Caracterização e eficiência técnica de explorações vitícolas da região alentejo
SUMMARY
This study aims to characterize and to analyse the evolution of wine
production, to measure the levels of technical efficiency, and to relate these
with farmers and farms attributes. The attributes considered were the physical
and economic size, the producer age, the farmer legal status, type of land
ownership, land irrigation, type of commercialization and productive
specialization. The sample used is composed of a panel of wine farms, producers
of grapes for wine, for the period 2000-2005, enrolled in the European Farm
Accounting System, belonging to the Alentejo region of Portugal. The
characterization and the evolution analysis of the wine farms were done based
on a set of technical and economic indicators. In order to measure the
efficiency, the methodology utilized was the parametric one, making use of a
stochastic production frontier. The characteristics of the utilized
distribution to compute the efficiency were tested, as well as the efficiency
variability with time. The relationship between the efficiency and the farms
and farmers attributes was tested making use of analyses of variance and
Kruskall-Wallis tests. The results showed that there are room to improve the
levels of technical efficiency in input use and that efficiency is variant with
time. The increase on technical efficiency with economic size and with farm net
income was observed, as well as with farm entrepreneurship.
Keywords: technical efficiency, parametric methods, vineyards.
INTRODUÇÃO
A cultura da vinha desempenha desde há muito um papel importante na agricultura
portuguesa, assumindo de Norte a Sul do país relevância económica, social e
cultural. A obtenção do produto final vinho é maioritariamente feita por
unidades de natureza familiar, adegas cooperativas e empresas comerciais. Quer
a estrutura e contexto da produção de uvas quer a do vinho tem vindo a sofrer
alterações resultantes dos estímulos disponíveis e da rendibilidade da
actividade.
Na última década, com a entrada de novos produtores,a estrutura de produção e
comercialização alterouse, tendo aumentado o número de produtores de vinho.
Alguns dos produtores instalados e muitos dos novos produtores autonomizaram a
sua produção com a criação de adegas e de marcas próprias. A importância da
cultura da vinha e da produção de vinho tem vindo a aumentar. Este facto é, por
si só, suficiente para que se olhe com atenção para os diferentes aspectos
desta actividade, com destaque para a eficiência das explorações agrícolas
produtoras de uvas para vinificação.
O sector vitivinícola desempenha um papel essencial na estrutura da agricultura
portuguesa e em particular da região Alentejo. A competitividade nacional e
internacional das empresas deste sector depende, entre outros factores, da sua
eficiência do ponto de vista da produção. Neste sentido, o objectivo central
deste trabalho é caracterizar a estrutura produtiva das explorações vitícolas
da região Alentejo, avaliar a sua eficiência técnica e identificar alguns dos
factores explicativos da ineficiência.
UMA CARACTERIZAÇÃO DO SECTOR VITIVINÍCOLA NACIONAL E NO ALENTEJO
A cultura da vinha e a produção de vinho desempenham um papel importante na
estrutura produtiva da agricultura da União Europeia e de Portugal. Os maiores
produtores de vinho da UE são os países mediterrânicos que perfazem, no seu
conjunto, cerca de 90% da produção comunitária, 96% da área e cerca de 88% do
valor da produção. Destes montantes, Portugal produz 4%, ocupa 7% da área e
contribui com 3,2% para o valor da produção
1
.
De entre os quinze principais produtores mundiais de vinho, Portugal ocupa o
décimo lugar do ranking. No triénio 2001/03, Portugal encontrava-se na sétima
posição do ranking dos principais exportadores de vinho, tendo o valor global
de produto transaccionado a nível mundial ascendido a 543 milhões de €. Apesar
de ser um país com tradição e relevância na exportação de vinhos para todo o
mundo, o contexto internacional alterou-se profundamente nos últimos anos, com
o aumento da concorrência, em particular com a entrada de novos países
produtores e padrões de consumo, levando a uma estagnação do valor gerado pela
exportação de vinho português.
Assim, a vitivinicultura está historicamente ligada a Portugal como actividade
agrícola de relevante importância económica e social. A vinha é uma actividade
com raízes temporais profundas e, ao mesmo tempo, com um elevado grau de
envelhecimento, já que 68% das explorações têm plantações com mais de 30 anos e
44% com mais de 70 anos, expressando a consequente necessidade de
rejuvenescimento. As regiões do Alentejo e do Algarve são as que apresentam as
vinhas mais jovens.
