Preditores da intenção de adoptar comportamentos preventivos face ao HIV/SIDA
em adolescentes portugueses
1. Introdução
O vírus da imunodeficiência humana mais conhecido por HIV (Human
Imunodeficiency Virus)é o responsável pelo SIDA, uma doença grave, quase sempre
fatal. Até ao momento o HIV/SIDA não possui cura nem uma vacina eficaz, existem
apenas medicamentos que fortalecem o sistema imunológico, amenizam os sintomas
e ajudam a impedir que as infecções apareçam (Vilaça, 1994). Ao longo dos
tempos e nas mais diversas sociedades, o HIV/SIDA tem sido percepcionado de
maneira muito diferente da maior parte das outras doenças contemporâneas. Para
a opinião pública, o diagnóstico do HIV/SIDA é frequentemente um indício, mesmo
que erróneo, de que os doentes são homossexuais ou utilizadores de droga, no
entanto o HIV pode afectar qualquer pessoa (Sá, 2006; Cruz, 1997). Neste
sentido, um bom conhecimento sobre as formas de transmissão é fundamental para
uma atitude não discriminatória face a pessoas infectadas (Matos et al.,2003).
Sendo o HIV/SIDA sobretudo uma doença sexualmente transmissível, o grupo de
adolescentes constitui um desafio particularmente difícil na luta contra esta
doença. Os adolescentes e os jovens adultos portugueses têm evidenciado um bom
conhecimento sobre a infecção VIH e o SIDA, assim como sobre as suas formas de
transmissão e prevenção (Cruz et al.,1997; Almeida, Silva e Cunha, 2005). No
entanto, os adolescentes são considerados como um grupo de risco porque para
além de serem sexualmente activos, os dados da investigação sugerem que eles
apresentam crenças que podem conduzir a comportamentos de risco (Cláudio e
Sousa, 2003; Vilaça e Cruz, 1996). Nomeadamente no que se refere à percepção de
vulnerabilidade, a maioria dos adolescentes sentem-se vulneráveis face ao SIDA
(Almeida, Silva e Cunha, 2005), mas apresentam uma subvalorização do risco que
correm em ficarem infectados (Monteiro e Vasconcelos-Raposo, 2006; Dias, Matos
e Gonçalves, 2005), continuando a adoptar comportamentos de alto risco. Muitos
adolescentes ainda têm a crença que o HIV/SIDA só afecta os indivíduos
socialmente desfavorecidos, embora a maioria dos adolescentes saiba que o HIV/
SIDA não se transmite através do contacto social (Dias, Matos e Gonçalves,
2005). Parece existir um desfasamento entre aquilo que os jovens acreditam,
conhecem e expressam nos comportamentos, ou seja, embora o conhecimento
constitua um pré-requisito importante, não podemos afirmar que este só por si
só irá concretizar as mudanças comportamentais (Monteiro e Vasconcelos-Raposo,
2006).
Neste sentido, o único procedimento eficaz para prevenir a infecção será
modificar os comportamentos implicados na transmissão do HIV. Cláudio e Sousa
(2003) referem que aproximadamente metade dos adolescentes não altera os seus
comportamentos face ao SIDA. Exemplo disto é o uso de preservativo, que tem
sido recomendado como principal meio para impedir o alastramento do HIV/SIDA,
mas apesar dos jovens terem conhecimento disto e afirmarem que o usam, muitos
não o fazem de um modo regular (Cruz et al.,1997). Num estudo de Almeida, Silva
e Cunha (2005), 53% dos adolescentes referem ter adoptado comportamentos
preventivos face ao SIDA e 42% referem não os terem adoptado. De uma maneira
geral, os adolescentes que têm crenças positivas para com a doença e normas
subjectivas positivas têm a crença de que os preservativos têm mais benefícios
do que custos, e demonstram ter mais intenções de tomar precauções correctas do
que incorrectas (Lopes, 2004). No entanto, é um facto que a intenção de conduta
é uma possibilidade, mas não uma certeza da concretização do comportamento. O
mesmo autor salienta ainda que a informação é necessária, mas só por si é
insuficiente para se poder deduzir que provoca mudanças de atitudes e de
hábitos, uma vez que pode existir um conjunto de crenças em relação à doença,
que podem constituir um obstáculo à prevenção. Por exemplo, para quem tenha a
crença de que o SIDA é uma doença só de toxicodependentes e homossexuais,
desvalorizará toda a informação e abrandará os cuidados preventivos, por se
considerar fora desses grupos, por isso imune à doença. Mas para além do
comportamento do adolescente ser condicionado pelas suas crenças e valores, é
também muitas vezes influenciado pela família, amigos, professores e
principalmente pela comunicação social, onde os jovens frequentemente imitam o
que é transmitido através dos meios de comunicação (Cláudio e Sousa, 2003).
