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EuPTCVAg0871-018X2011000200022

EuPTCVAg0871-018X2011000200022

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0871-018X
ano2011
Issue0002
Article number00022

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Efeito de diferentes misturas de substratos orgânicos na biomassa e no óleo essencial de Thymus zygis Efeito de diferentes misturas de substratos orgânicos na biomassa e no óleo essencial de Thymus zygis INTRODUÇÃO O género Thymus é um género bastante complexo, tanto química como morfologicamente. A variabilidade química dos seus óleos essenciais pode ser determinada geneticamente, e estará relacionada com a diversidade das condições ambientais (humidade, amplitude térmica e tipo de solo), idade e desenvolvimento da biomassa, variação sazonal e práticas agronómicas em geral (Morales, 2002; Sáez e Stahl-Biskup, 2002; Horwath et al., 2008).

Tal como no género Thymus, a variabilidade química também é encontrada nos óleos da espécie Thymus zygis predominando o timol, carvacrol e p-cimeno (Sáez, 1995; Figueiredo et al., 2008; Pérez-Sánchez et al., 2008).

Os óleos essenciais destas plantas possuem elevada importância uma vez que têm sido utilizados na alimentação, cosmética, perfumaria e indústria farmacêutica (Moldão-Martins et al., 1999). Alguns autores consideram que T. zygis representa a planta com mais valor no género Thymus sendo a elevada concentração em timol particularmente interessante (Pérez-Sánchez et al., 2008).

Boas práticas de cultivo de Thymus zygis são necessárias para a obtenção de teores suficientes de biomassa e produção de óleos essenciais com rendimento e composição química adequados (Letchamo e Gosselin, 1995; Jeliazkova et al., 1999). O efeito de diferentes níveis de água de rega nos teores de biomassa e óleos essenciais de Thymus foi estudado por vários autores (Sotomayor et al., 2004; Jordán et al., 2009). Um dos aspectos mais importantes encontra-se relacionado com o substrato utilizado para o crescimento.

O termo substrato aplica-se a qualquer material sólido, natural, de síntese ou residual, mineral ou orgânico, que colocado num contentor, estreme ou em mistura, permite o desenvolvimento do sistema radicular, desempenhando um papel de suporte da planta (Abad et al., 2004). Sempre que se pretenda utilizar substratos em estufa constituídos por determinados materiais é importante a avaliação das suas propriedades físicas (relacionadas com a retenção de água e o arejamento), químicas (relacionadas com a nutrição vegetal) e biológicas (relacionadas com a decomposição, fauna microbiana e estabilização dos materiais envolvidos) (Ribeiro et al., 2001). Abad et al. (2004) definiram os valores óptimos de densidade real e espaço poroso total para substratos como inferiores a 0,4 g cm-3 e superiores a 85% em volume, respectivamente, e valores de pH compreendidos entre 5,2 e 6,3.

O vermicomposto é um produto que resulta da degradação mesofílica de materiais orgânicos por meio da interacção entre minhocas e microrganismos (Gopal et al., 2009).

Dada a importância do óleo do tipo timol em Thymus zygis, pretendeu-se com o presente trabalho, avaliar o efeito de diferentes misturas de dois substratos orgânicos (substrato comercial e vermicomposto) e respectivas propriedades físicas no rendimento, na composição química dos óleos essenciais e na biomassa daquela espécie.

MATERIAL E MÉTODOS O ensaio decorreu entre Fevereiro e Maio de 2009 no Horto do Campus de Gambelas na Universidade do Algarve.

Utilizaram-se 5 substratos resultantes da mistura, em diferentes proporções, de um vermicomposto produzido na Futuramb a partir da vermicompostagem da fracção orgânica dos resíduos sólidos urbanos, com um substrato orgânico comercial à base de turfa Gramoflor® adquirido na empresa Messinagro.

Os 5 substratos em estudo corresponderam às seguintes proporções (v/v) de vermicomposto (V) e substrato comercial (O): V100 (100%V); VO75-25 (75%V+25%O); VO50-50 (50%V+50%); VO 25-75 (25%V+75%V) e O100 (100%O).

Sementes de Thymus zygis foram germinadas em placas de alvéolos, e após 10 semanas de crescimento procedeu-se ao seu transplante para vasos de 2 L de volume. Cada vaso foi regado manualmente e não foi aplicada adubação mineral.

Os vasos foram colocados em bancada elevada num desenho experimental completamente casualisado, num total de 50 vasos com 10 repetições por modalidade.

Em cada modalidade determinaram-se os seguintes parâmetros: pH (H2O), condutividade eléctrica (CE), água facilmente assimilável (AFA), água de reserva (AR), água dificilmente utilizável (ADU), espaço poroso total (EPT), densidade real (dr) e a % de matéria seca (Martinez, 1992). Setenta dias depois do transplante determinou-se a biomassa da parte aérea de todas as plantas individualmente e isolaram-se os óleos essenciais por hidrodestilação num aparelho tipo-Clevanger (Anónimo, 1995) e por cromatografia gás-líquido (Bentes et al., 2009).

