Ambiente Colaborativo para Avaliação de Cadeias de Abastecimento
1. Introdução
Uma cadeia de abastecimento, supply chain em inglês (SC), pode ser entendida
como uma organização (de empresas) altamente colaborativa com uma dinâmica de
rede reconfigurável. Esta rede de empresas que liga vários agentes, desde o
fornecedor até ao consumidor final passando pela fabricação e serviços, tem por
objetivo gerir de forma eficaz os fluxos físicos, financeiros e informacionais
para assim atingir os objetivos do negócio (Stevens, 1989). A competitividade
de um dado produto ou serviço não é resultado de uma única unidade
organizacional mas sim o efeito da coordenação e otimização das atividades ao
longo de toda a cadeia de abastecimento a que essa unidade pertence. Isto é, a
competição deixou de se verificar apenas entre empresas individuais e centra-se
agora nas próprias cadeias de abastecimento.
Surge assim a gestão da cadeia de abastecimento que consiste na coordenação
estratégica dos vários elementos que a compõem com o objetivo de melhorar o
desempenho de cada empresa individual e da SC como um todo (Mentzer et al.,
2001). É de esperar que uma SC bem gerida consiga fornecer ao cliente o produto
certo, com as especificações exigidas, no sítio certo e dentro do prazo
definido, ao menor custo possível para todos os membros da SC (Lambert, Cooper
& Pagh, 1998).
Novos paradigmas de gestão têm surgido com o objetivo de melhorar a
competitividade das SCs através do aumento da qualidade dos produtos e da
melhoria do serviço oferecido aos clientes (Espadinha-Cruz et al., 2011). Neste
trabalho vai ser dado especial destaque aos paradigmas Lean, Ágil, Resiliente e
Verde. Paralelamente a gestão de conhecimento tem sido reconhecida como crucial
para o crescimento e desenvolvimento das organizações (Xavier et al., 2012). Em
particular a capacidade para integrar, construir e reconfigurar competências
internas e externas é essencial para lidar com ambientes em rápida mudança. A
avaliação do nível de satisfação dos diversos paradigmas é um requisito comum a
cada um destes processos e como tal é também essencial à gestão eficiente das
SCs e consequentes ganhos de produtividade. Existem já trabalhos sobre os
quatro paradigmas aqui abordados (Azevedo, Carvalho, & Cruz-Machado, 2012)
mas apresentam uma abordagem mais de gestão com implicações a nível da medição
de desempenho da cadeia, não explorando, quer o ambiente colaborativo, quer as
potencialidades da cloud.
O principal objetivo deste trabalho é propor um modelo colaborativo para
acomodar de forma integrada todo o processo de avaliação da SC. A cloud é aqui
explorada como meio de operacionalizar e suportar o modelo proposto. Um
contributo adicional advém da generalização da metodologia para medir o
comportamento ágil de uma SC (Azevedo et al., 2012) aos outros paradigmas e
consequente eliciação de um índice compósito para cada paradigma considerado.
Na secção 2 deste artigo é brevemente revista uma seleção de paradigmas de
gestão das SCs. Na secção 3 são enunciados os aspetos que promovem as
tecnologias de cloud computing como uma solução emergente de apoio a este
modelo organizacional. A secção 4 propõe um modelo de avaliação de
comportamentos de uma SC. Na secção 5 é feita a análise dos requisitos do
sistema de informação que permite concretizar o modelo colaborativo de
avaliação descrito e na secção 6 apresentamos o protótipo desenvolvido.
Finalmente, a secção 7 apresenta a conclusão e propostas para trabalho futuro.
2. Paradigmas de gestão das cadeias de abastecimento
Segundo Christopher (2005), a gestão das cadeias de abastecimento é a gestão
das relações a montante e a jusante com os fornecedores e clientes criando
valor ao cliente ao menor custo. Para Mentzer (2001) a cadeia de abastecimento
é simplesmente um conjunto de empresas, tanto a montante (ou seja, a oferta),
como a jusante (ou seja, a distribuição) incluindo o consumidor final. Num
ambiente competitivo em constante mutação, em que o ciclo de vida dos produtos
é cada vez mais curto, novos paradigmas de gestão das cadeias de abastecimento
têm surgido. Dentre estes destacamos pela sua pertinência os paradigmas lean,
ágil, resiliente e verde. Estes paradigmas têm despertado o interesse da
comunidade académica, quer em termos individuais (Cumbo, Kline & Bumgardner
, 2006; EPA, 2000; Holt & Ghobadian, 2009; Naylor, Naim, & Berry, 1999;
Zhu, Sarkis, & Geng, 2005), quer no seu conjunto pelo facto de se
apresentarem determinantes para o desempenho das empresas e respetivas cadeias
de abastecimento (Azevedo, Carvalho, & Cruz-Machado, 2012).
