Efeito do envelhecimento cronológico na função pulmonar: Comparação da função
respiratória entre adultos e idosos saudáveis
Introdução
O aumento da proporção de idosos na população ocorre em todo o mundo, com mais
evidência nuns países do que noutros, acarretando um aumento dos custos e
gastos médico-sociais, criando problemas sociais, políticos e económicos.
O envelhecimento é um processo múltiplo e complexo de contínuas mudanças no
domínio biopsicossocial ao longo da vida, desde a concepção à morte, segundo
alguns autores
1-3
, ou após o término da fase de desenvolvimento e estabilização (fim da segunda
década de vida), segundo outros4.
Do ponto de vista biológico, o processo de envelhecimento é normalmente mais
rápido do que o cronológico; no entanto, por ausência de marcadores
biofisiológicos, a idade cronológica será a referência neste estudo.
Pensa-se que o sistema respiratório seja o sistema do organismo que envelhece
mais rapidamente devido à maior exposição a poluentes ambientais ao longo dos
anos5. As mudanças que ocorrem a este nível são clinicamente relevantes porque
a deterioração da função pulmonar está associada ao aumento da taxa de
mortalidade e, além disso, o conhecimento das mesmas contribui para a detecção
e prevenção de disfunções respiratórias em idosos.
Com o envelhecimento biológico, a morfologia da parede torácica sofre várias
alterações conducentes ao tórax senil e, consequentemente, ao pulmão senil.
Ide6 afirma que a perda de elasticidade é a alteração estrutural predominante
no idoso, ocorrendo ainda o aumento da compliancepulmonar, que, no entanto, não
consegue compensar a diminuição da compliancepulmonar. Os bronquíolos tornam-se
menos resistentes, facilitando o colapso expiratório. A diminuição do número de
alvéolos, devido à ruptura dos septos interalveolares e consequente fusão
alveolar, é também evidente, condicionando diminuição da superfície total
respiratória
6,7
, aumento do volume residual e compliancepulmonar.
A função pulmonar é afectada pelas alterações referidas, com deterioração das
medidas estáticas e dinâmicas7. A capacidade vital (CV) sofre, geralmente, uma
redução de quase 25% ou 40%, segundo alguns autores1-2,5-6, a porção inicial da
expiração (DEMI) permanece praticamente constante ou sofre apenas uma ligeira
diminuição6, o volume expiratório máximo ao primeiro segundo (VEMS) diminui
claramente a uma taxa que depende do género e da idade8 e a razão VEMS/CVF
(índice de Tiffeneau) cai progressivamente com o aumento da idade, estimando-se
73% aos 65 anos5 (já que o declínio da capacidade vital forçada (CVF) com a
idade é um pouco menor do que o declínio do VEMS). Mais acentuadamente que
qualquer outro parâmetro, a ventilação máxima voluntária (VMV) diminui6.
As alterações corporais, ditadas pelo avançar dos anos, provocam alterações
pulmonares e, portanto, é importante serem avaliadas. O peso corporal e a
estatura sofrem alterações que acompanham o envelhecimento e que condicionam a
performancerespiratória do idoso: a diminuição da altura5, a substituição do
músculo por tecido adiposo, sobretudo à volta do perímetro abdominal
9-12
, as mudanças do IMC (índice de massa corporal) (kg/m2)9-12. Além disso, a
malnutrição frequentemente conduz à fraqueza dos músculos respiratória e
músculos mais susceptíveis a fadiga e, portanto, a alterações na mecânica
pulmonar.
Estudos provam5 que também o género influencia o envelhecimento pulmonar. Além
disso, a incidência de factores que influenciam a função pulmonar e o processo
de envelhecimento é diferente consoante o género.
O sistema pulmonar também afecta e é afectado pela imobilidade. Estudos
comprovam5 que idosos que realizam exercício físico apresentam melhor
capacidade funcional (CPT, VMV e CV maiores) do que idosos sedentários. Achados
relacionados a parâmetros espirométricos revelam que a prática de actividade
física regular pode retardar o declínio da função pulmonar relacionada com o
envelhecimento6,13.
Alterações pulmonares nos idosos podem também ser resultado de patologias a
outro nível. Doenças cardiovasculares, deformações ósseas do tórax, doenças
articulares, lesões do sistema nervoso central e periférico e também cirurgias
abdominais e torácicas podem ter como complicação clinicofuncional desordens
pulmonares. Ainda perturbações metabólicas, como acidose, diabetes mellituse
uremia, podem ter como complicação alterações pulmonares. Estas doenças e as
pulmonares, mesmo as antigas, fazem com que as alterações degenerativas do
sistema respiratório adquiram maior expressividade.
