Atitudes, Comunicação e Comportamentos Face à Sexualidade Numa População de Jovens em Matosinhos
INTRODUÇÃO
Enquanto técnicos promotores de saúde sentimos
necessidade de conhecer o contexto social e psicológico
que baseiam a acção afectivo-sexual dos nossos jovens. A
Educação Afectivo-Sexual como conjunto de acções educativas e informativas não deve nunca descurar o conceito
de Cultura Sexual (1, 2). A compreensão da Sexualidade
Juvenil não se esgota na observação do comportamento
sexual. A sexualidade define-se por uma rede totalizante e
irredutível de condutas, atitudes, afectos e sobretudo pela
modelagem sociocultural legitimadora desses mesmos
comportamentos. Compreender a sexualidade juvenil é
antes de mais compreender a cultura e a comunidade
onde se inscrevem esses comportamentos, permitindo
conhecer o normal e o desviante, elementos fundamentalmente determinados pelos espaços sociais.
Assim, a Sexualidade é perspectivada como uma
experiência social que se insere num determinado
sistema de significado, designado Cultura Sexual (1).
Em cada cultura sexual existem certos analisadores
ou componentes que estruturam o sentido atribuído à
Sexualidade. O grupo sexual de pertença, o número de
parceiros, as práticas sexuais, os métodos contraceptivos e o modo de prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis são conceitos culturais sobre os quais
cada cultura constrói uma série de normas e desvios. A
Sexualidade transforma-se assim numa experiência com
sentido social. Em cada cultura, os actores e os grupos,
através da interacção e pelas experiências sociais que
vão adquirindo ao longo do tempo, constroem o próprio
saber sobre a Sexualidade. A noção de representação
social da Sexualidade (3) é entendida como um esquema
de conhecimento partilhado pelos diversos elementos
dos grupos que compõem o campo social. Em suma, a
Sexualidade é uma experiência cultural, mas socialmente
reconstruída pelo universo simbólico dos grupos, dado
serem verdadeiros agentes de acção social.
A elaboração deste trabalho teve por objectivo a construção de acções educativas para a saúde na área dos
afectos e da sexualidade na comunidade de Matosinhos.
No âmbito da Unidade Local de Saúde de Matosinhos e da
sua Unidade de Saúde Pública, onde se insere a Equipa
Concelhia de Promoção da Saúde e Saúde Escolar, esta
equipa elaborou um projecto denominado “Saber e Sentir”
(2000-2006), onde o presente inquérito se insere.
Para este estudo utilizamos a escala de Comunicação Interpessoal em Sexualidade (4). Trata-se de um
instrumento que permite encontrar um perfil de comunicação interpessoal no jovem, acerca das questões da
sexualidade. O princípio teórico subjacente pressupõe
que a definição das atitudes face a uma temática ou objecto social depende fundamentalmente da comunicação
interpessoal.
Usamos ainda a Escala de Experiência de Relacionamento Íntimo e Sexual (4) que possibilita verificar um
contínuo experiencial, tendo em conta a faixa etária do
estudo. Nesta sequência apresentamos os resultados
das atitudes face à sexualidade com base na concepção
teórica da relação entre sexualidade e amor como grande
encenação cultural da cultura sexual ocidental (2, 3, 5,
6, 7, 8) utilizando os itens atitudinais da IPS (Inventário
Psicossocial de Snyder, Simpson e Ganstead) (9, 10),
relacionados com o Factor Atitudinal “Sexo Sem compromisso”. Neste caso, após ter sido extraído o factor,
comparamos ambos os sexos em termos de posição
atitudinal.
Face à avaliação das atitudes e comportamentos face
à SIDA, usamos a escala de Percepção de Controlo das
Relações Íntimas (PCRI) (3), como variável fundamental
para predizer a conduta preventiva e anticonceptiva.