Uma SC lean é aquela que tenta desenhar os seus produtos de forma a minimizar
os desperdícios de recursos e maximizar o lucro. A abordagem de gestão lean,
desenvolvida por Taiichi Ohn na Toyota Motor Corporation, no Japão, é a base
para o Sistema de Produção Toyota (TPS), assente em dois pilares principais:
Autonomação ou Jidoka e Just-in-Time (JIT) de produção (Ohno, 1998). De
acordo com Womack & Jones (1991) a estratégia lean é uma abordagem que
defende a utilização de menos recursos (menos esforço humano, menos
equipamento, menos tempo e menos espaço) na produção de produtos que estejam
mais próximos das necessidades dos clientes. Há evidências de que a tendência
de muitas empresas é procurar soluções de baixo custo, por causa da pressão
sobre as margens, podendo levar a serem mais lean, porém tornam-se cadeias de
abastecimento mais vulneráveis (Azevedo et al, 2008; Peck, 2005; Christopher
& Peck, 2004).
Uma SC ágil é aquela que é capaz de responder rapidamente a alterações não
previsíveis dos mercados, quer em termos de quantidade, quer de variedade
(Agarwal, Shankar & Tiwari, 2007; Christopher, 2008). Segundo (Angulo &
Martín, 2009) a agilidade é um requisito indispensável para garantir a
sobrevivência das empresas e o sucesso das organizações num ambiente tão
turbulento, competitivo e globalizado como o atual.
Uma SC resiliente é aquela que é capaz de reagir a alterações ou roturas
abruptas e inesperadas. Em termos de gestão de SCs, a resiliência é definida
como a capacidade de a SC ser capaz de se regenerar para o seu estado original
ou para um novo estado mais favorável após um distúrbio (Christopher &
Peck, 2004). O objetivo da cadeia de abastecimento é de entregar o produto
certo, na quantidade certa, na condição certa, no lugar certo, na hora certa,
pelo custo certo. Uma vez que as necessidades dos clientes estão em constante
mudança, as cadeias de abastecimento devem estar adaptáveis às mudanças futuras
e responder adequadamente às exigências do mercado.
Finalmente, uma SC verde é uma SC que incorpora preocupações ambientais nas
suas práticas de gestão visando a minimização dos impactos no ambiente (Rao
& Holt, 2005). Ambientalmente sustentável a gestão da cadeia de
abastecimento verde surgiu como filosofia organizacional para alcançar fins e
objetivos corporativos na quota de mercado, reduzindo riscos e impactos
ambientais, melhorando a eficiência ecológica destas empresas e dos seus
parceiros (Zhu, Sarkis & Lai, 2008; Rao & Holt, 2005). Shuwang (2005)
considera que as cadeias de abastecimento verdes são um requisito do
desenvolvimento sustentável e uma forma eficaz para as empresas enfrentarem os
desafios da concorrência no mercado. De acordo com Srivastava (2007), uma
gestão verde de SCs pode reduzir o impacto ecológico da atividade industrial
sem sacrificar a qualidade, o custo, a fiabilidade, o desempenho ou a
eficiência energética.
3. Cloud e Gestão de Cadeias de Abastecimento
Tendo em conta que atualmente os contextos económico e empresariais se alteram
muito rapidamente, o modelo de cloud computing aparece como a tecnologia
adequada para permitir a partilha de informação entre todos os parceiros de uma
SC. A computação em cloud consiste num novo modelo de negócio onde os
consumidores podem ter acesso a hardware e software, através da internet, em
que apenas pagam os recursos de que necessitam em cada instante e apenas quando
os utilizam (Armbrust et al., 2010).
