Heidegger: de Agostinho a Aristóteles
1 Como acontece com poucos outros nomes - talvez somente o de Nietzsche e o de
Hölderlin - aos olhos de Heidegger o nome de Agostinho não indica somente um
autor, mesmo se essencial, na história do pensamento, mas coincide propriamente
com a experiência de vida de quem possuía este nome: ou melhor, de quem o
possui. É por isso que a relação de Heidegger com Agostinho merece ser contada,
pois constitui um momento privilegiado na história do questionamento de
Heidegger, um questionamento que, por sua vez, diz respeito ao acontecer da
vida, ou seja, à história essencial do ser. Ao mesmo tempo - esta é a tese que
gostaria de propor - para Heidegger o encontro com Agostinho pode se realizar
somente na medida em que este encontro se traduz e ao mesmo tempo se baseia na
posição aristotélica sobre o ser da vida: e isto não porque após a sugestão de
Agostinho apareça ou retorne uma outra perspectiva e um outro contexto
problemático, mas, ao contrário, porque somente Aristóteles pode e deve salvar,
paradoxalmente, a descoberta que, depois dele, Agostinho foi o primeiro a
fazer. Nesta inversão cronológica fica claro para Heidegger algo como um
destino. Cabe-nos a tarefa de retomar o paradoxo e verificar a opção que está
atrás desta suposta necessidade - uma opção escondida, mas, no entanto,
evidente em sua orientação.
2 O que se revela, na leitura que Heidegger oferece de Agostinho, é uma
verdadeira descoberta de significados originários do ser da vida, ou melhor, da
vida como lugar em que ocorrem os mais genuínos significados do ser. Esta
pesquisa ontológica da existência se evidencia através de três fios condutores,
que constituirão a textura da interpretação:
a) o ser como ter, indicando a "facticidade" da vida;
b) o ser como acontecer, o que constitui o "ser histórico" da vida;
c) o ser como procurar, que caracteriza a "preocupação" da vida.
O existir - digo aqui de forma preliminar, mesmo considerando o trabalho
hermenêutico realizado por Heidegger nos seus primeiros cursos de Freiburg, em
que procura circundar e quase colher o fenômeno em questão1 - não pode ser
objetivado em nenhuma determinação "efetiva", em nenhum dado "real". A vida, a
existência "acontece" sem nunca "se realizar", pois toda realização conduziria
à perda do próprio ser em um dado ôntico, e o viver significaria simplesmente
ser o que se é - e somente isso. Para Heidegger, ao contrário, é a diferença ou
transcendência entre o que se é e o próprio ser que conota o ente existente.
Nisto reside, com efeito, o sentido de sua "historicidade" originária (ou
melhor, de seu ser-histórico), que não deve ser entendida nos termos de um
acontecimento, mas no sentido de uma realização originária. A vida não chega à
sua atuação por algo que acontece, mas se atua simplesmente existindo (ou, como
diz Heidegger, o atuar-se é o mesmo "como" do existir). Neste movimento do
"ser-aí" que se "possui" enquanto se atribui a si mesmo reside a sua
"facticidade" radical. E na base desta facticidade, mesmo se parece paradoxal,
a vida não é um dado, muito menos é dada por..., mas é o movimento do dar-se a
si mesma. Nesta autodoação se verifica uma espécie de movimento endógeno da
vida, que não pareceria requerer nenhum outro fator - nenhum fator "outro" -
que a realize, resolvendo assim toda proveniência ontológica, toda dependência
do ser, em uma finitude ab-soluta, como constituição fundamental do existir.2
Mas isto constituirá o viés especificamente "aristotélico" (no sentido
específico que Heidegger dá a este termo) da descoberta de Agostinho.
Quando em 1927 Heidegger introduz - no início de Ser e tempo3 - a tarefa de uma
interpretação do ser-aí em sua modalidade mais imediata e mais próxima, ou
seja, a "quotidianidade média", cita diretamente o "trabalho", quer dizer, a
"elaboração" existencial (mais do que teórica ou prática) que a vida faz de si
mesma exatamente com as palavras de Agostinho: "Ego certe laboro hic et laboro
in meipso: factus sum mihi terra difficultatis et sudoris nimii" ("eu trabalho
certamente aqui e trabalho dentro de mim mesmo: tornei-me, para mim mesmo,
terra de dificuldade e de intenso suor").4 Trata-se de um contexto que torna,
por assim dizer, mais transparente a importância de Agostinho em relação à
pesquisa de Heidegger. Como sabemos, trata-se, no interior da analítica
ontológico-existencial, de propor novamente a questão do ser, partindo da
consideração de que procurar (ou perguntar), antes ainda de ser uma tematização
teórica, ou uma disposição prática do ser-aí, é o seu modo mais próprio de ser
como "o que procura". E não porque este procure algo que não possua, mas porque
existir quer dizer o ser em questão de si mesmo e o ser em questão do ser ele
mesmo (o ser-aí, lembremos, é o ente em que está em jogo o próprio ser).5 O
ser-aí "é" uma relação estrutural com o próprio ser nos termos de uma
compreensão e interpretação do significado - no mais das vezes, implícito, mas,
de forma escondida, básico - do próprio ser. Todos os seus modos de ser podem
ser conduzidos a este "procurar":
[...] dirigir o olhar, compreender, apreender conceitualmente,
escolher, aceder a, são comportamentos constitutivos do procurar, e
por isso igualmente modos de ser de um determinado ente, daquele ente
que nós mesmos, os que procuram, sempre somos.
Mas, por sua vez, e de modo também originário, este procurar é orientado de
modo essencial em direção ao que é procurado e a partir dele:
A posição deste problema [o problema do ser], enquanto modo de ser de
um ente, é ela mesma determinada, essencialmente, por aquilo a
propósito do qual nele se procura: pelo ser. Este ente, que nós
mesmos somos sempre e que, além do mais, possui a possibilidade de
ser que consiste em colocar o problema, nós o designamos com o termo
ser-aí.6
Se o ser deve, portanto, ser procurado, é porque nós somos entes que procuram;
mas nós possuímos o modo de ser do procurar porque o procurado nos pertence de
forma constitutiva. Correndo conscientemente o risco de cair em um círculo
vicioso - procurar o sentido do ser pressupondo o ser do ser-aí, ou seja, o que
se está procurando -, Heidegger inverte a dificuldade e individua, na
referência de quem procura (o ser-aí) ao procurado (o ser) a chave para a
manifestação do sentido do ser.
É exatamente neste ponto, a meu ver, que se introduz o problema agostiniano em
Heidegger, segundo uma dupla consideração: como o momento de maior proximidade
e, ao mesmo tempo, já como o momento da separação decisiva. É profundamente
agostiniano o tema do procurar compreendido como a estrutura originária da
vida, e uma concepção da pesquisa tal que não só ela visa a um reencontro, mas,
mais radicalmente, move-se a partir de um reencontro. Mas aqui o direcionamento
da dinâmica do procurar e do procurado é certamente heideggeriano: o perguntar
próprio ao ente que procura, o procurar que pertence ao seu próprio ser pode
ser compreendido somente nos termos de um procurar sem encontrar. E isto não
porque não seja possível atingir o que se procura enquanto diverso de nós, mas
porque nós já somos o que procuramos, na medida em que somos destinados a nós
mesmos.
Procuremos, porém, ver mais de perto estas questões, retomando brevemente o
encontro de Heidegger com as Confissões de Agostinho, e, mais em particular, a
sua leitura do fenômeno extremamente significativo para a interpretação do ser
da vida que emerge no livro X, e que reside na descoberta da memória e na
experiência da temptatio (tentação). O encontro acontece na célebre Vorlesung
(curso acadêmico) proferida na Universidade de Freiburg, em Breisgau, no
semestre de verão de 1921, chamada Agostinho e o neo-platonismo.7
3 Quaerere Deum (procurar a Deus):8 é este o movimento mais radical da vida em
Agostinho, e é na urgência da procura diante de Deus que se revela o
significado último do confiteri (ou da confissão). Heidegger percebe, com
perspicácia, o caráter ontológico (e não somente psicológico, ético ou teórico)
desta procura e o papel constitutivo desta "confissão" para a vida do eu, mas
ao mesmo tempo as compreende de tal modo que o objeto da procura e o
interlocutor da confessio são, de modo progressivo e inevitável, novamente
absorvidos na atuação do próprio procurar enquanto procurar: como se o
confessar devesse se realizar diante de si mesmo. A transcendência do eu para o
"Tu, Domine" ("Tu, Senhor") é assim interpretada como autotranscendência do
existir em si mesmo, de si mesmo e para si mesmo.
"No homem - escreve Agostinho - há algo que até mesmo o espírito que está nele
não conhece" (Conf., X, 5.7). A confissão não diz respeito somente ao que um
homem sabe de si, mas também àquilo que não sabe. E o que sei, com certeza?
"Domine, amo te" ("Senhor, te amo") (Conf., X, 6.8). Em Agostinho, como é
evidente, o pensamento nasce da afeição, ou seja, o conhecimento de mim é
possível somente enquanto evidência de uma relação e de um ser affectus por
algo diferente. Mas o que amo, quando amo Deus? (Quid autem amo, cum te amo?).
