"Cada macaco no seu galho?": poder, identidade e segmentação de mercado no
movimento homossexual
Introdução
Este trabalho tem por objetivo explorar, por meio de um estudo de caso,
possíveis caminhos para a compreensão das relações entre o movimento
homossexual e o mercado de consumo segmentado direcionado a homossexuais em São
Paulo. Trata-se de analisar as discussões em torno da atuação de travestis no
movimento, por intermédio de uma ação dirigida a uma parcela do mercado de
consumo segmentado, numa situação que parece desestabilizar os fundamentos
sobre os quais se assentou o movimento homossexual no Brasil. Com isso, busco
levantar questões pertinentes à compreensão do movimento homossexual
contemporâneo num cenário de fortalecimento de um mercado específico dirigido a
homossexuais.
Vale salientar que o que chamamos de movimento homossexual é, hoje, um sujeito
político bastante complexo, formado por múltiplas categorias identitárias, nem
sempre movidas pelos mesmos discursos. Sem a consideração dessa problemática,
torna-se difícil compreender muitas das posições internas ao movimento no que
diz respeito ao mercado segmentado ou mesmo à relação com outros atores sociais
que integram o seu campo de ação.
O nascimento do movimento homossexual no Brasil é situado em 1978, com a
criação do Grupo Somos, em São Paulo (MacRae, 1985). O grupo seguia uma
estratégia política de fortalecimento da identidade homossexual e valoração
positiva das categorias "bicha" e lésbica, associadas a uma política fortemente
antiautoritária, crítica do Estado e da hierarquização de papéis entre casais
do mesmo sexo (MacRae, 1985; Fry, 1982). Já a década de 1980 foi marcada por
uma rearticulação desse movimento, que buscou caminhos de cooperação com o
Estado na luta contra a Aids e abrandou a crítica ao autoritarismo, sem deixar
de atribuir valor positivo à categoria de homossexual (Facchini, 2004).
Os anos de 1990 emergem num contexto diferente, em que o pânico em relação à
Aids se ameniza, possibilitando o revigoramento de uma militância homossexual
calcada em outros discursos e estratégias. Multiplicam-se as categorias
nomeadas como sujeitos políticos do movimento: em 1993, surge a expressão
"Movimento de Gays e Lésbicas"; em 1995, temos o movimento "GLT" (Gays,
Lésbicas e Travestis); e finalmente, em 1999, adota-se em parte do movimento, a
partir de São Paulo, a expressão GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e
Transgêneros) (França, Facchini, no prelo). Também há a iniciativa, mais
recente, de utilização da fórmula "diversidade sexual", no intuito de criar um
termo que passe ao largo das disputas de identidade, encampada fortemente nos
últimos anos por um incipiente movimento que se situa nas intersecções entre
movimento estudantil e movimento homossexual.
A incorporação e o deslocamento de segmentos nos nomes que indicam o sujeito
político do movimento carregam em si uma intenção de inclusão, mas não dirimem
os conflitos entre as categorias agrupadas na sigla, que se relacionam num
complexo jogo de posições e estratégias políticas.1 Até meados da década de
1990, o movimento homossexual dizia respeito apenas a gays e lésbicas e, se as
últimas não faziam parte da sua denominação mais corrente até 1993, como vimos,
eram reconhecidas como integrantes do movimento desde o seu início.2 Já as
travestis promoveram o seu primeiro encontro em 1993, ganhando visibilidade no
movimento e sendo incorporadas ao seu nome em 1995. As transexuais tiveram sua
primeira aparição organizada num encontro nacional realizado em 1997 (Facchini,
2002).
A inclusão das categorias "bissexuais" e "transgêneros" (termo que pretendia
agrupar travestis e transexuais), entretanto, não se deu pela demanda desses
grupos, mas seguiu uma tendência internacional (Facchini, 2002, p. 205). As
travestis e as transexuais, de início, não ficaram muito satisfeitas em serem
chamadas de transgêneros,3 e ainda hoje a Articulação Nacional de Transgêneros
conta com vinte entidades/núcleos especificamente de travestis e onze que se
intitulam como de "transgêneros" ou de "travestis e transexuais". A presença de
bissexuais sempre foi, por outro lado, assunto controverso no movimento, sendo
que muitos militantes preferem utilizar a sigla GLT (Gays, Lésbicas e
Transgêneros), pois associam bissexuais a "enrustidos", consideram que não há
movimento organizado e menos ainda demandas específicas de bissexuais. Em 2004,
surgiram as primeiras iniciativas de formar grupos com reuniões periódicas para
a discussão da bissexualidade, forçando a inclusão da temática em fóruns
regionais e nacionais do movimento.
Além das grandes categorias presentes na sigla GLBT, há também subgrupos,
incentivados pela proliferação de fóruns e listas de discussão na internet e
pertencentes principalmente ao segmento dos gays, como o grupo dos ursos,4
judeus gays, universitários, advogados gays, barbies,5 jovens homossexuais etc.