De acordo com a definição do National Institute of Standards and Technology
(Mell & Grance, 2011) a computação em cloud tem 5 caraterísticas
principais: (i) on demand self-service, o utilizador pode configurar e aceder a
capacidades de computação sem necessidade de interação humana com o fornecedor
do serviço; (ii) broad network access, os recursos estão disponíveis na rede
através de mecanismos standard, como os protocolos da internet, que promovem o
uso de plataformas cliente heterogéneas (laptops, smartphones, tablets, etc.);
(iii) resource pooling, os recursos de computação são agrupados para servir
vários consumidores através de um modelo multi-tenant com diferentes recursos
físicos e virtuais atribuídos. Exemplos de recursos são armazenamento,
processamento, memória e largura de banda de rede; (iv) rapid elasticity, as
capacidades de computação podem ser alocadas ou libertadas elasticamente, em
alguns casos de forma automática, para escalonar mais ou menos recursos de
acordo com a maior ou menor procura; (v) measured service, os sistemas de cloud
monitorizam, controlam e reportam automaticamente o uso dos recursos.
De acordo com Kefer (2012) através da cloud as companhias de uma SC poderão
colaborar a uma escala global, com menos riscos e menos custos do que com
sistemas de software tradicionais. Pequenas empresas não terão de fazer grandes
investimentos em infraestruturas e recursos humanos de tecnologias da
informação (TI). São identificadas três formas de a cloud melhorar as operações
de uma SC: (i) uma aplicação na cloud pode oferecer visibilidade de toda a SC
em tempo real; (ii) transferir as aplicações para a cloud, implica criar normas
para a representação da informação entre todos os elementos da SC e definir
regras de segurança comuns; (iii) uma plataforma de cloud permite construir uma
comunidade colaborativa.
Sendo o sistema proposto neste trabalho fornecido na cloud segundo o modelo
SaaS - Software como um Serviço (Armbrust et al., 2010), as empresas apenas
terão de alugar um serviço de software, sem se preocuparem nem com a sua
manutenção técnica nem com problemas de escala do serviço. Além da redução de
custos de desenvolvimento e manutenção, é importante notar que a arquitetura
multi-tenant da cloud permite também que diferentes SCs adiram à plataforma,
partilhando funcionalidades ao mesmo tempo que detêm o controlo sobre os seus
dados e sobre os seus membros. Através da plataforma proposta cada empresa pode
obter uma visão global da sua SC, e todos os elementos da SC poderão colaborar
para melhorar o desempenho e competitividade do seu negócio. As atuais
tecnologias Web fornecem os meios para construir a plataforma enquanto o modelo
de negócio da cloud fornece o modo de distribuir e reduzir os custos.
4. Avaliação do Comportamento de Cadeias de Abastecimento
A avaliação de cada comportamento lean, ágil, resiliente e verde (ou outros que
venham a ser propostos) é baseada na determinação de um conjunto de práticas
relevantes para o comportamento em estudo. Por exemplo, uma prática para o
comportamento verde será qualquer ação executada ao longo da cadeia que tenha
como efeito eliminar ou reduzir algum tipo de impacto negativo no meio
ambiente. Essas práticas poderão ser identificadas a partir da literatura, ou
sugeridas por um conjunto de peritos na área do comportamento em estudo.
Esses peritos serão associados à SC e além de serem os responsáveis pela
identificação das práticas que determinam um certo comportamento, serão também
responsáveis pela atribuição de pesos relativos a cada uma dessas práticas.
Essa atribuição de pesos relativos a cada prática poderá ser feita, por
exemplo, seguindo o método Delphi (Linstone & Turoff, 1975). Neste método
cada perito classifica por ordem de importância as várias práticas e após cada
ronda de inquéritos os resultados são compilados e tidos em consideração para a
ronda seguinte. Após um número de rondas pré-definido é calculado o peso
relativo de cada prática.
Generalizando o índice proposto em (Azevedo et al., 2012) podemos quantificar o
comportamento X de uma empresa se, para cada prática associada a esse
comportamento, for possível aferir o nível de implementação da empresa. Esse
nível de implementação será medido usando uma escala de Likert (Likert, 1932)
de 5 níveis, em que o valor 1 significa prática não implementada e 5
significa prática totalmente implementada.
