A reestruturação das telecomunicações e os sindicatos
Introdução
Fato conhecido, o sindicalismo perdeu mundialmente a influência que deteve em
grande parte do século XX, de tal modo que alguns analistas preconizam o fim
dessa instituição tão identificada com o mundo industrial. Outros afirmam que o
ciclo vital do sindicalismo está intimamente relacionado ao do capitalismo e
que, enquanto este existir, aquele permanecerá (Santos, s/d.).
Ao discutir o futuro do sindicalismo, o artigo examina a situação atual a
partir da análise do setor de telecomunicações, tentando responder à questão:
estão os sindicatos em crise ou construindo novas estratégias? Aborda o caso
brasileiro sob a perspectiva do que ocorreu nos Estados Unidos, tendo em vista
as mudanças vividas pelo setor em decorrência dos processos de reestruturação,
desregulamentação e privatização. As experiências do Reino Unido e da Alemanha
são brevemente referidas.
O interesse em tentar "comparar" o caso brasileiro com o dos Estados Unidos
está em avaliar as implicações do processo de desregulamentação sobre os
sindicatos, considerando que, apesar das diferenças evidentes,1 há semelhanças
entre os dois casos no que se refere ao modelo de reestruturação adotado, que
baseia a competitividade no rebaixamento do custo de mão-de-obra. Nesse
aspecto, ambos diferenciam-se do modelo alemão.
Considerando-se que o modelo institucional e de regulação condiciona os padrões
de competição e as condições de trabalho e relações sindicais, pode-se supor
que, apesar das diferenças existentes quanto à natureza do setor nos dois
casos, as conseqüências para os sindicatos de telecomunicações após a
desregulamentação e a privatização tendem a se aproximar. Resta saber em que
medida há convergência nas reações por parte dos sindicatos em ambos os países.
Os dados relativos ao Brasil foram extraídos dos acordos coletivos firmados
pelos sindicatos de empregados de telecomunicações do Rio de Janeiro, de Minas
Gerais e do Rio Grande do Sul. Em relação aos Estados Unidos, os dados foram
coletados principalmente em entrevistas com lideranças do sindicato norte-
americano Communications Workers of America (CWA), realizadas em Washington,
DC, em março de 2002. Em relação aos outros países, os dados foram obtidos por
meio de fontes secundárias.
O setor de telecomunicações
Apesar de algumas dificuldades recentes por que passa, o setor de
telecomunicações é considerado vital para o desenvolvimento econômico e social
da atualidade. Segundo alguns analistas, estaríamos na transição de uma
sociedade industrial, cujo símbolo foi a indústria automobilística, para uma
sociedade informacional, cujo símbolo seria as telecomunicações. A queda
recente dos índices de crescimento do setor, em nível mundial, deve-se,
sobretudo, a vultosos investimentos para aquisição, construção e/ou expansão da
infra-estrutura e à acirrada competição que resultou no rebaixamento dos preços
de serviços. Todavia, esse é um período de ajustamento, e a tendência é de que
o setor volte a se expandir.
As mudanças tecnológicas aceleraram-se nos últimos vinte anos. Exemplo disso
foi a digitalização do sistema, que tornou os serviços mais versáteis e
baratos, favorecendo sua rápida difusão no mundo. Os processos de liberalização
e privatização devem ser analisados no contexto dessas mudanças. Há empresas
prontas a oferecer novos serviços a um mercado constituído, principalmente, de
clientes corporativos, também desejosos de utilizá-los de forma mais
eficiente.2
A reestruturação representou uma profunda mudança na identidade e nas
características do setor. As telecomunicações estruturavam-se em forma de
monopólios (em muitos casos, estatais), operavam em mercado nacionais
protegidos, como o serviço de utilidade pública e as atividades comerciais
restritas, fornecendo serviços de transmissão de voz. A globalização dos
serviços requeriu a reestruturação do setor com base na liberalização dos
mercados e na privatização. As telecomunicações tornaram-se fornecedoras de uma
mercadoria - a comunicação - altamente lucrativa; transformam-se em
indústria da informação e de fornecedoras de telefonia fixa em fornecedoras de
telefonia celular, de suporte para o tráfego de voz para o tráfego de dados.
No início de 2002, mais da metade dos países no mundo haviam privatizado seus
antigos sistemas de telecomunicações estatais e 85% da renda do mercado mundial
era gerada por antigas concessionárias, agora, privatizadas.3
A natureza do setor, altamente competitiva e que requer grandes investimentos,
contribuiu para sua globalização. As novas tecnologias - celular roaming,
sistemas de satélites globais, cartões telefônicos internacionais -
permitiram a utilização dos serviços fora de sua área de origem. Os celulares
de terceira geração foram concebidos para operar em âmbito global. Para obter
bons resultados na exploração desses serviços, inserção em novos mercados e
ganhos de escala e escopo num mercado bastante competitivo, as empresas
realizam fusões, parcerias e aquisições.
Normalmente, consideram-se as telecomunicações um veículo de transmissão de
voz. Todavia, o setor, hoje, é muito mais amplo, incluindo: a) serviços de
internet; b) rede e tráfego de dados; c) comunicação móvel de terceira geração
para a transmissão de base de dados; e d) transmissão de voz por meio de rede
de dados.
Conforme mostram as Figuras_1 e 2, houve uma mudança de perfil do setor nos
anos de 1990. Embora referindo-se à realidade norte-americana, os dados
expressam uma tendência mundial: a transmissão de voz, que constituía 97% das
atividades do setor em 1990, reduziu-se para 70%, em 1999; a telefonia sem fio
cresceu de 3% para 17%, a internet e a transmissão de dados, não existentes no
início do período, alcançaram 13%, ao final.4
O tráfego de dados tem crescido tão rapidamente que alguns analistas afirmam
que o conceito de transmissão de dados através de rede fixa de telefone deverá
ser substituído pelo conceito de transmissão de voz através de rede de
Internet. Estima-se que nos anos próximos a transmissão de voz se tornará um
nicho de mercado, e a transmissão de dados dominará, inclusive, a rede celular,
constituindo-se em cerca de 70% do tráfego na rede sem fio.5
Novos serviços como, por exemplo, a transmissão de gráficos, fotos e utilização
de jogos via Internet de alta velocidade em telefones celulares já estão sendo
lançados. As fronteiras entre os diferentes ramos da indústria da informação
- telefonia fixa, telefonia celular, TV a cabo, computador, serviços de
informação, publicação e entretenimento - tendem a desaparecer.6
As tendências das telecomunicações podem ser avaliadas observando-se o
crescimento da receita em cada um dos segmentos do setor, nos Estados Unidos,
conforme mostra a Tabela_1.
No terceiro semestre de 2001, comparando-se com 2000, a receita proveniente de
telefonia de longa distância caiu sensivelmente, enquanto o serviço de
transmissão de dados, a telefonia celular e a banda larga tiveram crescimento
importante; a telefonia local cresceu apenas 4%. Em relação à telefonia
celular, o auge desse crescimento foi no ano de 2000, quando 23,4 milhões de
pessoas inscreveram-se como usuários; desde então, os números de inscrição vem
caindo, embora sejam ainda expressivos (20,6 milhões, em 2001) (Wall Street
Journal, 17.4.2002).7 Na maioria dos países desenvolvidos, o mercado para
celulares está atingindo a saturação, porém, a estimativa é de que com a
difusão da internet, as receitas voltarão a crescer, já que os usuários poderão
adquirir uma série de outros serviços.
O passo seguinte seria focar a telefonia celular em serviços de valor agregado
por segmento de mercado, diferenciando usuários corporativos (serviços de
dados) dos demais, em especial, o mercado dirigido ao público jovem (serviços
multimedia). A segmentação permitiria a redução de preços para atrair novos
consumidores sem que essa redução abrangesse os consumidores em geral, como
ocorre hoje (Michael Kende, US Wireless: divide and conquer, www.ctia.com). A
penetração de celulares nos Estados Unidos (menos de 50%), em 2001, por
exemplo, estava bem abaixo da de muitos países europeus e asiáticos, como, por
exemplo, Taiwan, 97%; Hong Kong; e Itália, 84% (Grã Bretanha, Development
Sector, www.itu.com).
O serviço de voz em telefonia fixa, especialmente longa distância, está em
queda, causando prejuízo às operadoras de longa distância em razão da forte
competição que obriga à redução de preços e à existência de novas formas de
comunicação de longa distância como e-mail e instant messaging.
As mudanças na estrutura do setor são acompanhadas de mudanças no perfil
técnico e profissional da força de trabalho, assim como no número de
trabalhadores: nos Estados Unidos, por exemplo, os cerca de 1 milhão de
trabalhadores do Bell System aumentaram para aproximadamente 6 milhões
espalhados por inúmeras pequenas e médias empresas bem como grandes
multinacionais. A força de trabalho constituída no passado sobretudo por
técnicos inclui agora um número cada vez maior de empregados em serviços de
comercialização e vendas, assim como de especialistas em programação e em
software. As previsões de emprego no setor de telecomunicações para o período
de 1998-2008 indicam não só um crescimento no nível de profissionais
especializados (especialistas em sistemas informáticos, engenheiros
eletricistas e eletrônicos, 46,7%) e de comercialização e vendas (37,6%), mas
também na área de gestão e direção, tendo em vista as novas formas de gestão
geradas pela privatização e pela competição (37,3%) (Katz et al., 2002, p. 4;
Monthly Labor Review, 1999, pp. 60-74; apud OIT, 2002, p. 115).8
Discutiremos a seguir as implicações dessas mudanças para os sindicatos.
Os sindicatos nos países centrais
As mudanças no setor produziram dramáticas conseqüências para os sindicatos,
abalando a influência significativa que eles detiveram antes da quebra dos
monopólios.
A desregulamentação começou nos Estados Unidos, onde dominava a AT&T.
Seguiu-se a privatização da British Telecom.9 As experiências norte-americana e
inglesa constituíram-se modelos para outros países europeus, asiáticos e
latino-americanos.
À medida que o setor se amplia e diversifica, caracterizando-se como indústria
da informação, a influência dos sindicatos se reduz. As novas empresas e
segmentos não possuem uma história de sindicalização e, muitas vezes, têm uma
visão negativa sobre os sindicatos. Em conseqüência, a sindicalização no setor
vem caindo mundialmente.