A cultura da vinha e a produção de vinho representaram cerca de 10% do produto
total agrícola em 2000 e 13,9% em 2004. Para o período 2001 a 2003, o grau de
auto-aprovisionamento foi de 118%, as exportações foram iguais a 1,76 vezes as
importações e o consumo per capita situou-se em 49,3 litros.
No que respeita à estrutura fundiária, a pequena dimensão acompanhada do
elevado número de parcelas por exploração é a regra e um factor limitante à
rentabilização das explorações vitícolas. Quanto à repartição da área total da
vinha pelos estratos de dimensão económica (muito pequenas, pequenas, médias e
grandes2), constata-se a dominância, em quase todo o território, das muito
pequenas e pequenas explorações. Em termos absolutos, as grandes explorações
representam quase um quarto da área total (cerca de 42 000 ha).
O tecido produtivo do sector está envelhecido, predominando os produtores
individuais com mais de 50 anos, sendo apenas 4% da área explorada por
agricultores com menos de 35 anos. Cerca de um quarto dos agricultores não tem
qualquer tipo de instrução, e mais de metade não vai além do ensino básico. O
peso daqueles que têm o ensino superior é o dobro dos que têm o ensino médio. O
Alentejo é a região onde os produtores apresentam níveis mais elevados de
instrução.
Na estrutura de custos, os encargos com a mão-deobra são semelhantes aos
encargos com o conjunto dos consumos intermédios para as explorações
especializadas, enquanto nas não especializadas o peso da mão-de-obra é menor.
Na vertente das receitas, as explorações especializadas em vinho de qualidade
realizam praticamente o dobro do rendimento obtido pelas não especializadas,
principalmente onde a produção de qualidade é dominante, como no Alentejo.
A produção de vinho com qualidade reconhecida, VQPRD, DOC e vinho regional, tem
vindo a ganhar terreno ao longo dos anos, como resultado da melhoria nas
condições de produção, resposta a maiores exigências de qualidade dos
consumidores e competitividade intersectorial. A produtividade da vinha é de
cerca de 28 hl/ha, e 45% da área total destina-se à produção de vinhos de
qualidade. Se juntarmos a estes os vinhos regionais então esta percentagem sobe
para 65%.
No sector vinícola a estrutura empresarial é diversificada, com empresas do
tipo familiar, alguns grupos económicos de dimensão internacional e adegas
cooperativas. O sector cooperativo contribui para cerca de metade da produção
nacional, e desempenha uma importante actividade de concentração e de
comercialização pelo número de produtores abrangidos.
No que diz respeito à região Alentejo, esta contribui com cerca de 15,7% para a
produção total agrícola. Em 1999, a cultura da vinha representava,
aproximadamente, 14,7% do número de explorações com culturas permanentes e
10,3% da área de culturas permanentes. Entre 1989 e 1999, a área da vinha
aumentou cerca de 30% e, em 2000, a produção de vinho representava 5% do
produto da região. Nesse ano, a região Alentejo contribuía com 7% para o volume
de produção e com cerca de 8% para o valor da produção nacional de vinho.
Ao contrário do que se constata na média nacional, em que a produção de vinho
de mesa, o que tem menor valor acrescentado, representa 33,2% do total da
produção, no Alentejo a importância de tal produção é residual, 2,2%. Os vinhos
produzidos na região apresentam uma qualidade superior e são maioritariamente
do tipo VPQRD e vinho regional, com um peso de 44,9 % e 52,7% no total,
respectivamente. A proporção entre a produção de vinho tinto e vinho branco era
de 60% em 2000, ligeiramente inferior à média nacional (67%).
METODOLOGIA
A literatura sobre eficiência baseia-se no trabalho pioneiro de Farrell (1957).
A eficiência é medida como o desvio em relação à melhor prática produtiva de um
conjunto representativo de produtores. A melhor prática produtiva corresponde
ao que designamos por fronteira de produção (FP). O mesmo autor também
introduziu a distinção entre eficiência técnica (ET) e eficiência preço ou de
afectação (EP). A eficiência técnica de uma exploração é o desvio dessa
exploração em relação à fronteira de produção e a eficiência preço é a
distância em relação às condições de maximização do lucro ou de minimização do
custo. A eficiência económica é atingida quando ambas as eficiências, preço e
técnica, são satisfeitas.
