Cyperus distachyos All. (Cyperaceae) observado em novas localidades portuguesas
setenta anos após a última colheita
ALGARVE: Aljezur. Bordeira. Perto de Monte Novo. UTM 29S NB1020. 7º13'50''N,
8º52'49'' W, ca. 1 km a norte do marco geodésico Mosquito. No leito de uma
ribeira permanente sobre a arriba costeira, próximo do limite da mesma.
Dominante numa comunidade pauciespecífica com Carex extensa. Ca. 25 m.s.m. 17-
Ago-2008. Det. M. Porto. Leg.: A.J. Pereira, J.L. Vitorino, M. Porto (Sociedade
Portuguesa de Botânica) Nº. SPB1. Rev.! C. Tauleigne Gomes. LISU 235928.
Cyperus distachyos All. (C. laevigatus subsp. distachyos (All.) Maire &
Weiler) é uma pequena ciperácea que se distribui naturalmente pelas zonas
costeiras sobretudo do Sul e Este da Península Ibérica, Região Mediterrânica em
geral, chegando até ao Este de África (MUASYA et al., 2004; ONKWARE, 2001;
nota: estas citações provavelmente referem-se a C. laevigatussubsp.
laevigatus). Habita em zonas húmidas, arenosas ou argilosas, tolerando grandes
concentrações de sais (MUASYA et al., 2004). É também referido para ambientes
de águas salobras do litoral (RIVAS-GODAY, 1956) e comunidades de Litorellion
(CASTROVIEJO et al., 1980). MOLINA (1994) menciona a sua presença em prados
densos onde dominam Paspalum vaginatum Sw.e P. paspalodes (Michx.) Scribn.
A informação sobre C. distachyos em Portugal foi sempre restrita. No que
respeita à sua corologia DAVEAU (1891) menciona a sua presença no Algarve,
entre Olhão, Fuzeta e Tavira, com base nas colheitas de Welwitsch e em Faro,
ribeiro do Laranjal, referindo-se a material confirmado de A. Guimarães.
MENDONÇA & SOUSA (1933) mencionam igualmente material confirmado para Faro.
A última colheita em território nacional data de 1939 nas proximidades de Faro,
pelo que está considerado como extinto em Portugal na bibliografia (FRANCO
& ROCHA AFONSO, 2003; CASTROVIEJO, 2008).
Uma nova população de C. distachyos foi recentemente observada próximo de
Bordeira sendo este o primeiro registo de uma população na costa Oeste da
Península Ibérica. Esta população é constituída por diferentes colónias,
localizadas no leito de seis pequenas ribeiras sobre a falésia (29S NB1020 e
29S NB1019). Nestes locais a espécie ocorre como dominante numa comunidade
pauciespecífica onde se encontra também Carex extensa Gooden. C. distachyos
ocupa a área do leito das ribeiras mais próximo do limite da arriba, onde a
influência salina já se faz sentir. A tolerância ao sal já foi confirmada por
ONKWARE (2001), que classifica esta espécie como um verdadeiro halófito. Esta
espécie foi também referida por MUASYA et al. (2004) como estando associada a
águas muito alcalinas, o que é corroborado pela observação de elevada
precipitação de carbonatos nas colónias aqui registadas.
As exsiccatae examinadas procedem de colheitas realizadas nos meses de Abril e
Maio e apresentam espiguetas formadas, estando os aquénios em diferentes
estados de maturidade. A colheita actual atingiu o estado de maturidade entre
Agosto e Setembro; em Abril de 2010 observou-se que o material se encontrava no
estado vegetativo. O desfasamento observado no desenvolvimento fenológico
poderá ser resultado da diferente exposição das populações actuais na costa
Oeste portuguesa.
Cyperus distachyos All., exsiccataeexaminadas:
ALGARVE: Fuzeta. In stagnis subsalsis non procul ab oppidulo: Fuzeta. Maio
1847. F. Welwitsch. Cyperus junciformis All. Rev. J. Daveau Cyperus distachyos
All. LISU6787! Entre Fuzeta e Tavira. In humidis Algarb. inter Fuzeta et
Tavira. Maio 1847. F. Welwitsch 904. Cyperus junciformis All. Rev. J. Daveau
Cyperus distachyos All. LISU6788! Entre Olhão e Tavira. In Algarb. Udis inter
Olhão et Tavira raium. Maio 1847. F. Welwitsch. Cyperus junciformis All. Rev.
J. Daveau Cyperus distachyos All. LISU6789! Arredores de Faro; Machil Abril
1912. Det. A. Perreira Coutinho. Leg. R. Palhinha, A. Ricardo Jorge, F. Mendes.
LISU6786! Num paúl do "Pinhal do Ludo", para o lado do mar. Maio
1939. G. Sobrinho. LISU6785!
Figura 1 - Aspecto geral da população de Cyperus distachyos
Figura 2 - Pormenor da inflorescência de Cyperus distachyos
Figura 3 - Quadrículas 1x1 km onde a espécie está presente