Neste sentido, e inserido nos factores que contribuem para este panorama,
qualquer mensagem lançada no âmbito da prevenção da transmissão do HIV/SIDA
nestes grupos deve ser cuidadosamente elaborada tendo em conta o que os jovens
pensam, quais as suas crenças e necessidades de informação. Assim, a
modificação dos comportamentos de risco e o estudo dos factores psicossociais
associados a tais comportamentos têm vindo a assumir um papel central no
domínio da prevenção do HIV/SIDA. Neste sentido, é importante aprofundar o
nível de conhecimento sobre as crenças individuais sobre o HIV/SIDA em jovens
adolescentes. O presente estudo pretende assim atingir os seguintes objectivos:
Caracterizar as crenças dos jovens adolescentes sobre o HIV/SIDA em termos das
dimensões da Teoria da Acção Planeada e do Modelo de Crenças de Saúde.
Investigar em que medida a Teoria da Acção Planeada e os componentes do Modelo
Crenças sobre a Saúde podem predizer a intenção de adoptar comportamentos
preventivos para o HIV/SIDA, nos jovens adolescentes.
Investigar se existem diferenças de sexo, no que se refere ao poder preditivo
destes modelos para a adopção do comportamento preventivo.
2. Método
2.1. Desenho
Trata-se de um estudo transversal, de carácter descritivo e comparativo.
2.2. Participantes
A amostra foi constituída por jovens adolescentes saudáveis, de ambos os sexos,
com idades compreendidas entre os 14 e 19 anos, a frequentar os 9.o, 10.o, 11.o
e 12.o anos de escolaridade. Os participantes foram recrutados aleatoriamente
em duas escolas secundárias. O único critério de inclusão estabelecido foi que
os participantes soubessem ler e escrever, visto tratar-se de um questionário
de auto-preenchimento.
2.3. Procedimento
Os questionários foram entregues aos conselhos executivos de duas escolas
secundárias, com o objectivo de serem distribuídos pelos professores aos seus
alunos, tendo sido recolhidos imediatamente após o seu preenchimento. Foi
garantido o anonimato e a confidencialidade dos dados, e a participação foi
voluntária.
2.4. Medidas
Modelo de crenças sobre a saúde (Rosenstock, Strecher e Becker, 1994): É
constituído por 6 dimensões, que foram avaliadas através de diferenciais
semânticos com 7 pontos: percepção de vulnerabilidade (1 item); percepção de
benefícios (2 itens); percepção de barreiras (2 itens); pistas para acção (1
item); probabilidade de vir a ter o SIDA (1 item); probabilidade de adoptar um
comportamento preventivo (1 item)
(Anexo_1).
Teoria da acção planeada (Ajzen e Fishbein, 1980): Foram utilizadas 4
dimensões, avaliadas através de diferenciais semânticos com 7 pontos, relativas
às atitudes em relação ao comportamento preventivo (8 itens), à norma
subjectiva (3 itens), ao controlo percebido (1 item) e à intenção de adoptar
comportamentos preventivos (1 item) (Anexo_1).
Auto-eficácia (Bandura, 1990): Foi avaliada através de 2 itens, numa escala de
resposta de 7 pontos, entre discordo plenamente e concordo plenamente para o
item "Receio não ser capaz de adoptar os comportamentos que possam
prevenir o SIDA?"; e entre totalmente incapaz e totalmente capaz, para o
item "Acha-se capaz de fazer coisas que disse que ajudavam a prevenir o
SIDA?".
Variáveis sócio-demográficas:Foram incluídas questões relativas à idade, sexo e
habilitações literárias.
2.5. Análise de dados
Para analisar os dados foi utilizado o softwareestatístico SPSS 16.0 -
Statistical Package for Social Sciences para o Windows. Foi utilizado o cálculo
das medidas de tendência central de todas as variáveis em estudo, e análises de
regressão linear para verificar as diferenças no poder preditivo da teoria da
acção planeada e do modelo de crenças de saúde, para todos os participantes e
para ambos os sexos.
