Extracto da intervenção da Directora do ICAM na sessão de abertura das Jornadas
NOTA INTRODUTÓRIA
Extracto da intervenção da Directora do ICAM na sessão de abertura das Jornadas
A iniciativa do Conselho Directivo do ICAM de realizar estas jornadas
científicas, subordinadas ao tema Inovação Tecnológica nos Sistemas Agrícolas
Mediterrânicos, prendeu-se com o facto de, em vias de se completar o triénio do
último projecto que apresentámos à FCT para financiamento plurianual,
considerarmos de grande premência a divulgação, a nível nacional, do trabalho
que foi desenvolvido pelo ICAM nesse período.
Pareceu-nos relevante a opção por este tipo de evento, de carácter nacional, em
lugar de apenas promover ou facilitar as mais habituais participações
individuais em eventos no estrangeiro. Facilita-se aqui, esperamos, a troca de
experiências e conhecimentos e a promoção de novas colaborações com equipas
que, a nível nacional, desenvolvem investigação em áreas semelhantes ou
complementares. Facilita-se assim, supõe-se também, a extensão universitária da
investigação do ICAM e a divulgação do conhecimento gerado, junto daqueles que,
a nível nacional, serão os seus utilizadores finais. Esta vertente
extensionista ou de transferência tecnológica para os utilizadores impõe-se
também, com relevo, numa altura em que a inovação tecnológica é tão reconhecida
como motor do Desenvolvimento do País. Assim também acontece com a Agricultura
Portuguesa, e o ICAM assume aí o seu papel.
De facto, o Instituto de Ciências Agrárias Mediterrânicas (ICAM) da
Universidade de Évora, que hoje tem cerca de 130 membros, 70 dos quais
doutorados, representa, a nível nacional, um dos maiores centros de
investigação na área das Ciências Agrárias. Apresentando uma larga abrangência
científica e multidisciplinaridade evidente, o ICAM está, fruto de recente
reorganização, estruturado em quatro Unidades Organizadas de Investigação
(UOI) e uma unidade especial de divulgação e inovação tecnológica. As Unidades,
correspondendo aos 4 grandes domínios das Ciências Agrárias que melhor se
identificam na actividade de investigação do ICAM, são as seguintes: Ciências e
técnicas da engenharia nos sistemas agrícolas; Sistemas agro-silvo-pastoris;
Alimentos, tecnologia e segurança alimentar e Horticultura mediterrânica.
Ao longo de vinte e cinco anos de investigação em Ciências Agrárias, a
Universidade de Évora e o seu Instituto de Investigação (ICAM) contribuíram de
um modo relevante para o desenvolvimento de aspectos essenciais da Agricultura.
Saliento, sem ser exaustiva, os seguintes aspectos:
-Os estudos para a caracterização e evolução do Montado,
-O desenvolvimento da vitivinicultura e da olivicultura do Alentejo,
-A caracterização e certificação de produtos da região, como o vinho, o
presunto de Barrancos, os queijos de Évora e Serpa e a ameixa de Elvas.
-A inovação tecnológica ao nível da preparação do solo, com técnicas culturais
como a mobilização mínima e a sementeira directa
-A inovação tecnológica ao nível de sistemas de rega, drenagem e conservação do
solo e da água nas condições do Alentejo.
-A adaptação e o desenvolvimento de novas máquinas e equipamentos agrícolas,
contribuindo para o desenvolvimento de novas tecnologias nas operações
culturais.
-A utilização dos recursos alimentares das pastagens e forragens, assim como
das potencialidades das raças autóctones, de forma a preservar a qualidade do
produto final, como é hoje reconhecida a qualidade da carne dos bovinos de raça
Mertolenga ou dos porcos Alentejanos e seus produtos conservados.
-A procura de soluções alternativas para a agricultura Alentejana, como as
culturas energéticas, as plantas aromáticas ou a utilização de alimentos
tradicionais como alimentos funcionais.
No ICAM, é cada vez mais relevante a preocupação com a integração ambiental da
agricultura, com o harmonizar do desenvolvimento agrícola e do mundo rural com
o ambiente, harmonização que é, como sabemos, o pilar da sustentabilidade do
referido desenvolvimento.
Em muitos casos, é investigação de muita qualidade científica a que se está a
fazer, sem contudo nunca deixar de se ter uma preocupação acentuada com a
utilidade e a aplicabilidade a curto prazo dos resultados da investigação ao
desenvolvimento tecnológico.
No ICAM temos consciência que o resultado da avaliação, que determina o
financiamento que nos é concedido, depende fundamentalmente do aumento
significativo da nossa publicação científica. Com esse objectivo promoveu-se a
maior coerência entre investigadores, objectivos e programas, de modo a
estruturar equipas fortes, com competência para gerar bons resultados
científicos. Por outro lado, procurámos a correcta identificação das áreas de
investigação preferenciais ou prioritárias, de onde pudessem vir a originar-se
verdadeiras áreas de excelência do ICAM. Em simultâneo, não podia este
Instituto deixar de contribuir para o desenvolvimento regional, através do
crescimento das capacidades científicas e tecnológicas no Alentejo.
Importa salientar que a maior parte da investigação científica do ICAM decorre
no quadro de projectos financiados pela FCT ou pela Comunidade Europeia e que
as Universidades, com os cortes orçamentais que têm sofrido, não têm
possibilidade de financiar os seus centros de investigação. Estes
constrangimentos são ainda mais marcantes na área científica das Ciências
Agrárias. A investigação experimental nesta área implica equipamento e infra-
estruturas caras mas, ao contrário do que acontece em outras áreas, a
participação das empresas na investigação é irrelevante. Precisamos de mais
programas que suportem a nossa capacidade de produzir e publicar conhecimento
científico útil ao nosso Desenvolvimento. São urgentes medidas que passam
também pela criação de programas de incentivo aos jovens investigadores.
Para estas jornadas, a escolha dos temas prendeu-se com os quatro domínios em
que os membros do ICAM desenvolvem investigação, promovendo-se a discussão e a
troca de experiências, essencial para a pretendida Inovação Tecnológica nos
Sistemas Agrícolas Mediterrânicos, tema das nossas jornadas.
Há que salientar o bom acolhimento que esta iniciativa teve dentro da
comunidade científica e não só, o qual se traduz pelo elevado número de
participantes inscritos.
Um agradecimento é devido a todos os participantes e entre estes, de forma
especial, aos oradores convidados, que acederam em dar, com as suas
experiências, um contributo de especial valor para estas Jornadas.
Agradece-se também o apoio que nos foi dado pelas várias entidades que tiveram
a gentileza de patrocinar esta nossa iniciativa.
Por último, uma palavra de muito apreço para a comissão organizadora destas
jornadas, presidida pelo Prof. Lúcio Santos, que desde a primeira hora
abraçaram esta ideia de forma entusiástica.
Maria do Rosário Gamito de Oliveira Directora do ICAM