Degradação e proteção superficial da madeira em exterior
1. INTRODUÇÃO
A madeira é um material de elevada eficácia do ponto de vista estrutural, mas
também o seu valor estético é de uma importância fundamental para as suas
aplicações mais nobres. No entanto, pela sua própria natureza, o valor
decorativo da madeira é o que mais depressa se altera ao longo de tempo, muito
antes de outras formas de degradação comprometerem o comportamento estrutural.
Surge assim a imperiosa necessidade de fazer proteção das superfícies, tanto
contra a simples sujidade, mas sobretudo contra as alterações devidas a reações
químicas dos seus elementos constituintes, em particular por efeito da radiação
ultravioleta (UV) e de oxidações, além da degradação biológica, que é em grande
parte também controlada com as mesmas soluções de proteção contra os agentes
químicos e físicos.
Desde tempos antigos que se desenvolveram conceitos e soluções relativamente
eficazes de tratamento superficial e proteção da madeira, mas as novas
tecnologias químicas de meados do século XX permitiram a disponibilidade de um
vasto leque de opções, com resultados muito diferenciados a nível de eficácia a
médio e longo prazo. Estas dúvidas têm colocado os utilizadores e mesmo os
técnicos, em grande indecisão quanto à eficácia de cada um dos muitos produtos
e tratamentos disponíveis.
É bem conhecido o efeito da degradação da madeira quando exposta ao meio
exterior ' perda da coloração natural e fissuração, o que mesmo as tecnologias
mais avançadas ainda não conseguem evitar por longos períodos de tempo. A
proteção das superfícies de madeira continua portanto nas prioridades de estudo
e investigação aplicada, tendo em conta o incalculável impacte económico a que
está associado [1-3].
2. ACABAMENTO SUPERFICIAL
Os acabamentos em madeira, nomeadamente o envernizamento, a pintura, a lacagem
e a proteção com velaturas são operações indispensáveis para conferir a uma
obra de madeira o seu bom aspeto final, proteção contra a degradação pelos
agentes atmosféricos, contra a humidade, degradação biológica por insetos ou
fungos, ou muito simplesmente contra a sujidade.
3. MODELO DE DEGRADAÇÃO
Embora não se tenha chegado ainda a soluções completamente satisfatórias
começam a perceber-se cada vez melhor as causas que contribuem para a
degradação superficial da madeira natural exposta à radiação solar e à chuva.
Do ponto de vista químico, a madeira é um complexo polimérico composto por
estruturas de polissacáridos, essencialmente celulose, hemicelulose e lenhina.
A celulose é um polímero longo e linear constituído por monómeros de D-glucose
ligados entre si por ligações glicosídicas na forma ß entre os carbonos 1 e 4
[4]. A hemicelulose são polissacáridos constituídos por D-glucose, D-manose, D-
galactose, D-xilose, D-arabinose e ácido D-glucosónico [4]. As hemiceluloses
não têm todas a mesma constituição química, dependendo da sua origem [5].
A lenhina é uma estrutura polimérica entrecruzada que se considera constituída
por unidades de fenilpropano [6]. A lenhina contém grupos cromóforos com anéis
aromáticos conjugados e grupos carbonilo [7]. A interação destes grupos com a
radiação UV e visível na presença de oxigénio é a principal causa da foto
oxidação da madeira, enquanto que a contribuição da celulose e da hemicelulose
é mínima [7].
A foto oxidação da lenhina é um processo de sucessivas modificações químicas
com quebra de ligações e perda de hidrogénio, do que resulta a formação de
radicais, formação de peróxidos com oxigénio e finalmente a sua decomposição
com produção de sub-produtos coloridos [7]. Estas modificações originadas à
superfície provocam alterações de propriedades físicas e mecânicas da estrutura
da madeira, aumentando a sua sensibilidade á água seguida de hidrólise,
deslavagem e fissuração da camada superficial [7].
Da radiação UV emitida pelo Sol, os de maior penetração são os de comprimento
de onda mais elevado a que se dá o nome de UV-A. É esta radiação que provoca a
alteração das propriedades químicas da lenhina, destruindo pouco a pouco a
cadeia polimérica, e permitindo o seu arrastamento (ou solubilidade) pela água.