Neste contexto apresentamos ainda os resultados de
duas escalas de atitudes e crenças face a dois meios
frequentes de anticoncepção e prevenção de doenças
sexualmente transmissíveis – a pílula anticonceptiva e
o Preservativo, que pretendem medir quer o nível de
conhecimentos quer o nível atitudinal face a estes meios
comuns (3).
Finalmente descrevemos algumas indicações face
aos Conhecimentos e Atitudes em relação às Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DST) (11) bem como a
estimação do risco pessoal face à probabilidade de
adquirir uma DST (3).
MÉTODOS
O Período da recolha decorreu no primeiro e segundo
semestres de 2001 nas Escolas Básicas do 2º e 3º Ciclo
e Secundárias do Concelho de Matosinhos presentes
na tabela 1.
Os questionários foram aplicados em contexto de sala
de aula. O inquiridor (técnico da equipa de Promoção da
Saúde), apresentava o estudo aos alunos e estes eram
convidados a preencher.
Foi possível garantir regras mínimas de anonimato
entre os alunos, questão central nos estudos psicossociais
na área da sexualidade (8, 12, 13). Em primeiro lugar, mantivemos um padrão elevado de voluntariedade, permitindo
o livre preenchimento dos questionários. Observámos que
alguns alunos saíram da sala de aula assim que foram
explicados os objectivos do estudo. Quando o aluno
prosseguia com o preenchimento, utilizámos de forma
invariável as seguintes instruções: a) o sujeito recebia o
questionário num envelope fechado; b) era comunicado
que nunca deveria ser mencionado qualquer aspecto que
possibilitasse a identificação pessoal (o que levou a que
os questionários com qualquer elemento de identificação
pessoal fossem anulados); c) findo o preenchimento, o
sujeito entregava o questionário em envelope fechado e
inseria-o numa caixa que se situava distante da equipa
de recolha de questionários.
Foram aplicados 2500 questionários, apresentando-se
como válidos para análise 1792. Foram excluídos todos
os questionários que apresentaram ‘não resposta’ a mais
de 10% das questões, inclusive.
Foi nossa intenção aplicar somente ao 9º, 10º, 11º e
12º ano. No entanto, o 9º ano era a nossa amostra alvo
no sentido de testar a situação em termos de comportamentos, atitudes e comunicação junto da média de idades
representativa do início da vida sexual.
Em todas as análises optamos por uma estatística
descritiva recorrendo à estatística multivariada somente
quando se pretende diferenciar o género dos sujeitos.
Apresentamos finalmente as conclusões extraindo
indicações para a prevenção e educação afectivo-sexual,
como objectivo de base deste nosso trabalho.
Para a análise da escala de Comunicação Interpessoal
utilizaram-se os pontos seguintes: a quantidade de cognições (pensamentos) acerca da temática, a quantidade
de pessoas que mantêm a interacção conversacional,
nível de participação activa e a tipologia sociológica dos
interlocutores. O perfil do interlocutor é definido segundo
as seguintes variáveis: tipo de relação com a pessoa,
sexo, idade, grau de semelhança e grau de distância
social, contexto de conversação.
A nossa Escala de Experiência de Relacionamento
Íntimo e Sexual (E.E.R.I.S.) (4) permite observar um contínuo experiencial, tendo em conta a faixa etária onde se
focaliza o estudo (14-18 anos). Informa-se ainda que o
jovem era convidado a mencionar somente um parâmetro
de experiência.
Utilizamos a base teórica da existência da relação
entre sexualidade e amor como grande encenação cultural
da cultura sexual ocidental (2, 3, 5, 8) para observar as
atitudes face à sexualidade dos jovens em estudo. Neste
sentido quisemos ainda saber como se estrutura neste
encenação cultural a variável género, tendo em conta as
investigações mais recentes (6, 7).
Para extrair a posição sociocultural face à Sexualidade
com base em atitudes sexuais (5) – Permissividade e
Fidelidade – utilizámos a versão parcial do IPS (Inventário Psicossexual de Snyder, Simpson e Ganstead) (9,
10), somente relacionado com o Factor Atitudinal “Sexo
Sem Compromisso”.