É também neste clima de um apanhado de identidades convivendo no movimento e na
cena homossexual ' virtual ou não ' que ganha corpo um vigoroso mercado
destinado a homossexuais em São Paulo,6 cuja expressão mais visível é um
circuito de estabelecimentos comerciais de lazer que se expande a partir do
Centro Velho, já tradicional reduto desse circuito, para as áreas mais ricas da
cidade, como o eixo Jardins-Paulista, com braços a espraiar-se para bairros
como Moema e Vila Madalena.
A década de 1990, além da expansão deste circuito ' então também já conhecido
como GLS7 ' trouxe consigo uma configuração diferente do "gueto" homossexual de
outrora: os espaços de consumo e sociabilidade passaram a incorporar em certa
medida o discurso político do orgulho e da visibilidade, explicitando o seu
direcionamento a um público de orientação sexual determinada e incorporando
símbolos popularizados pelos militantes, como a bandeira do arco-íris. Assim,
perde força a grande diferenciação estabelecida pelo movimento a partir da
"invisibilização" dos homossexuais pelo "gueto"8, e também as fronteiras do que
pode ou não ser considerado atuação política. Atores que a rigor constituiriam
o mercado segmentado também começaram a ser vistos ' e a se considerarem ' como
articuladores de uma ação política, estimulando a "auto-estima dos
homossexuais" e a formação de uma "identidade positiva" ' mediante iniciativas
como festivais de cinema, editoras e mesmo espaços de lazer e sociabilidade ' e
circulando informações dentro da "comunidade", por meio de sites e revistas
especializadas. As tensões com o movimento ainda permaneceriam, mas de uma
forma muito mais ambígua do que no período anterior.
Outra novidade trazida pela última década foi a segmentação de espaços de
consumo destinados a cada subgrupo desse público: existem não só os bares
especializados para lésbicas e gays, mas também para lésbicas "modernas", para
as que ouvem MPB, para ursos, para homossexuais mais velhos, cruising bars,9
estabelecimentos que recebem fetichistas e sadomasoquistas, entre outros
(Simões, França, no prelo). Dentro desse espectro do circuito GLS figuram
algumas dezenas de saunas destinadas à troca sexual entre homens, cenário a
partir do qual se desenrola o caso aqui discutido. A reivindicação de travestis
da Secretaria de Transgêneros da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São
Paulo, exigindo a entrada numa dessas saunas, originou o drama social analisado
na terceira parte deste trabalho. Trata-se de uma ocasião em que as tensões
entre as categorias que compõem o "movimento GLBT" e o mercado de consumo
segmentado tornaram-se explícitas.
Identidades coletivas associadas à ação política
A construção de identidades coletivas associadas à ação política traz à tona o
problema central dos processos pelos quais determinados atores sociais emergem
na condição de sujeitos políticos. Vimos como processos de multiplicação,
disputas e reacomodações de segmentos têm se tornado comuns no movimento
homossexual brasileiro. A emergência de novos atores reivindicando-se como
constituintes do sujeito político do movimento ' como atesta a recente
organização de travestis, transexuais e bissexuais ' evidencia a fragilidade de
perspectivas teóricas que lidam com as identidades coletivas como elementos
estáveis e internamente homogêneos. Esses processos, fornecidos pelo movimento
em geral e pelo mercado segmentado, devem ser compreendidos como parte de um
contexto mais amplo, exigindo uma abordagem dos arranjos de poder que dê conta
do dinamismo com que se alternam posições de "superioridade" e "inferioridade"
e da possibilidade de que um mesmo ator social protagonize relações em que
aparece simultaneamente como "dominante" ou "subordinado", a depender do
referencial adotado.10
Para Judith Butler (1998), as posições de sujeito existem sempre em referência
a estruturas discursivas mais amplas, e é isso que confere a dimensão política
da ação desses sujeitos: a possibilidade de transformar, por meio de
deslocamentos e sobreposições, estruturas anteriores a si mesmos e das quais
também é um efeito. Essas transformações não podem ser compreendidas como
unilineares ou previsíveis: expandem-se para além do controle do sujeito e da
sua intencionalidade. Ocorre, portanto, que determinado sujeito político "não é
base, nem produto, mas a possibilidade permanente de um certo processo de re-
significação, que é desviado e bloqueado mediante outro mecanismo de poder, mas
que é a possibilidade de retrabalhar o poder" (Butler, 1998, p. 31). A mesma
autora afirma que "[...] se a política não fosse mais compreendida como um
conjunto de práticas derivadas dos supostos interesses de um conjunto de
sujeitos prontos, uma nova configuração política surgiria certamente das ruínas
da antiga" (Butler, 2003, p. 213).
