Correlação entre ansiedade e anéis de tensão
Introdução
Em todo o mundo observam-se novas atitudes
em relação ao tema saúde e bem-estar. Existe uma
crescente procura pela medicina mais preventiva
do que curativa e as pessoas se voltam em busca
de terapias e remédios capazes de curar, sem
agredir o corpo e, principalmente, que tenham uma
abordagem física, emocional e espiritual (World
Health Organization, 2002; Kronenberg et al., 2006;
Lewith et al., 2006).
Cientistas, que não trabalham com a prática da
iridologia, encontraram indícios de que, como afirma
a sabedoria popular, “os olhos são o espelho da
alma”, demonstrando que a íris de seres humanos
tem relação com o tipo de personalidade. A equipe
da Universidade de Örebro analisou o ‘desenho’ das
íris de 428 pessoas e comparou os diferentes padrões
com os traços de personalidade dos indivíduos. Os
pesquisadores descobriram que duas características
da íris variam de acordo com a personalidade: a
densidade das fibras e a existência de ‘sulcos’ que
se formam ao redor da pupila (Larsson, Pederson e
Stattin, 2007).
A Iridologia também sustenta esta hipótese. Defende
que por meio da análise da íris podemos ter
conhecimento da personalidade do indivíduo, mais
especificamente, pela densidade das fibras da íris e
pelos sulcos que são chamados pelos iridólogos de
anéis de tensão.
Dentre as várias técnicas das Terapias
Complementares, a Iridologia vem ganhando espaço
na literatura, mas ainda é pouco conhecida. Em 2005,
em 5 bases de dados das ciências da saúde, foram
encontrados apenas 25 artigos específicos sobre a
consistência da Iridologia, número insignificante
que demonstra que pouco se conhece sobre o
assunto (Salles, 2006; Salles e Silva, 2008). Existem
muitas controvérsias sobre a Iridologia que somente
serão diluídas por meio de estudos rigorosamente
científicos feitos por pessoas que estudam o assunto
e que, na sua prática diária, colecionam dados através
de suas observações.
Este estudo pretende analisar mais um aspecto
da Iridologia e ajudar os profissionais de saúde na
escolha de ferramentas confiáveis para auxiliar na
assistência ao paciente.
Na Iridologia, a presença de anéis de tensão na
íris sugere indivíduos ansiosos (Batello, 2009a). É
pertinente e admissível, portanto, comparar os anéis
de tensão com o já validado e aceito instrumento
para medir ansiedade, o Inventário de Diagnóstico da
Ansiedade Traço-Estado/ IDATE (Spielberger, Gorsuch
e Lushene,1979).
Quadro Teórico
Ansiedade
A ansiedade, apesar de muito discutida na comunidade
científica, ainda recebe diversos conceitos e, de
modo geral, é entendida como um estado emocional
percebido conscientemente que gera sensações
subjetivas que se manifestam no organismo (Romão,
2008).
Alguns autores conceituam a ansiedade como sendo
um estado transitório, caracterizado por sensações
desagradáveis de tensão e apreensão. Consideram
como traço de ansiedade as diferenças individuais
de reagir a situações percebidas como ameaçadoras,
com elevação da intensidade no estado de ansiedade
(Spielberger, Gorsuch e Lushene,1979).
Os sinais de ansiedade incluem preocupação,
inquietação, apreensão e podem surgir sem que
a presença de uma ameaça real seja identificada,
podendo parecer aos demais como desproporcional
à intensidade da emoção (Suriano, 2009).
Cada vez mais a ansiedade vem sendo estudada pelas
áreas de psicossomática e psiconeuroimunologia
como fator predisponente em inúmeras doenças, fato
que sugere que a minimização de comportamentos
ansiosos traria benefícios à saúde.
Iridologia
Iridologia significa o estudo da íris e Írisdiagnose é
uma ciência que permite identificar, através da íris,
aspectos físicos, emocionais e mentais do indivíduo.
É um método propedêutico que permite conhecer,
num dado momento, a constituição geral e parcial do
indivíduo, bem como, os estágios evolutivos agudo,
sub-agudo, crônico e degenerativo das alterações que
acometem um ou mais órgãos ou o organismo como
um todo. Tudo isso se expressa e é refletido na íris,
através de uma topografia onde cada órgão encontrase representado em um ou mais mapas iridológicos,
permitindo uma abordagem completa do ser vivente
(Batello, 2009a).
Existem diferentes métodos de estudo da íris, dentre
eles os mais utilizados no Brasil são a escola Jensen,
a escola Alemã e o método Ray Id. Esta pesquisa usa
todos estes métodos para estudar os anéis de tensão,
uma vez que, as duas primeiras escolas da Iridologia
dão significado a esses sinais a nível orgânico e a
terceira de forma comportamental.