Uma forma de visualizar a eficiência é usar uma isoquanta de eficiência
unitária (IEU), Figura 1, para um grupo de produtores (A, B, C, D) que utilizam
os factores X1 e X2 e produzem Y. Se a tecnologia de produção apresentar
retornos constantes à escala e for homogénea, uma isoquanta unitária será
definida para a função de produção Y=F[X1,X2 ]como . Esta isoquanta unitária
define a fronteira de produção da actividade Y, baseada nas tecnologias
utilizadas pelas empresas A, B e C.
Fig. 1 - Eficiência Técnica e Eficiência Preço
Technical and Price Efficiencies
Suponhamos que a empresa D utiliza (X1*, X*2) para produzir Y* e que as suas
coordenadas são representadas por . A sua eficiência técnica édada por OC/OD,
ou seja, a proporção de (X1*,X2*) que é necessária para produzir Y de forma
eficiente. A ineficiência técnica da empresa D, dada por 1-OC/ OD=CD/OD, mede a
proporção pela qual (X1*,X2*) poderia ser reduzida sem diminuir a quantidade de
produto.
Se PP' for a linha de isocusto, o ponto de custo mínimo será B. Uma vez que o
custo em E é o mesmo que em B, a eficiência preço da empresa D é definida como
o rácio OE/OC e a ineficiência preço será dada por 1-OE/OC=EC/OC. Esta
ineficiência mede a possível redução nos custos de utilizar a correcta
proporção de factores de produção. A eficiência económica, EE=OE/OD, é o
produto da eficiência técnica (ET) pela eficiência preço (EP), EE=ETxEP.
A eficiência técnica - o produto máximo obtido a partir de quantidades dadas de
factores - diz respeito somente às características físicas do processo
produtivo, podendo ser considerada uma meta universal uma vez que é aplicada em
qualquer sistema económico. Em oposição, a eficiência preço depende dos preços
relativos e do objectivo dos empresários, o qual é, normalmente, a maximização
do lucro (Henriques, 1995).
Um dos métodos utilizados no cálculo da eficiência técnica é o método
paramétrico baseado na estimação de uma fronteira de produção estocástica,
embora também sejam muito utilizados os métodos não paramétricos (Charnes et
al., 1978 e Fåre et al.,1994). A fronteira de produção estocástica foi primeiro
definida por Aigner et al.(1977) e Meeusen e Van Den Brock (1977), que
propuseram de modo independente e em simultâneo, a seguinte fronteira de
produção estocástica: ln yii ii, para i=1,2,...,N, (1) em que yi é o nível de
produção da i-ésima exploração, xi é o input produtivo da i-ésima exploração e
βé um vector (k×1) de parâmetros a estimar e que caracterizam a tecnologia em
causa. Os erros aleatórios vi representam a componente associada à produção
estocástica (choques aleatórios que perturbam a actividade agrícola,
nomeadamente precipitação, temperatura e todo o tipo de fenómenos naturais que
afectam a produção). A componente ui do termo erro representa a eficiência
técnica da produção da i-ésima exploração.
Aigner et al. (1977) assumiram que os vi's eram variáveis com distribuição
normal, independentes e identicamente distribuídas (i.i.d), com média zero e
variância constante, σv2independentes dos ui's. Para estes foi assumido serem
i.i.d e poderem ter distribuição exponencial ou semi-normal.
No modelo acima definido, os parâmetros a estimar são β, σv2,σu2, ou seja,
respectivamente os parâmetros da tecnologia da função de produção, e as
variâncias da distribuição do erro estocástico (v) e de eficiência (u).
Portanto, o modelo a estimar aplica-se a dados seccionais, é uma fronteira
comum às explorações para cada momento do tempo.
No caso de estarmos na presença de dados de painel, existem diferentes tipos de
modelo, segundo a distribuição do termo erro que estima a ineficiência das
explorações. Pitt e Lee (1981) pegando na especificação original de Aigner et
al. (1977) generalizaram-na a dados de painel, para uma distribuição semi-
normal da componente que mede a eficiência: lnyit it itcom i=1,2,…,N
explorações,e t=1,2,…,T momentos do tempo (2).
Battese e Coelli (1988 e 1992) propuseram ummodelo semelhante, mas tendo os uma
distribuiçãoaleatória normal truncada, podendo variar com otempo de forma
exponencial e envolvendo apenas umparâmetro a estimar. A equação anterior é
estimada, tendo em atenção a seguinte restrição para os termosde ineficiência
técnica:u={exp[−η(t−T)]}u, com i=1,2,…N explorações;it ite t=1,2,3,…T períodos
de tempo (3).
Os ui's são variáveis aleatórias não negativas que contribuem para a
ineficiência técnica da produção, são i.i.d e têm distribuição normal com média
μ e variância σv2, enquanto η é um parâmetro a estimar.