Quem é aquele que está sobre a minha alma? Atravessando a minha alma
[per ipsam animam meam] subirei até ele; transcenderei [transibo] a
força com que me aperto ao corpo e que enche de potência vital o meu
organismo. [...] Transcenderei, pois, também a minha potência natural
[vim naturae meae], ascendendo por graus até aquele que me fez e
chegarei nos campos e nos vastos palácios da memória [et venio in
campos et lata praetoria memoriae] [...].9
Entrando com Agostinho na vastidão secreta e surpreendente da memória, onde ele
vai à procura do vulto e da presença do objeto de seu amor, sobre o qual
nenhuma outra criatura além dele mesmo pudera dar uma resposta satisfatória,
Heidegger nota o significado inaugural do gesto de Agostinho, começando, porém,
a direcioná-lo segundo uma outra trajetória:
Em sua ascensão progressiva e superadora, Agostinho chega no vasto
campo da memória. [...] Os fenômenos concretos que Agostinho
apresenta, puramente em termos de conteúdo, e principalmente como ele
explica os fenômenos, em quais contextos e quais determinações
fundamentais - por exemplo, a beata vita -, supera o quadro e a
estrutura da concepção corrente. Na memória estão presentes as
inumeráveis imagens das coisas e ao mesmo tempo tudo o que nós -
analisando-as a fundo, ampliando-as, associando-as, elaborando-as -
pensamos delas: "penetrale amplum et infinitum" ("câmara ampla e
infinita"). Tudo isso pertence a mim mesmo, porém eu mesmo não o
apreendo. Para ter a si mesmo, o espírito é demasiado estreito. Mas
onde estará então aquilo que o espírito não apreende em si mesmo?
Stupor apprehendit me ... (o estupor tomam conta de mim).10
A memória é uma grande potência para Agostinho, uma potência grande demais
(magna vis est memoriae, magna nimis), um santuário vasto, infinito, em cujo
fundo ninguém nunca chegou (quis ad fundum eius pervenit?), de modo a ser
obrigado a reconhecer - tomado pelo estupor - que eu mesmo não consigo
apreender tudo o que sou (nec ego ipse capio totum, quod sum, Conf. X, 8.15).
Na memória estão presentes (praesto sunt) as imagens de todas as coisas, os
objetos sensíveis e os objetos não sensíveis ou inteligíveis (as proposições e
as regras matemáticas, assim como os conteúdos recebidos das artes liberais), e
todas as affectiones animi (afeições da alma); mas "ibi [na memória] mihi et
ipse occurro meque recolo, quid, quando et ubi egerim quoque modo, cum agerem,
affectus fuerim" (Conf. X, 8.14): aí encontro também eu mesmo e me lembro de
mim nos atos que realizei, no tempo e no lugar em que os realizei, nas afeições
que senti realizando-os.
O ser da vida é assim identificado com a compreensão de uma
incompreensibilidade em relação a si mesmo, com o enigma do ter-a-si, como nota
Heidegger de forma sutil, comentando o que Agostinho escreve a respeito da
experiência ontologicamente inexplicável que todos nós fazemos, quando
presentificamos os afetos conservados na memória, mas em uma situação
afetivamente mudada em relação ao passado (como quando, por exemplo, torna-se
presente, com alegria, uma tristeza passada). O ser si mesmo, ou melhor, o
"ser" de si é aqui identificado, e vivido, como a modalidade específica de ter
a si mesmo, ou melhor, do "ter" que é uma forma de autopossessão - na memória e
como memória - do que não se pode possuir. "O ter, portanto, é visto por
Agostinho como algo peculiar, próprio [eigenes]!". Este é, segundo Heidegger,
um dos Vollzugsråtseln, os "enigmas da atuação",11 e que nos lembra o plexo
cooriginário que, em outros cursos universitários de Freiburg, é instituído
entre o "ser si mesmo" (Selbstsein) ou o "mundo do si" (Selbstwelt), e a
situação factual fundamental que é o "ter-a-si-mesmo" (Sich-selbst-Haben) ou o
"levar o si mesmo ao possuir" (Sich-selbst-zum-Haben-Bringen), e entre esta
última situação e o "ter (a) história" (Geschichte Haben), que consiste na
autoatuação da vida como existência. A história é o meu ser - ou seja, o modo
em que "tenho" a mim mesmo - na medida em que "ter" algo, um "conteúdo"
(Gehaltsinn), se manifesta na modalidade da pura "relação" consigo mesmo
(Bezugssinn), e nesta autorreferência chega a se atuar (Vollzugssinn).12 Se se
considera este "ter a si" como "ter a morte",13 compreende-se o significado
radical que Heidegger atribui a esta atuação da posse de si e da recepção de si
em sentido rigorosamente antiobjetivista, como uma espécie de
autorreferencialidade factual.
Em Agostinho, Heidegger encontra o caminho para chegar à facticidade como
autoatuação da existência, e a encontra no que chama de "aporia em relação ao
esquecimento" (die Aporie bezüglich der oblivio). O esquecimento (o não estar
presente na memória, ou, melhor ainda, a privatio memoriae: Conf. X, 16.24) é
ele mesmo presente na memória, assim como estão presentes os conteúdos
lembrados, de modo que Agostinho pode afirmar que é a memória que conserva o
esquecimento: "memoria retinetur oblivio". Trata-se de um fenômeno que terá um
papel determinante no pensamento de Heidegger: "O esquecimento deve pois estar
presente em si mesmo. Se eu me torno novamente presente o esquecimento
(esquecimento/oblivio: o ter esquecido e ao mesmo tempo o que é esquecido),
este é praesto: 'memoria qua meminerim, oblivio quam meminerim' ('a memória,
com que lembro, o esquecimento, de que lembro')".14
Mas esta presença do esquecimento não deve ser vista somente de modo
"negativo", como o desfazer-se da lembrança, dado que possui um seu modo
peculiar de ser, completamente diferente da dinâmica psicológica, mais
conotável como um fenômeno originário: não algo (uma imagem, uma noção, um
sentimento) que se perde - ou seja, que não é mais lembrado -, mas uma "coisa"
que se "realiza" em si mesma.
Oblivio, esquecimento, possui caráter de referência [...]: não ter
presente - algo que tinha sido presente e que deveria ser agora -
enquanto não ter presentemente disponível, ou seja, enquanto ausência
de memória. Este ser-ausente que se encontra no sentido da referência
é apreendido - por isso deve ser visto como tal - como não-ser-aí
[Nichtdasein], no sentido mencionado de não-ser-praesto, e
precisamente com um caráter próprio de realização. Disso deriva a
antinomia: se há memória - presentificação - não pode haver oblivio,
e vice-versa. Se há oblivio, eu não sou capaz de presentificar, de
modo que o próprio esquecimento - em termos de conteúdo - não há.15
O que significa "ter" o que não se possui, ou melhor, em que modo o ser-aí
possui a si como não existente? Para não esquecer, nós temos presente o que com
a sua própria presença nos faria esquecer: "Adest ergo, ne obliviscamur, quae
cum adest, obliviscimur" ("por isso é presente, para não esquecer, o que, com
sua presença, nos faz esquecer") (Conf. X, 16.24). Assim, como sugere Agostinho
como último passo, seria possível deduzir que não existe o esquecimento em si
mesmo (pois, como se disse, se existisse não poderia sequer ser lembrado como
tal), mas a sua imagem. Só que esta suposta solução na realidade duplica o
problema do nexo memória-esquecimento, pondo o problema da relação entre a
"impressão" ou traço - o que se encontra "já imprimido" (iam notatum) na
memória - e o seu cancelamento. Com efeito,
mesmo admitindo que esteja presente somente a imagem da
presentificação, esta deve, porém, existir por si mesma, de modo que
eu possa adquirir a imagem. Mas como pode acontecer isto, visto que o
esquecimento cancela, segundo o seu sentido, o que, enquanto notatum,
estaria disponível? "Et tamen [...] ipsam oblivionem [o ter
esquecido] meminisse me certus sum, qua id quod meminerimus [o que
queremos tornar novamente presente] obruitur" ("e todavia ... estou
certo de lembrar o próprio esquecimento, o que destrói o que queremos
lembrar") [Conf. X, 16.25].16
A aporia do esquecimento na memória - ou seja, o fato que eu estou certo de
lembrar também o mesmo esquecimento, o que destrói a memória - é o que obriga a
colocar novamente a questão sobre como se deva procurar, ou ainda, sobre "o que
significa procurar" (was heißt Suchen?). Aqui, talvez, valha a pena indicar que
esta pergunta é a tradução fenomenológica - se quisermos, neutra, mas ambígua -
proposta por Heidegger da questão explícita posta adiante pelo próprio
Agostinho, diante do interlocutor divino: "Quomodo ergo te quaero, Domine?"
("em que modo te procuro, Senhor?") (Conf. X, 20.29). O que quer dizer, para
ambos: o que é o ser-homem? No que consiste a vida como procura? E, vice-versa,
em que modo o procurar "é" existir? Somente que nos dois casos, como veremos,
muda o sentido último do perguntar, pois em Heidegger o te, Domine, parece se
dissolver completamente no "como" (quomodo) do procurar (quaero).
O "que significa procurar" deve ser compreendido - na sua plena dinâmica
fenomenológica, ou seja, em vista do seu preenchimento intencional - nos termos
de "o que significa encontrar": mas também aqui, no nexo procurar/encontrar, a
proximidade entre Heidegger e Agostinho se inverte em separação. Vejamos.
