecimento é o terceiro que resulta da reunião de duas
desigualdades, entendimento e sensibilidade, como se uma nascesse da relação
com a outra, mas em verdade como se ambas se originassem de uma raiz comum. O
que para nós é inteiramente incompreensível, ou seja, que duas matérias
desiguais pudessem nascer de uma mesma raiz.10 Assim, no caso do conhecimento
ou em outros casos, é possível que a articulação tenha em vista que por ela
seja propiciado o desenvolvimento de cada parte, embora fazendo supor uma raiz,
ou um germe, ou uma razão seminal comum.
A KrV explica a Verwandschaft como situada entre a multiplicidade e a unidade,
as quais são princípios da unidade sistemática, que representadas em seu máximo
desenvolvimento chamam-se ideias. A razão procura a unidade da experiência
segundo ideias. O múltiplo revela uma afinidade, sob o princípio da unidade,
das coisas, das suas propriedades e forças. Kant aplica esse princípio para
explicar as diferentes trajetórias dos planetas, uns em círculo, outros em
elipse, outros se afastando de Sol a Sol, e que são entendidos como partes de
um sistema cósmico ilimitado, mantido sob uma e mesma fonte motora (cf. KrV B
690 et seq.).
Trata-se de princípios heurísticos. A ideia de um maximum é um analogon de um
esquema para a representação da unidade sistemática universal dos conceitos do
entendimento (mediante o abandono de condições restritivas, de uma
multiplicidade indeterminada). Essa ideia serve de regra ou princípio de
unidade sistemática de todo o uso do entendimento, para que o seu uso empírico
e determinado na experiência concorde universalmente consigo mesmo. Trata-se de
princípios subjetivos (máximas da razão) que não determinam objetos, mas
explicitam interesses da razão.
Gostaria de chamar a atenção sobre como a KU apresenta em termos de Gemüt a
articulação entre dois domínios da faculdade de conhecimento, relativos aos
conceitos de natureza e de liberdade. O entendimento é a faculdade de legislar
teoricamente mediante conceitos de natureza. A razão é a faculdade de legislar
praticamente mediante conceitos de liberdade. Ambas as faculdades legislam no
mesmo território da experiência, sem que uma invada a seara da outra (cf. KU B
XVIII, AA 175). A KrV mostra que as duas legislações podem conviver sem
contradição no mesmo sujeito. E, para que o domínio do conceito de liberdade
possa ter alguma influência sobre o domínio do conceito de natureza, tem de
constituir-se alguma afinidade ou mediação entre ambos, ou seja:
A natureza tem de ser pensada de modo que a conformidade a leis da
sua forma concorde pelo menos com a possibilidade dos fins que nela
atuem segundo leis da liberdade. (KU B XX, AA 176)
A terceira Crítica encontra entre as faculdades superiores de conhecimento, que
compreendem entendimento, juízo e razão, uma espécie de intermediação exercida
pela faculdade do juízo, que comprova com isso um parentesco ou afinidade entre
elas. Mas em seguida Kant acrescenta que uma segunda espécie de intermediação é
exercida pela faculdade do juízo, agora entre as faculdades de representação,
as quais reúnem as faculdades de conhecimento, de apetição e sentimento de
prazer e desprazer. O conjunto dessas últimas oferece uma importância maior que
aquelas, porque entre as últimas o ânimo humano na verdade vincula todas as
faculdades humanas entre si, e não apenas internamente a faculdade de
conhecimento. Kant vê essa vinculação ocorrendo graças ao princípio de
conformidade a fins. Trata-se de um conceito só para refletir sobre o conceito
de natureza e poder pensar as leis empíricas particulares segundo uma unidade
que torna possível um sistema. Essa conformidade a fins é atribuída pela
faculdade de julgar à natureza, como conformidade a fins transcendental, sem
cuja pressuposição não teríamos ordem no fio condutor para uma investigação e
tampouco experiência de leis empíricas em sua multiplicidade. Sem essa
colaboração do juízo reflexivo, o entendimento não poderia constituir uma
experiência articulada. O entendimento pensa um princípio como o da "lei de
especificação da natureza", para progredir na experiência e adquirir
conhecimento. A parte estética da KU é a essencial (B L, AA 193), porque é nela
que se encontra o princípio a priori para refletir sobre a natureza. A
percepção refletida de um prazer encontra seu fundamento na condição ainda que
subjetiva dos juízos reflexivos "na concordância conforme a fins de um
objeto... com a relação das faculdades de conhecimento entre si" (KU B XLVII,
AA 191). Mais adiante é dito que o fundamento desse prazer encontra-se no
acordo espontâneo das faculdades de conhecimento em jogo entre si.