3. Resultado
3.1. Características da amostra
Participaram no presente estudo 546 indivíduos, 50% (n= 274) pertencem ao sexo
masculino, com uma média de idades de 16 anos (sd = 1,3), compreendidas entre
os 14 e os 19 anos. No que se refere à escolaridade, 33% dos adolescentes
frequentam o 10.o ano.
Para caracterizar as crenças individuais sobre o HIV/SIDA em termos das
dimensões da Teoria da Acção Planeada e do Modelo de Crenças sobre a Saúde nos
adolescentes saudáveis, procedeu-se ao cálculo das medidas de tendência central
para todas as variáveis em estudo (Quadro I).No que se relaciona com as
dimensões do modelo de crenças de saúde, verificou-se que os participantes
apresentam uma crença baixa na sua percepção de vulnerabilidade à doença, na
probabilidade de vir a contrair o HIV/SIDA e poucas barreiras face à adopção do
comportamento. No entanto, estes adolescentes apresentam uma forte crença nos
benefícios e na probabilidade de vir a adoptar comportamentos preventivos, e
percepcionam as pistas para a acção como factores promotores da probabilidade
de adoptar o comportamento. Relativamente às dimensões da Teoria da Acção
Planeada, os resultados indicam crenças fortes sobre a capacidade de controlar
o comportamento no que se refere à adopção de medidas preventivas para evitar o
HIV, revelam a saliência das normas subjectivas sobre a importância de adoptar
comportamentos preventivos para o HIV/SIDA, e apresentam uma atitude positiva
em relação aos mesmos. Todas estas dimensões concorrem para uma forte intenção
de vir a adoptar medidas no sentido de evitar o contágio.
Quadro I
Médias das variáveis em estudo (n = 546)
Para investigar em que medida as dimensões da Teoria da Acção Planeada e do
Modelo de Crenças sobre a Saúde podem predizer a intenção de adoptar
comportamentos preventivos para o HIV/SIDA, procedeu-se à análise de regressão
linear com o método enter. Em ambos os modelos foi incluída a variável auto-
eficácia. Verificou-se que no modelo de crenças de saúde, a variância total
explicada é 30% (Quadro II).Os preditores que contribuíram de forma
estatisticamente significativa para a probabilidade de adoptar comportamentos
preventivos para o SIDA foram os benefícios, as barreiras, as pistas para a
acção, e a auto-eficácia. Neste sentido, verificou-se que quanto mais forem os
benefícios percebidos, a informação disponível e a percepção de auto-eficácia,
maior a intenção de vir a adoptar comportamentos preventivos para o SIDA. As
barreiras percebidas contribuem de forma negativa para a intenção de vir a
adoptar comportamentos preventivos. No que respeita a teoria da acção planeada,
a variância total explicada é 37% (Quadro II),onde se verificou que a atitude
em relação ao comportamento, a norma subjectiva e a auto-eficácia são as
variáveis preditoras da intenção comportamental.
Quadro II
Valor preditivo das dimensões do Modelo de Crenças de Saúde e da Teoria da
Acção Planeada (n = 546)
Posteriormente analisou-se se existiam diferenças de sexo no que se refere ao
poder preditivo dos modelos para a intenção de adoptar comportamentos
preventivos para o HIV/SIDA. Os resultados indicam que existem diferenças
significativas no potencial preditor dos modelos utilizados entre rapazes e
raparigas. A percentagem de variância explicada é semelhante no Modelo de
Crenças de Saúde e na Teoria da Acção Planeada no que se refere às raparigas
(Quadro III).Os preditores mais significativos no modelo de crenças de saúde
são os benefícios, e na teoria de acção planeada são as atitudes face à adopção
do comportamento preventivo que têm a contribuição mais significativa, seguido
do controlo percebido sobre o comportamento, e das normas subjectivas. Nos
rapazes, a percentagem de variância explicada é substancialmente diferente
entre os dois modelos (Quadro III). No modelo de crenças de saúde a percepção
dos benefícios e a auto-eficácia contribuem de forma significativa para a
probabilidade de adoptar comportamentos preventivos para o SIDA. Na teoria de
acção planeada, a contribuição mais significativa é das atitudes em relação ao
comportamento, seguido da auto-eficácia e das normas subjectivas.
