Relações econômicas Brasil-África: a Câmara de Comércio Afro-Brasileira e a
intermediação de negócios no mercado africano
Ao voltarmos nossa atenção para o processo que envolve as relações comerciais
entre o Brasil e a África nas décadas compreendidas entre 1970 e 1990,
observamos que se trata de um período de intensas transformações no
desenvolvimento desse intercâmbio, registrando destacados picos de elevação e
declínio. Percebemos, também, que são muitas as razões, várias as
circunstâncias, e extenso o número de atores cujos esforços individuais e
coletivos possibilitaram a alavancagem desse intercâmbio, promovendo ações
concretas que permitiram, ao longo do período, o crescimento desse comércio. No
âmbito empresarial, esse esforço possui grande significação, haja vista que,
embora sem apoio governamental não exista exportação, é a presença e o empenho
do segmento empresarial que representa a pedra fundamental e indispensável
nesse processo. Não é à toa que, ao decidir, política e estrategicamente,
buscar mercados, o governo convoca os empresários privados, os quais são
obrigados, por vezes, a enfrentar negociações morosas e complexas para que suas
empresas possam atuar com eficácia.
Este artigo tem como propósito apresentar algumas reflexões acerca da presença
empresarial brasileira no mercado africano enfocando, particularmente,
empreendimentos nacionais que se voltaram ao comércio Brasil-África entre as
décadas de 70 e de 90, um período de grandes transformações no desenvolvimento
desse intercâmbio e, portanto, rico em acontecimentos e experiências. Trata-se,
sobretudo, da tentativa do autor em esclarecer indagações pessoais advindas do
seu exercício profissional, enquanto servidor público de instituição voltada ao
acompanhamento das atividades de comércio exterior. Nesse sentido, o presente
texto objetiva responder a três dessas questões. Primeiramente, sob que
motivações o comércio Brasil-África obteve um notável crescimento no período
compreendido entre os anos 1970 e 1990? Em segundo lugar, quais as perspectivas
que se apresentam para o empresário brasileiro que deseje efetuar negócios
junto ao mercado africano? Em terceiro, qual o estado atual de iniciativas
empresariais que emergiram nessa fase em que a história brasileira registra não
apenas o mais alto crescimento desse intercâmbio, como também o seu mais forte
declínio?
No aprofundamento dessas questões empregou-se como recurso a pesquisa
bibliográfica junto a universidades e instituições brasileiras voltadas para o
comércio exterior.2 Além disso, foram de importante significado os depoimentos
colhidos junto a executivos envolvidos em operações comerciais no mercado
africano e a especialistas em comércio exterior, bem como informações obtidas
em fontes documentais de entidades de reconhecidas participações no incremento
do intercâmbio comercial entre o Brasil e a África: a Construtora Norberto
Odebrecht e a Câmara de Comércio Afro-Brasileira, cuja trajetória singular será
focalizada neste artigo.
No decorrer da pesquisa pode-se constatar que abordar temas que envolvem as
relações comerciais entre o Brasil e a África é tarefa complexa, considerando-
se que não são apenas os Estados que estão em causa, mas também os povos e os
interesses dos agentes econômicos, determinando circunstâncias históricas e
também momentos distintos. Este parece ser o entendimento de Renouvin (citado
por Almeida, 1998:22) ao afirmar que "estudar as influências que se exercem
sobre as relações internacionais deixando de lado o conjunto de circunstâncias
de um momento ou de uma época seria falsear a perspectiva histórica". Dessa
forma, perseguindo uma visão mais ampla das relações econômicas Brasil-África
nas considerações, tornar-se-ão inevitáveis as alusões a fatores políticos e
econômicos que influenciaram o comportamento empresarial brasileiro nas suas
relações com o Continente africano.
Por outro lado, ainda que o propósito deste artigo seja aprofundar o
conhecimento da experiência empresarial brasileira sem adentrar na análise das
histórias individuais de seus atores, emergiu desta pesquisa a trajetória de
vida de um dos executivos entrevistados, o qual nos surpreendeu tanto pela
singularidade do caminho que percorreu na luta pela ascensão econômica e
política dos descendentes de africanos no Brasil, quanto pelo exemplo de
carreira empresarial de sucesso, calcada numa articulada ação político/
comercial de promoção do intercâmbio Brasil-África. Por conseguinte, entendemos
que um breve relato dessa história possa propiciar algum grau de compreensão
sobre o processo de desenvolvimento das relações comerciais entre o Brasil e a
África, e até mesmo oferecer a oportunidade de maior aproximação com essa fonte
viva de pesquisa.
Adalberto Camargo, um empresário negro na política africana do Brasil
A seguir, um pouco da história do ex-deputado federal Adalberto Camargo, cujas
atividades em prol do intercâmbio Brasil-África têm sido alvo de manifestações
diversas da classe dirigente brasileira.
Negro, de origem humilde, Adalberto nasceu em Araraquara (SP), em 1928,
enfrentando condições que aparentemente o predestinariam a uma vida de simples
conquistas. Órfão de mãe aos cinco anos, foi morar com tios em uma fazenda no
interior de São Paulo, onde vendia leite nas redondezas, atividade que mais
tarde foi substituída pelas de vendedor de doces, na estação ferroviária,
engraxate e ajudante de coveiro. Por conta disso, teve curta permanência nos
bancos escolares. Freqüentou a escola até o quarto ano primário, concluído aos
16 anos, idade em que viu o seu pai pela primeira vez.
Nessa idade, sem profissão definida, mudou-se para a capital paulista, onde,
sozinho, manteve-se trabalhando como marceneiro, atendente de armazém, vendedor
de lingerie e auxiliar de tabelião, entre outras ocupações, até transformar-se
em proprietário da maior frota de carros alugados do país ' a Auto-Drive,
inspirada em experiência americana, que revolucionou o negócio de automóveis em
São Paulo. A partir desse negócio, fundou e dirigiu outros empreendimentos,
como a Mecanova S/A, a Afro-América Importação e Exportação e a Táxi
Amarelinho, uma das pioneiras do ramo no Brasil, que consagrou a utilização do
Volkswagen como carro de aluguel, rendendo-lhe grande prestígio junto aos altos
círculos empresariais do país. Elegeu-se membro executivo do Conselho da Câmara
de Comércio Estrangeiro, dirigiu a Federação do Comércio e também o Centro do
Comércio do Estado de São Paulo.
Sua ascensão social é surpreendente, dados os grandes obstáculos que se
interpõem aos negros que pretendem atingir patamares mais elevados na pirâmide
social brasileira (Santana & Camargo, 1999; Santana, 2000). Entrementes,
foi no campo político que sua figura mais se notabilizou. Em 1966, aos 43 anos
de idade, candidatou-se à Câmara Federal pelo Estado de São Paulo, vencendo as
eleições daquele ano com o suporte do "voto racial" da comunidade negra e o
respaldo de suas entidades representativas (Aristocrata Clube, Casa da Cultura
Afro-Brasileira, Grupo de Trabalho dos Profissionais Liberais e Universitários
Negros, entre outras), que em seu primeiro mandato lhe renderam expressivos
dezoito mil votos. Para isso contribuiu a retórica de seu discurso, voltado
para a ascensão da comunidade negra, que buscava ampliar seus espaços de luta
na sociedade. Nesse sentido, Adalberto declarava que:
[...] o negro se comporta como um mato sem raízes, só que mato sem
raiz não dá frutos. Devido ao processo de colonização africana e da
escravidão no Brasil, a comunidade brasileira descendente de
africanos ficou distante de suas raízes e marginalizada no contexto
internacional, em termos de construção da família negra no mundo. Por
isso é muito importante que nós negros não estejamos apenas inseridos
nos relacionamentos ditos culturais, mas também que estejamos
inseridos nos relacionamentos comerciais e políticos que envolvem o
Brasil e a África, pois são esses últimos que envolvem dinheiro e
poder. Isso a nossa comunidade precisa para buscar uma maior
afirmação e respeito da sociedade brasileira e mundial. Por isso é
importante para nós trabalharmos no sentido de buscar interesses
mútuos, tanto para a África como para o Brasil, pois nessa
aproximação o Brasil terá oportunidade de resgatar de maneira
pacífica a grande dívida que contraiu ao longo da história com o povo
africano e, conseqüentemente, com os seus descendentes.
No pleito seguinte, Camargo conseguiu reeleger-se, com 43 mil votos, fato que
repetiu em sucessivas eleições, mantendo-se no cenário político até 1978. Com
os noventa mil votos obtidos no pleito de 1974, tornou-se "a maior expressão
eleitoral negra no Brasil" (Santos, 1993:8), servindo de estímulo para que
outros candidatos negros se lançassem às urnas, muitos deles obtendo
surpreendentes vitórias. Revela ele:
[...] quando comecei a freqüentar o MDB, percebi que todos os
candidatos negros até então só foram candidatos pelo processo
paternalista. Um negro se aproximava de uma liderança política
qualquer, solicitava e conseguia uma legenda. Naturalmente, para
demonstrar que não havia discriminação, porque eles não davam aquele
suporte necessário para o indivíduo se eleger. Ele tinha compromisso
e dívida de gratidão com seu padrinho político. Se eleito nada podia
oferecer à comunidade porque tinha de prestar obediência ao elemento
que o apadrinhou. Isso me levou à conclusão de que devia ingressar na
vida pública sem ter padrinho. Eu não sou caudatário de nenhuma
corrente partidária. Nunca fui da corrente classista, nem ideológica,
nem estudantil, nem sindicalista. Eu era um homem comum, um homem do
interior que veio para São Paulo tentar a vida. Eu fui eleito graças
ao meu comportamento ao longo de toda a minha vida. Se eu tive
capacidade de vender táxi, de ter uma empresa de locação de veículos,
posso ser um político, porque o marketing está aberto. O negro anseia
por alguma coisa e eu vou fazer a minha campanha só no meio negro. Eu
quero a resposta para a pergunta: há realmente na comunidade negra a
expectativa de se auto-afirmar no país? Eu não vou resolver problema
nenhum, vou sim iniciar um processo e os outros que continuem. A
sociedade é mutável e, para o negro, a mutação é no sentido de
melhorar a sua posição dentro da sociedade. Fui eleito dentro do meu
projeto político. Elegi a Theodosina Ribeiro, o Paulo Rui e criei a
Câmara de Comércio Afro-Brasileira para desenvolver um trabalho de
aproximação com nossas origens. Criei, assim, o fenômeno histórico da
maior importância nesse Estado, o negro nas três casas de
representação popular, representação em todos os níveis. Só esse fato
é suficiente para que a comunidade começasse a se conscientizar de
que a sociedade é representativa, e pela primeira vez estávamos
representados. Se representamos bem ou mal, não importa, porque o
negro nunca teve tradição de vida pública, nem exercício da
prática política e muito menos partidária. Negro nunca teve partido
no Brasil. Nunca influiu em nenhum partido. Só começou a ter
importância depois do meu advento. O problema do negro é a causa e
não o partido, o negro nunca pertenceu a partido nenhum [...].