Procurar significa transcender: transcender não somente a potência vital e a
faculdade sensorial, mas também a memória, para atingir aquilo, ou melhor,
aquele que se procura. Todavia, nota Agostinho, se te encontro fora da minha
memória, permaneço imêmore, esquecido, de ti (si praeter memoriam meam te
invenio, immemor tui sum); e como poderia ter te encontrado se não tivesse
memória de ti? (et quomodo iam inveniam te, si memor non sum tui?. Conf. X,
17.26). Assim, segundo Heidegger, o que eu procuro para poder encontrar, ou
seja, o próprio procurado, já devo "tê-lo", segundo o exemplo evangélico,
lembrado por Agostinho, da mulher que procura a moeda perdida, e pode
reencontrá-la, enquanto já houvera notícia na memória. O sentido de realização
do "ser" como "ter" encontra aqui o seu ponto de manifestação mais aguda:
""ser" = ter. - Ter em sentido próprio = não ter perdido; ter em
referência ao poder perder - na angústia - possibilidade - intencionalidade! -
ser-aí - objetivo"; ou ainda, mais precisamente:
[...] ao procurar este algo como Deus, eu mesmo apareço em um papel
completamente diferente. Não sou somente aquele a partir do qual o
procurar se origina, dirigindo-se em uma direção qualquer, ou no qual
o procurar acontece, já que a atuação da própria procura é algo do
próprio procurar.17
Portanto, o que eu procuro, quando procuro Deus? "Cum enim te, Deum meum,
quaero, vitam beatam quaero. Quaeram te, ut vivat anima mea" (Conf. X, 20.29).
Procurar Deus significa procurar a vida, e procurar a vida tem o significado de
uma Bekümmerung um Leben,18 da "preocupação da vida", ou melhor, da "inquietude
do viver", a inquietude que é o próprio viver como "cuidado". De modo que o
problema vai ser: se a pesquisa de Deus implica o modo em que a vida já o teve
- enquanto procurado - então como se "tem" a vida beata, qual é o modo em que o
eu já possui esta vida em si? Se de algum modo não o tivesse, não poderia
sequer desejá-la: "a noção ou cognição [notitia] que possuímos da felicidade
nos faz amá-la, e, porém, procuramos ainda possuí-la para sermos felizes"
(Conf. X, 21.30). Nós não gostaríamos de algo "com uma vontade tão decidida
[certa voluntate], se não o conhecêssemos com certeza [certa notitia]" (Conf.
X, 21.31).
E a notitia de que aqui se trata não é somente sensível, mas tampouco somente
intelectual, mas se relaciona, de certo modo (fortasse ita), com a experiência
da alegria ou gozo (gaudium). Da alegria "sou experiente na minha alma, quando
estou alegre, e é presente sua notícia na minha memória" "expertus sum in animo
meo, quando laetatus sum, et adhaesit eius notitia memoriae meae" (Conf. X,
21.30): é pela experiência de uma alegria, de um contentamento, que a cognição
da alegria penetra e por assim dizer se imprime na minha memória. É aqui que
Heidegger nota uma significativa mudança na dinâmica do experimentar, pois
neste caso a experiência não seria mais identificada com um conteúdo
determinado (o que se experimenta cada vez), mas com o "si mesmo" que se torna
expertus, e mais precisamente, com o si mesmo que se alegra. A mudança
aconteceria na própria experiência da alegria, não mais entendida como um
"conteúdo", mas como a modalidade, o "como" em que se atua a vida do eu. A
pergunta sobre o que é a alegria se afina e se realiza na pergunta sobre como
esta seja possuída pelo si-mesmo. É exatamente nesta "situação de atuação"
(Vollzugssituation) que se manifesta a "existência autêntica" (eigentliche
Existenz), como um "referir-se radical a si mesmo, autêntica facticidade"
(radikale Verweisung auf das Selbst, eigentliche Faktizitåt).19
Por mais paradoxal que possa aparecer, é a alegria agostiniana que indica
formalmente a mais radical facticidade heideggeriana. E não é um caso que oito
anos após o curso de Freiburg que aqui analisamos, mais precisamente, na
conferência acadêmica sobre O que é metafísica?, Heidegger volte a falar da
"alegria" como um dos estados de ânimo que, bem antes de toda tematização
teórica, nos levam a entender em sentido originário a existência como relação
com o ser. Mas, como sabemos, no lugar da alegria ele preferirá assumir o
estado de ânimo da angústia como o fenômeno mais indicativo da nossa única
relação metafísica possível com o ente em totalidade, que não caia nas
determinações ônticas das ciências positivas, e note assim como este ente se
desfaça no "nada".20
Voltemos, porém, à leitura de Agostinho. Ter a vida beata (como atuação do si)
é para todos - sem nenhuma exceção - pelo menos o não querer ser enganado, e,
mais radicalmente, a alegria ou o prazer que traz a verdade: "Beata quippe vita
est gaudium de veritate. Hoc est enim gaudium de te, qui veritas es" ("a vida
beata é a alegria/gozo da verdade. Ou seja, a alegria/gozo de ti, que és a
verdade" (Conf. X, 23.33). Heidegger nota que aqui a verdade (e a luz com que
ela ilumina o eu) não deve ser entendida em sentido "metafísico" (grego), mas
"existencial": pois, mais do que indicar um caráter coisal, a verdade constitui
uma tendência ou uma direção da vida, assim como Agostinho atestaria ao
descrever a "direção de queda" ou de "decadência" - quase como uma força de
gravidez existencial, como vai ser traçada por Heidegger no curso do semestre
seguinte, sobre Aristóteles21 - que consiste em odiar a verdade (Deus) em nome
do que se crê, ilusoriamente, que seja a verdade: "Itaque propter eam rem
oderunt veritatem, quam pro veritate amant. Amant eam lucentem, oderunt eam
redarguentem" ("Assim por causa disso odeiam a verdade, pelo amor da verdade.
Amam-na quando brilha, a odeiam quando redargüi") (Conf. X, 23.34). E Heidegger
comenta: a verdade é odiada quando não se colocam em questão as coisas, mas a
própria facticidade da vida; todavia, também nesta posição enganadora, o que é
amado é sempre a verdade.22
Onde o eu encontrou uma verdade, aí encontrou Deus: mas isto quer dizer que não
é possível encontrar Deus extra memoriam (Conf. X, 24.35), ainda que Deus não
seja nada de psíquico, mas o senhor da memória - "Dominus Deus animi" - o qual,
em relação à mutabilidade dos estados e dos atos da alma, ou da mente,
permanece "inconmutabilis" (Conf. X, 25.36). O habitar de Deus na memória não
deve ser entendido, mais uma vez, em sentido objetivo e de conteúdo, mas no
sentido da autoatuação do si: "onde pois te encontrei, para te conhecer, se não
em ti mesmo, sobre mim [nisi in te supra me]?" (Conf. X, 26.37).
Assim, nota Heidegger, "a pergunta 'onde encontro Deus?' é invertida na
discussão das condições da experiência de Deus, e isto conduz ao problema 'quem
sou eu mesmo?'". De modo que, quando Agostinho exclama com paixão: "Sero te
amavi, pulchritudo tam antiqua et tam nova" (Conf. X, 27.38), a tradução de
Heidegger soa: "tarde cheguei ao nível da vida factual em que me coloquei em
condição [in Stand gesetzt habe] de te amar".23
A tensão dramática entre o eu e Deus tende a se resolver aqui na
irredutibilidade do "como" em relação ao "o que". Neste sentido, a
historicidade não pode ser entendida senão como autorreferência, e a inquietude
de que fala Agostinho deverá necessariamente ser retraduzida nos termos de uma
"motilidade" que encontra o seu paradigma ontológico no conceito aristotélico
de physis: o ente que tem em si mesmo o princípio do movimento. A "metafísica"
de Agostinho, no fundo, não seria nada mais para Heidegger do que a "física" de
Aristóteles. Mas para entender esta passagem, devemos ainda dar um outro passo
dentro da leitura heideggeriana de Agostinho.
4 É na experiência da temptatio (significativamente descrita, sempre dentro do
livro dez das Confissões, em conexão próxima não somente de redação, mas também
temática com a questão da procura de Deus na memória) que a relação entre o eu
que procura e o Tu amado e reconhecido se intensifica como a vida. A descoberta
de Agostinho torna-se um verdadeiro convite para a interpretação de Heidegger.
Temptatio - lembremos - significa ao mesmo tempo tentação e prova: "A vida
humana na terra não seria uma prova? [numquid non temptatio est vita humana
super terram?]. Quem desejaria incômodo e dificuldades? Tu nos ordene suportar
o seu peso, não amá-las" (Conf. X, 28.39). É aqui que, para Heidegger, se
mostra o "caráter fundamental da vida factual", ou seja, o cuidar, o cuidar de
si, entendido como uma inquietude ou uma preocupação, ou ainda, um estar-
preocupado estrutural (Bekümmertsein) em relação ao si mesmo.24 Neste "cuidar"
o eu se manifesta em toda a sua gravidade originária: "quoniam tui plenus non
sum, oneri mihi sum" (Conf. X, 28.39), próprio para não ser cheio de ti,
Senhor, diz Agostinho (mas é uma motivação sobre a qual Heidegger cala), eu sou
um peso para mim mesmo - e é este "pesar" puro e nu que emerge na leitura de
Heidegger, quase como se prescindisse do juízo que Agostinho oferece em relação
à origem deste fenômeno. O caráter fundamental da vida factual não deve ser
entendido como uma situação anterior que se torna objeto de uma preocupação
existencial, e nesta seja tematizada e considerada; ao contrário, é somente no
"cuidar" que o peso próprio do existir se manifesta, ou melhor, em definitiva,
coincide com este, e constitui a sua dinâmica intrínseca, a verdadeira força de
gravidade da vida existente.