Considerando-se o caso norte-americano, a queda dos índices de sindicalização
desde a desregulamentação foi significativa. Em 1984, quando da quebra do
monopólio do Bell System, a AT&T era o maior empregador privado do mundo
com cerca de 1 milhão de empregados e o CWA, o maior sindicato de
telecomunicações com cerca de 650 mil filiados (praticamente a totalidade dos
operadores e técnicos, com expressiva representação entre os atendentes de
serviço aos clientes). As negociações desenvolviam-se de forma centralizada e o
acordo resultante tinha validade em âmbito nacional (Katz et al., 2002, p. 3).
Desde então o número de sindicalizados, na AT&T, vêm caindo drasticamente:
nos últimos quatro anos caiu de 46.445 mil filiados, em 1998, para 31.522 mil,
em 2001, e para cerca de 24 mil, em maio de 2002.
Apesar de significativo downsizing desde a desregulamentação,10 o número total
de empregados na AT&T aumentou 28% no período de 1996-2000, enquanto o
número de sindicalizados reduziu-se em 30% no mesmo período. Tal redução é
atribuída a diferentes fatores: incorporação de subsidiárias hostis aos
sindicatos (como WorldCom); subcontratação e outsourcing;11 aumento de funções
gerenciais (o que impede a sindicalização; em 1980, o percentual de gerentes na
AT&T era de 29%, em 1995, de 50%); e demissão de empregados sindicalizados.
Por outro lado, o setor de telecomunicações está se expandindo em áreas de
baixa sindicalização, como serviços de computação e informação, e, segundo
alguns analistas, com poucas chances de se tornarem sindicalizadas no futuro
(Batt e Keefe, 1999, pp. 127-129; Katz e Darbishire, 2000, p. 56).
A redução no número de filiados significa para os sindicatos um declínio de
poder e de receitas e, para os trabalhadores, uma crescente desigualdade nos
salários (a diferença de salários entre trabalhadores sindicalizados e não
sindicalizados nos Estados Unidos passou de 5% para 20%, no período de 1990-
1995). A desigualdade salarial no setor foi também observada no interior de
grupos demográficos. Os sindicatos sempre pressionaram por salários e condições
de trabalho padronizados no interior e entre empresas; o declínio da
sindicalização é visto como responsável pelas desigualdades dos ganhos. A queda
nos índices de sindicalização, no entanto, não é homogênea para o setor como um
todo; varia de acordo com áreas (longa distância, telemarketing, centros de
atendimento, TV a cabo etc.) e empresas. Nas empresas regionais (baby Bells),
nos Estados Unidos, por exemplo, 60% da forca de trabalho ainda é
sindicalizada. Todavia, ao contrário do que acontece hoje, os sindicalizados do
setor, nesse país, encontravam-se nas funções mais qualificadas (Keefe e Batt,
1997, pp. 52-56; Batt e Keefe, 1999, p. 130; Katz e Darbishire, 2000, p. 64;
Batt, 2001, p. 427).
A tendência de crescimento das áreas de comunicação de dados e telefonia
celular obriga os sindicatos a atuarem nesses segmentos. Entretanto, conforme
mostra a Tabela_2, os sindicatos não têm sido bem-sucedidos pelo menos no que
se refere às principais operadoras mundiais de celulares. O CWA apresenta
melhores condições com mais de 15 mil filiados12 na Cingular (oitavo lugar
entre as maiores empresa internacionais), embora na Verizon Wireless (joint
venture entre SBC Communications Inc. e Bell South, sexta maior companhia do
mundo e maior operadora de celular nos Estados Unidos, com 29,4 milhões de
usuários no final de 2001) conte apenas com cerca de 50 filiados, entre 30 mil
empregados; na AT&T, o número de sindicalizados é de cerca de 120, entre
cerca de 30 mil empregados.
Torna-se cada vez mais difícil para os sindicatos atuarem num setor altamente
diversificado, constituído por diversas pequenas e médias empresas, além de
grandes multinacionais, algumas refratárias e/ou hostis aos sindicatos e que se
utilizam de estratégias competitivas baseadas na precarização do trabalho. O
que foi afirmado sobre a realidade dos sindicatos nos Estados Unidos - "os
sindicatos precisam aprender a mobilizar uma base acostumada a vitórias
relativamente fáceis" (Katz et al., 2002, p.4) - é também verdadeiro para o
caso do Brasil.
A diversificação do setor foi acompanhada pela diversidade das formas de
emprego e práticas de trabalho, não apenas entre países e empresas, mas também
no interior da própria empresa e dos grupos ocupacionais, resultado da
segmentação do mercado (como ocorreu nos bancos comerciais). A empresa é
dividida em departamentos de acordo com segmentos de mercado diferenciados pelo
valor agregado dos serviços utilizados (residencial, negócios - pequenas e
médias empresas e clientes corporativos). Quanto maior o valor agregado, melhor
as condições de trabalho. Nos Estados Unidos, a AT&T e outras empresas,
como centros de atendimento, segmentam sua força de trabalho (em termos de
qualificação, salário e condições de trabalho) de acordo com os segmentos de
mercado (Batt e Keefe, 1999; Batt, 2001). Fenômeno similar ocorre na British
Telecom, onde o contrato de trabalho varia de acordo com as divisões da
empresa. No segmento residencial, as estratégias gerenciais quanto a condições
de trabalho e relações industriais são mais restritas; no segmento de negócios,
ao contrário, as estratégias são high road, envolvendo a participação de
trabalhadores e a consulta aos sindicatos (Katz e Darbishire, 2000, p. 123).13
A individualização da remuneração é outra fonte de diversidade que, além de
gerar desigualdades salariais entre empregados na mesma função, com as mesmas
qualificações e no mesmo grupo de idade e educação, tende a desestimular a
filiação dos empregados aos sindicatos (Katz e Darbishire, 2000, pp. 126-127).
A descentralização das negociações coletivas é, em grande parte, responsável
pela diversidade referida. Nos Estados Unidos, assim como no Brasil, conforme
verificar-se-á adiante, as negociações perderam o caráter nacional existente
antes da desregulamentação. Apesar disso, até recentemente, os sindicatos
norte-americanos tinham sido capazes de manter um padrão de negociação na
AT&T e nas operadoras regionais, principalmente no que se refere a aumento
de salários, benefícios e segurança no emprego, a despeito das diferenças
existentes entre as companhias quanto à política de salário variável. O acordo
de 1998-2001, no entanto, estabeleceu diferenças acentuadas entre as
companhias, em especial no que se refere a valores de pagamentos variáveis,
planos de saúde e segurança de emprego. Os acordos em nível nacional perderam
importância em escopo e substância.
A composição da força de trabalho tornou-se também mais heterogênea. O setor
inclui agora um número cada vez maior de profissionais, muitos dos quais sob
forma de trabalhadores temporários, autônomos e empregados de agências de
emprego (de acordo com estimativas do CWA, 30% dos trabalhadores atípicos do
setor, nos Estados Unidos, insere-se nessa última categoria) (Batt et al.,
1999). A organização desses empregados exige uma abordagem diferente comparada
com a requerida por empregados regulares de uma empresa. Alguns segmentos de
trabalhadores atípicos são profissionais altamente qualificados, desfrutam de
boas condições de trabalho, incluindo boa remuneração e têm como foco de
interesse a mobilidade e o aperfeiçoamento profissional, o que, em geral, é
suprido pelas associações profissionais. Na maioria das vezes esses
profissionais possuem uma visão estereotipada e negativa dos sindicatos e são
contra a filiação.
No caso da Grã-Bretanha, após catorze anos de privatização, a British Telecom
(BT), líder no mercado britânico (detendo 92% do mercado local, 81% do nacional
e 70% do internacional), adotou uma estratégia de redução de custo e do número
de trabalhadores, reduzindo em cerca de 50% da força de trabalho no período de
1984-1998. Em conseqüência, os índices de filiação e de influência sindical
declinaram ao mesmo tempo que cresceu o número de novos empregados não
sindicalizados (Katz e Darbishire, 2000, p. 113; Batt e Darbishire, 1997, pp.
66-67). Verificou-se também um aumento significativo da subcontratação, que
passou de 4,2%, em 1984, para 17,4 %, em 1997. Os trabalhadores subcontratados
que atuam em áreas importantes do setor como técnicos e operadores de centrais
estão excluídos do contrato coletivo de trabalho. Em 1984, "menos de 1% dos
empregados tinham condições básicas de trabalho estabelecidas fora dos acordos
coletivos. Em 1997, aquele percentual elevara-se para 29 %." (Katz e
Darbishire, 2000, p. 121).
Em 1992, os sindicatos de telecomunicações tentaram sem sucesso manter o
processo de negociação em nível nacional, propondo o que foi denominado New
Dialogue - um sistema de consulta baseado in today's commercial
imperatives. A British Telecom (BT) rejeitou a proposta, considerando-
a desnecessária diante da fragilidade sindical (Katz e Darbishire, 2000, p.
124).
Apesar desse quadro pouco otimista, os sindicatos têm desenvolvido esforços
para melhorar sua posição. Ilustrativas são as experiências de colaboração
sindicato/empresa, que visam a melhorar as condições de trabalho e de emprego
no setor, ocorridas nos Estados Unidos, como, por exemplo, o acordo
estabelecido entre o CWA e BellSouth no início dos anos de 1990; o programa
conjunto de reorganização de funções criado pelo CWA e US West (1992-1993); o
programa Workplace of the Future, entre Lucent and CWA, prevendo consulta entre
gerentes e sindicato, em 1992; o acordo estabelecido em 1994 entre CWA e Nynex,
quando "as partes negociaram o mais ousado acordo, jamais negociado no setor,
entre sindicato e empregador, sobre estabilidade [...]", inclusive aumento de
salários, retreinamento, acesso dos sindicatos às novas subsidiárias, em troca
da redução de empregados. Essas experiências positivas foram, no entanto,
desfeitas em meados dessa década ante as pressões da reestruturação (Batt e
Darbishire, 1997, pp. 71-72; Batt e Keefe, 1999, pp. 130-133).14
A despeito dos insucessos, os sindicatos tentam superar as dificuldades criando
estratégias de renovação. Novamente, o CWA é um bom exemplo: atuando de forma
integrada em diferentes dimensões, o sindicato norte-americano teve alguns
êxitos nas negociações coletivas, em parte graças à sua atuação política no
sentido de apoiar os interesses das operadoras em matéria de regulação desde
que estes coincidissem com os interesses dos trabalhadores.15 O CWA procura
também fazer alianças entre o sindicato e o consumidor, desenvolvendo campanhas
públicas em defesa do direito dos consumidores, chamando atenção para os
interesses comuns entre consumidores e trabalhadores, sob o argumento de que
boas condições de trabalho geram melhores serviços (Katz et al., 2002, pp. 15-
16).