Sendo, portanto, o processo de envelhecimento resultado da interacção entre
múltiplas influências externas e internas, é necessário distinguir entre os
efeitos inerentes ao próprio envelhecimento e os efeitos aditivos de
influências externas, que o antecipam ou retardam. Quando é avaliada a função
pulmonar do idoso torna-se, assim, necessário discriminar o que é causa do
envelhecimento biológico (senescência), a causa patológica (senilidade), ou
determinado por outros factores não patológico, as tais influências externas,
ou se se trata de uma associação.
O objectivo desta pesquisa é avaliar, através de um estudo experimental
prospectivo e transversal, o impacto da idade cronológica na função
respiratória. Para isso, foram analisadas as diferenças da CVF, VEMS, DEMI,
DEM25-75 e VMV e da expansibilidade torácica, em indivíduos jovens adultos e em
idosos saudáveis. A hipótese de investigação é: a idade influencia a função
respiratória, ou seja, as variáveis espirométricas e a medida de
expansibilidade torácica diminuem com o avançar da idade.
Material e métodos
População e amostra
Deste estudo fazem parte indivíduos do género masculino e feminino, não
fumadores, com idades compreendidas entre os 20 (idade limite de amadurecimento
do sistema respiratório segundo James Goodwin14) e 45 anos (para uma melhor
comparação com estudos análogos anteriormente realizados) e superior a 65 anos
(limite de idade da definição de idoso segundo a OMS), formando assim dois
grupos, os jovens adultos e os idosos saudáveis, respectivamente. No grupo dos
idosos, 15 são do género masculino e 20 do feminino.
No grupo dos jovens adultos, 16 são do género masculino e 19 do feminino.
Relativamente ao conceito saudável usado, o mesmo adquire neste estudo um
significado ligeiramente diferente do definido pela OMS (bem-estar físico,
psíquico e social, acrescentando-se a autonomia e a independência como bons
indicadores de saúde na população idosa). No âmbito do presente estudo,
pretendendo conclusões fidedignas, considerou-se idoso saudável aquele livre,
não só de patologia pulmonar, mas também de patologia cardiovascular,
osteomioarticular e neural, doenças metabólicas, por estas, mesmo sob controlo
terapêutico, poderem ter complicação clinicofuncional pulmonar. Em relação às
demais patologias, estas podiam existir, desde que não causassem dependência
funcional no indivíduo e não acelerassem as alterações degenerativas
pulmonares. Estes critérios de saúde estenderam-se também aos indivíduos jovens
do estudo.
Método
Com o objectivo de seleccionar os indivíduos para constituição dos grupos a
estudar, os mesmos foram submetidos a um questionário (Anexo_I) de forma a
avaliar a sua história clínica (forma simplificada), inquiri-los sobre os seus
dados pessoais, hábitos/estilo de vida, história familiar e, assim, incluí-los
ou excluí-los do estudo, de acordo com as variáveis já descritas como
parasitas do processo de envelhecimento e função pulmonar. O questionário
referido não requereu validação, em virtude de se destinar apenas ao
enquadramento dos indivíduos na pesquisa.
Após verificar o perfeito enquadramento dos sujeitos nos critérios de inclusão
através da análise do questionário, os mesmos realizaram espirometria
(cumprindo o protocolo padronizado pela American Thoracic Society15 e
respeitando todos os critérios de aceitabilidade e reprodutibilidade) e
cirtometria (avaliação da expansibilidade torácica). O espirómetro usado foi o
espirómetro portátil da Micromedical ' Microlab V1.234.
Análise estatística
Os parâmetros espirométricos (CVF, VEMS, DEMI, DEM25-75, VMV) e a
expansibilidade torácica foram estudados nos dois grupos, separadamente por
género, ou seja, os jovens masculinos foram comparados, relativamente a estes
parâmetros, com os idosos também do género masculino, e os jovens do género
feminino com os idosos do mesmo género. A análise estatística foi efectuada com
o programa Statistical Package for Social Sciences ' versão 12.0 (SPSS). A
comparação da CVF e da VMV entre os dois grupos (jovens adultos e idosos) no
género masculino, foi realizada com o teste não paramétrico Mann-Whitney, por a
sua distribuição não ser normal. Utilizou-se este teste para verificar se, no
género masculino, a distribuição das variáveis espirométricas referidas é
diferente no grupo dos idosos e dos jovens. As restantes variáveis
espirométricas e a medida de expansibilidade torácica, por seguirem
distribuições normais, foram comparadas entre cada um dos grupos, para cada um
dos géneros, recorrendo ao teste tde Studentpara amostras independentes. A
comparação da CVF e da VMV entre idosos e jovens do género feminino foi também
realizada recorrendo ao mesmo teste paramétrico. Utilizou-se este teste
estatístico para avaliar se a média de cada parâmetro na população dos jovens é
superior à média do mesmo parâmetro na população dos idosos, separadamente por
géneros. Foi, ainda, avaliada a existência de relação linear significativa
entre a idade e cada um dos parâmetros espirométricos estudados e a medida de
expansibilidade torácica, e nos casos afirmativos a natureza e grau da
correlação existente.