Na estimação, os autores utilizam a parametrização de Battese e Corra (1977) em
que σ2= σV2+σu2e γ= σu2/(σV2+σu2), ou seja, 0<= γ<=1. Podemos testar se não há
ineficiência através do parâmetro γ (H0: γ= 0) versus a alternativa de (H1: γ>
0).
A este modelo podemos impor as seguintes restrições: 1) se ηfor igual a zero, a
eficiência é invariante com o tempo, se ηdiferente de zero a eficiência varia
com o tempo; e 2) se μ for zero, os ui's têm uma distribuição semi-normal e se
for diferente de zero, os ui's têm uma distribuição normal truncada (Battese e
Coelli, 1992).
Para testar as hipóteses acima enunciadas, recorre-se ao teste generalizado de
verosimilhança (LR). Este teste, em geral, costuma ter uma distribuição
χ2simples, mas como a distribuição dos erros está truncada para valores
positivos ou nulos, então a distribuição em causa é uma χ2 mista, tendo os
valores críticos sido definidos por Kodde e Palm (1986).
Segundo Coelli et al. (2005), a estatística do teste LR é calculada através da
seguinte expressão: −2 ln[( )/ L(H)]}=−{L(H)][ ()],LR={LH2 ln[−ln LH} 01 01
onde L(H0) e L(H1) são os valores da função verosimilhança, respectivamente,
sob a hipótese nula e hipótese alternativa.
Para estimar a fronteira de produção estocástica e os níveis de eficiência de
cada exploração foi utilizado o software FRONTIER 4.1 (Coelli, 1996).
CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS VITÍCOLAS
A amostra deste estudo é composta por empresas que pertencem à Região Alentejo
e que são aderentes à RICA. As explorações seleccionadas ou pertenciam à
orientação técnico-económica (OTE) viticultura ou tinham uma percentagem do
produto da vinha no produto total superior a 40%. A amostra é constituída por
22 explorações que foram analisadas no período de 2000-2005. Todas as
explorações produzem uva para vinho, sendo a totalidade da uva vendida a adegas
cooperativas da região.
A maioria dos empresários, 82%, tem um nível de instrução inferior à
escolaridade obrigatória, enquanto somente 9% tem instrução superior ao 12º
ano. Cerca de 55% dos produtores têm idade inferior a 50 anos, enquanto 31,8%
têm idade superior a 60 anos.
As explorações por conta própria representam 54,5% da amostra, 9,1% são
exploradas por arrendamento e 36,4% apresentam outras formas de exploração. A
área das explorações varia de um mínimo de 7,1 a um máximo de 171,9 ha, sendo a
área média de 61,9 ha. Desta área, 53,2% é por conta própria, 11,7% é irrigada
e 26,4% é ocupada com a cultura da vinha. Cerca de 54,5% do número de
explorações apresentam superfície irrigada, variando esta entre 75,1% a 2,2% da
área total.
Em média, as explorações utilizam 2,3 UHT, dos quais 1,0 é de origem familiar e
1,3 UHT são assalariadas. No entanto, cerca de 60% do número de explorações
utilizam mais de 80% de mão-de-obra não assalariada.
Na estrutura de custos, o peso dos consumos intermédios (49,8%) é bastante
semelhante ao peso dos restantes encargos da exploração e fundiários (50,2%).
Dos consumos intermédios, 33,9% são devidos a máquinas e equipamentos, 39,6%
são gastos com as actividades vegetais, 3,8% com as actividades animais e
22,75% são englobados na categoria outros encargos. As componentes mais
importantes da categoria outros encargos de exploração e fundiários, são os
encargos com as amortizações (67,4%) e com a mão-de-obra (19,0%).
Cerca de 68% das explorações recorre a empréstimos para financiar a sua
actividade produtiva. A maioria dos empréstimos é de curto prazo, havendo
unicamente 14% das empresas que recorreram ao crédito de longo prazo para
financiarem os seus investimentos. Durante o período em análise somente duas
empresas não realizaram investimentos. O investimento médio por exploração,
para o período, foi de cerca de 90.000 €. Das explorações que realizaram
investimentos, apenas 40% das empresas receberam subsídios. A estrutura do
investimento é dominada pelas máquinas e equipamentos, cerca de 67%, logo
seguida pelas plantações com 28%.