Para os vários parâmetros estudados a comparação entre modalidades foi avaliada com base numa análise de variância simples. A comparação das médias foi efectuada pelo teste de Duncan para um nível de significância de 95%. Toda a análise estatística foi efectuada com o programa SPSS v. 16.0.

RESULTADOS A produção de biomassa da parte aérea da planta segundo as diferentes percentagens de vermicomposto encontra-se descrita na Figura 1 pela equação polinomial de 2.º grau y = 0,0007x2 ' 0,15x + 8,61; R2 = 0,432. De acordo com a Figura 1, verifica-se que quanto maior a percentagem de vermicomposto nas modalidades, menor o valor em biomassa da parte aérea.

Figura_1 - Relação entre a percentagem de vermicomposto e o peso da parte aérea. *** Significativo para p<0,001.

A modalidade V100 apresentou o valor mais elevado de pH e de densidade real, tendo apresentado inversamente o menor valor de espaço poroso total.

Contrariamente, em O100 registou-se o valor mais baixo de pH e de densidade real e o mais elevado de espaço poroso total. Os valores em matéria seca foram mais elevados em V100 e mais baixos em O100. Quanto mais elevados os valores de densidade real menores os valores de biomassa apresentados (Quadro 1).

Quadro 1 ' Valores médios das propriedades químicas e físicas para cada modalidade. Em cada linha, médias com a mesma letra não apresentam diferenças significativas a p< 0,05.

A dependência da produção de biomassa em relação à densidade real encontra-se definida pela equação polinomial de 2.º grau y = 0,977x2 ' 15,53x + 30,96; R2 = 0,896 (Figura 2). Esta equação e de acordo com o Quadro 1, permite concluir que quanto mais vermicomposto estiver presente na mistura, maior é a densidade real.

Figura 2 ' Correlação entre os valores de densidade real e de biomassa no conjunto das modalidades.

Os teores mais elevados dos monoterpenos oxigenados foram devidos à percentagem mais elevada de timol, enquanto que os teores mais elevados dos monoterpenos não oxigenados se encontraram associados à percentagem particularmente mais elevada de p-cimeno, precursor do timol (Figura 3).

Figura 3 ' Concentração (% m/v) de monoterpenos oxigenados e não oxigenados nas diferentes modalidades (VO 75-25: 75% vermicomposto + 25% turfa); VO 50-50: 50% vermicomposto + 50% turfa; VO 25-75: 25% vermicomposto + 75% turfa e O 100: 100% turfa).

Os monoterpenos oxigenados predominaram nos óleos extraídos das plantas nas modalidades O100 e VO25-75, contrariamente ao que se verificou para os monoterpenos não oxigenados. As plantas que cresceram nas modalidades VO25-75 e O100, isto é, com ausência ou com reduzidas percentagens de vermicomposto, apresentaram as percentagens mais elevadas de monoterpenos oxigenados (timol) e, consequentemente, a menor percentagem de monoterpenos não oxigenados (γ- terpineno e p-cimeno) (Figura 4). O timol apresentou-se como o principal componente dos monoterpenos em todas as modalidades tendo a sua concentração variado entre 40,3 e 65,0 % nas plantas cultivadas em VO50-50 e VO25-75, respectivamente. Em relação aos percursores do timol (p-cimento e γ-terpineno), estes foram os restantes componentes em maior concentração nos óleos (12,6 e 18,2%) (Figura 3).

Figura_4 ' Rendimento em óleo essencial das plantas nas diferentes modalidades (VO 75-25: 75% vermicomposto + 25% turfa); VO 50-50: 50% vermicomposto + 50% turfa; VO 25-75: 25% vermicomposto + 75% turfa e O 100: 100% turfa).  

O rendimento em óleo essencial foi elevado em particular na modalidade VO25-75.

Contudo, o rendimento obtido na modalidade VO 50-50 foi de apenas 0,2%, sendo metade do obtido nas modalidades VO25-75 e O100 (Figura 4).

Na modalidade V100 todas as plantas secaram, não se determinando por isso nem a biomassa nem directamente o rendimento em óleos.

DISCUSSÃO  As diferentes proporções de substrato orgânico comercial e vermicomposto condicionaram a produção de biomassa bem como o rendimento dos óleos essenciais e o teor dos monoterpenos. Algumas das propriedades físicas (espaço poroso total e densidade real) e químicas (pH) poderão ter influenciado a produção de biomassa da cultura e a utilização de vermicomposto influenciou negativamente a produção da cultura.

Os baixos valores de arejamento, indirectamente relacionado com a densidade real no substrato vermicomposto quando comparados com os estabelecidos por Abad et al., (2004) para substratos, poderão ter inibido o crescimento da cultura nas modalidades V100 e VO75-25 (Figura_1). Comparando-se ainda os valores de espaço poroso total e pH com os definidos pelo mesmo autor, registam-se valores inferiores para o espaço poroso total (73,7%) e superiores para o pH (7,2) ambos na modalidade V100 podendo também estes valores ter contribuído para a inibição do crescimento.