A tendência primária da vida, com efeito, é o que Agostinho chama de dispersão
no múltiplo (defluxus in multa), e que Heidegger lê como uma dispersão na
objetividade dos conteúdos determinados do viver; mas, junto a uma tal
dispersão, a vida é marcada por uma específica retomada que - mediante a
"continência" - conduz ao recolhimento da unidade do eu: o que somente permite
"suportar" (tolerare) a prova que é a vida em si mesma: "É mediante a
continência que somos recolhidos e reconduzidos à unidade da qual nos
afastamos, perdendo-nos no múltiplo" (Conf. X, 29.40). E aqui Heidegger
acentua, devidamente, que a continentia não pode ser entendida e traduzida em
sentido negativo, como "abstinência" (Enthaltsamkeit), mas no seu sentido
positivo (e literal) como o "manter-se junto" (Zusammenhalten) do eu, que é um
"arrancar-se" (zurückreißen) originário da dispersão.
Neste movimento se evidencia, para Heidegger, a historicidade intrínseca da
existência factual, no sentido preciso da "dinâmica" e da "conflitualidade"
(Dynamik und Zwiespåltigkeit) que pertencem à - ou melhor, que constituem a
vida como cuidado:25 "nas circunstâncias adversas lamento o bem-estar, no tempo
do bem-estar, temo as adversidades" (Conf. X, 28.39). E Heidegger comenta: "O
si-mesmo é acolhido dentro de um experenciar histórico - ainda que
frequentemente o seja somente de 'forma fraca'". Esta preocupação de si não é
algo que aconteça a mim na experiência, mas é esta mesma a atuação da
experiência de mim (do eu mesmo). Com a consequência - mais heideggeriana do
que agostiniana - de que "a atuação da experiência é, por si mesma, sempre na
insegurança".26
Enfrentando a temptatio como experiência fundamental do si (e da atuação do si)
que procura Deus, Heidegger encontra as maiores dificuldades do texto de
Agostinho, mesmo excluindo, com decisão - e oportunamente - que se trate de
dificuldades que podem ser conduzidas a questões de tipo moral ou psicológico,
e insistindo no fato de que estas dificuldades são como o ponto em que a sua
própria interpretação de Agostinho - interpretação não teológica, mas
fenomenológica - deve se afirmar e se deter.27 Na realidade, a opção desta
"parada" metodológica por parte de Heidegger implica - além, e mais do que o
respeito pelo confiteri próprio de Agostinho, que está sempre diante de Deus e
a partir da graça de tê-lo encontrado - uma decisão a respeito da possibilidade
(ou, respectivamente, da impossibilidade) de atuação da vida como prova. Não é
casual, pois, que Heidegger, em uma passagem de seu curso, identifique
precisamente o confiteri com o modo em que a vida interpreta si mesma na
experiência das tentações, arriscando, porém, deste modo, resolvê-lo em uma
hermenêutica completamente imanente à vida (não aos conteúdos da vida, mas à
sua dinâmica interna), sem considerar o outro, o "tu" diante do qual se realiza
a confissão: um "tu" certamente não negado por Heidegger em sua interpretação,
mas de qualquer forma considerado, e tratado de fato como sem influência em
relação ao significado e à experiência da própria prova.
Nas três formas descritas por Agostinho no livro X das Confissões, ou seja, a
"concupiscentia carnis" (a concupiscência da carne), a "concupiscentia
oculorum" (a concupiscência dos olhos) e a "ambitio saeculi" (ambição do
mundo), a temptatio se revela, para Heidegger, como uma condição absolutamente
insuperável, ou seja, insuperável próprio porque absoluta, ab-soluta de toda
relação que não seja do si consigo mesmo. A vida - insiste Heidegger - é "peso"
(moles) para si mesma, é uma experiência de moléstia que, considerada enquanto
tal, subtrai-se a toda redenção. A "experiência vivida" (Erlebnis) realiza-se
neste "peso" ou "gravidade" (Beschwernis) da vida:
Moléstia: peso para a vida, algo que traz a vida para baixo; e o
elemento autêntico do peso está no fato que a moléstia pode trazer
para baixo, onde este "poder" é constituído por aquilo em que, cada
vez, se atua a experiência.28
Consideremos, por exemplo, a leitura que Heidegger propõe de uma forma
particular de concupiscência da carne, a que diz respeito ao aparecer, no sono,
de imagens ilusórias do prazer sensual, que - sempre no sono - poderiam mesmo
levar a admitir atos que uma "consciência casta" nunca consentiria acordada.
"Talvez que nestes momentos não sou mais eu [numquid tunc ego non sum], Senhor
meu Deus?" (Conf. X, 30.41), pergunta Agostinho: aqui me encontro diante de uma
diferença tal entre sonhar e estar acordado que sou obrigado a me perguntar se
seja sempre o mesmo "eu" em ambos os casos, e tenho que concluir - mais com
Heidegger do que com Agostinho29 - que o conteúdo do meu "eu" não reside na
consciência (im Gewissen), mas na passagem (im Übergang) do involuntário ao
voluntário, ou seja, da sedução durante o sono à decisão durante o estar
acordado. É nesta passagem que se manifesta uma experiência da facticidade que
é a mais radical de todas as situações ônticas e efetivas em que o eu, a vida
existe: nesta experiência, eu caio em mim mesmo, re-caio sempre no mundo do mim
mesmo (Selbstwelt); eu "sou" e ao mesmo tempo "não sou" eu mesmo, o meu ser cai
- e com isso se funda - em um mais originário não-ser.
Não é por acaso que Heidegger inclua esta série de fenômenos de que fala
Agostinho como o "problema do 'eu sou'", e que conote, por sua vez, o ser-eu
como uma experiência de "discrepância" (Zwiespåltigkeit) entre ser e não-ser.
Como prova ainda a leitura de um outro caso indicado nas Confissões, ou seja, o
das seduções do olfato (illecebra odorum), em relação às quais Agostinho
escreve que eu posso sempre errar na consciência das minhas faculdades, pelo
motivo que estas estão cobertas por trevas deploráveis, e, portanto, nunca são
confiáveis: e isto é o sinal do fato que "o que é dentro do espírito permanece
a maior parte das vezes escondido [occultum], a não ser que não o revele a
experiência [nisi experientia manifestetur]" (Conf. X, 32.48). Mas o que a
experiência atesta é, pois, uma insegurança permanente, segundo a qual se diz
que toda a vida é uma prova (tota temptatio), tanto que, "como podemos nos
tornar melhores, assim também podemos nos tornar piores". Assim Heidegger pode
concluir:
É, pois, nesta direção da experiência que deve ser originariamente
procurado o si-mesmo. Nesta direção, e somente nesta, encontra-se a
temptatio. Ou seja, na medida em que esta existe, a vida, ista vita,
deve ser experienciada assim - onde o si é assumido na plena
facticidade do experenciar [enquanto que é experenciada uma tentação,
obtenho esta situação].30
"O que é a vida" significa "o que é a experiência do si-mesmo", como mostrou o
fenômeno da memória; mas "o que é a experiência" significa "o que é a
tentação". E a tentação aos olhos de Heidegger não significa somente que o si-
mesmo se perde nas diferentes possibilidades ônticas que cada vez o seduzem,
mas mais a fundo, que a vida ou a existência se diferencia sempre enquanto tal
de todos os conteúdos ônticos para se realizar como a "prova" do nada que ela
mesma sempre pode ser. A dispersão no múltiplo não é a causa da facticidade do
existir, porque, ao contrário, ela se funda sobre esta; e, por sua vez, a
experiência da continentia não consistirá em uma tomada de distância do ser-
factual do si-mesmo, mas, ao contrário, na sua assunção nua.31
É o que se afirmaria na segunda forma de tentação, segundo Agostinho, ou seja,
a concupiscentia oculorum, definida "uma cobiça vã e curiosa, que se disfarça
sob o nome de conhecimento e ciência" (Conf. X, 35.54). Heidegger acentua, a
este propósito, que esta concupiscência dos olhos, ou seja, este "simples
querer-ver" deve ser entendido como um olhar-se em volta no próprio mundo-
ambiente, onde o ver significa "fazer passar um objeto como objeto",32
diríamos, como algo presente à mão (vorhanden), constituído e fixado na mesma
visão em que foi conhecido. Agostinho descreve o primado do ver através da
simples constatação que a vista, mesmo se pertence propriamente aos olhos, é
utilizada - pelo menos como expressão linguística - para todos os outros
sentidos: "Nós não só dizemos 'olha como brilha', ou seja, para as sensações
que somente os olhos podem ter, mas dizemos também 'olha que som, olha que
odor, olha que sabor, olha como é áspero'" (Conf. X, 35.54); e Heidegger retoma
esta descrição e a radicaliza, como a tendência objetivante que acompanha e
determina todas as experiências factuais - como será retomado em Ser e tempo,
na análise da "queda" do ser-aí, considerado em sua "quotidianidade", em que se
torna decisivo, junto aos fenômenos da "tagarelice" e do "equívoco", também o
da "curiosidade". Esta "não se preocupa em ver para compreender o que vê, ou
seja, não se preocupa em 'ser para' isto, mas somente em ver".33 E também aqui
Heidegger se refere ao livro X das Confissões, para tomar da descrição que
Agostinho faz da concupiscência dos olhos o fenômeno paradoxal de um ver em que
não somente se compreende verdadeiramente o que se vê dentro do próprio mundo-
ambiente (próprio porque se quer somente "vê-lo"), mas nos livramos do próprio
si-mesmo como ser-no-mundo, ou seja, como ser-junto ao ente que se encontra no
mundo, e que é (pré)compreendido como utilizável.