Ademais, o CWA mantém alianças internacionais, participando de campanhas
conjuntas com sindicatos de telecomunicações, especialmente no Canadá e no
México, comprometendo-se a "a defender os sindicatos e os direitos dos
trabalhadores através de 'mobilizações conjuntas' envolvendo sindicalistas no
México a na América do Norte" (Cohen e Early, 1999, p. 153). Integra ainda a
organização mundial Working Group on Multinationals, que, em 1994, formulou um
código de conduta para as companhias multinacionais de telecomunicações em que
constam, entre outras, exigências como a de fornecer informações completas
sobre as atividades internacionais da empresa às organizações de trabalhadores
e reconhecimento dos sindicatos em nível internacional.
Estratégia importante para a renovação do sindicato foi a redefinição de sua
identidade ao transformar-se de "sindicato de telecomunicações" em "sindicato
da informação" por meio de fusões com outros sindicatos que representavam
trabalhadores em um âmbito mais amplo do que o atual setor de informação: TV a
cabo, internet, serviços de dados, informação, setor jornalístico e de
publicação on line. Há ainda 80 mil empregados do setor público e de saúde que
atuam nos serviços de atendimento a clientes de empresas aéreas16 e empregados
da Dow Jones da Bolsa de Valores de Nova York. Em 2000, o CWA acrescentou 130
mil filiados, resultado da fusão com o sindicato dos trabalhadores do setor
elétrico, International Union of Electrical Workers (IUE), incluindo, assim,
entre seus filiados, trabalhadores fabris do ramo de equipamentos de informação
(Katz et al., 2002; Cohen e Early, 1999; CWA, 1999, www.cwa-union.org).
Em razão desses esforços, o CWA manteve e até expandiu o número de filiados em
termos absolutos, já que em termos percentuais o decréscimo é significativo,
com representação, em 2002, de cerca de 730 mil trabalhadores. Essas
incorporações são importantes na medida em que abre caminho para a presença do
sindicato entre os técnicos e profissionais do setor de informação. Além disso,
há contribuições trazidas pelo conhecimento e experiência profissionais dos
novos filiados, como, por exemplo,
[...] a utilização da Internet apoiada pelo conhecimento do pessoal
do Sindicato de Jornais e da NABET (Associação Nacional de Empregados
e Técnicos de Radiodifusão) cujos filiados possuem qualificação no
trabalho com Internet e multimídia e um conhecimento muito mais
sofisticado da indústria de comunicação. (Katz et al., 2002, p. 21).
São interessantes os casos Wash Tech e Alliance@IBM, cujos profissionais,
altamente qualificados, trabalhando respectivamente para a Microsoft e
empregados da IBM, diferentemente do que se supunha, manifestam interesse e
atuam de forma efetiva para garantir sua representação coletiva. A Wash Tech
organizou-se como associação em nível estadual (Seattle, Washington), filiando-
se ao CWA, em 1998. Os empregados dessa empresa possuem contrato temporário por
meio de agências de emprego e, portanto, com direitos trabalhistas restritos
(em 2000, o número de trabalhadores qualificados da Microsoft nessas condições
era estimado em 35%, sendo sete mil no país e 5.500 na região de Seattle). A
associação tornou-se conhecida em razão do processo judicial que moveu contra a
Microsoft, alegando desigualdade de tratamento dispensado pela empresa
(sobretudo em termos de benefícios concedidos) aos funcionários de tempo
integral e os subcontratados, que, segundo a petição, desempenhavam funções
equivalentes.17 Os profissionais da IBM constituíram a Alliance@IBM em julho de
1999, filiando-se igualmente ao CWA, para protestar contra os cortes de
benefícios pela IBM (Katz et al., 2002, p. 20).
O caso da WashTech parece sustentar empiricamente a tese de John Kelly ao
afirmar que "a atividade e a organização coletiva em última análise derivam das
ações dos empregadores que geram um senso de injustiça e ilegitimidade entre os
empregados [...] eles devem atribuir a injustiça percebida ao empregador [...]"
(Kelly, 1999, p. 44). Todavia, o número de trabalhadores filiados à WashTech é
ainda pouco representativo (cerca de 250), considerando-se o número total de
trabalhadores em situação atípica de emprego.
A organização de trabalhadores foi definida como um dos objetivos básicos do
CWA. Os sindicatos locais são responsáveis por essa tarefa, desenvolvida de
forma voluntária com base na comunicação face à face, sob o pressuposto de que
o envolvimento dos trabalhadores é a chave para o sucesso das atividades
sindicais.
Em termos de negociação coletiva, o sindicato tem conseguido obter resultados
aceitáveis, mantendo e até mesmo elevando os ganhos em alguns itens, como
aumento salarial, melhora nos planos de saúde e pensões,18 eliminação de
monitoramento secreto no trabalho e garantia de pelo menos quarenta horas de
treinamento a todos os trabalhadores sindicalizados. A AT&T e o CWA
assinaram novo acordo coletivo em abril de 2002, com vigência para os dezoito
meses seguintes. Embora não tenha havido avanços, o sindicato considerou a
manutenção dos benefícios existentes (inclusive os relativos à segurança de
emprego) ganhos em face dos objetivos iniciais da empresa de rediscutir o
contrato.
O CWA vem tentando incluir nos acordos coletivos cláusulas relativas à garantia
de emprego e de successorship (em caso de venda da empresa, o novo proprietário
estaria obrigado a cumprir o contrato em vigor). Outro objetivo é o de limitar
a subcontratação, ao garantir notificação antecipada e comitês conjuntos para
discutir o problema, além de cláusulas que proíbem, limitam ou definem o número
de trabalhadores e/ou tipo de trabalho a ser subcontratado. O sindicato tem
também tentado incluir a cláusula denominada "Corporate Citizen", em que os
fornecedores são notificados da importância que a corporação atribui ao
cumprimento das leis trabalhistas e às boas relações com o sindicato.
Contudo, a despeito dos esforços, os sindicatos nos Estados Unidos e na
Inglaterra vêm sofrendo grande hostilidade por parte dos empregadores. A
experiência desses países não pode, no entanto, ser generalizada. Países como
Alemanha, Itália e Suécia diferem dos Estados Unidos e do Reino Unido no que se
refere à situação dos sindicatos em geral e, das telecomunicações, em
particular.
Na Alemanha, a Deutsche Telekom (DT) fazia parte da estatal Deutsche
Bundenpost, que incluía serviços postais, de telecomunicações e de caixa
econômica até 1989, quando da Post Reform I, que separou a Telekom das outras
companhias. Essa empresa deteve o monopólio dos serviços de telefonia e de
televisão a cabo até a Post Reform II, em janeiro de 1995, que iniciou o
processo de privatização; em 1996, a companhia vendeu 26% das ações e, em 1998,
foi completamente privatizada. O sindicato, Deutsche Postgewerkschaft (DPG),
que fora muito influente, conseguiu mantê-la após a privatização, interferindo
nas decisões que deram ritmo e definiram a natureza do processo. A relação
sindicato/empresa tem sido de cooperação numa estratégia de ganhos mútuos. Em
vez de promover demissões e adotar um modelo baseado no baixo custo do
trabalho, a empresa tem se apoiado no aumento da receita - a tradicional
medida de desempenho "linhas por empregado" foi substituída por "receita por
empregado", fixada em DM 470,000. Tais resultados foram possíveis, em grande
parte, devido às condições de regulação que favoreceram a posição da Telekom no
mercado, o que reduziu as pressões competitivas.
Como monopólio estatal a DT era uma organização burocrática, hierárquica e
centralizada. Após a privatização, a despeito da influência sindical, ocorreram
mudanças significativas decorrentes desse processo, entre as quais são
relevantes a racionalização e a reorganização do trabalho, a diversificação nos
sistemas de emprego e de pagamentos, o crescimento do emprego atípico (nos anos
de 1970, 15% do emprego era atípico; na década de 1990, 33%), a segmentação da
força de trabalho, a descentralização do processo de decisão e de negociação
coletiva e, por fim, a crescente diversidade em vários aspectos do setor. Os
sindicatos sofreram declínio nos índices de filiação, ainda que em menor escala
em relação a outros países, e perderam espaço para os conselhos de fábrica no
processo de negociação (Ferner e Terry, 1997; Katz e Darbishire, 2000, pp. 208-
210).
A Deutsche Telekom tenta ganhar maior flexibilidade valendo-se da
descentralização da produção e de estratégias como fragmentação das negociações
coletivas, esquemas de remuneração baseados em desempenho individual, ao que se
opõem os sindicatos e os conselhos de fábrica. Uma das estratégias para escapar
do controle sindical e obter maior flexibilização tem sido criar companhias
subsidiárias.
Mesmo assim, os sindicatos têm conseguido garantir sua influência. Exemplo
disso foi a reorganização do trabalho na DT ter sido negociada com o sindicato
e também as subsidiárias terem sido obrigadas a negociar com ele acordos
coletivos. Ele chegou a obter da empresa o compromisso de adotar um conjunto de
princípios para definir um código de conduta em suas parcerias internacionais
"assegurando que as relações usuais na Alemanha entre empregador e empregado
sejam reconhecidas e aceitas em todos as subsidiárias e setores de negócios em
que a Deutsch Telekon esteja envolvida, assim como seus parceiros no mundo e em
demais empresas na Alemanha". (citado por Cohen e Early, 1999, p. 160).
Portanto, diferentemente do que ocorreu nos Estados Unidos e na Inglaterra, as
novas empresas na Alemanha relacionam-se com os sindicatos que, juntamente com
os conselhos de fábrica, garantem nas subsidiárias condições de trabalho
semelhantes às da Telekom.
