Editorial
Editorial
Ângela Gaspar
Editor da RPIA
Caros Colegas,
Neste número da nossa revista começamos a publicar uma série de artigos sobre
anafi laxia, reacção de hipersensibilidade sistémica grave, com carácter
imediato e potencialmente fatal, cuja incidência tem vindo a aumentar nos
últimos anos, particularmente em idade pediátrica. A falta de reconhecimento e
a defi ciente abordagem desta emergência médica é preocupante e deve ser
colmatada. O tratamento de eleição de acordo com a evidência científica e os
guidelinesinternacionais, recentemente revistos pela WAO (World Allergy
Organization), é a adrenalina. Não obstante este facto bem documentado, a
ausência ou atraso na administração deste fármaco é inexplicavelmente
frequente, sendo factor de risco para anafi laxia bifásica, refractária e mesmo
letal. Salientamos a importância da promoção de formação médica contínua nesta
área, e da referenciação mais célere à especialidade de Imunoalergologia,
permitindo uma adequada abordagem diagnóstica e a instituição de estratégicas
de prevenção e de tratamento.
O primeiro artigo original representa um importantíssimo marco para a melhoria
do conhecimento epidemiológico da anafilaxia induzida por fármacos no nosso
país, sendo pela primeira vez publicados os resultados do registo nacional de
anafilaxia implementado pela SPAIC. Neste artigo são apresentadas as
notificações de anafilaxia a fármacos de 313 doentes, recebidas durante um
período de quatro anos (2007 a 2010). As principais causas de anafilaxia
induzida por fármacos foram os anti-inflamatórios não esteróides, os
antibióticos e os agentes anestésicos; outros fármacos implicados em menor
frequência foram os citostáticos, os corticosteróides, os inibidores da bomba
de protões, os meios de contraste iodados e as vacinas, entre outros. Contamos,
nos próximos números da RPIA, trazer-vos os resultados integrais do registo
nacional de anafilaxia implementado pela SPAIC, incluindo todas as notificações
de anafilaxia recebidas durante o referido período e respectiva análise
etiológica, um artigo de revisão sobre as particularidades da abordagem da
anafilaxia em idade pediátrica, desde o lactente ao adolescente, e as
experiências de alguns centros hospitalares.
Seguem-se dois artigos originais sobre asma, a que foram atribuídos prémios da
SPAIC, respectivamente Prémio SPAIC ' Bioportugal/ALK-Abelló 2011 (1.º Prémio)
e Prémio SPAIC ' AstraZeneca 2011 (2.º Prémio).
O segundo artigo original avalia o efeito da imunoterapia específica no
controlo da asma. Os autores estudaram 96 asmáticos em seguimento
especializado, por questionário clínico e ACT (Asthma Control Test), comparando
os doentes tratados com imunoterapia específica e farmacoterapia e os que
receberam apenas farmacoterapia, intuindo do benefício clínico de uma acção
imunomoduladora da imunoterapia específica.
O terceiro artigo original é dedicado ao estudo dos valores das adipocinas
produzidas pelo tecido adiposo ' resistina, adiponectina e leptina ' em doentes
com asma e excesso de peso. Foram incluídos 28 asmáticos com excesso de peso,
26 não asmáticos com excesso de peso e 26 asmáticos com peso normal, tendo os
autores encontrado um aumento dos níveis de leptina em asmáticos com excesso de
peso, mais evidente no sexo feminino, com potencial repercussão na persistência
da resposta inflamatória.
O quarto artigo original aborda o tratamento do angioedema hereditário,
patologia rara para a qual existe, ainda hoje em dia, desconhecimento por parte
da classe médica em geral. Este artigo reflecte a experiência do Serviço de
Imunoalergologia do Hospital de Santa Maria ' Centro Hospitalar Lisboa Norte
com a utilização de icatibant, antagonista selectivo dos receptores B2 da
bradicinina, no tratamento de crises graves de angioedema hereditário, numa
série de 9 doentes, concluindo da sua utilização eficaz e segura nesta
patologia.
O caso clínico deste número é de uma doente com alergia alimentar grave mediada
por IgE à semente de girassol.
Este caso destaca-se pela particularidade da doente apresentar anafilaxia ao
óleo de girassol, pois a maioria dos doentes com alergia a esta semente tolera
a pequena quantidade de proteína alergénica contida no óleo de girassol, o que
poderá ser explicado pela sensibilização a LTPs.
Gostaríamos ainda de contar com a vossa atenção para a rubrica dos Artigos
comentados e para a rubrica das Notícias, com destaque para um breve relato
sobre a XI Reunião da Primavera da SPAIC, evento de sucesso que decorreu em
Chaves no dia 24 de Março subordinado ao tema A asma começa na criança.
Para todos os sócios da SPAIC, é com grato prazer que no presente número da
RPIA procedemos à divulgação de um novo prémio promovido pela SPAIC, o prémio
da Sociedade Luso-Brasileira de Alergia e Imunologia Clínica (SLBAIC), que este
ano tem como finalidade estimular a pesquisa e difusão de conhecimentos
específicos sobre o tema Asma, sendo o prazo da candidatura o dia 30 de
Agosto de 2012. Aproveito para salientar que o prazo da candidatura aos
restantes prémios da SPAIC, no total de sete prémios, cujos regulamentos são
publicados na RPIA, é o próximo dia 31 de Julho.
Esperando contar para breve com a vossa contribuição para a RPIA, desejo a
todos uma profícua leitura dos artigos publicados.
Ângela Gaspar