Para testar a dimensão atitudinal do sexo sem compromisso, aplicou-se o método estatístico da Análise
Factorial em Componentes Principais (AFCP), extraindose um único factor estando assim em consonância com
as investigações de Snyder, Simpson e Ganstead (9,10),
mantendo-se o factor com valor próprio suplementar ou
igual a 1, e aplicou-se uma rotação Varimax.
Para análise do comportamento sexual experiencial da
amostra utilizamos a frequência de utilização de métodos
anticonceptivos. Note-se que os sujeitos tinham uma lista
de meios anticonceptivos face aos quais deveriam mencionar qual ou quais os métodos comummente utilizados
nas relações sexuais coitais. É necessário, no entanto,
ressalvar que os métodos anticonceptivos referidos na
pergunta incluem anticonceptivos orais, que não previnem
doenças sexualmente transmissíveis.
Partimos do pressuposto teórico e empírico que a utilização de meios anticonceptivos e preventivos depende
de variáveis como o nível de educação para a saúde
nesta matéria, em conjugação com variáveis internas ou
psicológicas como competência de percepção de controlo
da situação sexual, nível de competência de planeamento
das relações íntimas e nível de competências de comunicação entre os parceiros. A escala de Percepção de
Controlo das Relações Íntimas (PCRI) (3) foi construída
com base nesta orientação teórica, tendo em conta a
graduação: (1) muito em desacordo; (2) bastante em
desacordo; (3) em desacordo; (4) de acordo; (5) bastante
de acordo; (6) muito de acordo.
Utilizamos duas escalas que pretendem medir quer o
nível de conhecimentos quer o nível atitudinal face a dois
meios frequentes de anticoncepção e de prevenção de
doenças sexualmente transmissíveis – a pílula anticonceptiva e o preservativo. Incluímos para análise todos
os sujeitos, com e sem experiência sexual coital. Note
que em ambas as escalas se utilizou a seguinte matriz
de respostas: (1) muito em desacordo; (2) bastante em
desacordo; (3) em desacordo; (4) de acordo; (5) bastante
de acordo; (6) muito de acordo.
Recordamos que os itens atitudinais são extraídos de
estudos qualitativos (3) sobre uma amostra acerca das
imagens, crenças de senso comum e representações
face ao preservativo e a pílula anticonceptiva.
Para melhor se compreender os comportamentos
preventivos é fundamental a utilização da medida psicológica Estimação Pessoal do Risco, em que uma
elevada estimação do risco pessoal aumentará a probabilidade de utilização de meios preventivos das Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DST) (3).
Para avaliar os conhecimentos que os jovens têm
sobre a SIDA, no que respeita às vias de transmissão,
utilizamos o racional de Usieto (14), Marticka-Tyndale
(11) e Warwick (15) que refere que os rumores face à
transmissibilidade de certas vias de transmissão servem
sobretudo para afirmar a estereotipia do fenómeno,
tornando-o mais ameaçador do que na realidade ele
representa. Assim, as vias de transmissão, para além
de veicularem informação, são utilizadas como crenças
sociais pelo senso comum. A nossa escala de Vias de
Transmissão foi inspirada na Teoria dos Rumores face
à SIDA (16), servindo para observar, em certa medida,
os conhecimentos que os nossos jovens possuem face
à transmissão do Vírus de Imunodeficiência Humana
(VIH), tendo em conta cada via. As alternativas de reposta
definem-se, em termos de transmissibilidade, entre (1)
Nunca; (2) Talvez; (3) Sempre.
RESULTADOS
Este estudo foi efectuado a partir de uma amostra de
1792 alunos do 3º Ciclo e Ensino Secundário, distribuídos
da seguinte forma: 9º ano (81,7%), 10º ano (4,8%), 11º
ano (10,1%) e 12º ano (3,4%).