A partir dos dilemas e das críticas esboçados, Joshua Gamson (1998) delineia
alguns dos debates presentes atualmente no movimento homossexual nos Estados
Unidos ' e não seria difícil traçar alguns pontos de coincidência entre o
processo norte-americano e o brasileiro. No rastro da discussão sobre a
construção de identidades coletivas, o autor aborda a recente constituição da
idéia de queerness:11 um termo "guarda-chuva" que procura desestabilizar as
identidades de "gay" e "lésbica" e até mesmo de "homem" e "mulher", diluindo
fronteiras de grupo, em franca oposição ao que Gamson denomina uma política
"étnica/essencialista" (Idem, p. 589).
Uma das armas do ativismo queer tem sido trabalhar a partir das demandas de
"bissexuais" e "transgêneros", segmentos potencialmente desestabilizadores
tanto de uma divisão estanque entre "heterossexuais" e "homossexuais", como
entre "homens" e "mulheres", por não se encaixarem exatamente em nenhuma das
duas pontas dos pares culturalmente estabelecidos e incorporados pelo
movimento. Gamson dedica-se justamente às polêmicas causadas pela presença
ativa de "bissexuais" e "transgêneros" no movimento norte-americano, chegando à
conclusão de que tanto a política de afirmação de identidades essencialistas
como a política de constante crítica e desestabilização dessas identidades são
importantes para o movimento, além de possuírem uma rentabilidade diferente a
depender das situações em que ambas as estratégias podem ser empregadas.
Segundo o autor, o movimento lida simultaneamente com duas fontes de opressão:
culturais e institucionais. Para se combater a primeira, a estratégia
desestabilizadora de fronteiras e identidades seria mais adequada; já a
opressão advinda de elementos institucionais e que gerariam discriminações
contra todas as "minorias sexuais" exigiria o estabelecimento de categorias
fixas e fronteiras seguras.
A partir dos aspectos indicados anteriormente, como pensar as possibilidades de
ação política apresentadas para um movimento social que tem a afirmação de
identidades coletivas como fundamento para a determinação de seu sujeito
político? Se o processo de constituição de identidades coletivas funciona pela
demarcação de diferenças e de exclusões, como lidar com a possibilidade de que,
em vez de ser um meio pelo qual se procura desestabilizar os regimes de poder,
esse processo possa se tornar mais um instrumento de normatização? Essas
questões resultam ainda mais complexas se considerarmos que o movimento
homossexual não é um ator isolado no contexto em que se insere e diante do
público ao qual se dirige. Se a construção de identidades coletivas sempre foi
um aspecto central do movimento homossexual, que procurava reverter o estigma e
a depreciação social que se abatia sobre as pessoas que se relacionavam com
outras do mesmo sexo, deve-se levar em conta que essas construções nunca se
desenvolveram isoladamente, mas sempre em comunicação com outros atores
sociais. Descrevi, na introdução deste trabalho, a presença de um mercado
segmentado direcionado a homossexuais, e assinalei como os direcionamentos
produzidos por esse mercado vêm participando ativamente de um processo de
construção de identidades por meio da constituição de espaços de consumo
específicos.12
As questões levantadas pela análise do caso que passo a expor assemelham-se, de
certa forma, à reflexão de Gamson, mas introduzem novos elementos, já que se
trata de uma situação em que a discriminação institucional é produto de
dinâmicas do próprio movimento e do mercado segmentado com o qual este se
relaciona.
Disputando espaços de consumo: o lugar das travestis no "movimento GLBT"
De acordo com observação realizada em campo, o impedimento do ingresso de
travestis em diversos estabelecimentos comerciais tem se mostrado acontecimento
corriqueiro no seu cotidiano.13 Diante desse fato, a Secretaria de Transgêneros
da Associação da Parada do Orgulho GLBT deu início a uma série de visitas a
estabelecimentos da cidade de São Paulo, em novembro de 2003 ' o que foi
denominado de Blitz Trans. As visitas eram sempre compostas pelas travestis,
maioria na Secretaria de Transgêneros, e por um militante da Associação da
Parada que atuava como advogado.
A idéia do nome adotado para as visitas faz parte de um jogo de palavras que,
de algum modo, inverte a idéia de vítimas das blitzes policiais que as
travestis costumam sofrer na rua. Este raciocínio fica claro na entrevista14
realizada com uma das militantes, quando ela conta como surgiu a idéia da Blitz
Trans:
[...] um dia a Vanessa15 falou: "eu queria fazer uma blitz, sair
prendendo todo mundo que discrimina a gente". [...] Ela só não sabe
passar isso pra gente de uma forma séria, ela passa brincando, mas é
super válido o que ela fala. [...] E a Carla: "opa! Mas dá pra gente
sair, a gente pode sair visitando estabelecimentos, e tal". E aí, nós
pegamos a lei 10.94816 que protegia a gente e fomos visitando
estabelecimentos por aí".