(Valente, 1983:72)
Ao final dos anos 60, funcionavam, em São Paulo, 45 câmaras de comércio,
voltadas a estimular o intercâmbio com diferentes países e constituídas por
empresários que tinham interesses nesses países. Conforme declara Adalberto
Camargo, dada a inexistência de congênere voltada para o mercado africano, ele
fundou, em 1968, a Câmara de Comércio Afro-Brasileira, quando, "para muita
gente, na África só tinha Tarzan e Chita". Visava ao incremento do comércio
bilateral entre o Brasil e o Continente africano, intensificando a aproximação
entre esses povos e fomentando o desenvolvimento de negócios, atividades
culturais, científicas, tecnológicas e de cooperação.
Câmaras de Comércio
Por definição, as câmaras de comércio são associações sem fins lucrativos3 que
congregam comerciantes e industriais que compartilham interesses em determinado
ramo de atividades econômicas ou de negócios. Podem ter caráter regional ou ser
de âmbito internacional, e destinam-se a apoiar as relações empresariais e
econômicas entre os países, promovendo a criação dos meios institucionais mais
adequados para o reforço e desenvolvimento dessas relações (Sandroni, 1999:74).
Prestam serviços de informações de mercados (recolhendo e divulgando dados
sobre indicadores econômicos e sociais, legislação, tecido empresarial,
prospecção de oportunidades etc.). Estudam e analisam problemas suscetíveis de
dificultar o relacionamento empresarial, propondo às entidades oficiais
competentes formas de sanar as dificuldades. Realizam encontros de empresários
para esclarecimento e apresentação de programas e oportunidades, além de
oferecer apoio logístico nos contatos com empresários e entidades estrangeiros
(Daemon, 1986:218).
Histórico e implantação da Câmara
Em 1968, ano de criação da Câmara, a África ressurgia no contexto do governo
militar como uma opção que atendia a amplos interesses do Brasil. O país
buscava reduzir a sua dependência histórica em relação aos Estados Unidos e
aumentar o seu poder de barganha internacional. Para tanto, iniciava uma
política de ampliação de suas relações com o Terceiro Mundo. Instalam-se novos
postos diplomáticos no Continente africano e inauguram-se linhas marítimas
regulares para diversos portos da África. Conforme Skidmore, o ano de 1968
marcou a efetivação do trabalho, levado a cabo nos anos anteriores, de promoção
da mentalidade exportadora: o governo concedeu incentivos à exportação, além de
simplificar regulamentos e de promover a melhoria dos transportes internos
(Skidmore, 1978:22).
De acordo com seus estatutos, a Câmara de Comércio Afro-Brasileira (CCAB),
objetivava: a) promover a cooperação das entidades congêneres nos respectivos
países; b) instituir e desenvolver esquemas informativos sobre mercadorias,
tarifas, direitos e isenções aduaneiras, câmbio, navegação, tratados
comerciais, legislação e jurisprudência relacionadas ao convênio bilateral; c)
promover, organizar ou participar de congressos, seminários, simpósios,
conferências, feiras, exposições e reuniões; d) formular proposições e elaborar
programas visando ao aperfeiçoamento das trocas comerciais entre o Brasil e a
África; e) organizar, coordenar e prestar assistência a missões comerciais
brasileiras na África e vice-versa; elaborar e publicar análises setoriais e
conjunturais das economias africanas; f) recepcionar delegações dos países do
Continente africano em visita ao território brasileiro; promover a capacitação
de recursos humanos para as atividades do comércio internacional, qualificando
mão-de-obra especializada; g) editar revistas, jornais, boletins informativos,
monografias, perfis promocionais e publicações similares, a fim de divulgar
tudo que possa interessar à promoção, bem como à intensificação da atividade
diplomática, comercial e cultural entre o Brasil e os países do Continente
africano.
O surgimento de uma entidade com o perfil da Câmara de Comércio Afro-
Brasileira, nessa conjuntura, revestiu-se de singular relevância. Fazendo eco
às propostas do governo de ampliar as relações com o Continente africano, a
nova entidade ganhava as atenções e o importante apoio governamental em muitas
das iniciativas por ela protagonizadas. Sua representatividade reforçava-se
pelo fato de sua liderança ser exercida por um empresário negro bem-sucedido,
que era, ao mesmo tempo, um político ligado ao governo militar, o que
certamente possibilitou que a Câmara obtivesse simultaneamente expressiva
aceitação no seio do empresariado nacional, notoriedade nos círculos
governamentais e a simpatia das representações africanas.4
Até o início de 1972, as atividades da Câmara limitaram-se ao estabelecimento
de contatos iniciais e ao levantamento de dados5 com vistas à composição de seu
acervo documental e à formação de sua biblioteca. Em maio desse mesmo ano, em
cooperação com a Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo do Estado de São
Paulo, a Câmara organiza a 1ª Semana Afro-Brasileira, levando à Assembléia
Legislativa do Estado de São Paulo o ministro encarregado dos Negócios da
Nigéria e vários embaixadores africanos.
Aproveitando a via de negociações aberta em novembro de 1972, com a visita
oficial do ministro Gibson Barbosa a diversos países da África Ocidental, a
Câmara iniciou um projeto similar: reuniu empresários brasileiros e os
estimulou a comercializar diretamente com empresas africanas, eliminando as
costumeiras triangulações efetuadas pelas tradings européias que reexportavam
os produtos brasileiros para o Continente africano. Para tanto, uma equipe de
técnicos da FAG ' Traço, Arquitetura Promocional S.A., empresa brasileira
contratada pela CCAB ' viajou por diversos países africanos em trabalhos de
prospecção. Estabeleceu contatos preliminares e realizou estudos de viabilidade
que se concretizaram na 1ª Missão Comercial Brasileira a Países da África, cujo
propósito era promover a colocação de produtos e serviços brasileiros no
mercado africano por meio da mostra direta e de contatos pessoais com
importadores, comerciantes, industriais, financistas e homens de governo.
A primeira missão comercial brasileira a países da África
A iniciativa teve lançamento oficial em maio de 1973, num jantar para
quinhentos convidados no Hotel Hilton-SP, com a presença do ministro das
Relações Exteriores do Brasil, do governador do Estado de São Paulo, de
embaixadores africanos e de diversas lideranças governamentais e empresariais,
o que demonstra o prestígio da entidade e a representatividade do evento. Em
discurso pronunciado naquela oportunidade, o ministro Gibson Barbosa
enfatizava:
Esta missão pioneira [...] realmente corresponde à intenção com que o
Governo enviou uma missão oficial à África, pois é isso que queremos.
Nós podemos apenas abrir as portas e indicar caminhos e dar a moldura
legal, jurídica, através de acordos internacionais para que os
senhores, simultaneamente, façam a verdadeira obra de aproximação e
de cooperação com todos esses países. Essa iniciativa, portanto, só
pode ser objeto dos aplausos mais sinceros por parte do Governo.6
A viagem realizou-se no período de 25 de setembro a 29 de outubro de 1973, com
a participação de 37 representantes de indústrias brasileiras,7 além de cinco
funcionários governamentais,8 fortalecendo a representatividade da delegação
que percorreu Senegal, Costa do Marfim, Gana, Togo, República Popular do Benim
(antigo Daomé), Nigéria, Camarões, Zaire e Líbia. Acompanhava a Missão uma
mostra itinerante com mais de duzentos produtos de origem brasileira que eram
apresentados em exposições montadas em cada uma das capitais visitadas.
Assim, compradores e governos africanos tomavam conhecimento do estágio de
desenvolvimento brasileiro e, aos participantes da delegação brasileiras, eram
proporcionados meios de aferirem a realidade econômica dos países independentes
da África. Os empresários brasileiros pouco conheciam da realidade africana, o
que pode ter criado dificuldades para a realização de muitos negócios. Além
disso, a influência política do presidente da Câmara junto ao empresariado e ao
governo da época representava um grande trunfo para a viabilização de
empreendimentos promovidos pela entidade. Tudo isso fica evidenciado neste
depoimento de Adalberto Camargo:
Nenhum de nós tinha ido para a África antes. Ninguém sabia nada, nem
tinha informações em lugar nenhum. Aí eu fiz um questionário para
poder elaborar o projeto e informar à comunidade brasileira [...]
quanto a reservas de hotéis, translado, custo de viagem, eu fiz um
acerto com o Banco Real através da Turismo Real. Eu expliquei para o
Diretor do Banco qual era o objetivo e a proposta e eles financiaram
os empresários. O empréstimo foi feito sem a mínima obrigação. Só com
a minha garantia. Na base do meu pedido, de meu nome. Em função disso
mais tarde, eu propiciaria a ele a oportunidade de começar os
contatos para abrir uma agência do Banco Real na Costa do Marfim.
[...] eu exigi do governo que a delegação tivesse representante do
governo e então eles me indicaram cinco representantes. O Delfim Neto
numa audiência que teve comigo me prometeu dois, representando o
Ministério da Fazenda. O Gibson me pediu para incluir a Libéria no
roteiro e veio fazer o discurso de lançamento da Missão [...].