As mesmas variáveis forma expressas em média±desvio-padrão, nos diferentes
grupos e para ambos géneros. Para este estudo foi considerado estatisticamente
significativo o valor p<0,05.
Questões éticas
Os padrões éticos segundo a Declaração de Helsínquia (Edimburgo 2000)16 foram,
neste projecto de investigação, seguidos rigorosamente.
Os indivíduos que participaram no estudo tiveram conhecimento do mesmo:
objectivos e procedimentos foram-lhe comunicados verbalmente e por escrito
(Anexo_II), após o qual, mediante o seu acordo, assinaram o consentimento de
participarem no mesmo (Anexo_III). O estudo obedeceu deontologicamente a todos
os cuidados de sigilo, bem como a preservação de nomes e dados referentes a
cada interveniente, não existindo, desta forma, qualquer risco acrescido para
os indivíduos em questão.
Resultados
Do estudo fizeram parte um total de 70 indivíduos, dos quais 35 são idosos
(50%) e 35 jovens adultos (50%). Dos 35 idosos, 20 eram do género feminino
(57%) e 15 do género masculino (43%). Dos 35 jovens adultos, 19 eram do género
feminino (54%) e 16 do masculino (46%). Todos os indivíduos realizaram
espirometria e cirtometria, o que ocorreu durante os meses de Outubro e
Novembro de 2007.
O Quadro I mostra as características basais das duas amostras separadamente por
género, relativamente à idade, à altura, ao peso corporal, IMC e aos perímetro
abdominal (PA).
Globalmente, independentemente dos géneros, a média das idades no grupo dos
jovens adultos foi de 27,77±7,79 (a idade variou entre 20 e 45) e no grupo dos
idosos foi de 76,97±7,71 (a idade variou entre 65 e 99). A média das idades no
grupo dos jovens adultos para o género masculino foi de 27,38±7,52 (a idade
variou entre 20 e 44) e para o género feminino de 28,11±8,14 (a idade variou
entre 21 e 45); no grupo dos idosos, a média das idades no género masculino foi
de 74,47±5,78 (a idade variou entre 65 e 85) e no género feminino de 78,85±8,54
(a idade variou entre 65 e 99).
No Quadro II encontram-se a média e desvio-padrão das variáveis espirométricas
estudadas e da medida de expansibilidade torácica, para cada uma das amostras,
separadamente por género.
Quadro_II -
Descrição das variáveis espirométricas e da medida de expansibilidade torácica
ajustada por idade e género
Os estudos efectuados demonstraram que a diferença entre a distribuição da
variável VMV e a CVF dos indivíduos masculinos, para os dois grupos estudados,
foi significativa com p<0,05. A diferença entre as médias das mesmas variáveis
foi significativa, para o nível de significância considerado, entre as mulheres
dos dois grupos. A diferença da média do VEMS, do DEMI e do DEM25-75 dos homens
e das mulheres, para os dois grupos etários, foi, para o nível de significância
do estudo, considerada estatisticamente significativa.
Em relação à medida de expansibilidade torácica, a diferença entre a sua média
nos dois grupos foi também estatisticamente significativa, para ambos os
géneros.
No Quadro III estão expressos os coeficientes de determinação (R2), em %,
existentes na relação linear significativa inversa encontrada entre a idade e
todas as variáveis em estudo, em ambos os géneros.
Quadro_III -
Correlação entre a idade e as medidas espirométricas e de expansibilidade
torácica
Para definição das abreviaturas, ver Quadro_II
Discussão e conclusão
Os resultados mostraram que houve diferença do padrão respiratório entre idosos
e jovens saudáveis, sugerindo que o processo de envelhecimento do sistema
respiratório na população estudada provocou grande impacto nos parâmetros
analisados.
A literatura aponta, em geral, para uma deterioração das medidas estáticas e
dinâmicas da função pulmonar com a idade. De facto, também este estudo revelou
uma relação linear inversa significativa entre a idade e os parâmetros
pulmonares avaliados: estima-se que o aumento da idade conduza a uma diminuição
das medidas avaliadas (VEMS, CVF, DEMI, DEM25-75, VMV e expansibilidade
torácica).