Para retornar à KrV, verificamos que as faculdades geradoras do conhecimento,
entendimento e sensibilidade, estão espontaneamente destinadas umas às outras,
fundadas numa raiz comum de origem desconhecida. Sua intermediação pelo juízo
faz pensá-las tanto como articulação determinante entre o geral e o particular
mediante esquemas, quanto como faculdade de julgar reflexiva, que mediante o
prazer na conformidade a fins as vincula com o todo do Gemüt, do mundo e da
vida, que é base, como vimos, do juízo de reflexão. A representação articulada
das partes num todo dá-se mediante a representação de um fim como ideia, para a
qual converge dinamicamente a KrV. Vejamos essa seção da Introdução à KrV, que
trata da ideia e divisão da KrV, e que culmina na representação orgânica da
articulação de entendimento e sensibilidade com uma presumível raiz comum.
Kant afirma aí que o mínimo que podemos fazer é "encarar uma ciência da simples
avaliação da razão pura, das suas fontes e limites, com a propedêutica da razão
pura" (KrV B 25). Como tal ela não é idêntica a uma filosofia transcendental,
que conteria todo o conhecimento analítico e sintético, porque a KrV limita-se
a "compreender os princípios da síntese a priori em toda a sua extensão" e
valor como uma crítica transcendental da faculdade da razão. A KrV somente
projeta arquitetonicamente o plano completo da ideia da filosofia
transcendental, e não é um sistema completo. Essa obra, contudo, promove uma
enumeração completa dos conceitos primitivos do conhecimento puro [das
categorias], sem uma análise completa dos mesmos, até porque o fim da inteira
crítica é a síntese (cf. KrV B 28). A KrV é a ideia completa de uma filosofia
transcendental, mas com o propósito apenas da avaliação completa do
conhecimento sintético a priori. Isso é dito depois de ela reduzir-se a
observar que a divisão dessa ciência desde o ponto de vista de um sistema geral
deve conter uma doutrina dos elementos e uma doutrina do método, com suas
respectivas subdivisões, sem expor aí suas razões. E é aí que, como única
antecipação, Kant faz a observação, que tem de ser, portanto, para ele a mais
importante: "Como introdução ou advertência parece necessário dizer apenas que
há dois troncos do conhecimento humano, que talvez brotem de uma raiz comum,
mas desconhecida a nós, a saber, sensibilidade e entendimento..." (KrV B 29).
Entendo que essa raiz comum deve ser buscada no próprio Gemüt, além do qual,
diz-nos a KU, não nos é permitido ir. O Gemüt oferece-nos a razão para pensá-lo
transcendentalmente como a condição de possibilidade última do conhecimento
humano, pois: primeiro, já terminologicamente oGemütexpressa um todo unitário
de faculdades cognitivas e representativas; segundo, o juízo apresenta-se no
nível das faculdades de conhecimento superiores como o termo médio da ligação;
terceiro, também no nível da relação entre entendimento e sensibilidade ele
possibilita mediante a teoria do esquematismo a aplicação do geral ao
particular ou dos princípios à experiência; quarto, igualmente no nível das
faculdades representativas gerais o juízo de reflexão exerce uma função ainda
mais importante, pondo em relação, mediante o sentimento deprazer/desprazer, as
faculdades cognitivas e a faculdade apetitiva. É mediante o conceito de
conformidade a fins que o juízo dá unidade sistemática às leis empíricas
particulares. Quinto, no § 19 da KrV o juízo é definido do seguinte modo: "Um
juízo não é senão o modo de levar conhecimentos dados à unidade objetiva da
apercepção" (KrV B 141-2). Esta remissão de um juízo à autoconsciência como
condição de sua objetividade leva à compreensão dos juízos de experiência como
sistema do conhecimento objetivo, do qual o juízo acima definido é o mediador.