Competia à Câmara representar oficialmente a exposição perante os poderes
públicos nacionais e estrangeiros; convidar governos e empresários para
participar da mostra ou visitá-la; manter serviços de divulgação, segurança,
orientação e assistência aos expositores; promover a aproximação entre os
membros da delegação e as entidades interessadas.
A realização de uma missão comercial na África pela Câmara de Comércio Afro-
Brasileira foi um empreendimento marcado pelo pioneirismo, dada a complexidade
que envolve tal operação, o variado leque de atores, recursos e cenários
envolvidos.9 Sem contar que o reduzidíssimo número de executivos negros em
posição de comando nas empresas brasileiras implicaria a formação de uma
comitiva cuja ausência de afro-brasileiros poderia causar constrangimentos, com
repercussões negativas no decurso das negociações.
Eu fiquei preocupado de levar uma missão comercial para a África que
não tinha empresário negro. Eu mandei fazer uma pesquisa para
levantar quais eram os empresários negros preparados e não achei. Eu
fui obrigado a travestir onze negros como empresários para levar
nessa missão. Eu tive que fazer uma certa ginástica, pois eu fiquei
pensando: bem, vou fazer uma missão comercial do Brasil para a
África, levando quarenta e cinco empresários brasileiros e vou levar
quarenta e cinco brancos? Vão ver isso como missão de capitão do mato
na África. Sabe o que eu fiz? Consegui que onze empresários
permitissem que eu escolhesse onze negros para ir lá representar suas
empresas e fazer o jogo. Esses negros foram ganhando. E eu fui
fazendo o meu cinema, meu filme. Fui tomar conta do filme. Eu fiz
isso, eu consegui convencer as empresas, dentre elas uma empresa
israelense.
Outra situação delicada enfrentada pela delegação relacionava-se à comparação
que com certeza se estabeleceria entre as empresas brasileiras e aquelas
tradicionalmente estabelecidas no Continente africano. As intensas ligações
mantidas com a Europa e a longa tradição de contato com empresas e produtos
europeus haviam desenvolvido vínculos de confiança e preferência entre os
consumidores africanos. Além disso, uma cotidiana troca de informações permitia
a atualização constante desses consumidores em relação aos produtos e serviços
europeus, tornando-se plausível que as ex-metrópoles, por meio de empresas
instaladas na região, buscassem exercer o controle sobre as novas iniciativas
que se apresentassem, conforme se pode depreender do seguinte depoimento:
O Banco Nacional de Paris na época era o único que atendia ao esquema
de pagamento do comércio entre a África e o resto do mundo. Aí o seu
presidente, Joseph Ferré, mandou me chamar por conta da Missão. Disse
que queria colaborar e fez uma pequena cartilha recomendando a cada
membro da delegação que abrisse uma conta no BNP, quer dizer: ele
previu que dessa missão iriam surgir muitos negócios e queria todos
nós, exportadores, como clientes do BNP, porque, como ex-
colonizadores, eles dominavam o esquema financeiro da África. Todos
as transações internacionais dependiam do BNP e eles queriam manter
esse controle sobre a delegação brasileira.
Por fim, a complexidade de uma operação desse quilate acentuava-se na medida em
que a África, rica em sua diversidade cultural e em potencialidades de
comércio, constituía um mercado praticamente desconhecido para a quase
totalidade dos empresários brasileiros. Nesse aspecto, Pereira apontava na
época que:
O modo como a África é vista ou a imagem que dela nos é dada para
consumo constitui um exemplo marcante desse colonialismo cultural.
Apresentada como uma totalidade amorfa, onde a diversidade só é
mostrada pela atomização tribal, a África é analisada ainda hoje
entre nós em termos discriminatórios. Nessa visão europocêntrica da
História impera uma concepção dualista, falsa, maniqueísta. Segundo
ela, as metrópoles possuiriam cultura de valor; a África, costumes
exóticos. O que é filosofia e religião na Europa toma os nomes de
crendice ou superstição na África. As lutas sociais nas metrópoles,
analisadas pela sociologia e pela ciência política, na África são
reduzidas a lutas tribais ' chave explicativa para todos os conflitos
' e entregues ao estudo de uma antropologia de matriz colonial. No
estudo da formação de nossa nacionalidade, a participação dos
africanos e de seus descendentes é escamoteada e relegada a uma
"contribuição ao folclore, à culinária e ao misticismo". A África
permanece para a maioria dos brasileiros reduzida a uma imagem
simplificada por quatro t: tribo, tambor, terreiro e ...Tarzan
(Pereira, 1978:16).
Para atenuar as dificuldades, o corpo diplomático brasileiro forneceu o apoio
logístico: recepção, chancela oficial da operação, facilitação dos trâmites
burocráticos e acesso a personalidades locais. Cabe ressaltar que em 1973, sob
o Governo Médici, desenvolvia-se um amplo projeto comercial voltado para o
Continente africano em que diplomacia e agências de governo articulavam-se no
sentido de fornecer um tratamento especial às iniciativas orientadas nessa
direção. Dessa maneira:
[...] a delegação foi acolhida com grande simpatia pelos parceiros
africanos, sendo importante a participação do governo brasileiro que,
através do Itamaraty e das embaixadas brasileiras nos países
visitados, facilitou os contatos com os governos e empresários
africanos. Então, quando a delegação chegava em cada país, já estava
tudo organizado e programado. Tudo esquematizado, convites
distribuídos e contatos agendados com as personalidades do governo e
empresários africanos...
Sob o ponto de vista do intercâmbio comercial, a Missão rendeu dividendos
positivos, especialmente às empresas que dela participaram, fazendo aumentar o
interesse de compradores africanos por produtos brasileiros, como também o de
importadores brasileiros por produtos africanos. Isso pode ser inferido
parcialmente das estatísticas oficiais brasileiras no ano imediatamente
seguinte: de 1973 para 1974, as exportações brasileiras cresceram 129,1%,
passando de US$ 190.001.000 para US$ 435.323.000, enquanto as importações
originadas do Continente africano tiveram o expressivo crescimento de 300,2%,
avançando de US$ 169.903.000 para US$ 679.998.000.
O apogeu da Câmara
A partir de 1973, os contatos brasileiros e africanos se intensificaram. A
Câmara experimentou um efetivo crescimento do seu quadro de filiados, que em
1976 somavam 102 empresas, indicando o aumento na solicitação de serviços. Com
isso, aumentava a especialização de seu quadro operacional, cuja estrutura
apresentava novo dimensionamento, com quatro diretorias e vários departamentos,
além da presidência e da vice-presidência. Da mesma forma, amplia-se o número
de correspondentes associados no Brasil e no exterior, demonstrando um esforço
agressivo em busca de novas oportunidades no Continente africano. Cresce também
o número de participações da Câmara em feiras, missões comerciais e outros
eventos no Brasil e no exterior.10
O trânsito político do então deputado federal Adalberto Camargo dava à entidade
maior visibilidade, favorecendo os contatos nos meios diplomáticos e
empresariais. Nas palavras do embaixador Asdrúbal Pinto de Ulysseia, chefe do
Departamento de África do Ministério das Relações Exteriores:
O deputado Adalberto Camargo é um amigo de longo tempo e conhecido do
Itamaraty. Nós todos, lá, temos por ele um apreço muito grande. Não
só ele tem dado muito de si para esse trabalho de congraçamento com a
África, mas ele tem sido também um assessor que conosco troca pontos
de vista. E nós, naturalmente, que não nos consideramos donos da
verdade, nos sentimos extremamente felizes em poder trocar idéias com
homens como Adalberto [...]. (AfroChamber, 1983:12)
Nesse contexto, o quadro associativo da Câmara chegou a contar com cerca de
trezentos filiados ' empresas de médio e grande porte que se utilizavam do
assessoramento da entidade na busca de informações sobre a África.11 A esse
respeito, os convênios mantidos com órgãos governamentais relacionados ao
comércio exterior eram de fundamental importância, bem como o acervo documental
da entidade, mantido por meio da assinatura ou intercâmbio de periódicos e
revistas africanos, de cujo noticiário se extraia material editorial para o
Relatório Informativo distribuído quinzenalmente aos seus associados. Editada
pela Câmara, a revista AfroChamber chegou a atingir uma tiragem de vinte mil
exemplares,12 apresentando um painel atualizado com informações sobre empresas,
oportunidades de negócios, feiras e eventos, no Brasil e na África. Dirigida a
empresários, era também distribuída entre representações governamentais
brasileiras e de outros países.
Por sua vez, a proximidade do seu presidente junto aos altos círculos de poder
atraía a presença, a adesão e o respaldo do Estado aos eventos promovidos pela
Câmara, a exemplo do 1º Simpósio Brasil-África de Comércio, realizado em
novembro de 1980 com o objetivo de identificar possibilidades e interesses que
pudessem estimular novos esforços de cooperação mútua. Os Ministérios das
Relações Exteriores, da Fazenda, da Agricultura, da Indústria e do Comércio,
juntamente com a Secretaria de Planejamento da Presidência da República, a
Secretaria da Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo
e o Banco do Brasil, foram os patrocinadores do simpósio, que teve como
palestrantes o governador do Estado de São Paulo, ministros e embaixadores
brasileiros, entre outras autoridades.
Ao final do ano seguinte, a participação africana no total das exportações
brasileiras cresce a níveis surpreendentes, alcançando 8,4%. O comércio Brasil-
África atinge sua "época de ouro". De fato, podemos observar que em 1984 as
exportações para aquele Continente chegam a US$ 1,976 bilhão, representando
7,3% das exportações totais brasileiras, e em 1985 alcançam o pico de US$ 2,021
bilhões, ou seja, 7,9% das exportações totais.
O declínio da Câmara
Nesse contexto, a figura parlamentar de Adalberto Camargo enfrenta o declínio
político. Não conseguindo a reeleição no pleito de 1984, ele se afasta da vida
política, o que parece afetar diretamente o dinamismo que a entidade havia
alcançado na década anterior. A perda do espaço político certamente retirava-
lhe certo poder de manobra e de influência junto ao empresariado e ao governo
no sentido de mobilizá-los e atraí-los para as iniciativas de interesse da
entidade. As atividades da Câmara se reduzem e os relatórios de atividades
enviados aos filiados deixam de ser produzidos.