Do total da amostra observa-se que o intervalo de
idade entre os 14-17 anos ocupa cerca de 96,5%, sendo
a média de idades 15,2 anos. Considera-se assim alguma
homogeneidade em termos de etapa do desenvolvimento
psicofísico.
Obtivemos 46,6% de respondentes do sexo masculino
e 53,4% do sexo feminino. Considera-se deste modo que
se consegue também nesta variável uma significativa
equivalência dos grupos de género.
No que se refere à escolaridade dos pais, o resultado
global está descrito na tabela 2.
Dos respondestes (n=1707), 91,2 pertenciam à Religião Católica, 1,2% eram Protestantes, 0,1 tinham outra
Religião e 7,7 não tinham qualquer religião. No que se
refere às práticas religiosas, traduzida pela frequência a
cultos religiosos organizados 10% não frequenta cultos,
60% frenquenta Casamentos, Baptizados e Funerais,
9,9% declara frequentar duas vezes por semana e 19,1%
uma vez por semana (n=1773).
A cognição com conteúdos sexuais em termos de diferenças tendo em conta o sexo dos sujeitos, observam-se
diferenças significativas, dado que os rapazes pensam
mais vezes no tema da sexualidade (m=2,7; dp=0,9)
em comparação com as raparigas (m=2,0; dp=0,72),
p<0,01. No caso da quantidade de pessoas com quem
o/a jovem manteve conversas sobre a sexualidade,
observa-se que os rapazes falaram com mais pessoas
sobre a sexualidade (m=7,5; dp=16,7) que as raparigas
(m=4,5; dp=7,7; p<0,01). Observa-se que nas conversas
os rapazes forneceram mais opiniões (m=2,1; dp=0,89)
que as raparigas (m=1,9; dp=0,72; p<0,01).
O perfil do interlocutor com quem os rapazes conversam sobre a sexualidade corresponde a um amigo
(m=1,4; dp=1,2); do mesmo sexo (m=1,4; dp=0,49)
aproximadamente da mesma idade (m=1,8; dp=0,05);
aproximadamente semelhante (m=1,2; dp=0,44); próximo
socialmente (m=1,8; dp=0,05). O perfil do interlocutor
com quem as raparigas conversam sobre a sexualidade
corresponde a uma amiga (m=1,5; dp=1,2); do mesmo
sexo (m=1,2; dp=0,43) aproximadamente da mesma idade
(m=1,7; dp=0,53); aproximadamente semelhante (m=1,2;
dp=0,40); próximo socialmente (m=1,0; dp=0,17).
Os temas debatidos entre os 10 que foram apresentados aos jovens encontram-se descritos na tabela 3,
diferenciando por sexo. Observa-se que os temas menos
falados diferem entre sexos. No caso dos rapazes verifica-se que são a “Homossexualidade” e a “Gravidez”,
enquanto que nas raparigas são “Revistas… e temas
de pornografia” e “Homossexualidade”. No que respeita
aos assuntos mais falados, verificamos que, no caso
das raparigas, é “Namorar” e nos rapazes é “Relações
Sexuais”. Em ambos os sexos, o segundo tema mais
abordado é “Assuntos sobre o outro sexo”.
O tipo de experiência de relacionamento íntimo e
sexual está descrito na tabela 4. A distribuição dos sujeitos tendo em conta o sexo e a idade está apresentada
na Matriz de Comportamentos Íntimos e Sexuais e sua
distribuição quantitativa pelas diferentes idades do estudo
(Tabela 5). Desta tabela destacam-se os valores relativos
à experiência sexual coital tendo em conta a idade. Assim
aos 14 anos verificamos que 4,5% dos jovens tiveram
experiência sexuais coitais. Aos 15 anos 11,9%, aos 16
anos 22,2%, aos 17 anos 35,8% e finalmente aos 18
anos 52,4%. Pode ainda destacar-se que, relativamente
à experiência coital, é maior o número de raparigas que a
nega, havendo igualmente maior número de respondentes
do sexo feminino que assumem experiência sexual com
apenas um parceiro. Os rapazes referem mais vezes ter
tido relações sexuais com mais que uma pessoa.