Quadro III
Valor preditivo das dimensões do Modelo de Crenças de Saúde e da Teoria de
Acção Planeada, por sexo
4. Discussão
Este estudo investigou as crenças individuais dos adolescentes saudáveis sobre
o HIV/SIDA, tendo por base o Modelo de Crenças de Saúde e da Teoria da Acção
Planeada. Em termos gerais os resultados indicam que os adolescentes se sentem
pouco vulneráveis em relação à probabilidade de virem a contrair a doença,
apesar de apresentarem uma forte intenção de virem a adoptar comportamentos
preventivos para o HIV, considerando que os benefícios excedem as barreiras na
adopção de comportamentos preventivos do HIV. Os adolescentes demonstram também
uma forte crença na influência da informação disponível sobre o HIV/SIDA na sua
decisão de adoptar comportamentos preventivos. Estes resultados vão no mesmo
sentido dos estudos anteriores, que referem uma subvalorização do risco e
consequentemente a percepção de baixa susceptibilidade à doença (Abrams et al.,
1990; Cláudio e Sousa, 2003; Monteiro & Vasconcelos-Raposo, 2006). Por
outro lado, o facto de existir muita informação disponível sobre a forma de
prevenir e evitar o contágio do HIV não parece afectar significativamente a
prática de sexo seguro (Sheeran & Taylor, 1999; Monteiro e Vasconcelos-
Raposo, 2006). Lopes (2004) refere ainda que os adolescentes Portugueses
acreditam que os preservativos têm mais benefícios do que custos, demonstrando
ter mais intenções de adoptar precauções correctas do que incorrectas. Apesar
de no presente estudo ter sido referida uma forte intenção ou probabilidade de
adoptar medidas preventivas, a percepção de auto-eficácia é moderada, e esta
refere-se à crença pessoal de que o indivíduo é capaz de realizar com sucesso
comportamentos preventivos face ao HIV/SIDA. Coloca-se assim a questão em que
medida a implementação desta intenção ou o uso destas medidas se chega a
concretizar. Em particular, tratando-se de adolescentes, existem
características próprias desta fase de vida que podem promover uma percepção
distorcida de invulnerabilidade, o que associado a alguma impulsividade pode
aumentar o risco de contágio. No entanto, vários autores defendem que pelo
facto de os adolescentes se sentirem pouco vulneráveis ao HIV/SIDA não é razão
para não colocar em prática comportamentos preventivos (Dias, Matos e
Gonçalves, 2005; Monteiro e Vasconcelos-Raposo, 2006). A prática destes muitas
vezes não resulta directamente do conhecimento nem das competências para os
concretizar, mas sim de várias avaliações cognitivas das quais destacamos as
influências sociais, as experiências passadas e os estados emocionais, que irão
influenciar os comportamentos dos jovens adolescentes.
No presente estudo, verificou-se que os adolescentes apresentam uma atitude
positiva em relação ao comportamento preventivo, considerando importante a
influência das opiniões de outros significativos (pares, familiares, etc.) no
que se refere à prática de comportamentos adequados para prevenir o HIV/ SIDA.
Este resultado reflecte o contributo das influências sociais, para a
transmissão de crenças para os adolescentes (Cláudio e Sousa, 2003). Segundo
Fisher, Misovich e Fisher (1992) a influência social normativa é responsável
por muitos dos comportamentos de risco, por isso, os adolescentes têm sido
descritos como sendo susceptíveis tanto a pressões para realizar actividades de
risco sexual como para comportamentos de prevenção. A transmissão e aceitação
de informação relacionada com a saúde e prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis pode contribuir para aumentar os níveis de conhecimento,
desmistificando mitos, e promover uma atitude mais positiva face à adopção de
comportamentos preventivos.
Verificou-se que no modelo de crenças de saúde o contributo mais significativo
para a probabilidade de adoptar comportamentos preventivos é a percepção dos
benefícios, enquanto que as barreiras percebidas parecem influenciar
negativamente a intenção de vir a adoptar comportamentos preventivos. Na teoria
de acção planeada a atitude em relação à adopção do comportamento preventivo é
o preditor mais significativo da intenção de adoptar um comportamento
preventivo para o SIDA. Este resultado corrobora estudos anteriores (Carvalho
Teixeira, 1994; Monteiro e Vasconcelos-Raposo, 2006) que salientam a
importância da educação e do impacto da informação adequada a esta faixa
etária, nos níveis de conhecimento, nas atitudes face aos comportamentos e no
comportamento propriamente dito. Um aspecto importante relaciona-se com o facto
de ser na adolescência que se estabelecem padrões de comportamento, e se
estruturam atitudes em relação ao risco. Concretamente, deve ser reforçada a
informação sobre os benefícios da adopção de comportamentos preventivos, e a
eliminação de factores que possam actuar como barreiras à alteração de
comportamentos. Estes aspectos são fundamentais para a implementação de novas
atitudes e intenções, dada a necessidade de implementar a mudança de
comportamentos e atitudes nos adolescentes (Lopes, 2004). A dimensão auto-
eficácia é um preditor significativo nos dois modelos. Apesar de ser um
preditor independente destes modelos, a sua inclusão tem sido referida na
literatura no contexto do HIV/SIDA. A percepção de auto-eficácia tem sido
considerada de tal forma importante na previsão do comportamento que foi
integrada no modelo de crenças sobre a saúde (Rosenstock, Strecher e Becker,
1994) e na teoria do comportamento planeado (Ajzen, 1988).