A radiação UV-A é a mais penetrante, passando pela atmosfera, pelas nuvens e
ainda pelo vidro, Figura_1.
Após o tempo suficiente para alteração da estrutura da lenhina, o efeito direto
da água, através da chuva ou outra forma de esta atingir a madeira, dá-se pouco
a pouco a remoção da lenhina. Com o arrastamento da lenhina ficam as fibras de
celulose mais ou menos descoladas umas das outras, perdendo propriedades de
resistência. Um efeito bem visível desde as primeiras fases é a alteração de
cor natural da madeira para os tons de cinzento, Figura_2. No clima com elevada
radiação solar, como acontece em Portugal, climas mediterrânicos e tropicais, o
efeito da descoloração para o cinzento é muito rápido, começando ao fim de seis
meses se estiverem reunidas as contribuições de radiação e água na sequência
ideal (primeiro radiação e depois água).
No caso de madeiras pintadas com produtos que fazem uma película impermeável
sobre a superfície, a cor da madeira fica razoavelmente preservada mesmo que a
radiação ultravioleta UV-A consiga penetrar através do filme transparente,
porque não se dá a foto-oxidação da lenhina e o consequente arrastamento, por
efeito da água, dos compostos produzidos durante as reações de oxidação da
lenhina [8]. No entanto, o próprio material da película protetora acaba por se
degradar por efeito também da radiação solar, perdendo elasticidade e tornando-
se quebradiço. A entrada de água por fissuras no filme de revestimento
superficial tem de imediato dois efeitos destruidores, um é o arrastamento da
lenhina e outro é o desenvolvimento de fungos por baixo do revestimento. Na
Figura_3 mostra-se o efeito de degradação do aspeto de um acabamento com
película ao fim de pouco mais de um ano de exposição ao exterior descoberto.
3.1 O efeito da água
O efeito da água já foi abordado na seção anterior, nomeadamente na sua
contribuição para a perda de cor natural da madeira quando exposta ao exterior.
Os modelos de degradação são muito difíceis de definir devido à dependência de
variáveis não controláveis, como sejam a regularidade e intensidade da radiação
incidente, a quantidade e o momento de contato com a água, e ainda propriedades
próprias de cada espécie de madeira e da própria madeira (densidade, cerne e
borne, orientação do corte, etc.). Quando se analisa o conjunto com a aplicação
de um produto de acabamento temos ainda as propriedades deste, e a forma como
foi aplicado, a espessura da película, etc.
No caso representado na Figura_4 pode fazer-se uma observação em que um grande
número de variáveis não controladas teve um efeito perfeitamente coincidente.
Toda a porta é feita da mesma espécie de madeira, a composição do produto de
acabamento e a técnica de aplicação, espessura da película, são perfeitamente
iguais em toda a superfície. Também as condições de exposição à radiação são
muito semelhantes em toda a altura (uma ligeira proteção por ensombramento só
se terá feito sentir no extremo superior).
Então, a grande diferença de comportamento final fica dependente de uma única
variável que é a exposição à água. Supondo que a maior intensidade e frequência
de contacto com água provêm da chuva caída na direção vertical, a parte
inferior da porta foi muito mais vezes molhada do que o meio e a parte
superior. Como resultado final a parte superior da porta encontra-se em muito
melhor estado de conservação, Figura_5, do que a parte inferior da mesma porta,
Figura_6.
A Figura_6 mostra que o contacto mais frequente com a água, tanto por efeito
direto da chuva caída com uma ligeira inclinação relativamente à vertical, como
dos pingos de salpico com arrastamento de sujidade, conduz a uma grande
destruição do acabamento e em consequência um estado muito acentuado de
degradação da própria madeira (podridão).
Em muitos casos de aplicações da madeira em construção civil, nomeadamente em
janelas e guarnições de janelas, Figura_7, embora não estando sujeitas a
exposição direta ao exterior sofrem a influência da radiação solar. Quanto ao
contacto com água, este pode ocorrer da forma mais insuspeita como as
condensações das superfícies frias, como do pingar de água residual nos
momentos de abertura, como é mostrado na Figura_7. O resultado final é o mesmo
da madeira exposta ao exterior, como seja, a fissuração superficial, a perda da
película protetora e alteração de coloração para o cinzento.