O IPS, no nosso estudo, manifestou uma consistência interna de 0,86 (Alpha de Cronbach) para 8 itens do
Inventário de Atitudes Sexuais - Sexo Ocasional e Sem
Compromisso. Tratam-se 8 itens, baseados numa escala
de concordância em 7 pontos.
No sentido de se observar o comportamento atitudinal dos jovens da amostra, comparamos as diferenças
entre os sexos. Assim, os resultados demonstram que
os rapazes possuem uma atitude mais favorável face ao
sexo sem compromisso (m=0,62; dp=0,97) em comparação com as raparigas que preservam uma atitude mais
favorável face ao sexo com comprometimento afectivo
(m=-0,54; dp=0,64; p<0,001). Observa-se, entre os jovens
da nossa comunidade a adopção de um posicionamento
social face à sexualidade típico do Duplo Padrão (6,7,8),
o que significa que a representação da sexualidade é
diferenciada tendo em conta o género, suscitando assim duas posturas comportamentais relativamente à
sexualidade.
Relativamente à Utilização de Métodos Anticonceptivos, (Tabela 6), podemos verificar que 76,7% dos
inquiridos com experiência sexual coital utiliza sempre
métodos anticonceptivos. Na tabela 7 apresentamos os
tipo métodos anticonceptivos utilizado. Destacamos que
somente 64,8% (somando o preservativo + pílula e preservativo) dos sujeitos usam meios anticonceptivos que
previnem doenças sexualmente transmissíveis e gravidez.
No que toca à utilização de métodos anticonceptivos, a
percentagem de raparigas supera significativamente a dos
rapazes na utilização associada da pílula e do preservativo
(Tabela 8). Já a utilização isolada do preservativo adquire
proporções percentuais superiores nos rapazes.
Dos resultados explícitos na tabela 9 podemos verificar que as raparigas assumem um maior controlo das
relações sexuais. Isto reflecte-se tanto na comunicação
com o companheiro relativamente à vontade de não
consumar o coito e necessidade de usar um método
preventivo, como na interrupção do coito quando não
têm vontade.
Os resultados relativos às atitudes face ao preservativo estão descritos na tabela 10. Tendo em conta o
género dos sujeitos, verifica-se acordo no que se refere
à informação de que os preservativos “previnem as
doenças sexualmente transmissíveis” previnem a “SIDA”
e a “gravidez”. Consideram ainda em consenso que “são
fáceis de obter” são “baratos” e “simples e fáceis de utilizar”. Admitem que o preservativo poderá ser percebido
como “um jogo erótico” e reconhecem que “tem que
se saber usá-lo e pô-lo”. Há ainda acordo face à ideia
de que “não são naturais, são artificiais” mas que “não
interrompem o acto sexual”. Observa-se que os jovens,
de forma consensual, “não se sentem incomodados
nem culpados por andar com eles” e concordam com a
afirmação de que “que podem estar defeituosos”. Não
concordam que “diminuem o prazer” nem “rompem com
o romantismo da situação”, verificando-se no entanto
diferenças estatisticamente significativas entre rapazes
e raparigas, sendo os rapazes os que têm uma posição
menos favorável face ao preservativo.
