Editorial
Editorial
Ângela Gaspar
Editor da RPIA
Caros Colegas,
No último número de 2012 da Revista Portuguesa de Imunoalergologia (RPIA),
trazemos-vos nas notícias um breve relato sobre a 33.ª Reunião Anual da
Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), que decorreu
em Fátima de 5 a 7 de Outubro e onde se inclui também a listagem dos prémios
SPAIC deste ano. Asma, Alergia e as Co-morbilidades foi o tema da reunião,
que de uma forma pioneira e, com o objectivo de estreitar relações com as
sociedades científi cas nacionais que fazem fronteira com a Imunoalergologia
e que, de alguma forma, estão envolvidas na abordagem da doença alérgica,
contou com a participação da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar
(APMGF), da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia (SPA), da Sociedade
Portuguesa de Cardiologia (SPC), da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia
(SPG), da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal
(SPOMMF), da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-
Facial (SPORL) e da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP).
No primeiro artigo original, publicamos um trabalho que avalia o benefício a
longo prazo da imunoterapia específica na rinoconjuntivite polínica, ao qual
foi atribuído o prémio SPAIC-Bioportugal / ALK-Abelló 2011. Trata-se de um
estudo de follow-up que avalia dois anos após a suspensão de imunoterapia, com
extracto de pólenes de gramíneas efectuada durante cinco anos por via
subcutânea, um grupo de 16 doentes com rinoconjuntivite persistente moderada a
grave.
Os autores demonstram a eficácia deste tratamento, com redução significativa
dos sintomas oculares e nasais, e do uso de medicação de alívio, quando
comparado com um grupo de controlo. O fornecimento regular de informações sobre
a contagem de pólenes aos doentes, no âmbito da Rede Portuguesa de
Aerobiologia, revelou-se igualmente importante para o auto-controlo da doença e
para a melhoria da qualidade de vida.
O segundo artigo original retrata a experiência do Serviço de Imunoalergologia
do Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte, no tratamento da
asma alérgica grave com o omalizumab. Trata-se de uma análise retrospectiva de
23 doentes, em que os autores avaliaram às 16 semanas e aos 6 meses de
tratamento, vários parâmetros clínicos, incluindo controlo da asma através do
Asthma Control Test (ACT), e funcionais respiratórios. O omalizumab revelou'se
eficaz como terapêutica adicional nestes doentes com asma alérgica grave não
controlada, ocorrendo melhoria clínica em todos os doentes, permitindo a
suspensão dos corticosteróides orais, e em 78% melhoria dos parâmetros
funcionais respiratórios.
No terceiro artigo original, os autores avaliam a frequência de
hipersensibilidade a anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) em doentes
asmáticos com idade pediátrica. Em 111 crianças com idades compreendidas entre
6 e 17 anos, com prova de broncodilatação positiva, foi aplicado um inquérito
telefónico para questionar sobre a existência de reacções adversas a fármacos.
A hipersensibilidade a AINEs revelou-se frequente, sendo descrita em 9 doentes
(8%). Em todas as crianças o ibuprofeno foi o fármaco implicado, e a primeira
reacção ocorreu antes dos 10 anos de idade, sendo o paracetamol usado em
alternativa.
O quarto artigo original é um trabalho realizado por colegas brasileiros que
avalia a frequência de sensibilização à penicilina G em adolescentes com febre
reumática. O diagnóstico incorrecto de alergia à penicilina nestes doentes
exclui uma opção terapêutica de elevada eficácia e baixo custo. Trata-se de um
estudo transversal realizado em 75 doentes entre 12 e 19 anos, aos quais foi
aplicado um questionário com dados sobre hipersensibilidade imediata à
penicilina e realizados testes cutâneos por picada e intradérmicos com
penicilina G potássica. A frequência de sensibilização à penicilina G foi de
8%. A realização de testes cutâneos com penicilina G mostrou ser um método
diagnóstico de elevado valor preditivo negativo, de baixo custo e de extrema
importância para a avaliação destes doentes, principalmente em países como o
Brasil, onde actualmente não existem disponíveis outros reagentes para o estudo
destes casos.
O caso clínico publicado visa alertar que apesar do paracetamol ser considerado
de forma geral um fármaco seguro, as reacções alérgicas muito embora raras,
podem ocorrer e, podem ser potencialmente graves. Os autores apresentam o caso
de um rapaz de 8 anos em investigação por múltiplos episódios de anafilaxia,
onde foi confirmada a alergia ao paracetamol pela realização de prova de
provocação oral com este fármaco, que foi positiva. Os testes cutâneos, o
doseamento de IgE específica sérica e o teste de activação de basófilos com
paracetamol foram negativos.
Na rubrica AllergYmage apresentam-se imagens radiológicas relativamente pouco
frequentes e atribuíveis a síndrome de Kartagener ' tríade de situs inversus
torácico, bronquiectasias e sinusite ' sugestivas de discinesia ciliar
primária.
Como Editor da RPIA queria expressar o meu reconhecimento aos colegas abaixo
indicados, que contribuíram ao longo deste ano de 2012 com os seus comentários
para a rubrica Artigos Comentados: Diana Silva, Filipa Ribeiro, Helena Pité,
João Antunes, José Geraldo Dias, Marta Chambel, Natacha Santos e Patrícia
Barreira. Quero ainda agradecer aos colegas Carlos Lozoya e Luís Miguel Borrego
pela sua colaboração com a RPIA na função de coordenadores desta rubrica.
De igual forma, como Editor da RPIA, muito agradeço a colaboração dos vários
colegas que se disponibilizaram para efectuar as revisões científicas dos
vários trabalhos que nos foram submetidos para publicação e que muito têm
contribuído para o aumento da qualidade das nossas publicações. O trabalho dos
revisores científicos é absolutamente vital como garantia de qualidade e, no
caso da RPIA, esse trabalho, aliado a uma vertente pedagógica, tem sido
imprescindível e merecedor do nosso reconhecimento e gratidão. Aos colegas
indicados o meu agradecimento: Alice Coimbra, Amélia Spínola Santos, Anabela
Lopes, André Moreira, Carlos Nunes, Cristina Santa Marta, Elisa Pedro, Elza
Tomaz, Emília Faria, Eva Gomes, Isabel Carrapatoso, João Almeida Fonseca, José
Ferreira, Josefina Rodrigues Cernadas, Mário Morais de Almeida, Paula Leiria
Pinto, Rita Câmara, Rodrigo Rodrigues Alves e Susana Lopes da Silva. Quero
ainda agradecer ao colega Luís Miguel Borrego pela sua colaboração com a RPIA
na função de revisor das retroversões para o inglês, contribuindo para a
melhoria dos textos em língua inglesa.
Agradeço ainda a todos os autores que nos confiaram os seus trabalhos para
publicação e cuja listagem publicamos nos índices de 2012 no final deste
número. Espero que tenham gostado de ver o fruto do vosso trabalho nas páginas
desta revista que é de todos nós.
A todos, o meu muito obrigada.
Boas Festas, Bom Ano.
Ângela Gaspar