O índice do comportamento X para uma empresa, BX, representa uma medida do grau
de implementação nessa empresa, das várias práticas identificadas como
refletindo o comportamento X, isto é, como implementando a estratégia X.
Associando o nível de implementação de cada prática à sua importância relativa
dada pelo peso da prática previamente determinado o índice do comportamento X
para uma dada empresa será dado pela equação 4.1.
Nesta equação, Pxi representa o nível de implementação da prática i para o
comportamento X, Wxi representa o peso da prática i para o comportamento X e n
é o número total de práticas. Finalmente, o índice compósito do comportamento X
para uma dada SC (XSC) é construído a partir dos índices das empresas que
formam a SC. Considera-se que numa dada SC, empresas diferentes podem ter
importâncias relativas diferentes. Representando por WCj o peso relativo da
empresa j dentro da SC considerada, o índice do comportamento X numa dada SC é
dado pela equação 4.2,
onde m é o número de empresas que integram a SC, BXj é o índice do
comportamento X para a empresa j e WCj é o peso relativo da empresa j na cadeia
considerada. Uma vez que o índice de um comportamento X para uma empresa é
definido por um valor entre 1 e 5, então o valor para o índice de um
comportamento para uma SC será também um valor entre 1 e 5. Um índice de valor
1 significa que a cadeia não implementa quaisquer práticas do comportamento em
estudo, e um índice de valor 5 significa que a cadeia implementa completamente
todas as práticas. É de notar que, neste modelo, estamos a assumir que o peso
de uma empresa numa SC é independente do comportamento que estamos a avaliar e
que assumimos que os pesos das práticas para um dado comportamento são comuns a
todas as empresas da SC.
5. Requisitos do Modelo Colaborativo
Nesta secção é apresentada a análise do sistema de informação necessário para
implementar uma plataforma de avaliação do comportamento de SCs. Após a
identificação dos tipos de utilizadores e quais os seus âmbitos de atuação, são
descritas as funcionalidades do sistema e é proposto um modelo conceptual de
dados que permite implementar essas funcionalidades.
As boas práticas no planeamento da arquitetura de informação empresarial (Serra
et al., 2008) foram tidas em devida conta garantindo quer o alinhamento das
entidades informacionais com os processos de negócio (através da identificação
e organização estruturada da informação de interesse para o modelo), quer o
alinhamento das aplicações com as entidades informacionais (evitando a criação
de zonas de informação duplicada).
O sistema terá quatro tipos de utilizadores. O administrador do sistema, o
administrador de uma SC, a empresa e o perito. Um utilizador do tipo
administrador do sistema é responsável por toda a plataforma e tem acesso
total a toda a informação (pode ler, escrever, modificar e apagar). Um
utilizador do tipo administrador de SC é responsável por uma dada SC e tem
acesso total a toda a informação de todas as empresas que fazem parte dessa SC.
Um utilizador do tipo empresa é responsável pela informação de uma dada
empresa. Tem acesso total à informação da sua empresa e pode consultar a
informação da SC a que essa empresa pertence. Um utilizador do tipo perito é
responsável pela identificação das práticas que determinam um certo
comportamento e pela atribuição dos seus pesos relativos. Está associado a um
determinado tipo de comportamento e tem acesso total às práticas desse
comportamento.
5.1. Funcionalidades
Para avaliar um determinado comportamento de uma SC, isto é, para calcular o
índice de um comportamento, são necessários dois passos prévios: 1 '
identificar as práticas relevantes para esse índice; 2 ' atribuir os pesos
relativos a cada uma das práticas. Na fase atual da construção da plataforma
foi assumido que as práticas são obtidas da literatura sendo o administrador do
sistema o responsável pela sua introdução. O administrador da SC identifica
quais as práticas que, para a sua SC, implementam um dado índice e associa cada
uma delas à SC e ao índice. Por omissão, o peso da prática será 1/t (onde t
representa o número total de práticas desse índice para essa SC). Tendo em
conta esta opção, nesta fase do trabalho, as funcionalidades dos utilizadores
do tipo perito não serão consideradas. É de notar que a extensão do sistema
para passar a responder aos passos 1 e 2 referidos acima não implica
modificações no modelo de dados apresentado na secção 5.2.