Os resultados relativos às atitudes face à pílula anticonceptiva estão descritos na tabela 11. Face a este meio
anticonceptivo, verifica-se acordo entre os rapazes e as
raparigas que a pílula anticonceptiva “previne a gravidez”;
“não previne a SIDA nem outras doenças sexualmente
transmissíveis”; não permite ter relações sexuais com
várias pessoas sem correr riscos”. Verifica-se que os
jovens consideram que a utilização da pílula “tranquiliza
e dá segurança à relação”; ”são baratas” e “são fáceis
de obter”. Finalmente destacamos o facto de que sentem
que “não são embaraçosos, incómodos nem complicados
de usar” e por isso “não se sentem incomodadas nem
culpados por andar com elas” e “não se preocupam que
os encontrem em sua casa”. Observa-se que discordam
da ideia que as pílulas “fazem engordar”, havendo no
entanto diferenças estatisticamente significativas entre
rapazes e raparigas, sendo as raparigas quem menos
discorda. Em relação ao item “são simples e fáceis de
utilizar”, ambos os sexos estão de acordo, sendo no
entanto a posição das raparigas mais favorável. Ambos
os grupos concordam com o facto de que as pílulas têm
“contra-indicações”, em especial as raparigas. Finalmente,
face ao item “é inseguro, tenho dúvidas da sua eficácia”,
nota-se que os rapazes têm mais incertezas.
Face à pergunta “ Em geral, que risco tens em
contrair uma D.S.T.?” e sabendo que a escala estava
organizada entre (1) nada provável; (2) pouco provável;
(3) Algo provável; (4) Provável; (5) Bastante Provável;
(6) Muito Provável, os resultados indicam (Tabela 12), de
forma geral na amostra um risco médio de 2,7 (dp=1,4)
o que significa entre o pouco provável e o algo provável.
Tendo em conta o sexo dos respondentes obtivemos as
diferenças altamente significativas: os rapazes obtiveram
uma média de 2,8 (dp=1,4) e as raparigas 2,6 (dp=1,5;
p<0,001), o que indica que as raparigas estimam menor
risco de contrair uma DST do que os rapazes. Já clássica
nas investigações psicossociais da saúde é a associação
entre a estimação do risco pessoal para uma doença
e sua relação com o contacto social com o grupo ou
indivíduos portadores de determinada doença. No caso
do nosso estudo confirma-se essa tendência. De facto,
observamos que quanto mais os jovens conhecem um
sujeito portador de uma DST mais se estimam com risco
de DST (m=3,0; dp=1,4) em comparação com o grupo de
sujeitos que dizem não conhecer um doente com DST
(m=2,6; dp=1,4; p < 0,01). A mesma tendência não se
observa no que se refere ao contacto social com pares que
realizaram o ‘Teste da SIDA’. Os jovens que conhecem
pares que realizaram o ‘Teste da SIDA’ estimam o seu
risco em 2,7 (dp=1,3) e os que não conhecem também
em 2,7 (dp=1,5).
Os conhecimentos dos jovens relativamente às vias
de transmissão do Vírus de Imunodeficiência Humana
(VIH) estão apresentados na tabela 13,tendo em conta
o género dos sujeitos, o que permite desde logo inferir a
amostra em geral. Atendendo a que se trata de 12 itens,
atesta-se, pelos resultados, alguma homogeneidade da
amostra relativamente a conhecimentos e atitudes face à
SIDA. No entanto, no que respeita às falsas crenças de
contágio (como as lágrimas, picadas de mosquito e casas
de banho), bem como ao contágio através de seringas,
as raparigas revelam diferenças em relação aos rapazes,
emergindo dos resultados uma informação maior daquelas
sobre as vias de transmissão referidas.
DISCUSSÃO
Observa-se que quer os rapazes quer as raparigas
comunicam unicamente sobre temas da sexualidade com
os pares semelhantes em termos de género e idade.
Verifica-se que os rapazes possuem uma posição mais
activa, em termos de envolvimento pessoal nas conversas, que as raparigas.
No que se refere à percepção de controlo e planeamento das relações sexuais, observa-se que são os rapazes quem menos percepciona competências pessoais
de controlo e planeamento das relações sexuais. Deste
resultado destaca-se que são também as raparigas que
possuem uma atitude mais activa no que se refere ao
planeamento e prevenção.
As temáticas da sexualidade que mais necessitam
ser debatidas e aprofundadas são a questão da homossexualidade no que respeita a ambos os sexos, sendo
a questão da gravidez e reprodução um tema a ser
aprofundado nos rapazes. Este último tema é muito mais
frequentemente debatido entre as raparigas – deveremos
intervir evitando que o tema seja exclusivo das mulheres
desde cedo.