O que conferia um caráter irônico à "brincadeira" de Vanessa era justamente a
disparidade entre o sujeito que é vítima de uma ação e a suposta
impossibilidade de que se coloque como autor da ação, gerando um contraste de
significados que provoca o riso. Levar essa idéia a sério provocou um efeito de
inversão que tirava as travestis da qualidade de vítimas, para apresentá-las na
qualidade de agentes contra o próprio preconceito que sofriam.
Um dos poucos estabelecimentos que se negou a receber as travestis após a
apresentação da lei e uma breve negociação foi uma sauna destinada ao público
homossexual masculino, o que gerou grande mobilização em torno do assunto,
suscitando, no movimento homossexual em geral e entre usuários do site de mídia
segmentada MixBrasil, debates acalorados que são o foco da presente análise.17
A sauna em questão, com grande presença de michês entre seus freqüentadores, é
uma das mais antigas desse tipo18 em São Paulo, fundada em 1982 (Trindade,
2004, p. 179). O dono do local havia se recusado a receber as travestis,
alegando que "a sua presença agredia os demais freqüentadores da casa, criando
incômodo e embaraço".19
É importante que se recorra aos argumentos nos quais se apóiam as demandas das
travestis, a fim de que seja possível compreender como se inserem nas
reivindicações do movimento homossexual. A respeito dessas reivindicações
podemos ler, no site da Secretaria de Transgêneros:
[...] estamos lutando pelo direito de ir e vir que nos está sendo
tirado. [...] Reflita sobre a Lei 10.948 mais especificamente no
Artigo 2º que diz: "Consideram-se atos atentatórios e
discriminatórios dos direitos individuais e coletivos dos cidadãos
homossexuais, bissexuais ou transgêneros, para os efeitos desta lei:
proibir o ingresso ou permanência em qualquer ambiente ou
estabelecimento público ou privado, aberto ao público".
Pode-se depreender dessa passagem que as ações das militantes pleiteiam
direitos de cidadãs plenas, como o direito de ir e vir, que a elas é vetado, já
que não podem entrar em todos os lugares abertos ao público. O que confere
concretude a essa reivindicação política é a demanda de poder entrar livremente
em estabelecimentos comerciais, na qualidade de consumidoras comuns.
Pude observar que o impedimento de acesso a estabelecimentos comerciais de
lazer e serviços é causa de imensas frustrações para as travestis, tornando o
seu cotidiano muito difícil, mesmo nas tarefas que aparecem como as mais
prosaicas para outras pessoas. Uma travesti participante da lista GLS, espaço
de discussão virtual de militantes, faz as seguintes observações:
Vc já levou uma escopeta no meio das pernas porque a polícia acha que
seu carro é bom demais para um viado e deve ser roubado? Vc já foi
constrangido em local público que está pagando para entrar?? [...]
Estes que cito são os nossos problemas corriqueiros.
Dessa forma, as travestis da Secretaria de Transgêneros viam nos protestos e na
negociação com esses estabelecimentos uma estratégia política que não só
adquiriria visibilidade na mídia pelo seu caráter de novidade,20 mas também
teria o potencial de aglutinar outras travestis em torno de uma proposta
política.
Uma das principais articuladoras do protesto das travestis, em mensagem no
fórum do site MixBrasil, expressa a idéia de que o poder de consumo pode ser um
marcador de igualdade de direitos e deveres:
A casa vive das entradas (os boys também a pagam) e da consumação dos
bares. E por acaso travesti vai entrar de graça? NÃO! Travestis não
são boas consumidoras? [...] Aqui a grande maioria de nós tem
apartamentos e carro importado. Agora pergunto: eu, como travesti,
não tenho direito a freqüentar uma sauna de prostituição e pegar meu
bom michê para gozar?
Em reunião da Secretaria de Transgêneros, ouvi afirmações de que "quando são
feitas as Blitz Trans, a Secretaria enche de travestis, porque elas são muito
imediatistas e vêm ao movimento buscando vantagens imediatas", "viram a
possibilidade de entrar em lugares em que antes eram barradas" e "a travesti
tem como objetivos de vida, marido, peito e dinheiro". Apesar de o interesse
das travestis nas Blitz Trans ser qualificado como "imediatista", é possível
que esta estratégia também atraia as travestis porque elas aparecem como
cidadãs que fazem um protesto justamente por estarem numa posição bem-vista
socialmente, a de consumidoras, e não somente como vítimas da discriminação.