Ademais, alguns fatores institucionais atuam como freios ao individualismo
propugnado pelas empresas. O modelo alemão garantiu à Telekom uma posição
favorável no mercado, liberando a empresa de pressões competitivas demasiadas:
a empresa ainda mantém o controle da companhia de TV a cabo, a maior do mundo
(Batt e Darbishire, 1997, p. 75). Por outro lado, a existência de uma
legislação que garante direitos aos conselhos de fábrica impede as empresas de
anularem a representação coletiva dos trabalhadores. O dualismo do sistema
alemão, sem abdicar dos acordos coletivos centralizados que definem parâmetros
de negociação, permite um grau de flexibilidade necessário para atender às
situações particulares.19 Todavia, os estudos constatam um deslocamento das
negociações em direção ao local de trabalho, o que resulta em maior influência
para os conselhos de fábrica e maior possibilidade de concessões pelos
trabalhadores, introduzindo, também, maior diversidade nas situações de
trabalho, o que provoca um aumento da pressão sob os sindicatos. Aumenta, pois,
o número de atores e a diversidade de situações em relação às práticas de
emprego e de trabalho.
Mesmo sob um padrão geral de contrato, as subsidiárias gozam de maior
flexibilidade ao negociar com os conselhos de fábrica. Outros sindicatos que
não o DPG estão agora representando os trabalhadores nas novas empresas de
telecomunicações; o resultado disso é a diversidade dos contratos (Katz e
Darbishire, 2000, p. 214). Portanto, apesar da capacidade do DPG de manter a
coordenação nas relações entre conselhos de fábrica e empresas e das
negociações nas subsidiárias, bem como manter sua representação nos comitês das
empresas, a descentralização e a variabilidade estão também presentes no setor
das telecomunicações alemão. Por outro lado, a despeito de sua influência, o
DPG não conseguiu evitar aspectos danosos aos trabalhadores como, por exemplo,
queda do nível de emprego, formas de remuneração por desempenho, crescimento
das desigualdades salariais, assim como maior desequilíbrio na distribuição
entre lucros e salários (Katz e Darbishire, 2000).
De modo geral, observa-se que mesmo em condições favoráveis, como é o caso dos
sindicatos alemães se comparados com a situação dos norte-americanos e
britânicos, os sindicatos de telecomunicações nos países centrais se encontram
sob pressão devido ao maior número de atores e à crescente diversidade nas
práticas de trabalho no setor, que, no passado, foi bastante homogêneo e
centralizado.
O caso do Brasil
O processo de reestruturação das telecomunicações, como já foi referido, é um
fenômeno mundial, que atinge, indistintamente, os países industrializados da
América do Norte, da Europa, da Ásia e da América Latina. Entretanto, a
natureza, a motivação e os arranjos desses processos diferem entre si. Uma
diferença fundamental diz respeito à motivação, ou seja, países como os Estados
Unidos e a Grã-Bretanha implementaram a reforma do setor de telecomunicações a
partir de pressões internas originadas nos grupos empresariais identificados
com as grandes corporações multinacionais, bem como de pressões oriundas de
setores industriais ligados à indústria produtora de equipamentos para o setor
de telecomunicações (indústria informática e aeroespacial), em busca de
mercados e da consolidação de hegemonia tecnológica.20
Em países "periféricos", como os da América Latina, onde os monopólios no setor
de telecomunicações eram, em geral, ou de propriedade estatal ou controlados
pelo Estado, a quebra dos monopólios decorre, principalmente, da incapacidade
de os governos financiarem o desenvolvimento do setor em razão da crise fiscal
que abala as finanças desses países desde meados dos anos de 1970, com
agravamento na década seguinte. No Brasil, o nível de investimento no setor
caiu de US$ 3,5 bilhões em 1973-1979 para US$ 2,4 bilhões no período de 1980-
1989 (Costa, s.d., p. 12).
A reestruturação nesses países assume um caráter defensivo e de controvérsia
política, pois envolve soluções que implicam a transferência total ou parcial
de bens públicos, em muitos casos, para o capital estrangeiro. Os opositores
interpretam tais interferências como uma afronta à soberania nacional. Como
afirmam Katz e Darbishire: "os países diferem em relação a quanto se encontram
abertos à competição internacional e a quanto a competição internacional
constitui-se em nova fonte de pressão" (2000, p. 4).
No Brasil, o envolvimento do governo no setor de telecomunicações é
relativamente recente, já que a empresa estatal Embratel foi criada em 1965.
Até então, grande parte (68%) dos serviços de telecomunicações eram providos
pela Companhia Telefônica Brasileira (CTB), firma canadense, subsidiária da
Canadian Traction Light and Power Company; o restante era provido de forma
fragmentária, técnica e gerencialmente, deficiente por cerca de 800 pequenas
firmas privadas. A qualidade dos serviços era bastante insatisfatória,
apresentando uma das mais baixas densidades no mundo (Hobday, 1990, p. 90).
Em 1962, o governo estabeleceu o controle sobre os serviços de telecomunicações
por meio do Código Brasileiro de Telecomunicações. O Ministério das
Comunicações foi criado em 1967; em 1972, a Telebrás, a holding estatal que
completava o Sistema Brasileiro de Telecomunicações, integrado por a) 24
companhias pertencentes aos Estados da federação, encarregadas dos serviços em
seus territórios; b) Embratel, encarregada da comunicação interestadual e
internacional, bem como de serviços especiais, como comunicação de dados; e c)
o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD).
Nos anos de 1970, a Telebrás cresceu rapidamente, utilizando-se, sobretudo, de
recursos obtidos pelo Fundo Nacional de Telecomunicações (fundo de investimento
gerado por meio de imposto de 30% sobre serviços de telecomunicações).21 O
crescimento da inflação na década seguinte levou os governos ao controle de
preços das tarifas públicas, o que resultou em defasagem tarifária e, em
conseqüência, na queda de arrecadação e na incapacidade de investimento. Isso
gerou não só o atraso na modernização da infra-estrutura básica, mas também
dificuldades para a ampliação da digitalização da rede e a instalação de cabos
de fibra ótica, ocasionando incapacidade de atendimento da demanda de serviços
mais sofisticados, como fax, telefonia móvel, serviços de multimídia,
videoconferência, paging, entre outros (Carvalho Neto, 1998, p. 109). A
situação da Telebrás agravou-se nos anos de 1990: baixo índice de atendimento
da demanda por serviços de telecomunicação (seis linhas telefônicas por 100
habitantes) e baixos padrões de qualidade e de produtividade (onze empregados
por 1000 habitantes). Havia, também, uma acentuada distorção gerada pelo
sistema na distribuição de telefones entre as diferentes camadas da população.
Assim, em 1998, os 16% da população de mais alta renda possuíam 81% dos
telefones residenciais, com uma média de duas linhas telefônicas por família,
pagando um valor simbólico de R$ 0,44 como tarifa mensal de assinatura (Paste,
Anatel, 2000, p. 18). Cinqüenta e dois por cento da população de baixa renda
possuíam apenas 2% dos telefones residenciais, com média de uma linha
telefônica por 100 famílias (Anatel, 1998, citado na revista Veja, 28.7.1998,
p. 107).22 Além disso, a empresa, que requeria uma boa capacidade
administrativa e de planejamento tecnológico, via-se envolvida com problemas de
disputas políticas por cargos (Costa, 1996; Albuquerque et al., 1999).
O Sistema Telebrás foi privatizado em julho de 1998, dividindo o país em três
regiões, Norte-Leste, Centro-Oeste-Sul e parte da Região Norte e São Paulo,
cuja exploração de serviço de telefonia fixa coube a três operadoras -
respectivamente, Telemar, Brasil Telecom e Telefônica de Espanha - e a de
longa distância, Embratel/WorldCom. O modelo brasileiro de privatização
estruturou-se em termos de duopólio: a) as empresas concessionárias originárias
do Sistema Telebrás operam como serviço público e são obrigadas a cumprir metas
de universalização, continuidade e qualidade impostas pela agência reguladora,
Anatel; e b) as empresas competidoras ("empresas-espelho", cujo ingresso no
mercado foi liberado em dezembro de 1999), não estando sujeitas às metas
impostas às concessionárias, operam com tarifas liberadas. Estas últimas podem
utilizar tecnologia Wireless Local Loop (vedada às concessionárias), com baixos
custos de instalação e de manutenção e contam com uma força de trabalho
ajustada a suas necessidades. Carecem, no entanto, do mercado cativo das
concessionárias23 e, como desafio, devem construir estratégias para atrair
clientes. As empresas concessionárias e as autorizadas não poderiam prestar
serviço em outra região antes de 31 de dezembro de 2003 e 2002,
respectivamente, a não ser que antecipassem as metas impostas pela agência
reguladora.
A privatização alterou profundamente o contexto das telecomunicações, no
Brasil. O nível de investimento no período de 1980/1989 era de US$ 2,4 bilhões,
e a teledensidade para a telefonia fixa (número de acessos telefônicos por 100
habitantes) era, em 1990, de 7,1 bilhões. No final de 2001, essa taxa
quadruplicou, chegando a 28,2 bilhões. A teledensidade referente à telefonia
móvel também cresceu significativamente: no final de 1998, era de 4,5 bilhões,
passando para 14,0, em 2001; a estimativa é que chegue, em 2005, a 32,6 bilhões
(o Rio Grande do Sul já possui essa densidade e o Rio de Janeiro e o DF, já
ultrapassam) (Paste, Anatel, 2000; Anatel, 2003).24
As principais companhias operadoras - Telemar, Brasil Telecom, Telefônica/
Telesp e Embratel - obtiveram crescimento expressivo da receita líquida de
vendas e/ou serviços desde 1999 (ver Tabela_3), embora tenha havido redução do
lucro líquido (exceção da Brasil Telecom, que optou por não adiantar metas) em
razão das dificuldades econômicas gerais que se refletiram no setor em termos
de aumento da inadimplência, cancelamento de linhas, aumento da competição e
queda da taxa de utilização.
O aumento da produtividade do trabalho (número de linhas em serviço por
empregado) tem sido extraordinário: na Brasil Telecom, de 1999 a 2002, o
aumento foi de 260,7%, passando de 471 para 1.699 (Tabela_3); na Telefônica/
Telesp, o aumento da produtividade do trabalho, de 1999 até o final de 2002,
foi de 131,7%, passando de 567 para 1.314. Esse crescimento deve-se
principalmente à ampliação das plantas e à concomitante redução do número de
empregados.