Anéis de Tensão
Os anéis de tensão ou anéis nervosos são círculos
concêntricos completos ou parciais evidenciados na
íris. Aparecem como sulcos deprimidos com maior
frequência na zona ciliar (figura 1). Em oftalmologia
recebem o nome de sulco de contração ou prega de
contração (Batello, 2009a; Kalsa, 2009).
A íris pode, ou não, ter anel de tensão. Quando
presentes, variam em número de um a seis. O ideal
seria não ter anel de tensão (Kalsa, 2009).
Os anéis de tensão podem ser superficiais ou
profundos e isso varia conforme a quantidade de
camadas do estroma da íris atingidas pelo sinal. Os
sinais mais profundos sugerem características mais
marcantes.
Tanto pelo método Jensen como pelo Alemão, os
anéis de tensão indicam mal estado neurovascular
resultante da deficiência do suprimento nervoso
e vascular, além de tônus muscular elevado com
predisposição a dores, câimbras, cólicas e convulsões.
Sugerem ainda tensão psíquica, ansiedade, estresse,
insônia, nervosismo (Batello, 2009a; Kalsa, 2009;
Batello, 2009b).
Pelo método Ray Id, os anéis de tensão são chamados
de anéis de realização e de liberdade e seus portadores
são geralmente pessoas motivadas a alcançar seus
objetivos; por isso estão sempre ocupadas, sendo
geralmente indivíduos ansiosos, precipitados e
perfeccionistas, construindo e reconstruindo suas
obras, fato que lhes consome muita energia. Em
virtude do exposto, normalmente apresentam
hipertensão arterial, problemas digestivos, estafa
e nervosismo (Batello, 2009a; Kalsa, 2009; Batello,
2009b).
Se, por um lado, os indivíduos que possuem os
anéis de tensão estão predispostos a uma série
de comprometimentos orgânicos e psíquicos, por
outro lado, são pessoas realizadoras que tentam
alcançar seus objetivos. Para que não venham a
desenvolver problemas orgânicos, nem psíquicos e
se favoreçam deste perfil realizador, o importante é
chegar a um equilíbrio. Os indivíduos com anéis de
tensão podem encontrar o equilíbrio em atividades
como alongamentos, atividades físicas, exercícios de
respiração, relaxamento e meditação (Batello, 2009a;
Salles, 2006).
Ao comparar pessoas com e sem anéis de tensão na
íris, o estudo mostra que a ansiedade aparece 120%
a mais nos portadores de anéis de tensão quando
comparada com o grupo que não tinha esses sinais
(Salles e Silva, 2006).
Iridologia e Enfermagem
A Enfermagem, como ciência do cuidar, vem
resgatando o holismo inerente à sua história e filosofia.
As raízes da Enfermagem holística emergiram das
colocações visionárias de Florence Nightingale em seu
livro “Notas sobre a Enfermagem”, quando descreveu
ser o trabalho da Enfermagem direcionado à melhoria
das condições de saúde dos pacientes, enfatizando o
tocar e a delicadeza como propriedades importantes
no processo de cura, aliados à melhoria das condições
ambientais, tais como prover ar fresco, luz e calor do
sol, paz, quietude e limpeza (Nightingale, 1989).
As primeiras teorias de Enfermagem têm aspectos
holísticos, como por exemplo, a Ciência do Ser
Unitário de Martha Rogers, em 1970; a Teoria das
Necessidades Humanas Básicas de Wanda de Aguiar
Horta, em 1979; e a Teoria da Ciência Humana e do
Cuidar Humano de Jean Watson, em 1979.
Dentre as profissões, a Enfermagem foi pioneira
no reconhecimento das terapias complementares.
Enquanto muitos Conselhos punem seus profissionais
pela utilização das práticas naturais, o Conselho
Federal de Enfermagem Brasileiro reconhece as
Terapias Alternativas como especialidade e/ou
qualificação do profissional de Enfermagem e estimula
os enfermeiros interessados na área a estudarem
os assuntos com a profundidade necessária para o
conhecimento e desenvolvimento de habilidades
a fim de proporcionar uma assistência integral ao
paciente (Brasil, 2001).
Visto que a Iridologia permite conhecer através
da íris aspectos físicos, emocionais e mentais do
indivíduo e tem como principal objetivo detectar
distúrbios em evolução, e precocemente intervir
para que tal distúrbio não evolua para a doença, ela
pode e deve ser utilizada para que a assistência ao
paciente seja completa. Basicamente, as informações
fornecidas pela íris podem ser utilizadas durante todo
o processo de enfermagem e, também, para facilitar
a comunicação interpessoal durante a assistência
prestada em hospitais, ambulatórios, centros de
saúde e nos programas de atendimento domiciliar
(Salles, 2006).