Devem-se destacar também, no parágrafo anterior as cores com que são descritos
os anseios de inclusão social das travestis: marido, peito e dinheiro. Don
Kulick (1998), em seu estudo etnográfico sobre o universo das travestis em
Salvador, descreve em minúcias como estes são aspectos cruciais para as
travestis, envolvendo o uso indiscriminado e perigoso, do ponto de vista da
saúde, do silicone industrial e hormônios, com o qual as travestis adquirem
formas femininas, que também aumentam suas chances de ganhar dinheiro com a
prostituição;21 a complexa relação de poder que elas desenvolvem com os
"maridos", desempenhando ao mesmo tempo o papel de "esposas submissas" e de
"provedoras do lar";22 e o dinheiro, outra preocupação fundamental para as
travestis, não só porque, como todo mundo, precisam atender às suas
necessidades básicas de "comer, morar e vestir", mas também porque o dinheiro
possibilita o sustento dos maridos, traz a admiração da família e lhes confere
um status mais elevado, incluindo-as socialmente como consumidoras.23 Esses
três aspectos acabam por incentivar-se reciprocamente, constituindo referências
essenciais para as travestis.
Butler afirma que a citação da norma dominante, realizada pela figura da
travesti, não necessariamente
[...] desloca essa norma, antes, torna-se o meio pelo qual a norma
dominante é mais dolorosamente reiterada, como o desejo mesmo e a
performance daqueles sujeitos. Claramente, a desnaturalização do
sexo, nos seus múltiplos sentidos, não implica uma liberação do
constrangimento hegemônico: quando Vênus fala do seu desejo de se
tornar uma mulher "por inteiro", de encontrar um homem e ter uma casa
nos subúrbios com uma lavadora de roupas, nós poderíamos nos
questionar se a desnaturalização do gênero e da sexualidade à qual
ela procede [performs], e procede [performs] bem, culmina numa
reelaboração da estrutura normativa da heterossexualidade (Butler,
1993, p. 133, trad. livre).
Ocorre, porém, que no caso aqui analisado (numa dinâmica semelhante ao caso
interpretado por Butler), se a reivindicação das travestis no sentido de se
integrarem à norma dominante de uma forma que reproduz e reitera a própria
norma por intermédio dos sujeitos por ela marginalizados não pode ser chamada
exatamente de desafiadora da "cultura de consumo" e da "hegemonia
heterossexual"; em outro nível de análise, a reivindicação das travestis
instaura o questionamento à hegemonia dos gays dentro do próprio movimento e da
cena homossexual, como pretendo demonstrar adiante.
Os donos e os freqüentadores das saunas gays (entre os quais não se excluem
militantes do movimento), os interlocutores diretos a quem se dirige a
reivindicação das travestis, pertencem a um círculo muito próximo a elas. A
interdição por parte de um estabelecimento destinado ao público homossexual,
entendido naturalmente como um aliado pelas travestis, intensificava a
perplexidade das travestis diante do caso, como podemos verificar no site da
Secretaria de Transgêneros:
[...] às vezes, nem parecíamos estar falando com o proprietário de um
estabelecimento GAY. Fica aqui o nosso repúdio à THERMAS X...24 e
também nosso pedido de apoio para que absurdos como esse não voltem a
ocorrer no meio GLBT (grifo meu).
Assim, por vezes, as travestis também aplicam à sauna um termo do movimento '
"meio GLBT" ', quando melhor se aplicaria à lógica do proprietário um termo que
segmenta o público do estabelecimento e o reduz a uma "sauna gay" de freqüência
exclusiva. No caso das saunas, o que é compreendido pelas travestis como
discriminação funciona como o que define o público-alvo consumidor e oferece
atrativos a uma clientela mais reduzida, fazendo da exclusividade e da promessa
de encontrar de modo quase instantâneo o que se procura (a possibilidade de
trocas sexuais entre homens) o seu trunfo comercial. Temos, então, uma típica
situação em que o mercado segmentado destinado ao público homossexual entra em
conflito com a lógica e o discurso de parte do movimento.
O mercado destinado ao público homossexual tem respondido, e incentivado, uma
lógica de multiplicação de identidades no interior da grande categoria
"homossexual", mediante a segmentação de espaços de sociabilidade, como
descrito na introdução deste trabalho. Dentro desta lógica, as saunas funcionam
como um espaço específico de interação sexual entre homens que fazem sexo com
homens, carregando as divisões entre masculino e feminino e excluindo as
travestis, compreendidas como pertencendo a outro grupo que não o dos homens
"de verdade". Como não existem espaços de lazer destinados especialmente às
travestis, é comum que elas freqüentem espaços "gays" ou "GLS", reconhecendo
tais espaços como os mais adequados para si, por compartilharem uma mesma
"comunidade" ou "meio". Quando procurei investigar os hábitos de lazer das
travestis, isto apareceu com bastante força, como na entrevista com Diana:
Adoro sair, vou pra boate gay. [...] Adoro o público gay, acho que é
o nosso público, a gente tem que se identificar com o que é da gente,
entendeu? Esse negócio de ficar fazendo linha em lugar de hetero,
lugar onde as pessoas não vão respeitar a gente, lugar onde a gente
vai ser malvista, eu prefiro estar no meio dos gays, não que no meio
dos gays não tenha desrespeito, ou às vezes a gente vai ser malvista,
mas ainda assim eu prefiro estar no meio dos gays, que estou no meio
do meu povo.