Apesar dos resultados positivos, as telecomunicações no Brasil passam por um
momento de transição, marcado por incertezas. Prevê-se que ao final do processo
de liberalização do mercado haverá uma nova configuração de empresas, resultado
de fusões, alianças e parcerias. Nesse contexto, as empresas também enfrentam
desafios e incertezas ao que respondem com formas mais duras em sua relação com
os trabalhadores.
Quanto aos sindicatos, as implicações do processo de privatização/liberalização
têm similaridades ao que ocorreu nos Estados Unidos, sobretudo no que se refere
à transformação da base de trabalhadores de uma empresa monopólica (estatal, no
caso do Brasil), sob negociações coletivas centralizadas, para uma base de
trabalhadores dispersos por múltiplas empresas privadas, controladas por
empresas estrangeiras de origens distintas. Os sindicatos são surpreendidos com
a enorme fragmentação e heterogeneidade que caracteriza hoje o setor em
contraste com a homogeneidade do passado.
Nas condições atuais, essa fragmentação é danosa para os sindicatos, tanto em
termos da descentralização das negociações coletivas, como da dificuldade de
recrutar trabalhadores dispersos geograficamente. Com a privatização da
Telebrás, as negociações coletivas, quando ocorrem, acontecem entre empresas e
sindicatos locais. Com o enfraquecimento da Federação Nacional (Fittel) perdeu-
se a referência nacional. Nesse sentido, os sindicatos brasileiros tiveram
menos êxito do que os norte-americanos, já que estes haviam conseguido garantir
negociações abrangentes no nível da AT&T e das Bells regionais. No Brasil,
a diversificação de empresas, a descentralização e, portanto, a variedade de
resultados passaram a ser, após a privatização, temas centrais de discussão, o
que causa certa perturbação e revela o enfraquecimento dos sindicatos,
despreparados para enfrentar essa realidade. Assim como ocorre nos países
centrais, o fenômeno da fragmentação e da diversidade também se manifesta como
segmentação do mercado de trabalho, com diferenças muito nítidas nos perfis de
trabalhadores do setor, entre e no interior das empresas, tornando difícil a
tarefa de comunicação e mobilização dos sindicatos. Segundo o depoimento de um
líder sindical, a segmentação dos trabalhadores traz inúmeras dificuldades para
a mobilização dos empregados, desde questões relativas às pautas, que não podem
ser as mesmas para todos os segmentos, até o tipo de linguagem e de abordagem a
ser utilizado: "não é possível tratar da mesma maneira trabalhadores de
empreiteiras e empregados de empresas de telefonia celular". Como afirma
Sennett: "A rotinização tornou-se uma arena em que os trabalhadores podem
afirmar suas próprias demandas, uma arena de empoderamento" (1998, p. 43).
Há, portanto, necessidade de um aprendizado sobre como negociar com o setor
privado sem a "proteção" do Estado. A experiência anterior era bastante
diferente, ainda que não estivesse livre de conflito, a negociação ocorria,
muitas vezes, no âmbito do Congresso Nacional ou do Ministério, envolvendo a
influência de políticos e atores no governo. Esse tipo de relação sindicato/
empresa estava também presente no antigo Bell System: "Com uma história de
relações de trabalho cooperativas no velho sistema Bell, os sindicatos
precisaram aprender a mobilizar seus filiados acostumados a vitórias
relativamente fáceis" (Katz et al., 2002, pp. 3-4).
Os sindicatos de telecomunicações no Brasil constatam o declínio nos índices de
filiação e a conseqüente perda de arrecadação financeira. Segundo informação de
um líder sindical, em dois anos, os sindicatos perderam em média cerca de 40%
de sua receita. Sua situação financeira poderá piorar se as empresas deixarem
de liberar os dirigentes sindicais, como é possível que aconteça.
A redução de pessoal nas operadoras deverá continuar, já que as empresas
necessitam aumentar rapidamente a produtividade para compensar os altos
investimentos realizados. Aposentadorias, demissões voluntárias e involuntárias
persistem, e a tendência é de aumento do número de empregados terceirizados
mesmo em atividades-fim. No período de 1999-2002, a Telemar reduziu em 160,1%
sua força de trabalho, enquanto a Brasil Telecom e a Telefônica reduziram em
44,4% e 32,9%, respectivamente; a Embratel foi a única a aumentar o número de
empregados, em 17,2% (Tabela_3). Observa-se uma pulverização dos trabalhadores,
muitas vezes ocupados em empresas subcontratadas de pequeno porte e/ou em áreas
incluídas em outras categorias que não as abrangidas pelos sindicatos de
telecomunicações, como no caso do telemarketing, em que os trabalhadores podem
se filiar ao sindicato do comércio, ou nos caso dos trabalhadores de manutenção
de cabos, que podem se filiar ao sindicato da construção civil, cuja lógica e
funcionamento são muito diferentes da dos sindicatos de telecomunicações.
As dificuldades de recrutamento estendem-se aos novos empregados, que se
constituem em grande parte de mão-de-obra jovem, com escolarização elevada e
distantes da cultura sindical. Ademais, há uma maior restrição das empresas à
ação sindical. Por outro lado, deve-se lembrar das dificuldades enfrentadas
pelos próprios sindicatos, que dizem respeito à necessidade de se livrar da
cultura do sindicalismo estatal e à ausência de organização nos locais de
trabalho, problemas que decorrem, entre outros aspectos, de condições adversas,
como carência de recursos, falta de qualificação de seus quadros e temor do
desemprego por parte dos trabalhadores.
Esse quadro indica as tendências gerais da relação entre os sindicatos de
telecomunicações no Brasil e as empresas, mas essa relação é muito
diversificada, confirmando as constatações de Katz e Darbishire (2000) no
estudo sobre sindicatos de telecomunicações em diferentes países.
Considerando-se o exemplo da Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT)/
Brasil Telecom, concessionária regional (Rio Grande do Sul) e primeira
companhia telefônica brasileira a ser privatizada (dezembro de 1996),25 é
possível comparar o conteúdo dos acordos coletivos assinados entre a empresa e
o sindicato no período anterior e posterior à privatização. O Quadro_1 resume
os pontos principais desses acordos entre1994/1995 e 2000/2002, evidenciando as
mudanças ocorridas após a privatização. O caso da CRT pode ser tomado como
exemplo, já que antes da privatização os acordos eram muito similares em todo o
Sistema Telebrás. Após a privatização, os acordos passaram a variar
significativamente entre as companhias, o que indica os resultados da
descentralização do processo de barganha (Quadro_2).
O exame dos acordos firmados entre a CRT e o Sinttel/RS (Sindicato dos
Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações e Operadores de Mesas Telefônicas
no Estado do Rio Grande do Sul) no período de 1994/1995 a 2000/2002 também
evidencia as mudanças ocorridas após a privatização, conforme mostra o Quadro
1.
Em relação à remuneração, os empregados contavam com uma recomposição salarial
anual baseada em reajustes lineares de acordo com a variação do índice oficial
de inflação. Havia outros benefícios incorporáveis ao salário, como o
percentual correspondente a ganhos de produtividade, anuênios (1% do salário
por tempo de serviço) e gratificação de férias (70% da remuneração fixa
mensal). Preparando-se para a privatização, a empresa passou a impor restrições
a alguns dos benefícios referidos: por exemplo, o adicional de produtividade,
que no acordo firmado em 1994/1995, chegara a 5% do salário, caiu para 2% no
acordo de 1996/1997, deixou de ser incorporado ao salário e sua concessão ficou
condicionada ao valor das despesas com custos com pessoal. No último acordo
firmado antes da privatização, a "produtividade" desaparece como cláusula,
sendo incluída no percentual do reajuste salarial. Alterações mais
significativas verificam-se após a privatização: a "produtividade" passou a ser
negociada no âmbito da PLR (Participação nos Lucros e Resultados); desapareceu
a cláusula relativa a anuênios; o valor da gratificação de férias foi rebaixado
de 70% do salário para 34%, conforme previsto em lei; os reajustes salariais
deixaram de ser regidos por índices de variação da inflação, ou mesmo
desapareceram como tal, sendo substituídos por abonos. No último acordo firmado
entre o Sinttel/RS e a CRT (2001-2002) o reajuste salarial voltou a ser
incorporado ao salário, mantendo-se a concessão de um abono. Observa-se, nesse
acordo, uma sensível melhora nos ganhos monetários, comparando-se com os outros
acordos pós-privatização. A significativa expansão do mercado de telefonia, o
aumento da concorrência, bem como os esforços para antecipar metas, parecem ter
contribuído para tal resultado.
A negociação da PLR no setor de telecomunicações iniciou-se apenas a partir de
2000 e como PR (Participação nos Resultados).26 Os sindicatos recusavam-se a
negociar a PLR por razões de ordem ideológica, pois acreditavam que aceitar
essa forma de remuneração significava a submissão aos princípios capitalistas.
A difusão dessa prática, no entanto, obrigou-os a rever sua posição (Carvalho
Neto, 1998, p. 170).27
A supressão de itens, como reajustes salariais regidos por índices de inflação
oficial, gratificação de férias, anuênios, a implementação da PLR e a concessão
de abonos introduziram um percentual significativo de componente variável na
remuneração dos trabalhadores em telecomunicações. Dessa forma, as empresas
visam a enfrentar mudanças tecnológicas constantes e a alta competição que se
estabelece no setor, assim como a garantir o comprometimento dos trabalhadores
com suas metas.