O objetivo deste estudo é comparar os resultados
do Inventário de Ansiedade (IDATE), instrumento
validado e bastante utilizado em pesquisas de
ansiedade, com as análises da íris, especificamente os
anéis de tensão que sugerem ansiedade na bibliografia
específica desta temática (Batello, 2009a; Kalsa, 2009;
Batello, 2009b).
Justificativa do estudo
Não existem estudos publicados correlacionando o
traço Ansiedade com os anéis de tensão identificados
nos estudos de Iridologia o que, por si só, justificaria
a existência do presente estudo. Pode-se inferir a
importância da conscientização do portador dos anéis
de tensão sobre como é adequado seu aprendizado
frente aos estressores do cotidiano, minimizando os
efeitos deletérios da ansiedade sobre sua saúde.
Objectivos da pesquisa
Comparar os resultados do Inventário de Diagnóstico
da Ansiedade Traço (IDATE) com a análise da íris
(quantidade de anéis de tensão).
Metodologia
Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, de
campo, transversal, com abordagem quantitativa.
A pesquisa foi realizada na Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo, nos meses de Setembro
e Outubro de 2008, com todos os integrantes
do Grupo de Estudos em Práticas Alternativas e
Complementares em Saúde, cadastrado no Conselho
Nacional de Pesquisa Brasileiro (CNPq), após
aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Escola de
Enfermagem da Universidade de São Paulo (Processo
n° 762/2008 CEP-EEUSP).
Participaram do estudo 20 indivíduos após
concordância e assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.
Os dados foram coletados pela autora enfermeira
especialista em Iridologia, por meio de entrevista
(identificação e ficha clínica) e fotografias das íris. A
captação das imagens das íris D e E foi feita com uma
câmara digital acoplada a uma lente iridológica com
luminosidade adequada. As fotos foram gravadas em
disquetes individuais.
Para efeito de comparação, e respeitando o que a
literatura especializada (Batello, 2009a; Kalsa, 2009)
refere, os anéis de tensão foram quantificados e os
indivíduos classificados com relação ao grau de
ansiedade em: baixo - 0 a 1; moderado - 2 a 3; elevado
- 4 a 5; e altíssimo - 6 ou mais.
A ansiedade foi avaliada pelo IDATE que é composto
de duas escalas para medir dois conceitos distintos de
ansiedade: Estado de ansiedade (condição cognitivoafetiva transitória) e Traço de ansiedade que, segundo
o autor que desenvolveu o instrumento, representa
dados da personalidade do indivíduo e seus escores
são menos sensíveis a mudanças decorrentes de
situações ambientais. O Estado de ansiedade referese ao estado emocional transitório e os escores de
ansiedade-estado podem variar em intensidade de
acordo com situações do ambiente e flutuar no tempo.
Em geral, caracteriza-se por sentimentos desagradáveis
de tensão e apreensão, conscientemente percebidos,
e por aumento na atividade do sistema nervoso
autônomo. Neste estudo foi utilizado o IDATE traço. A
classificação dos níveis de ansiedade é feita de acordo
com o escore obtido: baixo - 20 a 34; moderado - 35 a
49; elevado - 50 a 64; e altíssimo - 65 a 80 (Spielberger,
Gorsuch e Lushene, 1979).
Para todos os entrevistados foi feita a seguinte
pergunta: “Você se considera ansioso?” para saber se
a auto-percepção de sua ansiedade teria correlação
com a profundidade dos anéis de tensão na íris. Os
dados foram enviados para análise estatística. Os
testes estatísticos utilizados empregaram o coeficiente
de correlação de Spearman e o coeficiente de
contingência. O nível de significância adotado foi
de 5%. As estatísticas com p descritivo < 0,05 foram
consideradas significativas.
Resultados
Todos os 20 integrantes do grupo de estudos das
Práticas Alternativas e Complementares em Saúde
que participaram do estudo são do sexo feminino e
com idades entre 22 a 51 anos. A média de idade foi
de 31 anos.
Apresentaram anéis de tensão 19 participantes
(95%). Somente 1 participante (5%), de 51 anos, não
apresentou anéis de tensão.
Para conferir a consistência interna, foi verificada
a confiabilidade do instrumento de medida da
ansiedade (IDATE), utilizado para esta população,
por meio do Cronbach’s Alpha e o resultado obtido
foi igual a 0,857.
Houve uma correspondência entre o inventário
de ansiedade IDATE e os anéis de tensão, em 15
participantes (75%).
Aplicando o coeficiente de correlação de Spearman
houve correlação positiva e significante entre o escore
do inventário de ansiedade (IDATE) e a quantidade e
classificação dos anéis de tensão.