Com isso não quero, na verdade, dizer que na intuição empírica tais
sínteses das intuições pertencem umas às outras, mas que na síntese
das intuições pertencem umas às outras em virtude da unidade
necessária da apercepção, isto é, segundo princípios da determinação
objetiva de todas as representações, na medida em que disso possa
resultar um conhecimento, princípios derivados todos da unidade
transcendental da apercepção. (KrV B 142)
Sexto, ora, se existe um sistema do conhecimento objetivo mediante a reflexão
do juízo determinante, que remete à autoconsciência como fonte da unidade
necessária da experiência, então, tem-se que pensar também o sistema do
conhecimento, como todo sistema, sobre a base de uma ideia.
Para tornar isto mais claro, vejamos brevemente o significado da noção kantiana
de sistema. O conhecimento comum, para transformar-se em ciência, tem de
abandonar o mero agregado de conhecimentos e passar a uma unidade sistemática.
Kant define o sistema como unificação de vários conhecimentos sob uma ideia:
"Por sistema compreendo a unidade dos múltiplos conhecimentos sob uma ideia"
(KrV B 860). A ideia define-se como o conceito racional da forma de um todo, em
que a posição das partes em relação recíproca é determinada a priori, contendo
o fim e a forma do todo. É, pois, um todo articulado, crescendo desde dentro e
não por adição de membros.
Que a razão e todos os conhecimentos articulados entre si existem sob a forma
de um organismo vivo, vêmo-lo no ulterior desenvolvimento destas considerações.
O esquema decorrente de uma ideia, isto é, em parte racional e em parte
sensível, funda uma unidade arquitetônica devida à afinidade (Verwandschaft)
das partes e à sua derivação de um único fi m interno. Vejam que o fim é
interno, logo, o organismo sob o princípio da razão desenvolve-se, dentro do
próprio organismo, autonomamente. A ideia de uma ciência encontra-se na razão
sob a forma de um germe, em que todas as suas partes estão ocultas (cf. KrV B
862). Por isso uma ciência não deve ser explicada e determinada pela descrição
de seu autor, unindo naturalmente as partes, mas segundo a ideia fundada na
própria razão. Pois as ciências são concebidas a partir de um certo interesse
universal. O próprio autor e os pósteros não o identificam logo. Isso
constitui, segundo Kant, um infortúnio, ou seja, que só depois de muito tempo
apenas vislumbramos a ideia com uma luz um pouco mais clara. Mesmo que seja
assim, que a ciência pareça nascer sob a forma de uma generatio aequivoca,
ainda assim todos os conceitos "possuíam, como um germe originário, o seu
esquema na razão, a qual simplesmente se desenvolve" (KrV 863), portanto, a
razão é um organismo! Cada sistema (digamos, o sistema teórico, o sistema
prático, o sistema estético) está articulado segundo uma ideia. Mas o
conhecimento humano parece ser o grande sistema em que todos os sistemas se
articulam entre si:
Consequentemente, não só cada sistema está por si articulado segundo
uma ideia, mas também todos eles estão por sua vez unidos
finalisticamente entre si, como membros de um todo, num sistema do
conhecimento humano. (KrV B 863)
Não nos iludamos! Se o conhecimento humano é o sistema que articula
finalisticamente todos os sistemas entre si, isso em verdade ocorre pela ideia
de um fim universal da razão, que já em cada ciência envolvia um interesse
humano universal. Portanto, Kant estabelecerá um fim prático do conhecimento,
fundado em suas ideias mestras, as de vida e de liberdade, e entende esta como
vida originária. Ele volta aqui, no terceiro capítulo da Doutrina do Método, à
ideia de raiz comum. E agora sabemos o que Kant tinha em mente ao falar do
conhecimento como um organismo ou como uma árvore. Ele diz agora: "Limitar-nos-
emos a começar partindo do ponto em que a raiz comum de toda a nossa capacidade
de conhecimento se bifurca em dois troncos, dos quais um é a razão" (KrV B
863). Kant explica que entende aí por razão a inteira faculdade superior de
conhecimento, portanto, incluindo entendimento e juízo, e contrapondo-a ao
empírico.