A marca desta tendência interpretativa fica evidente quando Heidegger comenta a
terceira forma de tentação, ou seja, a ambitio saeculi, o desejo de louvor e
honras mundanos. Agostinho a descreve (Conf. X, 39.64) quando fala dos que se
comprazem consigo mesmos (qui placent sibi de se), e com isto desagradam muito
a ti, Senhor (multum tibi displicent), pois consideram 1) o que não é bem como
se o fosse (de non bonis quasi bonis); 2) os bens de Deus como se fossem bens
próprios (de bonis tuis quasi suis); 3) os bens recebidos de Deus como se
fossem obtidos por próprios méritos (sicut de tuis, sed tamquam ex meritis
suis); 4) os bens recebidos de Deus por graça como bens que não devem ser
desfrutados junto aos demais, mas reservados para si (sicut ex tua gratia, non
tamen socialiter gaudentes, sed aliis invidentes eam). E Heidegger re-traduz
este fenômeno extremo de temptatio que é a ambição mundana como uma modalidade
genuína de realização/atuação da experiência (Erfahrungsvollzug) do ser-aí. O
bonum de que se fala aqui não deve ser entendido como "dote" (Ausstattung) do
si-mesmo, algo que se possui e que se tem à disposição, como se se tratasse de
um dos bens mundanos objetivamente presentes, mas como a própria existência,
"este único que eu mesmo sou": não um objeto ao qual pertençam propriedades
universais, mas "o como do 'sou'" (das Wie des "bin").34
Na sedução mundana aparece diante do si-mesmo o "mundo próprio do si" (eigene
Selbstwelt). O que para Agostinho constituía uma incompreensão do próprio ser -
onde o reconhecimento da doação deixa o lugar para o comprazer-se consigo -, em
Heidegger torna-se, paradoxalmente, o momento em que é possível (em sentido
puramente fenomenológico, não em sentido de valor ou moral) a mais radical
autocompreensão do "eu sou", na sua nua atribuição a si mesmo.35 A ambitio
saeculi, a ambição do mundo, deste modo, não é mais vista como falta de
atuação, mas como a manifestação plena, a atuação do si-mesmo. É principalmente
comentando a segunda possibilidade desta tentação - ou seja, considerar os bens
recebidos de Deus como bens próprios, como pertencendo sempre a si mesmo e a si
mesmo devidos - que aparece, quase à contraluz, o perfil heideggeriano do ser-
aí:
"Verum etiam de bonis tuis quasi suis" [...]: também se se conhece de
forma genuína o caráter do bem, e se ao si mesmo pertence um bem
genuíno ("ser bom": existir autêntico!) - o que, no entanto, enquanto
tal, pode ser somente de Deus - este fato é assumido diante de si
mesmo, como adquirido graças a si mesmo, dado pelo si para si mesmo
(ser aí - existência), levado por si mesmo a este estado e neste
estado da existência.36
A extrema "queda" (Sturz) do ser-aí em si mesmo, a que é entendida por
Agostinho como uma falsificação, se não como uma perda de si, torna-se aqui a
realização mesma da facticidade, em que a moléstia (o peso da prova, a
tendência irreprimível da "gravidade"), torna-se a própria possibilidade da
vida, a possibilidade que é a vida: "esta possibilidade 'cresce' quanto mais a
vida vive" e "quanto mais a vida atinge a si mesma",37 tendo-se na atuação.
O fato de que, neste contexto interpretativo, a descrição que Agostinho faz da
temptatio seja assumida e enfatizada independentemente do juízo do próprio
Agostinho - o qual considera a tentação e a prova como interrupção e
desconhecimento da relação que está na origem do bem, e que coincide com o bem
do si, e, portanto, como "pecado" - não é, porém, casual, mas responde a uma
opção metodológica precisa:
a nossa possibilidade de interpretação tem os seus limites, pois o
problema do confiteri deriva da consciência dos próprios pecados. A
tendência à vida beata, não in re, mas in spe, nasce somente da
remissio peccatorum, ou seja, da reconciliação com Deus. Nós, porém,
devemos deixar de lado estes fenômenos, pois são por demais complexos
e exigem condições de compreensão que não podem ser alcançadas neste
contexto. Todavia, com a nossa reflexão, adquiriremos o elemento
fundamental, na ordem da compreensão, para o acesso aos fenômenos do
pecado, da graça, etc.38
Heidegger afirma com clareza este modo de interpretar também em outros momentos
durante os anos vinte: a partir do programa de uma filosofia que, em princípio,
enquanto autointerpretação do si-mesmo como pura problematicidade ou
inquietude, deve ser fundamentalmente "a-téia" (em sentido fenomenológico,
entende-se, não em sentido ideológico), de que Heidegger fala no curso de 1922
sobre as Interpretações fenomenológicas de Aristóteles; até chegar à célebre
conferência de 1927 sobre Fenomenologia e teologia, em que a delimitação da
hermenêutica ontológico-existencial em relação aos conceitos teológicos da
tradição cristã se radicaliza, entendendo a filosofia não somente como o que
põe à parte aqueles conceitos, mas também como o que "indica formalmente o
conteúdo ôntico, ou seja, pré-cristão", constituindo, enfim, a sua "possível
correção ontológica".39 Mas é o que já tinha sido claramente sugerido no curso
de 1921, quando, evidenciando, a meu ver, o verdadeiro motivo pelo qual é
preciso abandonar os fenômenos difíceis da remissão dos pecados e da
reconciliação, Heidegger acrescenta (cito sempre das notas de Becker):
Em todo caso, em Agostinho, a consciência do pecado, e o modo em que
Deus é presente nesta, encontram-se entrelaçados de forma peculiar
com o neo-platonismo. (Por isso a sua concepção do pecado não [...]
pode constituir um guia para a explicação fenomenológica do fenômeno
"genuíno").40
Aos olhos de Heidegger, portanto, o neoplatonismo de Agostinho não consistiria
em uma assunção mais ou menos legítima de categorias gregas para poder traduzir
de maneira teórica a irrupção histórica do acontecimento cristão, mas
constituiria, ao contrário, o sinal do permanecer deste acontecimento, além de
sua irrupção. A própria concepção do si-mesmo como relação com outro, em
relação a si, seria neoplatônica. Ou seja, a ação da graça, o que nas
Confissões é considerado como a novidade do encontro histórico do eu com Deus
através de Cristo, diante de uma concepção "espiritual", mas abstrata do Logos
divino, como propunham os "filósofos platônicos".41 Por conseguinte, de forma
igualmente paradoxal, é como se Heidegger precisasse libertar Agostinho do
neoplatonismo, para interpretá-lo em sentido aristotélico, visto que somente em
Aristóteles estaria salva a descoberta protocristã da "vida"; e a facticidade,
quando separada da relação que, segundo Agostinho, a constitui - e em que,
também segundo Heidegger, ela foi originalmente descoberta pela primeira vez -,
deve ser purificada e absolutizada em relação a toda identidade pessoal - do eu
e de Deus ao mesmo tempo. E mesmo neste caso encontramo-nos diante de uma
resposta heideggeriana à tendência contextual da "filosofia cristã", e em
particular da filosofia neoescolástica alemã (e de Freiburg, em particular),
que procurava traduzir e sistematizar o pensamento tomista nas categorias da
metafísica aristotélica. Aqui, ao contrário, se trataria de romper o fio e de
reatá-lo de outro modo, ou seja, ligando Agostinho (liberado do platonismo)
diretamente à concepção aristotélica da vida.42
Com a leitura da temptatio, assim como com a consideração da memória, fica
claro que a novidade de Agostinho, segundo Heidegger, não é algo irredutível.
Ou melhor, mesmo se o seu conteúdo é irredutível - a experiência do "tu", que
se revela como tal pelo eu -, este deve ser definitivamente dirigido de forma
centrípeta, digamos, endógena, em que a vida - pura kinesis, motilidade - é em
relação a si mesma, como autorreferencialidade radical. É em Ser e tempo, numa
passagem crucial, onde se trata de justificar a interpretação do ser-aí como
"cuidado" (Sorge), que Heidegger enuncia a sua trajetória hermenêutica de
Agostinho a Aristóteles:
O ponto de vista adotado na atual analítica existencial do ser-aí a
propósito do cuidado revelou-se ao autor durante a tentativa de uma
interpretação da antropologia de Agostinho (ou seja, greco-cristã) em
referência aos fundamentos essenciais atingidos na ontologia
aristotélica.43
O que nasce, em senso plenamente histórico do que começou como graça (ou seja,
como um ser-doado do si que não pode ser reconduzido completamente ao si) é
identificado como physis, mas certamente não como um simples retorno à situação
pré-cristã do vivente, mas na pretensão de oferecer uma interpretação mais
radical, ou mais "completa", da descoberta cristã - ou seja, histórica - da
vida. Heidegger não desconhece que na experiência dos (primeiros) cristãos -
como Paulo e Agostinho demonstram - acontece a descoberta que "a realização
supera a força do homem", e que não é sequer "pensável na base das próprias
forças". Somente que isto não pode se resolver, em direção contrária, através
de um simples recurso a Deus, considerado de forma imprópria - ou "ímpia" -
como aquilo em que se quer "encontrar 'um amparo'" ("ein Halt" haben), porque
uma tal solução ao máximo levaria a criar uma "visão cristã do mundo" (ou seja,
"um autêntico contrassenso"), e, portanto, representaria um bloqueio, mais do
que uma atuação da vida factual.44 Porém, segundo Heidegger, para salvar o ser
"recebido" do si-mesmo, e portanto a sua facticidade, precisa mostrar que a
atuação da existência é a sua impossibilidade de se realizar. Aqui está o ponto
dramático do processo de interpretação de Heidegger em relação à descoberta de
Agostinho: a doação de si não somente deve permanecer ontologicamente diferente
do que é doado (do dado!), para evitar sua redução aos significados ôntico-
mundanos, mas deve ser liberada, por assim dizer, também do doador, visto que o
destino inevitável do si-mesmo em relação a quem o dá (Agostinho é explícito:
em relação a quem o "cria", ou seja, ao pai de uma geração) é o de se tornar
agora um apoio extrínseco em relação à vida. Nesta suspensão ontológica, a
relação - como fenômeno peculiar da vida do si - no final deverá abandonar os
relacionantes: não somente o "tu", mas também o "eu" voltam a ser impossíveis,
e não a despeito da experiência de Agostinho, mas por causa desta - eis a
aporia sem solução por parte de Heidegger.