O efeito da água na madeira é bastante desfavorável a nível da sua durabilidade
natural. A madeira seca pode durar séculos, mesmo sem qualquer proteção
superficial ou impregnação com outros produtos. Também a madeira em contacto
permanente com água sem a presença de oxigénio tem uma durabilidade natural
muito elevada, por motivo da maior ameaça à durabilidade da madeira ser o
desenvolvimento de fungos aeróbios. Estes micro-organismos alimentam-se da
madeira através de transformações biológicas e da produção de enzimas que
ajudam a digerir a celulose e a lenhina. O ambiente mais favorável ao
desenvolvimento dos fungos destruidores da madeira é a humidade elevada com
alguma disponibilidade de oxigénio. É exatamente a condição que acontece numa
peça de madeira em contacto com o solo, na zona de transição entre a parte
profundamente enterrada e a zona aérea. Veja-se como exemplo a representação da
Figura_8, em que um pilar de uma construção em madeira se encontra em elevado
grau de ataque de podridão na zona próxima do nível do solo.
Em situações como a descrita anteriormente, mais importante do que a aplicação
de soluções de acabamento, por mais eficazes que sejam, será a impregnação
profunda e o afastamento da fonte de humidade por meio de soluções técnicas
como as exemplificadas na Figura_9. Outras soluções passam por barreiras
arquitetónicas, tais como telheiros e ensombreadores.
3.2 O efeito da radiação solar
A radiação solar, em particular as radiações dos comprimentos de onda
correspondentes à radiação UV-A, provocam a foto-oxidação da lenhina da madeira
[8] à superfície das peças onde a radiação incide. Por este motivo a alteração
acaba por ter o seu principal efeito visível limitado a uma camada fina
superficial que acaba por vir a proteger as camadas inferiores dos efeitos
dessa mesma radiação. Por este motivo, se a madeira não for atacada por fungos,
o simples efeito da alteração de cor não diminui grandemente o tempo de duração
em boas condições de desempenho estrutural. Para provar o que foi dito veja-se
a Figura_10, onde é visível a superfície de uma peça de carvalho sem qualquer
acabamento superficial exposta ao exterior durante três anos. Após um
aplainamento inclinado permite a observação da qualidade da madeira desde a
superfície (canto direito) até uma profundidade de cerca de 3 mm (canto
inferior esquerdo).
3.3 Os efeitos biológicos dependentes da própria estrutura da madeira
Como foi dito anteriormente as variáveis que contribuem para a maior ou menor
degradação da madeira são a própria estrutura e composição da madeira e a
humidade.
Quanto aos fungos, necessitam de humidade e algum arejamento, sendo uma das
condições mais desfavoráveis, o contacto com água parada alternado com um
ligeiro arejamento. É o que acontece em caves, no fundo de embarcações, em
peças semienterradas, etc.
No exemplo da Figura_11 temos o que resta de uma travessa de madeira de
pinheiro que serviu de suporte durante alguns anos na base de uma construção,
numa localização relativamente superficial em contacto com o solo. A madeira do
borne está completamente degradada, mas a camada interior correspondente ao
cerne está em perfeitas condições. Neste caso a variável que contribuiu para o
bom estado da madeira foi a composição química da madeira da zona interior
(cerne), onde substâncias acumuladas ricas em extrativos voláteis tóxicos para
os micro-organismos impediram a sua sobrevivência.
Para finalizar esta abordagem da degradação da madeira por efeito biológico,
falta referir os ataques por insetos e por larvas de insetos. Muitas espécies
de madeira são suscetíveis ao ataque de insetos que nalguma fase do seu ciclo
de vida podem alimentar-se ou permanecer no interior da madeira. As térmitas
são insetos sociais (vivem em grandes colónias), alimentam-se da celulose da
madeira abrindo galerias de circulação no interior da mesma, afastados das
superfícies como forma de evitar a luz. A proteção superficial dificilmente
pode impedir a entrada na madeira destes animais se as outras condições
favoráveis estiverem presentes (espécie suscetível, acesso a alguma fonte de
humidade, abrigo da luz).