Por sua vez, o novo panorama que ao fim da primeira metade dos anos 80 se
descortina no Brasil, na África e no sistema internacional impõe dificuldades
em ambos os lados do Atlântico. Diante disso, decai o interesse brasileiro pelo
Continente africano. As taxas de juros do dólar, que eram de 3% a 4% em 1973,
se elevam para 22% e 23% em meados dos anos 80. Na África, os golpes de Estado
e a instabilidade política marcavam a vida do Continente. Os efeitos da dívida
externa, a insuficiência de recursos para o desenvolvimento e os rigorosos
programas de ajustamento estrutural coordenados pelo FMI e pelo Banco Mundial
fragilizaram as economias africanas, reduzindo a capacidade destas em ampliar o
comércio exterior para os mercados do Sul.13
No Brasil, a dívida externa passa de U$ 25 bilhões em 1975 para US$ 105 bilhões
em 1985, e a sua renegociação resulta em perda de liquidez da economia. Com
isso, reduz-se também a capacidade do país em dar sustentação a sua política
comercial em direção ao mercado africano (d'Adesky,1998:2). Em 1986, o volume
das exportações para a África sofre uma redução significativa, de US$
1.076.575.000, com a participação no total das exportações brasileiras
diminuindo de 7,9 para 4,2%. Essa queda vai tornar-se mais acentuada nos anos
90, quando as exportações para a África experimentaram, de 1992 a 1996, um
quadro de estagnação, com resultados em torno de US$ 1,5 bilhão, muito aquém do
pico alcançado em 1985. Com tudo isso, em 1996 o mercado africano representava
apenas 3,2% das exportações brasileiras.
Como se vê, a crise da "década perdida" arrefeceu o comércio com o Continente
africano, fazendo reduzirem-se ainda mais as atividades da Câmara. Na
atualidade, esta já não exibe o vigor nem o dinamismo antigos, tampouco a
imagem arrojada que a consagrou nos anos 70 e possibilitou a realização de
diversos negócios, incrementando o comércio entre o Brasil e a África. A
criação da Câmara foi, sem dúvida, uma iniciativa pioneira e de grande
significado para o crescimento desse intercâmbio. Atualmente, contudo, ela
demonstra pouca expressão na conquista de novos negócios e reduzida capacidade
de atrair novas filiações ou mesmo de atender solicitações de serviços que
costumava prestar. A esse respeito, considere-se que as receitas auferidas
pelas câmaras de comércio, embora estas sejam caracterizadas como entidades sem
fins lucrativos, provêm de quotas pagas por seus filiados e das atividades de
prestação de serviços que elas realizam. Qual seria então a estratégia a
implementar para dinamizar a Câmara e aumentar o número de filiados e de
atividades de prestação de serviços?
Seguramente, as oportunidades de negócios no Continente africano existem; o que
falta é mais agressividade da ação empresarial para aproveitá-las. Como
exemplos, podemos tomar países que exibem elevados níveis de exportações para o
Brasil, sem que haja uma correspondente contrapartida de exportações
brasileiras. Aí estariam incluídos a Argélia, o Congo e a Costa do Marfim, de
onde o Brasil importa uma elevada quantidade de produtos, mas para os quais não
exporta em nível proporcional. Trata-se de importantes mercados consumidores
que, por falta de uma agressiva política de colocação da oferta exportável
brasileira, tornam-se cativos compradores de produtos europeus, conforme
demonstramos abaixo:14
No ano 2000, enquanto as exportações brasileiras para a Argélia foram de US$
41.405.084, as importações provenientes daquele país alcançaram a cifra de US$
1.507.250.981. A Argélia é uma das mais ricas nações da África. Importa de
países como Itália, Estados Unidos, França e Espanha cerca de 40% dos alimentos
consumidos por sua população, além de veículos e bens de capital. Trata-se de
itens que o Brasil produz e em relação aos quais o mercado exportador
brasileiro exige a busca de fórmulas inovadoras que viabilizem operações.
Exportando para o Brasil um montante de US$ 3.823.934 em contrapartida a uma
importação de US$ 74.008.278, o Congo é uma economia fundamentada
principalmente na agricultura de subsistência. Possui poucas indústrias
manufatureiras e a quase totalidade dos produtos industrializados que consome
provém da França e da Holanda. Suas principais indústrias processam produtos
agrícolas, tecidos, cimento, calçados e presunto. Desde 1998, está sendo
implementado um plano de reconstrução nacional para a reabilitação de serviços
de transporte, telecomunicações, saúde e administração pública.
De acordo com o Anuário Abril-2001, a Costa do Marfim é uma das nações mais
prósperas do Oeste africano em razão de sua produção agrícola e mineral. Nos
últimos anos o governo tem estimulado o crescimento de setores da indústria
alimentícia (como os de palmito e peixes) e têxtil, mas o volume das
importações é elevado, com predominância de produtos oriundos da França,
Estados Unidos, Holanda, Gana, Itália e Burkina Faso. As exportações
brasileiras para a Costa do Marfim no ano 2000 foram de US$ 21.629.840, tendo o
cacau como principal produto, enquanto as importações, pelo Brasil, de produtos
daquele país atingiram US$ 63.288.588.
As novas oportunidades de negócios não se encerraram nos exemplos desses
grandes exportadores de petróleo, pois, segundo Pimentel (2000:17), outros
mercados também revelam uma oferta potencial de novas oportunidades comerciais
para o Brasil, tendo inclusive motivado recentes incursões de empresas
brasileiras, assentadas sobre um projeto âncora ou uma idéia-força. Nesse caso
se incluem: a República dos Camarões, país em que a Andrade Gutierrez vem
desenvolvendo empreendimentos promissores; o Gabão, onde se efetuam negociações
para a instalação de uma mini-siderúrgica pela Iscom; Gana, que se tem
distinguido no interior da CEDEAO15 pelo equilíbrio da atuação diplomática e
pelo estímulo à integração econômica; a Guiné Equatorial, onde a Braspetro
desenvolve negociações; o Mali, alvo de atenções do Banco Mundial e para o qual
a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco ' Codevasf elaborou
importante projeto; a Namíbia, que oferece condições excepcionais para a
entrada de produtos brasileiros em território africano e com a qual a Marinha
do Brasil mantém exemplar cooperação.
Pontos de estrangulamento na Câmara
Como se vê, tais mercados mereceriam maior investimento de esforços da Câmara
no sentido de identificar negócios que despontam nesses países e que são do
interesse de empresas brasileiras. No entanto, a participação da Câmara em
feiras internacionais, um instrumento potencializador de oportunidades,
diminuiu e a sua atuação na dinamização do comércio com esses países se vê
limitada em função da restrição de seus recursos técnicos, humanos e
administrativos para a promoção de negócios. Por exemplo, a partir de 1994 a
Câmara parou de editar a revista AfroChamber, importante veículo de promoção de
negócios, fechando um eficiente canal de comunicação com empresas e governos,
potenciais demandadores de seus serviços. Segundo o presidente da entidade,
reduziu-se "bastante" a demanda de prestação de serviços da Câmara, bem como o
número de seus filiados, que "caiu para cerca de 50".16 O quadro interno de
funcionários também se restringiu, e hoje "gira em torno de 10 pessoas".
A esse respeito, entendemos que, para executar as atividades previstas nos seus
estatutos, a entidade conta com um reduzido quadro de recursos humanos, o que
certamente limita a sua dinamização, considerando-se que, diferentemente de
suas congêneres,17 a atuação da CCAB pretende abarcar um vasto leque de países
que nem sempre dispõem de sistemas de informação eficientes. Se compararmos a
atuação da Câmara de Comércio Afro-Brasileira com outras de atuação bilateral,
deveremos constatar um nível mais baixo de produtividade na realização de seus
serviços, com reflexos inclusive na qualidade da informação. A nosso ver, as
câmaras de comércio bilateral favorecem o aprofundamento e a qualidade de
processamento das informações, tornando possível melhorar o nível de
especialização de seus funcionários. Acreditamos que no caso da Câmara de
Comércio Afro-Brasileira a segmentação dos serviços em departamentos regionais
(África do Norte, África do Leste, África Austral etc.) poderia constituir-se
em alternativa a ser estudada para aumentar a produtividade e mesmo a
especialização, dados os poucos recursos humanos de que ela dispõe.
A entidade é administrada a partir de uma estrutura hierárquica simples,
liderada desde a sua criação pelo mesmo presidente, ao qual se subordinam um
vice-presidente, um diretor e uma secretária, além dos demais funcionários, que
executam os serviços demandados à entidade. Percebe-se ali uma estrutura de
comunicação do tipo "cubo e raios", em que o presidente representa o pólo
difusor e receptor de todas as informações. Sob esse aspecto, a estrutura da
entidade se assemelha às de organizações do tipo "empresa familiar", em que as
estratégias empresariais e sua sistematização são repassadas da "cabeça do
proprietário-controlador" para seus colaboradores (Bernoeft, 1989). Como sugere
o depoimento seguinte, há uma forte concentração de poder e de controle das
decisões sobre um único indivíduo, o que pode ocasionar dificuldades adicionais
para implementar processos de mudança na organização, além de criar obstáculos
ao curso sucessório na entidade: "Qualquer informação tem que ser comigo.
Ninguém aqui está autorizado a dar informação sem minha ordem" (Hartmann, 1997:
48; Scheffer, 1993).
Nessas condições, entendemos que os sistemas de administração e comunicação
carecem de práticas modernas de gestão e de descentralização de poderes com
vistas a permitir a maior difusão das informações, especialmente por se tratar
de organização voltada para o comércio exterior, o qual se desenvolve num
ambiente internacional de contínuas transformações e incorpora fatores
altamente sensíveis a modificações. A esse respeito, Sato (2000:138) salienta
que:
[...] mudanças tecnológicas, por exemplo, em um curto espaço de
tempo, podem alterar fluxos comerciais e financeiros tornando um
grande negócio de hoje uma atividade econômica inviável amanhã.