5 Para concluir, gostaria de mencionar brevemente a passagem que se realiza em
Heidegger da inquietude da vida agostiniana, interpretada como pura
facticidade, à determinação desta facticidade, nos termos aristotélicos de uma
cinética da existência.
Entre os diferentes exemplos da leitura apaixonada e intensa que Heidegger
dedica a Aristóteles nos anos vinte, escolho somente dois, particularmente
indicativos do percurso que procurei indicar até agora: o assim chamado Natorp-
Bericht (o relatório Natorp), escrito por Heidegger em 1922 (portanto, um ano
somente após o curso sobre Agostinho e contemporaneamente ao curso de 1921/1922
com o mesmo título, ou seja, Interpretações fenomenológicas de Aristóteles)
como um programa de trabalho em vista de uma ampla pesquisa sobre Aristóteles,
não publicada, mas que contribuiu à sua chamada à Universidade de Marburg
(1923), e um curso universitário sobre os Conceitos fundamentais da filosofia
aristotélica proferido em Marburg em 1924.
No Natorp-Bericht se trata da possibilidade de uma autointerpretação da vida,
não como uma tematização teórica da existência, mas como o modo mais apropriado
com o qual o ser-aí existe. Quando se descobre que esta hermenêutica da
facticidade já está sempre orientada e tacitamente guiada por precisas
"tendências interpretativas" (mais exatamente, como visto, pela "interpretação
greco-cristã da vida"), precisará individuar na Destruktion de sua história não
somente o meio mais adequado para preparar (auflockern) um terreno endurecido e
novamente se apropriar das motivações lógico-ontológicas fundamentais do viver,
mas uma modalidade estrutural - uma motilidade originária - com a qual a vida
vive si mesma.45 Aristóteles constitui um dos campos privilegiados desta
preparação do terreno, não somente por razões histórico-filosóficas (por
exemplo, pelo fato de que são suas as categorias que permeiam ainda a nossa
linguagem), mas por um motivo mais essencial, ou seja, pelo fato que no
pensamento aristotélico ocorre a mais decisiva - mesmo se ainda não
compreendida em toda a sua dimensão - autointerpretação da vida em termos de
"movimento".
Daqui uma atenção particular - ao lado da Metafísica e da Ética a Nicômaco -
dada à Física, que, a meu ver, constitui uma espécie de horizonte problemático
último no interior do qual se colocam todas as interpretações heideggerianas de
Aristóteles, algo como uma posição fundamental (a que identifica a
interpretação como movimento do ser-aí) que abre a perspectiva de todos os
outros problemas. Se é verdade - como se pode deduzir também somente da lista
dos cursos e dos seminários de Heidegger nos anos vinte entre Freiburg e
Marburg46 - que ele, por exemplo, dedicou intensamente a sua atenção a obras
como a Retórica e o De Anima, permanece o fato que é na pesquisa sobre a physis
que deve ser procurada "a aquisição das categorias primárias que Aristóteles
aplica na sua ontologia".47
Lemos no Natorp-Bericht que para compreendermos as mudanças decisivas na
história da antropologia ocidental, no nível ontológico, "é preciso dispor de
uma interpretação concreta da filosofia aristotélica, orientada na base do
problema da facticidade, ou seja, na base de uma antropologia fenomenológica
radical". Ora, isto é possível, ou mesmo necessário, pelo fato que "na sua
Física Aristóteles ganha, em linha de princípio, uma nova posição fundamental,
da qual derivam a sua ontologia e a sua lógica", e que se concentra no
zentrales Phånomen que é "o ente no como do seu ser-movido".48 Em outros
termos, se é verdade que no interior desta posição fundamental deve ser
encontrado o sentido com o qual se experimenta e se interpreta o ser-homem, ou
seja, o "estar em vida" (im Leben Sein) do ser-aí; então vai ser somente neste
contexto ontológico que pode se tornar acessível, concebível e definível
(zugånglich, faßbar und bestimmbar) o significado dominante do ser. E,
portanto, mais uma vez:
As pesquisas cujo objeto é experienciado e compreendido em seu
caráter de ser-movido - um caráter em que sempre é dado ao mesmo
tempo algo como o movimento - devem tornar possível o acesso à fonte
genuína dos motivos da ontologia aristotélica. Uma tal pesquisa é
realizada na Física de Aristóteles.49
Somente no movimento da vida factual, entendida como "cuidar", ou seja, no ter
a ver com o que se encontra no próprio mundo-ambiente, decaindo continuamente
nas ocupações mundanas e ao mesmo tempo no contramovimento da existência, ou
seja, na inquietude ou preocupação para o próprio si em que é implicado o
próprio autêntico ser - somente nesta motilidade pode-se compreender o sentido
do ser.50
Seria interessante seguir (mas aqui podemos somente mencioná-lo) o modo em que
a posição fundamental adquirida na Física está na base das interpretações
heideggerianas das diferentes estruturas ontológicas e das plurívocas
experiências do pensamento aristotélico, e as atravesse. É suficiente
mencionar, permanecendo sempre no contexto exemplificativo do programa de 1922,
como Heidegger interpreta as virtudes dianoéticas de que Aristóteles fala no
livro VI da Ética a Nicômaco, e em particular a relação entre a phronesis, a
sophia e o nous, seguindo como fio condutor "o ser da vida [...] considerado
como uma motilidade que tem em si mesma o seu decurso [als an ihm selbst
ablaufende Bewegtheit]", e que se realiza cada vez segundo o movimento peculiar
de cada virtude, entendidas estas virtudes como "disposições que podem atuar
uma custódia genuína do ser".51 Mas seria também possível referirmo-nos à
interpretação que Heidegger oferece dos livros VII-IX da Metafísica, em que
Aristóteles chegaria a uma determinação ontológica da dynamis e da energeia,
através de uma explicitação do plano ontológico do movimento (kinesis) e do que
se originou do movimento como "movido" (poiesis, praxis). E assim será preciso
cada vez conduzir o sentido do ser que o logos determina nas categorias (e que
sucessivamente se fixou no sentido da "realidade" e da "efectividade") à
motilidade peculiar da vida do ser-aí, constituída como um "ter a ver" (Umgang)
com o próprio mundo-ambiente (Umwelt) e como uma "produção" do ente neste
mundo.52
No curso de Marburg, em 1924, Heidegger comenta literalmente o terceiro livro
da Física de Aristóteles, onde se apresenta a definição do movimento como ato
(ou entelecheia) do que é em potência enquanto é em potência,53 e a definição
segundo a qual o movimento é a entelecheia do móvel enquanto móvel. Na leitura
heideggeriana acentua-se em particular a passagem do capítulo 3, quando
Aristóteles trata da aporia lógica que surge ao considerar o movimento como o
que se exercita, ou melhor, como o que propriamente "é" no móvel. A kinesis é
um fenômeno tal que em um único ato - em uma única entelecheia - se encontram o
motor (o agente) e o movido (o paciente), de forma que o movimento pode ser
pensado como a distância, única, que marca o intervalo entre dois pontos (o um
e o dois, ou o caminho que liga Tebas a Atenas): uma mesma distância que pode
ser percorrida indiferentemente por um ou pelo outro dos dois termos.54 Em
sentido lógico, devemos reconhecer que, ainda que os dois movimentos (o da
poiesis e o da pathesis) sejam diferentes entre si, devem, porém, ser pensados
em um mesmo sujeito. Mas ação e paixão são inerentes ao mesmo sujeito, pois no
movimento o motor é sempre motor de um movido, e o movido é sempre movido por
um motor.
Esta co-pertinência do motor e do movido atrai de forma significativa a atenção
heideggeriana: "Poiesis e pathesis são determinações de um ente unitário, e
este existe [da ist] no modo do ser-em-movimento". Um tal fenômeno aparece
claramente aos olhos de Heidegger como o ponto mais alto de toda a elaboração
do sentido do ser, um sentido que nasce em uma "experiência ainda não exprimida
no ser-aí [Dasein] do mundo e da vida".55 O movimento, como unidade de atuação
do motor e do movido, é um traço essencial para entender o ser da vida como
autoatuação e para entender o ser dos entes como presença:
O ente em movimento foi determinado como presencialidade
[Gegenwårtigkeit] do ente no seu poder-ser [esta a tradução
heideggeriana de energeia ou entelecheia e de dynamis]. Kinesis
determina também o "aí" [do ser aí ou existir: o Da do Dasein] do
ente em movimento, do movido. Mas o movido (note-se o pros ti) é ser
em relação ao motor, no com-ser-aí de um kinoun e de um kinetikon.