O acordo firmado entre a CRT e o Sinttel em relação à PLR considerou como
indicador "resultados" e não "lucros", por decisão do sindicato.28 Os termos
dos acordos contêm aspectos favoráveis aos trabalhadores (Quadro_1). No acordo
de 1999-2000, o valor básico a ser distribuído (pagamento anual) foi de 1,2% da
remuneração, sendo 20% constituído de parcela fixa, R$ 435,00, e 80%,
proporcional ao salário de cada empregado. Foi negociado também um adiantamento
no valor de R$ 1.200,00 condicionado ao cumprimento das metas até abril de
2000. Na mesma ocasião foi concedido abono salarial a todos os empregados, no
valor de R$ 917,00, acrescido de 26% do salário de cada empregado. No acordo
firmado de 2001, os ganhos estabelecidos passaram a ser condicionados à
antecipação de metas, tendo em vista a necessidade de a empresa obter a
certificação da Anatel para atuar em outras regiões do país, conforme consta na
cláusula primeira, parágrafos primeiro e segundo do referido acordo:
Se a Empresa Brasil Telecom receber da Anatel a Certificação pelo
cumprimento da Antecipação das Metas de Universalização podendo,
assim, operar em outras regiões do mercado de telecomunicações, o
valor acima de 1.2 salários passará para 1.8 salários como incentivo
e premiação por esse esforço conjunto de todos os empregados na
obtenção dessa Certificação.
Se, entretanto, a Empresa Brasil Telecom não obtiver essa
Certificação da Anatel, nada será pago a título de Participação nos
Resultados de 2001, ainda que a CRT tenha atingido suas metas.
(Acordo Coletivo de Trabalho para o Estabelecimento de Programa de
Participação nos Resultados para 2001, Sinttel/RS-CRT Brasil Telecom,
p. 2).
Registre-se o tom ameaçador do parágrafo segundo, em que as metas da empresa
assumem o significado de imposição: ou são atingidas em sua totalidade ou o
acordo perde validade.
Os valores pagos como PR e como abonos constituem ganhos para os trabalhadores
tendo em vista as dificuldades presentes no mercado de trabalho, ainda que
pagos na forma de remuneração variável. Contudo, deve-se reconhecer que a
remuneração variável baseada em lucros e resultados transfere os riscos dos
empresários para os trabalhadores, já que a remuneração destes passa a variar
conforme a situação econômica da empresa, sem que lhes seja transferida a
capacidade de gestão e decisão.
Mais significativo talvez do que os ganhos monetários seja a possibilidade que
esses acordos oferecem de o sindicato ter acesso a fontes e dados da empresa,
prerrogativa negada aos sindicatos mesmo quando as empresas encontravam-se sob
o controle estatal (Carvalho Neto, 1998, p. 169). No caso em análise, a decisão
de realizar acordos relacionados à PR resultou na constituição de uma comissão
integrada por membros do sindicato e da empresa com a incumbência de acompanhar
o andamento do cumprimento dos indicadores com acesso às fontes e dados
necessários. Embora a formação desse tipo de comissão com a participação dos
sindicatos seja prevista em lei, ela não tem sido respeitada pela maioria das
empresas.29 Nesse sentido, a formação da comissão citada acima significou o
reconhecimento do sindicato como interlocutor e a criação de uma nova instância
de negociação, o que representa um ganho para os trabalhadores. Por exemplo, o
sindicato pode participar da escolha dos indicadores para a aferição dos
resultados, definindo suas vantagens e desvantagens para os trabalhadores.30
Em relação às condições de trabalho, os trabalhadores do setor obtiveram
redução da jornada de trabalho (36 horas semanais para telefonistas e para os
que utilizam audiofones e terminais de vídeo e 40 horas semanais para os demais
empregados), sem redução de salário, ganho que foi mantido após a privatização.
Quanto ao pagamento de horas extras, houve, após a privatização, redução de 50%
no valor pago às horas subseqüentes às duas primeiras; não há referências a
restrições ou proibição de horas extras. Esse resultado contraria as
reivindicações sindicais, que propõem o aumento do percentual da remuneração de
horas extras como forma de restringi-las.
Verifica-se a ausência de cláusula sobre o chamado "banco de horas", o que pode
ser considerado uma vitória do sindicato, contrário a esse procedimento por
julgá-lo danoso aos interesses dos trabalhadores (compensação de horas extras
por folgas imprevistas, jornadas prolongadas, rebaixamento da remuneração), mas
que tem sido insistentemente defendido pelo empresariado como forma de
flexibilizar o tempo de trabalho para melhor enfrentar as oscilações do
mercado. No entanto, a rejeição do sindicato não impede negociações individuais
entre empresa e trabalhadores.
No que se refere a demissões, antes mesmo da privatização (acordo coletivo de
1995-1996), o compromisso de a empresa não dispensar empregados atingidos pela
introdução de novas tecnologias foi extinto, mas foi mantida a cláusula de
comprometimento da empresa no sentido de realizar programas de recapacitação e
de realocação desses empregados. Nos dois últimos acordos, entretanto, não há
referência à realocação, mas somente à capacitação e ao programa de
desenvolvimento profissional. As cláusulas relativas à divulgação prévia a
todos empregados dos procedimentos sobre avaliação e critérios de promoção e ao
compromisso de a empresa reduzir gradativamente a subcontratação/terceirização
foram extintas a partir de 1998. Nesse aspecto, pode-se observar uma sensível
perda do sindicato em relação à sua preocupação com a questão do aumento da
terceirização, visto que, após a privatização, houve um crescimento
significativo da subcontratação.
Quanto às questões relativas à saúde e à segurança no trabalho, não houve
alterações no que já tinha sido assegurado aos trabalhadores. Contudo, não
existe qualquer regulamentação relativa ao ritmo e/ou à intensidade de
trabalho, um aspecto crucial, dada a intensificação do ritmo de trabalho. Essa
omissão significa, evidentemente, uma perda para os trabalhadores.
A propósito das relações sindicais, houve restrição na liberação de dirigentes
e, nos dois últimos acordos, há uma ressalva de que o número de dirigentes
liberados poderá ser reduzido, o que já acontece em outros sindicatos do setor
(ver Quadro_2). Essa redução afeta o desempenho dos sindicatos tendo em vista a
maior necessidade de pessoal ante a atual diversidade de situações e as
dificuldades para a remuneração de pessoal.
Ao se examinar comparativamente os últimos acordos firmados entre os três
sindicatos selecionados e as respectivas operadoras, observam-se tendências
convergentes e divergências, conforme mostra o Quadro_2.
No que se refere a convergências, pode-se observar o desaparecimento de
concessão de reajustes lineares (os reajustes passaram a ser escalonados por
faixas salariais); também foram extintas as cláusulas relativas a uma série de
benefícios, como, por exemplo, reajustes conforme a variação do índice oficial
de inflação, anuênios, produtividade, gratificação de férias e valor das horas
extras. Em todos os casos analisados, a produtividade passou a ser negociada no
âmbito da PLR, sem incorporação aos salários, embora haja distinções relativas
a formas, critérios e valores negociados nos diferentes acordos. No caso da
Telemar/MG, não foi firmado um acordo, apenas regras estabelecidas entre a
empresa e uma comissão de trabalhadores, sem a presença do sindicato.
Entretanto, no último acordo, há uma cláusula que se compromete a garantir a
presença do sindicato em futuras negociações da PLR. Observa-se, ainda, a
ausência de cláusulas referentes à limitação da subcontratação, um dos aspectos
mais caros aos sindicatos de telecomunicações no momento. Da mesma forma, foram
excluídas, nos acordos analisados, as cláusulas que garantiam aos trabalhadores
o acesso a informações sobre critérios de avaliação, desempenho e promoções.
Além disso, foram mantidas as cláusulas relativas à jornada de trabalho,
garantindo a redução da jornada sem redução salarial. No entanto, nos acordos
firmados pelo sindicato e a Telemar/RJ, há um adendo que indica a possibilidade
de aumento da jornada de trabalho para 44 horas semanais, o que representa um
retrocesso, já que a tendência mundial é de redução da jornada. Finalmente,
houve redução do número de dirigentes liberados com remuneração para atividades
sindicais. A CRT foi a mais generosa, embora, tenha incluído um adendo
advertindo sobre a possibilidade de redução de liberações no futuro.
Observam-se divergências em relação à remuneração. Diferentemente da CRT (até o
acordo 2000-2001), a Telemar, nos dois Estados examinados (Minas Gerais e Rio
de Janeiro), concedeu reajustes incorporáveis aos salários, ainda que
escalonados (2% para empregados com salários de até R$ 1.700, em 2000, e 3%
para salários até R$ 1.500, em 2001, mantendo sem reajuste empregados com
salários acima desses valores). Os sindicatos são decididamente contrários a
esse tipo de diferenciação, pois ela rompe com os princípios de homogeneidade e
solidariedade sobre os quais eles baseiam suas estratégias e garantem a
legitimidade. Além disso, a diferenciação salarial estabelece mais um fator de
variabilidade com o qual os sindicatos têm dificuldades em lidar. No caso em
exame, a diferenciação pode resultar em redução da desigualdade salarial,
embora possa contribuir para afastar do sindicato o segmento não contemplado
com reajuste. Em contrapartida, a vantagem de ser incorporável ao salário fica
relativizada, uma vez que o reajuste é inferior à variação do índice anual de
inflação. Reiterando, a CRT, no último acordo firmado, aproximou-se das demais
operadoras ao conceder reajuste por faixas salariais, incorporáveis ao salário.
Contudo, assumiu uma posição diferenciada ao conceder reajustes a todos os
empregados, com valores percentuais e faixas salariais mais elevados, o que
expressa a situação particular da empresa na conjuntura atual, em razão,
sobretudo, da premência no cumprimento de metas e das pressões do mercado de
trabalho na região.
Outra divergência diz respeito aos programas de capacitação e de
desenvolvimento profissional para empregados atingidos por novas tecnologias e
automação. Nos casos analisados, apenas houve referência a esse respeito no
acordo da Sinttel/RS-CRT, em que a empresa manteve os programas de capacitação
e de desenvolvimento profissional. A manutenção dessa cláusula (embora mais
restrita do que nos acordos pré-privatização) significa uma vitória para o
sindicato, já que há pouca disposição do empresariado brasileiro em investir em
planos de qualificação ou mesmo negociar esse tipo de acordo.31 Ademais, houve
também divergência quanto à constituição de comissão paritária (empresa e
sindicato) com o objetivo de conciliar conflitos coletivos e/ou individuais
fora do âmbito da Justiça do Trabalho. Por fim, há diferenciação quanto à
negociação referente à implementação do chamado "banco de horas" acordado entre
Sinttel/RJ-Telemar/RJ, o qual representa, conforme já referido, a
flexibilização da jornada de trabalho e o não pagamento monetário de horas
extras.