Quanto aos insetos larvares, o seu ciclo de vida passa pela deposição de ovos
numa abertura da madeira, seguindo-se o desenvolvimento de larvas que se
alimentam da madeira, circulando no seu interior por meio de galerias, Figura
12(a). A passagem de larva a adulto faz-se perto da superfície da madeira e o
furo que se observa habitualmente corresponde ao local de saída de um novo
inseto, a Figura_12(b). Os insetos na fase adulta acasalam fora da madeira e as
fêmeas voltam a depositar ovos na superfície da madeira, normalmente em
pequenas fendas ou cavidades naturais. Assim sendo, se a superfície da madeira
estiver protegida com uma película contínua resistente, ou se na camada
superficial tiver havido uma impregnação de um produto repelente ou tóxico para
o inseto ou larva, o ciclo de vida é interrompido.
4. PROTEÇÃO SUPERFICIAL
A proteção superficial da madeira tem muitas vantagens por melhorar o
desempenho em condições adversas à sua conservação natural, para além das
razões de ordem estética. Tal como abordado anteriormente a proteção com
acabamentos permite à madeira impedir a entrada de água ou humidade, impede
ainda a deposição de agentes destruidores tais como fungos e insetos, facilita
a limpeza das superfícies, e ainda pode modificar as propriedades da superfície
no sentido de aumentar a dureza superficial ou a resistência ao desgaste.
O grande problema a resolver está na escolha das soluções e produtos a aplicar
como acabamento superficial. Não há uma solução ótima única, mas pelo
contrário, cada situação ambiental particular, cada espécie de madeira, cada
produto de utilização final, exigem diferentes abordagens. Um exemplo simples,
o casco exterior de uma pequena embarcação em madeira, Figura_13, tem uma
exigência de proteção contra a entrada de água, resistência ao desgaste para o
seu arrastamento no fundo e capacidade de impedir o ataque ou aderência de
organismos marinhos.
O interior da mesma embarcação tem exigências diferentes, como sejam a
resistência à degradação pela radiação solar e uma superfície polida para
facilidade de limpeza, Figura_14.
Neste exemplo, assim como em muitos outros casos as escolhas das soluções podem
ter aspetos contraditórios.
Para obras e objetos que tenham contacto simultâneo com diferentes classes de
risco não é de excluir aplicar soluções de acabamento diferentes em diferentes
partes do mesmo objeto. De certo modo isto já acontece em postes, pilares de
estruturas, embarcações, etc., devendo ser tomadas como opção otimizada e não
como solução de recurso.
4.1 Soluções tradicionais
A utilização da madeira em exterior sem qualquer proteção de acabamento foi ao
longo de muito tempo solução aceite no que diz respeito à conservação natural
da madeira. O aspeto inicial das superfícies era rapidamente alterado
(descoloração para o cinzento), mas desde que a espécie tivesse uma boa
durabilidade natural aos fungos e insetos a obra poderia manter-se durante
muitas dezenas de anos sem necessidade de qualquer manutenção. Assim acontece
ainda com coberturas de telha em cedro do Canadá, em mobiliário de jardim,
feitos em madeira de cerne de espécies duráveis de carvalhos e espécies
tropicais. Como exemplo, existem na Ilha Terceira, nos Açores, paredes
exteriores e coberturas de abrigos militares construídos em meados do século
passado em madeira de Criptomeria japonica, que se mantiveram com boa
capacidade de serviço durante mais de cinquenta anos, com uma coloração
estabilizada de cinzento prateado.
Há diferentes óleos com boas propriedades para a preparação de tintas. São
óleos com propriedades de secagem lenta, os chamados óleos secativos [9 -10].
Destes óleos o mais conhecido e mais usado na pintura industrial é o óleo de
linhaça, outros são usados em tintas artísticas especiais.
Para contribuir para um melhor aspeto estético e também melhorar o desempenho
de espécies de madeira menos duráveis utilizaram-se no passado óleos secativos
com pigmentos. Por motivo de incapacidade de boa resposta por parte de produtos
mais modernos, continuam a usar-se, com satisfatório desempenho, soluções de
acabamento tradicional como mostrado na Figura_15, para obras de carácter
rústico.