Como seria de esperar, a composição do produto é dominada pelas receitas
devidas à produção vegetal (77,3%), a produção animal é residual (2,1%) e o
restante deve-se ao produto diverso. Neste, os subsídios correntes representam
cerca de 75,5%, ou, quando expressos em termos do produto total, representam
15,2% da receita total das explorações vitícolas. Na produção vegetal, a
percentagem do produto proveniente da cultura da vinha é predominante
contribuindo com 78,2%.
A rendibilidade expressa em termos do valor acrescentado bruto das explorações
permite-nos dizer que, em média, as explorações produzem 1.308 € por hectare de
SAU e cerca de 20.436 € por UTA.
RESULTADOS
Como referido anteriormente, os dados que serviram para estimar a fronteira de
produção estocástica são compostos por um painel de 22 explorações para o
período compreendido entre 2000 e 2005. A fronteira de produção estimada é a
expressa pelas equações 2 e 3.
A variável dependente utilizada foi a PRO, que representa o produto bruto
agrícola das explorações, incluindo os subsídios. As variáveis regressoras
utilizadas foram as seguintes: 1) a superfície agrícola útil (SAU) que
corresponde ao somatório da SAU de conta própria, de arrendamento e de outras
formas; 2) as unidades de trabalho anual (UTA), que são medidas dividindo o
tempo efectivo de trabalho anual pelo tempo de trabalho anual padrão (2400
horas); 3) os custos com máquinas e equipamentos (CME) que incluem o aluguer
das máquinas, a conservação e reparação de equipamento, os carburantes e
lubrificantes utilizados e ainda as amortizações do equipamento; 4) e os
encargos específicos das culturas (EEC) que abrangem as despesas relacionadas
directamente com a actividade vegetal, constituídas por sementes e plantas;
fertilizantes e correctivos; fitofármacos; outros encargos específicos das
culturas e amortizações com culturas permanentes. Assim, o modelo proposto é
dado por ln(PROit) = β0 + β1ln(SAUit) + β2ln(UTAit) + β3ln(CMEit) + β4ln(EECit)
+ Vit - Uit, com i=1,2,…,22 explorações, e t=1,2,…,6 momentos do tempo.
Como referido na secção 2, a partir do modelo geral podemos testar várias
restrições, as quais permitem definir 5 modelos. A escolha do modelo que melhor
se ajusta aos dados é feita utilizando o teste LR. A hipótese alternativa (H1)
corresponde ao modelo menos restritivo, μ≠0 e η≠0. A primeira hipótese nula
(H0) a ser testada é se existe um termo explicativo da eficiência, γ = 0 versus
γ≠ 0. No caso de esta ser rejeitada, testam-se as diferentes opções para μ e η,
como apresentado no Quadro_I.
O valor do teste LR para cada uma das H0consideradas é apresentado no Quadro I.
Concluímos que a primeira hipótese (μ=0, η =0 e γ =0), assim como as outras
três são rejeitadas, pelo que o modelo que corresponde à hipótese alternativa
(μ≠0 e η≠0) não pode ser rejeitado. Isto significa que o termo da eficiência
tem uma distribuição normal truncada e que a eficiência varia com o tempo.
No Quadro II apresentam-se as estimativas de máxima verosimilhança (MV) das
variáveis incluídas no modelo seleccionado, assim como dos parâmetros.
Verifica-se que todas as variáveis e parâmetros são significativos, para um
nível de confiança de 95%. O parâmetro é negativo, indicando que a eficiência
técnica diminui ao longo do tempo. A soma dos coeficientes é igual a 0,95,
podendo revelar que estamos na presença de retornos decrescentes à escala.
A Figura 2 ilustra, para cada empresa, a eficiência técnica estimada para cada
um dos anos considerados, enquanto o Quadro_III mostra a eficiência técnica
média por ano. Como revelado pelo parâmetro η, 0,22, a eficiência técnica
apresenta uma tendência decrescente, apresentando um valor médio de 79,3% em
2000 e de 52,0% em 2005. Este facto poderá ser o resultado de um aumento de
factores de produção, como a reconversão de plantações antigas, cujo retorno
neste tipo de cultura, tal como na maioria das culturas permanentes, só será
obtido mais tarde quer pelo aumento na produção quer, sobretudo, pelo aumento
da qualidade da uva produzida.