Um aspecto relevante a ser destacado diz respeito às novas estratégias
sindicais e, em particular, ao acordo firmado pelo Sinttel/RS e três
empreiteiras (2000).32 Embora tenha limitado-se a reproduzir aspectos básicos
previstos pela legislação (registro dos contratos de trabalho, jornada semanal
de 44 horas, pagamento de horas extras, cumprimento de normas de segurança,
adicional de periculosidade e insalubridade, homologação de rescisões no
sindicato para empregados com mais de um ano na empresa, ressarcimento de
despesas realizadas pelo empregado para a realização do trabalho, como
utilização de veículo e telefones próprios), o acordo foi relevante ao garantir
direitos trabalhistas básicos, em geral, desrespeitados. Obteve, assim,
conquistas como definição de pisos salariais de acordo com cargos e funções;
ressarcimento ao empregado de despesas realizadas com a utilização de veículos
próprios para a realização de trabalho da empresa; obrigação da empresa de
liberar os empregados para tratamento médico e/ou odontológico sem prejuízo de
salário; estabilidade no emprego provisória após licença gestante de trinta
dias; estabilidade para o representante sindical eleito e liberação remunerada
de empregados eleitos ou indicados pelo sindicato, além de outros benefícios
não monetários, como bônus refeição, entre outros.
Talvez mais significativo do que os ganhos imediatos seja a mudança de atitude
do sindicato de telecomunicações, que passou a se preocupar, pela primeira vez,
em ampliar sua base, incluindo, empresas prestadoras de serviço, onde, em
geral, os trabalhadores se encontravam desprotegidos e excluídos do sindicato.
Conclusão
Voltando à questão inicial sobre qual seria a situação atual dos sindicatos
diante dos novos desafios - crise ou novas estratégias? -, talvez seja
possível afirmar que ambas as hipóteses estejam presentes e que a constatação
de uma ou de outra depende da perspectiva do analista. A idéia de crise
apresenta-se para os que entendem os sindicatos como um movimento classista,
que atua na esfera própria do mundo fordista, na perspectiva do conflito. Esse
tipo de sindicalismo está realmente em crise. A idéia de "novas estratégias"
afirma-se para os que percebem a realidade em movimento, onde os atores se
reorientam, criando novos campos de conflito e de negociação. Nessa
perspectiva, enfoca-se a concepção de transição, em que a realidade não se
encontra estagnada, nem os atores congelados, mas reagindo a novas situações,
propondo novas agendas, errando, mas também abrindo novas oportunidades. Tal
transição deverá ser longa e gradativa.
Um aspecto importante resultante da desregulamentação/privatização foi a
mudança de uma realidade que durante décadas se caracterizou pela homogeneidade
para uma outra marcada por grande heterogeneidade. Os sindicatos de
telecomunicações, influentes mundialmente em grande medida por causa das
características do setor - empresas monopólicas operando como
concessionárias de serviço de utilidade pública -, viram-se ameaçados sob
condições político-econômicas adversas e, ao mesmo tempo, despreparados para
atuar em situação de grande variabilidade. Perplexos diante de tais desafios,
eles procuram enfrentar a nova situação, ainda que de forma lenta e defensiva.
No entanto, a diversidade nas práticas de trabalho, no mercado de trabalho,
entre os trabalhadores e no local de trabalho, de maneira geral, veio para
ficar. Os próprios sindicatos terão de basear seus princípios no conceito de
diversidade. Assim, será necessário que eles considerem suas ações num contínuo
que vai da cooperação ao antagonismo, utilizando-se em graus distintos um e/ou
outro, de acordo com as circunstâncias (Katz et al., 2002, p. 2).
Outra dificuldade decorre do tipo de estratégia gerencial a ser adotada. Quanto
mais as empresas se apoiarem no rebaixamento do custo da mão-de-obra como
estratégia de competitividade, maior serão as dificuldades de os sindicatos
atingirem os objetivos de melhoria das condições de trabalho. Os resultados
positivos alcançados na Alemanha e em algumas operadoras regionais nos Estados
Unidos resultaram de um ambiente de regulação favorável às empresas,
refletindo-se nas relações entre estas e os sindicatos.
Comparando-se as experiências do Brasil e dos Estados Unidos quanto à ação
sindical no setor de telecomunicações, observa-se um ponto de partida comum: a
empresa monopólica oferecendo serviços de utilidade pública sob um único
sistema de emprego, além das relações sindicato-empresa estarem próximas do
paternalismo. O setor tornou-se competitivo, globalizado, diversificado e
heterogêneo, num ambiente pouco amistoso aos sindicatos. As diferenças,
principalmente em termos de grau, poderiam talvez ser atribuídas a fatores como
a natureza mais complexa e dinâmica do setor nos Estados Unidos antes e depois
da reestruturação, bem como ao tempo decorrido desde a quebra do monopólio
- cerca de vinte anos, nos Estados Unidos; cinco anos, no Brasil. Nesses
vinte anos de reestruturação marcados por grandes mudanças e dificuldades, o
CWA tem sido capaz de criar novas estratégias para garantir sua sobrevivência,
ainda que contabilizando perdas, sobretudo em termos de queda expressiva do
número de filiados.
O CWA abandonou a perspectiva simplista baseada no dualismo cooperação versus
antagonismo no que se refere as relações sindicato-empresa e passou a agir numa
esfera que, dependendo das circunstâncias, comporta tanto estratégias de
cooperação como de antagonismo. Quando bem exploradas, essas estratégias
possibilitam a realização de outros objetivos, o que contribui para elevar a
eficácia da ação sindical e, em conseqüência, sua legitimidade.
No Brasil, a ação sindical nas telecomunicações, que no início do processo se
manteve próxima à perspectiva dualista, parece agora se encaminhar no sentido
de substituir a postura de confronto pela de negociação, cujo exemplo mais
notório foi a negociação da PLR. Após grande resistência por parte dos
sindicatos, ela vem sendo implementada no setor.
Outra estratégia bem-sucedida nos Estados Unidos foi a fusão de sindicatos, ou
seja, o sindicato de telecomunicações passou a ser sindicato do setor de
informação. Com isso, o CWA foi capaz de expandir o número de trabalhadores
sindicalizados e de penetrar nas novas áreas emergentes, passando a atingir
profissionais mais qualificados, como jornalistas e especialistas em softwares,
entre outros.
Essa estratégia ainda é incipiente no Brasil. Podem ser observados alguns
esforços em torno de uma possível fusão entre as federações de telecomunicações
e de informática, tendo em vista constituir a Federação de Telemática, que
uniria os sindicatos de processamento de dados, TV a cabo e telecomunicações.
Contudo, em virtude de disputas pelo poder e de diferenças político-
ideológicas, essa iniciativa tem encontrado dificuldades para ser implementada
no país. A construção de uma instituição capaz de atuar em um nível mais
abrangente unindo setores-chave da economia, como os de informática e
telecomunicações, representaria um ganho notável para os sindicatos.
Estratégia ousada em desenvolvimento nos Estados Unidos, mas com grande
dificuldade de se impor, refere-se à atuação em nível internacional, por meio
da tentativa de buscar alianças e joint ventures com sindicatos fora do país.
Exemplo disso foram as experiências de campanhas conjuntas com sindicatos
canadenses e mexicanos.
Essa idéia também começa a ser considerada no Brasil. Em 2001, realizou-se uma
reunião dos funcionários das filiais da empresa Telefónica de Espanha
procedentes de dez países, incluindo o Brasil. O objetivo era criar um comitê
para definir planos de ação conjunta. Esse tipo de iniciativa tem-se difundido
em outros ramos de atividades: funcionários das filiais de sete países do Banco
Santander, também sediado na Espanha, realizaram o segundo encontro naquele
país de sua Coordenação Sindical. Outra reunião ocorreu no Chile com
funcionários do Banco Bilbao Viscaya, também espanhol, com o objetivo de criar
uma Coordenação Sindical. Trabalhadores da General Motors, da Fiat do Brasil e
da Ford do Brasil também procuram se organizar, reunindo trabalhadores de
diferentes países latino-americanos, para desenvolver estratégias conjuntas (O
Estado de São Paulo, 7/8/2001).
Talvez esse seja o grande desafio para um novo patamar de lutas sindicais no
século XXI. Embora tardiamente, parece se concretizar a velha palavra de ordem
do marxismo: "Trabalhadores do mundo, uni-vos".
Por outro lado, a necessidade de ampliar a base de representação força os
sindicatos a aproximarem-se de segmentos de trabalhadores subcontratados -
caso da Wash Tech nos Estados Unidos e de trabalhadores em empresas
subcontratadas no Brasil. Esse tipo de iniciativa garante a esses trabalhadores
benefícios básicos de que careciam até então, o que certamente contribuirá para
reduzir a lacuna existente entre trabalhadores de empresas core e de empresas
periféricas ou trabalhadores contingentes ou atípicos. Nesse sentido, o
sindicato deve atuar não simplesmente como coadjuvante, mas sobretudo como
agente transformador.
No Brasil, como nos Estados Unidos, observa-se a marca da diversidade que
caracterizou o setor após a privatização, especialmente no que se refere ao
número de novas empresas que passaram a atuar sob controle estrangeiro,
apresentando, sob vários aspectos, diferenças significativas entre si. Além
disso, o setor encontra-se em fase de construção, e é previsto que venha a se
transformar cada vez mais com aquisições, fusões e alianças, criando novas
empresas, com novas identidades. Também no Brasil, encontramos a divisão da
empresa conforme segmentos de mercado, além de externalização de atividades,
inclusive de atividades-fim. Diante de tão significativa reestruturação,
acrescida de uma conjuntura desfavorável aos sindicatos, não é de se admirar
que eles estejam enfraquecidos. Apesar dos desafios, os sindicatos, ainda que
de maneira defensiva, tentam resistir apoiando-se em novas estratégias.