Após três anos de exposição às condições mais adversas em exterior a madeira do
portão mostrado na Figura_15 ainda se encontra em boas condições de conservação
no que diz respeito à durabilidade, apenas se começa a notar o início de
fissuração e desenvolvimento de fungos de alteração de cor, Figura_16.
Neste tipo de acabamento, após três anos de exposição ao exterior com uma
madeira suscetível, a integridade estrutural desta peça de madeira está
perfeitamente conservada, por motivo da madeira conseguir manter-se a maior
parte do tempo num valor de teor de água suficientemente baixo (inferior ao
limite em que se dá o desenvolvimento dos fungos do apodrecimento).
Sendo necessário uma manutenção esta far-se-ia de forma muito simples e
económica. Bastava escovar a superfície de toda a sujidade. Depois passar uma
lixa fina para alisar as fibras superficiais e logo de seguida podia fazer-se
uma aplicação de óleo pigmentado, não sendo necessário uma raspagem nem lixagem
até atingir madeira completamente limpa.
4.2 Soluções com impermeabilização da camada superficial
A experiência tem demonstrado que, nos acabamentos da madeira para exterior com
recurso a produtos que formam uma película espessa impermeável à água e à
humidade, os resultados são muito bons nos primeiros tempos, dependendo muito
da espessura da camada protetora. Na Figura_17 mostra-se o resultado da
exposição de um verniz poliuretano de dois componentes para utilização interior
em soalhos, aplicado por pincelagem em diferente número de demãos sobre madeira
de carvalho. Após três anos de exposição ao exterior a diferença de aderência
entre a zona com apenas uma demão (lado esquerdo da amostra) é muito diferente
da zona com aplicação de duas demãos (lado direito da amostra).
Este mesmo resultado foi obtido em muitos outros ensaios e constatações de
aplicações reais em obra. Os acabamentos impermeáveis com espessura de película
suficiente duram bastante tempo com um aspeto decorativo muito bom, até ao
momento em que se começa a deteriorar a película de acabamento (perda de
elasticidade e maior fragilidade). Deve ter-se em conta que a madeira, embora
não tenha significativo movimento por dilatação térmica é muito sensível às
variações de humidade ambiente e mesmo com proteção superficial é inevitável um
razoável movimento de inchamento e retração ao longo da variação anual de
condições exteriores.
O não acompanhamento dos movimentos internos da madeira pela camada protetora
superficial é o fator decisivo para a destruição rápida da eficácia do
acabamento com película. Após a primeira quebra de continuidade a água começa a
entrar para a madeira e em poucos meses toda a superfície está quase totalmente
degradada. Portanto, a proteção com acabamentos formando película superficial
rígida e impermeável à água não é a melhor solução para a exposição ao exterior
por longos períodos de tempo.
Adicionalmente, tem ainda de se considerar a extrema dificuldade em recuperar
um acabamento deste tipo para uma solução igual. Em qualquer altura em que se
pretenda fazer a manutenção / recuperação do acabamento, terá de se remover
todo o verniz aplicado até a madeira ficar completamente limpa (remover até 0,5
mm da própria madeira), para só depois se poderem aplicar novas camadas do
verniz de acabamento
O que foi dito para os vernizes é igualmente válido para pinturas opacas. Na
Figura_18 mostra-se o resultado de longa exposição ao exterior (5 anos), de
superfícies de topo de perfis colados, com aplicações de verniz poliuretano
para utilização em exterior, em diferentes demãos aplicadas por pincelagem, e
pintura castanha de base aquosa também para exterior. De realçar que as
superfícies de topo, em que a madeira tem a orientação das fibras perpendicular
ao plano da superfície, ficam muito mais susceptíveis à degradação do que as
superfícies longitudinais. No lado esquerdo da figura encontram-se as
aplicações de verniz poliuretano transparente com uma demão e com três demãos.
As de maior número de demãos demoraram muito mais tempo a degradar-se, mas ao
final de 5 anos o resultado revelou-se igual. Do lado direito da Figura_18
encontramse as amostras pintadas com duas demãos de verniz acrílico de base
aquosa com pigmento castanho aplicado por pincelagem. O resultado final foi
ligeiramente melhor, demonstrando maior poder de cobertura, filtragem de
radiação e elasticidade, mas a madeira no interior revela, tal como para as
outras amostras, um grau de destruição irrecuperável (fendas grandes e
podridão).