Observamos, relativamente à experiência sexual
coital, que ela está presente em 4,5% dos jovens de 14
anos, 11,9% dos jovens de 15 anos, 22,2% aos 16 anos,
35,8% aos 17 anos e 52,4% aos 18 anos.
No que respeita à utilização de meios anticonceptivos, dos 10,4% dos respondentes com experiência
em relacionamento íntimo incluindo relações sexuais
coitais, verifica-se que 75,1% dos jovens utiliza sempre
métodos anticonceptivos, 16,7% utiliza-os “às vezes” e
7,8% “nunca”; quase metade utiliza somente o preservativo (48%).
Comparando os valores obtidos neste trabalho com
resultados de um estudo sobre adolescentes portugueses
(17,18), verificamos uma discrepância no que concerne
à experiência sexual coital dos indivíduos na faixa etária
dos 15 anos (única faixa etária sobreponível): 11,9% na
nossa investigação e um valor de 21,8% na investigação
nacional referida.
Em relação ao número de indivíduos que não utiliza
sistematicamente um qualquer método anticonceptivo,
verificamos que tanto no nosso trabalho como no estudo nacional, corresponde a cerca de um quarto dos
inquiridos.
Quando se compara a percentagem de utilização
regular de contracepção, não notamos diferenças entre
os sexos, ao contrário da investigação atrás referida,
em que o sexo feminino apresenta uma maior taxa de
utilização (raparigas: 82,2% e rapazes: 71,6%).
Tanto neste trabalho como no estudo de âmbito nacional, a utilização do coito interrompido como método
anticonceptivo atinge valores superiores a 10% (11,9%
neste trabalho e 13,6% no estudo nacional). Estes
resultados apontam para a necessidade de reforçar a
informação sobre a falência do coito interrompido como
método anticonceptivo.
No que respeita às atitudes face ao preservativo e
pílula, verifica-se que os jovens inquiridos sabem que
ambos os métodos previnem a gravidez, e no que respeita ao preservativo têm consciência da necessidade
de saber como o colocar e usar correctamente. Sabem
que só o preservativo previne a SIDA e outras doenças
sexualmente transmissíveis e sabem que a pílula pode
ter contra-indicações.
Constatam-se algumas diferenças estatisticamente
significativas entre rapazes e raparigas em alguns aspectos, sendo as raparigas as que possuem mais esclarecimentos sobre a pílula e os rapazes os que têm uma posição
menos favorável face ao preservativo, pela possibilidade
de “interromper o romantismo da relação” e “diminuir o
prazer”. Verifica-se que ambos os meios contraceptivos
são considerados baratos e fáceis de obter.
Poderemos concluir que no que se refere ao uso
de preservativo e pílula, a informação fornecida pelas
campanhas de prevenção já conseguiu veicular as suas
indicações, cuidados de utilização, contra-indicações e
meios de obtenção.
As respostas obtidas e as diferenças estatisticamente
significativas encontradas entre sexos parecem apontar
para a necessidade de transmissão de conhecimentos
sobre a pílula aos rapazes, trabalhando as questões da
responsabilidade partilhada. Do mesmo modo, parece-nos
importante desmistificar algumas ideias pré-concebidas
sobre o preservativo, principalmente nos rapazes.
Os nossos jovens estimam um risco médio em contrair
uma DST e isso é corroborado pelos resultados favoráveis
à utilização de meios preventivos, sendo os rapazes
quem maior risco estima, quando em comparação com
as raparigas. Relativamente à SIDA, ressalta-se o facto
de haver muito pouca diferença entre os sexos face ao
conhecimento das vias de transmissão da mesma. A
proporção de falsas crenças sobre esta doença é baixa,
demonstrando que as campanhas desenvolvidas por
diferentes organizações e instituições têm conseguido
levar informação até aos nossos adolescentes.