O "meu povo" é o que compõe a sigla GLBT, em que travestis e gays figuram como
parte do mesmo público.
Entretanto, mesmo no movimento, o uso da sigla GLBT não dilui as
diferenciações, os conflitos e as hierarquizações entre os grupos que a
compõem. A articulação política entre as quatro letras da sigla foi construída
com base no discurso de que todas as categorias estão sob o signo da
discriminação e da exclusão social. Esse foi o ponto de partida para que se
reivindicasse solidariedade entre tais categorias para a construção de um
sujeito político que pudesse reivindicar direitos para todos os segmentos, e
para que a conquista de direitos para cada um fosse compreendida como uma
conquista de todos os outros. É esta a relação idealizada pelos militantes do
movimento, e que, longe da fórmula ideal, acaba expressando conflitos entre
identidades compartimentalizadas.
Em meio a essas disputas, a Parada do Orgulho GLBT situa-se como um evento de
visibilidade maciça das demandas do movimento e que promove, intencionalmente
ou não, a diluição dessas categorias em meio à multidão diversificada que toma
as ruas (Facchini, 2002). A Associação da Parada também é das poucas
organizações do movimento a manter grupos que representam as quatro letras do
GLBT em constante funcionamento. É compreensível que este seja o discurso
reiterado pela sua Secretaria de Transgêneros.
A perspectiva de diluir as fronteiras entre gays, lésbicas, bissexuais e
transgêneros quando se trata de unir forças para a ação política também aparece
em outras ocasiões, constituindo-se como o principal foco de argumentação
daqueles que apoiaram as travestis nesse episódio. O conflito, então, dá-se
entre os que adotam esse discurso e entre os que raciocinam no eixo de
segmentação e afirmação de cada uma das categorias. Vejamos trecho de mensagem
postada no fórum do site MixBrasil:
[...] o que pode ser pior que o preconceito? Simples, o preconceito
vindo de quem se diz vítima de preconceito. Não há razão aceitável
para impedir as travestis de irem à sauna. [...] Nas passeatas do
orgulho gay vemos frases pedindo aceitação e igualdade, mas como
levar isso a sério se aqueles que a pedem muitas vezes agem de forma
ainda mais reacionária? Como homossexuais podem exigir direitos se
ainda hoje agem desta forma com pessoas que deveriam ser suas
parceiras na luta pela igualdade?.
Atentemos também para a mensagem de umas das lideranças do movimento
homossexual em São Paulo, na lista GLS:
Lamentavelmente, sinto que ainda temos uma enorme dificuldade em
reconhecer as diferenças existentes dentre os segmentos que compõem o
movimento pela diversidade sexual ' lésbicas, gays, travestis,
transexuais e bissexuais ' como um fator de riqueza para nossa causa,
e não como motivador para posturas segregacionistas. Bom, não sei
quanto aos demais, mas não tenho dúvidas quanto ao meu lugar nessa
briga: estarei junto com outras pessoas que acreditam realmente na
diversidade sexual em frente às Thermas X..., protestando contra o
impedimento de ingresso de travestis e transexuais naquele
estabelecimento. SOMOS TODAS E TODOS TRAVESTIS E TRANSEXUAIS! (grifos
meus).
O nosso problema torna-se mais complexo quando, dentro do mesmo movimento GLBT,
vemos atuar a lógica de segmentação semelhante à do mercado, enfraquecendo a
reivindicação das travestis e reduzindo-a ao particularismo de um grupo
marcado, que invade o espaço dos gays. Essa postura pode ser vista como uma
estratégia de reforço de uma hegemonia ameaçada pelas demandas das travestis,
mesmo que não seja conscientemente articulada nesses termos. Passemos então aos
argumentos que a sustentam.
Uma das questões que serve de subtexto aos que criticam as travestis é o que
pode ou não ser reivindicado, o que é legítimo como ação política. Vale lembrar
que as manifestações das travestis contra a violência policial, por exemplo,
são acolhidas quase inquestionadamente pelo movimento homossexual. Em
contraposição ao protesto contra as saunas, qualificado como "populista" por
militantes, os protestos contra a violência são encarados como assunto grave,
talvez por enfatizarem o aspecto de que as travestis são "vítimas da
homofobia", por dirigirem-se ao Estado (um campo mais tradicional de luta
política do que o mercado) e, por fim, por estabelecerem uma oposição entre
homofobia heterossexual versus direitos humanos de homossexuais/travestis,
diferente do protesto das saunas, que questiona o potencial de inclusão da cena
gay.
