Grande Prematuridade: Nutrição e Crescimento
Grande Prematuridade: Nutrição e Crescimento
Maria Luísa Carreira1
1Serviço de Neonatologia - MJD/CHP
Avaliação do crescimento e dados da literatura ' O crescimento de RN pré-termos
deve ser avaliado mediante as medidas antropométricas peso(P), comprimento(C)e
perímetro cefálico(PC), periodicamente, numa perspectiva dinâmica.
É discutível qual a melhor maneira de avaliar o crescimento. As curvas mais
utilizadas são as curvas padrão CDC/ NCHS-2000, usando a idade corrigida até
aos 2-2,5 anos. Existem curvas próprias para RN pré-termos, como as tabelas
IHDP, que podem identificar mais correctamente os problemas de crescimento no
subgrupo dos RN EBP nos primeiros 2 anos.
A avaliação dinâmica do crescimento permite obter a velocidade de crescimento e
verificar se as curvas estão paralelas ou em recuperação progressiva para o
normal, ou, pelo contrário, em achatamento ou padrão descendente.
É também importante a relação peso/comprimento nos primeiros 3 anos, e o IMC
(índice de massa corporal) a partir dessa idade, para concluir se há
proporcionalidade e harmonia do crescimento.
O catch up do crescimento de pré-termos varia com a antropometria ao nascer, a
IG e o tamanho parental. Os primeiros 3 meses após o termo representam um
período crítico para a ocorrência de catch up, cuja sequência é PC, C e P. É de
esperar que o PC recupere para o anormal aos 12-18 meses e que o P e o C pelos
30-36 meses, excepto para os pré-termos EBP, de recuperação mais tardia.
Têm surgido variados estudos longitudinais que acompanham o crescimento dos RN
pré-termos nos primeiros anos de vida, idade escolar, adolescência e,
recentemente, até jovens adultos.
No grupo de pré-termos EBP a velocidade de crescimento diminui até aos 3 meses
de idade corrigida e sofre depois um aumento gradual até à adolescência. Assim,
durante a infância, geralmente permanecem menores em P e C relativamente às
crianças de termo, podendo experimentar depois uma recuperação entre os 8 e 14
anos e completar o seu crescimento compensatório até ao início da idade adulta.
Os dados disponíveis a este respeito não são concordantes. Nalguns trabalhos
verificou-se que estes jovens adultos mantinham antropometria bastante abaixo
da de indivíduos com PN normal e uma altura final significativamente menor que a
previsível pela altura parental. Noutros estudos os resultados foram mais
animadores, com atingimento, a partir dos 14 anos, de uma estatura na faixa da
normalidade e em correlação com a estatura dos pais, embora em média mantenham
estatura e peso abaixo dos grupos controle.
De entre os pré-termos de maior risco para falência do crescimento contam-se
aqueles que evoluem para displasia broncopulmonar (DBP), por vários motivos:
aumento do trabalho respiratório, hipoxemia, eventual uso de corticoides
pósnatal, restrição hídrica e dificuldades na alimentação e elevada morbilidade
com frequentes reInternamentos. Curiosamente, muitos estudos, após controlo das
variáveis de confusão, não evidenciam diferenças no crescimento de pré-termos
com e sem DBP nas idades préescolar e escolar.
No caso particular de RN MBP leves para a idade gestacional (LIG) a evolução
varia segundo a etiologia da restrição de crescimento intrauterino (RCIU), e é
maior a probabilidade de nunca se alcançar um crescimento normal para a idade
cronológica, independentemente das complicações perinatais. O prognóstico é
ainda pior nos LIG simétricos, sobretudo se a recuperação não ocorrer nos
primeiros 2 anos de vida.
Estratégias nutricionais ' De entre os factores que influenciam o crescimento,
o padrão nutricional após a alta é fundamental, já que é passível da nossa
intervenção.
As necessidades nutricionais de lactentes pré-termos nos primeiros meses de
vida, excedem as do RN de termo, o que pode manter-se ao longo de todo o
primeiro ano de vida.
O leite materno fortificado é a opção acertada, com os conhecidos benefícios
para a saúde e cognição. Em alternativa podem usar-se fórmulas adequadas a pré-
termos ou ainda fórmulas especiais pós alta.
A ingestão calórica deve ser aumentada, conforme a tolerância, até o ganho
ponderal ser satisfatório. Pode ser necessário o aumento da concentração
calórica em grupos de especial risco, através da suplementação com
carbohidratos e gorduras.
Recentemente, vários estudos têm alertado para a associação de um rápido e
excessivo ganho ponderal pós natal dos pré-termos com um maior risco de
obesidade na infância e na idade adulta, bem como de HTA, resistência à
insulina e de doença cardiovascular.
O programa nutricional deve pois fornecer o teor calórico que permita optimizar
o crescimento, mantendo, no entanto, uma relação peso/comprimento dentro dos
limites normais.