Os testes estatísticos aplicados, teste Mann Whitney e teste tde Studentpara
amostras independentes, revelaram diferenças pulmonares entre os dois grupos
etários. No entanto, considerando relação linear forte R2> 70%, normalmente
assim considerado em ciências da saúde, os resultados (Quadro_III) demonstram a
existência de relação linear fraca entre as variáveis. Estimou-se que a
variabilidade da idade explica, em média, cerca de 20-30% (média de 28%) da
variabilidade dos parâmetros espirométricos, no género feminino. Já a
expansibilidade torácica no mesmo género, revelou correlação com a idade na
ordem dos 60%, correlação mais forte encontrada, muito próxima do limite mínimo
de 70% referido. No género masculino, esta relação foi apenas de cerca de 46%.
Ainda assim, estes resultados comprovam a rigidez torácica referida como
acompanhante do envelhecimento, mas de forma desigual, entre os géneros.
Quanto a outros trabalhos realizados, salienta-se o efectuado por Belini(5), no
qual se avaliou a força muscular respiratória em idosos submetidos a dois
protocolos de cinesioterapia respiratória. Neste estudo foi referido que a
expansibilidade torácica é maior em homens do que em mulheres e que o valor
esperado num homem adulto normal é de cerca de 5 cm e de 2,5 cm ou mais em
indivíduos do género feminino; afirmava ainda que a mesma aumenta dos 11 aos 34
anos, a partir do qual começa a decair lentamente até cerca de 2,5 em
indivíduos maiores de 74 anos. No presente estudo, no entanto, no género
feminino os indivíduos jovens apresentaram expansibilidade torácica superior ao
dos indivíduos masculinos, da mesma faixa etária. Já a favor deste estudo está
a média deste parâmetro aumentada nos idosos masculinos em comparação com a das
mulheres (2,60 e 1,80 respectivamente). O declínio da expansibilidade torácica
com a idade foi maior entre indivíduos do género feminino (a diferença entre os
grupos no género feminino foi de 4,99 e de 3,34 no masculino).
A diminuição da expansibilidade torácica encontrada explica assim, em parte, a
redução da CVF também confirmada neste estudo, já que esta é índice da
capacidade de distensão do sistema toracopulmonar (e, também, resultado da
força muscular respiratória, não avaliada neste estudo, mas que se prevê
diminuir com a idade cronológica). A redução foi de 28,41% no género feminino.
Esta diferença média entre jovens adultos e idosos do valor de CVF está de
acordo com o definido por Couto4, ainda que a mesma diferença seja menor nos
indivíduos homens (18,09%). Ide6, no seu estudo, defendia que as mulheres
apresentam uma capacidade vital menor em relação à idade (e altura); no
entanto, constatámos isso apenas no grupo dos idosos. Defendeu ainda que o
declínio da capacidade vital era semelhante em homens e mulheres, embora
tenhamos assistido a uma diferença de mais de 10% entre os géneros. A relação
linear inversa estimada entre a idade e este parâmetro da mecânica pulmonar foi
mais fraca no género masculino do que no feminino (uma diferença de 8,85% entre
os géneros).
No presente estudo, verificou-se uma diminuição média de 30,44% do VEMS nos
idosos femininos em relação aos seus semelhantes jovens adultos.
Esta descida foi apenas de 19,63% nos homens idosos. Também este parâmetro se
revelou mais correlacionado inversamente com a idade no género feminino (cerca
de 25% contra 16% no género masculino). Estas alterações comprovam a obstrução
nas vias aéreas típica dos idosos.
Dos resultados alcançados nas amostras, verificou-se que o DEMI diminuiu com a
idade em ambos os géneros, compatível com a diminuição da expansibilidade
torácica (o mesmo será dizer, com o aumento da rigidez torácica) e com a
diminuição do VEMS (ou seja, com a diminuição da sua compliance). A diminuição
deste parâmetro (valor espirométrico mais dependente da colaboração do
individuo) é muito semelhante em ambos os géneros (35,77% e 36,17% no género
feminino e masculino, respectivamente), o que provavelmente exclui a não
colaboração dos indivíduos como factor de influência nos resultados. Também o
grau de correlação do DEMI com a idade é aproximadamente igual em ambos os
géneros. Este parâmetro foi a variável espirométrica que demonstrou maior
diferença entre os grupos, em ambos os géneros, o que não vai de encontro à
estabilização ou apenas ligeira redução defendida por Ide6. A redução do DEM25-
75 foi aproximadamente de 30%, quer nos homens idosos quer nas mulheres da
mesma faixa etária, sendo a correlação com a idade ligeiramente maior no género
masculino. Estes resultados comprovam, mais uma vez, a diminuição do diâmetro
médio das pequenas vias aéreas respiratórias.