A Filosofia, como filosofar, como "simples ideia de uma ciência possível que
não é dada em parte alguma" (KrV B 866), diferentemente da unidade sistemática
ao modo da perfeição lógica do conhecimento, busca no arquétipo do filósofo uma
"ciência como referência de todo o conhecimento aos fins essenciais da razão
humana" (KrV B 867). A Filosofia prescreve, segundo seu conceito cósmico, uma
unidade sistemática a partir do ponto de vista dos fins. Nem todos os fins
essenciais são um fim supremo, que é único. Este fim terminal (Endzweck) é a
inteira destinação do homem, cuja filosofia chama-se Moral. Pelo § 84 da KU
sabemos que o Endzweck difere de letzter Zweck (fim último), por ser aquele um
fim para si mesmo, o homem como ser moral livre.
Filósofo então em sentido estrito é, desde os Antigos, o filósofo moral. Mas já
na KrV Kant vai dizer que os dois objetos da legislação da razão humana,
natureza e liberdade, tratados em dois sistemas separados, terminam num só
sistema filosófico. Crítica e metafísica podem entender-se universalmente como
conhecimento fi losófico estrito. E a doutrina moral a única conformidade a
ações derivada de modo totalmente a priori de princípios é também um tronco
especial do conhecimento humano. Com isso superamos aqui aquele modo binário de
dois troncos, entendimento e sensibilidade, e acrescentamos legitimamente o
tronco da razão a um conceito mais elaborado de conhecimento, perfazendo um
sistema teórico fundado praticamente desde dentro. Não obstante a divisão do
sistema da metafísica em quatro partes (ver KrV B 874-5), filosofia em sentido
estrito são a Metafísica da natureza, a Metafísica dos costumes e,
principalmente, a Crítica da razão (cf. B 878).
À guisa de conclusão
Para que nos encaminhemos a uma conclusão, gostaria de considerar três
aspectos:
1. Da relação entre conhecimento e vida na KrV, a partir da perspectiva de
Dörflinger.
2. Da redução das três perguntas fundamentais a uma quarta, na Lógica.
3. Da aplicação de uma frase de Goethe em Fausto I.
Primeiro, segundo Dörflinger, a razão teórica é vista por Kant no Prefácio à 2ª
ed. da KrV como uma unidade autossubsistente, em que tudo é membro e cada um
inter-relacionado aos demais. Esta é a passagem da KrV que inspira o livro de
Dörflinger, Das Leben theoretischer Vernunft, também citada acima como
epígrafe:
Com referência aos princípios do conhecimento, a razão especulativa
pura é uma unidade que subsiste por si de um modo bem peculiar e na
qual, como um corpo organizado, cada membro existe em função de todos
os demais e todos os demais em função dele, e assim nenhum princípio
pode ser tomado com segurança numa relação sem ter sido ao mesmo
tempo investigado na sua relação universal com todo o uso puro da
razão. (KrV B XXXIII)
Como o conceito de organismo, que guia essa investigação, funda-se no conceito
de vida, pode-se antever a partir daí a relação da primeira Crítica com a
terceira Crítica. De acordo com esta concepção, a razão teórica em sua
universalidade assenta num Selbst (si mesmo) idêntico, enquanto unidade com
1uma pluralidade de princípios de conhecimento como membros. O si mesmo
(Selbst) é visível como uma espécie de ponto central, em relação ao qual
osmembros obtêm sua interconexão num todo que os integra (DÖRFLINGER, p. 7). E,
por último, a razão teórica, mediante o conceito de fim inerente a um ser vivo,
revela a sua praticidade. A ideia de sistema deixa de ser meramente reguladora,
para assumir uma função fundante com vista aos princípios constitutivos do
conhecimento. Esses princípios não são encontrados, mas são reflexivamente
desenvolvidos conformemente à forma de um todo ativo como ideia. Essencial a um
organismo vivo é que ele se desenvolva a partir de dentro, não por acréscimo de
novos membros, mas cada um buscando o seu fim articuladamente. O organismo é um
analogon da razão, em que esta não é entendida biologicamente, e sim a Biologia
é pensada por analogia com aracionalidade (cf. DÖRFLINGER, p. 31). Enfim, sobre
a complementaridade dos dois troncos do conhecimento cito ainda uma vez
Dörflinger:
A espontaneidade já não deve restringir-se ao sujeito intelectual, e
caracteriza de modo igual o sujeito que, por suas formas de intuição,
dispõe-se para um intuir. Com essa comunidade <Gemeinsamkeit>
cumpriu-se uma exigência essencial da pretensão sistêmica da KrV
formulada a partir do interesse arquitetônico da razão, segundo cuja
pretensão não se pode, em relação aos princípios do conhecimento,
ficar parado nos troncos separados de espontaneidade e receptividade.