Disponibilidade de mão-de-obra e de recursos naturais deixaram de
ser, a médio prazo, garantias para as nações. Mesmo estruturas
industriais maduras, para não serem ultrapassadas, precisam
modernizar-se continuamente tanto do ponto de vista tecnológico
quanto administrativo [...]. Países e regiões não se transformam na
mesma direção e quando, porventura, o sentido das mudanças pode ser
considerado semelhante, a velocidade com que esse processo ocorre
difere substancialmente de lugar para outro [...].
Constatamos na Câmara um reduzido grau de aproveitamento das modernas
tecnologias de informação. A Internet, por exemplo, é uma importante ferramenta
empresarial, por permitir a troca de informações a um custo baixo e de maneira
simples e rápida. Nas operações de comércio exterior, trata-se de instrumento
imprescindível no que se refere a pesquisas, atualização de dados e envio de
correspondência. Embora a CCAB disponha de um endereço eletrônico, grande parte
de sua correspondência ainda é enviada, desnecessariamente, por via postal, o
que implica custos mais elevados e menor agilidade da informação.
Além disso, a inexistência de um website da Câmara limita o alcance de sua
visibilidade no mercado. Com uma homepage, poder-se-iam trocar informações de
parte a parte com muito mais eficiência, sanar dúvidas, gerar curiosidade e
interesse em brasileiros e africanos, contribuindo para reduzir o ainda grande
desconhecimento desses mercados. Conforme se depreende da fala de Aderaldo O.
Anjos, vice-presidente da CCAB, há necessidade de maior informatização da
entidade:
[...] o banco de dados e os nossos arquivos já estão meio defasados,
inclusive estamos levantando dados sobre o que você faria para
viajar, comer, tentando atualizar. Antes a gente tinha tudo isso em
pasta, atualmente vai ter que se jogar tudo isso no computador e
[...] se aparecer uma pesquisa de um determinado país, temos que
recorrer ao próprio país, porque nosso banco de dados está
desatualizado. Para mim, o futuro é informatizar toda a Câmara para
atender aos associados de uma maneira rápida e com dados atuais
[...].18
Por outro lado, a rede mundial de computadores parece provocar uma certa
redução da demanda dos serviços das câmaras de comércio, restringindo-lhes as
fontes de receita. A esse respeito, poder-se-ia tomar como exemplo a
experiência da Mendes Júnior Trading e Engenharia S.A., sediada em Belo
Horizonte, que usa a Internet para identificar negócios de interesse da
empresa: "O serviço é utilizado com o objetivo de propiciar o desenvolvimento
das ações iniciais que possam conduzir à materialização de negócios", afirma o
engenheiro Victório Duque Semionato, diretor de negócios estratégicos da
empresa, acrescentando ainda que, levantadas as informações comerciais dos
novos negócios, juntam-se "as informações recebidas das embaixadas brasileiras,
que nos permitem ter conhecimento das oportunidades existentes em vários países
e analisar as tendências dos negócios no mercado internacional. Assim, no caso
de interesse em determinados negócios, solicitam-se informações adicionais para
análise" (Web, 2001).
A partir de 1998, o Ministério das Relações Exteriores criou a Brazil Trade Net
(www.braziltradenet.gov.br), serviço de informações gratuito voltado para a
atividade exportadora e para a atração de investimentos estrangeiros. Nesse
site, que recentemente atingiu a faixa de 500 mil acessos, estão cadastradas
cerca de 49 mil empresas estrangeiras e 13 mil nacionais, apresentando
oportunidades de negócios e estudos de mercados na área de serviços e de
produtos não-tradicionais (Itamaraty, 2001).
Torna-se evidente que, para permanecer atuando no mercado e aumentar a
eficiência de seus resultados, a Câmara de Comércio Afro-Brasileira precisa
ampliar o seu quadro de filiados e, mais que isso, implementar ações no sentido
de atrair negócios que promovam o crescimento da demanda de serviços da
entidade. Percebe-se que iniciativas potencialmente catalisadoras de negócios,
como seminários, missões comerciais e participação em feiras internacionais,
deixaram de acontecer ou perderam a freqüência dos anos iniciais da entidade.
Isso, além de reduzir o peso e a força da entidade na atração de novos
filiados, implicou a perda de diversas oportunidades de prestação de serviços.
A Câmara de Comércio Brasil-República Sul-Africana: um exemplo a seguir?
Uma nova Câmara de Comércio emerge no cenário das relações Brasil-África.
Trata-se da Câmara de Comércio Brasil-República Sul-Africana, criada em 1991,
cuja atuação oferece importante contribuição ao crescimento do comércio
brasileiro com a África do Sul, país que, a partir de 1994, se tornou o maior
importador de produtos brasileiros no Continente africano. Uma visita técnica à
Câmara de Comércio Brasil-República Sul-Africana conduziu-nos à percepção de
que ali se desenvolve um exemplo modelar da nova experiência empresarial
brasileira no Continente africano. Entendemos que, por se tratar de nações
cujos sistemas de informação nem sempre são eficazes, o relacionamento
bilateral parece produzir maiores resultados do ponto de vista do estreitamento
de relações e da cooperação entre órgãos representativos dos dois países.
Ademais, esse relacionamento se nos afigura a conduzir a um maior
aprofundamento e especialização das informações, constituindo-se num
instrumento importante na elaboração de estratégias de atração de negócios
dessa Câmara.
Entre outras constatações, observamos que a Câmara de Comércio Brasil-República
Sul-Africana faz uso de modernos recursos de administração, o que lhe garante
maior rapidez e qualidade nas informações, as quais provêm de um banco de dados
atualizado por especialistas em comércio exterior. Verificamos também que seu
trabalho se desenvolve em estreita colaboração com a Embaixada da África do
Sul, em cuja homepage estão inseridas informações sobre a entidade, conferindo-
lhe maior visibilidade e representatividade no mercado empresarial. Constatamos
ainda que existe um extenso cronograma de visitas, palestras e missões
comerciais, evidenciando a existência de uma coordenada política de atração de
novos negócios e filiados.19
Nesse sentido, observa-se que, ao longo desses anos, a entidade vem se tornando
uma referência para empresários interessados em exportar para a África do Sul.
Demonstrando o empenho dessa Câmara em gerar oportunidades que se convertam em
negócios, Fernando Tomé, manager da Câmara de Comércio Brasil-República Sul-
Africana, declara que:
[...] a matéria-prima do nosso trabalho é a informação comercial.
Todavia, em virtude da representação relativamente pequena que a
África do Sul tem no Brasil, a Câmara acaba extrapolando a área
comercial e presta informações das mais diversas voltadas a turistas,
estudantes e a quem estiver interessado em conhecer um pouco mais do
país, pois entendemos que dessa forma estamos incentivando
indiretamente o comércio. O papel político também é considerado, uma
vez que acordos diplomáticos, comerciais e técnicos aproximam ainda
mais os dois países. Por isso, cultivamos um relacionamento estreito
com o Ministério das Relações Exteriores, assim como estamos sempre
presentes nas recepções de autoridades sul-africanas aqui no Brasil.
O estreito contato com associações de classe (Federações de
Indústria, Sebraes, associações de fabricantes etc.) tem se mostrado
eficiente, fazendo-nos atingir um maior número de candidatos à
exportação/importação para/da África do Sul. Mantemos um convênio com
universidades sul-africanas onde duas vezes por ano recebemos turmas
de executivos e futuros executivos, estudantes de MBA, para quem
ministramos palestras e os acompanhamos em visitas para conhecimento
da realidade brasileira. [...] A divulgação de feiras sul-africanas
para empresários brasileiros vem sendo feitas de várias maneiras e
alcançando muito sucesso, pois sabemos que é uma das maneiras mais
simples e eficazes de introdução do produto made in Brazilno mercado
sul-africano. Por exemplo, nessa última feira em 2001, o estande do
Brasil, que nós coordenamos, ganhou o primeiro lugar entre todos os
estandes da feira. As feiras sul-africanas a cada dia se especializam
e crescem em tamanho e importância, na mesma medida que vem crescendo
o interesse do empresariado brasileiro na África do Sul.20
A tais afirmações, deve-se acrescentar que a estrutura de recursos humanos da
Câmara de Comércio Brasil-República Sul-Africana compõe-se de doze
profissionais de formação especializada ou de nível superior que se utilizam de
modernas ferramentas de gestão e abordagem de negócios. Isso sugere haver ali a
efetiva visão de negócios que parece ter se enfraquecido ao longo do tempo na
Câmara de Comércio Afro-Brasileira, o que teria contribuído para reduzir a
eficiência dos seus resultados.
Diante dessas considerações, entendemos que o modelo de atuação da Câmara de
Comércio Afro-Brasileira necessita de séria revisão no sentido de dotá-la de
maior dinamismo para atender a um mercado cada vez mais exigente e que requer
das empresas o desenvolvimento de sua capacidade estratégica. Para tanto,
listamos aqui alternativas que, em nossa visão, poderiam contribuir para a
reversão da tendência declinante dessa atuação:
a) criação de departamentos regionais (África do Norte, África
Oriental, África Austral etc.) chefiados por especialistas;
b) na ausência de recursos para contratação de especialistas, seria
essencial limitar a atuação da Câmara, escolhendo regiões ou países
estratégicos, como por exemplo produtores de petróleo, países de
língua portuguesa etc;
c) produção de relatórios anuais e de perfis socioeconômicos de cada
país;
d) arregimentação de novos sócios com campanhas de telemarketing e de
assinatura da revista AfroChamber;
e) dinamização dos contatos mediante a organização de visitas de
empresários africanos ao Brasil;
f) realização de pesquisas de mercado para produtos específicos;
g) criação de banco de dados com atualização permanente;
h) produção de página na web.
Entendemos que a entidade tem muito a contribuir, especialmente no horizonte
desta nova ordem mundial em que novas formas de integração política e econômica
se estabelecem buscando maior cooperação nos vários setores, a exemplo da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa,21 da Zona de Paz e Cooperação do
Atlântico Sul22 e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (Southern
African Development Community ' SADC),23 destinadas a promover a aproximação
entre seus membros e formar parcerias para fortalecer ações bilaterais e
negociações junto aos países industrializados.