A reestruturação das empresas e a globalização impõem mudanças aos sindicatos
marcados por um tipo de ação baseada no nacionalismo, no coletivismo, na
homogeneidade e na rigidez. Tornou-se necessário que sua ação volte-se tanto à
esfera global como à local, e paute-se pelo pluralismo, pela diferenciação e
complexidade, pela flexibilidade e contingência. A realidade atual exige novos
conceitos políticos e sociais e, sobretudo, dramáticas transformações
culturais. Ganhará quem for capaz de reverter situações contingentes e
flexíveis em seu favor. Será preciso formular políticas alternativas de forma
criativa. Para isso, é fundamental um grande investimento em capacitação das
lideranças sindicais no sentido de superar certos dogmas que se mostram, hoje,
sem eficácia.
NOTAS
1 O Sistema Bell era monopólio privado e Sistema Telebrás, estatal; após a
reestruturação nos Estados Unidos, o setor expandiu-se de forma notável,
transformando-se em setor de informação, enquanto no Brasil, a expansão mantém-
se sobretudo no nível da telefonia. Nos Estados Unidos, o processo de quebra do
monopólio desenvolve-se há pelo menos vinte anos, e, no Brasil, é ainda recente
e restrito.
2 Para uma descrição mais detalhada desse processo, ver Larangeira, 1998.
3 Apenas 2% da receita do mercado mundial provém de operadoras não
privatizadas; o restante, 13% provém de companhias privadas que coexistem com
as concessionárias (estatais) (ITU, 2002, p. 4).
4 No Brasil, verifica-se também uma mudança expressiva na estrutura do setor de
telecomunicações: em 2000, os serviços de telefonia fixa foram responsáveis por
43,7% da receita gerada no setor; os de telefonia celular por 32,8% da receita,
enquanto, transmissão de dados, internet e interconexão responderam por 23,5%
(PAS/IBGE, 2000).
5 A nova realidade do setor seria responsável pela chamada "desigualdade
digital", referência às diferentes oportunidades de acesso à internet e a
outras formas de comunicação eletrônica, que, em comparação como o telefone,
têm uma distribuição bem mais desigual.
6 Nesse contexto, a tradicional medida de avaliação do nível de comunicação de
uma população, número de linhas telefônicas por 100 habitantes, deixa de
expressar a realidade dessa população em relação aos serviços de comunicação.
7 O número de usuários inscritos nos Estados Unidos em maio de 2003 era de
145.737.905.
8 Dados revisados em maio de 2000.
9 Para detalhes sobre esse processo, ver Keefe e Boroff (1994).
10 As operadoras regionais, baby Bells (antes da desregulamentação somavam 22,
reorganizadas após em sete e, nos anos de 1990, foram reduzidas a quatro),
reduziram o número de empregados em 28%, entre 1984-1992. (Keefe & Batt,
1997:55)
11 A IBM é responsável pela manutenção dos software, o que era realizado por
empregados sindicalizados da AT&T ; 70% do serviço de atendimento a clientes
na AT&T é desempenhado por empresas subcontratadas; os serviços de recursos
humanos e pagamento deverão também ser subcontratados.
12 Os dados relativos aos Estados Unidos correspondem ao ano de 2002, o que não
ocorre para os demais países.
13 Segmentação é uma estratégia largamente usada. Na Alemanha, a Voice Stream
Wireless, uma unidade da DeutscheTelekom, aplica o princípio da segmentação aos
clientes: o sistema de computador direciona as chamadas dos clientes de acordo
com o valor de suas contas mensais (Wall Street Journal, 17/4/2002). A
segmentação da força de trabalho em função do mercado é uma prática usual nos
call centers, no Brasil.
14 Em relação ao Workplace of the Future, "executivos nas subsidiárias não
estão comprometidos a trabalhar com as lideranças sindicais, já que estão sob
forte pressão para focar em P&D, tendo em vista o desenvolvimento de novos
produtos. Em conseqüência, freqüentemente, tomam decisões de forma apressada
sem consultar os líderes sindicais nacionais" (Osterman et al. 2001, pp. 72-
73).
15 "Os sindicatos historicamente apoiaram as companhias do sistema Bell diante
das comissões reguladoras; atualmente eles o fazem sob a condição de
reciprocidade, ou seja, desde que as companhias os apóiem em seus objetivos de
organização e de negociação coletiva" (Katz et al., 2002, p. 1). O CWA está
interessado no crescimento das RBOCs (baby Bells), já que conta com um número
significativo de filiados nessas companhias (Batt et al., 1999).
16 Empregados de serviços de atendimento a clientes é um grupo em crescimento e
constitui-se em extensão da base tradicional de empregados em companhias
telefônicas.
17 Para um detalhado estudo desse caso, ver Van Jaarsveld (2000).
18 Embora "a correção salarial previamente negociada tenha sido ou reduzida, ou
suspensa ou eliminada em todas as companhias no decorrer da década.", houve um
crescimento médio dos aumentos salariais de 2,2%, em 1986, para 3,7%, em 2000.
Na AT&T, o crescimento da média de aumento salarial foi significativo,
passando de 2,0%, em 1986, para 6,12%, em 2002-2003 (Katz et al. 2002;
entrevista com liderança sindical do CWA em março, 2002).
19 É interessante notar que o mesmo não ocorre na Alemanha Oriental, onde os
sindicatos têm tido pouco êxito em sua institucionalização. Há uma menor
integração com os conselhos de fábrica (Katz e Darbishire, 2000, pp. 210-221).
20 A modernização do sistema de telecomunicações requer investimentos de monta.
A magnitude desses investimentos seria um dos fatores responsáveis pela
globalização do setor. Gastos da ordem de US$ 1 bilhão para o desenvolvimento
de sistemas digitais exigiria uma participação de cerca de 8% do mercado
mundial, apenas para recuperar os custos dos investimentos (Walter, 1998, pp.
18-19). A quebra do monopólio do Sistema Bell nos Estados Unidos resultou de um
movimento que congregou algumas operadoras lideradas pela MCI, a indústria de
computadores liderada pela IBM, usuários corporativos como grandes
multinacionais, os serviços financeiros e as companhias de aviação,
interessadas em baixar os preços dos serviços e eliminar o "subsídio cruzado".
Mais de 70% dos consumidores norte-americanos e a própria administração Reagan
opunham-se à quebra do monopólio (Batt, 1995, pp. 88, 90-91).
21 Com a crise financeira "os recursos do FNT foram progressivamente destinados
a financiar outras despesas do governo, deixando de ser repassados ao sistema
Telebrás. Em 1986, o FNT foi extinto e substituído pelo Imposto sobre Serviços
de Comunicação (ISSC). Posteriormente, em 1989, o ISSC teve sua alíquota
reduzida de 27% para 5% e foi repassado aos municípios, conforme determinação
da Constituição de 1988" (Costa, s. d, p. 12).
22 Compare-se a teledensidade no Brasil, em meados da década de 1990, com a dos
Estados Unidos, em 1960, em que 95% da população possuía serviços telefônicos
(Batt, 1995, p. 93).
23 Nos Estados Unidos, por exemplo, "somente 6,7 dos consumidores utilizam-se
dos serviços de outras companhias que não as tradicionais operadoras locais, as
baby Bells". (CWA, 2002, p. 10).
24 Esse crescimento deve-se em grande parte à implantação do sistema pré-pago,
o que também se verificou em países como Itália, França e Grã Bretanha. As
estimativas são de que, mundialmente, a modalidade pré-pago supere a pós-pago.
Além disso, o preço da habilitação, que era cerca de R$ 500,00, em 1995, chegou
a cair praticamente a zero, em 1999.
25 Adquirida inicialmente pela Telefónica de España que, após comprar a Telesp,
foi obrigada a se desfazer da CRT, então adquirida pela Brasil Telecom
Participações S. A.
26 Em 1994, o governo extinguiu a política salarial e instituiu a PLR por meio
de medida provisória, o que possibilitou vincular a remuneração aos resultados
obtidos pela empresa. A parte variável da remuneração era isenta de encargos
sociais, com possibilidade de dedução no imposto de renda. A negociação da PLR
levou à descentralização da negociação.
27 Levantamento realizado pelo Dieese indica que no período de 1996-1997 se
verificou um aumento expressivo no número de acordos de PLR (Dieese, 2000).
28 Segundo levantamento realizado pelo Dieese, a modalidade PR foi a mais usual
(54,3% do total dos acordos analisados no período de 1996-1999). No acordo
entre CRT e Sinttel-RS, os indicadores negociados foram: tempo de até oito
horas para reparo de telefones de uso público e não residenciais, e de até 24
horas para residenciais; taxa de chamadas completadas; número de reclamações em
cada cem contas emitidas; absenteísmo; receita operacional líquida e
instalações de telefonia básica; exames médicos periódicos.
29 Estudos mostram que aumentou o número de acordos sobre PLR no país, sendo
que a maioria foi firmada sem a participação direta dos sindicatos (Martins e
Rodrigues, 1999, pp. 177-178).
30 Por exemplo, indicadores como receita operacional ou número de clientes não
são considerados favoráveis aos trabalhadores, pois dependem da situação de
mercado e podem sofrer redução em razão da concorrência; outro indicador
considerado desfavorável é absenteísmo por doença, já que pode levar ao
ocultamento da doença. Outros são preferidos por serem diretamente ligados aos
trabalhadores, de fácil acesso para aferição e de difícil manipulação para a
empresa, como "chamadas completadas", "número de telefones de uso público em
serviço", "qualidade de serviço", "qualidade da rede" (ver lista de indicadores
no site da Anatel).
31 Para ilustrar as perdas dos sindicatos e dos trabalhadores nessa área, cabe
registrar o caso da antiga estatal regional Telemig, hoje, Telemar/MG: a
empresa foi pioneira no Brasil ao introduzir uma cláusula sobre novas
tecnologias (1985), prevendo a readaptação e o reaproveitamento dos
trabalhadores quando da introdução de novas tecnologias, o que foi reproduzido
por outros sindicatos, inclusive pelo Sinttel/RS. A referida cláusula continuou
sendo renovada e até ampliada para assegurar o direito a treinamento,
realocação e manutenção de emprego aos empregados atingidos pela introdução de
novas tecnologias. O Sintel/MG possuía uma diretoria de tecnologia voltada para
o desenvolvimento de ações nessa área. Após a privatização, em 1998, o
sindicato encontrou enormes dificuldades em negociar com a empresa essa
cláusula nos acordos coletivos entre Sintel/MG e Telemar/MG (Cotanda, 2001, pp.
181-197).
32 O acordo de 2001 foi negociado separadamente, com cada empresa.