4.3 Novas soluções de compromisso entre a qualidade e o custo da solução de
acabamento
Estão em curso pelos autores estudos de novas soluções de acabamento com base
em compostos de silicone com adição de pigmentos coloridos, Figura_19
(resultados não publicados). A aplicação com espátula destas formulações de
pasta de silicone (à base de dimetilsiloxano e sílica), formando uma fina
camada superficial, revelou-se um pouco difícil, mas o acabamento revelou uma
excelente repelência inicial à água. No entanto, após um ano de exposição havia
aberturas na continuidade do acabamento, o que constitui também uma condenação
quanto à eficácia a longo tempo.
Nas amostras de ensaio, Figura_20, foram ensaiadas novas formulações de
acabamentos com pigmentos minerais e com óxidos metálicos de ferro como filtros
UV-A adicionais, e com catalisadores da secagem/polimerização rápida do
acabamento (secante tri-metálico).
As nano partículas de alguns óxidos metálicos são conhecidas por ter efeito
absorvedor da radiação UV [11]. Neste estudo, ensaios feitos numa madeira de
cor clara com um acabamento contendo nano partículas de óxido de zinco (ZnO),
revelaram uma diminuição do amarelecimento após exposição à luz UV.
Em estudos realizados pelos autores com um acabamento aplicado em pasta feito
com óleo de linhaça e pigmentos de óxidos de ferro revelaram também um bom
efeito filtrante da radiação UV, o que foi verificado não pela alteração da cor
natural da madeira, pois o pigmento é fortemente colorido, mas pela boa
aparência da superfície.
Um dos inconvenientes das soluções de acabamento com óleos é o seu elevado
tempo de secagem e o cheiro desagradável, pelo que se encontram em ensaio
amostras com vista à resolução destes problemas nomeadamente através da adição
de secantes e óleos essenciais e extratos de plantas aromáticas.
4.4 O futuro das soluções e acabamento
No futuro, as soluções de acabamento terão de potenciar as formulações com
penetração na camada superficial da madeira e alteração das suas propriedades
superficiais, adicionando filtros de radiação eficazes e algum componente que
adicione propriedades hidrorrepelentes de longa duração. Desta forma conseguir-
se-ia evitar a alteração de propriedades da madeira, manter a madeira sempre
seca, diminuindo os movimentos da superfície. Com a repelência à água
conseguir-se-ia não só evitar aderência de sujidade e contaminantes químicos,
como evitaria o desenvolvimento de microrganismos que necessitam de pequenas
bolsas de humidade para se desenvolverem. Este efeito consegue-se durante
alguns meses com uma adequada preparação das superfícies e aplicações de
pigmentos de granulometria muito fina. O efeito de repelência à água pode ser
conseguido por via química ou por via física. Certos valores de rugosidade das
superfícies entram em conflito com a tensão superficial da água, não permitindo
a formação e aderência de micro gotas, Figura_21.
A repelência à água pode ser obtida por efeito físico [12 - 13]. Alterações da
rugosidade das superfícies à escala nano alteram também muitas propriedades de
superfície, nomeadamente a repelência à água, o que é conhecido em terminologia
inglesa pelo termo lotus effect [14]. Esta designação prende-se com o efeito
natural da folha de uma planta aquática lotus que tem uma completa repelência
às gotas de água.
As propriedades de repelência à água são observadas nos fenómenos da natureza
[15], mas só muito recentemente estudadas e explicadas, sendo ainda muito fraca
a oferta de produtos comerciais que desenvolvam esta propriedade das
superfícies para objetivos práticos na proteção de materiais.
5. MODELOS DE MANUTENÇÃO DE ACABAMENTOS
Quando um acabamento perde a sua função protetora da madeira, ou deixa de
desempenhar a função decorativa desejada, há necessidade de proceder a
repinturas, reparações ou manutenções.
Os autores estão a desenvolver um modelo que permita avaliar a relação entre a
duração de vida de um acabamento e a intensidade e custos das operações de
manutenção e renovação, de modo a permitir tomar as opções de melhor equilíbrio
entre diferentes interesses contraditórios.