Mas como deve ser determinado o "aí" deste último ente em movimento
que coexiste com este enquanto movido?56
Não se vai tratar - como sabemos - de dois tipos diferentes de energeia, ou
seja, de "presencialidade" do ente que atua, mas de uma única atuação:
uma única e mesma [presença], a qual - a condição de ser compreendida
neste modo - constitui o sentido corretamente entendido do "aí" do
ente em movimento, do ente que se move (physei onta, que se move a
partir de si) [...]: ser-presente no "aí", mover. O motor e o movido
estão no mesmo "aí". [...] Ser-movido é ser no com-ser-aí [Mitdasein]
do motor.57
O movimento da vida pode, portanto, implicar, constitutivamente, ou seja,
compreender, o ser do ente, enquanto este pertence ao ser automovente da
própria vida. Eis o jogo heideggeriano: o que Aristóteles descreve como o ser
do ente da natureza é atribuído à constituição do si, da vida do ser-aí; e o
ser-aí, como ser no mundo, torna-se, por sua vez, o horizonte interpretativo
último para compreender o ser do ente e o próprio sentido do ser.58 Ter em si a
origem e o princípio do movimento (a vida, o ser-aí, a existência) coincide com
a significação ontológica mais radical, a dinâmica escondida que permanece sob
toda a história da ontologia. A descoberta e a aquisição próprias a Agostinho
são literalmente colocadas em movimento, não mais, todavia, a partir de seu
aparecer histórico, mas, ao contrário, separadas pelo evento de sua
proveniência. E assim a relação dramática com a origem - o que para Agostinho
significa essencialmente "viver" na descoberta do "tu" - se inverte na
impossibilidade da origem como sentido único da vida do ser-aí: o ente que se
"move" a partir de si mesmo.
1 Remeto somente a Kisiel, Th. The Genesis of Heidegger's Being and Time.
Berkeley; Los Angeles: University of California Press, 1993. cap. 2 (em part. parte 1) e a Fabris, A. L'"ermeneutica della fatticità" nei
corsi freiburghesi dal 1919 al 1923. In: Volpi, F. (Org.). Guida a Heidegger.
Roma; Bari: Laterza, 2005. p. 59-111.
2 Cf., por exemplo, dois dos primeiros cursos de Freiburg: Heidegger, M.
Phånomenologische Interpretationen zu Aristoteles: Einführung in die
phånomenologische Forschung (WS 1921/22). "Gesamtausgabe" (= GA) Bd. 61, hrsg.
v. BRÖCKER, W.; BRÖCKER-OLTMANNS, K. Frankfurt am Main: Klostermann, 1985. p.
130 (trad. it. de M. De Carolis, ed. por E. Mazzarella. Interpretazioni
fenomenologiche di Aristotele: Introduzione alla ricerca fenomenologica.
Napoli: Guida, 1990. p. 160) e Ontologie: Hermeneutik der Faktizitåt (SS 1923),
GA Bd. 63, hrsg. v. BRÖCKER-OLTMANNS, K. Frankfurt am Main: Klostermann, 1988.
p. 15 et seq. (trad. it. de G. Auletta, org. por E. Mazzarella, Ontologia:
Ermeneutica della effettività. Napoli: Guida, 1992. p. 24 et seq.).
3 HEIDEGGER, M. Sein und Zeit. Tübingen: Niemeyer, 1927, 197714, p. 43-44 (nova
edição italiana por F. Volpi, a partir da tradução de CHIODI, P. Essere e
tempo. Milano: Longanesi, 2005. p. 62).
4 AGOSTINHO, Aurélio. Confessionum libri tredecim: confissões. Texto latim da
ed. Skutella revisto por M. Pellegrino, [trad. it. e notas de C. Carena. Città
Nuova: Nuova Biblioteca Agostiniana], Roma 19936, X, 16.25.
5 HEIDEGGER. Sein und Zeit, § 4, p. 16 (trad. it. p. 24).
6 HEIDEGGER. Sein und Zeit, § 2, p. 10 (trad. it. p. 19). Sobre o "perguntar"
como dinâmica de fundo de todo o percurso de Sein und Zeit, cf. ESPOSITO, C. Il
periodo di Marburgo (1923-28) ed "Essere e tempo": dalla fenomenologia
all'ontologia fondamentale. In: VOLPI, F. (Org.). Guida a Heidegger, p. 113-166
(em part. p. 115 et seq.) e [ESPOSITO, C.; MARINI, A.; SINI, C.; VATTIMO, G.;
VITIELLO, V.; von HERRMANN, F.-W]. Dialogo su "Essere e tempo". Org. por C.
Bonaldi e E.S. Storace. Milano: Albo Versorio, 2003. p. 19-24.
7 HEIDEGGER, M. Augustinus und der Neuplatonismus, hrsg. v. C. Strube, em
Phånomenologie des Religiösen Lebens, GA Bd. 60. Frankfurt am Main:
Klostermann, 1995. p. 158-299 (trad. it. de G. Gurisatti, org. por F. Volpi:
Agostino e il neoplatonismo, em Fenomenologia della vita religiosa. Milano:
Adelphi, 2003. p. 205-379. Uso esta edição, levemente modificada). Uma
apresentação sintética da interpretação heideggeriana das Confissões encontra-
se em von HERRMANN, F.-W. Die "Confessionen" des Heiligen Augustinus im Denken
Heideggers, em Heidegger e i medievali, v. 1 de "Quaestio: Annuario di storia
della metafisica", org. por C. Esposito e P. Porro, Brepols-Pagina, Turnhout-
Bari, 2001. p. 113-146.
8 As páginas seguintes retomam algumas considerações que desenvolvi em
publicações anteriores: cf. ESPOSITO, C. Quaestio mihi factus sum: Heidegger di
fronte ad Agostino, em Ripensare Agostino: interiorità e intenzionalità (Atti
del IV Seminario internazionale del Centro di Studi Agostiniani di Perugia),
org. por L. Alici, R. Piccolomini e A. Pieretti, Institutum Patristicum
"Augustinianum", Roma 1993, p. 229-259; Id. Die Gnade und das Nichts. Zu
Heideggers Gottesfrage. In: "Herkunft aber bleibt stets Zukunft". M. Heidegger
und die Gottesfrage, hrsg. v. P.-L. Coriando, Klostermann ("Martin-Heidegger-
Gesellschaft Schriftenreihe", Bd. 5), Frankfurt a.M., 1998. p. 199-223; Id.,
Martin Heidegger: La memoria ed il tempo, em Agostino nella filosofia del
Novecento. v. 1: Esistenza e libertà , org. por L. Alici, R. Piccolomini e A.
Pieretti, Città Nuova, Roma, 2000. p. 87-124; Id., L'essere, la storia, la
grazia in Heidegger, in Nichilismo e redenzione, org. por R. Bruno e F.
Pellecchia. Milano: Franco Angeli, 2003. p. 184-207.
9 Conf. X, 7.11-X, 8.12.
10 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, p. 182 (trad. it.,
p. 237-238).
11 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, respectivamente p.
187 e 182 (trad. it., p. 243 e 238).
12 Cf. HEIDEGGER, M. Grundprobleme der Phånomenologie (WS 1919/20), GA Bd. 58,
hrsg. v. H.-H. Gander. Frankfurt am Main: Klostermann, 1993. p. 59 et seq.,
253; Phånomenologie der Anschauung und des Ausdrucks: Theorie der
philosophischen Begriffsbildung (SS 1920), GA Bd. 59, hrsg. v. C. Strube.
Frankfurt am Main: Klostermann, 1993. p. 52-54; Phånomenologische
Interpretationen zu Aristoteles..., GA Bd. 61, p. 171 (trad. it., p. 200);
Einleitung in die Phånomenologie der Religion (WS 1920/21), hrsg. v. M. Jung
und T. Regehly, em Phånomenologie des Religiösen Lebens, GA Bd. 60, Frankfurt
am Main: Klostermann, 1995. p. 3-156, aqui p. 31 et seq., 63.
13 HEIDEGGER, M. [Natorp Bericht (1922) =] Phånomenologische Interpretationen
zu Aristoteles (Anzeige der hermeneutischen Situation), hrsg. v. LESSING, H.-U.
"Dilthey Jahrbuch", 6, p. 237-269, 1989, aqui p. 244 (trad. it. de G. P.
Cammarota e V. Vitiello: Interpretazioni fenomenologiche di Aristotele:
Prospetto della situazione ermeneutica, "Filosofia e Teologia", 4, p. 496-532,
[1990], aqui p. 504). Ver a nova edição crítica do texto de G. Neumann.
Stuttgart: Reclam, 2002.
14 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, p. 188 (trad. it.,
p. 245).
15 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, p. 188 (trad. it.,
p. 245).
16 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, p. 189 (trad. it.,
p. 246).
17 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, respectivamente p.
190-191 e 192 (trad. it., p. 248-250).
18 Cf. HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, p. 193 (trad.
it., p. 251).
19 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, p. 195-196 (trad.
it., p. 253-254).