(DÖRFLINGER, p. 98)
Trata-se aí, segundo Dörflinger, de buscar uma "espontaneidade primordial como
fundamento da unidade de uma interconexão sistemática de ações cognitivas".
Quero acrescentar, em segundo lugar, que, se pensarmos que o ânimo (Gemüt) não
apenas funda a possibilidade transcendental das três perguntas básicas da KrV
que posso conhecer, que devo fazer, que me é lícito esperar (KrV B 833) mas
que, na medida em que a Lógica acrescenta às três perguntas uma quarta que é
o homem , poderíamos dizer que o Gemüt nas sua diversas funções
representativas, tratadas nas três Críticas em que aquelas perguntas são
respondidas, corresponde ao homem, que se coloca a questão última a si mesmo, e
assim constitui segundo Tugendhat a base moderna de uma Antropologia filosófica
como filosofia primeira.11 Portanto, na medida em que o Gemüt é admitido por
Kant como o princípio da vida, nesta medida a sua filosofia realiza-se nesse
desenvolvimento interno e autoconsciente do Gemüt como uma teoria da vida.
Em terceiro lugar, Kant admitiu que o conhecimento, por ocasião de seu
nascimento, relaciona-se com o prazer, que segundo ele corresponde ao
sentimento de vida, perdendo-se posteriormente de vista essa relação:
Na verdade, nós já não sentimos mais qualquer prazer notável ao
apreendermos a natureza e a sua unidade da divisão em gêneros e
espécies, mediante o que, apenas são possíveis conceitos empíricos,
pelos quais a conhecemos segundo as suas leis particulares. Mas
certamente esse prazer já existiu noutros tempos, e somente porque a
experiência mais comum não seria possível sem ele, foi-se
gradualmente misturando com o mero conhecimento sem se tornar mais
especialmente notado. (KU B XL, AA 187)
O que quero, pois, propor no conjunto desta apresentação é que se vá ao
encontro dessa advertência de Kant, da conexão entre conhecimento e prazer, e
assim se dê um novo sentido à frase dicotômica de Goethe:
Cinzenta, caro amigo, é toda teoria
E verde a árvore dourada da vida.
-Grau, teurer Freund, ist alle Theorie
Und grün des Lebens goldner Baum.12
De acordo com o que vimos até aqui, eu diria a propósito dessa frase do grande
leitor de Kant que foi Goethe: a teoria é cinzenta, se ela perdeu a relação com
a vida. Nesta medida ela se banaliza e burocratiza, e deixa de ser criativa. Na
medida em que, contrariamente, quiser manter a sua criatividade, que envolve
uma relação da teoria com o prazer de conhecer, nessa medida poderemos dizer
que a teoria deixa de ser cinzenta. E o conhecimento, pensado na Crítica da
razão pura em analogia com uma árvore, passará então a reconhecer-se como a
árvore dourada do conhecimento.
Se, pois, o sentimento de vida "mantém a representação dada no sujeito em
relação com a inteira faculdade de representações, da qual o ânimo tornase
consciente no sentimento de seu estado" (KU B 5, AA 204), então também acredito
que reuni aqui os elementos principais para, a partir do conceito de Gemüt,
provar a possibilidade do conhecimento em articulação orgânica com o conceito
de vida, já internamente à Crítica da razão pura.
* As abreviaturas usadas no presente texto seguem a respectiva forma de
unificação recomendada pela Kant-Studien Redaktion, a partir da Edição da
Academia (Akademie-Ausgabe = AA).
