O Eucaliptal em Portugal: Impactes Ambientais e Investigação Científica
António Monteiro Alves, João Santos Pereira & João M. Neves Silva
(editores), 2007
O Eucaliptal em Portugal. Impactes Ambientais e Investigação Científica
ISAPress, 398 págs., ISBN 978-972-8669--25-6. Preço: 20
O livro "O Eucaliptal em Portugal. Impactes Ambientais e Investigação
Científica", retomando um trabalho coordenado pelos Professores António
Monteiro Alves e João Santos Pereira em 1990 (Impactes ambientais e socio-
económicos do eucaliptal em Portugal) apresenta-nos, em 12 capítulos, temas
tratados por vários especialistas, que nos permitem ficar a par da evolução
mais recente da investigação relativa a esta espécie ainda tão controversa. De
cada capítulo consta ainda uma síntese e referências bibliográficas.
O texto acompanha o percurso do eucalipto, desde a sua origem, na Tasmânia e
Sudeste da Austrália, até ser introduzido em Portugal em meados do século XIX,
sendo que a sua expressão em grandes plantações só se verifica a partir dos
anos 70-80 do século XX. Explica as características fisiológicas que justificam
a sua elevada produtividade, em comparação com as outras espécies de árvores,
tornando-o tão atractivo para os produtores florestais, sobretudo ao permitir
ciclos de exploração de cerca de 12 anos. Aborda os programas de melhoramento
de que tem beneficiado, que se iniciaram em Portugal na década de 60, referindo
que os ganhos de produtividade e qualidade podem variar entre 25-50%,
utilizando o material melhorado resultante desses projectos. Em relação aos
factores que mais negativamente têm caracterizado as plantações desta espécie,
como sejam os efeitos sobre os recursos naturais (água e solo), vegetação
espontânea e fauna, efectua-se a sua análise e apresenta-se o estado actual do
conhecimento. Assim, em relação aos recursos hídricos, são considerados
diversos aspectos das relações floresta/água, nomeadamente a influência das
florestas na evapotranspiração e no escoamento, particularizando-se em relação
ao eucalipto. Os autores referem que, embora ainda não se possa prever com
exactidão os impactes hidrológicos de um eucaliptal, pode pelo menos
considerar-se que estes são normais, tendo em conta que se trata de povoamentos
com alta densidade, de folha persistente e explorados intensivamente. São
também analisados os efeitos negativos sobre o solo, fazendo notar que estes se
devem sobretudo às práticas seguidas na instalação e exploração do eucaliptal,
e são sugeridas alterações a essas técnicas, dada a necessidade de conservação
do solo. Quanto ao decréscimo da vegetação espontânea sob coberto de
eucaliptal, os estudos efectuados demonstraram não haver diminuição do número
de espécies nem de diversidade, embora a densidade da vegetação tenda a
diminuir com o fechamento das copas do povoamento. Como resultado de vários
estudos, também se reconhece que povoamentos monoespecíficos e equiénios são
pouco propícios ao desenvolvimento de uma fauna rica e diversificada, e os
autores apresentam várias medidas de mitigação possíveis.
São ainda abordados aspectos relativos às pragas e doenças que põem em risco o
eucaliptal, e em relação ao fogo são também analisadas técnicas de exploração e
silvicultura pós-fogo. São igualmente apresentados dados, nomeadamente da
Direcção Geral das Florestas (2001), segundo os quais o eucaliptal ocupa uma
área de mais de 740 mil hectares, correspondente a aproximadamente 23% da área
florestada. É referido que cerca de 95% desta área corresponde a povoamentos de
Eucalyptus globulus. Pelos registos da CELPA (2004) a produção anual dos
povoamentos de eucalipto traduz-se em 2 milhões de toneladas de pasta para
papel branqueada, que representa 40% do valor da exploração florestal
portuguesa na balança comercial externa europeia, ou seja, 6% do valor total da
exportação nacional. A terminar, analisam-se efeitos possíveis das alterações
climáticas nos povoamentos de eucalipto.
Ana Ferreira de Almeida
Investigadora Auxiliar
INIA/INRB, IP
Av. da República, Quinta do Marquês,
2780-159 Oeiras - Portugal
silva.lusitana@inrb.pt