Das hipóteses levantadas, o último ponto é o que aparece com mais clareza nos
argumentos utilizados pelos militantes. Questionando a validade política da
reivindicação das travestis, surge inicialmente, e como ponto pacífico, a idéia
de que a sauna freqüentada por homossexuais é um espaço de troca masculina,
visto de forma positiva pelos militantes, e que deve ser preservado como tal.
Nas palavras de um militante histórico do movimento, na lista GLS:
[...] lastimo não concordar com esta manifestação contra a existência
de saunas destinadas exclusivamente a homens que têm fantasia sexual
com outros varões. [...] Honestamente, minha experiência de
militância leva-me a considerar que esse protesto se trata de uma
manifestação/postura equivocada, populista, invasiva da diversidade
erótico/sexual dos gays ' ou "das gays" ou "bichas boys", ou "bichas
machudas", ou "bichas frustradas", ou "mariconas", como somos muitas
e muitas vezes chamados pelas irmãs transgêneros (grifo meu).
Está claro que a sauna é entendida como um espaço capaz de fortalecer a
afirmação identitária de homens que gostam de fazer sexo com outros homens por
meio da exclusividade, o que tornaria a presença das travestis "invasiva" desse
espaço destinado ao homoerotismo masculino. Também percebemos esse viés de
marcar espaços e afirmar identidades pela diferenciação na fala que critica os
termos pejorativos empregados pelas travestis para designar os gays.
Jeffrey Weeks (1985, p. 221) afirma que, como reação ao preconceito e à
discriminação profundamente enraizados contra práticas sexuais entre homens,
houve uma concentração dos homens gays sobre o próprio ato sexual. O autor
localiza, na década de 1970, uma grande proliferação de saunas e outros
estabelecimentos comerciais destinados especificamente a trocas sexuais, como
expressão de uma necessidade pessoal, representando a busca pela afirmação de
uma sexualidade negada. A abordagem de Weeks condiz com a posição de parcela
dos militantes gays, que expressam visão semelhante em relação às saunas e a
lugares correlatos: são espaços de afirmação de desejos e práticas
homossexuais. Em mensagem de um militante à lista GLS, é visível que se discute
um problema de preservação de identidades e do seu conteúdo descritivo:
Enfim, trata-se de uma sauna gay, com identidade masculina.
Precisamos discutir isto detalhadamente. Também defendo que em locais
públicos todos e todas devem entrar. Agora em locais privados,
voltados para clientes categorizados, a coisa complica.[...]
Precisamos discutir bem os limites, as identidades e os espaços,
precisamos ir no fundo do tacho nesta discussão.
Está claro que, enquanto as travestis demandam a entrada nos estabelecimentos
comerciais destinados ao sexo entre homens com a justificativa de que não deve
haver espaços exclusivos no interior da cena homossexual, os militantes gays
que criticam esta demanda percorrem um caminho diametralmente oposto: é preciso
estabelecer limites, identidades e espaços. A partir da definição desses
termos, outra sentença recorrente no fórum de mensagens do site MixBrasil seria
possível: "cada macaco no seu galho!".
É exatamente no intuito de dissecar categorias que é construída a outra leva de
argumentos contra a presença das travestis nas saunas. As mais intrincadas
taxinomias são aplicadas às travestis. Os espaços rígidos do feminino e do
masculino socialmente estabelecidos, demarcados pela matriz heterossexual, são
utilizados pelos militantes homossexuais na tentativa de situar as travestis em
um ou outro terreno, determinando os espaços onde sua presença seria lícita.
Alguns militantes da lista GLS falam da "presença de homens com peito de
mulher", que "todas querem ser tratadas como uma mulher, serem olhadas como uma
mulher, seduzir os homens como mulheres". Ou ainda: "qual a identidade de
gênero das travestis? Elas querem ser tratadas por o travesti ou a travesti?
Elas querem usar banheiro masculino ou feminino? No shopping, vão na seção de
roupa feminina ou masculina?".
Quando se trata do fórum de discussão do site MixBrasil temos, outros
comentários do mesmo tipo: "Não sou contra a freqüência de travestis gays em
saunas gays. Mas existem travestis heterossexuais... O que dizer desses?"; "Não
me sentiria bem se encontrasse com homens maqueados, vestidos de saias, e
coisas assim". Neste trecho, mais uma vez, vemos tensões geradas pela
desestabilização promovida pelas travestis sobre a adequação entre identidade
de gênero e identidades sexuais, e as configurações corporais que devem
funcionar em consonância com ambas. Como estratégia política, as travestis
fizeram uso consciente deste potencial de desestabilização, ameaçando irem de
roupão de banho ao protesto organizado em frente à sauna, que não chegou a se
concretizar, visto que o dono do estabelecimento liberou a sua entrada após
tamanha polêmica. Segundo Diana: "eu falei [ao dono]: "eu vou vir de roupão!