Além disso, acreditamos que a dinamização do comércio Brasil-África continua
sendo um imperativo estratégico na razão direta dos nossos progressivos
déficits na balança comercial com aquele continente. As potencialidades desse
intercâmbio existem, pois, em que pese à debilidade da situação econômica de
muitos países, há várias economias africanas que desde 1994 vêm obtendo taxas
anuais de desenvolvimento econômico superiores a 5%, com alguns desempenhos
individuais destacados acima de 10%, o que justifica maior interesse e
agressividade das empresas brasileiras (Pimentel, 2000:6).
Por fim, entendemos que a Câmara de Comércio Afro-Brasileira teve destacado
papel na dinamização das relações entre o Brasil e o Continente africano, e que
a vasta experiência acumulada ao longo dos anos constitui importante legado
para o desenvolvimento de negócios. Ademais, não se podem desprezar as
oportunidades abertas, o vasto número de africanos formados por escolas
brasileiras que ampliaram o conhecimento mútuo das realidades de lá e de cá,
tampouco o vasto legado de capital humano composto por engenheiros, técnicos e
diplomatas brasileiros que viveram na África no período áureo do comércio
bilateral. Um capital que vem sendo reforçado por associações de empresas que
demonstram claramente um elevado interesse em fechar negócios com os países
africanos, como o COLYMAR (Círculo Olympio Marques ' Centro de Empresários
Afro-Brasileiros), o CEM (Centro de Estudos e Aperfeiçoamento de
Empreendedores) e o CEABRA (Coletivo de Empresários Afro-Brasileiros).
Perspectivas empresariais em horizonte futuro: últimas considerações
Ao voltar a atenção para as relações comerciais Brasil-África, observamos
tratar-se de um intercâmbio de há muito estabelecido, mas que, no cômputo
geral, ganhou relevância no período compreendido entre os anos 70 e 90. Marcado
por elevados picos de crescimento e declínio, o comércio Brasil-África nessa
época tem sua condução fortemente estimulada pelos sucessivos governos que
incentivavam a conquista de novos mercados e a exportação de artigos de maior
valor agregado, fazendo com que nesse período se observe uma marcante presença
do empresariado brasileiro no mercado africano.
Como pudemos observar, essa movimentação empresarial em direção ao Continente
africano, iniciada nos anos 70, foi conduzida no âmbito da estratégia
governamental de substituição de importações, tratando-se, mais
especificamente, de um desdobramento dessa estratégia, ou seja: à medida que o
crescimento da indústria nacional via substituição de importações gerava
estoques invendáveis, o governo se via forçado a incentivar não apenas as
exportações de artigos de maior valor agregado (manufaturados), mas também a
conquista de novos mercados.
Estimulada pelas emergentes relações Sul-Sul,24 que estimulavam o intercâmbio
de países do Terceiro Mundo, a busca por novos mercados vai encontrar na África
uma nova opção para o destino das exportações brasileiras. Essa opção era
favorecida não apenas pela destacada fonte de suprimento de petróleo e outras
matérias-primas cruciais ao desenvolvimento do modelo econômico implantado no
Brasil em que se constituíam os países africanos, mas igualmente pela manifesta
disposição destes em encontrar parceiros no contexto Sul-Sul.
Assim, no início dos anos 70, multinacionais estrangeiras com filiais no Brasil
e empresas de capital nacional são fortemente estimuladas pelo governo
brasileiro a direcionarem parte de suas exportações para o Continente africano.
Pudemos perceber que a adesão das empresas ao esforço exportador do governo foi
conseguida, em grande parte, à custa de generosos incentivos fiscais,
creditícios e cambiais, entre outros, que eram colocados à disposição de
empresas voltadas para a exportação ' setor de atividades bastante privilegiado
entre os anos 70 e 80, em função de interesses do governo, aos quais se
associava a "vontade de potência", de elevar o País a um patamar superior no
concerto das nações.
Nesse particular, como se pôde inferir, a reaproximação do Brasil com a África
nos anos 70 não foi um fato natural, decorrente dos anos de contatos com o
Continente africano, mas um ato político decorrente de um projeto de inserção
internacional para o Brasil que buscava na África atender interesses materiais
e políticos de afirmação de autonomia no mundo. Assim, sob o impulso do
Itamaraty e de outros órgãos de governo, o Estado investiu maciçamente na
conquista de novos mercados na África. Estreitaram-se laços políticos, criaram-
se Embaixadas, promoveram-se eventos diversos, estimulando-se também o
desenvolvimento de novos meios e formas de facilitar as exportações para o
continente africano. Apostava-se nas potencialidades da região, ao tempo em que
se buscava persuadir setores influentes da sociedade para se engajarem no
esforço exportador do governo. Isso pode ser percebido pelo grande número de
eventos patrocinados pelo governo brasileiro nesse período, além das
facilidades e incentivos (fiscais, creditícios, cambiais, entre outros)
concedidos aos empreendimentos que exportavam para a África.
As atividades de fomento à exportação fizeram com que diversas empresas
surgissem nesse período ou voltassem seus empreendimentos para o mercado
africano, contribuindo, dessa forma, para que a participação africana no total
do comércio exterior brasileiro, ao início dos anos 80, se elevasse a índices
jamais alcançados. Essa situação chama a atenção na medida em que o auge dessas
relações foi alcançado num período, do ponto de vista econômico, bastante
conturbado para o Brasil ' a década de 80 foi considerada uma "década perdida",
de grave desequilíbrio nas contas externas e de inflação alta, quase
incontrolável. Mas, a despeito desse elevado crescimento do comércio Brasil-
África na década de 80, no decênio seguinte o intercâmbio comercial, pelo
contrário, regrediu. A crise econômica que abalou o mundo ao final dos anos 80
refletiu-se negativamente nos anos seguintes, atingindo profundamente as
economias africanas ao retirar-lhes a capacidade de ampliar suas relações com o
Hemisfério Sul. O Brasil, por sua vez, ao efetuar a renegociação da dívida
externa, perdeu parte de sua liquidez e conseqüentemente grande parcela de sua
capacidade de sustentar uma política em direção à África, concedendo subsídios,
incentivos e demais facilidades às exportações.
A política de estabilização da economia e a reforma do Estado brasileiro
exerceram consideráveis influências no arrefecimento desse comércio, na
proporção em que levaram o País a eleger uma política cuja abertura comercial
privilegiava a relação com os tradicionais parceiros industrializados (Estados
Unidos e União Européia) e priorizava uma política regional em direção ao
Mercosul. Isso torna-se evidente nas palavras do ministro das Relações
Exteriores do Brasil, em 1995, ao afirmar que uma prioridade da política
externa brasileira "é o processo de consolidação do Mercosul, o seu eventual
engrandecimento com a incorporação de novos parceiros, o seu relacionamento com
outras comunidades econômicas, com destaque para União Européia e Nafta e sua
incidência na estabilização e na retomada do crescimento" (Lampreia, 1975:115).
Com a reforma do Estado, percebe-se que, do ponto de vista do comércio externo,
o País se distancia da África. Conformando-se com os princípios da globalização
e do livre mercado, que estimulavam a desregulamentação e a privatização, o
papel do Estado vai progressivamente diminuindo.
Como se pôde observar, nas duas primeiras décadas do período estudado o
empresariado brasileiro foi alvo de ponderáveis medidas de fomento à exportação
para o mercado africano, razão do sucesso de muitos empreendimentos, alguns dos
quais ainda hoje prosseguem atuando em operações voltadas para o comércio
africano, como a Câmara de Comércio Afro-Brasileira que se reveste de exemplo
significativo da ação empresarial brasileira na África.
A CCAB obteve o importante apoio do governo brasileiro nas suas operações
direcionadas ao mercado africano. Isso incluiu o estabelecimento de várias
condições especiais e de mecanismos facilitadores como o countertrade, a
viabilização da implantação de linhas aéreas e marítimas, a concessão de
financiamentos e linhas de créditos especiais monitoradas por bancos estatais,
a designação de funcionários governamentais brasileiros para assessorar
operações comerciais além de participação e envolvimento direto em eventos
promovidos pela Câmara.
A Câmara de Comércio tinha na sua liderança um parlamentar de considerável
influência no círculo governamental, e isso certamente contribuía para chamar a
atenção da classe política para as iniciativas dessa entidade, conferindo-lhe
prestígio e promovendo a maior adesão de interessados no comércio Brasil-
África. Além disso, a estreita aproximação com os altos círculos de um governo
disposto a colaborar com iniciativas voltadas para a África permitia facilitar
trâmites burocráticos e sensibilizava as autoridades para a redução de
obstáculos e a obtenção do apoio de órgãos oficiais. Desse modo, as atividades
da Câmara de Comércio no exterior tinham o decisivo suporte do Itamaraty e de
outros organismos do governo brasileiro, cujos serviços e até funcionários eram
disponibilizados nos eventos promovidos pela entidade, respaldando ou mesmo
viabilizando suas operações. Exemplo dessa atitude pode ser observado na
inclusão de funcionários governamentais acompanhando a missão comercial a
países africanos organizada pela Câmara em 1973.
Não se pode desprezar a disposição do empresariado brasileiro em aproveitar as
oportunidades de negócios surgidas no âmbito do comércio Brasil-África, como
também o seu empenho no enfrentamento de dificuldades nada convencionais. Aí
estariam incluídos o conflito angolano, a preferência africana por produtos e
serviços europeus, a insuficiência de transportes diretos e o desconhecimento
mútuo das respectivas realidades.
Como se afirmou anteriormente, a partir dos anos 90 houve uma redução
progressiva da intervenção do Estado brasileiro na economia. Ao mesmo tempo, os
números do comércio Brasil-África diminuíram significativamente e, da mesma
forma, percebe-se que as atividades da Câmara se reduziram. O vínculo entre a
redução da intervenção estatal no comércio Brasil-África e o arrefecimento das
atividades da Câmara torna-se visível na medida em que, nesse período, se
reduzem os eventos promovidos pela entidade. Certamente por isso, deixa-se de
publicar o relatório de atividades anteriormente enviado aos filiados,
extingue-se a revista AfroChamber, diminui o número de filiados e de
solicitação de serviços.