Em ensaios em tomate, Atiyeh et al., (2001) obtiveram para um vermicomposto proveniente de estrume suíno (V), valores de pH de 5,68; 5,75; 5,83; 6, e condutividade eléctrica de 3,2; 2,4; 1,9 e 1,2 dS m-1, em substratos contendo respectivamente, 100, 50, 25% e 0% V em mistura com um substrato orgânico comercial. Os mesmos autores obtiveram nas propriedades físicas, valores de 81,0; 85,8; 89,5 e 91,7% para o espaço poroso total e para a densidade real 1,89; 1,92; 1,93 e 1,93 g cm-3, respectivamente. Os mesmos autores concluíram que o crescimento desta cultura foi favorecido por misturas de 25 a 50% em V provavelmente em resultado da melhoria das condições físicas e nutricionais do substrato. Contudo, as misturas contendo 100% V terão registado baixa porosidade e arejamento afectando no crescimento do sistema radicular, reduzindo o crescimento da planta o que vem de encontro ao registado nos ensaios de Thymus zygis.

Shiralipour et al. (1992) registaram respostas semelhantes em resíduos orgânicos em vaso, com decréscimo do crescimento das plantas à medida que a proporção do vermicomposto no recipiente aumentava acima de 50% encontrando-se estas respostas relacionadas também com a baixa porosidade e arejamento do substrato.

Para Frankenberger e Arshad (1995) os microrganismos não apenas mineralizam substâncias em nutrientes assimiláveis pela planta, como também sintetizam metabolitos como reguladores de crescimento. Krishnamoorthy e Vajrabhiah (1986) e Tomati et al. (1987) observaram que o vermicomposto proveniente do tratamento de lamas de ETAR possuía elevada concentração em bactérias e hormonas de crescimento (giberlinas, citocininas e auxinas) o que poderia induzir também mais crescimento. O efeito da presença de hormonas de crescimento nas culturas hortícolas, estabelecido por Hopkins (1995), poderá no entanto ter inibido a produção de biomassa da planta.

Contudo, em plantas aromáticas, Anwuar et al. (2005) apenas obtiveram um elevado crescimento de biomassa, quando utilizaram combinações de vermicomposto com fertilizantes inorgânicos. Este facto também poderá ter justificado a pouca produção de biomassa nas modalidades V100, VO75-25 e VO50-50. Neste aspecto, os valores em espaço poroso total e densidade real poderão ter originado baixos valores de disponibilidade hídrica no substrato vermicomposto.

Segundo Sotomayor et al. (2004), menor quantidade de água disponível aumenta o rendimento em óleo essencial. Este facto parece indicar que a imposição de um determinado tipo de stress favorece o aumento da concentração em óleos (Figura.

4). Neste trabalho, e apesar de não haver uma tendência muito clara, a inclusão de mais vermicomposto no substrato diminuiu a biomassa e o rendimento em óleos.

A baixa produção de biomassa em VO75-25 e VO50-50 foi coincidente com a concentração em p-cimeno mais elevada e de timol mais baixa. De acordo com Skoula et al., (1999), em estudos realizados em orégãos (Origanum vulgare), registou-se uma tendência para a produção de carvacrol (um isómero do timol) principalmente através da produção de novas folhas. Estes dados poderão explicar, ainda que parcialmente, os resultados que a fraca produção de biomassa sem formação de novas folhas terá originado na fraca produção de timol.

Baranauskiene et al. (2003) identificaram a presença no óleo essencial de Thymus vulgaris de timol (44,1 a 58,1%), p-cimeno (9,1 a 18,5%), γ-terpineno (6,9 a 18,9%) enquanto que Zambonelli et al. (2004) identificaram timol (22 a 38%), p-cimeno e γ-terpineno. Comparando os resultados obtidos por estes autores com os estabelecidos em ensaio, o timol apresentou máximo de 65% em VO25-75 enquanto que os precursores do timol (p-cimeno e γ-terpineno), apresentaram valores dentro dos intervalos (12,6 e 18,2%) respectivamente.

De acordo com Jordán et al. (2003), a maior presença em timol não foi verificada para a espécie T. hyemalis. De acordo com Özcan e Chalchat (2004), esta diferença nos teores de timol podem dever-se a factores genéticos, ambientais e nutricionais.

CONCLUSÕES  Os dados permitiram concluir que o substrato orgânico comercial permitiu a obtenção de maiores produções de biomassa na modalidade O100 e rendimento em óleos na modalidade VO25-75, sendo que, aparentemente a inclusão do vermicomposto nas modalidades não aumentou a produção de biomassa.

Inclusivamente, os maiores valores de densidade real e menores de espaço poroso total nas modalidades contendo maior percentagem em vermicomposto poderão ter influenciado as produções de biomassa e rendimento em óleos.

Apesar de considerado pela maioria dos autores um substrato com potencial em aumentar a biomassa de culturas hortícolas em produções de vasos em estufa ou em solo, a utilização de vermicomposto não registou os mesmos efeitos nos ensaios realizados com T. zygis, fruto possivelmente da menor tolerância desta cultura às variações das propriedades químicas e físicas dos substratos.


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