Porque eu quero entrar na sauna, está todo mundo aqui de roupão, eu quero vir
de roupão. Aí, ele ficou em pânico". De início, as travestis jogaram com o
choque que o uso dos mesmos trajes dos clientes, associados a um corpo
feminino, poderia causar. Posteriormente, Diana conta que ela e mais cinco
travestis foram à sauna "todas de biquíni. O povo ficou em pânico". Podemos
perceber que a questão das configurações corporais e das aparências
relacionadas às convenções de gênero também são fundamentais para as travestis,
mas que elas fizeram um uso estrategicamente desestabilizador e provocativo
dessas normas. A configuração de pânico que essa desestabilização poderia
causar e o seu uso politicamente estratégico mostraram-se muito claramente nas
suas falas.
Considerações finais
Constitui o problema aqui analisado um jogo de complexas relações das quais
este texto foi uma tentativa de aproximação, inspirado na perspectiva teórica
já exposta. Neste caso, imbricam-se as lógicas de um grupo de travestis, que
demanda o direito de freqüentar estabelecimentos destinados ao público
homossexual; de atores do mercado segmentado, que recusam a sua presença, no
intuito de preservar um nicho de consumidores; de uma parcela de gays,
militantes e não-militantes, que é a favor da reivindicação das travestis e
adota o discurso da diversidade sexual e não segmentação; e de outra parcela,
que defende os estabelecimentos exclusivos para a interação entre homens, como
uma maneira de afirmação da identidade homossexual. O instrumental teórico
apresentado na segunda parte do texto possibilitou a compreensão de uma ação
política considerando os diversos níveis em que esta desenvolve relações de
poder e se articula socialmente. Se tivermos em mente que essas relações não
são estáticas, e sim dinâmicas e intercomunicáveis, é possível entender que, em
contextos diversos, a reivindicação das travestis seja interpretada de maneiras
diferentes, adquirindo também diferentes significados políticos.
Essa orientação estende-se também à composição do sujeito político do que se
convencionou chamar "movimento GLBT", na medida em que o movimento se articula
sob a lógica da negociação entre diferentes identidades. A situação de disputa
política não se restringiu a mudanças de posição entre sujeitos dados e
definidos, mas expressou o caráter contingente das alianças que se estabelecem
no interior de um determinado sujeito político. Enquanto uma parte do movimento
composta pelos gays abraçava a demanda das travestis e a alçava a um status de
reivindicação de direitos civis, outra parte esforçava-se por jogá-la no
terreno dos particularismos, considerando-a invasiva de outros direitos.
Apresentou-se muito claramente, então, a questão do que pode ou não ser
considerada reivindicação legítima, e de como forças variadas e desiguais
determinam o que será ou não reconhecido como tal a partir de um conjunto de
normas contextuais.
Se, por um lado, os anseios das travestis podem ser compreendidos como uma
reiteração da norma, exigindo direitos por meio do consumo e da reiteração de
uma determinada posição "de mulher", por outro, suas reivindicações carregam
também um caráter subversivo quando instauram o questionamento e a atitude
crítica dentro do "movimento GLBT" e desestabilizam as suas estruturas
normativas. É particularmente importante para este trabalho o exame da hipótese
do que acontece quando um grupo socialmente marginalizado reivindica direitos
mediante uma prática específica, e de como isso se torna complicado quando essa
demanda tem de ser negociada entre os "aliados naturais".
As travestis foram capazes de instaurar o questionamento interno das normas que
regem a atuação do movimento, utilizando-se do discurso de igualdade e
diversidade sexual difundido por parte dos militantes e de uma estratégia
desestabilizadora das estruturas que conectam identidades de gênero e
identidades sexuais por meio de marcadores corporais. Originaram, assim, uma
situação que forçou os próprios limites do movimento, promovendo a discussão e
a rearticulação de forças tais que, por si só, poderiam ser consideradas
subversivas de uma relação de dominação anteriormente estabelecida. É esse tipo
de ação política que Butler localiza como "performativa": o potencial de
produzir, no interior de uma mesma forma discursiva, efeitos que deslocam e
desestabilizam essa mesma norma, que não lidam com as estruturas de poder como
se estivessem fora delas, mas que trabalham essas estruturas de dentro e contra
si mesmas (Butler, 1993, p. 241). Procurei demonstrar que o elemento comum às
categorias que compõem um sujeito político não se apresenta como um dado
advindo da posição inerente a este sujeito, no sentido ontológico do termo, mas
como uma articulação e acomodação de diferentes demandas internas em relação ao
foco de reivindicação estabelecido, produzindo arranjos únicos que podem ser
tão eficazes do ponto de vista da ação política direcionada quanto instáveis do
ponto de vista das políticas de identidade.