Obtivemos uma VMV superior no grupo dos jovens adultos em relação aos idosos em
ambos os géneros. Um aumento da idade provoca, então, uma diminuição da
ventilação máxima voluntária. A determinação da variabilidade da VMV em
detrimento da variabilidade da idade é maior nos indivíduos femininos, ainda
que em ambos os géneros a correlação não seja muito forte, como foi referido
(28,09% e 24,21% para o género feminino e masculino, respectivamente). A
redução referida, superior no género feminino, é compatível com a diminuição da
compliancetorácica, que, em parte, lhe deu origem e é muito aproximada à
redução de 30% defendida por Ide6 (32,39% e 18,56% no género feminino e
masculino, respectivamente).
No presente estudo, o género feminino, em geral, apresentou as medidas
estáticas e dinâmicas da função pulmonar mais deterioradas com a idade e mais
correlacionadas com a mesma: a correlação média dos parâmetros espirométricos
foi, no género feminino, de 25,62%, e de 22,45% no género masculino (diferença
média de 3,17%). As reduções médias dos parâmetros espirométricos entre as duas
amostras foram de 32,24% e 24,77% no género feminino e masculino,
respectivamente. Também em relação à expansibilidade torácica, a correlação com
a idade foi em maior grau no género feminino, tal como a diferença entre as
duas amostras. Estas diferenças entre os indivíduos masculinos e femininos,
embora não muito elevadas, apontam para uma influência do género no processo
degenerativo da função pulmonar. A mesma era já conhecida aquando do início da
realização do estudo, daí se ter optado pela divisão da amostra em géneros. No
entanto, opostamente ao que o trabalho realizado evidencia, outros autores
afirmam
2,5-6
uma pior performancerespiratória nos idosos masculinos. O IMC, com média
ligeiramente superior nos idosos do género feminino, embora pudesse de facto
ter influenciado os resultados, pensa-se não ser suficiente para explicar esta
diferença encontrada entre os géneros. O efeito também não terá sido do
perímetro abdominal, por este, no grupo dos idoso, ser muito semelhante nos
dois géneros. A média do peso corporal ligeiramente maior nos idosos masculinos
poderia determinar diferenças entre os géneros, mas no sentido contrário ao
verificado. A diferença da média das idades entre os idosos de ambos os géneros
é de 4,38±2,76 anos, com média superior nos idosos do género feminino, o que
poderia então explicar a diferença entre os géneros. No entanto, se, segundo
Ide6, os homens idosos saudáveis têm perda na função pulmonar numa taxa mais
rápida, em termos absolutos, quando comparados com as mulheres idosas
saudáveis, mesmo com esta diferença média de idade entre os géneros seria
esperada uma deterioração pulmonar semelhante entre os géneros ou até
ligeiramente maior no género masculino. Provavelmente, estes resultados devem-
se ao facto de a média das alturas dos homens ser superior à média das alturas
das mulheres (diferença de cerca de 10 cm entre os géneros; maior diferença
encontrada nas características basais entre idosos masculinos e femininos). No
entanto, a maior diferença do perímetro abdominal entre jovens adultos e idosos
no género feminino poderia ter mimetizado a maior deterioração da função
pulmonar encontrada no género feminino.
Esta diferença foi de 24,15 cm, contra 8, 22 cm no género masculino.
No trabalho realizado por Britto et al17, no qual se efectuaram várias
comparações pulmonares entre idosos e adultos por pletismografia corporal, a
hipótese de investigação acerca da influência da idade na função respiratória
foi refutada. Opostamente, neste trabalho, a mesma é, com base nestes
resultados, subscrita. No entanto, apesar de ter sido preocupação o controlo de
variáveis, como a colaboração do indivíduo, IMC, perímetro abdominal e prática
de exercício físico, a variabilidade das mesmas poderá ter influenciado os
resultados, embora se pense ter sido de pouca relevância. Para estudos futuros
sugere-se a avaliação das pressões respiratórias máximas em adultos e idosos
saudáveis, de forma a avaliar a progressão da força e de endurancemuscular com
a idade cronológica. Espera-se que estas variáveis tenham valores diminuídos
nos idosos, comprovando, assim, o enfraquecimento do sistema respiratório
adivinhado por este estudo.