Fig. 2 - Eficiência por empresa, para os anos 2000 a 2005
Efficiency by farm, 2000 to 2005
Com base na eficiência média de cada exploração, foi testada a relação entre a
eficiência e os atributos classe de idade, nível de instrução, classe de SAU,
percentagem de SAU arrendada na SAU total, percentagem de UTA não assalariada
na UTA total, percentagem da área de vinha na SAU, existência de apoio de
medidas agro-ambientais de protecção ou produção integrada, percentagem do
produto da viticultura no produto total, percentagem de subsídios no produto
total, classe de dimensão económica (DE), natureza jurídica do produtor, forma
de exploração, valor acrescentado bruto (VAB); rendimento líquido da exploração
(RLE); investimento às culturas permanentes e existência de superfície
irrigada. Para cada um destes atributos construíram-se classes ou grupos (C1,
C2, C3). Para relacionar os níveis de eficiência com os atributos foram
utilizados os testes de análise de variância, que compara a variação dentro de
cada grupo e entre os grupos, e o teste de Kruskall-Wallis, que realiza a
análise de variância baseada na ordenação dos níveis de eficiência.
QUADRO_I
Testes para Selecção do Modelo da Fronteira de Produção
Tests for Production Frontier Model Selection
QUADRO II
Parâmetros do Modelo Seleccionado (η≠0 e μ≠0)
Parameters of the Selected Model (η≠0 eμ≠0)
QUADRO_III
Eficiência Técnica Média por Ano
Average Technical Efficiency per Year
Analisando o Quadro IV, verifica-se que as variáveis dimensão económica,
natureza jurídica e rendimento líquido da exploração, as médias, para as
classes consideradas, são estatisticamente significativas. Assim, quanto maior
a dimensão económica e o rendimento líquido da exploração, maior é a eficiência
das explorações. As explorações em que o produtor é autónomo são mais
eficientes do que aquelas em que o produtor é empresário.
Apesar de não apresentar diferenças estatisticamente significativas em termos
de médias, verifica-se que as explorações tendem a ser mais eficientes quando:
o produtor tem menos de 50 ou mais de 60 anos e um nível de instrução superior
ao 9º ano; têm uma maior SAU e uma maior percentagem de vinha na SAU; têm uma
maior percentagem de produto vitícola ou maior VAB; e as que beneficiam de
medidas de produção ou protecção integrada.
CONCLUSÕES
A cultura da vinha apresenta uma importância estratégica para a agricultura
portuguesa e para a região Alentejo, pelo seu papel na criação de riqueza, quer
em termos do valor da produção quer de exportação. A estrutura fundiária é
atomizada, as vinhas encontram-se envelhecidas, e os produtores são idosos e
com deficiente escolaridade.
O objectivo deste estudo foi caracterizar a estrutura produtiva, estimar os
níveis de eficiência técnica de uma amostra de explorações vitícolas da região
Alentejo pertencentes à RICA e explicar as principais causas da sua
ineficiência.
As explorações estudadas exibem uma área média de 62 ha, dos quais 26,4% são
ocupados pela cultura empresas no futuro. Este estudo suporta que uma das da
vinha. Os produtores apresentam baixos níveis de escolaridade e mais de metade
tem uma idade inferior a 50 anos. A maioria da mão-de-obra utilizada é de
origem familiar. A proporção entre os custos fixos e variáveis é semelhante,
sendo que nos primeiros pesam mais os encargos com as culturas e nos segundos
dominam as amortizações. Quase todas as empresas realizaram investimentos,
sendo estes dominados pela moto-mecanização, logo seguido pelas culturas
permanentes. O produto gerado é dominado maioritariamente pela componente
vegetal na qual sobressai a receita proveniente da venda das uvas. Sendo a
produção de uvas vendida na totalidade a adegas cooperativas, o sucesso destes
produtores está intimamente ligado à competitividade das adegas cooperativas a
que estão geograficamente ligados, em termos de transformação e comercialização
do vinho.
QUADRO IV
Relação entre eficiência técnica e atributos
Technical Efficiency and Attributes
Os resultados obtidos, utilizando uma fronteira de produção estocástica,
mostraram que a eficiência técnica varia com o tempo, que existe espaço para
melhorar a eficiência técnica das explorações vitícolas e que esta aumenta com
a dimensão e rentabilidade das explorações assim como para as situações em que
o produtor vitícola é autónomo.
Podemos concluir que, para as explorações vitícolas estudadas, uma melhoria na
sua eficiência produtiva, quer em termos da utilização dos factores de
produção, quer em termos da formação dos produtores ou do rejuvenescimento das
vinhas, será um elemento fundamental para o sucesso destas formas de melhorar a
eficiência e a rendibilidade é a opção por um aumento na dimensão das empresas
vitícolas.