20 HEIDEGGER, M. Was ist Metaphysik?, em Wegmarken, GA Bd. 9, hrsg. v. F.-W.
von Herrmann, Klostermann, Frankfurt am Main 1976, p. 110 (trad. it. de F.
Volpi, Che cosè metafisica?, in Segnavia, Adelphi, Milano 1987, p. 66).
21 Cf. HEIDEGGER. Phånomenologische Interpretationen zu Aristoteles..., GA Bd.
61, p. 131 et seq. (trad. it., p. 161 et seq.). Ver também Natorp-Bericht, p.
238 (trad. it., p. 497-498).
22 Cf. HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, p. 201 (trad.
it., p. 260).
23 Esta e a próxima citação: HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA
Bd. 60, p. 204 (trad. it., p. 263-264).
24 Cf. HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, p. 205-206
(trad. it., p. 264-265).
25 Cf. HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, p. 207, nota 14
(trad. it., p. 267, nota 4). No que diz respeito à dimensão da "historicidade"
da vida, que não posso analisar devidamente, remeto a ESPOSITO, C. Storia e
fenomenologia del possibile. 2d. ed. rev. e ampl. Bari: Levante, 2003. cap. 1 e
2, parte 2.
26 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, p. 208-209 (trad.
it., p. 268-269).
27 Cf. HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, p. 209-210
(trad. it., p. 270).
28 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, p. 242 (trad. it.,
p. 308). A passagem está em um parágrafo significativamente chamado "Moléstia -
a faticidade da vida".
29 Para as análises seguintes, cf. HEIDEGGER. Augustinus und der
Neuplatonismus, GA Bd. 60, p. 212-214 (trad. it., p. 273-275).
30 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, p. 217 (trad. it.,
p. 279). A frase entre colchetes é colocada em uma nota à margem do texto.
31 Na linguagem que Heidegger utilizará em Ser e tempo, poderíamos dizer que as
possibilidades de "deperecimento" (Verfallen) do ser-aí se fundam originalmente
no seu "ser lançado" (Geworfenheit): HEIDEGGER. Sein und Zeit, § 38: "Das
Verfallen und die Geworfenheit", p. 175 et seq. (trad. it., p. 214 et seq.).
32 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, p. 224-225 (trad. it., p. 287-
288).
33 HEIDEGGER. Sein und Zeit, § 36, p. 172 (trad. it. modificada, p. 211).
34 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, p. 238 (trad. it., p. 305).
35 Sobre a descoberta da Selbstwelt por parte do cristianismo primitivo
(Urchristentum), em que Agostinho - após Paulo e seguido por Bernardo de
Clairvaux, Boaventura, Eckhart e Tauler, até Lutero e Kierkegaard - é
considerado como uma das "erupções" poderosas que revolucionaram o paradigma da
"ciência antiga", mudando "o centro de gravidade da vida factual e do mundo da
vida no mundo do si", cf. HEIDEGGER. Grundprobleme der Phånomenologie (WS 1919/
20), GA Bd. 58, p. 61-62 e 205.
36 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, p. 238-239 (trad. it., p.
305).
37 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, p. 242 (trad. it., 308).
38 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, p. 283 (trad. it., p. 360-
361). Trata-se de um trecho das notas tomadas durante o curso por Oscar Becker.
Uma situação análoga aparece no curso de 1920/21, a propósito da experiência
protocristã do tempo, assim como emerge no conceito paulino de kairós em
relação à espera da segunda vinda de Cristo (I Tes. 5, 2-3): "o cristão tem a
consciência de que esta facticidade não pode ser conquistada com as próprias
forças, mas provém de Deus - fenômeno da ação da graça". Mas, por outro lado,
para seguir até o fundo a realização da vida em Paulo, deve-se "deixar
completamente de lado o conteúdo do anúncio", ou seja, "Jesus enquanto Messias"
(HEIDEGGER, M. Einleitung in die Phånomenologie der Religion. In:
Phånomenologie des Religiösen Lebens, GA Bd. 60, p. 121 e p. 116 [trad. it., p.
164 e 158-159]).
39 Cf. HEIDEGGER. Phånomenologische Interpretationen zu Aristoteles..., GA Bd.
61, p. 197 (trad. it., p. 224); Id., Phånomenologie und Theologie. In:
Wegmarken, GA Bd. 9, p. 66 (trad. it. de F. Volpi, Fenomenologia e teologia, em
Segnavia, p. 22).
40 HEIDEGGER. Augustinus und der Neuplatonismus, GA Bd. 60, p. 283-284 (trad.
it., p. 361).
41 Sobre a descoberta e sobre a relação de Agostinho com os "filósofos
platônicos", ver a passagem explícita de Conf. VII, 9.13 et seq. É
significativo, a meu ver, que Heidegger não tome em consideração este documento
como relevante em vista do tema "Agostinho e o neoplatonismo".
42 Cf. HEIDEGGER. Natorp-Bericht, p. 250-251 (trad. it., p. 511-513).
43 HEIDEGGER. Sein und Zeit, § 42, p. 199 (trad. it., p. 309).
44 HEIDEGGER. Einleitung in die Phånomenologie der Religion, GA Bd. 60, p. 122
(trad. it., p. 164-165).
45 Cf. Natorp-Bericht, p. 249 (trad. it., p. 510-511).
46 Cf. a lista dos cursos e seminários heideggerianos em VOLPI, F. (Org.).
Guida a Heidegger, p. 325-345.
47 HEIDEGGER, M. Grundbegriffe der aristotelischen Philosophie (SS 1924), GA
Bd. 18, hrsg. v. M. Michalski. Frankfurt am Main: Klostermann, 2002. p. 284. A
este propósito, ver as considerações em HEIDEGGER, M. Phånomenologische
Interpretationen augewåhlter Abhandlungen des Aristoteles zur Ontologie und
Logik (SS 1922), GA Bd. 62, hrsg. v. NEUMANN, G. Frankfurt am Main:
Klostermann, 2005 (em que a referência à Física limita-se aos cap. 1-4 do livro
I, e, em particular, à crítica aristotélica em relação aos eleatas).
48 Natorp-Bericht, p. 251 (trad. it., p. 513). É preciso lembrar que, se aqui o
discurso trata da antropologia, esta deve ser entendida sempre a partir de seu
caráter "fenomenológico radical": com efeito, Heidegger, já nestes anos, não
utilizará mais o termo "antropologia" (acabando claramente por estigmatizá-lo),
mas falará de "hermenêutica da facticidade" (ver o curso homônimo de 1923) e de
uma "analítica da existência" (distinta de toda antropologia: cf. Sein und
Zeit, § 10). Sobre a passagem da ideia de uma "antropologia filosófica" a uma
"metafísica do ser-aí", ver HEIDEGGER, M. Kant und das Problem der Metaphysik
(1929), GA Bd. 3, hrsg. v. F.-W. von Herrmann, Frankfurt am Main: Klostermann,
1991. §§ 36 et seq. (trad. it. de M. E. Reina, revista por V. Verra, Kant e il
problema della metafísica. Roma-Bari: Laterza, 1981).
49 Natorp-Bericht, p. 253-254 (trad. it., p. 515).
50 Cf. Natorp-Bericht, p. 245 (trad. it., p. 505). Talvez valha a pena observar
a presença aqui de dois motivos agostinianos, a queda dispersiva nas ocupações
mundanas e a inquietude como caráter constitutivo da vida. Somente que em ambos
os casos, a escolha interpretativa de Heidegger é claramente reconhecível: a
dispersão não é a perda de si, mas é a modalidade estrutural da vida, de modo
que o retomar-se no contramovimento do cuidado não é nada mais do que a
dispersão, mas a sua assunção como impossibilidade radical do ser-aí (em termos
heideggerianos, o seu ter a morte estrutural). E a preocupação inquieta de si
não é espera da realização, mas realização ela mesma na suspensão ontológica da
facticidade absoluta. A este propósito é preciso remeter à densa análise
fenomenológica deste movimento de queda e contramovimento da existência que
Heidegger - sempre em um contexto aristotélico - propõe no curso de 1921/22,
Phånomenologische Interpretationen zu Aristoteles..., GA Bd. 61, p. 117 et seq.
(trad. it., p. 147 et seq.).
51 Natorp-Bericht, p. 255, 260 (trad. it., p. 516, 523).
52 Natorp-Bericht, p. 267 e 268 (trad. it., p. 530-531 e 532). Ver F. Volpi,
L'esistenza come praxis. Le radici aristoteliche della terminologia di "Essere
e tempo", em VATTIMO, G. (Org.). Filosofia '91, Roma-Bari: Laterza, 1992. p.
215-252.
53 Respectivamente Arist., Phys. III 1, 201a 10-11 e 2, 202a 7-8.
54 Cf. Arist., Phys. III 3, 202a 15 et seq., 202b 11 et seq.
55 HEIDEGGER. Grundbegriffe der aristotelischen Philosophie, GA Bd. 18, p. 328,
392.
56 HEIDEGGER. Grundbegriffe der aristotelischen Philosophie, GA Bd. 18, p. 392-
393.
57 HEIDEGGER. Grundbegriffe der aristotelischen Philosophie, GA Bd. 18, p. 393.
58" A questão do ti to on provém da determinação da poiesis e do ser-aí-
presente - poiesis como ser-no-mundo em sentido primário, praxis" (HEIDEGGER.
Grundbegriffe der aristotelischen Philosophie, GA Bd. 18, p. 329).