O administrador do sistema será responsável pela gestão das seguintes
entidades: utilizadores, empresas, SCs, práticas e índices. Para todas elas
poderá inserir, modificar, apagar e consultar ocorrências. Será este
administrador quem valida o registo dos utilizadores. Quando um utilizador do
tipo empresa se regista, introduz qual a SC a que pertence. No entanto a
relação de pertença da empresa a uma SC só será efetivada quando posteriormente
o administrador da SC a validar.
O administrador da SC será responsável pelas operações que dizem respeito à
sua SC: validar se uma empresa pertence à SC; associar ou retirar índices à SC,
associar práticas a um índice da SC, calcular o valor dos índices da SC. Pode
ainda aceder a todos os dados das companhias da SC.
O utilizador empresa é responsável pelas operações que dizem respeito à
empresa: atualizar dados da entidade empresa; inserir nível de implementação
das práticas dos índices adotados; calcular os valores dos índices da empresa.
O utilizador do tipo empresa pode ainda consultar os dados das empresas da SC
a que pertence.
5.2. Modelo Conceptual de Dados
O modelo conceptual de dados foi construído partindo de cinco tipos de
entidades principais representadas a cheio no diagrama da Figura_1: empresa
(company), utilizador (user), cadeia de abastecimento (SC), índice (index) e
prática (practice).
Entre as entidades empresa e utilizador existe uma associação que dará origem à
entidade company_user com o significado seguinte: uma empresa tem um ou vários
utilizadores, um utilizador corresponde a zero ou uma empresa. Um utilizador
não está associado a uma empresa no caso de ser administrador, administrador de
uma SC ou perito.
Entre as entidades empresa e SC existe uma associação com atributos que origina
a entidade company_sc. Uma SC possui várias empresas e uma empresa pode
pertencer a várias SCs. Por exemplo uma empresa têxtil que produz tecidos para
assentos de automóveis, pode pertencer simultaneamente a uma SC têxtil e a uma
SC automóvel. Cada ocorrência da entidade company_sc conterá, além dos
identificadores da empresa e da SC, o peso relativo (weight_company) e a
posição da empresa nessa SC (sc_position). A posição da empresa na SC
representa se a empresa é uma empresa focal, um fornecedor de 1º nível, um
fornecedor de 2º nível, um distribuidor, etc.
Entre as entidades SC e utilizador existe uma associação que é representada
colocando o identificador da SC na tabela da entidade utilizador como chave
estrangeira. Uma SC tem vários utilizadores e um utilizador pertence a uma
única SC. Os utilizadores do tipo empresa serão associados a uma SC que será
uma de entre as várias a que a sua empresa está associada. Note-se que um
utilizador do tipo empresa está associado a uma empresa. Na entidade empresa
estão os dados da empresa a que pertence e na entidade utilizador estão os seus
dados do utilizador. Isto significa que se uma empresa estiver associada a duas
ou mais SCs, terá de ter pelo menos um utilizador por cada SC a que esteja
associada. Se um utilizador é um perito, a sua SC será a que corresponde à sua
área de conhecimento. Se um utilizador é um administrador de SC, a sua SC será
aquela que administra. Se um utilizador é um administrador do sistema então
está associado a uma SC global que virtualmente representa o acesso a todas as
SCs.
Entre a entidade SC e a entidade índice existe uma associação com atributos que
dá origem à entidade sc_index. Para uma SC podem ser calculados vários índices
e um índice pode estar associado a várias SCs. A entidade sc_index além dos
identificadores das entidades SC e índice vai possuir os atributos index_value
e index_date que representam o valor calculado para um dado índice de uma SC e
a data em que o índice foi calculado.
Entre as entidades índice e company_sc existe uma associação com atributos que
representa o valor do índice para uma dada empresa numa dada SC e que é
designada por index_company_sc. Um índice pode estar associado a várias
ocorrências de company_sc e uma ocorrência da entidade company_sc pode estar
associada a vários índices. Cada ocorrência da entidade index_company_sc
conterá, além dos identificadores das entidades índice e company_sc, os
atributos index_value e index_date que representam o valor calculado para um
dado índice de uma empresa quando associada a uma dada SC e a data em que foi
calculado.