No que se relaciona com o sexo, os resultados indicam que existem diferenças
significativas no potencial preditor dos modelos estudados entre rapazes e
raparigas. A percentagem de variância explicada é semelhante no modelo de
crenças de saúde e na teoria da acção planeada no que se refere às raparigas,
no entanto, nos rapazes, esta percentagem é substancialmente diferente entre os
dois modelos. Estas diferenças sugerem que o processamento cognitivo da
informação relacionada com o SIDA se faz de acordo com características do sexo
(Monteiro e Vasconcelos-Raposo, 2006). Nos rapazes a auto-eficácia é um
preditor comum aos dois modelos, reforçando o valor da crença sobre a
capacidade de executar o comportamento. Enquanto que nas raparigas, a percepção
sobre o controlo percebido em relação ao comportamento preventivo é um preditor
mais significativo. Este aspecto levanta a questão até que ponto o conceito de
auto-eficácia e controlo percebido são convergentes no seu significado, isto
porque a literatura refere o constructo relacionado com a percepção de controlo
com claras afinidades com a percepção de auto-eficácia da teoria sócio-
cognitiva de Bandura (Ajzen e Madden, 1986; Jemmott e Jemmott, 1994). Apesar de
persistir alguma discussão sobre a equivalência dos construtos, eles são
habitualmente tratados como sinónimos, pois ambos envolvem a avaliação da
capacidade e do potencial para se ser bem sucedido (Sheeran e Taylor, 1999).
Segundo Monteiro e Vasconcelos-Raposo (2006), são os estudantes do sexo
masculino e os estudantes com conhecimentos do SIDA que admitem, em média, uma
maior probabilidade de contágio da doença. No entanto, ambos os sexos
apresentam crenças fortes nos benefícios em relação à adopção de medidas
preventivas, e a importância das normas subjectivas parece situar-se
essencialmente ao nível da aceitação dos seus pares, especialmente no sexo
masculino.
As diferenças de sexo nos preditores da adopção de comportamentos preventivos
salientam a necessidade de repensar a forma como são realizadas as acções de
prevenção. Parece importante considerar a informação relevante para cada sexo,
no contexto social em que se está inserido, em vez de partir do pressuposto que
se conhece o contexto de acordo com ideias estereotipadas dos papéis de cada
sexo (Cláudio e Sousa, 2003). Além disso, os resultados sugerem que é
importante continuar a investigar sobre a forma como a percepção de
vulnerabilidade influencia a adopção de medidas preventivas para o SIDA, para
rapazes e raparigas em diferentes idades e contextos sócio-culturais. De outro
modo, corre-se o risco de minimizar a eficácia de possíveis intervenções, por
não serem adaptadas às necessidades específicas de cada sexo, em termos de
informação e competências de negociação (Cláudio, Pereira e Robalo, 1994;
Cláudio e Sousa, 2003). Estes aspectos devem ser tomados em consideração quando
se trata de fornecer informação diferenciada para cada sexo, no sentido de
promover a adopção de comportamentos preventivos para o SIDA.
Este estudo apresenta algumas limitações, por um lado, o facto de se focar na
intenção ou probabilidade de adoptar comportamentos preventivos, e não permitir
avaliar a concretização do comportamento; por outro, o facto de se tratar de um
estudo transversal onde não foi possível monitorizar a prática do
comportamento. No entanto, pensamos que este estudo contribui para clarificar e
actualizar algumas questões relativas à percepção das crenças individuais de
adolescentes saudáveis face ao HIV/SIDA, tendo em conta a grande importância
das características do sexo. Neste sentido, esperamos que futuras investigações
relativas a este tema continuem a estimular o aprofundamento dos aspectos
psicológicos e comportamentais relacionados com o SIDA, em jovens adolescentes.