1 Veja-se como esse pensamento, do Prefácio à segunda edição da Crítica da
razão pura (1787, abrev.: KrV)*, foi antecipado de forma quase literal nos
Prolegômenos a toda metafísica futura (1783, abrev.: Prol): "Pois a razão pura
é uma esfera tão isolada, tão completamente conectada em si mesma, que não é
possível tocar em uma de suas partes sem que se atinjam todas as outras, e nada
se pode fazer sem ter determinado a cada parte o seu lugar e sua influência
sobre as demais, porque nada a não ser ela poderia corrigir interiormente nosso
juízo; a validade e utilidade de cada parte dependem da relação que existe
entre ela e as outras na própria razão, e, como acontece na estrutura de um
corpo organizado, a finalidade de cada um dos membros só pode ser deduzida do
conceito completo do todo. Partindo daí, pode-se afirmar de tal Crítica que ela
nunca será digna de confiança, se não estiver integralmente acabada até os
mínimos elementos da razão pura, e que, na esfera deste poder, ou se deve
determinar e regular tudo ou então nada" (KANT, I. Prolegômenos. São Paulo:
Abril, 1980. p. 12).
2 KANT, I. Crítica da razão pura. Tradução de Valerio Rohden e Udo Baldur
Moosburger. São Paulo: Abril, 1980. (Coleção Os Pensadores).
3 KANT, I. Crítica da faculdade do juízo. Tradução de Valerio Rohden e António
Marques. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993. (1790, 2. ed. 1793,
abrev.: KU). A mesma tradução, com pequena adequação
idiomática, foi também editada em Lisboa (Imprensa Nacional/Casa da Moeda,
1992).
4 Cf. ROHDEN, V. El término Gemüt en la Crítica del Juicio. In: SOBREVILLA, D.
Filosofia, política y estética en la Crítica del Juicio de Kant. Lima: Goethe-
Institut, 1991. p. 49-64. Cf. tb. a edição brasileira, com
algumas modificações: O sentido do termo Gemüt em Kant. Analytica, Rio de
Janeiro, v. 1, n. 1, p. 61-76, 1993, bem como a nota 20 na trad. bras. da KU,
p. 48.
5 DÖRFLINGER, B. Das Leben theoretischer Vernunft. Berlin: New York: Walter de
Gruyter, 2000.
6 KANT, I. Die Metaphysik der Sitten. In: WEISCHEDEL, Wilhelm (Ed.). Kantwerke.
Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1968. v. 7, AB 1, AA 203.
7 Há vários termos em que essa relação com o todo mediante o prefixo Ge pode
ser vista, por exemplo, em Berg = monte e Gebirge = cordilheira, Stern =
estrela e Gestirn = constelação.
8 KANT, I. Anthropologie in pragmatischer Hinsicht (abrev.: Anth), AA VII, p.
176.
9 Por exemplo, Kant propunha para a conversação à mesa em torno de um tema a
observância do parentesco ou da afinidade entre o que é falado, até que se
esgotasse o tema ou se anunciasse uma pausa a seu respeito. O termo latino
correspondente affinitas teve amplo uso na Química do século 18, onde duas
matérias diferentes se atraem ou se repelem, produzindo um terceiro ou também
uma eventual exclusão de um terceiro, etc. Cf. ROHDEN, V. A dupla analogia, de
Kant e Goethe, com um experimento químico. In: SILVA, João Carlos Pires da.
Plenárias da ANPOF 2004/2006. Salvador: Quarteto/ANPOF, 2006. p. 225-238.
10 Kant defende uma teoria da atração diferente do provérbio latino: Similis
simili gaudetur, por exemplo, de que, no caso de enamorados ou casais, o
assemelhamento é apenas uma consequência, e não a causa da união. A natureza
age aí instintivamente, no sentido de que sujeitos diferentes se atraiam para
que floresça a multiplicidade.
11 Cf. TUGENDHAT, E. Antropologia filosófica como filosofia primeira. In:
POMMER, A.; FRAGA, P. D.; SCHNEIDER, P. R. Filosofia crítica. Festschrift pelos
50 anos do Curso de Filosofia da Unijuí. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 2007. p. 183-199.
12 GOETHE, W. Urfaust. In: Goethes Faust. Der Tragödie erster und zweiter Teil,
Urfaust. Kommentiert von Erich Trunz. Hamburg: Christian Wegner, 1963. p. 378.
13 Cf. KU B LVIII, AA 198. Cf. tb. a nota 20 à trad. bras. p. 48.