Entre as entidades SC, índice e prática existe uma associação ternária com
atributos que dá origem à entidade sc_index_practice e que representa para uma
dada SC e um dado índice quais as práticas que são relevantes. Essa associação,
além de conter os identificadores das três entidades que interrelaciona, contém
também o atributo weight_practice que representa o valor do peso relativo de
cada prática para aquele índice, naquela SC.
Entre as entidades empresa e sc_index_practice vai existir uma associação com
atributos que dá origem à entidade company_sc_index_practice_impl e que
representa a implementação feita por uma empresa de uma dada prática para uma
dada SC e um dado índice. O atributo imp_level representa o valor da
implementação da prática.
6. A Aplicação BAC4SC
Nesta secção é apresentado o protótipo desenvolvido para estudo do
comportamento do modelo colaborativo. A aplicação é designada por (BAC4SC -
Behaviour Assessment on the Cloud for Supply Chain) e encontra-se publicada na
cloud em http://54.229.2.15/. No protótipo é possível selecionar as práticas
relevantes para um dado índice, atribuir o nível de implementação das práticas
numa dada empresa e calcular os índices das empresas e das SCs.
Em fase de implementação está a funcionalidade de identificação pelos peritos
das práticas relevantes para um dado comportamento, assim como a atribuição do
peso relativo de cada prática de uma forma colaborativa pelos representantes
das várias empresas de uma dada SC.
De seguida são descritas as tecnologias usadas, a arquitetura da aplicação e
apresentadas algumas das páginas web para ilustrar a interface construída. É
descrita a infraestrutura de cloud usada para publicar a aplicação e são
explicadas as opções de segurança implementadas.
6.1. Implementação do Protótipo
O protótipo consiste numa aplicação web em que a interface do lado do cliente
foi desenvolvida em XHTML 1.0 e CSS 2.1. A componente da lógica de acesso aos
dados do lado do servidor foi desenvolvida em PHP 5.4.7 usando a extensão PHP
Data Objects (PDO)1. A extensão PDO fornece uma camada de abstração standard
para interagir com qualquer sistema de base de dados. A base de dados foi
implementada em MySQL 5.5.27, o servidor web usado foi o Apache 2.4.3 e a
aplicação foi publicada na infraestrutura de cloud Amazon Elastic Compute Cloud
(EC2) podendo ser acedida por um qualquer Browser. A EC2 foi escolhida pelas
condições para desenvolvimento freeware que permite. Na cloud foi usada uma
instância do sistema operativo (SO) Ubuntu server 12.04.2.LTS de 64 bits e
criado um grupo de segurança que funcionando como uma firewall permite
controlar o tráfego de acesso à instância do SO. Em particular o grupo de
segurança criado permite o acesso aos portos 22 para SSH, 80 para HTTP e 443
para HTTPS. Os componentes da aplicação são esquematizados na Figura_2. As
páginas da aplicação foram desenhadas com o objetivo de cada tipo de utilizador
poder ter a sua interface personalizada. De forma dinâmica cada SC terá
componentes próprios quer em termos de imagem quer de conteúdo, assim como cada
empresa. Na Figura_3 apresenta-se a página principal da aplicação onde um
utilizador poderá fazer o seu registo e após validação pelo administrador do
sistema poderá fazer o login.
Na Figura_4 é mostrada uma das páginas da área de administração da SC automóvel
onde são selecionadas as práticas relevantes para o comportamento verde. Na
Figura_5 é apresentada a página que permite à empresa CompAutoX reportar os
seus níveis de implementação das práticas verdes.
6.2. A Infraestrutura de Cloud Amazon EC2
A Amazon EC2 fornece templates denominados Amazon Machine Images (AMIs) que
contêm configurações de software incluindo o sistema operativo e eventualmente
outras aplicações. É possível criar diferentes tipos de instâncias a partir de
uma AMI, variando o espaço de memória e a capacidade de processamento a que
queremos aceder. Quando é criada uma instância EC2, é fornecido um par de
chaves de encriptação PEM (Privacy Enhanced Mail) que tem de ser usado para
executar as ligações com essa instância. Para publicar a aplicação na cloud
usamos um sistema Windows acedendo por SSH através da ferramenta PuTTY. Foi por
isso necessário converter as chaves PEM para o formato PPK (PuTTY Private Key).