Entre os 5 participantes (25%), nos quais não houve
correspondência entre o resultado do IDATE e a
quantidade de anéis de tensão, notamos que em 4
casos, a quantidade destes sinais tem relação com a
percepção positiva da ansiedade relatada pelo próprio
indivíduo, ou seja, quatro deles se percebem ansiosos.
Também se constatou correspondência entre a
profundidade dos anéis de tensão e a percepção do
indivíduo em ser ou não ansioso (90%). Quanto mais
profundo esse sinal iridológico, maior a percepção do
indivíduo do seu comportamento ansioso.
O coeficiente de correlação de Spearman apontou
correlação negativa e significante entre idade
e quantidade dos anéis de tensão. Assim, nesta
população, quanto maior a idade, menor a quantidade
de anéis de tensão e, conseqüentemente, menor a
classificação da ansiedade medida por esses sinais.
Discussão
A única participante que não apresentou anéis de
tensão na íris foi a pessoa mais velha do grupo, o
que reforça o resultado de correlação inversamente
proporcional entre idade e quantidade desses sinais
encontrado nesta pesquisa. No estudo sobre anéis
de tensão mencionado anteriormente (Salles e Silva,
2006), as pessoas mais jovens também apresentaram
maior quantidade desses sinais em relação aos
indivíduos mais velhos.
Em apenas 2 casos (10%) não houve correlação entre
a profundidade dos anéis de tensão e a percepção do
indivíduo em ser ou não ansioso. Independentemente
da quantidade, os portadores de anéis de tensão
profundos perceberam-se ansiosos e os que tinham
estes sinais menos acentuados não se perceberam
ansiosos. Isso sugere que quanto mais profundo o
anel de tensão, maior a potencialidade do indivíduo
sentir a sua característica de ansiedade.
Os resultados encontrados colaboram com a afirmação
de que a íris pode ser uma chave de interpretação
do ser humano. A íris é um holograma - parte que
representa o todo. Na íris temos a representação do
organismo, assim como na palma da mão, na planta
do pé e no lóbulo da orelha.
Estes achados também corroboram os dois estudos
apresentados anteriormente: o estudo que encontrou
120% a mais de ansiedade, nos indivíduos com anéis
de tensão na íris em relação aos indivíduos sem o sinal
(Salles e Silva, 2006) e o recente estudo realizado na
Universidade de Örebro (Larsson, 2007) que sugere
que a densidade das fibras e os sulcos da íris têm forte
evidência no influenciar os traços de personalidade.
Temos dois fatores limitantes neste estudo. Nossa
amostra, além de pequena, é formada apenas por
mulheres, assim, novos estudos devem ser realizados,
com populações maiores, de ambos os sexos. Outro
fator limitante é o número reduzido de literatura
sobre Iridologia e de estudos que relacionem anéis
de tensão e ansiedade, o que dificulta a discussão dos
resultados.
Conclusão
Dos 20 participantes deste estudo, 19 (95%)
apresentaram anéis de tensão.
Em 15 participantes (75%) verificou-se uma correspondência entre o Inventário de Diagnóstico da
Ansiedade (IDATE) e os anéis de tensão. O coeficiente
de correlação de Spearman apontou correlação
positiva e significativa entre o escore do IDATE com
a quantidade e classificação dos anéis de tensão, bem
como, com a percepção da ansiedade. E correlação
negativa e significativa entre idade e quantidade e
classificação dos anéis de tensão.
Estes resultados sugerem que o sinal da íris estudado
(anéis de tensão) pode auxiliar na detecção de
indivíduos ansiosos em idade precoce e, com isso,
apoiar na modificação deste comportamento com
medidas que incentivem um melhor enfrentamento
frente aos desafios cotidianos evitando, assim, as
doenças psicossomáticas.
Este estudo piloto aponta evidências de que há
correlação entre os anéis de tensão e o nível de
ansiedade, identificado como traço pelo IDATE.
É um dado extremamente interessante para a
área preventiva, quando lembramos que a íris está
totalmente formada por volta dos 6 anos de idade.
Ao comprovarmos que os sinais da íris se comportam
como “marcadores biológicos”, temos mais facilidade
em encontrar grupos de riscos para vários agravos à
saúde.
Neste caso, especificamente, quando detectamos
anéis de tensão precocemente e ensinamos aos seus
portadores comportamentos que minimizem o efeito
da ansiedade e do estresse, tais como meditação,
resiliência, respiração profunda, alongamento e
atividades físicas sistemáticas, menor risco eles terão
de desenvolver uma doença psicossomática.
A aplicação da Iriologia é fácil, barata (visto que
direciona os pedidos de exames laboratoriais) e
rápida (visto que é feita por meio de fotografias).
Pensando em termos de Saúde Pública, percebe-se
a importância de investimentos em pesquisas nessa
área.