No modelo proposto na Figura_22, relativo a um acabamento com película, a
degradação em fim de ciclo é quase total, ou seja, não é possível reaproveitar
nada do produto inicial. A solução é a completa remoção dos restos degradados
do acabamento inicial e proceder tal como tinha sido feito na aplicação nova.
Os custos são ainda mais elevados do que na primeira aplicação, tendo em conta
a dificuldade de remoção dos restos do produto inicial até algumas décimas de
milímetro do material de base.
Na Figura_23 mostra-se a degradação do acabamento até à sua fase de reparação/
manutenção, relativamente a um produto que se destaque fácil e naturalmente
(farinação do acabamento), mas não formando uma pelicula contínua, ou como
acontece também com os óleos pigmentados impregnados na camada superficial. Uma
vez que se espera que exista ainda alguma cor e restos do óleo de acabamento
que ficaram impregnados na madeira, basta fazer uma limpeza da sujidade
superficial e aplicar uma nova demão, à semelhança da aplicação inicial. Os
custos desta reparação/manutenção são relativamente reduzidos e não necessitam
de equipamentos, nem técnicas, nem de conhecimentos muito especializados.
A melhoria da eficiência desta família de acabamentos consiste no aumento do
intervalo de manutenções ou na menor degradação relativa se compararmos no
mesmo prazo de manutenção, Figura_24.
A abordagem baseada em soluções de alta tecnologia, vernizes de solventes e
polímeros cada vez mais duráveis e resistentes, tem também mostrado melhorias,
mas com custos desproporcionados, e em todo o caso, nunca conseguindo evitar a
fase final de degradação catastrófica e com elevadíssimos custos de reparação.
Este comportamento corresponde ao que se encontra representado na Figura_25. A
busca de aumento de eficiência tem-se feito tentando aumentar o tempo de
intervalo entre operações (linha quebrada aos 36 meses). Mas acontece que os
produtos mais resistentes e de elevada aderência tornam-se extremamente
difíceis de remover no fim de ciclo. Os custos desta renovação são elevados.
6. CONCLUSÕES
Tendo em conta que uma solução com aspeto final brilhante ou mate, película
impermeável e de duração ilimitada ainda não existe (nem sequer é uma opção de
preço), então têm de ser ponderadas comparativamente as soluções
tecnologicamente possíveis.
A avaliação de um produto de acabamento tem de ter em conta não só a perfeição
e o aspeto estético do produto quando aplicado recentemente, mas também ter
conhecimento do comportamento a longo prazo. Por outras palavras, na aquisição
de uma nova solução de acabamento e proteção de madeira não se devia apenas
mostrar o aspeto após a aplicação inicial. Seria essencial e absolutamente
esclarecedor ser mostrado, juntamente com a amostra do produto quando aplicado,
também uma amostra com o aspeto após vários anos de exposição às condições
expetáveis de utilização. Este mesmo princípio devia ser seguido para outras
soluções de acabamento e proteção.
Sabe-se que nenhum acabamento tem um tempo de vida ilimitado, portanto, se o
substrato a proteger tiver um tempo de vida maior do que a duração do
acabamento, então é necessário fazer renovações periódicas do acabamento. Neste
caso, têm de ser ponderadas a duas possibilidades de intervenção, ou seja, se
vale mais a pena ter um produto de longa duração entre manutenções/renovações,
mas cuja renovação implica intervenção profunda e de elevado custo, ou se é
mais económico usar acabamentos, que, embora de menor duração, tenham uma maior
facilidade e menor custo de renovação.
Para madeiras e produtos derivados, as soluções do segundo tipo, ou seja, com
impregnação superficial de óleos secativos com pigmentos e repelência à água,
estão a revelar-se mais vantajosas. Embora o aspeto inicial não seja tão
perfeito ao nível de lisura e as superfícies não fiquem com brilho nem
facilidade de lavagem, as vantagens de elevada durabilidade, associada a uma
manutenção/renovação mais económica, fazem com que seja melhor solução para
grandes superfícies, revestimentos de paredes, vedações, mobiliário de
exterior, estruturas decorativas (pérgulas, etc.), relativamente aos
acabamentos com películas lisas, duras e impermeáveis.