Tais elementos parecem sinalizar para uma redução da capacidade da Câmara de
atrair novos negócios na África, bem como de ampliar o número de interessados
brasileiros no comércio africano. Isso torna-se preocupante em se tratando de
uma entidade privada que busca a aproximação de comerciantes em busca de
oportunidades de negócios que, em nosso entendimento, não têm sido devidamente
exploradas, embora sejam de efetivo interesse para empresas brasileiras e
africanas, especialmente as pequenas e médias.
Em face de uma insuficiente conformação aos novos ditames do mundo dos
negócios, a Câmara parece ter se engessado, o que sugere a perda de uma parcela
de sua força negocial. A atuação em um mercado cada vez mais exigente e
competitivo requer das empresas o desenvolvimento de sua capacidade
estratégica, o que significa ampliar o horizonte de visão dos negócios, criando
e desenvolvendo uma postura pró-ativa e antecipatória. No caso de uma entidade
de negócios atuando num mundo cada vez mais globalizado, esta necessita não
apenas ser hiperativa, mas também manter uma constante reciclagem.
Como Santos (1992), entendemos que o futuro de qualquer empresa é um campo
aberto de possibilidades, mas que é possível influir na construção desse
futuro, desenvolvendo a capacidade de perceber tanto as ameaças e oportunidades
no ambiente externo como as forças e fraquezas no ambiente interno,
potencializando dessa forma os pontos fortes e minimizando os pontos fracos de
uma gestão empresarial. Acreditamos que a Câmara esteja a necessitar da
implantação de um modelo de gestão estratégica que incentive o compartilhamento
e a construção de um projeto coletivo para a entidade. Como ponto de partida,
um bom exemplo seria instituir reuniões de coordenação, um espaço formal da
entidade em que, mediante encontros sistemáticos entre os seus integrantes, se
constrói a estratégia de ação e se faz o acompanhamento das ações da
organização.
Esse espaço, se bem estruturado, colaboraria para a formação e o
desenvolvimento de capacidades estratégicas dos seus componentes, pois pessoas
com visões e percepções diferentes discutiriam seus pontos de vista sobre um
mesmo tema, chegando a acordos e tendo como resultado um trabalho de fato
coletivo. Isso permitiria a antecipação de problemas e sua solução, bem como a
melhor administração de conflitos e o fortalecimento da ação da entidade no
mercado.
Por sua vez, os novos cenários do mundo dos negócios exigem a utilização
intensiva de modernas ferramentas de gestão. Estas parecem incorporar-se de
forma bastante lenta ao dia-a-dia da Câmara de Comércio Afro-Brasileira, que
não possui uma página na webe parece utilizar pouco a Internet, além de possuir
um banco de dados que carece de atualização. Tais constatações estariam a
indicar a necessidade de sérias reformulações na forma de atuação da Câmara a
fim de que esta possa continuar a exercer o significativo papel desempenhado
nos "anos de ouro" do comércio Brasil-África. Seu nome, sua história e seu
passado constituem um legado que não se pode desprezar, tendo em vista a ampla
experiência e o grande conhecimento acumulados ao longo dos anos no
desenvolvimento de negócios no Continente africano.
Entre outras medidas recomendadas ao longo deste texto, entendemos de grande
potencial a intensificação da atuação da Câmara mediante a organização de
seminários para empresários, visitas a associações de classe, viagens e
encontros internacionais com grupos de empreendedores africanos, com a
finalidade de apresentar as potencialidades do comércio brasileiro,
proporcionando condições para a ampliação do diálogo entre homens de negócios
dos dois lados do Atlântico.
A despeito das mudanças no ambiente econômico brasileiro e da redução
progressiva do apoio estatal nos anos 90, constatou-se na pesquisa que a
Construtora Norberto Odebrecht experimentou uma continuada ampliação de suas
atividades no continente africano. Ela se instalou em outros países da região
e, por meio do "efeito vitrine", ampliou o seu raio de ação para outros
continentes. Por tais constatações, a experiência dessa empresa estaria a
demonstrar que as relações comerciais com o Continente africano são viáveis,
suscitando diversas indagações: será que hoje em dia uma grande empresa
brasileira que desejasse iniciar negócios na África poderia conseguir êxito
seguindo o modelo adotado pela Odebrecht? E no caso de uma pequena ou média
empresa?
Diante do que apresentamos ao longo deste estudo, percebe-se que as condições
no Brasil se modificaram e, portanto, empresas que desejarem iniciar operações
no mercado africano já não podem copiar aquele modelo de atuação. Uma empresa
brasileira que, na atualidade, resolva dirigir suas exportações para o mercado
africano terá de partir de novas bases, já que não poderá contar com a vasta
gama de incentivos creditícios e financeiros concedidos no passado pelo governo
brasileiro. Extinguiram-se as linhas diretas semanais que ligavam o Brasil a
diversas cidades africanas, como Lagos (Nigéria), Abidjan (Costa do Marfim),
Luanda (Angola) e Maputo (Moçambique). À exceção dos dois vôos diretos semanais
para a África do Sul, os contatos aéreos com o Continente africano se efetuam
de forma triangular, com passagem pela Europa.
Por sua vez, diferentemente dos "anos de ouro" do comércio com a África, a
empresa não vai mais encontrar uma economia que, dada a elevada prioridade
atribuída à exportação, colocava os recursos da burocracia estatal à disposição
das empresas interessadas nessa atividade. Assim, com o capital financeiro
escasso no Brasil e nos países africanos, em lugar dos empréstimos a juros
subsidiados, antes concedidos por bancos oficiais, as empresas são hoje
obrigadas a contar com seus próprios recursos ou recorrer a empréstimos a taxas
de juros de mercado oferecidos pelos bancos privados. Em contrapartida, no
horizonte do século XXI, o Brasil, da mesma forma que os países africanos,
ampliou o conhecimento sobre esse intercâmbio. Cresceu no País o número de
centros de estudos sobre a África, contabilizando um reforço em termos de
capital intelectual e de recursos humanos proveniente do maior número de
africanos e brasileiros que atuaram nesse comércio.
A rede mundial de computadores facilitou o conhecimento de oportunidades de
negócios. Análises de possibilidades de países e mercados africanos podem ser
inferidas de sites de organismos internacionais, como os da ONU, ONUDI, OUA e
FAO, entre outros. A BrazilTradeNet (www.braziltradenet.gov.br), site do
Departamento de Promoção Comercial do Ministério das Relações Exteriores,
oferece gratuitamente um amplo conjunto de oportunidades de negócios,
informações e pesquisas sobre produtos e mercados, endereços úteis, notícias,
links e outros dados de interesse para exportadores brasileiros. Nesse site, a
empresa pode incluir uma oferta de exportação para ser consultada por
congêneres de fora do Brasil, além de obter informações sobre as condições
gerais de acesso de seu produto a um país ou bloco econômico. Assim, uma
pequena ou média empresa que esteja procurando negócios no mercado africano
deve incorporar a Internet a sua rotina de trabalho. A isso se deve acrescentar
a busca de oportunidades junto a câmaras de comércio,25 consulados e embaixadas
de países africanos no Brasil.
Já no caso de uma grande empresa, cujo aporte financeiro é mais elevado, a
especialização e o aprimoramento dos recursos humanos e tecnológicos revestem-
se de importância capital. Dispondo de departamento de exportação próprio, a
permanente atualização de seus quadros, em sintonia com as tendências mundiais,
a torna mais capacitada para atuar nesses mercados. A assinatura de periódicos
especializados em África, o envio de representantes para conhecer pessoalmente
as potencialidades dos países africanos, o permanente contato com empresas
estrangeiras e nacionais que detêm o conhecimento dos mercados locais
constituirão importantes ferramentas a serem consideradas. Em certas
circunstâncias, seria recomendável buscar a associação com outras empresas em
torno de projetos de joint-venture. Convém ainda ressaltar que, a exemplo das
grandes empresas européias, norte-americanas e asiáticas, a intenção de
permanecer no continente africano parece fator de grande importância para o
sucesso nesse tipo de empreendimento, haja vista que essa presença contínua
tende a propiciar um maior domínio dos mecanismos comerciais, assim como maior
rapidez na adaptação aos mercados.
A atuação da Odebrecht no Continente africano revela a experiência bem-sucedida
de uma empresa do setor de exportação de serviços ' um setor importante que
dispõe da propriedade de produzir impactos positivos sobre a economia do país
de origem, com destaque para a geração de outras exportações de bens de
capital, serviços e produtos. Ao mesmo tempo, a condição empresarial brasileira
nos dias atuais é, reconhecidamente, de grande potencial instalado, com altos
níveis competitivos e tecnológicos, especialmente nessa área de exportação de
serviços. Tanto assim que, no caso dos projetos de consultoria, engenharia e
construção, o Brasil detém tecnologia de ponta, sendo esse o único setor da
economia nacional em que as empresas são consideradas verdadeiramente
multinacionais, com competência mundialmente reconhecida. A engenharia
nacional, por exemplo, está presente em mercados altamente competitivos do
Primeiro Mundo, como Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha.
Assim, será que as empresas que exportam projetos de consultoria, engenharia e
construção, atividades em que o país detém tecnologia de ponta, são aquelas com
maiores possibilidades de êxito no mercado africano? Que outros empreendimentos
foram bem-sucedidos? Quais deles fracassaram? Quais as razões desses sucessos/
fracassos? Como se pode ver, são muitas as questões cujas respostas poderiam
nortear outras pesquisas cujos resultados certamente contribuiriam para
aprofundar o conhecimento da experiência empresarial brasileira dos anos 70 aos
90.