A aplicação foi testada usando uma micro instância de acesso gratuito, com 613
MB de memória e 2 ECUs. Uma ECU (EC2 Compute Unit) tem aproximadamente a
capacidade de processamento de um CPU a 1.0-1.2 GHz.
6.3. Segurança
A encriptação da password dos utilizadores de forma a proteger as credenciais
de acesso de ataques Brute Force e Rainbow Tables (Selvakumar & Ganadhas,
2009) e a proteção contra ataques de SQL Injection (Tajpour, A. &
Shooshtari, 2010) foram dois dos aspetos de segurança devidamente acautelados
neste protótipo. Na versão final da aplicação a segurança na comunicação entre
o cliente e o servidor irá ser garantida através da utilização do protocolo
HTTPS (Rescorla, 2000).
Na proteção das passwords, para cada utilizador que se regista é guardada uma
variável aleatória comumente designada por salt. A password após ser
concatenada com a variável salt é encriptada com uma função de hash2, sha256.
Após repetir o processo 216 vezes o valor resultante é guardado na base de
dados. Quando é feito um login, o valor do salt é lido da base de dados e com a
password que o utilizador introduz é repetido o processo de encriptação. O
valor gerado é comparado com o que foi guardado no processo de registo.
A proteção contra ataques de SQL injection, isto é, da possibilidade de,
através da manipulação do input dos comandos enviados para a aplicação, serem
enviados à base de dados queries diferentes dos previstos, foi feita através
das prepared statements3 do PHP PDO [23]. Aqui as instruções SQL são
construídas a partir de templates pré-definidos e em vez de se colocarem
diretamente os nomes das variáveis dentro da string do query, estas são
passadas como parâmetros, definidos através de placeholders, que serão
substituídos quando o query for pré-processado. Assim não há variáveis passadas
como strings que possam ser substituídas por queries maliciosos.
7. Conclusão
Tendo em conta os novos paradigmas de gestão da SC e a atual dinâmica
empresarial, é importante que os decisores das cadeias de abastecimento estejam
cientes (em tempo útil) do nível de implementação das principais práticas
associadas a cada paradigma. Neste trabalho é proposta uma metodologia que
permite a avaliação do desempenho de uma cadeia de abastecimento, e dos seus
elos constituintes, num contexto global. Os índices propostos são genéricos e a
sua adaptação a diferentes cadeias de abastecimento é imediata. A cloud surge
aqui como suporte facilitador para o modelo colaborativo de avaliação proposto.
A computação em cloud introduz um novo modelo de negócio, onde os consumidores
podem ter acesso a hardware e software através da Internet, pagando de acordo
com os recursos usados, como fazemos com os serviços públicos. Da perspetiva da
SC a computação em cloud transformou o modo como as redes empresariais globais
interagem, proporcionando um modelo flexível e colaborativo. O estabelecimento
de um ambiente dedicado de negócios virtual em uma infraestrutura comum oferece
uma interface controlada - simplificando não só a distribuição para toda a SC
do modelo de avaliação proposto, mas também a sua validação e posterior análise
de dados históricos.
Neste sentido o protótipo de aplicação desenvolvido demonstra a utilidade do
conceito e prepara o caminho para colocar em produção o sistema de avaliação. O
modelo de dados foi desenhado com o intuito de acomodar não apenas as operações
de aferição das práticas e cálculo dos índices associados às empresas e à SC
como um todo, mas também um conjunto de funcionalidades complementares que
serão desenvolvidas para o sistema em produção. Dentre estas, realçamos as
seguintes tarefas: (i) identificação de práticas e respetivos pesos através de
um sistema de votação disponível para os peritos; (ii) ajuste cooperativo da
política de avaliação da SC por parte dos diversos atores, permitindo a
inclusão rápida e flexível de novos conhecimentos e competências; (iii) análise
do histórico das avaliações permitindo o conhecimento em tempo real da evolução
do comportamento da cadeia e também suportar o processo de tomada de decisão no
que concerne à escolha dos próprios elementos da SC. O sistema de produção,
assim melhorado, fará uso de tecnologias mais recentes que as empregues no
protótipo, e.g. HTML5 e CSS3, permitindo o acesso à plataforma a partir de
dispositivos móveis.