Diabetes Mellitus tipo 1 que passos para a cura?
Diabetes Mellitus tipo 1 que passos para a cura?
Catarina Limbert1
1Unid. Endocrinologia e Diabetes Infantil, Hospital Dona Estefânia
A Diabetes Mellitus é uma doença de elevada e crescente incidência com um
grande impacto socioeconómico (1). As terapêuticas actualmente disponíveis,
destinadas à normalização da glicémia, se bem que razoavelmente eficazes e
largamente utilizadas, são exclusivamente sintomáticas. Surge pois a
necessidade de actuar no primum movens da doença, com uma finalidade curativa.
Tudo indica, pelas experiências dos últimos 10 anos que será possível, num
futuro não muito longínquo alcançar a cura da diabetes tipo 1 (DT1). Esta irá
depender de estratégias baseadas em terapias celulares seja de transplante de
células ou regeneração celular do pâncreas bem como de tratamentos
imunomoduladores,fundamentais para o controlo da autoimunidade.
O transplante de ilhéus pancreáticos humanosdemonstrou que a insulino-
independência prolongada com normalização da glicémia pode ser alcançada em
doentes com DT1.No entanto, esta forma de terapêutica celular apresenta grandes
limitações devidas à escassez de órgãos de dadores, à necessidade de
imunosupressão crónica nestes doentes, para além de que o tempo de
sobrevivência do enxerto é apenas de 3 anos (2).
Assim, fontes alternativas de células produtoras de insulina têm sido
intensamente investigadas nos últimos anos. Estudos de diferenciação decélulas
estaminais embrionárias e células estaminais adultasde origem pancreática ou
extra-pancreática, em tipos celulares semelhantes às células beta do ilhéu de
Langerhans mostraram-se bastante encorajadores (3). Técnicas recentes de
reprogramação celular in vitro permitiram já gerar, a partir de células
somáticas, células pluritipotentes (iPS)(4). Estas podem ser induzidas em
células diferenciadas de múltiplos tecidos, incluindo células insulínicas (5).
Contudo, as células geradas até à data, carecem ainda de características
importantes das células β maduras, nomeadamente a secreção adequada de insulina
em resposta ao estímulo da glicose. Além do mais, muitas destas células
reprogramadas podem conduzir ao aparecimento de tumores quando transplantadas
em ratinhos diabéticos (3).
A regeneração de células do pâncreas endócrino na DT1, tornou-se num desafio. A
descoberta de inúmeros factores e biomoléculas com efeito trófico na massa de
células beta constitui um grande avanço científico. São exemplos a
nicotinamida, betacelulina, a gastrina, a exendina e outros agonistas dos
receptores da glucacon-like-peptide 1 (GLP-1) podendo, alguns deles, vir a ser
associado ao tratamento da diabetes tipo1(6).
Não devemos no entanto esquecer que a Diabetes tipo 1 é, acima de tudo, uma
doença imunológica. As mais recentes correntes de investigação, defendem que a
causa primária da destruição da célula beta, está na perda da tolerância
imunológica. Esta traduz-se num desequilíbrio entre populações de células T
reguladoras e células T citotóxicas, associado à libertação inapropriada de
citoquinas pro-inflamatórias e anti-inflamatórias cujo papel na manutenção do
balanço imunológico é fundamental (7).
Inúmeros estudos em modelos animais de DT1, bem como ensaios clínicos
utilizando terapêuticas com Ac anti CD20, anti CD3, anti IL1, em doentes
diabéticos estão actualmente em curso (8).
Não restam dúvidas, de que a implementação real e eficaz de novas terapias para
o tratamento da Diabetes, bem como de outras doenças degenerativas, dependerá
dos esforços conjuntos da investigação básica e de uma nova área médica,
translaccional, a Medicina Regenerativa.