Caberia acrescentar que as considerações aqui apresentadas advêm do
entendimento de que as conjunturas brasileira, africana e internacional estão
continuamente a criar novas oportunidades e desafios que não podem ser
ignorados pelos homens de negócios deste País, a despeito das dificuldades que
sempre existirão nas relações com qualquer país ou região. No caso africano,
tais dificuldades estariam vinculadas, sobretudo, à recorrente instabilidade
política e econômica de boa parte desses países, determinando um "custo África"
que cria obstáculos à instalação ou operação de empresas brasileiras naquele
continente.
Buscando averiguar quais os mercados africanos que se apresentariam como
promissores para o desenvolvimento de negócios brasileiros nos horizontes do
ano 2002, o pesquisador consultou Especialistas em África e deles recolheu
impressões que nos levaram à conclusão de que, excluídas algumas grandes
empresas que procuraram consolidar sua presença no Continente, o setor privado
brasileiro não está familiarizado com as diferenças entre os diversos países
africanos. Por isso, tende a julgar a África como um todo em função dos
aspectos negativos ressaltados pela imprensa, da mesma forma que, em sentido
inverso, muitos empresários africanos desconhecem a qualidade de nossos
produtos e serviços.
Percebeu-se ainda que as relações comerciais entre o Brasil e o Continente
africano hoje se concentram, em grande medida, nos países petrolíferos, como
Líbia, Nigéria, Gabão, Argélia, Angola e Congo Brazzaville. Além desses países,
destaca-se a África do Sul, que desponta como parceiro de elevado valor
estratégico em função de sua posição geográfica e do seu nível de
desenvolvimento industrial, que é elevado em comparação com os de outros países
africanos. Brasil e África do Sul são os pólos mais desenvolvidos do
capitalismo em seus respectivos continentes, o que se expressa não só na
grandeza de seus PIBs, mas também nos respectivos graus de sofisticação
industrial. Acrescente-se a isso a condição privilegiada de observador de que a
África do Sul desfruta no Mercosul, além do fato de poder ser considerada um
trampolim para a penetração em todo o subcontinente da África Austral, região
de apreciável valor econômico derivado da produção e reserva de vários minerais
estratégicos, situada entre os oceanos Índico e Atlântico e fronteiriça ao cone
sul da América Latina.
Também o mercado dos países africanos da CPLP foi apontado como um mercado
potencial para a venda de mercadorias e serviços, tais como a construção civil,
a agropecuária etc. A língua portuguesa comum e o interesse político do governo
brasileiro em desenvolver maior cooperação representariam um grande atrativo
para impulsionar um intercâmbio comercial de grandes potencialidades. Trata-se
de um mercado com cerca de quarenta milhões de pessoas cujas afinidades
culturais e familiaridade com o Brasil são estimuladas por condições
semelhantes em termos de terreno e de clima. Além disso, as empresas
brasileiras possuem vantagens comparativas para participar no desenvolvimento
africano, pois o patamar tecnológico dessas empresas permite a atuação em
setores de média complexidade, dotados de capacidade indutora, como a formação
profissional, a construção civil, a agricultura e outros.
Tratam-se de perspectivas múltiplas e atraentes, que ainda assim nos apontam
para novas questões: sob que outras formas de atuação empresas brasileiras se
estabeleceram no continente africano no período estudado? Que situações
poderiam ser apontadas como potencializadoras do sucesso (ou do fracasso)
dessas iniciativas? Em tempos de globalização, com o peso hegemônico das
relações econômicas Norte-Sul, seria possível ou desejável reativar o
intercâmbio Sul-Sul? Será que, no contexto da globalização, o governo
brasileiro deveria voltar a priorizar as relações com a África? São questões,
como muitas outras, cujas respostas seriam de muita utilidade para
pesquisadores interessados no tema das relações comerciais Brasil-África, além
de ampliar o conhecimento sobre o comportamento do empresariado nacional,
provendo o campo da administração, (fortemente contaminado por influências
estrangeiras) com informações retiradas do contexto brasileiro ' rica fonte de
ensinamentos para as novas gerações de empreendedores.
Notas
1. Este artigo resultou de dissertação de mestrado. Agradeço ao professor Dr.
Jacques d' Adesky pelos comentários e orientação.
2. O desenvolvimento da pesquisa ressaltou a quase inexistência de estudos
sobre negócios brasileiros a partir da realidade nacional, justificando as
ponderações de Aquino (1986) quanto ao estudo da administração em nosso país
ser fortemente contaminado por influências estrangeiras fazendo com que um
vasto número de experiências empresariais e de gestão sejam pouco exploradas, o
que poderia fornecer substanciais contribuições ao campo da administração,
provendo instituições responsáveis pela formação de novas gerações de
empreendedores de informações retiradas do próprio contexto nacional.
3. Embora caracterizadas como sem fins lucrativos, as receitas dessas entidades
provêm de quotas pagas por seus filiados e das atividades de prestação de
serviços que realizam
4. A imagem do presidente da Câmara refletia um empreendedor negro de sucesso.
5. Esses dados eram obtidos em sua maioria junto a fontes européias e nos
países interessados, pelo que se imagina serem muitas vezes incompletos e
desatualizados. Essa situação evidencia o insuficiente conhecimento da África
não apenas da parte do empresariado, mas da sociedade brasileira como um todo,
já que as informações divulgadas pela imprensa eram poucas, produto de agência
internacionais. Quase não havia livros, ainda que traduzidos, sobre a África, e
existiam apenas dois centros de estudos africanos: o CEAO na Bahia e o CEAA no
Rio de Janeiro.
6. Discurso proferido na solenidade de lançamento da Missão.
7. A Missão prestou serviços de representação de produtos de 62 firmas
brasileiras de diversos setores de atividade, como a Plantel Import. e Export.,
a Evasian Indústria de Calçados, a Afro-América Import e Export Ltda., a
Persianas Colúmbia S.A., a Eucatex, a Suzano Pffeifer Ind. de Papéis, a BSA
Consultoria Financeira e Export., a Ind. de Sacos Acácio Camargo etc. Fonte:
documento cedido pela CCAB.
8. As entidades governamentais que enviaram representantes foram: Ministérios
das Relações Exteriores, da Fazenda, da Indústria e do Comércio, Cacex,
Companhia de Promoção de Exportação de Manufaturados do Estado de São Paulo '
Copeme e Lloyd Brasileiro. Fonte: documento cedido pela CCAB.
9. A África compunha-se de nações ainda em processo de descolonização e outras
recém-independentes ' em estágio de formação de quadros políticos.
10. A CCAB participou de feiras internacionais na Nigéria (1973), Senegal
(1974), Zaire (1975), Gana (1976) e Moçambique (1979), além de missão comercial
a Zâmbia, liderando um grupo de empresários brasileiros. Essas informações
constam de relatório dirigido aos filiados com um balanço das atividades
executadas pela Câmara até o final de 1982. A partir desse ano, o relatório
deixou de ser emitido, possivelmente para evitar a divulgação do decrescente
desempenho da Câmara nos anos seguintes.
11. Os serviços disponibilizados pela Câmara aos seus filiados compreendiam o
fornecimento de informações referentes ao mercado africano no que tange à
exportação e importação de produtos, incluindo tarifas aduaneiras, direitos de
importação, promoções de produtos e serviços brasileiros, assessoramento e
trâmites diplomáticos no exterior, oportunidades comerciais, emissão e
autenticação de certificado legais e documentos para credenciamento em
concorrências internacionais, pedidos de cotação etc.
12. A AfroChamber tinha periodicidade bimestral, com versões em português (dez
mil exemplares), inglês (cinco mil) e francês (cinco mil).
13. Entre 1980 e 1984, os investimentos brutos nos países africanos, vinculados
a aportes das agências multilaterais, diminuíram 22%, passando de 18,6% para
10,8% do PIB (Pimentel, 2000:10).
14. Os dados referentes aos países mencionados foram recolhidos do site do
Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Disponível em www.mre.gov.br, e
do Anuário Abril 2001.
15. CEDEAO ou ECOWAS ' Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental,
órgão regional de cooperação econômica.
16. A divulgação dos filiados é uma ação que as câmaras costumam realizar
quando solicitadas. Redunda em propaganda para entidade. Do conhecimento de
quantos e quais são seus filiados, pode-se inferir o peso da organização e a
sua representatividade. Não foi permitido ao pesquisador o acesso a essas
informações o que poderia sugerir que ou não existem filiados na quantidade
informada ou a entidade não tem a representatividade que tenta demonstrar.
17. Câmara de Comércio Brasil-Angola, Câmara de Comércio Brasil-Nigéria, Câmara
de Comércio Brasil-República Sul Africana.
18. Trechos da entrevista concedida pelo Sr Aderaldo O. Anjos, vice-presidente
da CCAB.
19. Essa Câmara, tem como filiados empresas, de grande porte e notoriedade,
como General Motors, Mercedes Benz, Petrobrás, Ypiranga, entre outras.
20. Trecho de entrevista de Fernando Tomé concedida ao pesquisador na sede da
CCBRAS.
21. A CPLP foi criada em Lisboa, em 1996, com a finalidade de reunir os sete
países lusófonos ' Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique,
Portugal e São Tomé e Príncipe ' no propósito de buscar: a concertação
político-diplomática entre seus membros; a cooperação econômica, social,
cultural, jurídica e técnico-científica; e a promoção e difusão da língua
portuguesa.
22. A ZPCAS foi estabelecida em 1986 pelos países da costa ocidental da África
e pelos países latino-americanos banhados pelo Atlântico Sul. Esses 24 países
buscam uma forma de integração e colaboração regional.
23. A SADC criada em 1992 com o objetivo de incentivar as relações comerciais
entre os quatorze países-membros da África meridional, visando criar um mercado
comum e estabelecer a paz e segurança na região.
24. As relações Sul-Sul correspondem a um movimento implementado no seio dos
países do Terceiro Mundo incentivando as trocas recíprocas como forma de
reforçar os laços econômicos e reduzir a sujeição global aos países
desenvolvidos.
25. As câmaras voltadas para o comércio com a África são: Câmara de Comércio
Afro-Brasileira, Câmara de Comércio Brasil-Angola, Câmara de Comércio Brasil-
República Sul-Africana e Câmara de Comércio Brasil-Nigéria.